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Apostila para o curso de Gerontologia da Universidade Estacio de Sá Belo Horizonte Tema O sitema familiar e o envelhecimento Stúdio de Analise Bioenergética, Psicologia Transpessoal, Cinesiologia Clinica e Sistêmica Familiar Rua Santa Rita Rita Durão 339 s/08 Funcionários Telfax: 31 3227 4983 Belo Horizonte email: [email protected] Constelações Familiares, liberando os destinos trágicos, e refazendo a imagem interior do seu lugar na família. Uma abordagem terapêutica desenvolvido por Bert Hellinger Prática terapéutica conduzida por: Reginaldo Teixeira Coelho CBT psicólogo clínico Apostila para o curso de gerontologia da Universidade estacio de Sá Belo Horizonte Biografia resumida Bert Hellinger. ...nascido em 1925, estudou filosofia, teologia e pedagogia. Sua formação religiosa levouo depois a ingressar em uma ordem religiosa católica. Mais tarde trabalhou como missionário na África do Sul. No início dos anos 70 deixou a ordem religiosa católica dedicandose então à psicoterapia. Através da dinâmica de grupo, da terapia primal, da análise transacional e de diversos métodos hipnoterapêuticos chegou à sua própria terapia sistêmica e familiar. Autor de bestsellers na Alemanha, possui mais de 14 livros em sua bagagem. "A Simetria Oculta do Amor" foi o primeiro livro a ser publicado no Brasil. Entre as suas atividades atuais está o seu trabalho com os sobreviventes do holocausto e suas famílias. Bert Hellinger redescobriu durante o seu trabalho com centenas de sistemas familiares que o reconhecimento do amor que existe no seio das famílias comove as pessoas e muda suas vidas. Porque um amor rompido em gerações anteriores pode causar sofrimentos aos membros posteriores de uma família, o processo de cura exige que os primeiros sejam relembrados. Nos seus workshops os participantes observam, representam pessoas de outras constelações familiares ou exploram suas próprias dinâmicas familiares ajudando Hellinger a demonstrar como o amor, mesmo se injuriado ou maldirecionado pode ser transformado em uma força que cura. Hellinger é inabalável em sua serena compaixão durante o seu trabalho com indivíduos, 1
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Constelações Familiares segundo Bert Hellinger O Trabalho com as Constelações Familiares

Mar 24, 2023

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Page 1: Constelações Familiares segundo Bert Hellinger O Trabalho com as Constelações Familiares

Apostila para o curso de Gerontologia da Universidade Estacio de Sá Belo Horizonte

Tema O sitema familiar e o envelhecimento

Stúdio de Analise Bioenergética, Psicologia Transpessoal, Cinesiologia Clinica e Sistêmica Familiar Rua Santa Rita Rita Durão 339 s/08 Funcionários

Telfax: 31­ 3227 4983 Belo Horizonte e­mail: [email protected]

Constelações Familiares, liberando os destinos trágicos, e refazendo a

imagem interior do seu lugar na família. Uma abordagem terapêutica desenvolvido por Bert Hellinger

Prática terapéutica conduzida por: Reginaldo Teixeira Coelho CBT psicólogo clínico

Apostila para o curso de gerontologia da Universidade estacio de Sá Belo

Horizonte Biografia resumida Bert Hellinger.

...nascido em 1925, estudou filosofia, teologia e pedagogia. Sua formação religiosa levou­o depois a ingressar em uma ordem religiosa católica. Mais tarde trabalhou como missionário na África do Sul. No início dos anos 70 deixou a ordem religiosa católica dedicando­se então à psicoterapia. Através da dinâmica de grupo, da terapia primal, da análise transacional e de diversos métodos hipnoterapêuticos chegou à sua própria terapia sistêmica e familiar. Autor de best­sellers na Alemanha, possui mais de 14 livros em sua bagagem. "A Simetria Oculta do Amor" foi o primeiro livro a ser publicado no Brasil. Entre as suas atividades atuais está o seu trabalho com os sobreviventes do holocausto e suas famílias. Bert Hellinger redescobriu durante o seu trabalho com centenas de sistemas familiares que o reconhecimento do amor que existe no seio das famílias comove as pessoas e muda suas vidas. Porque um amor rompido em gerações anteriores pode causar sofrimentos aos membros posteriores de uma família, o processo de cura exige que os primeiros sejam relembrados. Nos seus workshops os participantes observam, representam pessoas de outras constelações familiares ou exploram suas próprias dinâmicas familiares ajudando Hellinger a demonstrar como o amor, mesmo se injuriado ou mal­direcionado pode ser transformado em uma força que cura. Hellinger é inabalável em sua serena compaixão durante o seu trabalho com indivíduos,

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casais ou famílias que enfrentam situações difíceis. Terapeutas experientes apreciam a efetividade de seu método e seus resultados. Freqüentemente os participantes de seus workshops partem com uma profunda compreensão de si mesmos, o poder do amor e as forças que governam os relacionamentos humanos. Bert Hellinger vive hoje com sua esposa na Alemanha, no sudeste da Baviera, perto da fronteira austríaca. Algumas idéias básicas Sobre o desenvolvimento da abordagem de Bert Hellinger Bert Hellinger descreveu em julho de 1999 a sua abordagem e seu respectivo desenvolvimento em tópicos. 1. A idéia de Eric Berne de que existem scripts pessoais segundo os quais uma pessoa organiza inconscientemente a sua vida teve um papel muito importante para mim. Berne acreditava que isso vem das instruções recebidas dos pais na infância. Eu vi que isto tem a ver com emaranhamentos nos destinos de outros membros da família, freqüentemente em uma ou duas gerações anteriores. 2. Já durante o meu trabalho prático de muitos anos com a terapia primal pude observar que muitos sentimentos, também os violentos, nada tinham a ver com a vivência pessoal. Tornou­se bem evidente para mim que são sentimentos freqüentemente assumidos através de uma identificação com uma outra pessoa. 3. Além disso sempre vivenciei que a consciência que sentimos tem funções que conservam o sistema. Trata­se, em especial, do vínculo ao grupo, da regulamentação do intercâmbio através da necessidade de equiparação entre o dar e o receber, das vantagens e perdas e a imposição das normas do grupo. 4. Mais ainda. Existe uma consciência inconsciente que liga os membros de um sistema e impõe dentro dele as seguintes ordens ou leis:

a. Cada membro da família e estirpe tem o mesmo direito de pertinência, também os que faleceram precocemente ou os natimortos, assim como os deficientes e os maus. b. A perda de um membro através da exclusão ou esquecimento será compensada por um outro membro da família. Freqüentemente em uma geração posterior este representa ou imita inconscientemente aquele que foi excluído ou esquecido. c. Vantagens às custas de outrem serão compensadas muitas vezes somente em uma geração posterior. d. Os membros anteriores têm precedência sobre os posteriores . Por isso quando um membro posterior se eleva sobre um anterior ele paga muitas vezes através do fracasso ou queda.

5. Finalmente existem muitas indicações que os mortos atuam sobre os vivos , ou de um modo ruim se são excluídos ou temidos, ou de modo benévolo, se são chorados, honrados e depois deixados em paz.

