1 Competências atribuídas ao jovem aprendiz no mercado de trabalho a partir de uma pesquisa realizada na cidade de Joinville Bruna de Oliveira Silva 1 Adriana Cristina de Souza Kohlbach 2 Resumo: O presente artigo busca compreender as competências esperadas dos jovens aprendizes inseridos no contexto organizacional através da aplicação da lei da aprendizagem nas empresas. Como referência teórica utilizou-se os fundamentos da Psicologia do Desenvolvimento e da Psicologia Organizacional e do Trabalho. O tema envolve questões relevantes: adolescência, período de grandes transformações e o ingresso do jovem no mundo do trabalho, momento em que o jovem assume um novo papel na sociedade. A partir destas demandas surgiu o interesse em conhecer as competências técnicas e comportamentais que são esperadas pelo mercado de trabalho, em uma amostra de 07 empresas de diversos segmentos na cidade de Joinville/SC. A metodologia utilizada para o estudo foi à pesquisa de campo de cunho qualitativo, através de um inventário de competências e entrevista aberta individual com profissionais de Recursos Humanos, responsáveis pela seleção do Jovem Aprendiz. A interpretação dos resultados foi realizada a partir da análise de conteúdo que apontou 03 categorias e 08 competências como as mais valorizadas para o público pesquisado. Almeja-se que essa pesquisa ofereça novas possibilidades de reflexões na área de psicologia e profissionais da área de Recursos Humanos, oportunizando novas discussões acerca do tema. Palavras-chave: Psicologia; Perfil do Jovem Aprendiz; Competências; Trabalho. Abstratc: The current article seeks to understand how the Youth Apprentice Program is relevant in the organizational context through implementation of the learning law in the companies.The subject brings major meanings: the theme Adolescence, period of major changes, that match with the young people entrance into the world of work and represents a important place in our society taking a significant role in their lives. Based on these demands grew out the interest in learning the technical and behavioural skills expected by labour market, from a sample of 7 companies of different segments of Joinville/SC city. The methodology used to the study was the field qualitative research, through the structured quetionnaire and personal interview with Human Resources professionals in charge of hiring Youth Apprentice. Of the competences most recognized by the professional market, 08 were considered more important by companies and through the transcription of data inspired by content analysis, discussed by the 1 Estudante da quinta série do Curso de Psicologia da Faculdade Guilherme Guimbala (FGG) 2 Professor do Departamento de Psicologia da Faculdade Guilherme Guimbala (FGG)
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Competências atribuídas ao jovem aprendiz no mercado de trabalho a
partir de uma pesquisa realizada na cidade de Joinville
Bruna de Oliveira Silva 1
Adriana Cristina de Souza Kohlbach 2
Resumo: O presente artigo busca compreender as competências esperadas dos jovens
aprendizes inseridos no contexto organizacional através da aplicação da lei da
aprendizagem nas empresas. Como referência teórica utilizou-se os fundamentos da
Psicologia do Desenvolvimento e da Psicologia Organizacional e do Trabalho. O tema
envolve questões relevantes: adolescência, período de grandes transformações e o
ingresso do jovem no mundo do trabalho, momento em que o jovem assume um novo
papel na sociedade. A partir destas demandas surgiu o interesse em conhecer as
competências técnicas e comportamentais que são esperadas pelo mercado de trabalho,
em uma amostra de 07 empresas de diversos segmentos na cidade de Joinville/SC. A
metodologia utilizada para o estudo foi à pesquisa de campo de cunho qualitativo,
através de um inventário de competências e entrevista aberta individual com
profissionais de Recursos Humanos, responsáveis pela seleção do Jovem Aprendiz. A
interpretação dos resultados foi realizada a partir da análise de conteúdo que apontou 03
categorias e 08 competências como as mais valorizadas para o público pesquisado.
Almeja-se que essa pesquisa ofereça novas possibilidades de reflexões na área de
psicologia e profissionais da área de Recursos Humanos, oportunizando novas
discussões acerca do tema.
Palavras-chave: Psicologia; Perfil do Jovem Aprendiz; Competências; Trabalho.
Abstratc: The current article seeks to understand how the Youth Apprentice Program is
relevant in the organizational context through implementation of the learning law in the
companies.The subject brings major meanings: the theme Adolescence, period of major
changes, that match with the young people entrance into the world of work and
represents a important place in our society taking a significant role in their lives. Based on these demands grew out the interest in learning the technical and behavioural skills
expected by labour market, from a sample of 7 companies of different segments of
Joinville/SC city. The methodology used to the study was the field qualitative research,
through the structured quetionnaire and personal interview with Human Resources
professionals in charge of hiring Youth Apprentice. Of the competences most recognized
by the professional market, 08 were considered more important by companies and
through the transcription of data inspired by content analysis, discussed by the
1 Estudante da quinta série do Curso de Psicologia da Faculdade Guilherme Guimbala (FGG) 2Professor do Departamento de Psicologia da Faculdade Guilherme Guimbala (FGG)
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theoretical reference, which resulted in 03 categories to compose the desired profile.To
sump up, the main goal of presented research is offer further reflections in
psychologycal field and by the Human Resources professionals, creating opportunities
of new discussions over the subject.
