A últimA cArtAdA dAs forçAs retrógrAdAs em mAtériA de justiçA sociAl: o cAso demétrio mAgnoli e seus Argumentos contrA As cotAs 1 KAnAvillil rAjAgopAlAn* * Professor Titular na área de Semântica e Pragmática das Línguas Naturais da Uni versidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Pesquisador 1A do CNPq. Email: [email protected]Recebido em 28 de fevereiro de 2012 Aceito em 10 de março de 2012 resumo Destacando a importância do papel da Linguística Crítica para a discussão de temas socialmente relevantes, este artigo discute os usos e abusos de argu mentos considerados científicos para a defesa de posições conservadoras em nossa sociedade. O artigo defende a consideração do contexto histórico para compreender esses argumentos e assume a ideologia como parte constitutiva, ainda que negada, da ciência. O caso analisado é o livro Gota de sangue, de Demétrio Magnoli, que, para defender sua posição anticotas, lança mão de diversos argumentos considerados científicos, ao mesmo tempo em que nega a sua própria posição ideológica. pAlAvrAs-chAve: Linguística Crítica, Ciência, argumentação, cotas. A conceituada revista Science, em sua edição de 18 de dezembro de 2009, traz um artigo da autoria de Max Weisbuch, um pesquisa dor e pósdoutorando do Departamento de Psicologia da School of Arts and Sciences da universidade norteamericana de Tufts. Tratase de um tema sobre o qual muitos entre nós sempre tinham alguns palpites, muitas suspeitas e, com certeza, muitas opiniões e até mesmo “con vicções” inabaláveis. Mas a pesquisa apresenta algo mais que meras especulações e ideias intuitivamente fortes 2 sobre uma questão de suma importância que muita gente, no entanto, reluta em tomar como digna de amplo debate e prefere varrer para debaixo do tapete ou fingir que simplesmente não existe. Pois bem, a pesquisa escancara um amontoa do de conclusões – inquestionáveis do ponto de vista científico – de que “o preconceito racial se faz emergir de forma muito mais sutil do que por intermédio de injúrias diretas”. Ela foca os programas apresenta DOI 10.5216/sig.v24i2.17333
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
A últimA cArtAdA dAs forçAs retrógrAdAs em mAtériA de justiçA sociAl: o cAso demétrio mAgnoli e seus Argumentos contrA As cotAs1
Recebidoem28defevereirode2012Aceito em 10 de março de 2012
resumo
DestacandoaimportânciadopapeldaLinguísticaCríticaparaadiscussãodetemas socialmente relevantes, este artigo discute os usos e abusos de argumentosconsideradoscientíficosparaadefesadeposiçõesconservadorasemnossasociedade.Oartigodefendeaconsideraçãodocontextohistóricoparacompreenderessesargumentoseassumeaideologiacomoparteconstitutiva,aindaquenegada,daciência.OcasoanalisadoéolivroGota de sangue,deDemétrioMagnoli, que, para defender sua posição anticotas, lançamão dediversosargumentosconsideradoscientíficos,aomesmotempoemquenegaasuaprópriaposiçãoideológica.
AconceituadarevistaScience,emsuaediçãode18dedezembrode 2009, traz um artigo da autoria deMaxWeisbuch, um pesquisadorepósdoutorandodoDepartamentodePsicologiadaSchool of Arts and Sciences da universidade norteamericana de Tufts. Tratase deumtemasobreoqualmuitosentrenóssempretinhamalgunspalpites,muitas suspeitas e, comcerteza,muitas opiniões e atémesmo “convicções” inabaláveis.Mas apesquisa apresenta algomaisquemerasespeculaçõeseideiasintuitivamentefortes2sobreumaquestãodesumaimportânciaquemuitagente,noentanto,relutaemtomarcomodignadeamplodebateepreferevarrerparadebaixodotapeteoufingirquesimplesmentenãoexiste.Poisbem,apesquisaescancaraumamontoadodeconclusões–inquestionáveisdopontodevistacientífico–deque“opreconceitoracialsefazemergirdeformamuitomaissutildoquepor intermédiode injúriasdiretas”.Elafocaosprogramasapresenta
DOI 10.5216/sig.v24i2.17333
rAjAgopAlAn, Kanavillil. A últimA cArtAdA dAs forçAs retrógrAdAs em mAtériA...260
ACiênciaimpressiona,mastambémengana.E,àsvezes,enganamuitoe,oquevemaserpiorainda,éfrequentementeusadadeformadeliberadacomopropósitodeenganar.MesmoquemqueiraeximiraCiência de praticar enganação proposital não consegue negar, em sãconsciência, que os que juramemnomeda ciência – quer de formapropositadaquerdeformaapressadaeimpensadamenteingênua–enganamosincautos.
