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Leitura complementar, para aprofundar os temas apresentados
nella livro: Norbert Lohfink, Grandes manchetes de ontem e de hoje,
Ediyoes PlIlI-linas. Atraves de estudo muito bem cuidado e
representativo, Norberl Lohfink mostra que muitos temas hoje
debatidos, ja 0 fo~am tamb~m no AT. Para isso ele escolhe algumas
palavras-chave mUlto em vogu _ Iibertay8o, unidade, salva~ao,
pluraHsmo, hist6ri.a etc. - q~e,. repor. tadas ao AT, revelam
aspectos e dimensoes teo16g1cas perceptIvelS ape-nas numa analise
comparativa.
6
1 PARTE
DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO
"N/(' cl/menlo mel6dico o conceito "Deus" focalizado no titulo
devera ser con-
. qUencia de visao de conjunto do Antigo Testamento que 1\ I
r~velara 0 que se afirma sobre Deus em cada uma das Ilia. paginas,
em cada urn de seus livros, quer em separado, 1111 r na sua
totalidade. Nem se devera cair no equivoco de dar preferencia
aprioristica a urn setor em detrimento de uutro, nem sera feliz
declarar determinado conceito como ndo 0 mais essencial acima de
todos os restantes, tais
mo Alianra, Eleiriio ou Salvariio, ou en tao inquirindo I 80 de
inicio qual seja a v~dade c~ntral do Antigo Testa-In nto. Acontece
que 0 Novo Testamento possui seu cen-tro indiscutivel na paixao,
morte e ressurrei~ao do Cristo, rara 0 qual convergeru os
evangelhos e do qual procedem AI cartas apost6licas. Fugindo 0
Antigo Testamento a seme-Ihante estrutura, torna-se impraticavel
transferir do Novo pura 0 Antigo Testamento a questao da verdade
centra!.'
Quem quiser assinalar 0 que 0 Antigo Testamento, no ICU
conjunto, afirma acerca de Deus deve partir de seu uutotestemunho e
de sua auto-identifica~ao: "0 Antigo Tes-tamento narra umahist6ria
(G. v. Rad). Com isso ja ficou cvidenciada a primeira configura~ao
de uma Teologia do Antigo Testamento: desde que ele versa sobre
Deus em for-ma de hist6ria - sendo hist6ria, neste contexto, 0 eng
0 a-mento dos eventos concretos, a estrutura de uma Teologia do
Antigo Testamento deve ser realista em vez de concei-tualista.
1 G. v. Red, Theologie, I, 4' ed., 1962; R. Smend, ThSt, 101; G.
F. Hasel, ZAW 86; W. Zimmerli, EvTh 35.
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taloHighlight
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. Em que consiste, porem, uma estrutu~a r.ea~ista? A resposta e
obvia. 0 teologo moderno pode!la I~m~t~r-sc II fornecer urn
apanhado conciso da narra9ao hlst~n.,:a do pr6prio Antigo
Testamento, de acordo. com a oplnlao de G. v. Rad: "A exposi9aO
narrativa contmu.a sendo a form?, rna is legitima de se falar sobre
0 A:ntlgo. Tes:aJ?ento (1964, 126). E tal empreendime;tt? sena ..
TUl.to facII, ~e 0 Antigo Testamento constasse de Unlca
sequen~h()mogeneQ de capitulos historicos; contudo, nao e este 0
seu caso.
o Antigo Testamento tern a sua origem e. foi trans~itido em
triplice arranio: Tora, Profetas e Escntos, ,ou seJ~, Jivros
hist6ricos, rofeticos e didaticos, cujo cer~e e constt-wido pelos
Salmos. Na mentarraaae:aos trans,ml.ssores, afc: ra os livros
narrativos, pertencem amda it Blbha do Anti, go Testamento as
alavras divinas pronunciadas J:,ara den tro da hist6ria, bern como
a res osta os ue clamam .~ Deus. A bern dizer a verdade, a
narrativa a come9ar do GO;' nesis ' ate as Cronicas ja contem
passagens com esta espe cie de pronunciamento divino, ao lado, de.
outras passagens contendo a resposta de louvor ou de suphca; mas 0
esque-ma tresdobrado do Antigo Testamento da a entender que a
hist6ria descrita ja vern determinada pelas palavras pro feridas
por Deus e, por outro lado, pela rea9aO daquel~s que se sentem
envolvidos diretamente nestes eventos hls-t6ricos.
Sera, portanto, 0 proprio canon do Antigo T.estamento que
indicara os elementos especificos dos sucedldos deste mesmo Antigo
Testamento. Possui~os com .isso urn ponto de partida objetivo de
uma Teologla do Anttgo Tes.tamento independente de posi90es
antecipadas sobre 0 que seJa essen-cial e indispensavel em
semelhante empresa. Ao pergunt~rmos 0 que 0 Antigo Testamento
afirrna sobre Deus, a dlta triQ,a.rti9aO da Biblia hebraica
indicara 0 caminho.2
Todavia, de que maneira devera ser enfocado em, s:u coniunto, e
reduzido a linhas definitiv~s tudo quando eta? variegado e
multiforme? Nas teologlas veterotestamenta-
2 B. S. Childs destaca a importancia do canon para a Teologia do
Antigo Testamento; cf. G. W. CoatsB.-O~ Long.
8
"I lilllll' 0 problema foi contornado identificando-se IIU" '
llhl'C Deus com conceitos basicos tais como sal-, 1 k 0, olian9a,
fe, querigma, revela9ao, soteriolo-111111 (I', CalC verbalismo fez
com que 0 tratado se afas-
1111 IIll lllIngcm realista do Antigo Testamento.' "
Int.logarem-se as Iinhas deterrninantes do discurso
1111, lem perder de vista a sua versatilidade, e preci-11~111t
dUB estruturas verbais; e, para tanto, impoe-se
r II"Milmente a mudan9a consideravel dos metodos. Dai 111111110,
n narrativa veterotestamentaria ja nao sera uma
III.h\d" do Salva9ao, no sentido de uma serie de a90es sal-III
nM dc Deus, mas devera representar urn acontecer entre
I 1111 e 0 homem, tendo como cerne a experH:ncia de salva-I
'1110 ultrapassa a mera historiografia a servi90 da salva-III. 0
Pentateuco gira it volta da confissao jubi16sa dos
IIU , wllram a salya~ao, enquanto a hist6ria do
Deutero-1111011,10 (Josue ate 2 Reis) e marcada pela confissao de
,ulf,1I de to.c!os s ue ex erimentaram 0 'uizo de Deus. I I
ntateuco, por sua vez, e dividido em proto-historia,
hl. 16rla dos patriarcas e hist6ria nacional de Israel. Esta
Ilhlma (Ex ate Dt) e pr~c~dida pela ex~osi9ao da~wao--
-
Chegando ao genero~apiencJal, este . nao se enquadra neste
esquema basilar da I eolog!a' do Antigo Testamento, por ela nao
versar propriamente sobre ocorrencias surgidas entre Deus e os
homens. A Sabedoria, nos seus prim6rdios, e sobretudo profana. S6
num estagio posterior elaborar-se-a uma teologia sapiencial na base
de tematica especifica, como, por exemplo, 0 contraste entre 0
justo e 0 impio. 0 habitat teol6gico da abedoria deve ser apreciadq
de acor-do com a cria9ao do homem, tendo 0 Criador concedido ao
homem a ca acidade de entender 0 mundo e de nele se ajeitar'
Com isso acabamos de esb09ar algumas linhas mestras, nao
perdendo de vista tudo 0 que 0 Antigo Testamento fala sobre Deus. A
Teologia do Antigo Testamento tranl esta marca da hist6ria que
acolheu em seu bojo a mensagem divina e que responde a dita
mensagem mediante aqueles que a escutaram e ainda a escutam.
o esquema da Teologia do Antigo Testamento sera tanto
sistematico como hist6rico. Derivando-se 0 aspecto sistematico da
fala constante sobre Deus que perpassa todo Q Antigo Testamento num
atuar reciproco entre Deus e 0 homem, ou melhor, entre Deus e a sua
obra criada, seu povo e 0 homem, reinando de parte a parte urn
falar e urn agir. Nem faltam evidentemente outras formas de
atua90es permanentes, como, por exemplo, 0 salvar e 0 bendizer ou ,
da parte do homem, a suplica e 0 louvor, ou ainda a abso-luta
unidade de Deus do principio ate 0 fim.
o aspecto hist6rico consiste no fato de Deus , no Anti- . go
Testamento, se ter vinculado a hist6ria de urn p~o igual a todos os
outros e. portanto, suieito as mudan9as e corctingencias hist6ricas
. Explicam-se ai os altos e os bai-xos inevitaveis no
relacionamento entre Deus e 0 homem, se nao na submissao, mas
certamente nas formas do culto. As transforma90es ostentam ainda a
identidade do Deus-juiz com 0 Deus-redent r, dependendo ambas as
facetas das
4 Ver III parte; C. Westermann no comentario a Gn 4.17-26 e ThB
55, pp. 149-161; W. Zimmerli, Grundriss der AT-Theologie. 1972, pp.
136141.
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1 lIudoB normais em semelhantes rela90es. Apesar de liN
rcStri90eS cabiveis, a hist6ria vivida entre Deus e
u puvo ~ urn vah:em de singularidade tao modelar que II I'lll
BerVlr de~o entre a religiao de Israel e as outras
11111008.
