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COXINHA RECHEADA COM “CARNE” DE JACA: PRODUÇÃO E AN ÁLISE
SENSORIAL
Ana Carolina Portella Silveira1;
Natália Marques Soler2;
Sissi Kelly Ribeiro3;
Patrícia Lopes Andrade4;
Sidney Fernandes Bandeira5
Resumo
A jaca é abundante no Brasil, porém seu consumo é baixo. Assim,
produtos à base de jaca
podem representar um potencial socioeconômico e alimentício.
Objetivou-se produzir e analisar
sensorialmente coxinhas recheadas com “carne” de jaca. Foram
usadas jacas da variedade
“dura” imaturas. Após higienizadas e sanitizadas, as frutas
foram cortadas, cozidas sob pressão
e desfiadas. Em seguida, temperada e utilizada para rechear
coxinhas com massa tradicional a
base de batata. Após fritura em imersão, as coxinhas foram
avaliadas sensorialmente por 50
provadores em um teste de aceitação em escala hedônica de 9
pontos e teste de intenção de
compra. Os resultados foram analisados por estatística
descritiva. A coxinha recheada com
“carne” de jaca obteve excelente aceitação na avaliação
sensorial, com avaliação global de 96%
de aprovação e 4% de indiferença. O teste de intenção de compra
apresentou resultados
positivos, com 66% dos provadores afirmando que, certamente ou
possivelmente, comprariam
o produto. Conclui-se que a coxinha recheada com “carne” de jaca
é um produto de fácil preparo
e aceitação do consumidor, sendo uma excelente alternativa de
processamento de jaca, que se
mostra um produto abundante e ainda de baixo consumo no Brasil.
Também se adequa ao
público vegano e vegetariano, haja visto que nenhum produto de
origem animal foi utilizado,
sendo uma alternativa a coxinha de frango tradicional.
Palavras-chave: Artocarpus heterophyllus Lam.; comportamento do
consumidor;
vegetarianismo; veganismo.
1 Docente, Instituto Federal do Triângulo Mineiro (IFTM) –
Campus Uberaba, Uberaba, MG; E-mail: [email protected] 2
Empresária autônoma, Cheiro Verde Culinária Vegana, Artur Nogueira,
SP; [email protected] 3 Aluno, IFTM – Campus Uberlândia,
Uberlândia, MG; E-mail: [email protected] 4 Docente, IFTM –
Campus Uberlândia, Uberlândia, MG; E-mail:
[email protected] 5 Docente, IFTM – Campus Uberlândia,
Uberlândia, MG; E-mail: [email protected]
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1 Introdução
A jaca é oriunda da jaqueira (Artocarpus heterophyllus, Lam.),
árvore originária da Ásia
(Índia, Malásia, Filipinas), que foi introduzida no Brasil há
centenas de anos e bem adaptada
devido ao clima tropical (GOMES, 1977). Pertence à família
Moraceae, subfamília
Artocarpoideae, gênero Artocarpus e espécie Artocarpus
heterophyllus Lam. A palavra
Artocarpus deriva do grego e significa fruta-pão. A taxonomia
oficial da jaca foi dada por
Lamarck e, por este motivo, é usada a palavra Lam. ao final de
seu nome científico. Originou-
se nas florestas do sul da Ásia e de lá, foi para a costa leste
da África, em seguida, espalhando-
se para os trópicos. No século XVII, chegou a Jamaica e no
século XVIII, foi introduzida e
difundida no Brasil pelos portugueses, sendo cultivada em toda a
região Amazônica e em toda
a costa tropical brasileira, do Estado do Pará ao Rio de
Janeiro. É uma árvore de tamanho médio,
com altura variando de 8 a 25 metros e diâmetro do tronco de 3 a
7 metros, atingindo seu
tamanho adulto em cerca de cinco anos, com floração entre
dezembro e abril. Uma única árvore
pode produzir até 700 frutos por ano (BASSO; MOURA, 2017)
Considerada a maior fruta comestível, do mundo, as jacas atingem
de 5 a 50kg, com
comprimento variando entre 60 a 90 centímetros. São constituídas
de uma parte externa: a casca
e, quatro partes internas: polpa (gomo ou bago), mesocarpo,
pedúnculo (ou eixo) e sementes.