Não há nenhum exagero em dizer que, de certa forma, somostodosestruturalistas.Pelomenosalgunsprincípios epreceitosdoestruturalismopermanecemaindahojecomoumaherançamaldita.E,oqueépior,essesprincípiosepreceitossão,vezououtra,invocadospelosinteressadosparasubverteraçõesquevisamcorrigirdesequilíbrioscriadosnasociedadepormeiodeatosinjustospraticadosaolongodahistória.
rAjAgopAlAn, Kanavillil. A últimA cArtAdA dAs forçAs retrógrAdAs em mAtériA...262
2009a).Emnomedocientificismoqueimperavanaépoca,pleiteavasequesósepodefazerumestudosériodeumobjetoqualquer,quandoeseeleestiverdesvinculadodahistóriadaqueleobjeto.Nocasodosestudosdalinguagem,emqueesseespíritosemostrouparticularmenteeficaz,FerdinanddeSaussure([1916]2000)defendeuaseparaçãonítidaentreoestudosincrônicodeumalínguaeoestudodiacrônico.Aideiasubjacenteeraadequenadadoquepodemosdizercientificamentearespeitodeumalínguadecorredosseusestágiosanteriores.Porexemplo, a línguaportuguesa teria evolvidodoLatim,e issocomcertezadeixoumarcasnela,masoLatimnãotemnadaavercomoPortuguês,talqualessalínguaseencontrahoje.Paraestudálacientificamente,éprecisoesquecerasuahistóriaeabordálacomoseelativesse“caídodocéu”deumavezportodas,prontaeacabada.Podesedizerqueessaênfasetotalemcortarperemptoriamentequalquerlaçocomahistóriaerauma reaçãoaohistoricismoqueprevaleceuemépocasanterioresequeprovocouKarlPopper(1957)aescreverseulivroA miséria do historicismo, no qual condenou essa tendência como potencialmenteperigosaeperniciosa(muitoemborasuacríticafossedirigidaàideiadedestino,deprédeterminaçãohistórica, talcomoforapregada,porexemplo,peloNazismo).
ComodizDosse(1993,p.69),
Essaradicalmudançadeperspectivarelegaadiacroniaparaosta-tusdesimplesderivadaeaevoluçãodeumalínguaseráconcebidacomoapassagemdeumasincroniaparaumaoutrasincronia.[...]essetour de forcepermitiuàlinguísticalibertarsedatutelahistoriadora,favorecendoasuaautomatizaçãocomociência,masaoaltocustodeumahistoricidade[...].
A importânciA dA históriA nAs ciênciAs sociAis
Otermo“cientismo”4significa,entreoutrascoisas,aconvicçãodequeosmétodosutilizadosnasciênciasexatasebiológicastambémvalemcomigualpropriedadenasáreashumanasesociais.Ocientismo foi, durante o séculoXX, e continua sendo até os dias de hoje,umaforçamuitomarcantenosrumosdapesquisa.Issoémuitobemrefletidonaformacomocostumamospensara respeitodasquestões
que interessamaospesquisadoresnasdisciplinassociais,humanaseatémesmofilosóficas.Émuitocomumverospesquisadoresseesforçandoparaformularsuaspropostasseguindorigorosamenteasnormasestabelecidastendoemmenteaspesquisasexperimentais.Assim,fazemoscom frequênciavistagrossaparao fatodeque termoscomo“hipótese”e“cronograma”rígidosebemdelineadosnãoseaplicamàspesquisasnocampodeciênciashumanas,particularmentequandoelasgiram em torno de questões filosóficas e teoricamente “cabeludas”.Nessas pesquisas, o que se vê é que as questões que originalmentedespertaramenortearamointeressedopesquisadorvãosofrendomudançaspaulatinamente,aolongodasreflexões,eotaldocronograma,longedeobedeceraetapasdiscretascomo“coletadedados–análise–conclusões”(nessamesmaordem),manifestaumaordemdevaievemeumsimultâneoaprofundamento,epossivelmentealargamentoouafunilamentodoquadrodereferência.
Quandooespíritodecientismoprevalecenasciênciashumanas,oresultadoimediatoéque,naânsiadeisolaro“objetodeestudo”,opesquisadorrelegatodoocontextoemqueesteseencontra.Nosestudosdalinguagem,criaseoobjetochamado“língua”,queévislumbradodeformadesatreladadeseucontextosocialehistórico.Foioquemoveu Saussure em sua insistência em abordar o objeto sincronicamente.Játrateiemoutroslugares(cf.rAjAgopAlAn,2004b,2004c)dosdesastrososdesdobramentosdadecisãoinauguraldeseafastardocontextosociale,emespecial,doZeitgeistdomomentohistóricoemquealínguaseencontra.EsseZeitgeistsetornaimportante,poisénelequesedelineiamasopiniõesqueusuários(o“povo”demodogeral)têmarespeitodesualíngua.Odescasopropositaldesedistanciardaopiniãopopularé,nofundo,maisumaformadeignorarahistória–nãosódalíngua como um objeto reificado,mas também domodo como seususuáriosaveemaolongodostempos–ofatoéquealinguísticasempreprocurounegligenciarsuaprópriahistória(rAjAgopAlAn,2005).
