CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS DA TERRA EXCERTOS DAS ESCRITURAS BAHÁ'ÍS SOBRE A NATUREZA Preparado pelo Departamento de Pesquisa da Casa Universal de Justiça Título Original: Conservation of the Earth's Resources Research Department of the Universal House of Justice Tradução: Robert Walker 1. PRINCÍPIOS BÁSICOS A abordagem feita pela Comunidade Bahá'í, a nível mundial, relativa à conservação e proteção dos recursos da terra é baseada em vários princípios fundamentais derivados dos ensinamentos bahá'ís. Estes incluem: 1.1 A NATUREZA COMO REFLEXO DO DIVINO Confere-se grande importância à Natureza. Bahá'u'lláh declara que a contemplação da natureza cria uma consciência de "sinais"1 e "evidências"2 de Deus e constitui a prova de Sua existência. Desta forma: "... em tudo que contemplo eu imediatamente descubro que este Te torna conhecido a mim e me relembra Teus sinais e Tuas evidências e Teus testemunhos. Pela Tua Glória! Toda vez que levanto os meus olhos ao Teu céu, lembro-me da Tua alteza e Tua sublimidade e Tua incomparável glória e grandeza, e toda vez que fixo o meu olhar na Tua terra sou obrigado a reconhecer as evidências de Teu poder e os sinais de Tua generosidade. E quando contemplo o mar, descubro que me fala de Tua majestade, e da potência do Teu poder, e da Tua soberania e da Tua grandeza. E a qualquer momento que contemplo as montanhas, sou levado a descobrir as insígnias de Tua vitória e os estandartes de Tua onipotência."3 A Natureza reflete os "nomes e atributos de Deus".4 É a expressão "da vontade de Deus...no...mundo contingente".5 Bahá'u'lláh escreve: "Dize: a Natureza em sua essência é a incorporação de Meu Nome, o Originador, o Criador. Diversas são suas manifestações, por causas que variam e, nessa diversidade, há sinais
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CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS DA TERRAEXCERTOS DAS ESCRITURAS BAHÁ'ÍS SOBRE A NATUREZA
Preparado pelo Departamento de Pesquisa da Casa Universal de Justiça
Título Original: Conservation of the Earth's Resources
Research Department of the Universal House of Justice
Tradução: Robert Walker
1. PRINCÍPIOS BÁSICOS
A abordagem feita pela Comunidade Bahá'í, a nível mundial, relativa à conservação e
proteção dos recursos da terra é baseada em vários princípios fundamentais derivados dos
ensinamentos bahá'ís. Estes incluem:
1.1 A NATUREZA COMO REFLEXO DO DIVINO
Confere-se grande importância à Natureza. Bahá'u'lláh declara que a contemplação da
natureza cria uma consciência de "sinais"1 e "evidências"2 de Deus e constitui a prova de
Sua existência. Desta forma:
"... em tudo que contemplo eu imediatamente descubro que este Te torna conhecido a mim e
me relembra Teus sinais e Tuas evidências e Teus testemunhos. Pela Tua Glória! Toda vez
que levanto os meus olhos ao Teu céu, lembro-me da Tua alteza e Tua sublimidade e Tua
incomparável glória e grandeza, e toda vez que fixo o meu olhar na Tua terra sou obrigado a
reconhecer as evidências de Teu poder e os sinais de Tua generosidade. E quando
contemplo o mar, descubro que me fala de Tua majestade, e da potência do Teu poder, e da
Tua soberania e da Tua grandeza. E a qualquer momento que contemplo as montanhas, sou
levado a descobrir as insígnias de Tua vitória e os estandartes de Tua onipotência."3
A Natureza reflete os "nomes e atributos de Deus".4 É a expressão "da vontade de
Deus...no...mundo contingente".5
Bahá'u'lláh escreve:
"Dize: a Natureza em sua essência é a incorporação de Meu Nome, o Originador, o Criador.