I. A HISTORIA
I 0 8~nero historieo no Antigo Testarr..~nto
o genero hist6rico no Antigo Testamento distingue-se d. qualquer
outro moderno pelo fato de a hist6ria vetero-1,.lumentaria
acontecer entre Deus e 0 homem, entre 0 Cria-dur c a sua obra.
Portanto, 0 conceito 0elUSi6ria elaborado nil Hcculo XIX nao tern
aplica9ao neste contexto porque, .'lIundo ele, fICa descartada
qualquer modalidade de inter-V 11980 divina na hist6ria humana, ao
pas so que no Antigo TC8tamento 0 agir e falar divinos constituem 0
fator essen-lal de qualquer evento e nem se uer se ode ima inar
uma
r ulidliOeOiTerente. M. Buber sabe de urn dialogo rea iza-!lur
dillilst6ria,' tendo como razao a cria9ao do homem
.~gundo a. imagem de Deus para ocupar 0 lugar intermedia-rio
entre 0 Criador e a cria9ao.
A questiio se 0 objetivo da Teologia do Antigo Testa-m~nto e a
hist6ria real ou a religiao de Israel, parte de pre-mlssas falsas
(G. v. Rad e F. Hesse).6 Nao_existe-di~en9a cntr~ _~ist6ria e
religiao; no Antigo Testamento, Deus e a r~ahdaae, e a realidade e
Deus. -
Esta ai a diferen9a entre a hist6ria narrada no Antigo
Testan;ento e 0 conceit.o cientifico da hist6ria modern a que se
estnba sobre as reahdades politicas ou nacionais de uma sociedade
organizada,1 bern como sobre os documentos a
5 M. Buber, J923 e 1954; H. H. Schrey, Ertriige der Forschung,
1. 6 F. Hesse, KuD 4 ZThK 57; G. v. Rad, lac. c't. 7 A. Alt, )osua,
KISchr. I 176-192' M Noth RGG 3' ed II 1498-1501. """ ,
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sua disposi9ao. Ora, .e exatamente esta documenta9ao quo supoe
uma organiza9ao politica e estatal. A linha divis6rin patenteia-se
na explora9ao da hist6ria primeva do genero humane da qual se
ocupam outras ciencias, notadamente a etnologia que lida com os
poves primitivos e isso, normal mente, sem fontes ou documentos
hist6ricos, devendo fiar-se em realidades diversas dos criterios da
historiografia cient!-fica. A historiografia e precedida
necessariamente de narra-90es que descrevem os eventos de modo
diferente, dis pen sando a verifica9ao exata por meio das normas em
yoga. A cronologia, igualmente, vern depois de genealogias de valor
hist6rico discutivel.
Ambos os exemplos, 0 da narra9ao e 0 da genealogia, dizem
respeito ao Antigo Testamento que abrange tanto pre-hist6ria como
hist6ria. E por isso, a alternativa entre hist6ria e nao-hist6ria
tern aplica9ao a certos setores de textos, embora nao a todos,
servindo de exemplo a hist6ria dos patriarcas. precaria tambem a
discrimina9ao entre 0 que seja estritamet.Jte hist6rico e/ou
religioso.
A diferen9a mais relevante e a atua9ao divina, uni~sal e
envolvente, que abrange simplesmente todos os aeon tecimentos, do
prinefmo ate 0 fim, sem que seja possivel real9ar o rigorosamente
hist6rico.
A hist6ria assim encarada desenrola-se dentro de tres efrculos
de horizonte. No centro figura 0 povo de Deus cuja hist6ria
politica e documentavel corresponde 11 de qualquer povo entre os
povos. 0 efrculo adjacente e a hist6-ria da fgmiIy of maf!, das
gera90es de familias e de seus individuos no seu meio ambiente
pessoal e apolitico tal como vern sendo descrito na hist6ria dos
patriarcas. 0 efr-culo exterior consiste na hist6ria da humanidade
articula-da em na90es por tQda a extensao do orbe terrestre, cujo
inicio e a Idade Primeva e cujo fim e a escatologia apoca-liptica.
esta a conceitua9ao do Javista que retrata simul-taneamente a
pre-hist6ria (Gn 1-11), a hist6ria dos patriar-cas (Gn 12-50) e a
hist6ria nacional (Ex ate a conquista de Canaa). Manifesta-o logo
na introdu9ao 11 hist6ria dos pa-triarcas (Gn 12,1-3) que nao
pretende limitar a promessa feita a Abraao ao povo de Israel, mas a
todos os povos nas-
12
du humanidade primordial (Gn 10), encerrando as dll terra na
ben9aO divina: "Em ti serao aben90adas
A gera90es da terra.
II/.~ Idria da salvar;ao
AN restri90eS assinaladas no concernente a historiogra-II
l1Iodcrna valem tambem quanta ao conceito da assim h. muda Hist6ria
da salva9ao, formulada no seculo XIX em
.1 Ofr ncia direta do conceito cientifico da hist6ria.8 Diver-.m
lite do horizonte acanhado da Hist6ria da salva9ao, 0
1111110 Testamento nao se circunscreve a a90es salvificas II
IHivas, mas se interessa por tudo quanto sucedeu entre
II, uI C 0 homem. A hist6ria peculiar de Israel foi inaugura-.1.
por uma a9ao salvadora de Deus e a fe no Deus-redentor I.ractcriza
a religiao israelita ate para dentro do Novo Tes-11m nto; todavia,
Deus e mais do que redentor: ele e IlIlz, ole e aquele que derrama
seus beneffcios, nao podendo r cnquadrado ou subordinado a urn tipo
de atua9ao sob " outr~. 0 fato recebe sua confirl{la9ao na
estrutura geral till Pentateuco, cujo cerne (Ex-Nm)) versa sobre a
salva ao Lllvln!!.... ao passo queamo aura" Gn e t) escreve os It
ncffcios divinos. A hermeneutica a [stona dasalva9ao I'rLSSupoe a
homogeneidade inalterada da atua9ao do Deus ['omo salvador em
rela9ao a Israel tornado como constante, [IUando, na realidade, uma
das caracterfsticas do Antigo 'I'cstamento e justamente essa de
abranger universalmente toda a humanidade agrupada em torno de
Israel. Todas as ~r as da atividade humana particillam do interesse
de Deus:
cono~, cultura, costumes, vipa social, 'politica, existindo
nccessariamente as di erencia90es quanto as famflias da tribo em
vias de estabelecimento fixo, quanto a uma cornu-nidade dedicada a
agricultura ou vivendo numa corte real. Tudo tern a sua razao de
ser e 0 seu determinismo conge-nere: as experiencias dos patriarcas
n6mades, dos que sai-ram do Egito, no mar dos Juncos, no deserto,
no Sinai, na
8 Exposi~ao classica da autoria de K. v. Hofmann; cr. tambem F.
DeIitzsch, Gen. Komm. 277-184.
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invasao do Canaa e na sua vivencia no pais conquistado, Tempos
depois, ao elegerem seus chefes, ao toparem com 01 santuarios e
cultos dos nativos, ao se certificarem das ben. 9aos divinas na
agricultura com as novas formas de solen/. dades anuais, na
introdu9ao da monarquia com suas expec. tativas benfazejas e
fatais, ate a catastrofe final anunciada com antecedencia pelos
profetas, as humilha95es do exilio e 0 come90 da novel comunjdade
como provincia do impe. rio persa. A realidade polimorfa, descrita
em estilo dos mais variegados, significa a a9ao divina, e acionada
pelas men sagens de Deus, brotando logicamente, do meio dela, a res
posta adequada.
II . A PALAVRA DE DEUS NO ANTIGO TESTAMENTO
, 1. Agir e falar
Estas duas atividades inte ram a a ao divina no seu pavo e na
humanidade, conforme esta resumido em Sl 33,4:
A palavra de J ave e reta, e a sua obra toda e verdade.
A segunda se9ao do canon biblico, os Profetas, tratam
primariamente da palavra que procede de Deus, enquanto as palavras
dos prof etas individuais sao representadas no conjunto dos
acontecimentos que as circundam. Mas a pala-vra di ina nao se
encontra apenas nesta parte do canon, ela existe nas maneiras mais
diversificadas em tudo 0 ue 0 Antigo Testamento assevera sobre
Deus. Pois bem, 0 agir d~ Deus e 0 falar de Deus formam as
componentes da religiao de Israel (Sl 33,4) . Se a palavra
profetica constitui setor pr6prio do canon, entao e por ela estar
ligada estreitamente com a hist6ria deste Antigo Testamento.
Qual e a significa9ao da palavra de Deus no Antigo Testamento?
sobretudo a intercomunicayao entre locutor
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Into e nao tanto 0 ,conteudo. Tal acep9ao do termo I rlza a
palavra profetica. Quando se diz: "A palavra
11V6 foi dirigida a Jeremias", entao alude-se ao papel de . I
lIolro encarregado de transmitir a ' palavra recebida,
!Iv ndo-se de qualquer forma a reayao dos destinatarios. p.
luvra acontece no tempo, entre dois ou mais indivi-
IIDI. ~ essencial que a palavra seja ouvida pelos homens 1111108
e ue rovoque rea9ao ne1es! Eis a razao profunda r que a palavra de
Deus pertence a hist6ria narrada na
I' Imelra sec;ao do canon (Lei). Nao podendo ser documentada, 0
historiador moder-
n nlo toma conhecimento da palavra procedente de Deus. I.
costuma substitui-la pela consciencia subjetiva do pro-
r. 11 que julga ter percebido uma comunica9ao divina. Com 110
procedimento, 0 historiador altera 0 significado desta Ip6cie de
palavra. Parece ate que 0 concelto moderno de
hl. t6ria nao atina com 0 fen6meno da palavra divina, se nl o 6
deturpada e diversa do texto biblico.
