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Comentário Bíblico Kretzman Mateus

Apr 08, 2018

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Eliézer Cunha
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  • 8/7/2019 Comentrio Bblico Kretzman Mateus

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    C A P I T U L O 2 1

    A Entrada de Cristo em Jerusalm, Mt.21.1-11.

    V.1) Quando se aproximaram de Jerusalm e chegaram a Betfag, ao Monte das Oliveiras,

    enviou Jesus dois discpulos, dizendo-lhes: 2) Ide aldeia que a est diante de vs e logoachareis presa uma jumenta, e com ela um jumentinho. Desprendei-a e trazei-mos. 3) E se algumvos disser alguma coisa, respondei-lhe que o Senhor precisa deles. E logo os enviar. Jesus,depois do milagre de Jeric, foi direto a Betnia, pequeno povoado no lado leste do Monte dasOliveiras. Havia ressuscitado da morte seu amigo Lzaro, o que intensificou muito o dio dosfariseus e dos principais dos sacerdotes, Jo.11.23. Nesta ocasio o Senhor chegou num sbado aBetnia e passou o dia na casa de Simo o leproso. No jantar que l lhe serviram, Maria o ungiupara o seu sepultamento, Jo.12.7. Jesus continuou sua viagem na manh seguinte. Mas as notciasde sua vinda haviam alcanado Jerusalm, e muitos dos peregrinos, que haviam vindo festa,deixaram a cidade para encontr-lo, cantando os hinos jubilosos que eram entoados em ocasiesfestivas. Hosana! Bendito o Rei de Israel que vem em o nome do Senhor, Jo.12.12,13. Jesus veiocom os primeiros da multido a Betfag que a casa de figos, uma pequena vila na ladeira

    sudeste do Monte das Oliveiras, quase vizinha a Betnia, na mesma estrada para Jerusalm. Naentrada deste pequeno povoado, Jesus parou por algum tempo, com o objetivo de enviar dois dosdiscpulos como delegao sua. D-lhes diretrizes claras: Na localidade em frente deles, achariamlogo e sem dificuldades, atada uma jumenta tendo consigo o potro. Sem pedirem licena, deviamdesatar e traz-los, como se fossem eles os seus donos. Caso, os donos ou alguma outra pessoafossem protestar quanto ao seu direito de levar os animais, a simples palavra: O Senhor precisadeles, tendo seus motivos para quer-los, (esta palavra) serviria como senha e faria com que osdonos obedecessem em submisso imediata e grata. Trs pontos importantes: O Senhor sabia queos animais estavam no lugar indicado, e mais uma vez aproveitou a ocasio para convencer seusdiscpulos de que nada lhe era oculto. Sua Palavra tem poder e autoridade onipotentes. Tal como asocorrncias do futuro instantaneamente lhe esto manifestas, assim ele, o Senhor a quem todas ascoisas pertencem, pode, mesmo distncia, influenciar o corao do dono para que se submeta

    sua vontade. Os dois discpulos estiveram totalmente no escuro quanto finalidade de sua misso,Jo.12.16, e, sem dvida, cumpriram com grande relutncia a sua ordem, que os poderia colocar emdificuldades desagradveis. Foram, porm, submissos sua palavra, porque de experinciasouberam que ele removeria quaisquer perigos.Bem da mesma forma os discpulos de Cristo detodos os tempos podem confiar inteiramente na Palavra de seu Senhor onipotente e onisciente,sabendo que, mesmo nos caminhos escuros, sua autoridade os preserva.

    A profecia cumprida: V.4) Ora, isto aconteceu, para se cumprir o que foi dito, porintermdio do profeta: 5) Dizei filha de Sio: Eis a te vem o teu Rei, humilde, montado emjumento, num jumentinho, cria de animal de carga. O acontecimento inteiro, com todos os seusincidentes, ocorreu desta forma para que a palavra do profeta, Zc.9.9, fosse cumprida. Cf.Is.62.11.A citao feita pelo evangelista feita de modo livre, incorporando tudo o que o AntigoTestamento diz da mansido e humildade deste Rei dos reis. Cristo, com isto, desaprova todas asidias e esperanas messinicas carnais e vulgares. Ele fez sua entrada na cidade que logo mais orejeitaria por completo, no no modo de um heri conquistador, como o esperavam os habitantesmundanos de Jerusalm, mas num asno, e no potro dum asno. Este foi um ltimo grande dia demisericrdia para a cidade, para que todos os habitantes pudessem conhecer o Redentor, mas elesno consideraram isto como algo que pertencesse sua paz. Porm, tanto maior seria a impressoque a vinda do Rei da graa faria aos coraes de seus crentes. isto, a que o evangelistaadmoesta pregarmos, quando diz: Dizei filha de Sio: Eis a o teu Rei vem a ti, manso. , comose dissesse: Ele vem para o teu bem, para a tua paz, para a salvao e a alegria do teu corao. E,porque no o creram, ele profetiza que isso devia ser falado e pregado. Todo aquele que cr, queCristo vem assim, este o tem desta forma. que pregao singular que hoje quase desconhecida!

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    Assinalem bem cada palavra. A palavra eis uma palavra de alegria e admoestao, e se refere aalgo que ansiosamente se esperou por muito tempo. Teu Rei, que destri o tirano de tuaconscincia, a saber, a lei, e te governa em paz e de modo muito agradvel, dando-te perdo dospecados e a fora de cumprir a lei. Teu, isto , prometido a ti, por quem tu esperaste, a quem tu,carregado de pecados, clamaste, por quem suspiraste. Ele vem, de modo voluntrio, sem teumrito, unicamente por grande amor, pois tu no o trouxeste para c nem foste tu quem subiu ao

    cu, tu. no mereceste seu advento, mas ele deixou a sua propriedade e vem a ti que s aquele que indigno e que sob a compulso e o domnio da lei mereceste, como retribuio pelos teuspecados, nada mais do que castigo. A ti ele vem, isto , para o teu benefcio, com tudo o que delenecessitas. Ele vem para buscar a ti; vem somente para te servir e te fazer o bem. Ele no vem parao seu prprio bem, no para de ti buscar o que seu, como anteriormente o fazia a lei. Tu no tenso que a lei exige. Por isso ele vem para te dar o que seu, mas de ti ele no espera nada, a no serque tu permitas que teus pecados te sejam tirados e tu sejas salvo. ... O evangelista usa s a palavrahumilde mas omite as palavras justo e salvador. Pois na lngua hebraica a palavra pobre estaintimamente relacionada com a palavra humilde ou gentil. Os hebreus chamam de pobre umapessoa que pobre, modesta, humilde, inquieta e abatida de esprito. Todos os cristos sochamados, por isso, pobres nas Escrituras. Pois, de fato, manso e humilde aquele que noconsidera o mal que foi feito ao prximo nunca diferente do que sendo feito a ele prprio. Ele sente

    de modo apropriado o problema e, por isso, tem compaixo do prximo. O evangelista descreve aCristo como algum assim, que foi pobre e martirizado em nosso lugar, e que foi realmentehumilde, que veio oprimido pelo nosso mal mas que est pronto para nos socorrer com a maior detodas as misericrdias e com amor 1).

    A entrada triunfal: V.6) Indo os discpulos, e tendo feito como Jesus lhes ordenara, 7)trouxeram a jumenta e o jumentinho. Ento puseram em cima deles as suas vestes, e sobre elasJesus montou. 8) E a maior parte da multido estendeu as suas vestes pelo caminho, e outroscortavam ramos de rvores, espalhando-os pela estrada. 9) E as multides, tanto as que oprecediam, como as que o seguiam, clamavam: Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem emnome do Senhor! Hosana nas maiores alturas! Enquanto Jesus esperava junto entrada deBetfag, os discpulos cumpriram sua ordem, recebendo, como resultado, a confirmao de suaconfiana nele. Obedecer a sua Palavra nunca redundar em vergonha para o cristo. Os animais,quando levados ao Senhor, no estavam areados. Mas, neste momento, um xtase peculiar seapoderou dos discpulos e da multido que ia aumentando em nmero. Despindo, rpido, suasvestes exteriores, que era uma casaca solta, abriram-nas sobre o potro como assento para o Mestre.O exemplo dos primeiros discpulos foi contagioso. Todos os demais, bem como grande parte dopovo, tomaram as vestes e as espalharam sobre o caminho, como para receber um imperador ou reipotente. A agitao, todavia, se espalhou. Visto que muitos dos costumes das grandes festas, de vezem quando, eram transferidos de uma para a outra, o povo no hesitou, tambm desta vez, deemprestar os hbitos da festa dos tabernculos. Alguns do povo cortaram ou arrancaram galhos dasrvores ao longo da estrada, e os espalharam pelo cho para formarem um tapete de filhas para Elepassar. Mas o auge da exultao se deu no alto do Monte das Oliveiras. Aqui as fileiras dosprimeiros cantores se engrossaram com grandes multides de recm-chegados. E, enquanto estesiam adiante, outros seguiam aps o Senhor. E, numa exclamao antfona a aclamao jubilosa dopovo subia ao cu, quando cantavam trechos do grande Aleluia, com a doxologia usada em grandesfestas, Sl. 118.25,26. Proclamam-no de pblico como o Filho de Davi, como o verdadeiro Messias,e lhe desejam bnos e salvao do alto. Vindo de toda parte, o povo se juntava nestademonstrao em honra ao humilde Nazareno. Cheios de jbilo ofertavam suas vestes festivas, seusornamentos de festa, trouxeram ramos de palmeiras e abanavam as verdes capas da incipienteprimavera como expresso plena de sua alegria, de sua confisso do Senhor, o Messias. muitssimo triste que esta exultao s foi temporria, e que to de pressa foi esquecida. Contudo,ao menos por breve tempo, o Esprito do Senhor tomou posse do povo. Foi assim que Deus quis

    1 ) 105) Lutero, 12.1001-1003.

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    testemunhar a respeito de seu Filho, antes que a vergonha e o horror da cruz fosse colocado sobreele. O fato, ao mesmo tempo, foi proftico a respeito do tempo, quando toda lngua confessaria queJesus o Senhor.

    A recepo em Jerusalm: V.10) E, entrando ele em Jerusalm, toda a cidade se alvoroou,e perguntavam: Quem este? 11) E as multides clamavam: Este o profeta Jesus, de Nazar daGalilia. A demonstrao diante de Jesus continuou durante todo o trecho da descida do Monte das

    Oliveiras, sobre o vale do Cedrom, para dentro da cidade de Jerusalm. Como sempre acontecenestas circunstncias, a agitao se espalhou rapidamente e trouxe consigo a muitos que nadasabiam da real motivao. At a cidade de Jerusalm, com suas multides de peregrinos quehaviam vindo para a festa, foi em extremo movida, como se fosse por um terremoto. O entusiasmopopular irradiou a todas as classes do povo. Todos se perguntavam sobre a identidade do homemque, desta forma, entrou na cidade. Os habitantes de Jerusalm haviam tido abundncia deoportunidades para conhec-lo. Muitos, porm, haviam esquecido os grandes milagres realizadosem seu meio. Outros haviam vindo de longe, e nunca haviam entrado em contato com a obra emensagem gloriosa de Cristo. Em toda parte era anunciado publicamente diante dele, que ele eraJesus, o profeta de Nazar da Galilia. Seu conhecimento dele no era muito claro, e os quepossuam um conhecimento definido hesitavam confess-lo como tal em pblico. Proclamar econfess-lo como o Messias era uma empreitada perigosa na principal cidade dos judeus, visto que

    os principais dos sacerdotes e os membros do conselho haviam ameaado publicamente com aexcomunho aos que o fossem confessar. Da mesma maneira, em nossos dias, muitos que estosuficientemente dispostos a proclamar Cristo em meio grande multido, no se dispem a erguer-se em favor de Jesus, quando a confisso individual lhes possa causar desgosto e perseguio.

    Cristo Visita o Templo, Mt.21.12-16.