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A Constelação Familiar como a entendo e pratico, traz então à luz, no sentido das idéias básicas aqui apresentadas, onde estamos emaranhados e quais são os passos que conduzem ao desenredamento e solução. Todos estes passos têm a ver com o respeito pelos outros. Os assassinos são uma exceção. Devemos deixá­los partir do sistema para que possam juntar­se às suas vítimas. Ali eles encontram a paz. Constelações Familiares ­ Visão geral Resumo da história do trabalho com as Constelações Familiares O trabalho com as Constelações Familiares "segundo Hellinger" em sua forma atual foi desenvolvida nos últimos 15 anos por Bert Hellinger. Baseia­se no pensamento sistêmico que teve seu início com Gregory Bateson nos últimos 30 anos e que já foi também colocado em prática e desenvolvido por outros terapeutas. Para o tratamento terapêutico de um cliente é, portanto, necessário que sua família, o sistema em que está conectado seja levado em consideração. Em psicodramas o psiquiatra americano de ascendência rumena Jakob Moreno descobriu através do teatro o significado das ligações sociais de seus clientes. Reconheceu que os problemas e distúrbios psíquicos de um ser humano têm relação com o seu ambiente. Da americana Virginia Satir, assistente social em Palo Alto provém a reconstrução familiar e e a escultura familiar (entretanto não é idêntica à Constelação Familiar segundo Hellinger). Todos os membros da família trabalham em conjunto a sua ligação à cadeia das gerações e como podem se libertar dos encargos assumidos da família. Impulsos importantes provém também do trabalho de Ivan Bosyomenyi­Nagy que derivam do pensamento de Martin Buber e acentua o equilíbrio necessário entre o dar e o receber nos relacionamentos humanos. Pararelamente a estas evoluções Bert Hellinger trabalha com cada um dos clientes e sua imagem interna da família como esta se apresenta nas percepções dos representantes que foram colocados nas constelações familiares. Ele designa a postura fundamental e o procedimento terapêutico que se desenvolve a partir daí como fenomenológico. A realidade profundamente comovente deste trabalho pode ser apreendida apenas através da própria participação em uma constelação familiar. Bert Hellinger descreve seu método de trabalho em uma Introdução ao Trabalho com as Constelações Familiares , que escreveu para esta homepage. Constelações Familiares segundo Bert Hellinger O Trabalho com as Constelações Familiares ­ Uma introdução de Bert Hellinger O caminho do conhecimento Dois movimentos nos levam ao conhecimento. O primeiro se estende e quer abarcar algo até então desconhecido para dele se apropriar e dele dispor. O esforço científico pertence a esse tipo e sabemos quanto ele transformou, assegurou e enriqueceu o nosso mundo e a nossa vida. O segundo movimento se origina quando nos detemos, durante nosso esforço

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em abarcar o desconhecido, e dirigimos o olhar, não mais para um determinado objeto palpável, mas para um todo. Assim, o olhar está disposto a receber, simultaneamente, a diversidade que se encontra à sua frente. Quando nos deixamos levar por esse movimento, por exemplo, diante de uma paisagem, uma tarefa ou um problema, notamos como nosso olhar fica, ao mesmo tempo, pleno e vazio. Pois só podemos nos expor à plenitude e suportá­la, quando prescindimos primeiramente dos detalhes. Assim, detemo­nos em nosso movimento exploratório e nos retraímos um pouco, até atingirmos aquele vazio que pode resistir à plenitude e à diversidade. Esse movimento, que primeiramente se detém e depois se retrai, chamo de fenomenológico. Ele nos conduz a conhecimentos distintos daqueles obtidos pelo movimento do conhecimento exploratório. Contudo, ambos se completam. Pois também no movimento do conhecimento científico exploratório precisamos, às vezes, deter­nos e dirigir nosso olhar, do estreito ao amplo, do próximo ao distante. Por sua vez, o conhecimento resultante do procedimento fenomenológico precisa ser verificado no indivíduo e no próximo. O processo No caminho do conhecimento fenomenológico, expomo­nos, dentro de um determinado horizonte, à diversidade dos fenômenos, sem escolher entre eles e nem avaliá­los. Esse caminho do conhecimento exige, portanto, um esvaziar­se, tanto em relação às idéias preexistentes quanto aos movimentos internos, sejam eles da esfera do sentimento, da vontade ou do julgamento. Nesse processo, a atenção é simultaneamente dirigida e não dirigida, centrada e vazia. A postura fenomenológica requer uma prontidão tensionada para a ação, sem passar, entretanto, à execução. Graças a essa tensão, tornamo­nos extremamente capazes e prontos para perceber. Quem a suporta percebe, depois de algum tempo, como a diversidade presente no horizonte se dispõe em torno de um centro e, de repente, reconhece uma conexão, uma ordem talvez, uma verdade ou o passo que leva adiante. Esse conhecimento provém igualmente de fora, é vivenciado como uma dádiva e é, via de regra, limitado. O Trabalho com as Constelações Familiares O que o procedimento fenomenológico possibilita e requer pode ser experimentado e descrito de modo especialmente marcante através do trabalho com as constelações familiares. Pois a colocação da constelação familiar é, por um lado, o resultado de um caminho do conhecimento fenomenológico e, por outro lado, o procedimento fenomenológico obtém resultado, quando se trata do essencial, apenas através da contenção e confiança na experiência e compreensão por ele possibilitadas. O cliente O que acontece quando um cliente coloca a sua família na psicoterapia? Em primeiro lugar, escolhe entre as pessoas de um grupo, representantes para os membros de sua família. Portanto, para o pai, para a mãe, para os irmãos e para si mesmo, não importando quem ele escolhe para representar os diversos membros de sua família. Na verdade, é melhor ainda se escolher os representantes independentemente de aparências externas e sem uma determinada intenção. Isto já é o primeiro passo em direção a uma contenção e uma renúncia à intenções e velhas imagens.

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Quem escolhe seguindo aspectos exteriores, por exemplo, idade ou características corporais não se encontra numa postura aberta para o essencial e invisível. Limita a força expressiva da colocação através de considerações externas. Com isso a colocação de sua constelação familiar já pode estar, para ele, talvez fadada ao fracasso. Por isso também não importa e algumas vezes é melhor que o terapeuta escolha os representantes e deixe o cliente montar com estes a sua família. Porém, o que deve ser considerado é o sexo das pessoas escolhidas, isto é, que homens sejam escolhidos para representar os homens e mulheres para as mulheres. Escolhidos os representantes o cliente coloca­os no espaço um em relação ao outro. No momento da colocação é de grande ajuda que ele os segure com ambas as mãos pelos ombros e assim em contato com eles os posicione em seu lugar. Durante a montagem permanece centrado, prestando atenção ao seu movimento interior, seguindo­o até sentir que o lugar para onde conduziu o representante seja o certo. Durante a colocação está em contato não somente consigo e com o representante, senão também com uma esfera, recebendo daí também sinais que o ajudarão a encontrar o lugar certo para essa pessoa. Prossegue assim com os outros representantes até que todos se encontrem em seus lugares. Durante este processo o cliente está , por assim dizer, esquecido de si mesmo. Desperta deste esquecimento de si mesmo quando todos estão posicionados. Algumas vezes é de ajuda quando, em seguida, dá uma volta e corrije o que ainda não está totalmente certo. Senta­se então. Podemos perceber imediatamente quando alguém não se encontra nesta postura de esquecimento de si mesmo e contenção. Por exemplo, quando prescreve para cada um dos representantes uma determinada postura corporal no sentido de uma escultura, ou quando monta a constelação muito depressa como se seguisse uma imagem preconcebida ou quando se esquece de colocar uma pessoa, ou quando declara que uma pessoa já está em seu lugar certo sem tê­la posicionado concentradamente. Uma constelação familiar que não foi montada deste modo concentrado termina num beco sem saída ou de forma confusa. O terapeuta O terapeuta precisa também se libertar de suas intenções e imagens a fim de que a colocação de uma constelação familiar tenha êxito. Na medida em que se contém e se expõe centrado à constelação familiar, reconhece imediatamente se o cliente quer influenciá­lo através de imagens preconcebidas ou esquivar­se daquilo que começa a se mostrar. Então ele ajuda­o a se centrar e o conduz a um estado de disposição para que se exponha ao que está acontecendo. Se isso não for possível, pára com a colocação. Os representantes Exige­se também dos representantes uma contenção interna de suas próprias idéias, intenções e medo. Isso significa que eles devem observar exatamente as mudanças que se manifestam em seu estado corporal e seus sentimentos enquanto são colocados. Por exemplo, que o coração bate mais depressa, que querem olhar para o chão, que se sentem repentinamente pesados ou leves, ou estão com raiva ou tristes. É também de grande ajuda quando prestam atenção às imagens que emergem e que ouçam os sons e palavras que afloram.