Mas tambem na teologia modern a a "palavra de Deus" r.cobeu
sentido diferente da Biblia, a saber, a partir de u conteudo: a
palavra e aquilo que Deus falou e 0 que, Orno tal, e acessivel ao
pensamento objetivo. Corn esta
IntcrpretayaO, a palavra divina foi substituida e tornada
dllponivel mediante a lexicologia.
2. Multiformidade do falar divino A palavra divina, atraves das
paginas do Antigo Tes-oadotav'arias formas de acordo corn a func;ao
que
cumpre relativamente a Deus e ao nomem. Poderfamos classihcar a
quantidade destas palavras em mensagens refe-rentes a vida de cada
dia e ao culto divino, quando ela , e pronunciada aos ouvidos dos
que se congregaram num lugar especial e em tempo determinado com a
inten9ao declarada
9 Preva eloqliente em proverbios que versam sabre a palavra,
como, por exemplo: "Ma98S de curD com enfeites de prata, e a
palavra fadada em tempo oportuno ' (Pr 25.11); cE. Pr
12.18;15,23;16,24;24,26; 25,12.
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.I _('\llur 0 palavra de Deus, formando 0 tempo santificado II
.n~l'olldade do Lugar 0 ambiente propfcio 11 escuta do
11I1lnvro. fa a alavra destinada ao dia-a-dia e comunicado
11~1(,) mensagelro de Deus (rna/'ak Iahweh) que vai ao encon 11'0
do homem, no campo, na casa e no caminho. Restn ainda a palavra
proietica que irrompe sobre 0 homem, foro do lugar sacro, de
imediato e nem sempre desejada.
De acordo com 0 conteudo, a palavra, quer profecia quer lei, po
de ser ou anunciadora ou instrutiva.
a) 0 cerne da palavra anunciador~ J ~rofe~a, embo ra nao
excJusivamente, visto que ocorre tam~m nos livros hist6ricos.
Anuncia, ora a saivayaoy ora 0 jufzo, promessa "ar~i'a'igi?a "o'1l
cSligo rigoroso. Ambos os tipos estao Inter-ligados em todo 0
Antigo Testamento, a comeyar da hist6ria primeva, nas promessas
feitas aos patriarcas, na safda do Egito e na ocupayao de Canaa,
durante 0 exflio e 0 perfodo p6s-exflico ate a era apocaliptica.
Promessa ou ameaya, a paiavra anunciadora e multiforme nas
expressoes e nas proclamayoes. No seu conjunto, ela e formada pela
hist6ria das promessas salvfficas e dos anuncios de jufzos em todo
o Antigo Testamento. Em certos casos, este anuncio, born ou
ameayador, coincide com a hist6ria do povo qual ele-mento propulsor
desta mesma hist6ria. B que 0 anuncio desencadeia uma seqiiencia de
fatos estendendo-se do Jill:. tante do proferimento ate a sua
realizaya~. Numa promes.sa dirigida a Ahraao, dizem-lhe os
mensageiros de Deus: "No pr6ximo ano, a este tempo, tua mulher Sara
tera urn filho".
Afa~taram-se os mensageiros, e a vida continuava como sempre.
Restava, porem, a esperanya no seio da famflia ate o nascimento do
filho. E, a hora do nascimento e tamMm a hora da recordayao:
aconteceu deveras 0 que eles haviam dito. Comeya af a conservayao.e
a transmissao do evento.
Outro exemplo: num perfodo de prosperidade poiftica, Jeremias
anuncia que Jerusalem seria tomada e destrufda pdo rei de Babel. A
prediyao e contestada e impugnada, Jeremias reduzido a silencio;
mas depois de cumprido, 0 anuncio e reavivado, conservado e passado
para frente.
Ambos os anuncios sao muito diferentes urn .do outro. o primeiro
prediz a salvayao, 0 segundo a desgraya. O .pri-
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rossoa no seio da famflia, 0 outro em praya pUblica . IIlTle!to
e recebido com alegria, 0 outro e rechayado.
dlsso, ambos tern em comum a criayao de conexoes, com que urn
perfodo se transforme em unidade
IIPOlIlH dos espayOS temponlrios entre anuncio e cumpri-Assim
formava-se em Israel a consciencia hist6rica
ndo e experimentando as correlayoes, inaugurava-se a 1910.10 o
Evangelho de Lucas comeya, tamMm ele, com nar-
ItVI anaLoga It hist6ria dos patriarcas: uma crianya e pro-Ida e
uma crianya nasce, cumprindo-se nela a promessa .llvador. 0 povo ja
havia aprendido a encarar 0 tempo
mo conjunto que se iniciara com a promessa do filho de .Iao e se
estendia ate a prediyao do salvador na epoea OIca e p6s-exilica,
quando ja se havia completado 0 prazo ~ castigo anunciado pelos
profetas. 0 comeyo do Evan-p lho de Lucas e acolhido It luz destes
antecedentes. No rundo do outro anuncio: "Hoie nasceu-vos 0
Salvador" noontra-se a hist6ria do povo de Deus na sua
caminhada
dildo a promessa ate 0 cumprimento. B a palavra divina nl lua
funyao enunciadora que acaba de vincular a hist6-rll do povo de
Deus de outrora com a hist6ria do novo povo ele~i~toe.:. ___ ~
'P~messa e cU?Jprim~to;l,i ~s 0 conceito-cha~e .d~ ~rmcn@uttca
ell) Anttgo Testamento segundo a Hlstona da .alvayaoJ que pretende
reduzir tudo quanto e antigoao donominadot: ':pr.omessa ", e tudo 0
que e novo ao denomi-IIldor " cumprimento". Porem, 0 cumprimento
real e algo dlfcrente. Nem todas as promessas acabaram por ser
cum-
prlda~; ha uma gama impressionante de situa~oes possiveis ntre 0
cumprimento inequfvoco ate a alterayao da promes-
la e 0 seu evidente nao-cumprimento. A grande maioria dos
vaticfnios veterotestamentarios
Ilveram sua concretizayao aindD durante a pr6pria hist6ria
10 Ver V parte C. I. t 1 C. Westermann (f':d.) , Probleme
alttestamentlicher Hermeneutik.
In ThB 11 (1960), principaimente R. Bultmann, Weis~agung und o
Er/iW-ung (pp. 28-53) e W. Zimmerli, Verheissung U/:d Er/iillung
(pp. 69-101). A. H. J. Gunneweg, Hermeneutik. in ATD.
17
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do antigo Israel. Assim, a conquista de Canaa, muitas vit6 rias
a partir do tempo dos Juizes e numerosos outros casos conhecidos
que ate transpuseram as fronteiras da historia de J ave com 0 seu
povo.
Outro grupo de profecias concernentes a humanidadc ou ao mundo
aguardam ainda 0 cumprimento, como, por exemplo: "ja nao havera
morte", ou Jr 31,3134 que preve uma comunidade divina restaurada da
qual seria banida a necessidade de admoestayao reciproca. A mesma
interroga yao permanece quanto it benyao mencionada em Gn
12,1-3.
Dos tipos de promessas a que ha alusao emergem aque las que se
refere~ ao Cristo, posto que nem sempre claras e iriconte'Stes.
'B'em diverso e 0 ponto de vista do Novo Tes tamen'o ao qual so
interessam promessas cumpridas na pes-soa de Jesus de Nazare, nao
existindo outras senao as que se cumpriram obrigatoriamente no
Cristo:
Todas as promessas de Deus encontraram 0 seu sim: por isso, e
por de que dizemos "Amem" (2Cor 1,20). A frase reflete a Teologia
de Paulo para 0 qual nac
havia outra possibilidade a nao ser 0 cumprimento no Cris to.
Como entao interpretar 2Cor 1,20, se sabemos que isto nao e
verdade? 0 versiculo conserva 0 seu peso desde que queiramos
entender, no Antigo Testamento, um sentido ulterior no seu ambito.
Neste caso, ainda que nem tudo se tenha realizado no Cristo, fica
de pe a esperanya de uma salvayao de Israel na base de Is 52-53
onde aparece um individuo que morrera pelos pecados de seu povo, de
morte expiatoria homologada por Deus. Por esta perspectiva
teo-logiea, podemos concordar com Paulo, embora ainda com a
restriyaO de que nao inc1uimos todos os vaticinios salvifi-cos do
Antigo Testamento.
