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Revista do Instituto Geológico, IG São Paulo, 20(1/2), 21-27,
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CONTRIBUIÇÃO PALINOLÓGICA AO CONHECIMENTO DO SUBGRUPOITARARÉ NA
SERRA DOS PAES, SUL DO ESTADO DE SÃO PAULO
Paulo Alves de SOUZAFemando Farias VESELY
Mario Luis ASSINE
RESUMO
Este trabalho constitui a primeira contribuição paleontológica
para o Subgrupo Itararé naSerra dos Paes, sul do Estado de São
Paulo, correspondendo à porção superior da unidade naárea. Quinze
táxons foram reconhecidos, dos quais dois são inéditos para a
porção brasileira daBacia do Paraná: Granulatisporites
austroamericanus Archangelsky & Gamerro eProtohaploxypinus
panaki Utting. A assembléia é dominada por grãos de pólen teniados
epoliplicados, destacando-se os gêneros Protohaploxypinus,
Vittatina e Complexisporites,enquanto que esporos e grãos de pólen
não-teniados são raros. Considerando o arcabouço
pali-nobioestratigráfico da Bacia do Paraná e das bacias
gondvânicas circunvizinhas, a idade daassembléia é considerada
eopermiana (Sakmariano).
Palavras-chave: Subgrupo Itararé, palinologia, Serra dos Paes,
Permiano, Bacia doParaná.
ABSTRACT
Fifteen sporomorphs have been recorded from the upper portion of
the Itararé Subgroup,Paraná Basin, at Serra dos Paes, south of São
Paulo State, Btazil. This represents the firstpalynological record
for the locality. The palynological assemblage is rich in taeniate
bisaccateand poliplicat pollen grains such as Protohaploxypinus,
Vittatina and Complexisporites,whereas spores and non-taeniate
(mono and bisaccate) pollen grains are scarce. Two taxa
arepresented for the first time in the Brazilian Paraná Basin:
Granulatisporites austroamericanusArchangelsky & Gamerro and
Protohaploxypinus panaki Utting. According to thepalynological data
and to correlations with similar Gondwanic assemblages, the age of
theassemblage is considered to be early Early Permian
(Sakmarian).
Keywords: Itararé Subgroup, palynology, Serra dos Paes, Permian,
Paraná Basin.
1 INTRODUÇÃO
O SubgrupoItararé é uma unidade litoestrati-gráfica da Bacia do
Paraná depositadano interva-lo neocarbonífero/ eopermiano.
Compreendediversos litotipos (arenitos, diamictitos,
conglo-merados, ritmitos, entre outros) que ocorrem dabase até o
topo com alto grau de recorrência. Hágrande variação lateral de
fácies, sendo dificil acaracterização de camadas-guia, importantes
paraa correlaçãoestratigráficae análise de seqüências.
Por essa razão, os dados palinológicos for-necem subsídios para
correlação estratigráfica e
determinação da idade dos diferentes intervalos.Merece destaque
o zoneamento de DAEMON &QUADROS (1970), o mais abrangente em
ter-mos geográficos e estratigráficos já realizado naBacia do
Paraná.
A sucessão estratigráfica do SubgrupoItararé na região da Serra
dos Paes pertence àparte superior da unidade (CAETANO-CHANG1984,
CAETANO-CHANG & LANDIM 1987,CABRAL JR. et aI. 1988). À exceção
da ocor-rência de invertebrados na localidade vizinha de
Itaporanga (MEZZALIRA 1956), não há nenhu-ma outra referência
paleontológica na região.
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Os dados palinológicos aqui apresentadosconstituem informações
inéditas e visam a con-
tribuir para melhor conhecimento da sucessão
palinológica e posicionamento cronoestratigrá-fico da
unidade.
2 MATERIAIS E MÉTODOS
A Serra dos Paes está localizada na faixa de
afloramentos da margem oriental da Bacia doParaná, no flanco
norte do Arco de PontaGrossa (Figura 1). Nela estão expostos cerca
de150m da seção superior do Subgrupo Itararé,capeados por
litologias do Subgrupo Guatá(Formação Tatuí).