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Por exemplo, um americano que estava começando a aprender alemão, ouvia constantemente durante uma colocação familiar na qual ele representava um pai a sentença alemã: "Diga Albert". Mais tarde ele perguntou ao cliente se o nome Albert tinha algum significado para ele. "Mas é claro", foi a resposta", é o nome do meu pai, do meu avô e Albert é o meu segundo prenome." Uma outra pessoa que representava em uma constelação o filho de um pai que havia morrido em um acidente de helicóptero ouvia constantemente o ruído do rotor de um helicóptero. Certa vez este filho tinha sido o piloto de um helicóptero em que estava também o pai. O helicóptero caiu, mas os dois sobreviveram. Para que essa postura obtenha resultado são naturalmente necessárias uma grande sensibilidade e uma enorme prontidão para se distanciar de suas próprias idéias. E o terapeuta precisa ser muito cauteloso para que as fantasias dos representantes não sejam captadas como percepções. Tanto o terapeuta quanto os representantes podem escapar mais facilmente deste perigo quanto menos informações tiverem sobre a família. As perguntas A percepção fenomenológica obtém melhores resultados quando se pergunta só o essencial, diretamente antes da colocação familiar. As perguntas necessárias são:

1. Quem pertence à família? 2. Existem natimortos ou membros da família que morreram precocemente ? Houve na

família destinos especiais, por exemplo deficientes? 3. Algum dos pais ou avós tiveram anteriormente um relacionamento firme, portanto,

foi noivo(a), casado(a) ou teve de alguma forma um relacionamento longo e significante?

Uma anamnésia extensa dificulta, via de regra, a percepção fenomenológica tanto do terapeuta como também dos representantes. Por isso o terapeuta recusa também conversas prévias ou questionários que vão além das perguntas mencionadas. Pelo mesmo motivo os clientes não devem dizer nada durante a colocação nem os representantes devem fazer peguntas de qualquer tipo para os clientes. Centrar­se em si mesmo Alguns representantes são tentados a extrair da imagem externa da constelação o que sentem em vez de prestar atenção à sua percepção corporal e ao seu sentimento interno imediato. Por exemplo, o representante de um pai dissera que se sentia confrontado pelos filhos porque estes tinham sido colocados à sua frente. Entretanto, quando prestou atenção ao seu sentimento interior imediato, percebeu que estava se sentindo bem. Ele se desviara de sua percepção imediata por causa da imagem externa. Algumas vezes, quando um representante sente algo que lhe parece indecoroso, não o menciona. Por exemplo, que ele, como pai, sente uma atração erótica pela filha. Ou uma representante não se arrisca a dizer que ela, como mãe, se sente melhor quando um de seus filhos quer seguir um membro da família na morte. O terapeuta presta atenção, portanto, aos leves sinais corporais, por exemplo, um sorriso ou um retesamento, ou uma aproximação involuntária das pessoas. Quando comunica tais percepções os representantes podem verificar novamente a sua própria percepção. Alguns representantes fazem também afirmações amáveis porque pensam que com isso poderão

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ajudar ou consolar o cliente. Tais representantes não estão em contato com o que acontece e o terapeuta deve substitui­los por outros imediatamente. Os sinais Um terapeuta que não se mantém constantemente durante a situação inteira em sua percepção centrada, isto é, sem intenção e sem medo, é levado, muitas vezes através de afirmações de primeiro plano a um caminho errado ou a um beco sem saída. Com isso os outros representantes ficam também inseguros. Existe um sinal infalível se uma colocação familiar está no caminho certo ou não. Quando começa a se perceber no grupo observador inquietação e a atenção diminui, a colocação não tem mais chance. Nesse caso, quanto mais depressa o terapeuta interromper o trabalho tanto melhor. A interrupção permite a todos os participantes concentrar­se novamente e depois de algum tempo recomeçar o trabalho. Algumas vezes o grupo observador também apresenta sugestões que levam adiante. Entretanto isto deve ser apenas uma observação. Se tentarem somente adivinhar ou interpretar, isso aumenta a confusão. Então o terapeuta também deve parar a discussão e reconduzir o grupo à concentração e seriedade. A abertura Tratei minuciosamente destas formas de procedimento e dos obstáculos que podem surgir a fim de por limites às colocações feitas levianamente. Senão o trabalho com as constelações familiares pode cair facilmente em descrédito. Alguns procedem de outra forma nas constelações familiares. Se isso ocorrer a partir de uma atenção centrada pode obter bons resultados. Entretanto, se ocorrer somente por uma necessidade de delimitação ou para ganhar prestígio a abertura fenomenológica fica limitada devido às intenções. A melhor forma de adquirir prestígio é quando se tem novas percepções que podem ser comprovadas pelos resultados e nas quais se deixa também outros participarem. Se, entretanto, a delimitação segue idéias teóricas ou é influenciada por intenções e medos que se recusam em concordar com a realidade que se mostra, isto leva à perda da prontidão para apreender, com as respectivas consequências para o efeito terapêutico. Se a colocação da constelação familiar for feita só por curiosidade ela perde a sua seriedade e força. Restam, então, do fogo talvez apenas as cinzas e do vestido apenas a cauda. O início De volta agora ao trabalho com as constelações familiares. A questão que o terapeuta deve decidir, em primeiro lugar, é:

Coloco a família atual ou a de origem? Deu bons resultados começar com a família atual. Pois, dessa maneira, pode­se colocar mais tarde aquelas pessoas da família de origem que ainda agem fortemente na família atual. Obtém­se assim uma imagem em que as influências que sobrecarregam e curam através das várias gerações ficam visíveis e podem ser sentidas. Unicamente quando os destinos da família de origem são especialmente trágicos é que se começa com a família de origem. A próxima pergunta é:

Com quem começo a colocação? Começa­se com o núcleo familiar, portanto, pai, mãe e filhos. Se existe um natimorto ou uma criança que morreu precocemente, coloca­se esta criança mais tarde para poder ver qual o efeito que tem na família quando está à vista. A regra é começar com poucas

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pessoas, deixar­se conduzir por elas e desenvolver passo a passo a constelação. O procedimento Quando a primeira imagem é configurada dá­se ao cliente e aos representantes um pouco de tempo para que se exponham à ela, deixando­a atuar. Muitas vezes os representantes começam a reagir espontaneamente, por exemplo, começam a tremer ou chorar ou abaixam a cabeça, respiram com dificuldade ou olham com interesse ou apaixonadamente para alguém. Alguns terapeutas perguntam aos representantes muito depressa como eles estão se sentindo, impedindo ou interrompendo dessa maneira este processo. Quem faz perguntas aos representantes apressadamente, utiliza este procedimento facilmente como substituto para a sua própria percepção, tornando os representantes inseguros também. O terapeuta deixa, em primeiro lugar, a imagem atuar também sobre ele. Freqüentemente vê imediatamente qual a pessoa que está mais carregada ou em perigo. Se, por exemplo, ela foi colocada de costas ou de lado, o terapeuta vê que ela quer partir ou morrer. Apenas precisa, sem perguntar nada a ninguém, dirigi­la uns poucos passos à frente na direção em que está olhando e prestar atenção ao efeito que esta mudança provoca nela e nos outros representantes. Ou se todos os representantes olham para uma mesma direção o terapeuta sabe, imediatamente, que alguém deve estar na frente deles: uma pessoa que foi esquecida ou excluída. Por exemplo, uma criança que morreu precocemente ou um noivo anterior da mãe que morreu na guerra. Então ele pergunta ao cliente quem poderia ser e coloca a pessoa no quadro antes que qualquer um dos representantes tenha dito algo. Ou quando a mãe está cercada pelos filhos dando a impressão de que eles estão impedindo a sua partida, o terapeuta pergunta ao cliente imediatamente: O que aconteceu na família de origem da mãe que possa esclarecer esta atração por partir. Então ele procura, em primeiro lugar, um alívio e solução para a mãe antes de continuar a trabalhar com os outros representantes. O terapeuta desenvolve, portanto, os próximos passos a partir da colocação inicial e busca informações adicionais do cliente para o próximo passo, sem fazer ou perguntar nada além do que ele precise para este passo. Com isso a constelação mantém a concentração no essencial e a sua especial densidade e tensão. Cada passo desnecessário, cada pergunta desnecessária, cada pessoa adicional que não seja necessária para a solução diminui a tensão e desvia a atenção das pessoas e dos acontecimentos importantes. Constelações familiares densas Freqüentemente é suficiente colocar somente dois representantes, por exemplo, a mãe e o filho com aids. O terapeuta nem precisa então dar maiores instruções. Deixa os representantes seguir os movimentos que resultam do campo de forças entre eles, entretanto sem nada dizer. Assim ocorre um drama mudo, no qual vem à luz não somente os sentimentos das pessoas participantes mas também emerge um movimento que mostra quais os passos que são possíveis ou adequados para ambos. O espaço Aqui se apresenta o mais surpreendente efeito da postura fenomenológica e sua forma de procedimento. A contenção centrada do terapeuta e do grupo participante cria o espaço no qual relacionamentos e emaranhamentos vêm à tona. Eles se movimentam em direção à uma solução dando a impressão de que os representantes são movidos por uma força poderosa exterior.