Umaperguntaquenãoquersecalaré:aqueminteressaoapagamentodahistória,edasmarcasedosvestígiosqueelasempredeixaemseusrastros?Antesdeprocurarmosumarespostaparaapergunta,convémlembrarqueháinúmeroscasosdeusoindiscriminadodosfrutosdaCiênciaporsetoresinteressadosdasociedadeemproveitopróprio.AforaofatoinegáveldequeaCiênciaseencontra,elamesma,muitasvezesideologicamentecompromissada,existetambémousoideológicodasconclusõesputativamentederradeiraseinabaláveisaquesupostamentechegamoscientistas.Tantoissoéverdadequealinhadivisóriaque se supõe separar aCiência da Ideologia tornase cada vezmaistênue,paranãodizerextremamenteduvidosa.QuemnosforneceumapistavaliosasobrecomoaciênciaconsegueesconderseusprópriosresquíciosesubterfúgiosideológicoséArneNaess,omemorávelfilósofonorueguês(1972,p.128,citadoemGrAy1980,p.21):
AspalavrassábiasemuitoprofundasdeArneNaessseaplicamcomassustadoraacuráciaaolivroUma gota de sangue,daautoriadosociólogoDemétrioMagnoli(2009a).Otomgeraldaobraseencontraresumidonoseguinteparágrafodolivrodenadamenosque398páginas:
Raçaé,precisamente,areivindicaçãodeumgueto.Onomedessegueto é ancestralidade.Avidadeum indivíduoquedefineo seulugarnomundoemtermosraciaisestáorganizadapeloslaços,reaisou fictícios, que o conectam ao passado.Mas amodernidade foiinauguradaporumaperspectivaoposta,quesecoagulanosdireitosdacidadania.Oscidadãossãoiguaisperantealeietêmodireitodeinventarseuprópriofuturo,àreveliadeorigensfamiliaresourelaçõesdesangue.Apolíticaderaçaséumanegaçãodamodernidade.(mAgnoli,2009a,p.15)
A recepção entusiásticA do livro e As desAvençAs iniciAis
O livro foi aclamado instantaneamente como um verdadeirohappeningemmeioàintelectualidadebrasileira.AsseguintespalavrasdeMarceloLeite(2009),colunistadaFolha de S.Paulo,fornecemnosumaideiadarecepçãoentusiasmadaqueolivrodeMagnolirecebeu:
Nãose iludao leitorcomo títulodaobra.O livrodogeógrafoecolunistaDemétrioMagnolinãoéumcompêndio.Tratasedeumtextode intervençãonodebatebrasileiro sobre cotas raciais.Seuméritomaiorétermuitomenosdefeitosqueobestseller“NósNãoSomosRacistas”, do jornalistaAliKamel.A tese é amesma: asaçõesafirmativaseomovimentonegroresultamdeumaarmaçãoideológica.Elaconspiracontraoprincípiodaigualdadeperantealei,contraaideiadenaçãoe,nocasobrasileiro,contraseugenerosomitofundacional,amestiçagem.
Mas,paraasurpresademuitos,opróprioMagnoli(2009b)rebateu,imediatamente,aresenhafeitaporLeite,objetando,entreoutrascoisas,aideiadequeolivrofosse“umtextodeintervençãonodebatebrasileiro”.Magnolitambémserevela,nomesmotexto,inconformadocomaformacomo,noseuentender,Leiteressaltaopropósito inter-ventóriodo livroUma gota de sangue e,aomesmotempo,despreza
rAjAgopAlAn, Kanavillil. A últimA cArtAdA dAs forçAs retrógrAdAs em mAtériA...266
Digressões históricogeográficas sobrecarregam um tanto a leituracomexemplosdepaíses,instituições,movimentoseautoresquecomprovariamatese.Aspartes trêsequatro,porexemplo,poderiamsersaltadassemprejuízoparaofulcrododebatebrasileiro.
A reaçãodeMagnoli foi pontual e claramentedemonstraumadosedefrustraçãocomofatodeoresenhistanãoterreconhecidotodooesforçoempenhadoemarregimentarargumentosquesustentariamasconclusões:
O que chama atenção nessa resposta ressentida e acirrada porpartedeMagnoliéaveemênciacomqueelerechaçaqualquerideiade“intervenção”eoigualrepúdioàqualificaçãode“maisdemetade”dolivrode“digressõeshistóricogeográficas”.
ciaàbasedaformulaçãodequestõesquesurgememconexãocoma reprodução da vida dentro da sociedade atual.Os sistemas dasdisciplinascontêmosconhecimentosdetalformaque,sobcircunstânciasdadas,sãoaplicáveisaomaiornúmeropossíveldeocasiões.Agênesesocialdosproblemas,assituaçõesreaisnasquaisaciênciaé empregada eos finsperseguidos emsua aplicação, sãopor elamesmaconsideradasexteriores.