Quando madura, a jaca tem cor amarela acastanhada, aroma
peculiar e forte, superfície áspera
com pequenas saliências. Seu interior é formado pela reunião de
vários gomos soldados em
torno de um eixo central, denominado sincarpo de formação
globosa, oval e alongada. A polpa,
parte comestível, constitui em média 30% do peso do fruto e é
cremosa, amarela, viscosa,
visguenta, de sabor doce e muito aromática. sendo consumida em
sua quase totalidade sob
forma in natura pelas mais diversas camadas da população. Cada
gomo contém um grande
caroço ou semente, representando em torno de 12% do peso da
fruta, e podem ser consumidas
assadas. A casca é grossa verrugosa ou revestida de espinhos
moles não muito resistentes e,
contém partes florais infertilizáveis, ricas em sabor, aroma,
cálcio e pectina (Moorthy et al.,
2017), consideradas não comestíveis por serem altamente
fibrosas, mas são usadas na
alimentação animal. O mesocarpo é tudo que está entre a casca e
a polpa. O pedúnculo é o eixo
central de sustentação da fruta e não são normalmente
consumidos, porém, podem servir de
alimento na forma de farinha (BAHIA, 2004; FONSECA, 2010;
PRETTE, 2012; SILVEIRA,
2000; SWAMI et al, 2012). Todas as partes da planta produzem um
látex que não é consumível
como alimento (GOSWAMI; CHACRABATI, 2016).
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No país, distinguem-se três variedades da fruta: jaca-dura,
jaca-mole e a jaca-manteiga.
A jaca-dura (ou crocante) são frutas maiores, variando de 15 a
40Kg, tem bagos de consistência
rígida, que se prestam para a produção de compotas. Por sua vez,
a jaca-mole, apresenta frutos
menores, bagas doces e consistência mole e, por fim, a
jaca-manteiga é constituída por bagos
adocicados e de consistência intermediária, sendo muito comum no
estado do Rio de Janeiro e
muito confundida com a jaca-mole (BASSO; MOURA, 2017).
Nutricionalmente, a jaca apresenta, em 100 g, uma média de 72 a
94% de umidade, 1,2
a 1,9% de proteínas, 0,1 a 0,4% de lipídeos, 0,8 a 0,9% de
cinzas; 16 a 25% de carboidratos;
1,0 a 1,5% de fibras, 20 a 37 mg de cálcio, 27 mg de magnésio,
38 a 41 mg de fósforo, 191 a
407 mg de potássio, 2 a 41 mg de sódio, 0,5 a 1,1 mg de ferro;
540 U.I de vitamina A, 30 U.I.
de vitamina B1 e 88 a 410 calorias (TEJPAL; AMRITA, 2016).
Estudos mostram ainda, que a
jaca contém vitaminas B2, B3 e C e zinco e também, uma
diversidade de compostos,
especialmente compostos fenólicos, flavonoides,
arilbenzofuranos, carotenoides, lignanas,
isoflavonas, saponinas, ácidos voláteis e carotenoides,
dependendo da variedade da fruta
(SWAMI et al., 2012). Por sua vez, as sementes possuem teor
proteico tão alto quanto o da
carne vermelha e peixes e a principal proteína presente é a
jacalina, encontrada em um teor
superior a 50%, sendo associada a atividades imunológicas
(VAZHACHARICKAL et al.,
2015). Assim, a jaca pode ser considerada como um alimento
funcional devido aos seus efeitos
farmacológicos, como: anti-infecciosa, antifúngica, antiviral,
antibacteriana, anticâncer e
antimalárica (BASSO; MOURA, 2017). Segundo Jagadeesh et al.