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Esta força serve­se deles e deixa parecer muitas das usuais suposições psicológicas e filosóficas insuficientes e falhas. A participação Em primeiro lugar vê­se que existe obviamente um conhecimento através da participação. Os representantes comportam­se e se sentem como as pessoas que representam embora nem eles nem o terapeuta possuam informações prévias que vão além dos fatores e acontecimentos externos mencionados anteriormente. Muitas vezes o cliente fica estupefado que os representantes expressam as mesmas coisas que conhece das pessoas reais ou que mostram os mesmos sentimentos e sintomas que as pessoas reais têm. Por isso pode­se concluir que os membros reais da família também possuem este conhecimento através da participação de modo que nada de significativo permanece oculto à sua alma. Há pouco tempo uma conhecida de uma mulher relatou que o seu pai era judeu e que tinha ocultado este fato de seus filhos, batizando­se. Ela tomara conhecimento disto pouco antes de sua morte. Nesta oportunidade soube também que o pai tinha ainda duas irmãs que haviam morrido em um campo de concentração. Esta mulher tivera muitas profissões, uma atrás da outra. Primeiro tinha sido uma camponesa, depois foi restauradora de velhos móveis antes de escolher a sua atual profissão de terapeuta. Quando então pesquisou sobre as circunstâncias da vida de suas duas tias mortas veio à tona que uma delas administrara uma fazenda e a outra uma loja de antigüidades. Sem ter conhecimento disto tinha seguido as duas através de suas profissões, ligando­se desse modo a elas. O campo de forças O esclarecimento para isso permanece um mistério. Rupert Sheldrake provou através de observações e muitas experiências que cães demonstram através de seu comportamento que sentem imediatamente quando seu dono ou dona que estão ausentes se põem a caminho de casa e que percebem imediatamente quando este caminho é interrompido. Sentem também, algumas vezes, através dos continentes. Portanto, deve existir um campo de forças através do qual ambos estão diretamente ligados. Os mortos Nas constelações familiares torna­se ainda mais evidente através do comportamento dos representantes e com isso, naturalmente, através do comportamento e dos destinos dos membros reais da família que eles estão ligados às pessoas que já faleceram há muito tempo. Como poder­se­ia de outra forma ser esclarecido que numa família, durante os últimos 100 anos, três homens de várias gerações tenham se suicidado com 27 anos de idade no dia 31 de dezembro e pesquisas revelaram que o primeiro marido da bisavó tinha falecido com 27 anos no dia 31 de dezembro e tinha sido provavelmente envenenado pela bisavó e seu segundo marido? A alma Aqui atua mais do que um campo de forças. Aqui atua uma alma comum que liga não somente os vivos mas também os membros falecidos da família. Esta alma abarca somente certos membros familiares e nós podemos ver pelo alcance de sua atuação quais os membros da família que foram por ela abrangidos e tomados a seu serviço. Começando pelos descendentes são os seguintes:

1. os filhos, inclusive os natimortos e os falecidos, 2. os pais e seus irmãos, 3. os avós,

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4. algumas vezes ainda um ou outro avô ou avó e também ancestrais que estão ainda mais longe

5. todos ­ e isto é especialmente significativo ­ aqueles que deram lugar para a vantagem dos membros mencionados anteriormente, principalmente parceiros anteriores dos pais ou avós, e todos aqueles que através de sua infelicidade ou morte a família teve vantagem ou lucro.

6. as vítimas de violência ou morte causadas por membros anteriores dessa família. Sobre os dois últimos grupos mencionados gostaria de comunicar o que experiências recentes trouxeram à luz. Nas colocações das constelações familiares de descendentes de pessoas que acumularam uma grande riqueza, chamou­me a atenção que netos e bisnetos têm tido destinos terríveis que não podem ser entendidos somente pelos acontecimentos dentro da família. Somente depois que as vítimas cuja morte ou infelicidade havia sido o preço para esta riqueza foram colocadas na constelação veio à tona a extensão da atuação dos destinos destas pessoas na família. Exemplos para estes casos: trabalhadores que morreram na construção de ferrovias ou sondagens de petróleo, cuja contribuição para a riqueza e bem­estar dos industriais não tinha sido reconhecida e valorizada. Em muitas colocações de descendentes de assassinos, por exemplo, agressores nazistas do 3° Reich pôde­se ver que os netos e bisnetos queriam se deitar junto às vítimas e com isso corriam extremo risco de se suicidar. A solução para ambos os grupos era a mesma. As vítimas devem ser vistas e respeitadas por todos os membros da família. Todos devem reverenciá­las, inclinando­se diante delas, sentir tristeza e chorar por elas. Depois disso, os ganhadores e agressores originais devem se deitar ao lado das vítimas e os outros membros da família devem deixá­los aí. Só assim os descendentes ficam livres. Aqui fica evidente que os membros da família se comportam como se tivessem uma alma comum e como se fossem chamados a serviço por uma instância comum preordenada e como se esta instância servisse uma certa ordem e seguisse um certo objetivo. O amor Em primeiro lugar podemos ver que a alma liga os membros da família uns aos outros. Isso vai tão longe que a alma de uma criança anseia seguir na morte o pai que morreu cedo ou a mãe que morreu cedo. Pais ou avós também desejam às vezes seguir na morte um(a) filho(a) ou um(a) neto(a). Podemos observar esse anseio também entre parceiros. Se um deles morre o outro freqüentemente também não quer mais viver. O equilíbrio Em segundo lugar, podemos ver que existe em uma família uma necessidade de equilíbrio entre o ganho e a perda que abarca várias gerações. Isto é, os que ganharam às custas de outros pagam com uma perda compensando assim o que ganhou. Ou, se no caso dos ganhadores se tratarem de agressores, geralmente não são eles que pagam, senão os seus descendentes. Estes são escolhidos pela alma da família para compensar no lugar de seus antecedentes, freqüentemente sem que tenham consciência disso. A precedência dos antecedentes A alma da família, portanto, dá preferência aos antecedentes em relação aos descendentes, sendo este o terceiro movimento ou a ordem que a alma da família segue. Um descendente ou está disposto a morrer por um antepassado se achar que com isso pode evitar a morte

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dele ou está disposto a expiar a culpa pendente de um membro familiar anterior. Ou uma filha representa a mulher anterior de seu pai e se comporta em relação ao pai como se fosse a sua parceira e como rival em relação à mãe. Se a mulher anterior foi injustiçada, então a filha apresenta os sentimentos dessa mulher perante os pais. A totalidade Aqui podemos ver também o quarto movimento e a ordem que a alma da família segue. Ele vela para que a família esteja completa e restaura a sua totalidade com o auxílio de descendentes para representar os que foram esquecidos, rejeitados ou excluídos. Resumi aqui, de modo sucinto, os movimentos da alma da família, as leis e as ordens que ela segue. Eu os descrevo minuciosamente em meu livro " Die Mitte fühlt sich leicht an" ("No centro sentimos com leveza") nos capítulos "Culpa e Inocência em Sistemas", "Os Limites da Consciência" e "Corpo e Alma, Vida e Morte" assim como em meu livro "Ordnungen der Liebe" ("As Ordens do Amor") no capítulo "Do Céu que provoca Doenças e da Terra que cura". As soluções As questões são as seguintes:

Como o terapeuta encontra uma solução para o cliente? O que é aqui o procedimento fenomenológico?