Diversas são suas manifestações, por causas que variam e, nessa diversidade, há sinais
para homens de discernimento. A Natureza é a Vontade de Deus e é Sua expressão no
mundo contingente e através deste. É uma dispensação da Providência determinada por
Aquele que ordena, a Suam Sabedoria."6
1.2 A TERRA, UM SÓ PAÍS
Bahá'u'lláh expõe uma visão mundial que reconhece que "a Terra é um só país e a
humanidade seus cidadãos",7 e Ele recomenda a promoção dos "melhores interesses dos
povos e raças da terra."8
'Abdu'l-Bahá chama a atenção para a crescente interdependência do mundo e ao fato que a
"auto-suficiência"9 não é mais possível. Ele prediz que a tendência em direção a um mundo
unido crescerá e se manifestará em forma de "unidade de pensamento em atividades
mundiais"10 e em outros aspectos importantes da existência. Uma área crítica para uma
ação unificada é a preservação dos recursos do planeta.
1.3 A POSIÇÃO E RESPONSABILIDADE DO HOMEM
'Abdu'l-Bahá diz que o homem, "devido à força ideal e celestial latente e manifesta nele",11
ocupa uma posição que é "maior e mais nobre"12 que a natureza, que "o homem governa
sobre a esfera da natureza".13
"Torna-se evidente, portanto, que o homem governa sobre a esfera da natureza. A natureza é
inerte, o homem é progressivo. A natureza não tem consciência; o homem é dotado dela. A
natureza não possui volição e age à força, ao passo que o homem possui uma poderosa
vontade. A natureza é incapaz de descobrir mistérios ou realidades, ao passo que o homem
é especialmente apto para fazer isto. A natureza não está em contato com os domínios de
Deus, o homem é harmonizado com suas evidências. A natureza é desinformada de Deus, o
homem tem a consciência Dele. O homem adquire virtudes divinas, à natureza elas são
negadas. O homem pode voluntariamente deixar os vícios, a natureza não tem nenhum
poder para modificar a influência de seus instintos. Torna-se evidente que o homem é mais
nobre e superior, que nele há um poder ideal ultrapassando a natureza. Ele tem consciência,
volição, memória, poder de inteligência, atributos divinos e virtudes das quais a natureza é
totalmente privada e destituída; portanto, o homem é mais elevado e nobre devido à força
ideal e celestial latente e manifesta nele."14
O homem, possuidor de uma faculdade interior que as plantas e os animais não possuem,
um poder que o capacita a descobrir os segredos da natureza e dominar o meio ambiente,
tem uma responsabilidade especial na utilização dos poderes que Deus lhe concedeu para
fins positivos. A Casa Universal de Justiça indica que "o exercício apropriado desta
responsabilidade é a chave para se saber se o seu gênio inventivo produz resultados
benéficos ou traz destruição ao mundo material."15
1.4 A APROXIMAÇÃO AO MUNDO FÍSICO:
INTERAÇÃO DO ESPIRITUAL E DO MATERIAL
'Abdu'l-Bahá enfatiza que o desenvolvimento do mundo físico e a felicidade da humanidade
dependem tanto do "chamado da civilização, do progresso do mundo material"16 como do
"chamado que procede de Deus, que comove a alma, cujos ensinamentos espirituais são
salvaguardas da glória, da felicidade e da iluminação eterna do mundo da humanidade".17
Ele declara:
"Todavia, enquanto as conquistas materiais, as realizações no plano físico e as virtudes
humanas não forem reforçadas por perfeições espirituais, por qualidades luminosas e
características misericordiosas, nenhum fruto, nenhum resultado delas advirá, e tampouco se
alcançará a meta suprema: a felicidade do gênero humano. Pois se por um lado os avanços
materiais e o desenvolvimento do mundo físico engendram prosperidade, a qual manifesta
com requinte seus objetivos definidos, por outro lado, há perigos, calamidades terríveis e
aflições violentas iminentes.