    V. 12) Tendo Jesus entrado no templo, expulsou a todos os que ali vendiam e compravam;tambm derrubou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. 13) E disse-lhes: Est escrito: A minha casa ser chamada casa de orao; vs, porm, a transformais emcovil de salteadores.Jesus, durante os primeiros dias dessa visita, que foi sua ltima semana emhumilhao sobre a terra, fez de Betnia sua sede. Passava os dias na cidade e retornava aos seusamigos para o pernoite. Foi na segunda-feira da semana santa, que Jesus, como j anteriormente,Jo.2.13-17, se sentiu muito atingido e magoado pelo estado das coisas no templo. Originalmente,cada pessoa que desejava trazer um sacrifcio ao templo tomava o animal do seu prprio rebanhoou manada. No curso do tempo, porm, foi feito uma mudana, devido, principalmente, s vriasrestries com respeito a adequao de diversos animais. Os funcionrios judeus de Jerusalm seadonaram da situao, comeando um comrcio de animais bem junto aos portes do templo e nosptios do mesmo. L era possvel encontrar os vrios animais para o sacrifcio, tais como touros,ovelhas, cabras, pombas e outros, que todos se enquadravam nas medidas da pureza levtica. E,tendo em vista que este negcio envolvia muito cmbio de dinheiro, desenvolveu0se um negcioformal de banco bem prximo do lugar sagrado. Uma cena estranha: O mugido do gado, o balidodas ovelhas e cordeiros, o arrulho das pombas, a gritaria dos vendedores, o tilintar do dinheiro tudo isto acontecia no lugar que era sagrado ao nome de Deus. Junte-se a isso o fato que ossacerdotes, muitas vezes, tiravam benefcio deste arranjo, exigindo uma boa percentagem por teremdado esta concesso, como diz Lutero, 2) e temos um quadro do comercialismo na igreja, como,dificilmente, podem ser reproduzidos, ainda que mais do que uma vez rivalizados na igreja.Avareza, coberta com o vu da piedade, uma daquelas coisas que Cristo olha com a maiorindignao em sua igreja.O negcio das coisas santas, ofertas simonacas, as trocas fraudulentas,um esprito mercenrio em funes sacras; encargos eclesisticos obtidos por lisonja, culto ouassessoramento, ou por qualquer outro meio que valha dinheiro; concesses de ttulos, nomeaes,

    2 ) 166) Lutero, 7.1054.

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    e eleies feitas por qualquer outro motivo do que a glria de Deus. Todas elas so profanaesfatais e malditas, das quais aquelas do templo eram s mera sombra3). Santa indignao tomouconta de Jesus, vendo a manifestao deste esprito blasfemo. E, na autoridade e dignidade doultrajado Filho de Deus, entrou a passos largos no ptio. Asperamente empurrou e expulsou osnegociantes. Irritado, derrubou as mesas dos vis banqueiros e dos vendedores de pombas,lembrando, ao mesmo tempo, o povo das palavras dos profetas, Is.56.7; Jr.7.11. O templo de

    Salomo havia sido construdo como uma casa de orao para todas as naes, 1.Rs.8, e a estruturaatual tambm devia ser uma casa de orao. Eles, porm, levados pelo seu esprito e prticasmercenrios, haviam-na tornado em covil de salteadores, em que defraudaes e logro estavam naordem do dia.

    A confisso das crianas: V. 14) Vieram a ele no templo cegos e coxos, e ele os curou. 15)Mas vendo os principais sacerdotes e os escribas as maravilhas que Jesus fazia, e os meninosclamando: Hosana ao Filho de Davi, indignaram-se, e perguntaram-lhe: 16) Ouves o que estesesto dizendo? Respondeu-lhes Jesus: Sim, nunca lestes: Da boca de pequeninos e crianas depeito tiraste perfeito louvor? O Senhor, mesmo nestes ltimos dias, continuou a obra de seuministrio de curar, no prprio ptio do templo, sendo o ptio dos gentios usado para vriasreunies. Os principais sacerdotes e escribas, temendo as multides, ainda que fervessem deindignao mortfera, na ocasio nada podiam fazer. Mas, quando as crianas que haviam vindo

    com seus pais para testemunhar o culto no templo e para passar a pscoa, comearam a entoar acano que, no dia anterior, havia irritado tanto aos ouvidos dos fariseus; quando suas vozes agudasecoaram no hosana de adorao e splica, foi demais aos funcionrios judeus. Irritados, inquiriramdele se, acaso, no o ouvia. Eles, na verdade, queriam dizer: Por que no te magoas com establasfmia? Pois, calar significa assentir e igualmente confessar que o canto delas expressa averdade. Jesus, contudo, teve pronta resposta. Acusam-no de surdo e que no ouvia. Ele os acusa decegueira, de no serem capazes de ver, ou de memria estulta, no sendo capazes de se lembrarem.Fartamente estava escrito, Sl.8.2, que pequeninos e crianas de peito cantariam a honra do Messias,e ele, com alegria, aceitou sua confisso. Isto confirmava as afirmaes elogiosas da multido arespeito de sua condio de Messias. Foi um tributo sobre sua misso junto s criancinhas. Eleest plenamente satisfeito com o louvor delas. Ele o aceita, e permite que o proclamem rei emIsrael, e que o reino de Israel era o seu reino e o seu povo. Isto os principais dos sacerdotes e osgrandes senhores de Jerusalm no podiam tolerar. Perturba-os, mais, o fato que clamam aleluia!no templo. Os milagres no os preocupam tanto. Permitem que ele faz ver os cegos, eretos osmancos, e outros milagres mais. Mas que tivesse desejado entrar na cidade, assentado num animal esob o canto e com pompa, e no se ter preocupado com eles a quem deveria ter pedido autorizao,isto no lhes agradou. Pois, todos os sismticos facilmente sabem julgar aos outros. So pessoasirascveis, que vem o cisco nos olhos dos outros, mas no se apercebem da trave em seus prpriosolhos. So da opinio que a realizao de milagres, de fato, algo, mas, por causa disso cantar queele um rei e senhor, isto no d um bom aspecto a um profeta. Se, de incio, tivesse ido aosprincipais sacerdotes e pedido permisso, tudo teria estado bem; mas que o faz sem sua permisso,no passando dum pobre, imprestvel e mendigo que nem mesmo um asno possua, se apresenta demodo to vigoroso e contra sua vontade, e nem se digna, ao menos, com um olhar lhes pedirpermisso, isto lhes intolervel e os afronta4).

    A Maldio da Figueira, Mt.21.17-22.

    V. 17) E, deixando-os, saiu da cidade para Betnia, onde pernoitou. 18) Cedo de manh,ao voltar para a cidade, teve fome; 19) e, vendo uma figueira beira do caminho, aproximou-sedela; e, no tendo achado seno folhas, disse-lhe: Nunca mais nasa fruto de ti. E a figueira secou

    3 ) 167) Quesnel, citado por Clarke, Commentary, 5.202.4 ) 168) Lutero, 7.1075.

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    imediatamente. Mateus, aqui, combina o relato de duas jornadas matutinas de Betnia, por causa danfase sobre o todo. Quanto aos inimigos, haviam sido calados pela citao feita por Jesus, e notinham o que dizer em pblico. E o Senhor tinha a permisso de ir e vir livremente entre Jerusalme Betnia. Foi na manh de segunda-feira, que Jesus teve fome, quando estava no caminho de maisou menos duas milhas para a capital. Uma figueira, linda e cheia de folhas, dava a entender quehavia frutos para comer. Mas, em chegando a ela, no encontrou mais que s folhas. O incidente

    lembrou a Jesus, provavelmente, duma lio. Poderia trazer ao conhecimento dos discpulos oantitipo desse figueira, que eram os principais sacerdotes e os escribas em sua conduta descrente,sim, de toda a nao dos judeus. Jesus, tambm teve em mente uma segunda lio, que ele deudiretamente aos discpulos. Na sua maldio, a figueira secou imediatamente desde as razes. Osdiscpulos, aparentemente, no fixaram o fato naquele momento. Foram com o Senhor a Jerusalm,que, em seu zelo pelo trabalho, nem mesmo se dera o tempo para um caf da manh em Betnia.

    A lio da figueira seca: V.) Vendo isto os discpulos, admiraram-se e exclamaram: Comosecou depressa a figueira! 21) Jesus, porm,lhes respondeu: Em verdade vos digo que, se tiverdesf e no duvidardes, no somente fareis o que foi feito figueira, mas at mesmo se a este montedisserdes: Ergue-te e lana-te no mar, tal suceder; 22) e tudo quanto pedirdes em orao,crendo, recebereis. Na manh de tera-feira a ateno dos discpulos foi despertada sobre a figueirasolitria que l estava de folhas secas, Mc.11.20. Externaram sua surpresa a Jesus, que ento lhes

    deu uma lio tirada do incidente, semelhante a do captulo 17.20. A f em Deus algo essencial aodiscpulo de Cristo, total confiana no poder todo-poderoso de Deus, que tem toda a criao em suamo. Deve ser uma f sem a menor dvida na eficcia da orao, com apoio total na onipotncia deDeus e sobre a ordem e a promessa de Deus, captulo 17.20. O caso da figueira coisa pequenapara uma tal f. Para uma tal f a remoo de montanhas, erradicar montanhas, como o Monte dasOliveiras, coisa certa. Diante do poder conquistador da f, todas as dificuldades e perplexidadesprecisam dobrar-se. E a f na boa vontade graciosa de Deus que o que mais essencial naorao certa e eficaz. Cristo, sempre de novo, enfatiza estes dois pontos: f inabalvel epersistncia importunadora.

    A Autoridade de Jesus, Mt.21.23-27.

    A pergunta dos ancios: V. 23) Tendo Jesus chegado ao templo, estando j ensinando,acercaram-se dele os principais sacerdotes e os ancios do povo, perguntando: Com queautoridade fazes estas coisas? E quem te deu essa autoridade? Os membros do sindrio judeu queera o grande conselho da igreja dos judeus, sempre eram zelosos sobre seus direitos e desconfiavamde qualquer um que se atrevia pensar e agir por si mesmo. O ponto de sua pergunta foi: Se tupretendes ter a autoridade de purificar o templo, se publicamente ensinas e curas no templo, d-nosuma prova do teu carter proftico, e prova que tens a misso de profeta de Deus. Era umressentimento tolo, e que, realmente, escancarava a cegueira dos lderes. Pois, Jesus havia dadoexemplos incontveis de seu poder proftico, tanto por milagres como pela sua pregao cheia deautoridade, como nenhum outro mestre de Israel possua. A demanda deles dupla: D-nosevidncias que, de fato, possuis esta autoridade, e, ento, satisfaze-nos quanto fonte da autoridadeque alegas ter. Queriam que ele lhes desse uma prestao de contas sobre todos os atos que fizeraem seu ministrio oficial.

    A resposta: V. 24) E Jesus lhes respondeu: Eu tambm vos farei uma pergunta; se meresponderdes, tambm eu vos direi com que autoridade fao estas coisas. 25) Donde era o batismode Joo? do cu ou dos homens? E discorriam entre si: Se dissermos: Do cu, ele nos dir: Entopor que no acreditastes nele? 26) E, se dissermos: Dos homens, para temer o povo, porquetodos consideram Joo como profeta. 27) Ento responderam a Jesus: No sabemos. E ele por suavez: Nem eu vos digo como que autoridade fao estas coisas. O mtodo de Cristo, respondendopergunta com pergunta, novamente se mostrou eficiente. Queria s informao sobre uma coisa.Caso a resposta a esta pergunta fosse dada, ele teria o prazer de dar-lhes a prestao que desejavam.

