COMPETITIVIDADE NO SISTEMA AGROINDUSTRIAL (SAG) DA MADEIRA SERRADA: UM ESTUDO NO ESTADO DE MATO GROSSO Edson Rodrigues de Aro (UFSCAR) [email protected]Na busca incessante pela competitividade nos Sistemas Agroindustriais, produzir com sustentabilidade se tornou um dos grandes desafios do segmento agronegócio. A indústria madeireira demandada pelo elevado consumo de seus produtos e derivaddos, apresenta fatores que influenciam a competitividade mundial. Estes estão relacionados a custos de transportes, câmbio, taxas e outros, e impactam no setor afetando a produção e consumo de produtos florestais. O propósito deste artigo é apresentar com base em dados secundários seis direcionadores de competitividade para avaliar a competitividade do sistema agroindustrial da madeira serrada no Estado de Mato Grosso. Tais direcionadores estão contemplados no trabalho de Batalha e Souza Filho (2009) sendo compostos por: tecnologia, insumos e infraestrutura, gestão das unidades de produção, ambiente institucional, estrutura de mercado e estrutura de governança. Baseado neste modelo de competitividade sustenta-se uma adaptação resultando na junção dos direcionadores estrutura de mercado e de governança e a inserção do direcionador de sustentabilidade ambiental, considerando assim, em maior profundidade os problemas ambientais que impactam não somente este sistema, mas também outros dependentes dos recursos naturais provenientes do meio ambiente. Palavras-chaves: Sistema Agroindustrial, Madeira Serrada, Direcionadores de Competitividade, Sustentabilidade Ambiental. XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.
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COMPETITIVIDADE NO SISTEMA AGROINDUSTRIAL (SAG) DA …
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Na busca incessante pela competitividade nos Sistemas
Agroindustriais, produzir com sustentabilidade se tornou um dos
grandes desafios do segmento agronegócio. A indústria madeireira
demandada pelo elevado consumo de seus produtos e derivaddos,
apresenta fatores que influenciam a competitividade mundial. Estes
estão relacionados a custos de transportes, câmbio, taxas e outros, e
impactam no setor afetando a produção e consumo de produtos
florestais. O propósito deste artigo é apresentar com base em dados
secundários seis direcionadores de competitividade para avaliar a
competitividade do sistema agroindustrial da madeira serrada no
Estado de Mato Grosso. Tais direcionadores estão contemplados no
trabalho de Batalha e Souza Filho (2009) sendo compostos por:
tecnologia, insumos e infraestrutura, gestão das unidades de produção,
ambiente institucional, estrutura de mercado e estrutura de
governança. Baseado neste modelo de competitividade sustenta-se uma
adaptação resultando na junção dos direcionadores estrutura de
mercado e de governança e a inserção do direcionador de
sustentabilidade ambiental, considerando assim, em maior
profundidade os problemas ambientais que impactam não somente este
sistema, mas também outros dependentes dos recursos naturais
provenientes do meio ambiente.
Palavras-chaves: Sistema Agroindustrial, Madeira Serrada,
Direcionadores de Competitividade, Sustentabilidade Ambiental.
XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente.
São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010.
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1. Introdução
No contexto de busca de competitividade global, um dos grandes desafios tem sido o de
produzir alimentos, fibras e bioenergia com sustentabilidade ambiental, econômica e social. O
comércio ligado ao agronegócio mundial tem se deparado com entraves como o
protecionismo dos países desenvolvidos, barreiras tarifárias e não tarifárias cada vez mais
restritas, exigências crescentes de certificação e a necessidade de investimentos mais
expressivos em tecnologia.
O cenário mundial apresenta elevada concentração de consumo de produtos derivados da
madeira. Os países, principalmente os desenvolvidos, demandam de forma intensiva, grandes
quantidades de produtos para atender a sua necessidade de abastecimento do consumo interno
de produtos como madeira serrada, painéis, papel e papelão no uso comercial e industrial
(BRASIL, 2007).