"Conseqüentemente, se observares a configuração bem organizada de reinos, cidades e
aldeias, com a atratividade de seus adornos, o frescor de seus recursos naturais, o
refinamento de seus utensílios, a comodidade de seus meios de transporte, a amplitude de
conhecimentos disponíveis relativos ao mundo da natureza, as grandes invenções, os
empreendimentos colossais, as descobertas admiráveis e as pesquisas científicas,
concluirás que a civilização conduz à felicidade e ao progresso do mundo humano. Não
obstante, fosses volver o olhar ao descobrimento de máquinas arrasadoras e infernais, ao
desenvolvimento de forças de destruição e à invenção de apetrechos ígneos, que extirpam a
árvore da vida, tornar-se-ia evidente e manifesto a ti estar a civilização associada à barbárie.
O progresso e a selvageria caminham juntos, a menos que a civilização material seja
confirmada pela Guia Divina, pelas revelações do Todo-Misericordioso e por virtudes pias, e
seja reforçada por conduta espiritual, pelos ideais do Reino e pelas efusões do Domínio do
Poder...
"Conseqüentemente, tal civilização e progresso devem ser associados à Suprema Guia, para
que este mundo inferior se torne o cenário da aparição das dádivas do Reino e as conquistas
no plano físico venham juntamente com os fulgores do Misericordioso; e isto a fim de que a
beleza e perfeição do mundo do homem se desvelem e manifestem aos olhos de todos com
a maior graça e esplendor. Desta forma, glória e felicidade eternas hão de revelar-se."18
Bahá'u'lláh descreve o destino daqueles cujas vidas demonstram displicência em relação aos
valores espirituais e deixam de agir de acordo com tais valores. Ele comenta:
"... andais sobre Minha Terra, contentes, satisfeitos convosco mesmos, sem perceberdes que
Minha Terra se enfastia de vós, que tudo nela se vos evade..."19
Shoghi Effendi afirma que a negligência do homem contribui para o declínio da "ordem
atual"20 e impacta o meio ambiente de uma forma concreta:
"A violenta desorganização do equilíbrio do mundo; o estremecimento que acometerá os
membros da humanidade; a radical transformação da sociedade humana; o declínio da
ordem atual; as mudanças fundamentais afetando a estrutura de governo; ... o
desenvolvimento de máquinas infernais de guerra; a queima de cidades; a contaminação da
atmosfera da Terra; ...estes se destacam como sinais e presságios que devem anunciar ou
acompanhar a calamidade retributiva que, assim como decretado por Aquele que é o Juiz e o
Redentor da Humanidade, deve, mais cedo ou mais tarde, afligir uma sociedade que, em sua
maior parte, e por mais de um século, não deu ouvidos à Voz do Mensageiro de Deus neste
dia... uma calamidade que deve purificar a raça humana da escória de sua corrupção de
longa data e soldar suas partes componentes em uma sociedade destinada, no decorrer do
tempo, a ser incorporada numa estrutura, e galvanizada pelas influências espiritualizadoras
de uma ordem misteriosamente expansiva e divinamente ordenada e florir, no decurso das
futuras Dispensações, numa civilização a qual a humanidade, em nenhum estágio de sua
evolução, jamais testemunhou igual."21
2. O RELACIONAMENTO ENTRE O HOMEM E A NATUREZA
O relacionamento entre o homem e a natureza é muito complexo. Uma apreciação das
dimensões deste assunto exige reflexão sobre algumas características da natureza descritas
nas escrituras bahá'ís, bem como a consciência de certos valores e atitudes que guiam o
comportamento individual e o estabelecimento de prioridades.
2.1 CARACTERÍSTICAS DA NATUREZA
2.1.1 UM SISTEMA UNIFICADO
'Abdu'l-Bahá indica que o "templo do mundo"22 foi "moldado na imagem e semelhança do
corpo humano".23 Ele explica:
"Isto significa que da mesma forma que o corpo humano neste mundo, o qual externamente
é composto de membros e órgãos, é, na realidade, uma entidade fechada, integrada e
coerente; similarmente a estrutura do mundo físico é como um único ser cujos membros e
órgãos são inseparavelmente unidos.