(2007), na Índia, apesar de
ter reconhecido seu valor nutritivo, a jaca é conhecida como
“alimento de pessoas pobres”,
sendo consumida como hortaliça enquanto encontra-se no estádio
verde e como fruto somente
após o amadurecimento.
A polpa da jaca é altamente perecível, o que a um índice elevado
de perda na pós-
colheita, acarretando prejuízos. Além disso, por ser um fruto
muito grande, alguns
consumidores não o adquirem. Esse fato evidencia a necessidade
de processos simples e
baratos, que possam oferecer caminhos para o aproveitamento do
fruto. Por isso, é comum
encontrar a fruta processada na forma de doces, compotas, sucos,
licores, enlatados, aroma,
entre outros (LORDELO, 2001; OLIVEIRA, 2009). Estes produtos
processados podem
representar um potencial socioeconômico e alimentício a ser
explorado, constituindo-se numa
alternativa ao incremento da renda familiar a pequenos e micro
industriais, contribuindo para a
sustentabilidade, geração de emprego e renda e a segurança
alimentar, em seus aspectos
qualitativo e quantitativo (OLIVEIRA, 2009).
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Uma opção de processamento é a “carne” de jaca, feita a partir
da variedade dura ainda
imatura (“verde”), na qual a fruta é cozida e a polpa desfiada.
Como tem sabor neutro, ela
absorve bem os temperos, podendo entrar em diversas preparações,
sendo considerada por
comunidades vegetarianas e veganas, um substituto da carne de
frango em receitas tradicionais.
Uma das preparações com carne de frango desfiada mais famosas no
Brasil é a coxinha, que foi
desenvolvida durante a industrialização de São Paulo, para ser
comercializada como um
substituto mais barato e mais durável às tradicionais coxas de
galinha que eram vendidas nas
portas de fábricas (CASCUDO, 1983). E a substituição da carne de
frango pela “carne” de jaca
é bastante conhecida e consumida em comunidades veganas e
vegetarianas, porém a autoria da
receita é desconhecida e não se encontrou artigos científicos
abordando o produto “carne” de
jaca e suas utilizações.
Neste contexto, o objetivo neste trabalho foi produzir e
analisar sensorialmente coxinhas
recheadas com “carne” de jaca, uma vez que a coxinha de frango
tradicional é um salgado
brasileiro, de origem paulista, muito apreciado e consumido em
festas e no dia-a-dia.
2 Material e Métodos
2.1 Aquisição das jacas
Foram adquiridas jacas (Artocarpus heterophyllus, Lam.) da
variedade “dura”,
procedentes do município de Uberlândia, Minas Gerais, em
setembro de 2016. Foram utilizados
frutos imaturos (“verdes”), escolhidos pela aparência visual da
casca verde clara ou amarelada
e consistência rígida. Além disso, apresentaram gomos brancos,
sabor mais neutro e ausência
do odor frutal característico do fruto maduro. A produção da
“carne” de jaca foi realizada no
Laboratório de Agroindústria Vegetal e as análises nos
Laboratório de Análise Sensorial de
Alimentos, ambos do IFTM campus Uberlândia, em outubro de
2016.
2.2 Preparo da “carne” de jaca
Inicialmente os frutos foram pesados e, em seguida, foram
lavados com detergente
neutro em água corrente para retirar as impurezas, enxague
abundante, e sanitizados imersos
em água clorada a 200ppm por um período de 15 minutos.