Deveriamos restituir a sua signifieayao original as palavras do
Antigo Testamento. 0 cumprimento no Cris-to inaugura ...Qutra iase
historica, para alem das fron-!eiras do Antigo Testamento e que
durara ate a sua parusia escatO!Oglca. j\- dinamiCa da historia
integral con-fere ao cumprimento no Cristo uma perspectiva nova de
tarefas e problemas em epocas transmundanas. In-
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entao ate que ponto foram atingidas as tres rcferentes as
promessas salvificas do Antigo Testa-: 0 povo de Deus, os
individuos e 0 genero humano
A resposta esta em Lc 4,16-21 cuja sentenya final: cumpriu-se
aos vossos ouvidos essa passagem da
lUI's" e aplicada a atuayao de Jesus; e este 0 cumpri-"Iu pleno
dos vaticinios .
b) A pa~ra instrutivll' ou seja~ a Tora, tomada no ""lIdu e
instrxiiO;-Em tempos mais recentes, a Ton! foi
I~.nllflcada exc usivamente com a J,eJ... No Deuteron6mio, rrom
termos tais como mandamentos, preceitos, direitos que demonstram
como 0 termo Lei encerra varias formas
processos. treceito_eJe.Ln.a~sao a mesma 9isa . 0 ~cei-I u a
proibiyfto sao conceitos uniformes de alocuyao dTre-II, Q
leLOiforme, porquanto liga Q. fato as conseqiienCias Ju fato. A lei
nasce do bojo de instituiyao revestid'a de pud r punitivo e direito
de decisao; a saber, a autoridade . 110 preceituar e de legislar. 0
preceito avizinha-se da exor-
, .~Ao (advertencia, na parenese do Deuteron6mio), expres-II com
sentenyas condicionais, visando a resultados positi-YUI e negativos
. Preceitos e leis tem nascedouros diferentes, ... lm C.Ql)lO
tambem foram transmitidos diferentemente: Icncos de preceitos e
codJgos de leis, para posteriormente
Icrem incorporados conjuntamente nas coleyoes legislativas do
Pentateuco, chegando a formar a "Lei", derivada da teo-funia do
Sinai e outorgada por Deus ao seu povo.
o discurso instruti'!:.o nao aparece apenas nos elencos do
preceiWse nos codigos de leis, mas atraves de todo 0 Antigo
Testamento mediante ordens, instruyoes, exortayoes: come0lndo ela
l'!9ibiyao de comer do fruto da arvoreno meio 0 jar im do Eden, ate
as ordenayoes dirigidas a um profeta e as diretrizes divinas
reveladas a um individuo, como a Abraao: "Sai da casa de teu pai"
(Gn 12,1) , ou a c.oletividade: "Nao teras falsos deuses ao meu
lado" (Ex 20,3). Estes ultimos, de cunho duradouro, entraram como
parte integrante no regulamento do culto.
E preciso ainda levar em considerayao a funyao real da palavra
instrutiva, e nao somente 0 seu angulo de vista teorico e abstrato.
Um homem parou numa encruzilhada
19
-
nao sabendo para onde se voltar: Nesta situac;ao vem-Ihc em
socorro uma palavra orientadora e autorizada. Era a caso pessoal de
Abraao ao ouvir a ordem de sair de sua terra natal; ou daquele
jovem rico ao qual Jesus insinuava: "Vende tudo 0 que possuis"; ao
outr~: "Toma teu leito e anda ". Em situac;oes determinadas 0 homem
necessita de im erativos categ6ncos como tinica w!!!9ao. Sem estas
indio cac;oes preclsas e inequfvocas, 0 caminho do homem nao
conduzira 11 meta final. A palavra norteadora enviada a Abraao
encetava a hist6ria dos patriarcas; revelada aos pro-fetas,
inaugurava a hist6ria da profecia; do mesmo modo a palavra de
Jesus: "Segue-me! ", marcou 0 inicio da hist6-ria dos ap6stolos.
Sim, Deus na hist6ria de seu pov~ do ho'!!.m indiyidual:
admoestando it conversao, auxiliando a urn indigente , proibindo
urn culto iJegal, convidando para terras novas.
c) A alavra cultual~e Deus situa-se no contexte de ac;ao sagrada
ria resenc;a4a assembleia cultuii["IUiiciOffifn-9.0 0 sacerdote
como intermediario da procJamac;ao desta palavra. Vma das palavras
tipicas deste genero e a benc;ao, ou seja, a palavra sacerdotal
comunicando a benc;ao divina, garantindo dom imediato, em QPosic;ao
11 palavra profetica que.Yisualiza 0 futuro , ou ao preceito e 11
lei que constituem urn imperativo. Deus abenc;oa 0 seu povo
mediante a f6rmu-la pronunciada pelo sacerdote. Das mesmas
caracterlsticas
. se reveste 0 anlmcio do atendimento ou do perdao depois que 0
povo suplicou no decurso do culto; entao 0 sacerdo-te da certeza,
respondendo em nome de Deus. Em certos casos , a benyao pode ceder
lugar a maldic;ao , conforme se ve no Deuteron6mio. A proc1amayao
dos mandamentos du-rante 0 culto tern a razao de ser na vincula9ao
com a teofa- ' nia sinaitica. Note-se, entretanto, que cada
preceito e cada serieoe preceitos exerceu funyao diferente. Assim,
por exemplo, 0 preceito "nao mataras" e instruyao ' que inspira ao
homem 0 rumo a tomar ou a nao tomar. A serie dos preceitos
anunciados por ocasiao do culto divino tern 0 fito de manter vivo 0
que Deus ordenou globalmente. Por este motivo, em epocas
posteriores a prodamayao dos pre-ceitos tern sido ampliada pela
leitura da Tora.
20
. .. embleia responde diversamente ao antincio da pa-d Deus: com
0 amem, com louvor, com 0 sacrificio m n confissao. Assim, a
palavra dirigida aos homens e pO~IO destes formam conjunto
admiravel e s6 possivel 1I1t0 autentico. , -1',los tres funy6es do
oraculo divino (a, b, c) nao repre- I:i
11m toda a RJenitude da pala'ra, mas continuam
existin-Inconfundiveis em toda a hist6ria, tendo cada uma a pr6pria
hist6ria: a palavra que promete salvayao ou .~n julzo, nas
profecias; 0 preceito e a lei nas formula-
e nos elencos de preceitos enos c6digos das leis; a , llvra
cultual na hist6ria do culto divino.
Das tres funyoes da fala divina somente a palavra pro-r II
recebeu ume seyao pr6pria no canon biblico; isto "I quer dizer que
a profecia seja a parte central do Antigo I li men to e nem que
Israel professe uma religiao prore-II I. 0 or:\Culo profetico, situ
ado entre 0 discurso instrutivo
ultual, salienta vantajosamente 0 caminho de Deus como "do uma
hist6ria marcada, des de 0 inicio, por uma pala-Y I . alda de Deus.
0 mesmo oraclilo liga adequadamente os .1 I. Testamentos,
participando tamMm 0 Novo Testamen-III dos vatidnios de salvac;ao e
dos juizos de Deus enuncia-.1 , no Antigo Testamento.
A divergencia essencial entre as interpretayoes judai-'I c
crista do Antigo Testamento e que para os primeiros A porc;iio mais
valiosa seja a instruc;ao (Tora), e ''Olio tanto II antincio
profetico. A Lei, assim tomada, e a palavra divi-n l por
excelencia, merce da sua vinculayao com 0 Sinai. I' rgunta-se,
entretanto, por que 0 xodo precede cronologi-camente 0 Sinai,
valendo 0 mesma fato para os escritos dos profetas que. figuram, no
canon, antes de os da Lei terem rccebido esta designac;ao?
o d isivo e que a fala divina fi ue ligada 11 hist6ria, Isso nas
tres funQoes. 0 nllgo estamento 19nora uma
palavra divina abstrata e objetivada que se pudesse, mais larde,
converter em doutrina dogmatica. Pelo mesmo moti-YO, nenhuma das
tres funyoes assinaladas deveria ser abso-lutizada, conforme foi 0
caso ao ser transformada em pala-vra divina soberana na
hermeneutica rabinica, ou, na teo-
21
-
logia crista, ao ser CLAntigo Testamento inteiro to~do unl
lateralmente como romessa a ser cumprida no Cristo. Qual quer seja
a modalidade de abstra~ao, a interliga~ao das tr~1 fun96es deve ser
sustentada firmemente, conforme veremOI nas linhas seguintes. .
3. Revela(:iio no Antigo Testamento No Antigo Testamento nao
existe 0 conceito revela~lio
universalmente valida; jli em teologia crista, revela~o coin
cide com 0 revelado, revelaCao e aquilo que Deus reveloll, Nao
assim no Antigo Testamento. Falta em hebraico . 0 ter mo abstrato e
objetivado; r'~ao aflitiva. Nos primeiros tempos, este advir era
acorn panllado Oe manifesta~6es grandiosas da Natureza, como, por
exemplo, no mar dos Juncos ou nas batalhas da era dos Juizes.
VejamoscomOexemplo 0 come~o do cantico de Debora Uz 5,4.5):
lave! Quando saiste de Seir, quando avan(:aste nas planicies de
Edom, a terra tremeu, troaram os ceus, as nuvens desfizeram-se em
agua. Os montes d.%lizaram na presen(:a de lave, 0 Deus
de Israel. Nas suplicas do povo solicita-se semelhante manifesta
~ao divina:
22
Tu que estas sentado sobre os querubins, aparece diante de
Efraim, Ben;amim e Manasses
(SI 80,2.3). Deus vern de Temii e 0 Santo do monte Fara ... Seu
brilho e como a luz,
,.Iu. saam de sua mao ... I "c1ra e jaz tremer a terra ...
II
-
cep9iio (11 ). A revela9lio pela hist6ria 6 apenas indlreta.