Ele vai do próximo ao distante e do estreito ao amplo. Isto é, em vez de olhar somente para o cliente o terapeuta olha para a sua família e, em vez de olhar somente para o cliente e sua família ele olha para além deles, para um campo de forças e para a alma que os abarca. Pois é evidente que o indivíduo e sua família estão integrados em um campo de forças maior e em uma grande alma e são usados e tomados a seu serviço. Da mesma forma que o reconhecimento do problema e as soluções possíveis só surgem freqüentemente através da ligação com algo maior. Por isso se quero ajudar a alma do cliente eu a vejo governada pela alma da família. Mas se olhar aqui somente para o cliente e sua família, reconheço, talvez , as ordens e leis que levam a emaranhamentos. Entretanto, somente apreendo onde estão as soluções se encontro um acesso ao campo de forças e dimensões da alma que ultrapassam o indivíduo e a sua família. Não podemos influenciar estas dimensões da alma. Nós podemos somente nos abrir. Porque quando se tratar de algo decisivo, a compreensão das imagens, frases e passos que solucionam e curam nos será presenteada por esta alma. O terapeuta abre­se para a atuação desta grande alma através do recolhimento total de suas intenções e sua consideração pelo que ele talvez receie, inclusive o receio de fracassar. Então surge repentinamente uma imagem ou uma palavra ou uma frase que lhe possibilita dar o próximo passo. No entanto é sempre um passo no escuro. Apenas no final é que se releva se foi o passo certo que inverte a necessidade. Através da postura fenomenológica entramos, portanto, em contato com estas dimensões da alma. Isto é, mais através da não­ação centrada do que através da ação. Através de sua presença centrada o terapeuta ajuda também o cliente a adquirir esta postura, a compreensão e a força que daí advêm. Muitas vezes o cliente não agüenta esta compreensão e se fecha a ela novamente. O terapeuta também concorda com isso, através de seu recolhimento. Também aqui ele não se deixa envolver nem através de uma reivindicação interna nem externa no destino do cliente e de sua família.

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Pode parecer duro, mas o resultado da experiência mostra que cada compreensão que foi presenteada desta forma é incompleta e temporária, tanto para o terapeuta quanto para o cliente. Retorno, no final, ao começo" à diferença entre o caminho do conhecimento científico e do fenomenológico. Eu a sintetizei num poema já há alguns anos atrás. Ele se chama: Palestra de Bert Hellinger em São Paulo, em agosto de 1999 Para que o Amor dê Certo

Sumário

Ordem e amor (poema)

Tomar a vida

E algo que é próprio

O mesmo (poema)

Aceitar tudo o mais que nossos pais nos dão

O tamanho de criança

Receber e exigir

A equiparação

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O grupo familiar

O direito de pertencer

Os excluídos são representados

A solução

A imagem mágica do mundo e suas conseqüências

Homens e Mulheres

O vínculo

A ordem de precedência

Dois modos de ser feliz (uma história)

Sumário Muita gente julga que o amor tem o poder de superar tudo, que é preciso apenas amar bastante e tudo ficará bem. Contudo, a experiência mostra que isto não é verdade. Muitos pais são forçados a experimentar que, apesar do amor que dão a seus filhos, estes não se desenvolvem como eles esperavam. São forçados a ver seus filhos adoecerem, se drogarem ou suicidarem, apesar de todo o amor que lhes dão. Para que o amor dê certo, é preciso que exista alguma outra coisa ao lado dele. É necessário que haja o conhecimento e o reconhecimento de uma ordem oculta do amor. Ordem e amor

O amor preenche o que a ordem abarca. O amor é a água, a ordem é o jarro. A ordem ajunta, o amor flui. Ordem e amor atuam juntos. Como uma linda canção obedece às harmonias, assim o amor obedece à ordem. Assim como o ouvido dificilmente se acostuma às dissonâncias, mesmo quando são explicadas, assim também nossa alma dificilmente se acostuma ao amor sem ordem. Muita gente trata essa ordem como se ela fosse uma opinião que se pode ter ou mudar à vontade. Contudo, ela nos preexiste.

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Ela atua, mesmo que não a entendamos. Não é inventada, mas encontrada. É por seus efeitos que a descobrimos, Como descobrimos o sentido e a alma.

Muitas dessas ordens são ocultas. Não podemos sondá­las. Elas atuam nas profundezas da alma, e freqüentemente as encobrimos com pensamentos, objeções, desejos e medos. É preciso tocar no fundo da alma para vivenciar as ordens do amor. Tomar a vida Direi primeiro alguma coisa sobre as ordens do amor entre pais e filhos e, do ponto de vista da criança, isto é, do filho para com seus pais. Aqui menciono algumas verdades banais. Elas são tão óbvias que eu quase me envergonho de citá­las. Não obstante, são freqüentemente esquecidas. O primeiro ponto é que os pais, ao darem a vida, dão à criança, nesse mais profundo ato humano, tudo o que possuem. A isso eles nada podem acrescentar, disso nada podem tirar. Na consumação do amor, o pai e a mãe entregam a totalidade do que possuem. Pertence portanto à ordem do amor que o filho tome a vida tal como a recebe de seus pais. Dela, o filho nada pode excluir, nem desejar que não exista. A ela, também, nada pode acrescentar. O filho é os seus pais. Portanto, pertence à ordem do amor para um filho, em primeiro lugar, que ele diga sim a seus pais como eles são ­­ sem qualquer outro desejo e sem nenhum medo. Só assim cada um recebe a vida: através dos seus pais, da forma como eles são. Esse ato de tomar a vida é uma realização muito profunda. Ele consiste em assumir minha vida e meu destino, tal como me foi dado através de meus pais. Com os limites que me são impostos. Com as possibilidades que me são concedidas. Com o emaranhamento nos destinos e na culpa dessa família, no que houver nela de leve e de pesado, seja o que for. Essa aceitação da vida é um ato religioso. É um ato de despojamento, uma renúncia a qualquer exigência que ultrapasse o que me foi transmitido através de meus pais. Essa aceitação vai muito além dos pais. Por esta razão, não posso, nesse ato, considerar apenas os meus pais. Preciso olhar para além deles, para o espaço distante de onde se origina a vida e me curvar diante de seu mistério. No ato de tomar os meus pais, digo sim a esse mistério e me ajusto a ele. O efeito desse ato pode ser comprovado na própria alma. Imaginem­se curvando­se profundamente diante de seus pais e dizendo­lhes:"Eu tomo esta vida pelo preço que custou a vocês e que custa a mim. Eu tomo esta vida com tudo o que lhe pertence, com seus limites e oportunidades". Nesse exato momento, o coração se expande. Quem consegue realizar esse ato, fica bem consigo, sente­se inteiro. Como contraprova, pode­se igualmente imaginar o efeito da atitude oposta, quando uma pessoa diz: "Eu gostaria de ter outros pais. Não os suporto como eles são." Que atrevimento! Quem fala assim, sente­se vazio e pobre, não pode estar em paz consigo mesmo. Algumas pessoas acreditam que, se aceitarem plenamente seus pais, algo de mau poderá infiltrar­se nelas. Assim, não se expõem à totalidade da vida. Com isto, contudo, perdem também o que é bom. Quem assume seus pais, como eles são, assume a plenitude da vida, como ela é. E algo que é próprio

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Mas aqui existe ainda um mistério que não posso justificar. Com efeito, cada um experimenta que também tem em si algo de único, algo que é inteiramente próprio, irrepetível, e não pode ser derivado de seus pais. Isso também ele precisa assumir. Pode ser algo de leve ou de pesado, algo de bom ou de mau. Isto não podemos julgar. A pessoa que encara o mundo e sua própria vida com olhos desimpedidos pode ver que tudo o que ela faz obedece a uma ordem. Tudo o que ela faz ou deixa de fazer, tudo o que ela apoia ou combate, ela o realiza porque foi encarregada de um serviço que ela própria não entende. Aquele que se entrega a tal serviço, experimenta­o como uma tarefa ou como um chamado, que não se baseia nos próprios méritos nem na própria culpa (quando for algo de pesado ou cruel). Ele foi simplesmente tomado a serviço.

Quando contemplamos o mundo desta maneira, cessam as diferenças habituais.