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    Sua pergunta, porm, os colocou num dilema sobre qual era a autoridade pela qual Joo Batistafizera a obra do seu ministrio, em especial seu ofcio de batizar. Discutiram o assunto muito entresi e avaliaram uma possvel resposta que no os comprometesse. Mas, s havia esta umaalternativa: Dum lado atrairiam a censura de Cristo, e do outro, o dio do povo. Se Joo tinhaautoridade divina para o seu batismo, no havia escusa para a sua oposio a ele, por sua recusa emcrer. Doutro lado, caso se atrevessem em expressar sua crena que Joo no tinha autoridade

    divina, o dio do povo, facilmente, poderia tornar a situao muito desagradvel para eles. Foi, porisso, que preferiram no responder, absolvendo a Jesus da necessidade de responder a sua pergunta.Havia na resposta, assim como Jesus a colocara, uma clara reprovao. Caso precisassem admitirque Joo tinha autoridade divina, muito mais o ensino e os milagres de Jesus argumentam que ele algum enviado por Deus. Descrer imoral. Os descrentes no podem negar a evidncia daEscritura, mas no querem aceitar a verdade. Por isso suas armas so as mentiras, as evasivas e asescusas.

    A Parbola dos Dois Filhos, Mt.21.28-32.

    V.) 28) E que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Chegando-se ao primeiro, disse:

    Filho, vai hoje trabalhar na vinha. 29) Ele respondeu: Sim, Senhor; porm no foi. 30) Dirigindo-se ao segundo, disse-lhe a mesma coisa. Mas este respondeu: No quero; depois, arrependido, foi.31a) Qual dos dois fez a vontade do pai? Disseram: O segundo. A distino moral que Jesus fezaqui, foi algo como que os prprios fariseus concordaram. Por isso sua verdade era tanto maisamarga para eles. Ambos os filhos foram abordados da mesma forma e com as mesmas palavras. Oque se tinha por piedoso diz que ir trabalhar, mas, apesar de seu aparente zelo e polidez, rejeitatanto a autoridade paterna como sua obedincia filia. O outro, quando abordado, rude e mal-educado e aparentemente cheio de mal-humorada desobedincia, mas, ainda assim, repensandomelhor, vai e trabalha para o pai. A resposta dos fariseus, por isso, no podia ser outra.

    A aplicao: V31b) Declarou-lhes Jesus: Em verdade vos digo que publicanos e meretrizesvos precedem no reino de Deus. 32) Porque Joo veio a vs outros no caminho da justia, e noacreditastes nele; ao passo que publicanos e meretrizes creram. Vs, porm, mesmo vendo istono vos arrependestes, afinal, para acreditardes nele. Os lderes dos judeus, pela resposta quederam a Jesus, haviam proferido a sua prpria sentena. Joo, em sua mensagem e em seu viver, foium pregador da justia, no havendo quem fosse maior do que ele. Mas a escria da sociedadejudaica, aqueles que haviam sido expulsos da sinagoga e j no eram mais membros da igrejajudaica, estes deram acolhida sua admoestao para o arrependimento. Estes, ao final, foramobedientes vontade do Pai celeste. Mas os fariseus e escribas, os principais sacerdotes e osancios, no aceitaram a pregao de Joo e nem a de Cristo. Sua prtica era ter a Palavra e a lei deDeus em suas bocas, mas seus coraes estavam longe da real obedincia vontade do Pai celeste.Um cristianismo que s de cabea e de boca, na verdade, no passa de desobedincia a Deus. Masaquele pobre pecador que reconhece sua culpa e se arrepende de seu pecado, por Deusreconhecido e tratado como um filho obediente, sendo seus pecados, cometidos no passado, j nomais lembrados.

    A Parbola dos Agricultores Maus, Mt.21.33-46.

    V. 33) Atentai noutra parbola. Havia um homem, dono de casa, que plantou uma vinha.Cercou-a de uma sebe, construiu nela um lagar, edificou-lhe uma torre e arrendou-a a unslavradores. Depois se ausentou do pas. 34) Ao tempo da colheita, enviou os seus servos aoslavradores, para receber os frutos que lhe tocavam. 35) E os lavradores, agarrando os servos,espancaram a um, mataram outro, e a outro apedrejaram. 36) Enviou ainda outros servos emmaior nmero; e trataram-nos da mesma forma. Jesus, sem dar ocasio aos judeus para objetarem,

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    introduz, com grande emoo, outra lio, com a deliberada inteno de faz-los enxergar suaprpria malcia e corrupo. O quadro que traa era muito familiar aos seus ouvintes. E ele sabiaque, de imediato, tambm enxergariam o significado, visto que o Antigo Testamento fala tantasvezes da vinha da igreja. Cristo d uma descrio detalhada do chefe, ou dona dos bens. Cf. Is.5.1-7; Sl.80.9-11. O objetivo era que eles no s produzissem fruto mas que este fosse da melhorqualidade. Plantou uma cerca viva ao redor para impedir que os animais selvagens pudessem

    arrancar e arrasar as videiras. Construiu um lagar, onde os cachos de uvas pudessem ser esmagados,e um tanque onde o suco pudesse ser armazenado. Construiu uma torre de vigia contra os ladres,fossem homens ou animais. Em suma, fez tudo o que se podia esperar dum cuidadoso proprietrioduma vinha. A seguir ele arrendou a vinha com participao nos lucros, pois precisava fazer longaviagem. Mas os que a tomaram em arrendamento eram maus. Em vez de pagarem os lucros dacolheita que pertencia ao seu senhor, trataram com desprezo e, at, mataram os servos que haviamsido enviados para trazer o lucro ao senhor. Cristo, propositalmente, retrata a maldade com umaintensidade dramtica.

    V. 37) E por ltimo enviou-lhes o seu prprio filho, dizendo: A meu filho respeitaro. 38)Mas os lavradores, vendo o filho, disseram entre si: Este o herdeiro; ora vamos, matemo-lo, eapoderemo-nos da sua herana. 39) E, agarrando-o, lanaram-no para fora da vinha e omataram. 40) Quando, pois, vier o senhor da vinha, que far queles lavradores? 41)

    Responderam-lhe: Far perecer horrivelmente a estes malvados, e arrendar a vinha a outroslavradores que lhe remetam os frutos nos seus devidos tempos. A pacincia do dono ainda no seesgotara. Decidiu por uma ltima medida para levar aqueles lavradores a tomarem conscincia, e,tambm, para conseguir o fruto do seu pomar. Pensou que, com certeza, iriam reverenciar oumostrar respeito a seu filho, e que sentissem muita vergonha sobre a sua conduta anterior, bemcomo um desejo sincero de recuperar a confiana de seu patro. Mas a maldade desses lavradoresexcedeu a medida costumeira. Eles, com malignidade verdadeiramente diablica, resolveram mataro herdeiro. Removendo ao herdeiro, esperavam tomar, sem qualquer oposio, a herana para si.Apossando-se dela. Jesus, tendo alcanado o auge de sua histria, fez uma pausa para perguntarpela opinio de seus ouvintes, quanto ao destino dos agricultores, quando o dono retornaria. Aresposta veio, sem hesitao, que ele, de modo muito impaciente, executaria aqueles servosindignos e maus, e confiaria sua vinha a agricultores honestos que lhe dariam, no tempo devido, arenda estipulada. Ao darem esta resposta, com a qual Jesus concordou integralmente, os membrosdo conselho dos judeus suas frontes ousadas em manifesta indignao sobre uma maldade toultrajante, ainda que sentissem que a parbola visasse a eles; mas, talvez, estavam cegos demaispara verem a analogia das palavras do Senhor. Mas, em qualquer dos casos, seu juzo foi umasentena de destruio sobre eles prprios e sobre todos aqueles de seu povo que os seguiamdeliberadamente em sua iniqidades, ou seja, em sua rejeio do Salvador.

    Pois, ao um relance de olho, j fica claro o sentido da parbola. O prprio Deus o Senhorda casa e de suas atividades. A vinha, tal como aparece nas passagens do Antigo Testamento, asua igreja, que ele plantou em meio ao povo de Israel, que era o seu povo escolhido. Ele dera a estanao a plenitude de sua benignidade e graa. Erguera uma sebe ao redor deles contra os gentios,que foi a lei cerimonial e forma teocrtica de governo. Dera-lhes a forte torre de sentinela do reinode Davi e seus descendentes. Dera-lhes todas as vantagens externas, que os habilitavam a atestarque eram uma nao santa. Mas o fruto que esperou no apareceu. Enviou a Samuel e outrosprofetas no tempo dos juzes. Enviou mais e maiores profetas, do que os de antes, com umapregao poderosa, e grandes sinais e prodgios. Mas, medida que o tempo passava, aumentava oabuso aos mensageiros, como vemos nos casos de Elias, Jeremias e Sacarias, 2.Cr.24.20; Mt.23.37;Jr.3.20; Hb.11.36-38; Lc.11.47-51. Depois de todos, enviou seu unignito e bem-amado Filho,esperando que a este reconheceriam como o seu representante pessoal e lhe dessem o respeito ereverncia que lhe so devidos. Eles, porm, endureceram seus coraes contra os seus ensinos econtra os seus milagres, reuniram-se para tramar o dio contra ele, e, finalmente, depois dumaformal excomunho, o mataram. Assim os lavradores, ou seja os membros proeminentes do povojudeu, em especial seus principais sacerdotes e ancios, os escribas e fariseus, rejeitaram o

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    conselho de Deus para com eles, e chamaram sobre si mesmos a condenao. E a vinha com seufruto, que o reino de Deus com as riquezas da sua misericrdia e amor, foi entregue aos gentiosque a aceitaram e que, desde ento, gozam suas bnos e, ao menos em certa medida, pagaramcom boas obras os lucros que Deus ordenava.

    A aplicao: V. 42) Perguntou-lhes Jesus: Nunca lestes nas Escrituras: A pedra que osconstrutores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular; isto procede do Senhor, e

    maravilhoso aos nossos olhos? 43) Portanto vos digo que o reino de Deus vos ser tirado e serentregue a um povo que lhe produza os respectivos frutos. 44) Todo o que cair sobre esta pedraficar em pedaos; e aquele sobre quem ela cair ficar reduzido a p. Cristo no mede palavras,mas aplica a parbola com fora impiedosa. Faz com que os membros do conselho judeu serecordem das palavras do profeta, Sl. 118.22. Os judeus foram os escolhidos construtores dotemplo espiritual de Deus. Mas uma das condies para poderem continuar neste trabalho, foi suaaceitao da pedra que fora selecionada por Deus para ser a principal pedra angular. Pelo milagreda ressurreio de Cristo foi julgada a sua rejeio de Cristo. Cristo se tornou a pedra angular daigreja do Novo Testamento, o fundamento da grande estrutura espiritual que ser completada noltimo dia, Ef.2.20-22. Jesus, dirigindo-se diretamente a eles, narra-lhes a destruio que podemesperar: a perda total de seus privilgios no reino, que ser entregue ao mundo gentio. E h, ainda,mais uma palavra que se aplica aqui, que a da pedra de tropeo e da rocha de ofensa, Is.8.14.

    Qualquer que se ofende nesta Pedra angular e cai sobre ela, esse ser despedaado. Mas se a Pedracair sobre algum pelo juzo de Deus, esse ser modo em p e espalhado ao vento, Lc.2.34,35. Noltimo dia, todos aqueles que se negaram obedecer ao Rei celeste e rejeitaram seu Filho, destaforma desprezando a graa que este lhes conseguiu, sero feitos em pedaos pela justia inexorvelde Deus. Mas, ser construdo sobre a Pedra crer em Cristo e que ele nosso Salvador. Se, pois,sou chamado ao evangelho e o aceito e nele creio, ento sou uma das pedras erguidas sobre ele esou considerado salvo, no por causa de mrito ou obra minha,... mas que sou edificado e colocadosobre a Pedra angular, o que acontece por meio da verdadeira f crist, tal como a prece dascrianas: Creio em Jesus Cristo, que foi concebido pelo Esprito Santo, nasceu de Maria, a virgem,sofreu sob Pncio Pilatos; ele Pedra polida e provada de esquina. Se nele creio, ento souedificado sobre ele e serei salvo, como diz Isaas: Aquele que crer no foge (nota: Aquele quenela cr no ser confundido, Rm.9.33). L o profeta expe claramente que ser edificado sobre elesignifica confiar em Cristo e crer nele5).