Segundo a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação – FAO (2009), a
produção e consumo mundial de produtos de madeira e de energia advinda da madeira devem
aumentar principalmente decorrentes do rápido crescimento da procura por parte de países
emergentes como a China e a Índia. Alguns fatores que influenciam a competitividade
mundial estão relacionados a custos de transportes, câmbio, taxas e outros, e impactam no
setor industrial afetando a produção e consumo de produtos florestais.
De acordo com ITTO (2008) o Sistema Agroindustrial (SAG) da madeira no Brasil explora
florestas nativas e plantadas e tem crescido entre 6 a 8% ao ano. Esse crescimento demanda o
aumento de sua base florestal via investimentos em silvicultura e o uso adequado das práticas
de manejo sustentável de florestas nativas tropicais. A representatividade desse setor no
cenário econômico e comercial da cadeia produtiva da madeira sofre com diversos fatores
negativos como indefinição de políticas florestais, fiscalização, infraestrutura e outros que
influenciam a competitividade da cadeia produtiva da madeira no Brasil.
O Estado de Mato Grosso responde por cerca de 12,2% ou 1,47 milhões de m³ da produção de
madeiras em toras de uma produção nacional de 14,12 milhões de m³ oriundas da floresta
nativa, sendo o segundo maior produtor nacional em 2008 (IBGE, 2009). Neste contexto, o
segmento da indústria da madeira é responsável pela produção de toras, madeira serrada,
lâminas, chapa de compensado e outros, participando com 12,1% do valor adicionado da
indústria de transformação do Estado de Mato Grosso (SEPLAN, 2008).
Este artigo trata-se de um estudo baseado em fontes secundárias de informação que tem em
seu propósito apresentar seis direcionadores de competitividade para avaliar a
competitividade do sistema agroindustrial da madeira serrada no Estado de Mato Grosso.
Baseado no trabalho de Batalha e Souza Filho (2009) foram selecionados os seis
direcionadores para análise do sistema agroindustrial da madeira serrada, sendo compostos
por tecnologia, insumos e infraestrutura, gestão das unidades de produção, ambiente
institucional, estrutura de mercado e estrutura de governança, nos quais sugere-se uma
adaptação promovendo a junção dos direcionadores de estrutura de mercado e de governança
e a adição de um novo direcionador, o de sustentabilidade ambiental.
2. Referencial Teórico
2.1 Cadeia de Produção Agroindustrial (CPA)
As discussões na literatura sobre sistema agroindustrial remetem a duas vertentes
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metodológicas no cenário internacional que trabalham pontos análogos na sua dinâmica e
concepção. Zylbersztajn (2005) e Batalha e Silva (2007) apresentam os estudos de Davis e
Goldberg que enfocam a pesquisa sobre o agribusiness nos Estados Unidos e o estudo de
Goldberg que utiliza a noção de commodity system approach (CSA).
Para Batalha e Silva (2007) as duas abordagens norteiam as discussões sobre ferramentas
gerenciais e conceituais para entender o funcionamento e a eficiência das cadeias
agroindustriais, destacando o caráter sistêmico e mesoanalítico das atividades agroindustriais.
Para Toledo e Aires Borrás (2006) o segmento de uma cadeia é definido como uma das
camadas de redes de produção. Em uma cadeia podem ser identificadas quatro camadas
básicas de produção e uma de consumo final: indústria de insumos, produção agropecuária,
indústria processadora, indústria de distribuição e o próprio mercado onde se encontram os
consumidores finais.
Para Batalha (1995) a dinâmica da cadeia de produção está associada a diversos fatores que
impactam esse sistema. A Figura 1 mostra o ambiente, caracteriza a influência dos agentes
nos segmentos, tendo, os segmentos, relações que estabelecem elos entre firmas, cadeias ou
complexos agroindustriais, na realização de transações geradas pela troca contínua de bens, de
serviços (fluxo de comunicação) de informação e fluxo financeiro.