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Antes de iniciar o manuseio da fruta, untou-se com óleo de soja
as mãos e todos os
utensílios (facas, panela e superfícies) que seriam utilizados,
para evitar que o látex da jaca se
aderisse (LUMI, 2016). Para o preparo da “carne” de jaca,
cortou-se as frutas em pedaços
menores, lavando-os novamente para retirada do excesso do látex,
que foram cozidos sob
pressão a temperatura de 200°C por 20 minutos. Após seu
resfriamento, retirou-se o miolo
(palmito ou talo), as sementes e a casca e, a polpa da jaca foi
desfiada com um garfo, tornando-
se a “carne” de jaca” (Figura 1) (LUMI, 2016).
As jacas foram pesadas inteiras em balança Triunfo com peso
máximo de 15kg e
precisão de 5g e após o preparo da “carne” de jaca, pesou-se a
polpa já desfiada e o rendimento
foi calculado pela seguinte equação matemática:
% rendimento = Peso parte x 100%
Peso total
Na qual, “peso parte” é igual ao peso da polpa e “peso total”
refere-se ao peso da jaca
inteira.
Figura 1. “Carne” de jaca preparada e sem tempero
2.3 Preparo do recheio da coxinha a base de “carne” de jaca
O recheio da coxinha foi produzido utilizando-se a “carne” de
jaca (100%), óleo de soja
(2%), alho (4%), cebola (6%), molho de tomate (20%), sal (2%),
azeitona (15%), orégano
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(1,5%), páprica (1%), salsinha (1,5%) que foram cozidos por 15
minutos. A massa da coxinha
foi produzida com batata cozida (100%), cebola (4%), alho (2%) e
sal (2%). Em seguida,
adicionou-se farinha de trigo (60%) aos poucos na massa em
fervura até adquirir consistência
para modelagem. Após modelados e recheados, os salgados foram
empanados em água e
farinha de rosca e fritos em imersão em óleo de soja a 180°C por
3-4 min (Figura 2).
Figura 2 - Coxinha recheada com “carne” de jaca pronta para o
consumo.
2.4 Testes de aceitação sensorial e intenção de compra
Os testes de aceitação sensorial (teste afetivo de aceitação) e
intenção de compra foram
realizados em cabines individuais iluminadas, utilizando 50
provadores não treinados,
consumidores regulares de coxinha de frango. Cada provador
recebeu uma ficha com um
questionário sobre dados pessoais, socioeconômicos e de
preferência para caracterização da
amostra, que abrangeu indivíduos de ambos os sexos
representativos do público consumidor.
Em seguida, os consumidores eram encaminhados às cabines
individuais, onde a
amostra era servida aos julgadores em copos plásticos, com
quantidade padronizada (1 unidade
por pessoa). Foi fornecida água mineral para limpeza do
palato.
E a aceitação da coxinha recheada com “carne” de jaca foi
avaliada por meio de uma
escala hedônica de 9 pontos (1= desgostei extremamente a 9=
gostei extremamente) e a intenção
de compra foi mensurada por meio de uma escala estruturada de 5
pontos (1= certamente
compraria a 5= certamente não compraria) (INSTITUTO ADOLFO LUTZ,
2008).
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2.4.1 Descrição da amostra
Dos provadores, 26 (52%) eram do sexo masculino e 24 (48%) do
sexo feminino.
Quanto ao consumo ou não de carnes, a amostra foi formada por: 2
(4%) ovolactovegetarianos
(consomem ovos e leite, mas não consomem nenhum tipo de carne),
3 (6%) consumidores
eventuais de carne (consomem carne em raras ocasiões) e 45 (90%)
onívoros (consomem
qualquer produto de origem animal).
Em relação a idade dos participantes, a amostra foi composta por
22 (44%) pessoas de
até 18 anos, 18 (36%) entre 20 e 29 anos, 7 (14%) entre 30 e 39
anos; 1 (2%) de 40 a 49 anos e
2 (4%) de 50 a 59 anos. Quanto a escolaridade do chefe da
família dos participantes, 2 (4%)
apresentaram ensino fundamental incompleto, 6 (12%) ensino médio
incompleto, 21 (42%)
ensino superior incompleto e 21 (42%) superior completo.