Foram amostrados diamictitos
maciçoscinza-esverdeadosposicionadospróximos ao topodo Subgrupo
Itararé. O ponto de coleta situa-se a5 quilômetros ao norte da
cidade de Barão de
v
~:::~ Grupo Passa Dois
h~~~dSubgrupo Guatá
D SubgrupoItararé/"' Contato Geológico
,_J--' Estrada
.. Ponto Amostrado
Antonina, nas coordenadas geográficas 23°35' delatitudeSul e
49°34' de longitudeOeste.
A amostra coletada foi desagregada fisica-mente (maceração), com
posterior dissoluçãode seus componentes inorgânicos (reação comHCl,
HF) e minerais neoformados (HCl à quen-te) e concentração final do
resíduo na fraçãoentre O,25-0,025mm. A partir do resíduo
pali-nológico, foram confeccionadas três lâminas,codificadas e
depositadas na Palinoteca doInstituto Geológico/SMA, sob números
IG-P:291A, B e C.
Neste trabalho, são apresentados os princi-pais resultados da
análise qualitativa referente acinco espécies de esporos e dez de
grãos depólen. Em virtude de o material ter se mostradobastante
escasso, não foi possível ser realizadaanálise quantitativa,para
fins de representativida-
de paleobotânica e interpretaçãopaleoambiental.
Serra dos Paes
23°40'-
. 5Km.
3 RESULTADOS PALINOLÓGICOS
FIGURA 1- Situação geológica geral da área e localização da
amostragem palinológica.
A composição palinológica verificada émarcada pela variedade de
grãos de pólen tenia-
dos, em detrimentos dos esporos e grãos depólen monossacados e
bissacados não-teniados.
Essas características são típicas das assembléias
22
palinológicas do limite Carbonífero/Permiano ede todo o Permiano
Inferior das bacias gondvâ-nicas, como já registrado na Bacia do
Paraná(ARAI 1980,PICARELLI et aI. 1987).
A seguir são relacionados os principaispalinomorfos
reconhecidos, alguns dos quaisidentificados em nível genérico.
Destaca-se queduas espéçies são nQticiadas pela primeira vez
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na Bacia do Paraná: Granulatisporites austroa-mericanus e
Protohaploxypinus panaki,
Esporos: Calamospora hartungiana Schopf,Wilson & Bentall,
1944; Granulatisporitesaustroamericanus Archangelsky &
Gamerro,1979; Horriditriletes uruguaiensis (Marques-Toigo)
Archangelsky & Gamerro, 1979;Cristatisporites inconstans
Archangelsky &Ga111erro,1979; Vallatisporitesspp.
Grãos de pólen: Cannanoropollis sp.;
°,/
QUADRO 1 - Distribuição de algumas espéciesverificadas de acordo
com os zoneamentospalinobioestratigráficos da Bacia do Paraná
(a:Subzona Protohaploxypinus-goraiensis, b: SubzonaCaheniasaccites
ovatus, c: Subzona Hamiapolleniteskarroensis).
Caheniasaccites sp.; Protohaploxypinus limpi-
dus (Balme & Hennelly) Balme & Playford,1968;
Protohaploxypinus micros (Hart) Hart,1964; Protohaploxypinus panaki
Utting, 1994;Striatoabieites sp.; Hamiapollenites tractiferinus
(Samoilovich) Hart, 1964; Complexisporitespolymorphus Jizba,
1964; Vittatina wodehousei(Jansonius) Hart, 1964; ~ Vittatina
vittifera
(Lüber & Valtz) Samoilovich, 1953.
4 DISCUSSÃO
Das formas reconhecidas, apenas trêsintegram parte do zoneamento
de DAEMON &QUADROS (1970): Complexisporites polymor-phus (forma
P425), Vittatinawodehousei (P386),e V. vittifera (P392). Do
zoneamento de MAR-QUES- TOIGO (1988), estabelecido para aseqüência
neopaleozóica da bacia nos estados doRio Grande do Sul e Santa
Catarina, quatro espé-cies são comuns: Horriditriletes
uruguaiensis,Protohaploxypinus limpidus,
Hamiapollenitestractiferinuse Vittatinavittifera.