Falei até aqui sobre a ordem fundamental da vida. Foi­nos concedido termos pais e sermos filhos. E temos também algo de próprio. Aceitar tudo o mais que nossos pais nos dão Na verdade, os pais não dão aos filhos apenas a vida. Eles nos dão também outras coisas: alimentam­nos, educam­nos, cuidam de nós e assim por diante. Convém à criança que ela tome tudo isso, da forma como o recebe. Quando a criança o aceita de bom grado, costuma bastar. Existem exceções, que todos conhecemos, mas via de regra é suficiente. Pode não ser sempre o que desejamos, mas é o bastante. Nesse particular, pertence à ordem que o filho diga a seus pais: "Eu recebi muito. Sei que é muito, é o bastante. Eu o tomo com amor". Então ele se sente pleno e rico, seja qual for a situação. Então ele acrescenta: "o resto, eu mesmo faço". Isto também é um belo pensamento. Finalmente, o filho ainda pode dizer aos pais: "E agora eu os deixo em paz". O efeito destas frases vai muito fundo: agora o filho tem seus pais e os pais têm o filho. Pais e filho estão simultaneamente separados e felizes. Os pais concluíram sua obra e a criança está livre para viver sua vida, com respeito pelos seus pais mas sem dependência. Imaginem agora a situação contrária, quando o filho diz aos pais: "O que vocês me deram foi errado e foi muito pouco. Vocês ainda estão me devendo muito". O que esse filho tem de seus pais? Nada. E o que têm dele os pais? Igualmente nada. Esse filho não consegue soltar­se de seus pais. Sua censura e sua reivindicação o vinculam a eles, mas de uma forma tal que ele não os tem. Ele se sente vazio, pequeno e fraco. Esta seria a segunda lei do amor entre filhos e pais. O tamanho de criança Existe algo que os pais adquirem por mérito pessoal. Se a mãe, por exemplo, tem um dom especial ­ suponhamos que ela seja pintora e pinte quadros maravilhosos ­ então isso pertence a ela e não ao filho. Este não pode reivindicar ser também um bom pintor, a não ser que o tenha merecido por dotação própria e dedicação pessoal. A mesma coisa vale para a riqueza dos pais. O filho não tem o direito de reivindicá­la, como é o caso da herança. O que ele vier a receber será puro presente. Isto vale ainda para a culpa pessoal dos pais. Também esta pertence exclusivamente a eles. Com freqüência, uma criança presume, por amor, tomar sobre si essa culpa, carregá­la em nome dos pais. Também isto vai contra a ordem. A criança se arroga um direito que não lhe compete. Quando os filhos querem expiar pelos pais, estão se julgando superiores a eles. Os

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pais passam a ser tratados como crianças, cuidadas por seus próprios filhos, que assumem o papel de pais. Uma senhora, que recentemente participou de um grupo meu, tinha um pai cego e uma mãe surda. Os dois se completavam bem, mas a filha achava que devia cuidar deles. Quando montei a constelação de sua família, ela se comportou como se fosse ela a pessoa grande. Porém sua mãe lhe disse: "Esse assunto com seu pai eu resolvo sozinha". E o pai lhe disse: "Esse assunto com sua mãe eu resolvo sozinho. Não precisamos de você para isso". Aquela senhora ficou muito desapontada, porque foi reduzida ao seu tamanho de criança. Na noite seguinte, ela não conseguiu dormir. Aliás, ela sentia uma grande dificuldade para adormecer. Perguntou­me se eu podia ajudá­la. Respondi: "Quem não consegue dormir talvez esteja pensando que precisa vigiar". Contei­lhe então a história de Borchert sobre o menino de Berlim que, no fim da guerra, tomava conta de seu irmão morto, para que os ratos não o comessem. O menino estava esgotado, porque achava que devia ficar vigiando. Nisto, passou por ali um senhor simpático que lhe disse: "Mas os ratos dormem à noite". E a criança adormeceu. Na noite seguinte, aquela senhora dormiu melhor. Portanto, a ordem do amor entre filhos e pais estabelece, em terceiro lugar, que respeitemos o que pertence pessoalmente a nossos pais e o que eles podem e devem fazer sozinhos. Receber e exigir A ordem do amor entre pais e filhos envolve ainda um quarto elemento. Os pais são grandes, os filhos pequenos. Assim, o certo é que os pais dêem e os filhos recebam. Pelo fato de receber tanto, o filho sente a necessidade de pagar. Dificilmente suportamos quando recebemos algo sem dar algo em troca. Mas, em relação a nossos pais, nunca podemos compensar. Eles sempre nos dão muito mais do que podemos retribuir. Alguns filhos querem escapar da pressão de retribuir e dos sentimentos de obrigação ou de culpa. Eles dizem então: "Prefiro nada receber, assim não sinto obrigação nem culpa". Esses filhos se fecham para seus pais e, nessa mesma medida, sentem­se pobres e vazios. Pertence à ordem do amor que os filhos digam: "Eu recebo tudo com amor". Assim, eles irradiam contentamento para os pais, e estes percebem a felicidade deles. Esta é uma forma de receber que é simultaneamente uma compensação, porque os pais se sentem respeitados por esse receber com amor. Eles dão, então, com um prazer ainda maior. Quando, porém, os filhos dizem: "Vocês têm que me dar mais", o coração dos pais se fecha. Por causa da exigência do filho, eles não podem mais cumulá­lo de amor. Este é o efeito de tais reivindicações. Esse filho, por sua vez, mesmo quando recebe alguma coisa, não consegue tomar o que exigiu. A equiparação A verdadeira equiparação entre o dar e o tomar na família consiste em passar adiante o dom. Quando a criança diz: "Eu tomo tudo, e quando eu crescer, eu darei por minha vez", os pais ficam felizes. A criança, no seu dar, não olha para trás, mas para a frente. Os pais fizeram o mesmo. Eles receberam de seus pais e deram a seus filhos. Justamente pelo fato de terem recebido tanto, sentem­se pressionados a dar, e podem igualmente fazê­lo. Até aqui, falei das ordens do amor entre filhos e pais. O grupo familiar Entretanto, nossa vinculação não se limita aos pais. Pertencemos também a um grupo familiar, a uma estirpe, um sistema maior. O grupo familiar se comporta como se fosse

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dirigido por uma instância comum e superior. Ele é comparável a um bando de pássaros em formação. De repente, todos mudam a direção do vôo, como se tivessem sido movidos por uma força superior comum. No grupo familiar, essa instância superior atua quase como um comando (Gewissen) interior partilhado por todos, e que atua de modo amplamente inconsciente. Reconhecemos as ordens a que obedece pelos bons efeitos de sua observância e pelos maus efeitos de sua violação. Quero citar, para começar, o círculo de pessoas que são abarcadas e dirigidas por esse comando interior (Gewissen), cuja amplitude podemos reconhecer por seus efeitos. Estão nele incluídos:

Todos os filhos, inclusive os que morreram ou foram abortados; Os pais e todos os seus irmãos; Os avós; Eventualmente, algum bisavô ou até mesmo um antepassado ainda mais distante,

principalmente se teve um destino mau. Incluem­se ainda pessoas sem relação de parentesco, a saber, aquelas de cuja morte

ou infelicidade pessoas da família se beneficiaram, como são, por exemplo, antigos parceiros dos pais e dos avós.