Keywords: Psychology, Youth Apprentice Profile, Competences, Work
INTRODUÇÃO
O mundo do trabalho vem sofrendo transformações ao longo dos tempos e com
o fenômeno conhecido como globalização a evolução tecnológica e a competividade
mundial exigiram das empresas novos perfis profissionais e consequentemente novas
competências do trabalhador. Para fomentar a abertura de vagas, através de incentivos
fiscais, foi criado há 18 anos a Lei da Aprendizagem nº 10.097/2000. Nela, empresas de
médio e grande porte contratam jovens com idade entre 14 e 24 anos como aprendizes e
devem possibilitar um espaço de inserção e desenvolvimento dos mesmos. De acordo
com Ribeiro (2018, p.93) “Aprender é uma característica humana muito especial, pois
os indivíduos incorporam novos saberes importantes para a formação e o
desenvolvimento, ao exercitar os conhecimentos adquiridos pela educação ou pelo
treinamento, acabam se modificando, tornando-se melhores. Daí podermos dizer que
aprender é modificar-se”.
Nesse sentido é relevante que tanto as organizações quanto os jovens tenham em
vista o que precisam desenvolver em termos de competências.
A faixa etária contemplada pela Lei da Aprendizagem abrange um momento de
grandes desafios para o jovem em seu ciclo de desenvolvimento humano que é o
período da adolescência e que acarreta mudanças biopsicossociais que refletem em sua
forma de ser e agir. Sobre tal aspecto Zagury afirma:
A adolescência é um período especial da vida, caracterizado principalmente
pela intensidade das emoções. Seu início marca o surgimento das contesta-
ções e dos questionamentos. Os valores dos adultos já não são passivamente
aceitos. O jovem precisa desse momento para começar a se conhecer e esta-
belecer seus próprios valores e ver o mundo sob uma nova ótica – a sua pró-
pria. (ZAGURY, 1996, p 50)
Sendo a ocupação profissional fator que integra o homem no valorizado contexto
socioeconômico, entende-se que “O trabalho representa um lugar importante na
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sociedade e é parte da centralidade na vida das pessoas. o homem por sua vez não nasce
pronto, não há natureza humana pronta. Não há aptidões. A única aptidão do homem é
poder desenvolver várias aptidões” Bock (1999, p.30).
Tais implicações reforçam o objetivo geral da pesquisa, que é conhecer as
principais competências técnicas e comportamentais esperadas pelas empresas da cidade
de Joinville, no nicho dos jovens aprendizes, e possibilitar a criação de estratégias para
projetos de desenvolvimento para esse público.
A motivação pelo tema se deu após a solicitação de um trabalho de
sensibilização para funcionários participantes do projeto Jovem Aprendiz, que em sua
maioria estavam com idade entre 17 e 21 anos, portanto, no período da adolescência,
em função do crescente número de reclamações como, falta de respostas em seus postos
de trabalho e problemas de adaptação dos mesmos. Surgirá com isso questionamentos:
Existe um gap no perfil desejado pelas empresas e o perfil que se apresenta? O que pode
dificultar o processo de acompanhamento e desenvolvimento do jovem pela liderança?
Como as instituições que fazem esse link entre empresas e jovens aprendizes,
estabelecem o diálogo para compreender o que se espera?
Esses pontos serão discutidos na pesquisa a partir das teorias que comtemplam o
tema, reconhecendo também dois objetivos específicos importantes; referenciar o
período da adolescência, fase que compreende o público atendido pela Lei da
Aprendizagem e as questões que o jovem precisa vivenciar e integrar de forma saudável
e dar sequência ao seu ciclo de desenvolvimento humano para a fase adulta e; perceber
a importância atribuída pelas empresas ao processo através dos profissionais de
Recursos Humanos que selecionam e acompanham a evolução das competências
requeridas para os jovens durante a permanência no programa.
Considerando estes aspectos, necessário salientar então que a adolescência é um
período que a ciência vem aprofundando cada vez mais, principalmente nas últimas
décadas, para ajudar a compreender os principais desafios vivenciados pelos jovens,
bem como para mediar as relações parentais na busca de escolhas mais saudáveis. Nesse
contexto de estruturação de sua identidade o adolescente questiona os limites do meio.
De acordo com Rufo, (2013, p.29), “Outra característica essencial da adolescência é a
labilidade. Nunca nada é fixo, cristalizado, tudo está sempre em movimento, os
humores, as vontades interesses, tanto as predileções como as rejeições”.
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Nessas concepções é preciso trazer a diversidade nos conceitos para ampliar o
entendimento e melhor gerir as necessidades de inclusão/desenvolvimento nas
organizações, principalmente para não rotular ou restringir as possibilidades de
expressão do adolescente, que não pode ser negada frente à sua realidade social,
conforme afirma Aguiar, Bock e Ozella (2001):
A adolescência é criada historicamente pelo homem, como representação e
como fato social e psicológico. É constituída como significado na cultura e
na linguagem que permeia as relações sociais. Fatos sociais surgem nas
relações e os homens atribuem significados a esses fatos; definem, criam
conceitos que expressam esses fatos. Quando definimos a adolescência como
isto ou aquilo, estamos atribuindo significações (interpretando a realidade),
com base em realidades sociais e em "marcas", significações essas que serão
referências para a constituição dos sujeitos.
O conceito acima oferece outra visão do fenômeno da adolescência importante
para a reflexão que se faz em relação à preocupação de como inserir melhor no contexto
profissional, não só adaptando o jovem, mas respeitando as suas características
individuais e singularidades diante das solicitações do meio ambiente.
Entre as descobertas deste período, surge no jovem, a pressão do meio através
das expectativas geradas em relação a sua inserção no mercado de trabalho. Como se
inserir? Qual é o perfil mais adequado? Como se preparar? Em que empresa entrar?
Como enfrentar a concorrência por vagas de trabalho? São questionamentos frequentes
que precisam de um tempo maior de aprendizado para não só obter maturidade, mas, ir
se adequando às exigências de profissionalização no contexto humano e técnico.
Neste sentido, observa-se que “O ritmo atual do avanço tecnológico não tem