No Quadro 1 são apresentadas as distri-buições dos táxons comuns
constantes noszoneamentos de DAEMON & QUADROS(1970),
MARQUES-TOIGO (1988). Foi pos-sível identificar convergência de
resultadospara o intervalo H3-I, correspondente às sub-zonas
Protohaploxypinus goraiensise Caheniasaccites ovatus, das posições
inferiore média da Zona Cannanoropolis korbaensis.Algumas
divergências são verificadas comrelação à distribuição de espécies
no zonea-mento estabelecido por MARQUES- TOIGO(1988) para os
estados de Santa Catarina e RioGrande do Sul, o que pode ser
conseqüênciade diferente amplitude dos táxons nas regiõesmais
meridionais da bacia.
Comparações com assembléias palinológi-cas de outras bacias
gondvãnicas da América doSul sugerem idade eopermiana para os
diamicti-tos da parte superior do Subgrupo Itararé naSerra dos
Paes.
As espécies Granulatisporites austroameri-canus,
Horriditriletesuruguaiensis,Cristatis-porites inconstans e
Protohaploxypinus microstêm ocorrência comum nas
zonasPotonieisporites-Lundbladispora e Cristatis-porites inferior
da Bacia Chacoparaná naArgentina e correspondentes no
Uruguai(ARCHANGELSKY & GAMERRO 1979,
23
§,
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BERI 1988, VERGEL 1993, MAUTINO et aI.1998),posicionadas na base
do Eopermiano.
Granulatisporites austroamericanus eProtohaploxypinus panaki,
espécies noticiadaspela primeira na Bacia do Paraná, foram
descri-tas no Permiano Inferior da Argentina e doCanadá,
respectivamente.
Esse posicionamento cronoestratigráfico édivergente daquele
proposto por DAEMON &QUADROS (1970) para os mesmos
intervalosbioestratigráficos da Bacia do Paraná, segundo oqual o
intervalo H3-I4 seria relativo aoArtinskiano/Kunguriano (topo do
Eopermiano).Como já expressado por SOUZA (1996), há anecessidade de
uma reavaliação das idades dosintervalos bioestratigráficos em
razão de diver-gências com resultados provenientes de outrosgrupos
fósseis da Bacia do Paraná (e.g. macrofi-tofósseis: ROSLER 1978) e
com as idades pro-postas para os zoneamentos palinológicos
dasbacias gondvânicas circunvizinhas.
O conjunto palinológico descrito apresen-ta espécies comuns e
características geraissemelhantes às assembléias
palinológicasidentificadas na parte superior do SubgrupoItararé no
Estado de São Paulo, mais precisa-mente no carvão de Cerquilho,
posicionado nointervalo 12-14(SOUZA et aI. 1993), e naFormação Rio
do Sul aflorante nos estados doParaná e de Santa Catarina, cujos
estratosforam posicionados no intervalo H3-I4(CANUTO 1985).
Em subsuperficie, nos poços J-IG-93, C-IG-93, T-IG-91, T-IG-93
(perfurados pelo IG-SMA), 2-CB-I-SP, 2-TB-I-SP, 2-PN-I-SP,
1-RO-I-PR (Paulipetro) e l-SJ-I-PR (Petrobrás),as correlações
bioestratigráficas são com as par-tes superior do Subgrupo Itararé
(FormaçãoTaciba) e basal das formações Tatuí e RioBonito nos
estados de São Paulo e Paraná.
Considerando a amplitude dos táxons e, emmaior escala, a própria
distribuição dos interva-
v los palinobioestratigráficos, verifica-se que osdados
palinológicos disponíveis não.permitem adiferenciação das duas
unidades litoestratigráfi-caso A maioria dos táxons descritos em
litolo-gias do Subgrupo Itararé na Serra dos Paes ocor-re também na
base da Formação Rio Bonito emoutras localidades.
