CONSTRUINDO UM NOVO BRASIL BALANÇO DAS ELEIÇÕES NO DF E OS DESAFIOS DO PT/DF 2014: O ANO SEM FIM Foi o jornalista carioca Zuenir Ventura, no seu livro sobre 1968, que chamou a atenção para a intensidade de alguns anos que tem a capacidade de se perpetuar. 2014 tem um jeitão de 1968! Sintetiza um conjunto de emoções; fatos; dramas; debates e indagações que remeteram o ano para além dos doze meses do calendário. Muito provavelmente 2014 não se encerrou quando houve as explosões de fogos e de abraços que costumeiramente marcam as celebrações de final de ano. 2015 terá de suportar o ano velho meses adentro...Se não teve fim em dezembro último; o ano de 2014 também não começou no dia 1 de janeiro. Ele nasceu prematuro. Na barriga das manifestações de junho de 2013. Novos atores sociais, típicos da sociedade do século 21, na forma e no conteúdo, questionaram e promoveram, de forma difusa, o debate sobre os limites da democracia brasileira. A existência de um novo meio de comunicação e de interação, a rede mundial de computadores, que recentemente se massificou, pelas redes sociais, provocou em efeito cascata o engajamento e a expressão social de milhares de jovens pelas ruas do Brasil. As manifestações protagonizadas pela juventude demonstraram ao Brasil à existência de um sentimento de urgência. Urgência por mudanças capazes de gerar maiores oportunidades culturais e políticas. O fato mais relevante foi a constatação que depois de mais de uma década de melhorias sociais relevantes (período Lula/Dilma), o Brasil continua sendo um país muito desigual e injusto, onde os direitos constitucionais fundamentais ainda não são assegurados à maioria da população, senão em quantidade; também em qualidade. As condições de vida das pessoas melhoraram especial e sensivelmente na renda e no emprego; e no acesso a algumas políticas públicas, mas essa melhora ficou esmaecida pela mobilidade urbana cada vez mais difícil; pela ineficiência dos sistemas de saúde e educação públicas; pela violência e corrupção de boa parte do aparato de segurança pública e pela sensação de corrupção do mundo político e do judiciário. Os setores conservadores souberam aproveitar a janela aberta pela nossa juventude e se juntaram às manifestações. Disputaram ombro-a-ombro com os movimentos sociais
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CONSTRUINDO UM NOVO BRASIL
BALANÇO DAS ELEIÇÕES NO DF E OS DESAFIOS DO PT/DF
2014: O ANO SEM FIM
Foi o jornalista carioca Zuenir Ventura, no seu livro sobre 1968, que chamou a atenção
para a intensidade de alguns anos que tem a capacidade de se perpetuar. 2014 tem um
jeitão de 1968! Sintetiza um conjunto de emoções; fatos; dramas; debates e
indagações que remeteram o ano para além dos doze meses do calendário.
Muito provavelmente 2014 não se encerrou quando houve as explosões de fogos e de
abraços que costumeiramente marcam as celebrações de final de ano.
2015 terá de suportar o ano velho meses adentro...Se não teve fim em dezembro
último; o ano de 2014 também não começou no dia 1 de janeiro. Ele nasceu prematuro.
Na barriga das manifestações de junho de 2013.
Novos atores sociais, típicos da sociedade do século 21, na forma e no conteúdo,
questionaram e promoveram, de forma difusa, o debate sobre os limites da democracia
brasileira. A existência de um novo meio de comunicação e de interação, a rede
mundial de computadores, que recentemente se massificou, pelas redes sociais,
provocou em efeito cascata o engajamento e a expressão social de milhares de jovens
pelas ruas do Brasil.
As manifestações protagonizadas pela juventude demonstraram ao Brasil à existência
de um sentimento de urgência. Urgência por mudanças capazes de gerar maiores
oportunidades culturais e políticas.
O fato mais relevante foi a constatação que depois de mais de uma década de
melhorias sociais relevantes (período Lula/Dilma), o Brasil continua sendo um país
muito desigual e injusto, onde os direitos constitucionais fundamentais ainda não são
assegurados à maioria da população, senão em quantidade; também em qualidade.
As condições de vida das pessoas melhoraram especial e sensivelmente na renda e no
emprego; e no acesso a algumas políticas públicas, mas essa melhora ficou esmaecida
pela mobilidade urbana cada vez mais difícil; pela ineficiência dos sistemas de saúde e
educação públicas; pela violência e corrupção de boa parte do aparato de segurança
pública e pela sensação de corrupção do mundo político e do judiciário.
Os setores conservadores souberam aproveitar a janela aberta pela nossa juventude e
se juntaram às manifestações. Disputaram ombro-a-ombro com os movimentos sociais
progressistas a liderança da interlocução política e social. Numa tentativa de sequestro
das bandeiras juvenis, aliaram-se aos setores oportunistas e golpistas da mídia, a fim
de garantir a manutenção de seus interesses e a prevalência de uma visão de mundo
marcada pela visão do mercado, pela submissão da classe trabalhadora, pela violência
como ferramenta de restrição à participação e por um discurso legitimador da
desesperança e da fragmentação social.
2014 nascia então com toda essa carga de dramaticidade e intensidade política e social.
Drama e paixão. São esses os sentimentos que invadem todos os aspectos da vida
social e política do nosso país. A política ao longo desse ano os concentrou aos
borbotões. Nada escapou dessa gaiola sentimental.