rAjAgopAlAn, Kanavillil. A últimA cArtAdA dAs forçAs retrógrAdAs em mAtériA...268
o intelectuAl e A criAção de reAlidAdes
OditadoinglêsquedizThe pen is mightier than the sword (Acanetaémaispoderosadoqueaespada)dizrespeitonãosóaopoderdapalavraemmoverasmassasedesencadearumaavalanchedeatosmaispoderososqueemumaguerradeclarada,mastambémaosentidoemqueodonodapalavra,oescritorouooradortalentosoacabaimprimindosuavisãodomundocomoavisãomaisatraentee,enfim,comooretratofieldaúltimaeúnicarealidade.Issovaletantoparaumdemagogodiabólicocomo,emtemposrecentes,AdolphHitler,comoparaumcientistarespeitado,oquecomprovaaprovocaçãodePaulFeyerabend,citada anteriormente: “Seo objetivo é combater todas as ideologias,vamosemfrente.Mas,nãonosesqueçamosdaciência”(feyerAbend,1993,p.156).
EmseulivroLTI A Linguagem do Terceiro Reich,VictorKlemperer(1947[2009])nosmostracomoanovalinguagemou,sequiser,a“novilíngua”fabricadacomexímiaperfeiçãopelosNazistasacabouinduzindoamaiorpartedapopulação–inclusiveoscidadãosjudeus,perseguidospelosseguidoresdeHitler–aempregálainadvertidamentee,dessa forma, incorporálae,emseguida,“naturalizála” inconscientemente.Emsuasprópriaspalavras,“nãousamosimpunementealinguagemdovencedor.Acabamosporassimilálaepassamosaviverconformeomodeloqueelenosdá”(Klemperer,[1947]2009,p.309).
como se criAm reAlidAdes AtrAvés do uso dA linguAgem
OpodercriativodousodalinguagemfoitrabalhadocommestriapelofilósofoinglêsJ.L.Austin(1962).EmseulivroclássicoHow to Do Things with Words,Austinesboçouumaformadeabordarosenunciadoslinguísticoscomoinstânciasdeenunciaçãoque,longededescreveremcertos“estadosdecoisas”nomundo,comodecretavaatradição,naverdadecontribuiriamparamoldaromundodenovasmaneiras(RA-jAgopAlAn,2004e,2009b).Atémesmoumsimplesecorriqueiroenunciadona formadeclarativacomo“Euvosdeclaromaridoemulher”,pronunciadoporumpadreoupastornomomentoapropriadoedeacordocomregrasestabelecidaspreviamente,contribuidecisivamenteparaalterarsignificativamenteomundo,namedidaemqueintroduznessemundoumfatonovoeinéditoqueatéomomentonãoexistia.
AustinfoiumgrandeimpulsionadordaescolafilosóficaqueficouconhecidacomoaFilosofiadaLinguagemOrdinária,cujamaiorinovaçãonocampodepensamentofilosóficofoijustamentecomprovarqueo nossousoda linguagem impacta omundo e nele intervémdeformadecisiva,conscienteouinconscientemente.Austinmostrouqueonossousodalinguageméinvariavelmenteperformativo,mesmoquan
rAjAgopAlAn, Kanavillil. A últimA cArtAdA dAs forçAs retrógrAdAs em mAtériA...270
doelenosengana,comoenganou,elevoumuitosestudiososaolongoda história a pensar que pelomenos uma parte dos significados sãodaordemdos“constativos”–aquelesenunciadosqueservemapenasparadescreverumarealidadeexterioreindependentedalinguageme,omaisimportante,quesãoimunesaqualqueringerênciaporquemquerqueseja.Acontece,comochegaamostrarAustin,mesmoumenunciadodotipo“Ogatoseencontraemcimadocapacho”,tidocomocasoexemplardeumasentençadeclarativae,poressemotivo,suscetíveldeseravaliadacomoverdadeiraoufalsa(aprovaderradeiradeumasentençaqueapenasrefleteomundo,semneleinterferir),é,nofundo,umenunciadoperformativocomoqualqueroutro.
ParaAustin, os enunciados performativos se distinguem dosconstativospornãoseprestaremaumaavaliaçãoemtermosdobinômio“verdade/falsidade”.Elespodemapenasserconsiderados“felizes”ou“infelizes”,dependendodascircunstânciasemquesãoproferidos.A famigerada questão da verdade (ou falsidade), que tantoocupouaatençãodosfilósofos,serianadamaisqueumadas“condiçõesdafelicidade”ou,quemsabe,umdosefeitosdeumproferimentofelizebemsucedido.Emnossostempos,aauradaCiênciacontribuipara que um enunciado seja premiado como certificado de “100%verdadeiro”.