Quan. do Pannenberg declara (17): "Revela9lio e a totalidade de
tuda quanta acontece" J enHio eu concardo com ele, embors com 0
Antigo Testamento nlio combine que tudo seja qualificado do
"revela~ao" . Na mesma obra de Pannenberg, R. Rendtorff fornece
um
conspecto sobre Die Offenbarungsvorstellungen des Allen Tes
taments ("As conceitua90es de revela9lio no AT", 21-41). Cons
tatando que 0 Antigo Testamento carece de termo especifico para
exprimir a revela9iio (22) conclui: "0 autotestemunho do J ave na
hist6ria de Israel e do mundo e, para Israel, 0 nasce-douro de teda
a fe e de toda a teologia" _ Com esta frase ele se nproxima
bastante da tese de Pannenberg, principalmente quan-do 08crcvc:
"Uma teologia do Antigo Testamento, baseada na 11l'6prlO Blblia.
dever6 partir sempre da concep9iio hist6rica de Ilroci c de 8\108
Iransforma90es hist6ricas"_
III . A RESPOSTA DO HOM EM
Chegamos a uni. dos pontos mais inte~es~a.ntes da Te,?-logia do
Antigo Testamento.l2 Sendo a hlstona uma acae. reciproca, a
resposta do h2mem ocupa posi~~o reJe~an!e. em tu 0 que iz respeito
a De.u~ , comeyan?o Ja na ctJaya~ e estenden o-se a e' 0 Apocahpse.
A rea"ao do homem e simplesmente 0 objetivo do falar e do a-glr de
Deus. -
Estes pont~s de vista tocam a teologia inteira. A teol?-_ gia
ocidental tende a isolar a reay~o humana da teologla p-ropriamente
dita (dogmatica), como se n?o p~ss~sse de coisasubordinada. A
resposta human a no dla-a-dla mteres-sa a Itica' no culto pertence
a teologia liturgica; quando 0 homem r~za, entao ele e da alyada da
etica ou da liturgica. Tais atribuiyoes a areas diferentes tern por
resultado certa
12 A resposta _do homem pertence 80 que 0 AT diz sabre Deus,
tambem em G . v. Rad, Theologie, I: . Israel perante lave (8
resposta de Israel). e W. Zimmerli. IV: A vida ante Deus: 16: A
resposta da obediencia. 17: Louver e suplica por auxilio.
24
,
quo ]6 nno permite enlonder a resposta do homem t rne do
lcologia; em oulras palavras, s6 11 Biblia
tllzer 0 que seja oray80, culto oti ebediencia coti-A rosposta
do homellL deveria..ser qualificadlLcomo
lcmenlos mais relevantes do Antigo Testame,:to."
IlIIme", responde /alando
l> homem reage normal e espontaneamente por excla-m toOl de
louvor, de agradecimento, por votQs, p_o ora-
llidrgicas no temp lo(Salt6rio).,4 Os elementos dos rnol sao os
mesmos dos livros hist6ricos referentes a 1I\1.~Oes diarias. Todos
os itens constitutivos de urn salmo
" lamentayao ja ocorrem no voto de Jac6 (Gn 28) ou na IIU I a de
Sansao Oz 15,18): invoca
-
A prece veterotestamentl\l'io dlfere do idela COmtlnl . 'rodus
as oxporlCnclas, quer pessonls queT coletl. em voga. Para n6s, a
prece e algo pessoal do homem quo II Bua raiz em Deus e, pOl' isso,
distinguimos entre toma a resolu9ao de oral', que pode exortar e
ser exortado /I Indlvlduais e comunitarios. A correla9ao entre as
orar. Esta mentalidade deriva da ora9ao liturgica que, por
htHlontftneas e os salmos liturgicos liga 0 cotidiano sua vez, ja
perdeu a liga9ao com a prece espontanea quO f Htlvo, 0 trabalho it
solenidade. Nos salmos figuram deveria brotar naturalmente das
experiencias cotidianas. A II" campos da vida normal: a casa e 0
caminho, a ora9ao ofieial dos Salmos nao passa de acumulo de
e1emen. Il a ofieina, 0 leito e 0 quarto do enfermo, a vida tos
instintivos que agora, no culto divino, recebem sua for. Il a idade
avan9ada, varao e mulher, pais e filhos, ma artifieiosa. posto que
conservando 0 sabor de ora9ao nmigos. pessoa!. No plenario da
assembleia, os gritos espontan~O.9 A hlst6ria do poyo de Deus forma
outro assunto pre-a Deus sao enfeixados nos Salmos, retomando os
partici' III /IUS salmos. A vida tribal, a monarqUia e os
prlnClpes, pantes, logo depois, a vida normal de cada dia. I rial c
derrotas, cativeiro e liberdade recuperada.
o homem reage a impressoes que Ihe sobrevem de fora, It. nfim,
os salmas abarcam 0 universo inteiro. 0 SI 01'0 ogll1do, 01'8 fo
lando, ora refletindo. Entre ~s numeros.as "cullvoca ao louvor
divino todas as criaturas no ceu 1'00900s folodos 6 a que nos faz,
inconsciente e mvoluntana I"hr a terra; alarga-se imensamente 0
horizonte dos
l1l ~ nl cxclomor: "Or09as a Deus que voce chegou!"; "ai, II
rill hist6ricos para tudo 0 que acontece entre 0 Criador I D - '" t
qtl ll ITIIII'f\vl lhol"; "meu eus, agora nos matarao. e ou ras.
lun obra.
A Hnguo folada dlsp6e de bem mais alocu90es do que pensa 1110B,
porquanto as interjei90es oh! e ah! intro.duzem,locu. g COcs que
nao preeisam ser estritamente alocu90es. Ha uma () homem responde
a~ exclama9iio que, por assim dizer, transcendentaliza a nossa I~
realidade sem que seja preeiso pensar em Deus expressa !late tipo
de rea9ao comp.!eende a pratica do cotidia-mente: Eu penso na frase
"Ai, meu Deus! II que brota das III~ ,em primeiro lugar, as
atividades exercidas no templo, profundezas da natureza human a,
fazendo-nos entender em 1I11r ludo 0 sacrifieio. que grau elevado a
prece e esseneial do homem. On de quer A vida de cada dia e suposta
nos livros hist6ricos cujas ~~~ ~~~ ~~a~e~sh~~=~t~rts~~~:ed~a~~~~
~~t!~e d~~e~;~: IU'uturas . reproduzem aquilo .Eu~ Degs ordenou e 0
que , d I 'Id send.,2..posto em pratica, com toda a sua
complexidade te de a90es espontaneas e refleti as. Ii I,receitos e
leis. 0 Antigo Testamento supoe com razao
Segue dal que nao podem coexistir, ao mesmo tempo, .~ r 0 homem
id6neo a fazer normalmente a vontade de lamenta9ao e louvor; rir e
choral' tern 0 seu tempo (Eel 3). IILIiS. DeliS ordenou a Abriio:
"Sa!...!" e Abriio saill, Querelas e louvores sao, como riso e
choro, passos no mes 'urrespondendo a vontade divina. 0 vidente
gentio Balaao mo caminho hist6rico; prova-o a estrutura dos salmos.
0 "bOn900u Israel em vez de amaldi90a-Io, porque Deus assim que
lamenta ja anteve 0 louvor mediante 0 voto; 0 que lou II displlsera
. Os preceitos estao ao alcance da capaeidade va lan9a 0 olhar
retrospectivo a profundeza da qual acaba humana: "Porque este
mandamento que hoje te ordeno nao de elamar a Deus. Urn estado de
alma segue 0 outro, sem excessivo para ti, nem esta fora do tell
a1cance" (Dt 3D, coexistir assim como nao podem ser niveladas
alturas e de II). Existem, e elaro, a90es obedientes e
desobedientes, p.
-
para dizer sim a Deus e para agir em coerencia com este seu
sim.
O- sacrificio: 0 sacrificio, ou seja, a atuayao voltada p'ara
Deus, tern longa hist6ria; esta sempre presente na Bfblia desde os
tempos pre-hist6ricos ate a destruiyao c1efi-mtlva do templo em 70.
d.C. 0 sacriffcio tern a seu serviyo parte consideravel de leis e
regulamentos que Ihe formam a infra-estrutura institucional. ~
parte integrante da nature za humana. Em Gn 4 (Caim e Abel) e
oferecido ao Deus-benfeitor, em Gn 8,20.-22 (Noe) ao Deus-redentor.
mesmo congenito da nalt!reza do homem e nao somente uma
pro-priedade de Israer:- Na mitologia babil6nica, 0 homem foi
criado para servir aos deuses; na Bfblia, a sua tarefa cona-tural e
a de lavrar a terra e conserva-Ia. Portanto, no Anti-go Testamento,
a vontade divina e entendida mais ampla-mente, penetrando ate a
vida de cada dia. U Mais vale obe-diencia do que sacrificio" (ISm
15,22), e nunca 0 contra rio. Nestas condiyoes, a vivencia
religiosa continuava meso mo sem os sacriffcios, ap6s 0 arrasamento
do templo em J e rusalem. Daquele dia em diante nao ha sacriffcio e
a reli giao mosaica e praticada perfeitamente sem oferecimento de
anima is, ao passo que a resposta falada, na liturgia sina-gogal,
conservou a sua fUnyao permanente, ficando dai comoreensfvel 0
Iugar distinto que os Salmos ocupam den-tro do ciinon bfblico.
IV. 0 DEUS ONICO E FAT OR UNIFICANTE
, Acabamos de reduzir a poucas linhas mestras aquilo que 0
Antigo Testamento ensina sobre Deus. Deus e uma hist6ria a
desabrochar entre ele e a sua obra criada, entre ele e 0 genero
humano e 0 seu povo, desde que 0 mundo existe, ate 0 seu fim. De
parte a parte existem al'ao e rea yao, pronunciamento e resposta,
quais alicerces desta his t6ria. '
o agente amalgamador para uma s6 hist6ria da imensa variedade
das realidades e a unicidade do Deus de Israel:
28
,Av6, noss
-
paro total que se criava a profissao de f6 mais categorica na
unicidade de Deus (Is 43,10):
Antes de mim nenhum Deus foi formado, e depois de mim nao haverd
nenhum. Eu, eu sou lave, e fora de mim nao hti nenhum salvador (Is
43 ,10.11) .