    O resultado: V. 45) Os principais sacerdotes e os fariseus, ouvindo estas parbolas,entenderam que era a respeito deles que Jesus falava; 46) e, conquanto buscassem prend-lo,temeram as multides, porque estas o consideravam como profeta. A estupidez real ou assumidadeles, tendo em vista a aplicao feita de modo to rude, precisou dar lugar ao entendimento. Mas,em lugar de se apartarem da perversidade de seus caminhos, s se intensificou a amargura de seudio. No ato teriam prendido a Jesus, se no tivessem temido o povo. Uma priso nesta hora teriagerado um levante, visto que grandes multides, reunidas nos ptios do templo bem como por todaa cidade, julgavam que ele era um profeta, e no teriam permitido que sofresse qualquer dano.

    Resumo: Jesus faz uma entrada triunfal em Jerusalm, expulsa os mercadores e cambistasdo templo, aceita o louvor das crianas, amaldioa a figueira, afirma sua autoridade e conta asparbolas dos dois filhos e dos agricultores maus.

    C A P I T U L O 2 2

    A Parbola da Festa de Casamento, Mt.22.1-14.

    5 ) 169) Lutero, 7.1102.

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    V.1) De novo entrou Jesus a falar por parbolas, dizendo-lhes: 2) O reino dos cus semelhante a um rei que celebrou as bodas de seu filho. 3) Ento enviou os seus servos a chamaros convidados para as bodas; mas estes no quiseram vir. 4) Enviou ainda outros servos, com esterecado: Dizei aos convidados: Eis que j preparei o meu banquete: os meus bois e cevados jforam abatidos, e tudo est pronto; vinde para as bodas. uma descrio vvida dos preparativoscuidadosos para uma festa oriental de casamento, para salientar a concluso moral na questo do

    reino de Deus. Pois, Cristo sempre teve um propsito claro, quando contava suas parbolas, que, namaioria dos casos, foi ensinar a qualificao certa para se tornar um membro de seu grande reino.Aprendemos, antes de tudo, que o reino dos cus o reino de Cristo, nosso Senhor, onde a Palavrae a f esto presentes. Neste reino nossa vida tem esperana e somos, de acordo com a Palavra e af, puros dos pecados e livres da morte e do inferno, ainda que somos nesta vida embaraados pelavelha casca e a carne indolente. A casca ainda no foi retirada e a carne ainda no foi removida.Isto ainda precisa ser feito. Ento haver para ns nada outro, do que vida, justia e salvao6).Este reino, assim como se apresenta no mundo ou em sua forma externa, semelhante a um homemque era um rei ilustre, um poderoso governante, que preparou uma festa de casamento para seufilho. Uma festa dessas no era acontecimento para uma hora ou duas, mas, muitas vezes, duravavrios dias, Jz.14.17. Na poca pr-estabelecida, servos foram enviados para anunciar o fato aosque haviam recebido um convite, provavelmente prncipes, e as pessoas ricas e poderosas do reino.

    Esta segunda chamada parece confirmar totalmente o costume oriental, Et.6.14. O resultado, tenhasido por comum acordo ou por mesquinhez pessoal, foi um flagrante no. O rei, porm, conservoua pacincia. Enviou ainda outros servos como uma mensagem mais urgente aos hspedesconvidados. Dirigem-lhes palavras tais que exaltam a festa, para lhes estimular o desejo em aceitara promessa. A ateno dos convidados devia ser despertada para fato que a refeio do meio-dia,com a qual as festas iniciavam, j lhes estava inteiramente preparada. Os bois e carneiros cevadoshaviam sido abatidos e cozidos, no faltando na mesa nenhuma das delcias. O bem-estar do rei nose esquecera de nada, no esforo de honrar tanto a si mesmo como a seus convidados.

    A rejeio: V. 5) Eles, porm, no se importaram, e se foram, um para o seu campo, outropara o seu negcio; 6) e os outros, agarrando os servos, os maltrataram e mataram. 7) O rei ficouirado e, enviando as suas tropas, exterminou aqueles assassinos e lhes incendiou a cidade.Estamos diante dum caso premeditada insolncia e insulto. Ficaram indiferentes diante do conviteurgente. Em sua maioria nem lhe prestaram ateno. Mas saram e se devotaram aos seus afazeresparticulares o proprietrio de terras sua lavoura, o negociante sua loja. Alguns dosconvidados, porm, no se deram por satisfeito com uma mera desaprovao e desprezo a uma festade bodas como esta. Voltaram seu rancor aos mensageiros. Tendo conseguido apanh-los, trataram-nos com todas as evidncias de desrespeito e, ao final, os mataram. Estes eram atos de clararebelio, que, naturalmente, foram seguidos pela guerra. O rei, profundamente irritado, enviou seusexrcitos e puniu os assassinos com a morte e com a queima de sua cidade. A recusa de vir festade casamento, juntamente com os atos de violncia contra os servos, se constituram em atos deatrevida desobedincia que, assim, foram corretamente punidos.

    Novos convidados: V.8) Ento disse aos seus servos: Est pronta a festa, mas osconvidados no eram dignos. 9) Ide, pois, para as encruzilhadas dos caminhos e convidai para asbodas a quantos encontrardes. 10) E, saindo aqueles servos pelas estradas, reuniram todos os queencontraram, maus e bons; e a sala do banquete ficou repleta de convidados. Ento, quando haviasido dado o relatrio do fracasso dos servos em persuadir aos primeiros convidados. Mas o tempopremia. Era preciso muita urgncia. Por isso deviam sair para as vias expressas e s encruzilhadasdos caminhos, fosse este um entroncamento donde os caminhos seguiam para todas as direes, ouprximo das entradas da cidade onde estradas de todas as direes se juntam. Em cada caso,estariam passando muitas pessoas em curto espao de tempo, e, assim, seria bem maior a chance deencontrar hspedes. Os servos no se deviam preocupar com qualquer seleo mais cuidadosa, emespecial, no quanto nacionalidade. Pois, os hspedes indignos deviam ser substitudos o quanto

    6) 170) Lutero, 13.926.

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    antes possvel por outros, quaisquer que encontrassem. Os servos seguiram a ordem ao p da letra.Saindo para as ruas e estradas, trouxeram a todos que encontraram, bons e maus, e a assemblianupcial dos que deviam participar dela se completou.

    A veste nupcial que faltou: V.11) Entrando, porm, o rei para ver os que estavam mesa,notou ali um homem que no trazia veste nupcial, 12) e perguntou-lhe: Amigo, como entraste aquisem veste nupcial? E ele emudeceu. 13) Ento ordenou o rei aos serventes: Amarrai-o de ps e

    mos, e lanai-o para fora, nas trevas; ali haver choro e ranger de dentes. 14) Porque muitos sochamados, mas poucos escolhidos. O rei estava muito satisfeito com o sucesso do seu plano e, logoque os convidados se haviam sentado e a festa de casamento estava em curso, ele entrou para dar asboas vindas a todos. Mas, enquanto seguia entre as fileiras de mesas, sua ateno caiu sobre umhomem que, mesmo estando reclinado com os demais mesa e participando da refeio, no estavavestido de vestes nupciais apropriadas. Isto no s era inescusvel, mas era insultuoso. Pois, oshspedes dos reis orientais sempre eram providos, em especial para uma ocasio como esta, comvestes festivas, sendo que hspedes ocasionais recebiam ateno especial neste ponto. Tambm eranatural, para ser igual dignidade da ocasio, que os hspedes tivessem cuidado especial com suasvestes, para no parecer que eram insensveis quanto honra recebida. No admira que, diante dapergunta surpresa do rei quanto maneira como conseguira penetrar sem ser observado,visto queele sabia muito bem que era requerida uma veste nupcial a qual, quando faltava, podia ser pedida e

    recebida facilmente, que o sujeito culpado sentisse sua voz trancada na garganta, sendo incapaz deuma s palavra como explicao ou defesa. Era um caso de desprezo doentio e deliberado dagenerosidade, da liberalidade do rei. Por isso o rei falou esta sentena sumria. Os servosreceberam ordens de amarrar ao infrator de mos e ps, a atir-lo para fora, nas trevas docalabouo, onde teria tempo suficiente para se arrepender de sua tolice com choro e ranger dedentes. Pois, conclui Jesus, muitos so chamados, mas poucos so escolhidos.

    A lio desta parbola semelhante da precedente. Sua primeira parte foi,provavelmente, entendida pelos judeus. Na segunda parte ela excedeu igreja judia, e contm umaadvertncia para todos os tempos. O prprio Deus o rei. A festa nupcial a do reino do Messias,as bodas do Cordeiro. O primeiro convite foi feito ao povo escolhido do Antigo Testamento,formado pela nao dos judeus. Os profetas, em nmero sempre crescente, vieram para ele,trazendo mensagens sempre mais claras. Depois, vieram Joo Batista e o prprio Cristo, e osapstolos com sua mensagem urgente de arrependimento e salvao. Mas a resposta que veio foiindiferena, dio, blasfmia e assassinato. Ento a pacincia de Deus cansou. Seu juzo foiexecutado sobre Jerusalm e nao judaica, tendo os romanos sob Vespaciano e Tito sitiado suacapital e destrudo tanto ao templo como a cidade, no ano 70 AD. O Senhor, desde aquele tempo,de modo fidelssimo tentou conseguir outros hspedes para a sua festa nupcial. Seus mensageirossaram pelas vias expressas e estradas secundrias das naes gentias de todo o mundo. A igrejacrist se espalhou praticamente e todos os pases da terra. Pessoas de todas as lnguas foramcongregadas no grande salo da festa nupcial do Cordeiro. Bons e maus, hipcritas e cristossinceros, foram reunidos na comunho exterior, conhecida como a igreja visvel. Chegou, porm, ahora para o Rei fazer a sua avaliao. Ele providenciou, poro meio de seu Filho Jesus Cristo, umaveste nupcial de justia e pureza sem mcula para cada um que foi chamado para a festa. Suamisericrdia e graa, de fato, so livres para todas as pessoas, mas que no podem participar daceia, sem, primeiro, terem aceitado esta veste nupcial para encobrir a imundcie e nudez do seupecado. Ele revelar a trapaa, caso no for antes, ento, certamente, no grande dia do julgamento.E o insulto ao amor de Deus ser corretamente punido, sendo toda e qualquer pessoa que pe suaconfiana em seus prprios mritos e obras ser lanada no calabouo do inferno e seus tormentoseternos. Este ser o castigo de que o tem da visitao no foi reconhecido nem aceito, que fomosconvidados e tivemos Sacramento, Batismo, evangelho e a absolvio, mas, ainda assim, no ocremos nem nos servimos deles. Que bom seria se Deus e o amado Senhor nos ensinassem de modoto pleno e nos levassem a ponto de reconhecermos a misericrdia imenso que temos recebido,sendo convidados a uma festa to bendita, onde certamente acharemos salvao do pecado, dodiabo, da morte e da eterna lamentao! Aquele que se nega a aceitar isso de corao agradecido,

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    esse ter em lugar dela a morte eterna. Porque ser verdade um dos dois: Ou receber o evangelho ecrer e ser salvo, ou no crer e ser eternamente condenado7).

    A Pergunta Sobre o Imposto, Mt.22.15-22.