Na área de Ribeirão Novo, município deWenceslau Brás (PR),
situada a 60km asudoeste da Serra dos Paes, arenitos com car-vão
são recobertos por SOm de diamictitos.Este intervalo foi
posicionado por MAR-QUES-TOIGO et aI. (1981) no Membro
24
Triunfo da Formação Rio Bonito, onde reco-nheceram dois níveis
carbonosos, com conteú-do palinológico distinto entre si,
relacionadosa associações paleobotânicas higrófilas ehidrófilas.
Embora possa ser cronocorrelata àseção analisada na Serra dos Paes,
não é pos-sível realizar qualquer correlação palinológica,tendo em
vista o tratamento sistemático emnível genérico e a ausência de
grãos de pólenteniados naqueles níveis.
5 CONCLUSÕES
1) Diamictitos presentes no topo doSubgrupo Itararé na Serra dos
Paes, municípiode Barão de Antonina (SP), são portadores
depalinomorfos das subzonas Protohaploxypinus-goraiensis e
Caheniasaccites ovatus da ZonaCannanoropolis korbaensis,
correspondente aosintervalos H3-I4'
2) Por correlação com outros estratos gond-vânicos, a idade mais
indicada para a associaçãoé base do Eopermiano (Sakmariano).
3) O posicionamento da parte superior doSubgrupo Itararé na base
do Eopermiano, a par-tir de correlação com zoneamentos mais
atuali-zados existentes em.outras baçias gondvânicas,revela a
necessidade da reavaliação cronoestrati-gráfica do zoneamento
palinobioestratigráficoda Bacia do Paraná.
4) Se confirmada em outras áreas a idadeobtida para o topo do
Subgrupo Itararé, confi-gura-se a necessidade de se "baixar" as
idadesde várias unidades e eventos permo-carbonífe-ros da Bacia do
Paraná, a começar por se consi-derar que a glaciação começou e
terminouantes, tendo transcorrido, sobretudo, noNeocarbonífero.
6 AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem o apoio da FAPESPà realização deste
trabalho, desenvolvido no
âmbito dos projetos "Levantamento da composi-
ção e sucessão paleoflorísticas doNeocarbonífero- Eopermiano
(Grupo Tubarão)
do Estado de São Paulo" (processo n°
97/03639-8) e "Análise de paleocorrentes epaleogeografia da
Bacia do Paraná" (processo n°
98/02183-3).
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ESTAMPA 1 - Fig. 1.
Granulatisporitesaustroamericanus(lâminaIG-P:29lA,
coordenadaEnglandFinderW35/4, barra: 33).lm);2. Horriditriletes
uruguaiensis (29lA, K59/2, 60).lm);3. Calamospora hartungiana(29lB,
Q44, 60).lm),'4. Protohaploxypinus limpidus (29lA, X29/3, 33).lm);
5. Protohaploxypinus micros(29lA, E36/2, 42).lm);6.
Protohaploxypinus panaki (29lA, K47, 48).lm); 7. Vittatina
wodehousei (29lA,M45/3, 42).lm);8. Vittatina vittifera (29lB,
T27/4, 50).lm);9. Complexisporites polymorphus (29lC,
T4114,58).lm);10. Hamiapollenites tractiferinus (29lA, K47/4,
66).lm).
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Endereço dos autores:
Paulo Alves de Souza - Instituto Geológico/SMA, Av. Miguel
Stéfano, 3.900, CEP 04301-903, São Paulo, SP,Brasil. E-mail:
[email protected] Farias Vesely - IGCEIUNESP,
Pós-Graduação, Av. 24-A, 1.515, CEP 13506-900, Rio Claro,
SP,Brasil. E-mail: [email protected] Luis Assine -
IGCE/UNESP, Departamento de Geologia Aplicada, Av. 24-A, 1.515, CEP
13506-900,Rio Claro, SP, Brasil. E-mail: [email protected]
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