ÉnessaperspectivaqueaafirmaçãodeMagnoli–“ointelectualefetivamentecriarealidades”–começaafazeralgumsentido.Qualqueratodeenunciação,quandoabordadocomoumcasodeperformativo,temessapropriedade.Quandoproferidaporumcientista(ouum“intelectual”,nodizerdeMagnoli),elanãosóefetivamentecriaumanovarealidade,mastambém,namedidaemqueutilizaoprestígiodaciênciae da academia, conferelhe autoridade, respeitabilidade e atémesmoumardeirrefutabilidade.Digasedepassagem,que,aoquemeconsta,MagnolinãoestavapensandoemAustin,muitomenossimpatizandocomsuasideias.
de voltA A uma Gota de sanGue: o pApel dA ciênciA
OsubtítulodolivrodeMagnoliéHistória do pensamento racial.Eleatélembraotítulodolivro,jáclássico,deClóvisMoura(1989):
História do negro brasileiro.Masassemelhançasparamporaí.ComoobservaMesquita(2003):
Clóvis Moura está claramente preocupado com a transformaçãosocial, e com issonorteia suapostura intelectual entendendoqueopensadorindependentepossuimaioresemaisconcretaspossibilidadesde fomentaramudançadasociedade,poisnãoestápresoanenhum tentáculodo sistema.Emsua ilação,expõeque“o sociólogoprofissionalusadeumconjuntode técnicasparaserviràestrutura;nãoéumcientistaindependentequeprocuraumapráxisparatransformála”.(mourA,1978,p.28)
Ouseja,todaaquestãocabeludaquequerinvestigarprecisaserabordadacomoolhardeumcientistadescompromissadodequalquerposicionamentoideológico.Nessaempreitada,ahistóriasótemvalornosentidodecolocaradiscussãonumcontextomaior.Elanãoentradeformaalgumanaselucubraçõesteóricaspropriamenteditas.Fielàtradiçãodoestruturalismoeàvisãodaciênciaemqueelasebaseia,Magnoli quer deixar a história à distância, para poder se concentrarnaquestãocentral,seu“objeto”deestudo,talqualeleseapresentanomomentopresente.
OcenáriomudoufundamentalmentecomoadventodafilosofiadasLuzes,quepostulouaigualdadenaturaldoshomens,umprincípioconvertido em argumento central dos abolicionistas. Se os sereshumanosnascemlivreseiguais,porumdesígniosimultaneamentedivinoenatural,comoconservaroinstitutodeescravidão?(p.23)
Oassimchamado“racismocientífico”étaxado,comonãopoderia ser de outra forma, de pseudociência (as aspas irônicas sobreapalavra“científica”,nacitaçãoacima, ilustrambemisso).Magnolinãomenciona a escandalosa tese da “curva de sino” (Herrnstein&murrAy,1994),queagitouosEUAnosanos1990.Casotivessefeitoumapausapararefletirsobreelaeoutrastantasquecostumampipocar,detemposemtempos,elepoderiaterseconscientizadodequeasditas“descobertascientíficas”sãofrequentementeutilizadasparaserviraestaouàquelaagendapolíticaescusaeoculta.
umA Análise críticA dA “rAçA” e do “rAcismo” no brAsil
OsEUAinterpretaramasimesmoscomoumanaçãosemnítidasbarreirasdeclassesocial,naqualtodostêmaoportunidadedeascendereconomicamente,mastambémcomoumpaísdivididoporfronteiras intransponíveis. OBrasil, bem ao contrário, enxergousecomoumanaçãomestiça,miscigenada,poucoafeitaabarreirasraciais,masatravessadapordivisasdeclassemuitomarcadas.Adesigualdadesocial,nãoadiferençadecor,semprepareceuaosbrasileirosrepresentaroverdadeirodesafiopolíticonatrajetóriademodernizaçãodopaís.(p.358)
OúnicodetalhequeMagnolinãoquerencararéofato,inegável,dequeasdiferençasentreascategorias“raça”e“classeeconômica”noBrasilaindaseencontrambastantecorrelatas(cf.lovell&Wood,1998).OtítulodolivrodeHerrnstein&Murray(1994),asaber,Bell Curve and Class Structure(emportuguês,“Acurvadesinoea estru-tura de classes”),captamuitobemessaligaçãoestreita,adespeitodocarátervilipendiosodoseuconteúdo.Emrazãodisso,existemnítidastendênciasdeumhomemdecorserparadoerevistadoemumabatidapolicial,de,enfim,serconsideradoculpadoetersumariamentenegadososbenefíciosdoprincípiodapresunçãodeinocência.Simplesmenteignoraressesfatosinegáveisequivaleataparosolcomapeneira,eéissoqueMagnolifaz.
ÉprecisodizerquenolivroUma gota de sangue hámuitacoisaqueéfrutodepesquisaséria.Olivroimpressionapelavastagamadefontespesquisadas,pelaenvergaduradaóticadoautor.Numtextointitulado“Raçasecotas”,oautorContardoCalligaris(2009)manifestaumaposiçãopolíticadiversadaposiçãodeDemétrioMagnoli.Emsuaspalavras,
CompartilhocomMagnoliosonhodeumasociedadeemqueacordapelesejaindiferente.Masminhaavaliaçãodaspolíticasdecotasé“matizada”.QuandochegueinosEUA,em94,eupensavacomoMagnoli, ou seja, previa que o sistema de cotas, instituído para“compensar”osefeitosdadiscriminação,dividiriaopaís,levandoodevoltaparaoséculo19.Nãofoioqueaconteceu.Aospoucos,apresençadecidadãosdetodasascoresnamaioriadascorporações(dapolíciaurbanaaocorpodocentedasuniversidades)setransformounumduplovalorcompartilhadoportodosouquase:umvalorestético(adiversidadeébonita)eumvalorprodutivo(adiversidadeéfuncional).