    Um elogio no sincero: V.15) Ento, retirando-se os fariseus, consultaram entre si como osurpreenderiam em alguma palavra. 16) E enviaram-lhe discpulos, juntamente com osherodianos, para dizer-lhe: Mestre, sabemos que s verdadeiro e que ensinas o caminho de Deus,de acordo com a verdade, sem te importares com quem quer que seja, porque no olhas aaparncia dos homens. Os fariseus, mais uma vez, haviam sentido a ardncia da aplicao daltima parbola, mas isto no lhes melhorou o temperamento. A fora est fora de cogitao, porcausa do povo. Por isso buscavam jeito e meios para encontrar um pergunta capciosa, cuja respostapudesse ter como resultado a provocao do dio do povo comum e a averiguao do governoromano. A propsito planejam e buscam alguma questo que lhes possa servir para este fim. Tendoachado uma que, em sua opinio, foi adequada, tentaram, primeiro, desviar a ateno de Jesus,jogando em seus olhos a areia do elogio. Isto, contudo, quando muito, foi uma tentativa frustrada,quando se tem em mente a oniscincia de Cristo. Enviam alguns dos seus discpulos, juntamente

    com os horodianos. Os ltimos pertenciam a uma seita ou faco que na crena se assemelhavacom os saduceus, mas que em sua organizao eram fortemente polticos. Conforme os relatos maisconfiveis, surgiram no tempo de Herodes o Grande, e fomentavam a idia dum reino nacional soba dinastia herodiana. Tendo como sua fora o conhecimento, a riqueza e a influncia, com suasesperanas polticas no podiam ser ignorados como aliados dos fariseus e dos saduceus. Parecemter sido talhados para fazer parte desta delegao para que o plano no fosse to aparente. A coisamais estranha foi, que suas palavras foram plenamente verdadeiras. Jesus, sendo a prpria verdade,realmente ensinava o verdadeiro caminho de Deus e para Deus. Era plenamente apartidrio emrelao a todos e no tinha a menor hesitao, quando preciso, de expressar sua opinio diante detodos. Mas na boca desses inimigos, estes fatos se tornaram zombaria e malcia vazia, e uma lisonjafalsa que buscava enganar e iludir. Era a hipocrisia mais falsa e diablica.

    A pergunta e a rplica: V.17) Dize-nos, pois, que te parece? lcito pagar tributo a Csar,ou no? 18) Jesus, porm, conhecendo-lhes a malcia, respondeu: Por que me experimentais,hipcritas? 19) Mostrai-me a moeda do tributo. Trouxeram-lhe um denrio. 20) E ele lhesperguntou: De quem esta efgie e inscrio? 21) Responderam: De Csar. Ento lhes disse: Da,pois, a Csar o que de Csar, e a Deus o que de Deus. 22) Ouvindo isto, se admiraram e,deixando-o, foram-se. Sua pergunta ecoa, como se eles fossem uns inocentes e inofensivos, que tos perguntavam pela opinio dum respeitado mestre, desejando saber se era certo, apropriado, ouseja, se assim podia ser feito, pagar imposto ou taxa por cabea ao imperador romano.A dificuldadeda pergunta est nisso, que ela foi feita segundo o ponto de vista da religio: Ser que no podiaacontecer que quem pagava este imposto corra o perigo de entrar em conflito com Deus e com seudever para com a igreja? Sem dvida, esperavam que Jesus se declarasse contra o pagamento doimposto, o que lhes daria motivos para o denunciarem como rebelde diante do governador romano.Do outro lado, se favorecesse o pagamento deste imposto to questionado, facilmente, podiamlanar sobre ele a suspeio de que era amigo e agente do governo romano e que no tinha o amoradequado para com os privilgios dos judeus como o povo escolhido de Deus. Cristo, porm, esteveciente de sua perversidade. Diz-lhes que so hipcritas, tentando mascarar seu ataque sob aaparncia duma cortesia sincera. Mas eram maus atores tentando-o para o desviar do trilho de seuministrio. Ordena que lhe mostrem uma moeda do censo, que era a moeda com que se pagava estataxa. Quando lhe mostraram um denrio, a moeda romana de prata que tinha a imagem e inscriode Csar, que valia uns dezessete cents em dinheiro americano, de pronto lhes deu sua deciso: Oque de Csar dem a Csar, o que de Deus dem para Deus. uma regra simples e muito

    7) 171) Lutero, 13.938.

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    eficiente para conservar clara e definida a distino entre igreja e estado. Foi uma resposta que ossilenciou por completo, e que sobre esta questo to controvertida forneceu a informaonecessria para todos os tempos. O povo de Deus, acima de tudo, devia dar a Deus a honra e aobedincia devidas. Em tudo o que diz respeito a Palavra de Deus, o prprio culto, a f econscincia, to somente obedecemos a Deus e no consideramos as objees das pessoas. Mas emcoisas meramente temporais e terrenas, que se relacionam a dinheiro, posses, corpo e vida,

    obedecemos ao governo do pas em que vivemos. Mesmo que no fossem dignos, ainda assim oSenhor lhes ensinou o caminho certo. Com estas palavras ele tambm confirma a espada temporal.Eles esperavam que Cristo o condenasse e argumentaria contra ele. Ele, porm, no faz nada disso,mas elogia ao governo civil e lhes ordena que lhe dem o que lhe pertence. Com isto afirma que suavontade que haja governo, prncipes e senhores, aos quais devemos obedincia, sejam eles queme o que quer que sejam. E no nos cabe perguntar se eles, de modo justo ou injusto, tm econservam em suas mos o regime e o governo. Cabe-nos, to s, preocupar-nos com o poder dogoverno, e esse bom, pois foi ordenado e institudo por Deus, Rm.13.1. No deves atrever-te ainsultar ao governo, pelo fato de, ocasionalmente, seres oprimido por prncipes e tiranos, e quandoeles abusam do poder que receberam de Deus. Pois, disso certamente devero prestar contas. Oabuso de algo no o torna mau, quando bom em si mesmo....Mas, e como seria, se eles nosquisessem tirar o evangelho, ou proibir sua proclamao? Ento te cabe dizer: No te entregarei o

    evangelho e a Palavra de Deus, e no tens poder nenhum sobre isto; pois teu governo um governotemporal sobre bens terrenos, o evangelho, porm, uma posse celeste; por isso o teu poder no seestende sobre o evangelho e a Palavra de Deus. ... Esse no devemos entregar, visto que o poderde Deus, Rm.1.16; 1.Co.1.18, contra o qual nem mesmo as portas do inferno prevalecero,Mt.16.18. Por isso o Senhor, habilmente, condensa estes dois pontos, e, num s versculo, os separaum do outro, e diz: Da, pois, a Csar o que de Csar, e a Deus o que de Deus. Pertence a Deusa sua honra, que eu nele creia como sendo o Deus verdadeiro, todo-poderoso e sbio, e confesseque ele o autor de todas as coisas boas. Mesmo, porm, que no lhe d esta honra, ele a detm. Ofato que tu o honrares, no a aumenta nem diminui. Em mim, contudo, ele verdadeiro, todo-poderoso e sbio, quando assim o considero e creio que ele assim como ele prprio o confirma desi mesmo. Mas ao governo devido temor, imposto, tributo, taxa e obedincia. O que Deus quer ocorao. O corpo e os bens esto sob o governo que, em lugar de Deus, deve governar sobre eles8).

    A Pergunta dos Saduceus, Mt.22.23-33.

    V. 23) Naquele dia aproximaram-se dele alguns saduceus, que dizem no haverressurreio, e lhe perguntaram: 24) Mestre, Moiss disse: Se algum morrer, no tendo filhos,seu irmo casar com a vive e suscitar descendncia ao falecido. 25) Ora, havia entre ns seteirmos; o primeiro, tendo casado, morreu, e no tendo descendncia, deixou sua mulher a seuirmo; 26) o mesmo sucedeu com o segundo, com o terceiro, at ao stimo; 27) depois de todoseles, morreu tambm a mulher. 28) Portanto, na ressurreio, de qual dos sete ser ela esposa?Porque todos a desposaram. Os herodianos e os discpulos dos fariseus haviam sido silenciados.Este fato, porm, pareceu como um desafio aos saduceus que se gloriavam de sua sagacidade. Esteshomens no s vieram em seu esprito de malcia mas com a inteno de ridicularizar a Cristo.Pois, pessoalmente, no acreditavam na ressurreio, como observa Mateus, e tambm saceitavam os cinco livros de Moiss como palavras autnticas de Deus. Jesus estava bem ciente dasduas coisas, e aqui ele se usou desse seu conhecimento para frustr-los. Contam uma histria, quetem todos os sinais inequvocos de ter sido inventada para esta ocasio, e citam Moiss, Gn.38.8;Dt.25.5,6, em apoio sua pergunta. Era o assim chamado casamento do levirado, a que sereferiram.Conforme este, fora ordenado para a preservao das famlias, que, se um homem morreusem deixar filhos, seu irmo devia casar a viva, e que o primognito fosse registrado como sendo

    8 ) 172) Lutero, 11.1813,1814; 13.2508-2514.

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    filho do irmo falecido. Os saduceus, propositalmente, contam a histria do modo como a contam,para expressar a loucura da situao que, em sua opinio, haver depois da ressurreio: Esposa dequem ser ela? Pois, todos os irmos tm os mesmos direitos.

    A resposta de Cristo: V.29) Respondeu-lhes Jesus: Errais, no conhecendo as Escriturasnem o poder de Deus. 30) Porque na ressurreio nem casam nem se do em casamento; so,porm, como os anjos no cu. Jesus, de modo completamente imparcial, mas com uma nfase que

    atropela, d-lhes a resposta: Todos estais em erro, e isto, porque no conheceis nem os fatos daEscritura nem o poder de Deus. Segundo os primeiros, deviam ter conhecido o fato que aressurreio afirmada no Antigo Testamento. Conforme o segundo, deviam ter conhecido queDeus capaz de ressuscitar da morte. Notemos: A pergunta deles uma questo secundria paraCristo. Interessa-lhe muito mais o motivo da pergunta. At ao ponto que a histria deles vai, adificuldade que, como eles, de modo zombeteiro, sugerem, existe caso houver uma ressurreio,nem to grande. Cristo lhes diz, que no cu os crentes ressuscitados sero assexuados, sero comoos anjos, visto no haver mais necessidade para casar, por estarem no passado tanto a procriao defilhos como os desejos sexuais do corpo.

    Prova da ressurreio: V.31) E, quanto ressurreio dos mortos, no tendes lido o queDeus vos declarou: 32) Eu sou o Deus de Abrao, o Deus de Isaque e o Deus de Jac? Ele no Deus de mortos, e, sim, de vivos. 33) Ouvindo isto, as multides se maravilhavam da sua doutrina.

    um pedacinho de explicao bblica, que to irrefutvel como surpreendente. O mtodo deCristo inclui uma censura maneira deles de ler, sem nenhum entendimento, os livros de Moiss:Sois ignorantes nos prprios livros, que confessais serem sagrados, em que o Senhor faladiretamente convosco. Foi no Monte Horebe que o Senhor disse estas palavras a Moiss, Ex.3.6,16.Se os patriarcas estavam mortos, tanto de corpo como de alma, se estavam aniquilados e j nomais existiam, como podia Deus se chamar seu Deus, ele que o Deus s dos vivos? Os mortosressuscitados, conforme suas almas, vivem com Deus no cu. Esto realmente vivos, e no ltimodia suas almas sero reunificadas com o corpo para viverem para sempre na morada dos anjos, e demaneira muito semelhante a eles. No de admirar que o povo, todos quantos estavam reunidoscom ele e ouviram sua discusso com eles, estavam muito admirados com este pedacinho dedoutrina to clara. Vede, quem podia ter pensado que nestas palavras to breves, simples ecomuns, tanto podia ser contido e pudesse produzir um sermo to excelente e rico, sim, que delepudesse ser derivado um livro volumoso e vigoroso. Eles bem que sabiam estas palavras, mas nocriam que em todos os livros de Moiss se pudesse encontrar uma s palavra sobre a ressurreiodos mortos. Esta opinio os moveu a aderirem s a Moiss mas a rejeitarem aos profetas, ainda queestes tiravam de Moiss seus sermes sobre os artigos principais da f de Cristo9).

    O Emudecer dos Fariseus, Mt.22.34-46.