Antes do Deutero-Isaias ninguem formulara 0 do~ma da uni-Cidade
de Deus com tamanha clareza; para ele e 'p.onto pa-cifico que os
outros deuses nem existem. Esta umcI.da?~ de Jave e confrontada com
0 tempo, ou seja, com a hlstorla:
Eu sou 0 primeiro e ultimo, fora de mim nao hti Deus (Is
44,6).
o Antigo Testamento nao da importancia demasiada ,a urn
monoteismo especulativo; a que pretende sustentar. e qu~ o Deus de
Israd nao tern rival nem igual, e nem. t~rla cabl-mento inventar
.!eog~m torno de urn Deus um~o.
A profissao CIe16 em J ave, Deus unico e excluslvO, tern ainda
outra conseqiiencia: este Deus, deve-~ ser p~ra todo~, sem exce9ao.
0 Deutero-Isaias defe~de umversahsmo reli-gioso sem precedentes.
Que os israelitas qu:brantados recf-brem animo! Jave continua 0
mes~o: ~Ie nao fracassou , e e ainda e 0 criador e 0 senhor da
Hlstona:
... Pois nao ~abes? Por acaso nao ouviste isto? lave e Deus
eterno, criador das regiOes mais ro:zotas da terra. Ele nao se
cansa nem se fa/lga, a sua inteligencia e insonddvel. E ele que dd
forfa ao cansado, . que prodiga/iza vigor ao enfraquecldo (Is
40,12-31).
Na pr clama,ao profetica, 0 Criador do mund~ e identic? com 0
'1Salvador de Israel, reunindo-se as duasl~lilia~ rUa ~-. . 0
Salvador de Israel e 0 Senhor da Hlstona m-
clonals. d ' ao deste versal e 0 Criador- dO-Cosmos. Tu 0 esta
na m unico Deus:-
30
II PARTE
DEUS-REDENTOR E HISTORIA
11I11I1t/llrllo
Antigo e Novo Testamento conhecem urn Deus-reden-11111 por
exemplo, na cura do cego de nascen9a (Jo 9,1): All possar Jesus viu
urn homem, cego desde a nascen9a ". I III t'lIl11illho, Jesus
repara num homem sofredor e 0 seu " IIir 6 de comullica9ao com 0
padecimento humano. 0 III 1110 olhar divino ocorre 110 livro do
!xodo:
liu vi, eu vi a miseria do meu povo que estd no Egito. Ouvi 0
seu clamor por causa dos seus opressores; pois eu conhefo as suas
angustias (Ex 3,7).
1111 10 9 os discipulos inquirem: "Rabi, quem pecou, este IIU OS
pais dele, para que nascesse cego?" Eles defendem, 1 111110 se ve,
a doutrina tradicional da retribui9ao: a causa du sofrimento e 0
pecado; interessa apenas saber quem seja " culpado, 0 cego ou os
pais? Os amigos de Jo viram 0 so-rl'lmento pelo mesmo prisma;
perspectiva essa teologica e IIAo de misericordia. Jesus
respolldeu: "Nem este pecou, 110m os seus pais". Para ele, 0
sofredor e relaciollado com u Deus-salvador que reage ante 0
sofrimento de sUas cria-luras, e roi nessas cona~oes que come90u a
Istoria e Israel. 0 compadecimento divino nao pergunta pela cui a.
Jesus reslltui a vista ao cego e 0 episo io teve como
con-leqiiencia uma disputa inesperada acerca da cura, quando 11m
grupo de fariseus fanaticos ensinavam ao cego de virar 8S costas ao
seu benfeitor divino: "Da gloria a Deu~! n6s sabemos que este homem
e pecador" (v. 24) . Ao que 0 cego curado retruca: "Nao sei se ele
e pecador. Somente sei que estive cego e agora vejo" (v. 25). A
replica revela como
31
-
a salva,ao e entendida em Israel: ela e objeto de experien.
ciaessoal, nao apenas uma proclama,ao verbal; e encon tro com 0
salvador; 0 beneficiado e 0 seu salvador come,am a forinar uma
unidade espiritual e ja nao importa 0 pro blema da culpa. No final
do epis6dio, 0 cego curado vol ta-se aquele que 0 curou: "Creio,
Senhor! , e prostrouse diante dele" (v . 38).
I. 0 DEUSREDENTOR NO ANTIGO TESTAMENTO
1. Na saida do Egito
"A narra,ao do exodo do Egito e 0 cerne de tudo 0 gue e narrado
no Pentateuco" (M. Noth, r94-~54).Oii1es mo vale a respeito do
"pegueno Cre~o" (G. v. Rad, 1938), que resume a narrativa do livro
do ~xodo. Na introdu,ao ao Decalogo (Ex 20), no oferecimento da,s
primicias (Dt 26) e na evoca,ao das proezas divinas (Dt 6) este
"Credo" lembra oficialmente 0 que Deus fez em favor de Israel.
Existem ainda outras passagens com 0 mesmo encontro de Israel com 0
seu Deus, que marca toda a hist6ria de Israel, inaugurando 0
dialogo entre ambos.
A libertac;ao operada por Deus no Egito, que signifiea o inicio
da hist6ria naciona!, ja fora anunciada por Jose: ---- Eu vou
morrer, mas Deus vos visitard e vos jard sair
para a terra que ele prometeu, com juramenta, a Abraiio, Isaac e
Jaco (Gn 50,24) .
Neste vers1culo, a hist6ria dos patriarcas e ligada a hist6ria
nacional que, por sua vez, fundamenta a religiao javista como
resultado da fixa,ao e da unifica,ao das tribos em Canaa. No
termino da hist6ria poHtica, esta mesma hist6ria nacional,
fornecera ao DeuteroIsaias os elementos dos va ticinios sobre a
liberta,ao dos exilados em Babilonia.
Tambem 0 culto divino se reporta a liberta
-
(menos freqiientes) durante a monarquia, sendo 0 primeiro rei
destinado a salvar Israel da ameac;:a dos filisteus . TodD! os
casos constituiam nova prova e diferente da interVeny80 divina. As
narrac;:oes confirmavam a realidade para todos os tempos vindouros.
'
A passagem pelo mar dos Juncos e seguida pelas pro. videncias
tomadas na caminhada pelo deserto. Mais do que por inimigos, os
israelitas ficavam apavorados pelos espec tros da fome, cia sede e
da fadiga. Estava em jogo a simples sobrevivencia . . Os relatorios
sobre as murmurac;:oes teste munham em que grau tais acontecimentos
desagradaveis ficaram gravados na memoria de Israel, tanto assim
que 0 verbo lun ("murmurar"), e empregado so nestes.contextos
antigos, e nunca mais tarde. E ainda digno de nota que as revoltas
populares contra Deus e 0 seu'representante,-.Moi. ses, longe de
serem punidas or Deus conv_erteram~ em emejOsQe semp.fe novas
mtervenyoes salvadoras. - Israel aprendeu ue Deus nao era somente 0
Salvador
dos a uros causa oS....Qr inimigos, mas tam em dos aper tos
elementares da existencia humana. Israel sabia distin guir entre 0
"pao da benyao" que cresceu durante p ano gra c;:as a colaborac;:ao
humana, e o "pao da saivayao" recebido em epocas de carestia, e
este como dom especial de Deus redentor (d. 2Rs 6 e 7).
Diferentes eram os casos de salvayao durante as pas sagens pelas
terras habitadas, quando os israelitas se viam na obrigayao de
combater pela posse do territorio. Este pe riodo e marcado pela
presenya de lideres carismaticos, reo presentantes do Deusredentor
(J z 6 e 7). Geravase mudan c;:a profunda nas relayoes com Deus
quando. no tempo da monarquia, as lutas defensivas contra os
filisteus transfor mavamse em guerras de agressao que ja podiam con
tar com a assistencia divina.
Nao obstante essas guerras de expansao, a era dos reis ofereceu
situac;:oes de sobejo para se sentir a salva~ao de cima; prova sao
as lamentayoes do povo que solicitava 0 auxilio divino nas afliyoes
da hora presente, evocando as proezas de Jave nos tempos de outrora
(SI 80; Is 63/64).3
3 C .. Westermann, ThB 24. pp. 306335.
34
"'''"111 /I Iibertayao do exilio babil6nico e descrita pelo III
III Ift nfas com as cores de novo exodo.
h) 0 d.iscu~so. v.em sendo ampliado para dentro do II\bl lli ciu
vIda mdlVldual. Entra aqui 0 tema dos salmos IIdl~"hI/lJs ue
brotaram das angustias e da sensayaoaese I ."Ivo das garras da
morte, seguidos pelo louvor de .'.I I~l hnc11to ao Deus-salvador
que "olhou para as pro
tllllliitludcs" (SI 113,6). Repetem-se certos episodios da vid~
1111 "lIldarcas, quando Deus interveio diretamente: a salva-...
till fllh~ morrendo de sede (Gn 21); os riscos da mae
1111 N II '!lI1~elr~ (Gn 12,1020); a salvayao de Jaco da vin-
II~" do !fmao (Gn 32); a providencia divina em favor de n "1" 111
1m (Gn 37 e 44) .
c) ~ a ao salvadora estende-se sobre todas as criaturas tllI/muo
0 diluvio, Deus, pOI' um lado, extermina as sua~ IIAluras, mas, por
outro, salva urn resto da perdiyao
II .. dguas. As yassagens apocalipticas tambem relatam
per-III~no e salvayao (Is 24-27). A ayao divina nao tern
limites.