Fonte: Batalha (1995)
Figura 1 - Ambiente da cadeia de produção agroindustrial
FATORES
SOCIAIS
FATORES
INSTITUCIONAIS
FATORES
TECNOLOGICOS
FATORES
AMBIENTAIS
FATORES LEGAIS
MECANISMOS DE
COORDENAÇÃO
FATORES DE
INFRAESTRUTURA
FATORES
ECONÔMICOS
PRODUÇÃO
DE INSUMOS
MERCADO
PROD. DE
MATÉRIA
PRIMA
MERCADO
AGRO-
INDUSTRIA
MERCADO
DISTRIBUIÇÃO
CONSUMIDOR
FINAL
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2.2 O Enfoque Sistêmico do Agronegócio
No sistema do agronegócio estão encadeadas as atividades relacionadas com fornecimento de
insumos e bens de produção, a própria produção, o processamento ou transformação, a
distribuição e consumo e os serviços relacionados ao apoio destas atividades. Desta forma, a
atividade agrícola é vista como integrante de um sistema e passa a ser analisada de forma
sistêmica.
Staatz, (1997) propõe o abandono de análises que considerem a agricultura como uma
atividade dissociada da indústria. A abordagem por subsector (subsistemas), proposta por este
autor, examina como as atividades de produção e distribuição para um commodity ou grupo de
commodities relacionam-se e são organizadas na economia e questiona como a produtividade
dessas atividades pode ser aumentada, através de melhores tecnologias ou melhores
instituições ou políticas de coordenação dos vários estágios da produção e distribuição.
Assim, um subsistema pode ser visto como: (a) um conjunto de atividades e atores e (b) as
regras que governam estas atividades.
Staatz (1997) observa que o enfoque sistêmico da produção agroindustrial é guiado por cinco
conceitos chave:
a) Verticalidade. Esta é uma noção sistemática básica que significa que as condições em um
estágio num subsistema deverão ser fortemente influenciadas pelas condições em outros
estágios na cadeia vertical.
b) Demanda efetiva. A análise por subsistema vê a demanda efetiva como a pressão por
informações que puxa bens e serviços através do sistema vertical.
c) Coordenação dentro dos canais. A maior parte da análise por subsistema envolve
analisar quão bem o mercado atual, contratos, integração vertical e outros tipos de arranjos
harmonizam e coordenam as atividades dos diferentes atores do subsistema.
d) Coordenação entre canais. Um dado subsistema pode envolver mais do que um canal de
comercialização. A análise por subsistema tenta entender a competição entre canais e
examina como ela pode ser modificada para alcançar um melhor desempenho econômico.
e) Alavancagem. Particularmente onde um grande número de pequenas firmas está
envolvido, pode ser muito custoso (caro) desenvolver ações públicas que pretendem
ajudar cada firma individualmente.
A análise sistêmica busca identificar pontos-chave na sequência produção-consumo em que
ações podem melhorar a eficiência de um grande número de participantes.
2.3 Mesoanálise
Para entender melhor a estrutura de análise da cadeia produtiva agroindustrial, além de
considerar o enfoque sistêmico, deve ser considerado o espaço da mesoanálise. Esse espaço
de análise está entre a teoria econômica clássica que compreende a microeconomia e a
macroeconomia.
Para Nagai (1997), a microeconomia baseia-se nas unidades de base da economia que
compreende a empresa e o consumidor. A macroeconomia baseia-se nos grandes agregados
econômicos, utilizando-se do todo para explicar o funcionamento das partes. A mesoanálise
baseia-se no setor industrial (ou a indústria), em vez de se basear na firma ou na economia
global.
Este enfoque mesoanalítico, segundo Batalha e Silva (2007), “permitiria responder às
questões sobre o processo de concorrência e as opções estratégicas das firmas, bem como
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sobre o processo distributivo entre os agentes econômicos.”
Kliemann Neto e Hansen (2002) identificam que a mesoanálise é a forma mais recente de
perspectivas de análise de arranjos ou aglomerados empresariais como, Filiére (fila), os
Cluster (aglomerados empresariais regionais), Supply Chain (cadeia de suprimentos) e as
redes flexíveis de pequenas empresas. A mesoanálise vem sendo igualmente utilizada nestes
arranjos ou aglomerados empresariais, a qual parece ser a mais adequada ao contexto que
incorpora a análise das relações interempresariais, além das relações com o mercado atendido
e outras instituições vinculadas.