2.5 Análise estatística
Os dados foram analisados por estatística descritiva, no
Microsoft Excel (2013).
3 Resultados e Discussão
A produção da “carne” de jaca, formada pela polpa da fruta, foi
simples com rendimento
de 22,5%. De acordo com Silveira (2000), a polpa corresponde a
cerca de 30% do peso do fruto.
Segundo Rodriguez-Amaya (2004), estas diferenças são normais,
sendo uma variabilidade
natural, que pode ser influenciada pela variedade ou cultivar;
estágio de maturação; clima ou
localização geográfica; parte da planta utilizada e técnica de
produção. Por sua vez, Oliveira
(2009) afirma que por não existir produção comercial de jaca no
Brasil e sendo uma fruta obtida
por meio do extrativismo, a variabilidade dos parâmetros
físicos, químicos e sensoriais é
esperada. Em função disso, a principal dificuldade encontrada
neste estudo foi a obtenção da
jaca, uma vez que, não é encontrada facilmente em mercados para
compra, principalmente, sem
estar madura. Como a “carne” de jaca gera interesse e procura,
em especial, entre vegetarianos
e veganos, a internauta Talita Silva Xavier criou um mapa
colaborativo no Google Maps
chamado “Mapa Jaca Livre” de locais públicos que tenham
jaqueiras, que pode ser acessado no
link http://bit.ly/jacalivre (CHAVES, 2015).
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Outra complicação a ser destacada é a alta quantidade de látex
encontrada no fruto não
maduro. Este látex é uma a resina que existe em toda planta, na
casca do caule, folhas e frutos.
É pegajoso, sendo inclusive utilizado para fabricação de cola
artesanal, e se adere com
facilidade nos equipamentos. Porém, o uso do óleo vegetal em
todos os utensílios e nas mãos
foi suficiente para minimizar este problema e permitir o preparo
do produto sem maiores
transtornos. De acordo com Bahia (2004), a variedade de jaca que
menos contém látex é a jaca-
mole. Entretanto, sua consistência, ao ser cozida em panela de
pressão pode não manter a
textura adequada para ser utilizada no preparo de receitas e,
por esta razão, a “carne” de jaca é
preparada a partir da variedade dura.
Ainda, a jaca é uma fruta climatérica, ou seja, amadurece mesmo
depois de colhida. Isso
faz com que seja necessário processa-la o mais rapidamente
possível após a colheita para o
preparo da coxinha, uma vez que a “carne” de jaca é obtida a
partir da fruta “verde”. É
fundamental que a jaca utilizada não esteja madura, pois assim
não possui sabor ou odor
marcantes e o tempero é fundamental para tornar o produto
atrativo. Esta característica torna o
produto versátil, uma vez que, apresentará o sabor do tempero
utilizado. Uma das principais
razões de rejeição à jaca é justamente o cheiro e gosto fortes e
característicos do fruto maduro.
A maturação dos frutos da jaqueira envolve um processo complexo
e acelerado, o qual resulta
no aparecimento do sabor característico, geralmente devido à
transformação do amido em
açúcares solúveis (sacarose, glicose e frutose (OLIVEIRA,
2009)), a diminuição de acidez e ao
desaparecimento da adstringência (AWAD, 1993). Esse
amadurecimento está associado à
mudança de coloração da casca e da polpa, textura, composição de
ácidos e compostos voláteis
relativos ao aroma e sabor, e também a síntese e/ou acúmulo de
açúcares solúveis, que levam
ao adoçamento de frutos tropicais (GONZAGA NETO; SOARES, 1994).
O ponto de colheita
é demonstrado pelo aroma forte que os frutos exalam e por som
oco, que emitem quando neles
se bate (OLIVEIRA, 2009).
É importante ressaltar que a carne de jaca é um substituto de
textura e sabor da carne
de frango, entretanto, não apresenta características químicas e
nutricionais semelhantes.