Calligaris faz questão de esclarecer que seu posicionamento éeminentementepolíticoeguiadoporumsensoagudodepragmatismo.Maisinteressanteainda:éconfessadamenteimpressionista.Emprimeirolugar,deixaclaroque“osonhodeumasociedadeemqueacordapelesejaindiferente”éissomesmo:um sonho.Nãocustasonhar,poisarealizaçãodosonhonavidarealseriaemsiumfimaserdesejadoeparaaqualqualquersacrifíciodehojeseriaconsideradoretrospectivamentemuitobem justificadono futuro.MasCalligaris tambémdeixa claroquenãosepodevirarascostasparaumarealidadequeestáaíemnomedailusãodequeosonhojáéumarealidade.
Qualquer um que viveu nos EUA por algum tempo ou tevecontatocomarealidadehojevividanaquelepaíssabemuitobemqueapropaladaigualdadederaças(namedidaemqueissoexiste)éfrutodeumalutamuitosangrentaedolorosaedaresistênciapacífica,porémobstinada,doslíderesnegroscomoMartinLutherKingeJesseJackson.
Eopioréque,noesforçodevalidarumdadodefinitivo(mesmo que só possa valerse de um argumento de autoridade),Magnoliconfundeosensoprático,políticoepragmáticodeumcandidatoàpresidênciadopaís,comumaprovaderradeiradasuperaçãodeumamemórianãomuitolongínqua:
EssaúltimacitaçãodeMagnolinossurpreende,poisoautorsetraiquandoadmiteque“umfuturopósracial”éumasugestão,umso-nhodeObama,poiscabeapergunta:se“pósracial”éumatributoaser desejado para um futuro, o que seria o adjetivo apropriado paraqualificaropresente?
NumaentrevistapublicadapelaAgênciaBrasilnodia27desetembrode2009,o repórter/entrevistadorperguntaaMagnoli sobreadesigualdaderacialexistentenoBrasilesobreosargumentosusadospelosdefensoresdecotasparaadmissãonasuniversidadesbrasileiras.ArespostadeMagnoliéumaexcelentesíntesedaposturapolíticaqueele acha que seus estudos “científicos” podem autorizálo a assumir(cf.costA,2009).Vejamos,aseguir,comoelerespondeàperguntadojornalista:
pessoasreais.Omitodaraçaserveparacriargrandesconjuntosqueserãodefinidos,nocasodoBrasil,pelacordapele.Essasmédiasestãosereferindoàspessoasquenemterminaramoensinomédioequenemestãodisputandoovestibular.Quandosefazpolíticadecotasnasuniversidadesoquesefazédizerqueadisputadepessoasdaclassemédiabaixa,quedisputamasúltimasvagasnosvestibulares,sedefinirápelocritériodecordapele.Oquesefazépegaressaspessoas–dasmesmasescolas,dosmesmosbairros,damesmaorigemfamiliar–etraçarumafronteiraracial,queéumafronteiraimagináriaeinventada.Essetipodepolíticarepousasobreosmesmosfundamentoscriadosnoséculo19peloracismocientífico.Ouseja, omulticulturalismo, que é um fenômeno pósmoderno, temraízesnaexpansãoimperialeuropeianaqueleséculo.
Magnolinãodeixade tercertarazãoaoapontarquequemdefendecotascombaseemraçaaparentementeacabadealgumaformalegitimando a noçãode raça,mesmo sabendoque doponto de vistacientíficooconceitoderaçaéinjustificáveleinsustentável.Comefeito,muitosdosdefensoresdecotaspraticam,navisãodeMagnoli,umaenganaçãotraiçoeira,namedidaemquefazumaargumentaçãoespeciosa,sabendodaimprocedênciadosseusfundamentos.10
rAjAgopAlAn, Kanavillil. A últimA cArtAdA dAs forçAs retrógrAdAs em mAtériA...280
Em momento algum, em meio desta discussão entusiasmada,apareceofatoamplamenteconstatadoaoredordomundoeaolongodahistóriadequeospovosminoritários(ousetoresdesociedade)perseguidosoudiscriminadostendemaseagrupar,afecharastrincheirase,finalmente,aseenclausuraremguetos.Éumaformadeassumirumaidentidadeque,emoutrascondições,elesnãoteriammotivoparaassumiroudefender.Éoque,emseuensaio,Calligarischamade“identidadesdedefesa”,queinvocaaquiloqueGayatriSpivakcaracterizacomo“essencialismoestratégico”(cf.muniz,2009). Issoocorreude formaorganizadanoBrasil no anode1988,quandohouveumgrandeclamornosentidodequetodosospardosenegros,independentedograude coloração de sua pele, se autoidentificassem comonegros e nãomulatos,pardosouqualqueroutracoisa.Conscientizaçãonosmesmosmoldestambémestáocorrendoemmeioaoutrascomunidadesminoritáriasmarginalizadas,notadamenteospovosindígenas(RAjAgopAlAn,noprelo1e2).