    Informao pedida e dada: V.34) Entretanto os fariseus, sabendo que ele fizera calar ossaduceus, reuniram0se em conselho. 35) E um deles, intrprete da lei, experimentando-o, lheperguntou: 36) Mestre, qual o grande mandamento na lei^37) Respondeu-lhe Jesus: Amars oSenhor teu Deus de todo o teu corao, de toda alma, e de todo o teu entendimento. 38) Este ogrande e primeiro mandamento. 39) O segundo, semelhante a este, : Amars o teu prximo comoa ti mesmo. 40) Destes dois mandamentos dependem toda alei e os profetas. Os saduceus haviamsido silenciados de modo muito eficiente, j no tendo eles mais nada a dizer. Com isto a antigarivalidade entre as duas seitas entrou em jogo. Se os membros duma delas tivessem o sucesso de,em algum argumento, derrotar a Jesus, isto seria motivo de orgulho para todo o partido. Por isso,os fariseus resolveram encontrar um ponto em que poderiam triunfar sobre o Senhor. Reuniram0see, por fim, concordaram sobre uma questo, cuja resposta certamente o comprometeria. De modo

    9 ) 173) Lutero, 11.674; 7.1125-1127.

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    muito srio, como se fossem muito sinceros em seu desejo pela verdade, seu porta-voz, que eraalgum bem versado na lei, apresenta a questo: Qual o grande mandamento, o mais importante,ou aquele do qual tudo depende? Seu desejo est claro. Caso Jesus fosse selecionar a algumpreceito da lei e coloc-lo acima dos demais, poderia ser acusado de colocar os demaismandamentos numa posio inferior e menosprezar sua validade. Cristo, porm, evita a cilada aodar um resumo de toda a lei, colocando os da primeira taboa em primeiro lugar e, logo ao seu lado,

    os da segunda taboa. O amor a Deus o cumprimento da lei. Mas precisam ser seus o corao todo,a alma toda e o entendimento todo, Dt.6.5. Razo e intelecto, sentimento e paixo, pensamento evontade precisam ser entregues ao seu servio. Toma, pois, este mandamento perante ti: Amars oSenhor teu Deus, de todo o teu corao, e reflete sobre isso, vai sua procura, e tenta entend-lo,para saber que espcie de lei esta, e quo distante ainda ests de cumprir este mandamento; sim,que realmente ainda no comeaste a cumpri-lo de modo correto, a saber, de em teu coraosuportar e abandonar o que Deus requer de ti. pura hipocrisia, quando algum se recolhe a umcanto e pensa: Sim, quero amar a Deus! Oh! quo ternamente ama a Deus: Ele meu Pai! Oh! quobem-intencionado meu sentimento em relao a ele! E coisas semelhantes. verdade, quando Eleage conforme o que nos agrada, somos capazes de dizer muitas dessas palavras, mias, quando, derepente, nos envia o infortnio e a adversidade, j no mais o consideramos como Deus e um Pai.Um amor verdadeiro a Deus no age assim, mas o sente no corao e o expressa com a boca:

    Senhor Deus, sou tua criatura, age comigo segundo o que tu queres, para mim tudo o mesmo; poiseu sou teu, isto o que sei; e caso for da tua vontade que eu deva morrer agora mesmo ou sofrer umgrande infortnio, deverei suport-lo de corao; nunca deverei considerar minha vida, honra ebens e tudo quanto tenho mais alto e valioso do que tua vontade, a qual me deve ser um prazer emtodo o meu viver (Lutero). Este o primeiro mandamento, aquele com que inicia a santificao. Eele grande, visto que inclui todos os demais mandamentos. Mas o segundo semelhante a ele,Lv.19.18,34, visto que, pelo cumprimento da sua lei, traz o amor a Deus para a forma visvel etangvel, no relacionamento com o prximo. Assim como cada pessoa tem por natureza o desejoque lhe sobrevenha unicamente o que bom e agradvel, assim ela devia empenhar-se, por meio deseu total relacionamento com o prximo, de lhe render e prover, sempre que possvel, as mesmascoisas aprazveis e agradveis. Toda a lei e os profetas dependem destes dois mandamentos. A fno corao encontra sua expresso no fazer a vontade de Deus, e a santificao da vida inicia e sefunda em amar a Deus e ao semelhante. O amor o cumprimento da lei, Rm.13.10.

    A Contra-pergunta de Jesus: V. 41) Reunidos os fariseus, interrogou-os Jesus: 42) Quepensais vs de Cristo0? De quem filho? Responderam-lhe eles: De Davi. O ataque dos fariseusfalhara. Seu prprio porta-vos fora obrigado a admitir a verdade da resposta de Cristo,Mc.12.32,33. Agora Cristo se volta ao ataque apresentando uma pergunta que espetaria seusadversrios nos chifres dum verdadeiro dilema. Sua pergunta se refere filiao de Cristo, doMessias. De qual famlia deve ele se originar? o assunto mais momentoso de investigao diantedo mundo, no s no tempo de Cristo, mas em todos os tempos. Conforme as pessoas decidem suaavaliao de Cristo, assim ser decidido seu destino. Um mero conhecimento intelectual e umamera confisso de lbios, como acontecia com os fariseus que sabiam responder bemdesembaraado mas s de modo mecnico, no bastam ao verdadeiro cristo, como o Senhorprocede a demonstrar nesta ocasio.

    Forando a concluso: V. 43) Replicou-lhes Jesus: Como, pois, Davi, pelo Esprito, chama-lhe Senhor, dizendo: 44) Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te minha direita, at que euponha os teus inimigos debaixo dos teus ps? 45) Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como ele seufilho? 46) E ningum lhe podia responder palavra, nem ousou algum, a partir daquele dia, fazer-lhe perguntas. A propsito, afirmado tantas vezes no Antigo Testamento que o Messias foi umdescendente de Davi, que cada judeu estava acostumado a cham-lo por este nome. Os fariseus,porm, nunca haviam comparado as vrias passagens sobre o Messias, sua pessoa e obra, e, por estemotivo, ignoravam sua misso. O fato da dupla natureza unida em Cristo foi claramente ensinadono Antigo Testamento, mas os olhos deles estavam cegados por suas esperanas e aspiraes falsas.Jesus refere somente a este fato, que Davi, Sl.110.1, o chama seu Senhor: Se, pois, Davi, diz ele, o

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    chama Senhor, como ele seu filho? Soa estranho e contrrio natureza que um chame seu filhode seu senhor, e que se lhe torne submisso e o sirva. Ora, Davi chama a Cristo seu Senhor, e um talSenhor para quem o prprio Deus diz: Senta-te minha direita, etc., isto : S igual a mim,conhecido e adorado como o verdadeiro Deus; pois na cadeira de Deus ou sua mo direitaningum outro tem o direito de se assentar. Ele um Deus to zeloso que permitir a ningumoutro sentar0se como seu igual ao seu lado, como ele o diz no profeta Isaas, captulo 48.11: A

    minha glria no a dou a outrem, etc. Visto, pois, que ele coloca Cristo no mesmo nvel consigo,este ltimo precisa ser mais do que todas as criaturas10). Ser o Senhor das alturas, igual a Deus,mas tambm ser, segundo a carne, o Filho de Davi, ter a divindade e a humanidade unidas em umas pessoa, este o Messias da profecia. O imenso conforto dos fiis de todos os tempos era algoque os sbios judeus no conseguiam entender nem explicar, e foi isso que os fez emudecer e ficarmuito confusos. Apreciar a pessoa de Cristo e saber que ele o Filho de Davi; pois ele umhomem mas tambm um Senhor de Davi, como aquele que est sentado mo direita de Deus etem seus inimigos, o pecado, a morte e o inferno como estrado de seus ps. Por isso, aquele quenecessita de resgate destes inimigos, que no o busque em Moiss, no por meio da lei, de suasprprias obras e piedade; mas que o busque com o Filho e Senhor de Davi, onde, com certeza, oencontrar. Os cegos fariseus no sabem isto, por isso no respeitam a Cristo o Senhor; mas se dopor satisfeitos com o que sabem base da lei, sobre como se deve amar a Deus e ao prximo. Mas

    impossvel conhecer a Deus, muito menos amar a Deus, caso no se conhece Cristo., Como eleprprio diz, Mt.11.27: Ningum conhece o Pai seno o Filho, e aquele a quem o Filho o quiserrevelar. ... Mas aqui enxergamos as riquezas da bondade e misericrdia superabundantes de Deus,que Deus no poupou a seu prprio Filho unignito mas o entrega por ns morte de cruz, para quens, libertos dos pecados, vivssemos eternamente por meio dele. Este um amor e misericrdiaeterna, ilimitada e insondvel, que nenhuma pessoa pode conhecer a no ser que conhea aCristo11).

    Resumo: Jesus conta a parbola da festa de casamento, responde a pergunta dosherodianos sobre o dinheiro do imposto, condena os saduceus que negavam a ressurreio, d aosfariseus a informao apropriada quanto ao maior dos mandamentos, e dirige uma pergunta sobre anatureza dupla do Messias a qual eles no so capazes de responder.

    C A P I T U L O 2 3

    A Ambio desordenada dos Fariseus, Mt.23.1-12.

    A hipocrisia nos altos escales: V.1) Ento falou Jesus s multides e aos seus discpulos:2) Na cadeira de Moiss se assentam os escribas e os fariseus. 3) Fazei e guardai, pois, tudoquanto eles vos disserem, porm no os imiteis nas suas obras; porque dizem e no fazem. 4) Atamfardos pesados e difceis de carregar e os pem sobre os ombros dos homens, entretanto elesmesmos nem com o dedo querem mov-los. Aqui o evangelista registra a denncia mais implacvele contundente da boca de Jesus de que temos conhecimento. uma denncia da existncia deperverso espiritual nos maiores assentos e um tratado sobre o uso e abuso da lei, que no tem seuigual nos evangelho. Jesus, embora os escribas e fariseus estivessem presentes, proferiu estediscurso ao povo e a seus discpulos. Definitivamente havia-se isolado destes inimigosincorrigveis, com os quais cada nova tentativa de conquistar seu amor s resultava em dio aindamaior.Ele define a posio deles. Escribas e fariseus, formalmente, por indicao de Deus,ocupavam a cadeira de Moiss. Com permisso divina ainda ocupam a cadeira de professores dopovo. Ainda que muitas das suas explicaes do Antigo Testamento eram insuficientes,

    10 ) 174) Lutero, 11.1709.11 ) 175) Lutero, 13.911.