"Fosse uma pessoa observar com olhar perscrutador as realidades de todas as coisas,
tornar-se-ia claro que o maior laço que mantém unido o mundo do ser reside na própria
variedade dos seres criados e que a cooperação, ajuda mútua e reciprocidade são
características essenciais no corpo unificado do mundo do ser, visto que todas as coisas
criadas são intimamente relacionadas e cada uma é influenciada ou beneficiada pela outra,
direta ou indiretamente.
"Considere, por exemplo, como um grupo de coisas criadas constitui o reino vegetal e outro o
reino animal. Cada um destes faz uso de certos elementos do ar, dos quais as suas vidas
dependem, enquanto cada um aumenta a quantidade de tais elementos que são essenciais
para a vida do outro. Em outras palavras, o crescimento e o desenvolvimento do reino
vegetal se torna impossível sem a existência do reino animal e a manutenção da vida animal
é inconcebível sem a cooperação do reino vegetal. Semelhantes são os relacionamentos que
existem entre todas as coisas criadas. Por isso foi declarado que a cooperação e a
reciprocidade são propriedades essenciais, inerentes ao sistema unificado do mundo da
existência e sem as quais a criação inteira seria reduzida a nada."24
Numa outra passagem 'Abdu'l-Bahá descreve a interconexão de "cada parte do universo"25
e a importância da manutenção de equilíbrio no sistema:
"Reflete sobre as realidades íntimas do universo, as sabedorias recônditas envolvidas, os
enigmas, as inter-relações e as leis que a tudo governam; pois cada parte do universo está
unida a cada uma das demais por vínculos mui poderosos e inflexíveis, que desequilíbrio
algum permitem..."26
2.1.2 SUJEITO À LEI E ORGANIZAÇÃO
'Abdu'l-Bahá declara que "o mundo fenomenal é inteiramente sujeito às normas e controles
da lei natural".27 Ele contrasta a "organização absoluta"28 da natureza e sua falta de
"inteligência"29 e "vontade"30 com a habilidade do homem para "[comandar] as forças da
Natureza"31 através de descobertas da "constituição das coisas"32:
"Essa natureza está sujeita a uma organização absoluta, a leis determinadas, a uma ordem
completa e a um plano consumado dos quais jamais se desviará... a tal ponto, que, se
observares atentamente e com visão aguçada verás que desde o mais microscópico átomo
até os corpos gigantes do mundo da existência como o globo solar ou outras grandes
estrelas e esferas luminosas, se considerares a disposição, composição, forma ou o
movimento destes, descobrirás que todos estão no mais alto grau de organização e sujeitas
a uma lei da qual jamais poderão se desviar.
"Ao contemplares porém, a própria Natureza, verás que ela não possui inteligência ou
vontade. Por exemplo, a natureza do fogo é queimar; ele queima sem vontade ou
inteligência. A natureza da água é fluir; ela flui sem vontade ou inteligência. A natureza do sol
é brilhar e ele brilha sem vontade ou inteligência. A natureza do vapor é subir; sobe, sem
vontade ou inteligência. Torna-se evidente, pois que os movimentos naturais de todas as
coisas são involuntários, não há movimentos voluntários exceto nos animais e, acima de
tudo, no homem. O homem é capaz de resistir e se opor à Natureza porque descobre a
constituição das coisas e através disto comanda as forças da Natureza; todas as invenções
feitas por ele se devem à descoberta da constituição das coisas. Por exemplo, ele inventou o
telégrafo, que é o meio de comunicação entre o Ocidente e o Oriente. Torna-se evidente,
portanto, que o homem rege a Natureza.