Foi o ano dos “rolezinhos”. Um fenômeno de expressão social da juventude pobre que
assombrou os frequentadores dos suntuosos centros de compras no Brasil. De repente
centenas de jovens da periferia resolveram bater perna pelas instalações dos shoppings
centers do Brasil. Bastou a atitude impertinente do passeio às claras para que a justiça
brasileira revelasse seu caráter obscuro. De pronto adotou a sanção de liminares
impedindo os “perigosos passeios” da juventude negra e pobre que desejava
simplesmente frequentar os shoppings. Essa luta por expressão social e ocupação de
espaços comuns entre diferentes classes sociais moldou o conflito de classe no Brasil.
Esteve presente na ocupação dos aeroportos por antigos passageiros de ônibus; que
justificou a gritaria em torno do “apagão aéreo” e o “caos nas salas de embarques e
esteiras de bagagens”; e também a revolta da tradicional classe média contra a
presença de classes populares nas viagens e nos roteiros turísticos internacionais.
A velha classe média tradicional também inventou o seu jeito consumista de protestar
ou se expressar socialmente. Criou os “isorpozinhos”. Concentrações públicas para
consumir álcool e todas as outras formas de diversão e de lazer fora dos
estabelecimentos comerciais descolados e com preços exorbitantes. Pregou boicotes a
postos de gasolina e uma rebelião de base econômica contra a Petrobras e o preço do
litro da gasolina. Com essas atitudes e inovações também marcou a sua presença nas
ruas, expressando as suas reivindicações mais sensíveis.
A organização da Copa do Mundo no Brasil foi outro fato que marcou de drama e de
paixão o ano de 2014. O futebol até então considerado unanimidade nacional nunca foi
tão contestado. A revolta contra os gastos públicos na construção de novos estádios; o
atraso e a não conclusão das prometidas obras viárias e de mobilidade urbana; o
tratamento especial e a aceitação passiva das normas draconianas da FIFA;
organizadora do evento; o ceticismo quanto a produção de um legado positivo após à
realização da festa futebolística; tudo isso contagiou os brasileiros de forma intensa e
afetou inclusive a sua disposição em torcer a favor do sucesso da nossa seleção.
A data de início da competição aproximava-se e todos se questionavam quanto a
ausência de um espirito torcedor. Vai ter Copa? Indagavam? As ruas não estavam
enfeitadas! Manifestações contra a copa no Brasil, embora pequenas, pipocaram em
quase todas as cidades que serviram de sede para os jogos. Os brasileiros passaram a
temer pela paixão ao futebol e duvidaram da capacidade do Brasil recepcionar e
organizar bem o evento.
A política atravessou todo esse debate e a agenda conservadora contra Dilma e contra
o PT se fortaleceu. Como sabemos tudo isso se dissipou quando finalmente a Copa
chegou. As maiores concentrações populares foram nos portões dos estádios; nos locais
de exibição pública dos jogos e nas bancas de jornais por causa da febre das figurinhas
dos álbuns com os craques da bola. O que sobrou da competição além do clima
amistoso e receptivo dos brasileiros; foi a vergonhosa derrota da nossa seleção para o
time da Alemanha por um elástico placar de 7 contra 1. Mais um drama que servirá
para perpetuar o ano de 2014 na memória nacional.
Encerrada a Copa do Mundo mergulhamos nas eleições.
A disputa presidencial ocorria dentro da previsibilidade das pesquisas de opinião até o
fatídico acidente com o avião que vitimou o candidato, Eduardo Campos (PSB). A partir
da tragédia com o ex-governador de PE a eleição presidencial reverberou para o clima
de drama e de paixão.
Houve a ascensão e a queda da candidatura Marina; a persistente estratégia tucana de
firmar seu candidato como o único capaz de derrotar Dilma e o PT; e a luta tenaz do PT,
dos movimentos sociais, de Lula e de Dilma para preservar o projeto político e social
em curso e assegurar a vitória eleitoral. Mais mudanças! Novo governo e novas ideias.
Ocorreu então a eleição presidencial mais disputada dos últimos anos.
Finalizada a eleição e promulgado os resultados eleitorais todos esperavam que
finalmente 2014 iria descansar das suas altas cargas de drama e de paixão. Ledo
engano!
A justiça, o Ministério Público e a Polícia Federal encarregaram-se de empurrar 2014
para frente.
A operação Lava jato com as suas várias fases e as inéditas prisões dos altos executivos
das grandes empreiteiras do país parecem ser mais um elo nessa corrente de
perpetuidade de 2014.
As delações dos empresários; os acordos para devolução de altas cifras de dinheiro
público desviado da Petrobrás; a garantia de que será entregue uma lista com o nome
de vários políticos e partidos que teriam recebido recursos do esquema desbaratado; e
a intenção cristalina de se fazer com que a presidenta Dilma seja envolvida por todos
esses fatos de forma a permitir a sua responsabilização e o seu impedimento para o
exercício de um novo mandato; compõem o quadro geral sobre o infindável 2014.
Então temos pela frente um quadro político bem aberto. Por mais que tenhamos
vencido as eleições com a presidenta Dilma é muito prematuro realizar sentenças
definitivas sobre os caminhos a perseguir.
O fundamental, no momento, será preservar o centro da nossa agenda nacional de
desenvolvimento econômico com mais justiça social; assegurar condições para uma
ampla governabilidade institucional, combinada e apoiada por um forte arco de
mobilização social; religar o PT às causas da cidadania ativa da sociedade brasileira e
fortalecer a luta autônoma dos movimentos sociais liderados pela classe trabalhadora.
ELEIÇÕES NO DISTRITO FEDERAL:
2014 foi a sétima eleição para governador no Distrito Federal
As eleições no DF sempre foram disputadas por três núcleos políticos.
Um desses núcleos é liderado pela figura do ex-governador Roriz. Venceu os pleitos
eleitorais de 1990, 1998 e 2002, tendo sempre como candidato o próprio Roriz. Apenas