Acontecequeosseresvivos,entreelesossereshumanosdecarneeosso,semprecarregamsuashistóriaspessoaisemsuascostasenassuasveias.Somos,afinal,nãoapenasmeros“objetos”aseremestudados;somosseresdotadosdeinteligência,dediscernimentoe,sobretudo,deemoçõesesentimentos.Asmarcasdediscriminaçãosofridaspornósoupornossosantepassadossemprepermanecememnossapsique,e levammuito,masmuito tempo para cicatrizarem.O nosso estadofísicooumentalpodenãoestaràvista,escancarado,masissonãoquerdizerquenãolateje.
Deumacoisapodemostercerteza:adiscriminação,aexclusãopraticadacomosantepassadosdealguém,tornaapossibilidadedesuaascensãosocialmuitomaisdifícil.Issoporqueapossibilidadedeprogressonocampodeeducação,porexemplo,dependedeumacultura,quesóafamíliae/ouoscírculossociaismaispróximospodemlheconferir.Asoluçãoparaissonãoéasimples“inclusão”–palavradamodaqueentrounousocomumcomosefosseumacuramilagrosaparatodososmales sociais.Não adianta deixar queumapessoahistoricamentedebilitada entre no ringue para competir, em condição de igual paraigual,comadversáriosbemnutridosebemtreinados.Averdadeirajustiçacomeçaquandosereconheceaimportânciadetratarosdesiguaisdeformadiferenciada,atéqueosdesnutridoseosdesabilitadossejamplenamentehabilitados.
2 Respostas fornecidas por entrevistados a perguntas diretas contidas emum questionário que são frequentemente levadas a sério sem nenhumaconfirmaçãoadicional!
3 Onovo espírito foi sintetizado pelo poeta inglêsAlexander Pope (16881744),queescreveu,comféinabalávelnanovareligiãochamadaCiênciaecomtodoosarcasmoaquetinhadireito:“Anoiteencobriaanaturezaesuasleis.Deusdisse:‘FaçaseNewton’etudofoiluz”.
4 Otermo“cientismo”sedistinguede“cientificismo”.Osegundosignificaum entusiasmo exacerbado pela infalibilidade da ciência. Já o primeiroelegeasciênciasditasexatascomomodeloparatodasasdemais,inclusiveashumanas–umaposiçãomuitomaiscontroversa.
5 EmborasejaapresentadonumcurtoverbetesobreelenaWikipédiacomo“um sociólogo e geógrafo brasileiro”, DemétrioMagnoli é também umjornalista.FoicolunistasemanaldaFolha de S. Pauloentre2004e2006.Atualmente,écolunistadeO Estado de São PauloeO Globo.
6 Aquicabeumamençãoàfamosacríticadesferidapelolídernegronorteamericano, Malcolm X, sobre a atitude discriminatória embutida nametáfora de luz em sua oposição à escuridão e às noções correlatas detrevas,docontinenteescuroetc.
7 Mesmo supondo que as coisas sejam assim, Magnoli ainda estariadevendoaseusleitoresumaexplicaçãosobreomodocomoapresentaosEUA.Na ótica deMagnoli, os EUA conseguiram apagar uma diferençamensurável e, digamos, “palpável”. Independente disso, o argumento doautordemonstraumprofundodesconhecimentodadistribuiçãodariquezanos EUA. Segundo os dados doUS Census Bureau (http://www.census.gov/compendia/statab/2010/files/income.html), 36,5 milhões de cidadãosou12,3%dapopulaçãodaquelepaísviveabaixodalinhadepobreza(osdadossereferemaoanode2006).Desnecessárioacrescentarque,comacrisefinanceiraqueatingiuopaísnoanode2009,ascoisassópodemterpiorado.
8 OcontrastecomapesquisadarevistaScience,àqualmereferinoiníciodeste artigo, fala por si só. O pesquisador vai muito além das simplesrespostas fornecidas pelos entrevistados para investigar justamente osfatoresqueosimpedemdeenxergaroqueocorredefatocomseuspróprioscomportamentosdepoisdeassistiremacenasdetelenovelasideologicamentecomprometidas,apesardeseusdesmentidos.
O caráter trapaceiro desse estilo de argumento pode ser verificado seextrairmossuaformalógica(queéumargumentoimediato,nãosilogístico)ecomparáloaoutrosargumentosformuladosnosmesmosmoldes.
cAlligAris,C.Raçasecotas.Folha de S.Paulo,SãoPaulo,1ºout.2009.
costA, g. Discurso multiculturalista se baseia no racismo do século 19, diz Magnoli. Agência Brasil, 27 set. 2009. Disponível em: <http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2009/09/25/materia.20090925.4145529488/view>.Acessoem:6jan.2010.
dosse, f. História do Estruturalismo 1. O Campo do Signo. 19451966.TraduçãodeÁlvaroCabral.CampinasSP:Unicamp/Ensaio,1993.