"Ora, quando observardes na existência tais organizações, disposições e leis, poderás dizer
que todas estas são efeitos da Natureza, embora a Natureza não possua inteligência nem
percepção? Se não, torna-se evidente que esta Natureza, a qual não possui percepção nem
inteligência, está nas mãos do Deus Todo-Poderoso, O qual é o Governador do mundo da
Natureza; tudo que Ele deseje, Ele faz a Natureza manifestar."33
2.1.3 MUDANÇA E MOVIMENTO
A mudança é uma lei que governa a inteira criação física. Pode ser observada na passagem
das estações do ano. 'Abdu'l-Bahá escreve:
"A terra está em movimento e crescimento; as montanhas, colinas e planícies são verdes e
agradáveis; a benção é transbordante; a misericórdia, universal; a chuva desce das nuvens
da misericórdia; o sol fulgurante está brilhando; a lua cheia ornamenta o horizonte do espaço
celeste; a grande maré inunda todo pequeno rio; as dádivas são sucessivas, os favores
consecutivos; e a brisa refrescante sopra, impelindo o doce perfume das flores. Um tesouro
ilimitado encontra-se nas mãos do Rei dos Reis! Erguei as orlas de vosso manto para
poderes recebê-lo.34
"Em breve o mundo inteiro, assim como na primavera, trocará a sua roupagem. A mudança e
a queda das folhas de outono já passou; a melancolia do inverno terminou. O ano novo
apareceu e a primavera espiritual está próxima. A terra sombria está se tornando um jardim
verdejante; os desertos e as montanhas estão abundantes em flores vermelhas; nas
fronteiras das selvas as altas ervas estão firmes como guardas avançadas diante das
árvores de cipreste e jasmim; enquanto os pássaros cantam entre os ramos de rosas como
anjos nos céus mais altos, anunciando as boas-novas da chegada daquela primavera
espiritual, e a doce música de suas vozes leva a verdadeira essência de todas as coisas a se
comover e estremecer."35
'Abdu'l-Bahá afirma que "repouso absoluto não existe na natureza",36 que o "movimento é
essencial para a existência".37 Em relação à existência Ele descreve os processos de
"composição e decomposição"38:
"...considerai, ademais, o fenômeno da composição e decomposição, da existência e
inexistência. Toda coisa criada no mundo contingente é constituída de muitos átomos
diferentes, e sua existência depende da composição destes. Noutras palavras, através do
poder criativo divino se dá uma combinação de elementos simples, e por essa composição
um organismo bem definido é gerado. A existência de todas as coisas baseia-se neste
princípio. Quando, entretanto, a ordem é desarranjada, a decomposição ocorre e a
desintegração se manifesta, então a criatura deixa de existir. Ou seja, a aniquilação de todos
os seres é causada pela decomposição e desintegração. Assim sendo, a atração e a
composição entre elementos diversos é o que proporciona a vida; e a discórdia, a
decomposição e a divisão produzem a morte. Portanto, as forças coesivas e atrativas levam
ao aparecimento de resultados e efeitos proveitosos em todas as coisas, ao passo que a
alienação e separação dos seres vivos conduzem à perturbação e aniquilação. Por meio da
afinidade e da atração, todas as coisas viventes, como as plantas, os animais e o homem,
vêm à existência; já a divisão e a discórdia ocasionam a decomposição e destruição."39
Ele também explica que, no mundo físico, o curso da evolução caminha na direção de níveis
crescentes de complexidade:
"Na criação física, a evolução vai de um a outro grau de perfeição. O mineral passa, com
suas perfeições, ao vegetal; o vegetal passa ao mundo animal; e, assim por diante, até ao da
humanidade..."40
2.1.4 DIVERSIDADE
'Abdu'l-Bahá descreve a diversidade como "a essência da perfeição e a causa da aparição
das dádivas"41 de Deus, e Ele afirma:
"Considerai as flores de um jardim: diferem em espécie, cor, forma e aspecto. Não obstante,
desde que são refrescadas pelas águas da mesma fonte, revivificadas pelos sopros de um
só vento e revigoradas pelos raios de um único Sol, sua diversidade lhes aumenta o encanto
e realça a beleza. Assim, quando a força unificadora que é a influência penetrante do Verbo
de Deus, faz efeito, a variedade de costumes, procedimentos, hábitos, idéias, opiniões e
temperamentos embeleza o mundo da humanidade. Tal diversidade, tal diferença, é análoga
à dessemelhança e variedade natural dos membros e órgãos do corpo humano, pois cada
qual contribui para a beleza, eficiência e perfeição do todo.