Enquanto a carne de frango é constituída de 60% a 80% de água,
15% a 25% de proteína e 1,5
a 5,3% de lipídeos na carne de peito (BRAGAGNOLO, 2001), a jaca
é composta por 78% de
água, 2,5% de proteínas e 0,3% de lipídeos (TOJAL SEARA, 1975;
FRANCO, 1987;
SILVEIRA, 2000; MENDEZ et al., 2001; BAHIA, 2004).
De acordo com Oliveira (2009), apesar da maioria dos frutos
serem considerados pobres
em proteínas, a polpa de jaca contém teor protéico razoável, mas
com altos teores de
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carboidratos. Ainda, segundo o mesmo autor, o conhecimento do
teor de proteínas da jaca, bem
como de outros alimentos é importante, porque este nutriente tem
sido uma das principais
causas de desnutrição de crianças e preocupação em dietas
vegetarianas e/ou veganas. E as
proteínas são essenciais para manter a estrutura e funcionamento
do organismo vivo e podem
ter diferentes propriedades e funções.
Apesar disso, é importante destacar que, o consumo da coxinha de
“carne” de jaca, para
os vegetarianos e veganos não é motivado pelas propriedades
nutricionais do produto, uma vez
que, a coxinha mesmo na versão tradicional de carne de frango é
um produto frito e ocasional,
não sendo considerado saudável. Mas, os salgadinhos de forma
geral, estão cada vez mais
rotineiros na vida das pessoas, como por exemplo, a venda
aquecida de salgados em copos, que
facilitam o consumo e são consumidas como pequenos lanches ao
longo do dia. Assim, o
produto a base da “carne” de jaca se torna uma opção para essa
fatia de mercado consumidor.
Em pesquisa realizada pelo Ibope, estima-se que 14% da população
brasileira seja vegetariana,
representando 30 milhões de consumidores ávidos por produtos que
atendam suas exigências.
Em 2012, na mesma pesquisa apenas 8% declararam-se adeptos da
dieta, indicando um
crescimento de 75% em apenas seis anos. Além disso, mais da
metade dos entrevistados (55%)
disse que consumiria mais produtos se eles estivessem melhor
indicados na embalagem,
demonstrando o interesse da população por mais produtos livres
de qualquer ingrediente de
produtos de origem animal. Esse dado corrobora com o fato de o
mercado de produtos
vegetarianos ter movimentado cerca de R$55 bilhões em 2016
(KANDA; ROSÁRIO, 2017).
No teste de avaliação sensorial, a coxinha recheada com “carne”
de jaca obteve boa
aceitação na avaliação sensorial. Os maiores percentuais
concentraram-se na nota 8, que
corresponde a “gostei muito”. Também foram relevantes as notas 7
(gostei moderadamente) e
9 (gostei muitíssimo) (Gráfico 1).
A aceitação de um produto alimentício para o consumo é
predominantemente estudada
pelo uso de métodos sensoriais, que permitem identificar suas
características organolépticas
prevendo a alta ou baixa aceitação no mercado consumidor. Suas
principais aplicações são:
desenvolver novos produtos, reproduzir um determinado produto,
melhorar um produto já
existente ou ainda atuar no controle de qualidade identificando
a presença de odores e sabores
estranhos em algum produto (DELLA MODESTA et al. 2005).
As características sensoriais, em particular o aroma, têm efeito
sobre a escolha do
consumidor (MEIGAARD; CIVILLE, 1999). A coxinha recheada com
“carne” de jaca
apresenta odor característico da coxinha de frango, uma vez que,
a jaca utilizada é “verde” e
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não apresenta o odor forte e característico da fruta madura.