3. Competitividade
Os estudos sobre competitividade utilizam definições, conceitos e terminologias oriundas de
várias áreas de conhecimento. No entanto, nenhuma dessas áreas de conhecimento
estabeleceu um consenso quanto a sua definição e as metodologias mais adequadas para sua
avaliação.
Muller (2006) supõe que a movimentação terminológica sobre competitividade é expressa nos
esforços de novos processos e nas novas relações que estabelecem as práticas sociais. Elas
revelam preocupações com aspectos técnicos e econômicos, e também, aspectos
sociopolíticos e culturais da competitividade.
Dois enfoques diferentes podem ser utilizados para o entendimento do conceito de
competitividade. O primeiro deles está ligado a noção de eficiência (competitividade
potencial) e o segundo a noção de desempenho (competitividade revelada) de uma dada
nação, setor ou firma.
Porter (1990) considera que a competitividade de uma nação depende da capacidade de seus
setores industriais em inovar e modernizar e deve refletir uma concepção de competição que
inclua mercados segmentados, produtos diferenciados, tecnologias diferenciadas e economias
de escala. A competitividade de uma nação, deve ir além do custo, deve criar vantagens em
qualidade, qualificações e inovação de produtos partindo da premissa que a competição é
dinâmica e evolutiva.
Ferraz, Kupfer e Haguenauer (1997, p. 3) conceituam competitividade como “a capacidade da
empresa formular e implementar estratégias concorrenciais que lhe permitam ampliar ou
conservar, de forma duradoura, uma posição sustentável no mercado.”
Ambastha e Momaya (2004) destacam que as teorias sobre competitividade em diversas áreas
estão ligadas a estratégia, a gestão de operações e a visão baseada em recursos. A maioria das
empresas está organizada em linhas funcionais, tais como marketing, finanças, operações, o
que leva a visões estreitas sobre a contribuição de cada uma destas funções para a
competitividade de toda a organização. Destacam também que a competitividade pode ser
classificada em fontes de competitividade divididas em três dimensões: ativos, processos e
desempenho na gama do nível estratégico e operacional.
a) Na dimensão Ativo – consideram-se os recursos humanos, a estrutura da firma, a cultura
organizacional, a tecnologia e os demais recursos internos.
b) Na dimensão de Processo – envolve os processos de gestão de administração estratégica,
nos quais são consideradas: a estratégia competitiva, as competências essenciais, a
flexibilidade e adaptabilidade.
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c) Na dimensão de Desempenho – são considerados market share, indicadores financeiros,
produtividade, diferenciação, lucratividade, preço, custo, variedade, criação de valor,
satisfação do consumidor e desenvolvimento de novos produtos.
Morroni (2006) observa que as empresas são múltiplas e diversos fatores econômicos afetam
a sua competitividade como a incerteza, a aprendizagem, as rotinas e a coordenação da
organização. Na Figura 2, o autor analisa a relação entre condições básicas, tomada de
decisão, mecanismo de coordenação e organização dentro das empresas que influencia o seu
desempenho relativo.
Fonte: Morroni (2006)
Figura 2 – Fatores que afetam a competitividade das organizações
4. Sistema Agroindustrial da Madeira no Estado de Mato Grosso
O Estado de Mato Grosso compreende aproximadamente 10% do território nacional, com
uma população de 2.854.642 habitantes (IBGE, 2007). Sua base econômica caracteriza-se
predominantemente na pecuária extensiva de corte e de leite, na agricultura extensiva de
alimentos básicos, na produção intensiva de milho, algodão e soja e na indústria madeireira.
Entre os sistemas produtivos de Mato Grosso, destaque para o segmento da indústria da
madeira, responsável pela produção de toras, madeira serrada, lâminas, chapa de compensado
e outros, participando com 12,1% do valor adicionado da indústria de transformação
(SEPLAN, 2008). Conforme Quadro 1, seguem alguns indicadores socioeconômicos da