O direito de pertencer No interior de cada grupo familiar, vale a ordem básica, a lei fundamental: todas as pessoas do grupo familiar possuem o mesmo direito de pertencer. Em muitas famílias e grupo familiares, determinados membros são excluídos. Alguns dizem, por exemplo: "Esse tio não vale nada, ele não pertence a nós", ou então: "Dessa criança ilegítima nada queremos saber". Com isso, recusam a essas pessoas o direito de pertencer. Existem também os que dizem: "Sou católico, você é evangélico. Como católico, tenho mais direito de pertencer que você". Ou inversamente: "Como protestante, tenho mais direito, porque minha fé é mais verdadeira. Você é menos crente do que eu, portanto tem menos direito de pertencer". Isto não é hoje tão freqüente como antigamente, mas ainda acontece. Ocorre ainda, quando um filho morre prematuramente, que seus pais dão seu nome ao filho seguinte. Com isto, estão dizendo ao primeiro: "Você não pertence à família. Temos um substituto para você". Assim o filho morto não conserva nem mesmo o seu próprio nome. Com freqüência, não é mais contado nem mencionado. Assim lhe é negado e retirado o direito de pertencer. O excesso de moral de alguns, que se sentem melhores e superiores a outros, na prática significa dizer­lhes: "Tenho mais direito de pertencer que você". Ou, quando alguém condena uma pessoa ou a considera má, praticamente está lhe dizendo: "Você tem menos direito de pertencer do que eu". "Bom" significa então: "Tenho mais direitos", e "mau" significa: "Você tem menos direitos". Os excluídos são representados Essa lei fundamental, que assegura a todos o mesmo direito de pertencer, não tolera nenhuma violação. Quando isso acontece, existe no sistema uma necessidade inconsciente de compensação, que faz com que os excluídos ou desprezados sejam mais tarde representados por algum outro membro da família, sem que essa pessoa tenha consciência

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do fato. Quando, por exemplo, um homem casado se relaciona com outra mulher e diz à própria esposa: "Não quero mais saber de você", inventando falsas razões e cometendo injustiça contra ela, e depois se casa com a segunda mulher e tem filhos com ela, sua primeira mulher será representada por um desses filhos. Uma menina, por exemplo, combaterá o pai com o mesmo ódio da parceira rejeitada, sem que tenha a menor consciência dessa representação. Aqui atua uma força secreta de compensação, para que a injustiça feita à primeira pessoa seja vingada por uma segunda. Muitos acontecimentos infelizes na família como, por exemplo, desvios de comportamento dos filhos, doenças, acidentes e suicídios acontecem pelo fato de que um filho inconscientemente representa um excluído e quer dar­lhe reconhecimento. Nisso se revela ainda uma outra propriedade da instância superior. Ela faz reinar justiça para com aqueles que vieram antes e injustiça para os que vêm depois. A solução A solução de um tal emaranhamento torna­se possível quando a ordem básica é restabelecida, isto é, quando os excluídos voltam a ser acolhidos e respeitados. Neste caso, por exemplo, a segunda mulher deveria dizer à primeira: "Eu tenho este homem às suas custas. Eu honro isto e reconheço que foi feita injustiça a você. Por favor, queira bem a mim e a meus filhos". Desta forma, a primeira mulher é respeitada. Nas constelações familiares, pode­se perceber então como se relaxa o rosto da primeira mulher, como ela se torna amigável pelo fato de ser respeitada. Com isso, é reconhecido o seu direito de pertencer. A solução exige também que a menina, que imita essa mulher, lhe diga interiormente: "Eu pertenço apenas à minha mãe e ao meu pai. Aquilo que se passou entre vocês adultos não tem nada a ver comigo". Ela diz a seu pai: "Você é meu pai, e eu sou sua filha. Por favor, olhe­me como sua filha". Então o pai não precisa mais ver nela sua ex­mulher, não precisa mais defrontar­se com o ódio ou a tristeza que ela possa ter. Ou, se ele ainda a ama, não precisa ver a criança como sua amante, mas apenas como sua filha. Então a criança pode ser a filha, e o pai pode ser o pai. A criança precisa também dizer ao pai: "Esta aqui é a minha mãe. Com sua primeira mulher não tenho nada a ver. Eu tomo esta como minha mãe. Esta é para mim a certa". E então ela precisa dizer à mãe: "Com a outra mulher eu nada tenho a ver". De outra forma, essa criança se tornará uma rival da mãe, e não poderá ser filha. Talvez a mãe veja nela inconscientemente a outra mulher, e então mãe e filha entram em conflito como se fossem duas amantes rivais. Mas quando a criança diz: "Você é minha mãe e eu sou sua filha, com a outra não tenho nada a ver. Eu tomo você como minha mãe", então a ordem é restabelecida. Existem contudo emaranhamentos bem mais complicados. Quando, por exemplo, numa família, um filho morre prematuramente, os filhos sobreviventes carregam muitas vezes um sentimento de culpa pelo fato de estarem vivos, enquanto seu irmão está morto. Acreditam que, por estarem vivos, possuem uma vantagem sobre o irmão falecido. Então eles querem compensar isto, por exemplo, deixando­se ficar mal, adoecendo ou mesmo desejando morrer, sem que saibam por quê. Aqui pertence à ordem do amor que eles digam interiormente ao irmão morto: "Você é meu irmão (minha irmã). Eu respeito você como meu irmão (minha irmã). Você tem um lugar

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em meu coração. Eu me curvo diante do seu destino, da forma como lhe aconteceu, e digo sim ao meu destino, da forma como me foi determinado". Então a criança morta é respeitada, e a outra pode permanecer viva sem sentimento de culpa. A imagem mágica do mundo e suas conseqüências Por trás da necessidade de compensação, que faz adoecer, atua uma fantasia mágica, a saber, que eu posso salvar uma outra pessoa de seu pesado destino, desde que eu tome também algo de pesado sobre mim. É o caso da criança que diz à mãe gravemente doente: "Antes eu adoeça do que você. Antes morra eu do que você". Ou ainda, quando a mãe quer abandonar a vida, um filho se suicida, para que a mãe possa ficar viva. Um exemplo disto é a magreza compulsiva. O anoréxico vai se tornando cada vez menor, desaparece, por assim dizer, até a morte. Em sua alma, essa criança diz a seu pai ou a sua mãe: "Antes desapareça eu do que você". Aqui atua um amor profundo. Mas quando a criança morre, qual é o efeito desse amor? Ele é totalmente inútil. Quando trabalho com uma pessoa com essa compulsão, faço que olhe nos olhos de seu pai ou de sua mãe e diga: "Antes desapareça eu do que você". Quando ela os encara nos olhos a ponto de realmente os ver, ela não consegue mais dizer essa frase, porque percebe que o pai ou a mãe não aceitará isto dela. É que o amor mágico desconhece o fato de que também a outra pessoa ama e que ela recusaria isto, independentemente da inutilidade de tal amor. Quando a mãe morre no nascimento de uma criança, é muito difícil para essa criança tomar a sua vida. Ela precisaria encarar a mãe nos olhos e dizer: "Mamãe, mesmo por este alto custo eu tomo esta vida e faço algo de bom com ela, em sua memória. Você precisa saber que não foi em vão". Isto é amor, num nível mais elevado. Ele exige o abandono da fantasia mágica de poder interferir no destino de outra pessoa e mudá­lo. Ele exige a passagem de um amor que faz adoecer para um amor que cura. A fantasia do amor mágico está associada a uma presunção, a um sentimento de poder e superioridade. A criança realmente acha que, através de sua doença e de sua morte, pode salvar da morte outra pessoa. Renunciar a essa idéia só é possível pela humildade. Até aqui falei da ordem do amor na relação entre filhos e pais. Homens e Mulheres Quero também dizer mais alguma coisa sobre a ordem do amor na relação do casal. Este tema nos fala mais de perto. Muitos se envergonham disso, como se fosse algo que a gente deveria ocultar. Aquilo que diferencia os homens das mulheres, que realmente os diferencia, é escondido. Ou, pode­se dizer também, é protegido. Pois é o lugar onde cada um é mais vulnerável. É o lugar próprio da vergonha. Vergonha significa, neste contexto, que eu guardo alguma coisa, para que nada de mau aconteça. E é o lugar onde nos sentimos mais entregues. Alguns falam depreciativamente do instinto sexual e esquecem que ele é a força real e mais profunda, que tudo mantém unido e dirige, que toma cada pessoa a seu serviço, sem que ela possa se defender. Pela pura razão, ninguém se casaria ou teria filhos. Só esse instinto consegue isso. É através dele que estamos em sintonia mais profunda com a alma do mundo. Esse instinto é o que existe de mais espiritual. Todo entendimento e toda consideração racional empalidecem diante da força que atua por detrás desse instinto. A ordem do amor entre homem e mulher exige portanto, em primeiro lugar, que o homem admita que lhe falta a mulher, e que ele, por si só, jamais poderá alcançar o que uma mulher tem. E exige igualmente que a mulher admita que lhe falta o homem, e que ela, por si só,