" Abrangencia do Dells-salvador
Descrevendo 0 Antigo Testamento a salvayao nas areas 'lircrent~s
do povo, do individuo e do genero humano, ele 'Iller I.nsmuar a
universalidade do Deus-redentor. Todo ho-111 In Ja teve as provas
dlsto, em to a a parte e em todos "' tempos. .
A raiz da experiencia acha-se em a natureza do ser humano.
-
cedida sendo Deus 0 unico fator iri16vel. Ambos os Testa mento;
concordam em que ~e e salvador or essencia. 0 tema central do Novo
Testamento e a salva9ao operada pelo Cristo, 0 soter e a soteria
(salvador e salva9ao). Apa rentemente diferentes, os acontecimentos
redentores no xo do e no Novo Testamento tern em comum 0 Deus que
efe tuou 8 salva9ao.~ -
Desde muitos anos, 0 termo "elei9ao" ocupa 8 Teola-gia do Antigo
Testamento. A palavra nao se acha nas se 90es narrativas; sua
fun9ao e mais interpretativa e retros pectiva. Nao foi a elei9ao,
mas sim a reden9ao que:ez de Israe 0 povo de Deus. A eleis:ao e 0
fruto de reflexaoJ!2s, terior. Vejase 0 artigo de H. Wildberger em
THAT, I, 275 300: "Os exegetas concordam pratieamente em que antes
do Deuteronomio nao se fala em elei9ao de Israel (284). o lugar
cliissico esta em Dt 7,68:
Foi a ti que lave teu Deus escolheu para que perten fas a ele
como sou povo pr6prio, dentre !odos os po vos que existem sobre a
faO!! da terra ... Nao por serdes o mais numeroso de todos os povos
.. .
Da passagem citada concluise que 0 conceito "elei9ao" e
interpreta9ao post factum, ou seja, depois .qu~ Jave arra~ca ra
Israel do Egito. 0 contexte de Dt 7 mSlste categonca mente na
separa
-
pacto concluido, nao se menciona 0 monte Sinai. Trata-se ,
portanto, de amplia~5es da teofania sinaitica (L. PerJill, 190-203
e outros) que refletem a ideia da alian~a entre J av6 e Israel, sem
for~a de argumenta~ao positiva em abono de uma alian~a no
Sinai.
2_ 0 segundo contra-argumento deriva do termo berit (alian~a) no
Antigo Testamento e na historia_7 Todos con-cordam em que a seu
significado e mais dinilmico do que cstatico; e uma a~ao, e nao uma
situa~ao inerte. Traduzi-Io sempre como se fosse alian~a, e erro
lexlcogra ico. Berit e 0 ate de alguem se obri ar solene e
oficialmente, como se fos-se urn juramento (N. Lohfin , SBS 28)ou
uma promissao vinda de Deus. Interessa, neste contexto, a locu~ao
idioma-tica karat berit ("cortar" urn pacta), ao se concluir urn
pacto mediante a passagem pelo meio de animais retalha-dos (Gn 15 e
Jr 34).8 0 lexema parece incluir uma especie de automaldi~ao
condicional juntamente com 0 consenti-mento obrigativo. As
implica~5es teologicas do termo da-tam da epoca deuteron6mica (L.
Perlitt, ibidem), e nem consta se a palavra tenha entrado no
vocabulario biblico antes daquele tempo. Por isso, nao convem
postular uma alian~a em regra em conseqiHlncia da teofania
sinaitica. 0 fato e a ideia surgiram muito depois:
lave nosso Deus concluiu conosco uma alianra no Ho-reb (Dt
5,2).
A frase introduz 0 Decalogo e nao a celebra,ao de pacto; neste
contexto, berit e sin6nimo de "lei", ao passo que em Dt 7,9 design
a promessa:
Saberas que lave teu Deus e 0 unico Deus, 0 D,~us fiel que
mantem a sua alianra e 0 amor por mil geraroes ... " caracteristica
teologica do Deuteron6mio que a..1!..e-
rit e concretizada or meio de promessas _e nao de precei-tos
erlitt, 63). ~
7 A. Jepsen traduz beri! como "selene promessa", "compromisso",
in Festschrift W. Rudolph; E. Kutsch, in THAT I, 339-352. com mais
bibliografia.
8 Mais bibliografia em L. Perlitt, 55-77 e C. Westermann, Gn
15.
38
I I It IlIltl , b rit servia para interpretar os eventos ini-
,III IllHl\ltfn de Israel. Dois textos do G" .
I I ' . enesls exempll-"Ill II 111111 IIn~a semantlca de berit.
Em Gn 157-21 _ I IIIIII ~ U M"I ne e promessa sob 'uramento' ' e
a
'''"11 It 1,1 jlnlv{lvelmente da mesm~ epoca ~gual a gt 7,9, ,iI
II d~11()11l uma alian~a, urn pacto bil~ter:t em n 17
,:111. /I "rS 'Srael, em torno da circuncisao assi~e~~~~e~: I "
/' Cl' nle ao Decalogo. Ambos os I~ d'
1111 1I /1I11 um preceito e uma lei relatl'vosg~re~, a emalS, ~
III 1/ , a epoca pos-
1, ~,terceiro argumento contrario consiste na . '''"l1l1ldo
f6rmula pactuaria" (Bundesformel), ue e~SSIn: "II/,hl'l"oda lem a
ver com 0 termo berit e nem ~o~ a i;:i: " 1/ I/Ilya. POl'
exemplo:
I1scutai a minha voz... (('lltliO sereis 0 meu povo e eu serei 0
vosso Deus Ir 11,4).
rllrmulayao e ampliada peculiarmente em Dt 26 16 1 1'1111/
cncerrar os capitulos 12-26 dedicad '. - 9 h I Is t d 28 os aos
preceItos e
, e an es e e 29 (ben~aos e maldi~5es): Iloje. fizeste Jave
declarar que ele seria 0 teu Deus c hOl~ lave te fez declarar que
tu serias 0 seu po~; pr6pno.
() resumidas aqu~ as duas se~5es principais do
Deuteron6-IlIlo'Da saber, os dlscursos de Moises sobre todas as
obras
1,1 11 ells fez em favor de Israel inclusive as promessas
futu-II1 Mj como outras tantas provas eoncludentes de que J ave e I
1/ ,~nente 0 Deus de Israel. A segunda seyao compreende ""
Imandamentos, decretos e ordenamentos" que aceitos 1'01' srael,
testemuhham a vontade de ele ser 0 p~ 6 11"'0 de fave. vo pr -
A "for~ula yactuaria" nao se relaciona com nenhum rllu~1 ou
cerlmomal de eelebra~ao Iiturgica de alian9a, oeer-fcr 0 qu~s~ q~e
,ex~lusivamente em discursos divinos para l' sar a VlvenCla mtIma
entre Jave e Israel; uma celebrayao
9 R. Smend. ThSt 68- R. Kraetzshmar, L P ,. 1619 e 8
"Bunde,forme!".' . er ttt; 102-115, Dt 26,
39
-
das relay6es com Deus, portanto (L. Perlitt, ib., 114). 0 termo
niio se compromete nem com determinado ritual nern terminologia
fixa, deixando 0 caminho livre para muitas interpretay6es. A
"dinamica dialetica" (M. Buber, 1954) entre Deus e Israel recebeu
nesta f6rmula a sua expressao mais clara e mais resumida.
II. 0 PROCESSO DA SALVA
-
19: Teofania (par. 24,15-18 P) . 20: Decalogo.
21-23: C6digo da Alian
-
?"O), .c~m .0 suplemente (12,43-51) e a censagra~ae des
pri-megemtes (13,1.2). Mas tambem esta fente acena a hist6ria da
qual desabrecheu a Pascea:
E assim que devereis comMa: com as rins cingidQs, sandaizas nos
pes e vara no mao; come-Io-eis as pres-sas; e lesta para Jave (Ex
12,11).
E.sta am'pIi~~ae em 12 e 13 tern triplice significa~iie
teel6-glca. Pnmelro, a a~iie salvadera inaugurou e marceu a
re-la~ae de I~rael cern seu Deus para tedes .os tempes futures; a
celebra~ae pascal sera sua perpetua eveca~iie, bern ceme a eferta
des primegenites, jamais emitida nes secules 'se-guintes.
Segunde, a estreita vincula~iie entre culte divine e his-t6ria.
Tante a a~iie divina atraves das esta~6es de ane, ceme .0 culte de
peve estabelecide tern carater ciclice. Mas .0 culte em Israel
censerveu abertura para a hist6ria retili-nea e .0 future.
Terceire, a rela~iie entre Ex 12 e 13 e Ex 19-34 A bern dizer,
ne decumente P .os regulamentes das festa's e des sacrificies
decerrem da teefania sinaitica. Centude, aparecende algumas dessas
erdena~6es ja per ecasiiie de exede, evidenciase a impertancia da
,!~~.o Iibertad.ora de
D_e~s JJara a naclOna I a e e a relig[iie de Israel. A dita
te.o-fama fundamenta .0 cu t.o sedentarie celebrade em santua-ri.o
e~ta~elecide, ae pass.o que .0 culte em Israel niie pede prescmdlr
des antecedentes nomades deste peve.