Este fato contribuiu para a aceitação
do produto, uma vez que, Schenell et al. (2001) afirma que a
jaca não é bem aceita pelos
consumidores devido a seu intenso aroma. Como é um fruto de alta
produtividade (25,71 t/ha),
que pode contribuir com os déficits alimentares em regiões menos
favorecidas é importante
desenvolver e destacar processamentos com a jaca não madura para
aumentar a popularidade e
consumo.
Gráfico 1 - Perfil sensorial da média de avaliações no teste de
aceitação de coxinha recheada com “carne” de jaca
Legenda: 1. Desgostei extremamente; 2. Desgostei muito; 3.
Desgostei moderadamente; 4. Desgostei ligeiramente; 5. Não gostei
nem desgostei; 6. Gostei ligeiramente; 7. Gostei moderadamente; 8.
Gostei muito; 9. Gostei muitíssimo
De acordo com Meigaard e Civille (1999), as propriedades
organolépticas dos alimentos
podem ser percebidas sucessivamente antes, durante e após o
consumo dos alimentos. A
aceitação ou rejeição de um alimento e sua preferência em
relação a outro dependem em grande
parte das informações sensoriais, como cor, forma e aparência
geral. Estas informações
mobilizam o organismo para o início do processo digestivo, ou,
pelo contrário, atentam contra
a ingestão de material potencialmente nocivo ou deteriorado, o
que nos remonta a expressão
“comemos com os olhos”. Assim, a alta aceitação da coxinha
recheada com “carne” de jaca era
esperada, uma vez que, a gordura aquecida da fritura faz o
alimento desenvolver odor, cor e
textura agradáveis, pois são dourados, crocantes e apresentam
cheiro que faz salivar, tornando
o alimento mais atraente (BRAGA, 2011).
A avaliação global é um atributo importante por envolver uma
impressão de todos os
atributos sensoriais, na qual obteve-se 96% de aprovação e 4% de
indiferença. Oliveira et al.
(2009) consideram que o produto deve obter, pelo menos 70% de
apreciação para ser
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considerado aceito. A aceitação varia com os padrões de vida e
base cultural e demonstra a
reação do consumidor diante de vários aspectos, como o preço
(MORAES, 1988).
O teste de intenção de compra apresentou resultados positivos,
com maioria das notas 1
e 2, sendo que 30% dos provadores certamente comprariam a
coxinha recheada de “carne” de
jaca e 36% possivelmente comprariam. Somente 4% provadores
possivelmente não
comprariam estes produtos e 30% afirmaram que talvez
comprassem.
A avaliação sensorial realizada com a coxinha recheada com
“carne” de jaca revelou a
excelente aprovação desse produto e o grande potencial
mercadológico, visto que tanto para o
teste de aceitação sensorial, como para intenção de compra o
percentual de respostas atingiu
notas máximas, indicativas de gostei muitíssimo e certamente
compraria. Apesar disso, a maior
parte dos provadores (38%) consumiriam a coxinha recheada com
“carne” de jaca, uma vez por
semana, enquanto que, 28% afirmou que comeriam, pelo menos, duas
vezes por semana, 22%
menos de uma vez por semana. Somente 10% afirmaram que
consumiriam pelo menos quatro
vezes por semana e 2% sempre. Esses resultados são
compreensíveis, pois apesar de alimentos
fritos possuírem um sabor agradável ao paladar, apresentam alto
valor energético e são de difícil
digestibilidade, auxiliando no aumento de peso, da taxa de
colesterol e triglicerídeos sanguíneo,
devendo ser consumidos com moderação (DACOREGIO, 2009).
Pesquisas de mercado têm
demonstrado que os consumidores esperam encontrar no comércio
produtos alimentícios que
constituam uma alimentação saudável, no qual a coxinha não se
encaixa (OLIVEIRA, 2009).
Dos provadores, 40% consumiriam outros produtos à base da
“carne” de jaca, enquanto
que, 14% afirmaram que não consumiriam e 46% talvez consumissem.