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    inadequadas e, at, s vezes falsas, eles por enquanto detinham seu ofcio como professores. PoisDeus institura o ofcio do sacerdcio levtico e do ministrio da Palavra, para que o povoaprendesse os Dez Mandamentos dados por meio de Moiss. Toda a tribo de Levi foi estabelecidapara esta finalidade, ou seja para zelar pelas Escrituras Sagradas. isto o que o Senhor chama acadeira de Moiss, isto , o ministrio da Palavra, para que pregassem Moiss. Ele diz: Se ouvis apregao, e isto foi ordenado pela Lei e por Moiss, ento fazei e observai-o, pois no a palavra e

    a obra dos fariseus mas a do prprio Deus e de Moiss12). Neste sentido, caso ordenarem epedirem ao povo algo que est afirmado claramente na Palavra de Deus, se usarem sua posio eAutoridade oficial de modo prprio e legtimo, ensinando e expondo a lei e os profetas, ento aspessoas devem fazer exatamente conforme a sua doutrina, e fazer da observncia dos seus preceitosum costume fiel. Mas, as pessoas deviam prevenir-se de seguir seu exemplo, ou seja, de moldarsuas vidas segundo as obras hipcritas destes lderes. Pois, estavam longe de praticar o quepregavam e exortavam. Juntavam, semelhante a ramos num grande feixe, dolorosos fardos e osimpunham aos ombros das outras pessoas, mas eles prprios no tinham o desejo de toc-los nemmesmo s como um de seus dedos. Eram severssimos com os outros, mas muito tolerantes eindulgentes consigo mesmos. Os mltiplos preceitos e ordens que adicionaram lei de Moiss, comordem expressa ou implcita de que deviam ser colocados e considerados iguais s injunesescritas deste legislador, eram um fardo intolervel, o qual eles prprios, de modo muito atento,

    omitiam em sua vida particular.Seu desejo ardente para receber honra das pessoas: V. 5) Praticam, porm, todas as suasobras com o fim de serem vistos dos homens; pois alargam os seus filactrios e alongam as suasfranjas. 6) Amam o primeiro lugar nos banquetes e as primeiras cadeiras nas sinagogas, 7) assaudaes nas praas, e o serem chamados mestres pelos homens. Os fariseus e escribas, quandoem pblico e perante os olhos das pessoas, eram modelos de piedade e virtude. Realizavam suasobras e todos os seus atos pblicos, tendo este objetivo em mente, visto serem atores quedesempenhavam esplendidamente. So dados alguns exemplos desse comportamento hipcrita.Deus ordenara aos judeus, Dt.6.8, que deviam atar suas palavras como sinal sobre a mo e comofaixa entre os olhos. Os lderes judeus interpretavam isto no sentido literal. Por isso os filactriosou mementos, que eram tiras de veludo ou pergaminho tendo mais ou menos uma polegada delargura por doze a dezoito polegadas de comprimento, em que as seguintes passagens estavamescritas, Dt.11.13-21; 6.4-9; Ex.13.11-16; 13.1-10. Estes eram colocados em minsculos cofrinhosou caixinhas, sendo um deles preso na testa para o intelecto e a mente, e o outro preso no braoesquerdo para o corao. Os fariseus faziam estes mementos da lei excepcionalmente grandes,fosse no tamanho do pergaminho ou nas letras em que os textos eram escritos.Eles, da mesmaforma, exageravam no caso das extremidades, das bordas ou franjas de suas roupas, que os judeususavam, segundo Nm.15.37-40, para que se recordassem dos mandamentos do Senhor. Eramamarrados s vestes com fitas azuis, visto ser o azul a cor simblica de Deus, do cu, da aliana eda felicidade. Em geral eram tecidos versculos da lei nestas faixas. Os escribas e fariseus, fazendoestas bordas bem grandes e distintas, queriam exibir seu zelo pela lei do Senhor. Bem do mesmojeito, amavam de corao, e sempre tentavam conseguir para si, o assento mais elevado, o primeirosof, o lugar de honra numa refeio festiva. Sempre escolhiam o assento da sinagoga reservadopara os ancios. Sua vaidade suspirava com a saudao formal que recebia o mestre do povo,quando o povo leigo, com deferncia, os chamava de rabi. Era uma ambio desordenada erepugnante.

    Humildade exigida: V.8) Vs, porm, no sereis chamados mestres, porque um s vossoMestre, e vs todos sois irmos. 9) A ningum sobre a terra chameis vosso pai; porque s um vosso Pai, aquele que est no cu. 10) Nem sereis chamados guias, porque um s vosso Guia, oCristo. 11) Mas o maior dentre vs ser vosso servo. 12) Quem a si mesmo se exaltar, serhumilhado; e quem a si mesmo se humilhar ser exaltado. Cristo, de modo enftico, separa seusdiscpulos para esta parte de seu discurso. Deviam destacar-se, sendo um contraste claro a esse

    12 ) 176) Lutero, 7.1130.

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    desejo por honra e glria baratos. No deviam procurar tais propinas de vaidade. Ttulos setornaro, exatamente ento, um flagelo de primeira grandeza, quando so usados para designardistino e categoria na igreja. No que diz respeito aos fiis, diante de Cristo no h superiores neminferiores, no h rabis, pais ou mestres. Ele o nico que tem esta categoria e tem este ttulo. Seusdiscpulos, sejam eles homens ou mulheres, so todos iguais, so irmos e irms no mesmo nvel,Gl.3.28; Cl.3.11. Ttulos nunca podem ser mais na igreja, do que nomenclatura de cortesia. Eles

    indicam certa medida de conhecimento e servio, mas nunca alguma honra de direito divino. Averdadeira medida de grandeza perante Cristo a humildade no servir a ele e ao prximo. Aqueleque, na sinceridade de seu corao, presta um tal servir que flui da verdadeira f, consideradogrande aos olhos do Mestre. Por isso, todo aquele que luta por honra diante das pessoas, que buscacategoria na igreja de Cristo, ser colocado bem em baixo, na posio mais indigna. Sua ambiodesordenada, at, lhe pode tirar do corao o cristianismo. Enquanto o verdadeiro humilde, que temem mente to s o servir, ser exaltado, no tempo apropriado, pelo Senhor, 1.Pe.5.6.

    Os Ais Sobre A Hipocrisia Dos Fariseus, Mt.23.13-33.

    O primeiro ai: V. 13) Ai de vs, escribas e fariseus, hipcritas! porque fechais o reino dos

    cus diante dos homens; pois, vs no entrais, nem deixais entrar os que esto entrando. Estapassagem de denncias no representa uma mera opinio de Jesus, mas o julgamento do Santo deDeus sobre aqueles que estavam fazendo da religio inteira uma zombaria e um fingimento. O aisignifica o fogo eterno do inferno. Este ser o castigo deles, como diz Lutero. Eles, em suahipocrisia e em sua ao, chegaram ao ponto em que enganam tanto a si mesmos como aos outros.Fingem, com grande ostentao de zelo, estar abrindo as portas dos cus aos seus semelhantes,ensinando-lhes o caminho da salvao farisaica por obras. Mas, procedendo assim, de fato, fechamos portais do cu diante deles. Pensavam que tinham o cu como certo e que, quando bemquisessem, podiam entrar, mas, to s, se enganaram e ainda enganam outros, impedindo-os deentrar.

    O segundo ai: V. 14) Ai de vs, escribas e fariseus, hipcritas! porque devorais as casasdas vivas e, para o justificar, fazeis longas oraes; por isso sofrereis juzo muito mais severo. Osfariseus no gostavam de trabalho braal ou mental, com o qual pudessem conseguir a vidahonestamente. Assim como sua religio era mera farsa, tambm seus costumes religiosos eramusados para esquemas de enriquecimento. Longas orao, como as que eles costumavam fazer,eram a sua marca forte, sendo produzidas com a finalidade de mostrar ao povo que possuammritos e poderes excepcionais. Mulheres, despojadas de seus protetores naturais, vivas, cujossentimentos facilmente podiam ser dominados, com muita disposio pagavam pela assistncia delongas oraes feitas por elas. Este era o pretexto frvolo pelo qual escribas e fariseus conseguiampropriedade e riquezas, Is.5.8. Esta forma de suborno era especialmente condenvel, porque incluao abuso do nome de Deus, e, desta forma, era tanto uma blasfmia como um assalto.

    O terceiro ai: V.15) Ai de vs, escribas e fariseus, hipcritas! porque rodais o mar e aterra para fazer um proslito; e, uma vez feito, o tornais filho do inferno duas vezes mais do quevs. Os escribas e fariseus, em seu desejo de impressionar o povo, eram zelosos em ganharproslitos para a igreja judaica. Atravessavam os mares e viajavam pelos desertos procurandohomens e mulheres que pudessem ser ganhos para a religio judaica, sendo naquele tempo notvelo nmero de proslitos da porta e os proslitos da justia, ou seja, daqueles que haviam aceito asdoutrinas judaicas sem ou com a circunciso e o batismo. Mas eles, juntando externamente pessoas igreja, internamente lhes causavam eterno dano s almas, ensinando-lhes a religio da hipocrisia.Muitos dos proslitos da justia eram muito mais fanticos do que os prprios judeus. Desta formaos fariseus, mais uma vez, provaram que eram adeptos da dissimulao, visto que aos olhos daspessoas isto parecia que eles eram zelosos por Deus, e que tiravam muitas pessoas da idolatria.Mas, de fato e de verdade, eles as metiam numa idolatria ainda muito maior, do que a anterior,ainda que oculta, porque passaram a crer em suas prprias boas obras.

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    O quarto ai: V. 16) Ai de vs, guias cegos! Que dizeis: Quem jurar pelo santurio, isso nada; mas se algum jurar pelo ouro do santurio, fica obrigado pelo que jurou. 17) Insensatos ecegos! Pois, qual maior: o ouro, ou o santurio que santifica o ouro? 18) E dizeis: Quem jurarpelo altar, isso nada; quem, porm, jurar pela oferta que est sobre o altar, fica obrigado peloque jurou. 19) Cegos! Pois, qual maior: a oferta, ou o altar que santifica a oferta? 20) Portanto,quem jurar pelo altar, jura por ele e por tudo o que sobre ele est. 21) Quem jurar pelo santurio,

    jura por ele e por aquele que nele habita; 22) e quem jurar pelo cu, jura pelo trono de Deus e poraquele que no trono est sentado. um exemplo tpico das diferenas sem sentido que erampermitidas porque a tradio assim o falava. Jesus chama aos escribas e fariseus de guias cegos, ouseja, aqueles que se atreviam guiar outras pessoas enquanto eles prprios careciam deconhecimento e compreenso corretos, Rm.2.17-24. Era considerado um transgressor manifestoaquele que, sob juramento, fazia um voto pelo ouro do lugar santo ou pelo sacrifcio sobre o altar,coisas que eram santificadas a Deus, caso no considerasse seu voto como totalmente obrigatrio.Mas, jurar pelo santo dos santos ou pelo altar de sacrifcio era nada, tinha nenhum valor e no eraobrigatrio. Detalhes pequenos e insignificantes eram sustentados no interesse de preceitoshumanos e com o propsito de conservar os coraes das pessoas por meio da presso do medo,sendo, porm, ignorados os assuntos fundamentais. O Senhor os chama de tolos estpidos e cegos,que no tm entendimento nem valor reais. o altar que santifica, que d o valor ao sacrifcio. o

    lugar santo que confere santidade ao ornamento. Deus, o Rei dos cus, que d ao trono l do altodignidade e valor. Por isso chegara o tempo para os judeus para reajustarem os valores. Os votosso sacros e vlidos, mas nunca deve acontecer que distines humanas os encubram.

    O quinto ai: V.23) Ai de vs, escribas e fariseus, hipcritas! porque dais o dzimo dahortel, do endro e do cominho, e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da lei, ajustia, a misericrdia e a f; deveis, porm, fazer estas coisas, sem omitir aquelas.24) Guiascegos! Que coais o mosquito e engolis o camelo. um outro exemplo da observncia religiosa decoisas insignificantes. Interpretavam a lei do dzimo to severamente, Lv.27.30,31, que, conformeuma explicao rabnica, se preocupavam sinceramente em incluir as menores ervas e vegetais dahorta, a cheirosa hortel, o endro, o cominho aromtico, cujo uso era medicinal. Em outraspalavras, eram severssimos no escrpulo em observar, at, os mnimos detalhes de sua religio.Mas, fazendo isto, deixavam de lado os assuntos mais pesados da lei, como o juzo, a misericrdiae a f. Justia e equidade para com todos, misericrdia e amor para com aqueles que estavam emnecessidade de compaixo, f em Deus como a fonte de toda religio verdadeira. Eles nada sabiamdestas grandes virtudes, mas as omitiam e desprezavam. Era bom e elogioso dar o dzimo, mesmose a interpretao dos mestres inclua as ervas da horta, mas o que representava a exatido nesteassunto to pequeno em comparao com a necessidade muito maior de cultivar as virtudesmaiores? Sua atitude bem podia ser comparada ao proverbial engasgar na tentativa de engolir ummosquito, mas engolir com a maior facilidade um camelo. Com extremo cuidado coavam qualquerpequeno inseto do vinho, para que no se contaminassem, mas o engolir dum camelo lhes davapouco remorso. A menor omisso duma regra secundria feria suas conscincias, mas a infraodos preceitos fundamentais de Deus, que deviam observar diante das pessoas, isso no osimpressionava.