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jamais poderá alcançar o que o homem tem. Então ambos se experimentam como incompletos e admitem isto. Quando o homem admite que precisa da mulher e que só através dela se torna um homem, e quando a mulher admite que precisa do homem e só através dele se torna uma mulher, então essa carência os liga um ao outro, justamente pelo fato de a admitirem. Então o homem recebe o feminino como presente da mulher, e a mulher recebe o masculino como presente do homem. Imaginem agora um homem que desenvolve em si o feminino e uma mulher que desenvolve em si o masculino, como muitos consideram ideal. Se esse homem quiser se ligar a essa mulher, qual será a profundidade dessa relação? No fundo, eles não precisam um do outro. Inversamente, quando o homem renuncia ao feminino e a mulher ao masculino, então eles precisam um do outro e isto os mantém juntos. O vínculo Quando o homem e a mulher se aceitam mutuamente como tais, a consumação de seu amor cria um vínculo. Esse vinculo é indissolúvel. Isto nada tem a ver com a doutrina moral da Igreja sobre a indissolubilidade do matrimônio. A realização do amor cria uma ligação, independentemente do casamento e de qualquer rito externo. A existência de uma tal ligação é percebida pelos seus efeitos. Por exemplo, o homem que se separa levianamente de uma parceira a quem estava vinculado dessa forma pela consumação do amor, via de regra não conseguirá conservar uma segunda parceira num outro relacionamento. Pois esta percebe o seu vínculo com a parceira anterior, e não ousa tomá­lo plenamente. Quando um homem abandona uma mulher e se casa de novo, talvez sua segunda mulher se considere melhor que a primeira e diga: "Agora eu o tenho para mim". Ela entretanto o perderá. Nesse próprio triunfo o perde, pois reconhece o vínculo desse homem com a sua primeira mulher. Então ela não o assumirá completamente. Nas constelações familiares, pode­se perceber que uma segunda mulher se distancia um pouco do homem. Ela não ousa colocar­se perto dele, pelo fato de não ser sua primeira ligação, mas a segunda. A profundidade de um tal vínculo pode ser avaliada pelo seu efeito. A separação do primeiro amor é a mais difícil de se conseguir. É a mais dolorosa. Quando uma segunda ligação se desfaz, a dor é menor. Numa terceira, é ainda menor. Essa ligação não é porém sinônimo de amor. O amor pode ser pequeno e o vínculo profundo. Inversamente, o amor pode ser profundo e a ligação pequena. O vínculo se origina do ato sexual. Por isto, ele também nasce de um incesto ou de um estupro. Para que mais tarde uma nova ligação seja possível, é preciso que a primeira seja corretamente resolvida. Ela é resolvida quando é reconhecida e quando é honrado o respectivo parceiro. Quem amaldiçoa o primeiro vínculo impede uma ligação ulterior. A ordem de precedência O fruto do amor entre o homem e a mulher são os filhos. Também aqui é importante observar uma ordem do amor, uma ordem de precedência no amor. Ela se orienta pelo começo. Isto significa que o que vem antes tem, via de regra, precedência sobre o que vem depois. Numa família, existe primeiro o casal homem­mulher. Seu amor funda a família. Por isso, seu amor como homem e mulher tem precedência sobre tudo o que vem depois, portanto, sobre seu amor de pais por seus filhos. Muitas vezes acontece nas famílias que os filhos atraem sobre si toda a atenção. Então os pais não são antes de tudo um casal, mas

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pais. Com isto os filhos não se sentem bem. Quando a relação do casal tem prioridade, o pai diz a seu filho: "Em você, eu respeito e amo também a sua mãe". E a mãe diz ao filho: "Em você, eu respeito e amo também o seu pai". E a mulher diz ao homem: "Em nossos filhos, eu respeito e amo a você". E o homem diz à mulher: "Em nossos filhos, eu respeito e amo a você". Então o amor dos pais é a continuação do amor do casal. Este tem a prioridade. Os filhos então se sentem muito bem. Várias famílias são segundas e terceiras famílias, quando o homem e a mulher já eram casados anteriormente e trouxeram filhos do matrimônio anterior. Como é então a ordem de precedência? Eles são primeiramente pai e mãe de seus próprios filhos, e só depois disso constituem um casal. Por conseguinte, seu amor como casal não pode continuar nos filhos, pois já foram pais anteriormente. Então, o novo parceiro deve reconhecer que o outro é, em primeiro lugar, pai ou mãe dos próprios filhos, e que seu maior amor e sua maior força fluem para eles e, neles, naturalmente, também para o parceiro anterior. Só então seu amor e sua força fluem para o novo parceiro. Quando ambos os parceiros reconhecem isto, seu amor pode ser bem sucedido. Quando, porém, um parceiro diz ao outro: "Eu tenho prioridade em seu amor, e só então vêm seus filhos", a relação fica em perigo. Essa situação não se mantém por longo tempo. Se eles mais tarde têm filhos em comum, então são, em primeiro lugar, pai e mãe dos filhos do primeiro casamento; em segundo lugar, são um casal e, em terceiro lugar, são pais de seus filhos comuns. Esta seria a ordem, neste caso. Quando se sabe disto, pode­se resolver ou evitar conflitos em muitas famílias. Falei até aqui sobre algumas ordens do amor na relação entre o homem e a mulher. Para terminar, contarei a vocês uma história sobre o amor. Ela é assim: Dois modos de ser feliz Antigamente, quando os deuses ainda pareciam bem próximos dos homens, viviam numa pequena cidade dois cantores que se chamavam Orfeu. Um deles era o grande. Tinha inventado a cítara, um tipo primitivo de guitarra. Quando tocava o instrumento e cantava, toda a natureza ficava enfeitiçada em torno dele. Animais ferozes se deitavam mansamente a seus pés, árvores altas se inclinavam para ele: nada podia resistir a seus cantos. Pelo fato de ser tão grande, ele conquistou a mais bela mulher. E aí começou a descida. Enquanto ele ainda festejava o casamento, morreu a bela Eurídice, e a taça cheia, que ele erguia nas mãos, se partiu. Contudo, para o grande Orfeu, a morte ainda não foi o fim. Com a ajuda de sua arte requintada, encontrou a entrada para o mundo subterrâneo, desceu ao reino das sombras, atravessou o rio do esquecimento, passou pelo cão dos infernos, chegou vivo diante do trono do deus da morte e o comoveu com seu canto. A morte liberou Eurídice ­­ porém sob uma condição, e Orfeu estava tão feliz que não percebeu o que se escondia por trás desse favor. Orfeu pôs­se a caminho de volta, ouvindo atrás de si os passos da mulher amada. Passaram ilesos pelo cão de guarda do inferno, atravessaram o rio do esquecimento, começaram o caminho para a luz, que já viam de longe. Então Orfeu ouviu um grito ­ Eurídice tinha tropeçado ­ horrorizado, ele se voltou, viu ainda a sombra dela caindo na noite e ficou sozinho. Esmagado pela dor, ele cantou sua canção de despedida: "Ai de mim, eu a perdi, toda a minha felicidade se foi!" Ele próprio voltou à luz. Entretanto, no reino dos mortos, passara a estranhar a vida.

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Page 22: Constelações Familiares segundo Bert Hellinger O Trabalho com as Constelações Familiares

Quando mulheres ébrias quiseram levá­lo à festa do novo vinho, ele se recusou, e elas o despedaçaram vivo. Tão grande foi sua desgraça, tão inútil foi sua arte. Entretanto, todo o mundo o conhece. O outro Orfeu era o pequeno. Era apenas um cantor de rua, aparecia em pequenas festas, tocava para gente humilde, alegrava um pouco e curtia isso. Como não conseguia viver de sua arte, aprendeu um ofício comum, casou­se com uma mulher comum, teve filhos comuns, pecou eventualmente, foi feliz de modo comum, morreu velho e satisfeito da vida. Entretanto, ninguém o conhece ­ exceto eu! ­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­­ Original: Wie Liebe gelingt, Palestra proferida por Bert Hellinger, em S.Paulo, Agosto de 1999 em original manuscrito. Tradução: Anand Udbuddha (Newton Queiroz) , Rio de Janeiro Revisão: Mimansa Erika Farny, Caldas Novas Novembro de 2000

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