Apesar do interesse, a
produção de jacas no Brasil é totalmente extrativista, o que
dificulta a aquisição da fruta, sendo
a “carne” de jaca considerada um produto sazonal.
O uso diversificado e as atividades de extrativismo possibilitam
uma alternativa de
manejo, na qual, a exploração de frutos, combinada a outras
técnicas, poderia aliar o controle a
métodos menos drásticos, com a geração de renda para as
comunidades, que já estão envolvidas
na sua extração, proporcionando trabalho e renda, uma vez que,
além da produção da fruta,
outras partes da planta apresentam valor apreciável, mercado
promissor e grande
aproveitamento (OLIVEIRA, 2009). De forma geral, a madeira pode
ser utilizada em
construções navais, carpintaria, marcenaria e a extração da
resina apresenta propriedades
cicatrizantes de interesse farmacêutico e como visgo para
captura de pássaros. A planta em si,
pode ser utilizada para florestamento, quebra-ventos, sombra e
como planta ornamental. As
folhas são destinadas ao arraçoamento de aves, caprinos, ovinos
e suínos e podem ser utilizadas
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para tratamento de anemia, asma, dermatoses, diarreias, tosse e
como expectorante
(BALBACH; BOARIM, 1992). As sementes produzem farinha, podem ser
consumidas assadas
e apresentam propriedades medicinais (GUIA RURAL PLANTAR, 1992;
OLIVEIRA, 2009).
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4 Considerações finais
Analisando a literatura, os dados obtidos nos resultados e de
acordo com o que foi
determinado nos objetivos, é possível concluir que a jaca,
embora não seja nativa do Brasil, é
uma fruta bem adaptada ao clima tropical e encontrada em todas
as regiões do país. É altamente
nutritiva, contendo carboidratos, proteínas, lipídeos, fibras,
minerais e vitaminas. Todas as suas
partes, como casca, polpa e sementes, são aproveitadas na
alimentação humana ou animal, seja
no consumo in natura ou por meio de produtos processados. Além
da diversidade de alimentos,
o processamento da jaca em diferentes formas proporciona um
complemento à renda de famílias
agregando valor ao produto e, permitindo maior conservação, uma
vez que, a fruta é
rapidamente perecível após a colheita.
Já a coxinha por ser um produto de importância nacional,
cultural e econômica é uma
excelente alternativa de processamento da jaca, ao substituir o
recheio tradicional de carne de
frango pela “carne” de jaca, que é obtida a partir do fruto
imaturo cozido, desfiado e temperado.
Como observado neste estudo, a coxinha recheada com “carne” de
jaca é de fácil preparo,
ingredientes baratos e bom rendimento. O látex não comestível
encontrado na jaca poderia ser
um complicador, entretanto, foi facilmente resolvido com o uso
de óleo vegetal para untar os
utensílios e desapareceu após o cozimento da fruta.
Ao se analisar a aceitação do consumidor ao produto pronto,
obteve-se excelentes
resultados, indicando que o uso da jaca em uma receita salgada e
a partir do fruto “verde” é
uma boa alternativa de processamento e valorização da jaca, em
especial, àqueles que não
consomem a jaca em razão de seu forte odor quando maduro. Há
ainda, a vantagem de o produto
atender o nicho de mercado de produtos vegetarianos e veganos,
haja visto que nenhum produto
de origem animal foi utilizado na receita.
Entretanto, apesar de abundante, no Brasil não existe a produção
comercial de jaca,
sendo um produto oriundo do extrativismo. Este fato complica a
obtenção da fruta de forma
linear e constante ao longo do ano. Mas, ainda assim, é possível
preparar a “carne” de jaca e
congela-la para uso posterior, minimizando este problema.
Assim, a coxinha recheada com “carne” de jaca é um produto
promissor para o
aproveitamento, valorização e incentivo ao consumo da jaca no
Brasil, sendo muito saboroso e
aceito pelos consumidores de forma geral.
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