"Quão pouco nos agradaria aos olhos se todas as plantas e árvores desse jardim, com seus
ramos, suas folhas, flores e frutos fossem da mesma forma e cor! A diversidade de colorido,
formato e aparência enriquece e adorna o jardim e aviva-lhe a aparência..."42
A extensão da diversidade do "mundo dos seres criados"43 é enfatizada na seguinte
passagem:
"...as formas e organismos dos seres e existências fenomenais em cada um dos reinos do
universo são miríades e infinitas. O plano ou reino vegetal, por exemplo, tem sua variedade
infinita de tipos e estruturas materiais de vida vegetal - cada um distinto e diferente por si,
não havendo dois exatamente iguais em composição e detalhes - pois não há repetição na
natureza e a virtude aumentativa não pode ser confinada a qualquer imagem ou forma. Cada
folha tem sua própria identidade particular - por assim dizer, sua própria individualidade como
uma folha..."44
2.1.5 SERVE AO MUNDO HUMANO
'Abdu'l-Bahá descreve as "causas e circunstâncias"45 da "perfeição"46 do mundo mineral,
vegetal e animal e ele distingue isto da sua "verdadeira prosperidade",47 a qual conduz à
honra dos vários reinos.
A honra e exaltação de todo ser existente dependem de causas e circunstâncias.
"A excelência, a beleza e a perfeição da terra estão em seu verdor e fertilidade, graças às
nuvens primaveris. Plantas crescem, flores e ervas aromáticas surgem; as árvores frutíferas
florescem e produzem frutas novas e frescas. Os jardins se tornam belos e os prados
enfeitados; as montanhas e as planícies ficam verdejantes e os jardins, campos, vilarejos e
cidades são embelezadas. Eis a prosperidade do mundo mineral.
"O ápice da exaltação e perfeição do mundo vegetal se encontra numa árvore que cresce
nas margens de um rio de águas frescas, uma brisa suave que sobre ela sopra, o calor do
sol que sobre ela brilha, um jardineiro que a cultiva e que dia após dia ela se desenvolva e
produza frutos. Mas a sua verdadeira prosperidade está em progredir para o mundo animal e
humano repondo o que tiver se esgotado nos corpos dos animais e homens.
"A exaltação do mundo animal consiste em possuir membros, órgãos e sentidos perfeitos e
ter todas as suas necessidades supridas. Nisso consiste sua glória suprema, sua honra e
exaltação. Portanto a suprema felicidade de um animal consiste em possuir um prado verde
e fértil, água corrente pura e uma floresta verdejante encantadora. Se estas coisas lhe forem
providenciadas, nenhuma prosperidade maior poderia ser imaginada. Se um pássaro, por
exemplo, construir seu ninho numa floresta verdejante e frutífera, num lugar alto e belo, no
topo de um galho, numa árvore forte e se ele encontrar grãos e água em abundância, isto é
sua prosperidade perfeita.