    O sexto ai: V. 25) Ai de vs, escribas e fariseus, hipcritas! porque limpais o exterior docopo e do prato, mas estes por dentro esto cheios de rapina e intemperana. 26) Fariseu cego!

    Limpa primeiro o interior do copo, para que tambm o seu exterior fique limpo. uma figuratomada da bem conhecida rigidez dos fariseus no assunto das purificaes e ablues prescritas nalei. Em todas estas formas exteriores, tambm nos preceitos sobre comida e bebida, tomavam ocuidado de manter uma aparncia imaculada diante das pessoas. Mas, enquanto isso, os lucros deassalto e incontinncia enchiam seus bolsos. essencial que em verdadeira pureza, primeiro, estejalimpo o lado de dentro do prato e da xcara. A pureza do exterior seguir como conseqncia. Nopode haver verdadeira piedade, ou retido de viver, a no ser que, primeiro, o homem interior estejarenovado. A converso precisa preceder santificao. Uma pessoa pode exercitar-se para observara aparncia exterior apropriada e, at, das virtudes crists, mas sem uma mudana de alma tudo isso

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    nada ser. Ele diz: Tudo est externamente to limpo que no podia ser melhor. Mas, como estem vosso corao? Ele no fala da xcara ou do prato, mas do corao que est cheio de impurezas.Ele no rejeita sua pureza, mas deviam, primeiro, limpar o que est dentro. Esta pureza a qual nos observais, mas tambm ensinais, quando pensais que se a roupa de prpura est escovada e tudo,seja cama e vestes, est limpo, esta a vossa justia, e no obstrus esta pureza mas a enfatizais,mas estais, ainda, internamente cheios de assalto, ganncia e impurezas, e ainda defendeis esta

    doutrina e vida. No pode ser pecado, quando assaltais e roubais tudo o que eles, o povo pobre,possuem13).O stimo ai: V. 27) Ai de vs, escribas e fariseus, hipcritas! porque sois semelhantes aos

    sepulcros caiados, que por fora se mostram belos, mas interiormente esto cheios de ossos demortos, e de toda imundcia. 28) Assim tambm vs exteriormente pareceis justos aos homens, maspor dentro estais cheios de hipocrisia e de iniqidade. Era costume entre os judeus, desenvolvidode Ez.39.15, pelos rabis, do qual se afirmava que voltava at aos tempos de Josu, que, no diaquinze do ms de Adar de cada ano, um ms antes da pscoa, as sepulturas daqueles que haviamsido sepultados nas encostas dos morros ou perto das estradas deviam ser pintadas com umaespcie de cal. Desta forma eram bem visveis, tanto de dia como de noite, e os peregrinos, que noestavam acostumados com o pas, que vinham s grandes festas, podiam evitar qualquercontaminao levtica, quando caminhavam por entre estas sepulturas, visto que o contacto com

    uma sepultura podia contaminar a um judeu. De acordo com o julgamento de Cristo, os escribas efariseus so exatamente como essas sepulturas. Sua vida, tal como eles a apresentam vista damultido, era imaculada, provocando nada menos do que elogios, mas, quando se penetrava paraalm da casca exterior e examinava o corao, a verdadeira abominao era to grande queprovocava nada menos do que a condenao. So hipcritas, cujo verdadeiro orgulho da lei semede em indisciplina e oposio da lei.

    O oitavo ai: 29) Ai de vs, escribas e fariseus, hipcritas! porque edificais os sepulcrosdos profetas, adornais os tmulos dos justos, 30) e dizeis: Se tivssemos vivido nos dias de nossospais, no teramos sido seu cmplices no sangue dos profetas. 31) Assim, contra vs mesmos,testificais que sois filhos dos que mataram os profetas. 32) Enchei vs, pois, a medida de vossospais. 33) Serpentes, raa de vboras! Como escapareis da condenao do inferno? As sepulturasverdadeiras e supostas dos profetas do Antigo Testamento eram tidas em grande venerao pelosjudeus do tempo de Cristo. Um sinal que geralmente caracteriza uma ortodoxia morta edificar ostmulos e decorar as sepulturas enquanto, de fato, se rejeita as palavras dos profetas que se honracom esta demonstrao exterior. Tudo isto acompanhado com muita exibio de santimnia.Lamentam amargamente o fato que os pais mostraram to pouco juzo e foram to rpidos em suaao o que uma peculiaridade encontrada at este dia numa gerao que imagina estar noentendimento e no conhecimento, em especial das Escrituras e na compaixo, muito acima daspessoas, que viveram a poucos sculos passados. Tudo isto, unicamente, mostra que eles tinham amesma ndole e sangue de seus pais, que, como filhos de assassinos de profetas, teriam poucacompuno, e no hesitaram em preencher a medida de seus pais, excedendo-os em crueldade e emsede por sangue, matando ao Salvador. Em vista de tal vileza e hipocrisia, o Senhor, s com muitoesfora, acha eptetos que expressam seu desprezo a tal maldade. Chama-os de serpentes e prole devboras, a quem no ser possvel escapar da condenao do inferno.

    O Eplogo e o Lamento Sobre Jerusalm, Mt.23.34-39.

    V. 34) Por isso eis que eu vos envio profetas, sbios e escribas. A uns matareis ecrucificareis;a outros aoitareis nas vossas sinagogas e perseguireis de cidade em cidade; 35)para que sobre vs recaia todo o sangue justo derramado sobre a terra, desde o sangue do justoAbel at ao sangue de Zacarias, filho de Baraquias, a quem matastes entre o santurio e o altar.

    13 ) 177) Lutero, 7.1194,1195.

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    36) Em verdade vos digo que todas estas coisas ho de vir sobre a presente gerao. Este oprincpio do juzo sobre a nao judia por sua consistente recusa em aceitar o Messias, quesobrevir primeiro aos seus lderes. Jesus afirma isto com muita seriedade, porque a geraopresente est prestes a encher a medida de iniqidade at s bordas. Ele lhes enviaria novamenteseus mensageiros, mas a mensagem lhes endureceria os coraes, tanto contra a prpria mensagemcomo contra seus portadores. Sua adorao falsa no lhes permitiria a adorao em esprito e em

    verdade. Iriam matar, crucificar, aoitar e perseguir aos mensageiros de Cristo. Nenhuma forma deinquisio e crueldade horripilante demais, quando as pessoas voltaram seu desprezo aosmensageiros do verdadeiro evangelho. Assim os judeus, sendo punidos pelo assassinato de Cristo edos mensageiros do Novo Testamento, cujo sangue viria sobre eles, ainda receberiam a punio dosassassinos dos profetas do Antigo Testamento. Trazem em si o esprito dos pais, o mesmo dio verdade e seu portadores. Por isso os pecados dos pais sero visitados em seus filhos. Abel foi oprimeiro a morrer, sendo um mrtir de suas convices, de sua f. E o dio aos filhos de Deuscontinuou pelos sculos, sendo um dos casos mais claros o de Zacarias, filho de Joiada, tambmchamado Baraquias, 2.Cr.24.2021, sem falar de outros assassinatos registrados na histria. Toda aira acumulada de Deus foi visitada nos judeus da gerao de Jesus, porque rejeitou ao prprioMessias: , como se ele dissesse: um s povo, uma s parentela, uma s gerao quais pais,tais filhos. Pois a obstinao que nos pais se ops a Deus e a seus profetas, nos filhos ela se ope

    da mesma forma o filho como a me. ... Todo o sangue que derramaram juntado e derramadosobre eles14).O lamento: V.37) Jerusalm, Jerusalm! Que matas os profetas e apedrejas os que te

    foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seuspintinhos debaixo das asas, e vs no o quisestes! 38) Eis que a vossa casa vos ficar deserta. 39)Declaro-vos, pois, que desde agora j no me vereis, at que venhais a dizer: Bendito o que vemem nome do Senhor! um choro muito comovente de preocupao misericordiosa, que vem dumcorao cheio de amor sincero do Salvador. evidente que nosso bendito Salvador desejou sria esinceramente a salvao dos judeus. Ele fez tudo o que podia ser feito, conforme sua prpriaperfeio e na liberdade de suas criaturas, para realiz-lo. Suas lgrimas sobre a cidade, Lc.19.41,evidenciam suficientemente sua sinceridade. Estas pessoas ainda assim pereceram. A razo dissofoi que elas no quiseram ser reunidas sob sua proteo15). No quiseram aceitar sua salvao. uma figura linda a que o Senhor usa aqui. Cf.Sl.91.1-7. Observem como age a galinha.Dificilmente h algum animal que se interessa tanto em seus pequeninos. Ela troca sua voz naturale assume um chamado triste e lamentoso. Ela procura e cisca na terra, e coage os pintinhos. Sempreque acha algo, no o come, mas o deixa aos pintinhos. Luta e alerta com toda a seriedade contra ogavio, e com muita boa vontade estende suas asas, e permite que seus pintinhos se escondam sobela ou mesmo subam sobre ela. um quadro belo e agradvel. Assim tambm Cristo assumiu umavoz triste, e lamentou por causa de ns e pregou o arrependimento, mostrou de corao a cada umseus pecados e desgraa, abriu as belezas das Escrituras, com amor nos persuade a entrarmos e nospermite comermos, e sobre ns estende suas asas com toda sua justia, mrito e misericrdia, e nosabriga sob si de modo to terno, aquece-nos com o seu calor, isto , como seu Santo Esprito quevem somente por meio dele, e por ns luta contra o diabo no ar16). Mas eles no quiseram, diz oSenhor aos judeus. Esta acusao se mantm inaltervel. Foi por isso que sua casa ficaria deserta,desolada, sendo sua terra entregue nas mos dos inimigos. Pois, agora, removeria deles suapresena messinica. O dia da graa deles est no fim. No o sero novamente at ao dia em quevem em sua glria, quando, at, seus inimigos devero confessar que ele o Senhor sobre tudo,quando ser cantado o grande Aleluia, para todo o sempre.

    Resumo: Jesus desmascara a ambio desordenada dos fariseus, repreende sua hipocrisianuma srie de oito ais, prediz a vinda do castigo, e lamenta a obstinao da nao judaica.

    14 ) 178) Lutero, 11.208,209.15 ) 179) Clarke, Commentary, 5.224.16) 180) Lutero, 11.241; 7.1261.

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    Fariseus e Saduceus

    Ainda que tenha havido um bom nmero de partidos e seitas entre os judeus, os quaistinham seus adeptos entre o povo simples, sendo alguns os herodianos, os essnios e partidos

    polticos de vrias tempos, mas nenhum era to influente ou exercia sua influncia por tanto temposobre o povo, do que os fariseus e saduceus.A seita mais poderosa dos judeus era a dos fariseus, que representavam o hebrasmo mais

    extremado sendo os ortodoxos entre os judeus. Seus adeptos s eram selecionados entre os queeram mas ricos e distintos na sociedade. Apegavam-se estritamente ao sentido literal da lei deMoiss. Adicionavam autoridade das Escrituras a da tradio, os preceitos e regulamentos dosancios. Mas tambm introduziram alguns dos princpios especulativos da filosofia ou religio dasnaes do leste. Estas idias haviam sido adotadas pelos judeus durante o exlio, e se apoiavamsobre o dualismo persa. A doutrina do destino ou da predestinao, de anjos e demnios, e dasituao futura de recompensa e punio, se achavam entre os novos artigos formulados de f. Osfariseus tentavam fazer um compromisso entre a religio revelada e estes princpios obscuros,adotando aquelas partes que no eram expressamente condenadas no Antigo Testamento. Visto que

    acreditavam no destino, eles sustentavam que ele cooperava em todas as aes do homem, eafirmavam que fazer o que correto ou errado est, de modo especial, no poder do homem. Adoutrina da transmigrao de almas eles atenuaram a ponto de dizer que todas as almas soincorruptveis, mas que as almas dos bons so removidas para outros corpos, enquanto que as almasdos maus esto sujeitas ao castigo eterno.

    O Novo T