Klemperer, V. LTI A Linguagem do Terceiro Reich. Tradução de MiriamOelsner.RiodeJaneiro:Contraponto,[1947]2009.
leite, m.Magnolifazlivrodecombatecontracotas.Folha de S.Paulo,SãoPaulo,26set,2009.
lopes dA silvA, f.; rAjAgopAlAn, K.(Org.).A linguistica que nos faz falhar.SãoPaulo:ParábolaEditorial,2004.
lovell, p. A.; Wood, c. h.Skincolor,racialidentityandlifechancesinBrazil.Latin American Perspectives,v.25,n.3,p.90109,1998.mAgnoli, D.Uma gota de sangue: históriadopensamentoracial.SãoPaulo:Contexto,2009a.
mAgnoli,D.Odomdeiludir.Folha de S.Paulo,SãoPaulo,9set.2009b.mAgnoli, D. Réplica: Resenha expôs leitura apressada de obra. Folha de S.Paulo,SãoPaulo,10out.2009c.mourA,C.A sociologia posta em questão.SãoPaulo:LivrariaEditoraCiênciasHumanas,1978.
mourA,C.História do Negro Brasileiro.SãoPaulo:Ática,1989.mesquitA,E.ClovisMouraeasociologiadapráxis.Estudos Afro-Asiáticos,v.25,p.1227,2003.
muniz, K.daS.Linguagem e Identidade: umacontribuiçãoparaadiscussãosobreaçõesafirmativasparanegrosnoBrasil.Tese(DoutoradoemLinguística)–DepartamentodeLinguística,UniversidadedeCampinas,SãoPaulo,2009.
nAess, A.The pluralist and possibilist aspect of the scientific enterprise.Oslo:Universitetsforlaget,1972.
popper, K.R.The Poverty of Historicism.Boston:BeaconPress,1957.rAjAgopAlAn, K.Por uma linguística crítica.SãoPauloSP:ParábolaEditorial,2003.
rAjAgopAlAn, K. Structuralism. In: strAzny, P. (Org.). Encyclopedia of Linguistics,NovaIorque,EUA:FitzroyDearborn,v.2,p.10411042,2004a.rAjAgopAlAn, K. Línguas nacionais como bandeiras patrióticas, ou aLinguística que nos deixou na mão. In: lopes dA silvA, F.; rAjAgopAlAn,K. (Org.).A Linguística que nos faz falhar: investigaçãocrítica.SãoPaulo:ParábolaEditorial,2004b.p.1138.
rAjAgopAlAn, K. Resposta aos meus debatedores. In: lopes dA silvA, F.;rAjAgopAlAn,K.(Org.).A Linguística que nos faz falhar:investigaçãocrítica.SãoPaulo:ParábolaEditorial,2004c.p.16623.
rAjAgopAlAn, Kanavillil. A últimA cArtAdA dAs forçAs retrógrAdAs em mAtériA...286
rAjAgopAlAn, K.Onbeing critical.Critical Discourse Studies, v. 1 n. 2, p.261266,2004d.
rAjAgopAlAn, K.JohnLangshawAustin.In:strAzny, p.(Org.).Encyclopedia of Linguistics.NovaIorque,EUA:FitzroyDearborn,v.1,p.98100,2004e.rAjAgopAlAn, K.ThelanguageissueinBrazil:whenlocalknowledgeclasheswithexpertknowledge. In:cAnAgrAjAh, A.S. (Org.).Reclaiming the Local in Languae Policy and Practice. Mahawah, New Jersey, EUA: LawrenceErlbaumAssociates,Publishers,2005.p.99122.
rAjAgopAlAn, K.ResenhadeJohnE.Joseph:LanguageandPolitics.Applied Linguistics,v.28,n.3,p.33033,2007.rAjAgopAlAn, K. Poststructuralism. In:chApmAn, s.;routledge, C. (Org.).Key Ideas in Linguistics and the Philosophy of Language. EdimburgoReinoUnido:EdinburghUniversityPress,2009a.p.170173.
rAjAgopAlAn, K.Ordinarylanguagephilosophy.In:chApmAn, s.;routledge,C.(Org.).Key Ideas in linguistics and the Philosophy of Language.Edimbugo:EdinburghUniversityPress,2009b.p.149156.
rAjAgopAlAn, K.Black Movement.Asairem Brazil Today: anEncyclopediaofLifeintheRepublic,p.6972,2012.
rAjAgopAlAn, K.Indigenous peoples.Asairem Brazil Today: anEncyclopediaofLifeintheRepublic,2012.p.326329.
reichmAnn, W.J.Use and Abuse of Statistics.NovaIorque:OxfordUniversityPress,1961.
sAussure, f. de.Curso de Linguística Geral.TraduçãodeAntônioChelini,JoséPauloPaeseIzidoroBlikstein.Paris:Payot.22ed.SãoPaulo:Cultrix,[1916]2000.