"Mas para o animal a verdadeira prosperidade consiste na passagem do mundo animal para
o mundo humano, semelhante aos seres microscópicos que, pela água e ar, entram no
organismo humano e são assimilados e repõem o que é consumido neste corpo. Nisso está
a grande honra e prosperidade para o mundo animal; para este, maior honra não pode ser
concebida."48
2.1.6 A IMPERFEIÇÃO DA NATUREZA
Duas opiniões a respeito da natureza são contrastadas. Uma delas considera que o "mundo
da natureza é completo",49 e o outro declara que é "incompleto",50 pois "necessita de
inteligência e educação"51. 'Abdu'l-Bahá afirma que os "mundos mineral, vegetal, animal e
humano necessitam todos de educação"52
"Os materialistas mantém a opinião de que o mundo da natureza é completo. Os filósofos
divinos declaram que o mundo da natureza é incompleto. Existe uma grande diferença entre
os dois. Os materialistas chamam a atenção para a perfeição da natureza; o sol, a lua e as
estrelas, as árvores com sua beleza, o planeta inteiro e o mar - mesmo os fenômenos
insignificantes revelam a mais perfeita simetria. Os filósofos divinos negam esta perfeição
aparente no reino da natureza, embora aceitem a beleza de suas cenas e aspectos e
reconheçam as irresistíveis forças cósmicas que controlam os enormes sóis e planetas. Eles
afirmam que embora a natureza pareça ser perfeita, é, no entanto, imperfeita, pois necessita
de inteligência e educação. Como prova disto dizem que o homem, embora seja um Deus na
área da criação material, necessita de um educador. O homem não desenvolvido pela
educação é selvagem, animalesco e brutal. Leis e regulamentos, escolas, faculdades e
universidades têm como propósito o treinamento do homem e a sua elevação das fronteiras
escuras do reino animal...53
"Ao examinarmos a existência, observamos que os mundos mineral, vegetal, animal e
humano necessitam todos eles de um educador.
"Se a terra não é cultivada, torna-se um matagal onde crescem ervas inúteis; mas se um
agricultor vier e arar a terra, ela dará colheitas para a alimentação dos seres vivos. É
evidente, portanto, que o solo precisa ser cultivado pelo agricultor. Considerem as árvores:
se permanecerem sem um lavrador, serão infrutíferas, e sem frutos, inúteis; mas se
receberem os cuidados de um jardineiro, estas mesmas árvores estéreis se tornarão
frutíferas e através do cultivo, adubação e enxertia, as árvores que tinham frutos amargos
produzirão frutos doces...
"O mesmo se aplica aos animais: observem que quando o animal é amestrado se torna
doméstico. Da mesma forma, se o homem não receber educação, tornar-se-á bestial, mais
ainda, se for deixado sob o domínio da natureza, tornar-se-á mais baixo que um animal, ao
passo que se for educado tornar-se-á um anjo..."54
2.2 ATITUDES E VALORES
As escrituras bahá'ís articulam certos valores espirituais e atitudes que guiam o
relacionamento do homem com a natureza. Estes incluem:
2.2.1 APRECIAÇÃO
Uma consciência do fato de que a terra é a "fonte"55 da "prosperidade"56 do homem é
moderada pela percepção de que "a honra e a exaltação do homem devem consistir em algo
m ais do que bens materiais".57 Desta forma:
"Todo homem de discernimento, enquanto caminha sobre a terra, sente-se realmente
envergonhado, visto que compreende perfeitamente que aquilo que é a fonte da sua
prosperidade, sua riqueza, sua força, sua exaltação, seu avanço e seu poder é, como
ordenado por Deus, a própria terra que é pisada pelos pés de todos os homens.
Indubitavelmente, aquele que é conhecedor dessa verdade está purificado e santificado de
todo orgulho, arrogância e vaidade...58
"De que podeis com justiça vos vangloriar? Será de vosso alimento e vossa bebida que vos
orgulhais, das riquezas que acumulais em vossos tesouros, ou da variedade e do valor dos
ornamentos com que vos adornais? Fosse a glória verdadeira consistir na posse de coisas
tão perecedoras, então a terra sobre a qual andais, deveria vangloriar-se sobre vós, pois é
ela que vos supre e concede essas coisas, segundo o decreto do Todo-Poderoso. Nas
entranhas da terra está contido tudo o que vós possuís, segundo Deus ordenou. Delas
extraís - como sinal de Sua misericórdia - vossas riquezas. Vede, pois, vosso estado, a coisa
de que vos vangloriais! Oxalá pudésseis perceber isto!59
"Portanto está claro que a honra e exaltação do homem devem consistir em algo mais do
que bens materiais. Confortos materiais são apenas um ramo, mas a raiz da exaltação do
homem são as boas qualidades e virtudes que adornam sua realidade. Estes são os
atributos divinos, as graças celestiais, as emoções sublimes, o amor e o conhecimento de