A amplia~iie .observada em Ex 32-34 excede a hist6ria da
reden~ae prepriamente faland.o. 0 epis6di.o de bezerr.o de euro
acarreta .0 rempimente e a ren.ova~ii.o da alian~a c.oncluida ne
capitule 24. Nl! dita amplia~ii.o faltam tante a resp.osta d.os
remides (Ex 15), come .0 at.o salvader (Ex 12 e 13). Retrata-se a
primeira apestasia de pev.o daquele Deu.s.a ~u~m deve a existencia.
Muites interpretes lebrigam aqUi mdlclOs da futura ap.ostasia de
reine setentrienal e d.o cult.o id6latra de Betel (1 Rs 12-14). Os
redateres d.o Pen-tateuc.o ja centaram cern apestasias e
des.obediencias futu-ras._que. iriam trazer n.ovas situa~6es de
culpa e castige. A umae clmentada pela salva~iie divina e
seriamente abalada 44
pela ap.ostasia. Per esta perspectiva, Ex 32-34 censtitui .0
el.o de ligaciie de Pentateuce cern a hist.oriegrafia de
Deute-ren.omista e d.os pr.ofetas que versam sebre a preblematica
de culpa e castig.o. Ja fic.ou dite na intreduyiie que .0
Pen-tateuc.o e .0 resultade de c.onfissiie de l.ouv.or, assim ceme
.0 Deuter.on.omista (Dtn) .0 e de c.onfissii.o de culpas. A
intencae c.onsciente desta liga~iie revela-se na intr.odu~iie ae
livr.o des J uizes (Dtn) ne qual celidem c.onstantemente a
ap.ostasia cern a aya.o salvifica de Deus, ebservande-se uma
especie de refermula~ii.o de celebre crede de Dt 26:
Os Ii/has de Israel lizeram a que e mau aos olhos de Jave.
Esqueceram a Jave seu Deus para servir aos baals e as aseras. Entao
a ira de Jove se acendeu contra Israel, e as entregou as maos de
Cusii-Rasataim, rei de Edam ... Os Ii/has de Israel clamaram a
Jave, e Jave Ihes susci-tau um salvador que as libertou ... A terra
descansou durante quarenta anos (lz 3,7-11).
Ex 32-34 antecipa ainda alguns aspectes da profecia
cemi-nat6ria. 0 intermediarie que anuncieu a Iiberta~iie t.oma-se
agera prefeta de juizo divin.o, .assuminde, ae mesme tempe, .0
_apel de intercess.or. 0 Deus-red~ter transfermeu-se em
eus-juiv. '-------
3. Pericope sinaitica (Ex 19-34)
Este segment.o de !x.od.o sai de esquema habitual. Fal-ta nele
.0 relacienamente diret.o c.om .0 Deus-salvader, ceme alias tambem
n.o cred.o (Dt 26). G. v. Rad cenclui, cern razii.o, que estes
capitul.os espelham tradi~iie independente. Na teefania descrita
ali, Israel recebeu .os elementes basi-ces de seu culte divine,
cenferme veremes na IV parte. Se, per urn lade, a teefania fei
epis6di.o pertencente ae peve em caminhe, per .outre lad.o, .0
culte regulamentade c.ombi-na cern as trib.os ja estabelecidas em
Canaii (Ex 24-40, P). Igualmente, as leis e .os preceites
atribuides a esta teefania enquadram-se melher nas cendi~6es de
peve ja residente na
-
terra prometida. A celebrac;ao do pacto (Ex 24) representa a
fase da transic;ao para a vida sedentaria.
Os elementos eonstitutivos da saida do Egito ate a chegada em
Canaa transpiiem os Iimites da hist6ria inicial de Israel para .
infIuir de maneira mareante sobre amplos
trec~os do AntIgo Testamento. :t:'!a sua salvarao, Israel
pre-~en~l~u as fas;anhas p~o?igiosas de?e~sClJ'eradas, ora no
mdlvl~uoJ ~ra n.a co.letIVldade. 0 anunclO da sa vac;iio criou uma.
sltua~ao dlah~tlca entre promessa e cumprimentoque contInua vIva
para dentro do Novo Testamento. Em face da recusa surge 0 anuncio
do iuizo dlvino. J a na hist6fia do exodo sao previstos os
vaticinios da salvac;ao e dos juizos. Na pessoa de Moises, alem
disso, inaugura-se a longa hist6-ria dos mediadores.
As rea",iies humanas, por sua vez, nao podem faltar em tudo 0
que e narrado no Iivro do xodo ace rca das relac;oes com D,:~s .. 0
confron!o ja .comec;ou pel os gritos dos oprimi-dos; 0.lu~llc; dos
rem,dc;s Ja responde ao red en tor. Os gene-ros prmclpals do
SalterIO tambem sao os da lamenta9ao e do louvor. Numa palavra, as
tres seGoes do Antigo Testa-mento (Tora, Profetas e Escritos)
refIetem os acontecimen-tos da saida do Egito.
4. Conceito de hist6ria no Antigo Testamento
Se os atos salvadores no Antigo Testamento. a partir da saida do
Egito, constituissem seqiiencia continua de ac;iies, entao
poder-se-ia falar de Hist6ria da sal~o. A e~trut?racao do Iivro do
xodo, porem7 demonstrou que a
hl~torIa de Deus com IsraeLe rnais do que isso, nao obstante o
valor fundamental da salvacao como arcabouco da histo-ria. Mas
acontece que a hist6ria evoluiu sem parar.
J untamente com a salvaao, foi anunciado tamMm urn grande
beneficio: Eu vos conduzirei 11 uma terra que trans-borda de leite
e mel, incluindo-se nesta bencao a perspec-tiva do fim da vida
migrat6ria. No Iivro do Deuteronomio entreabrem-se ainda mais as
ben9aOS, de tal forma que a benc;ao.se torna como que a ideia
mestra desse Iivro. Apenas
transposto 0 J ordao, iniciou-se aquele periodo da hisl6rla de
Israel que nao se distinguia pelas a90es do Deus-reden-tor. Os
problemas haviam mud ado de feic;ao: 0 Deus-reden-tor tornou-se
Deus-benfeitor.
Nos Iivros de Josue e dos Juizes, Deus ja nao e 0 unico agente
Iibertador; entram em a9ao as armas dos israelitas que decidem a
sorte do povO. Em Js 1-11 a terra que for~ prometida ao sairem do
Egito e eonquistada para servir de patria permanente. As narrativas
adotam 0 earater etiol6gi-COl2 que esclarece algo a respeito do
pais ocupado.
No Iivro dos Juizes,1J Deus continua salvador enquan-t~ chama e
incuE1be_"~lvadores-ex~utivos de sua a980 salvadora. Ambos os
conjuntos narrativos, de Josue e dos Juizes, tern em eomum 0 novo
estilo de apresentac;ao da interven",ao divina de acordo com as
condi90es renovadas da vida do povo, eedendo-se espa",o maior as
benfeitorias que prosseguem ainda nos Iivros seguintes de Samuel e
dos Reis.
Os redentores earismaticos do Iivro dos Juizes tiveram como
sucessores os reis como instala9ao permanente, justi-fieada
teologicamente na profecia de Nata (2Sm 7). Com Salomiio, a realeza
reeebeu nova dimensao no templo de Jerusalem (IRs 6-8) , cujo eulto
transformou-se em institui-",ao. A realeza de Saul constituia a
transi",ao dos juizes para os reis; da mesma forma, a transferencia
da area para Jerusalem por iniciativa de Davi, marcava a mudan",a
essencial do culto. localizado agora firmemente na capital da
monarquia e nao rna is na tenda de nomades. '4
Dai em diante a lei e os regulamentos atinentes a vida
sedentaria ficam estabelecidos ao lado do culto divino fixa-do no
local determinado (C6digo da Alian",a, Ex 21-23); A alian",a entre
Deus e 0 povo vigora como estavel (Ex 24); com este capitulo deve
ser confrontada a confirma980 da alian9a em Siquem Us 24). A
expressao mais convincente da pericope sinaitica e 0 C6digo
Sacerdotal que disciplina o culto celebrado no santuario, a
come9ar'na tenda, e conti-
12 A. Alt. losua. 1936. 13 W. Richter. BBS 21. 14 L. Rost. SWANT
42 e G. V. Rad, NKZ 31.
47
-
nuado no templo salomOnico, construldo segundo 0 modelo da
tenda.
Ex 32-34~ antecip~ndo a apostasia e 0 castigo, corres-ponde a
re?a9aO postenor ~a era monarquica como hist6ria da apostasla
(Deuteronomlsta), uma epoca de constantes pr?VOCa9?es e .desafios
para Israel morando em contato com a Idolatna. Al entra em cena a
atividade dos homens de De~s para amea9ar com os julgamentos
divinos. Mas, por mals paradoxal que pare9a, 0 anuncio dos
julgamentos de ' J ave era ao m,:smo temp~ o. prenuncio da
salva9i!o, por-quanto J ave nao _ Eretendla )!!mais outro objetivo
senao arrancar .Israel do_ pe;il1o fatal. Por outro lado, naquele
tempo, a mterven9ao dlvma era obnubilada, em grande par-te, p.ela
seguran9a extema garantida tanto pel a vida resi-denc181 como pelo
poder estatal.
( 5. Retrospecto
No Iivro do Bxodo jii se descortinam as Hnhas mestras da
~ist6ria ent~~ ~eus e 0 povo que teve como ponto de partida a,
expenencla da salva9ao. Israel teve 0 seu encontro com J
ave-salvador, e este permanece firme com seu povo na qualidade de
salvador.
Nas amplia90es subseqiientes sao desenvolvidas as di-menso~s
_teol6gicas, tais como os beneficios, as apostasias e as p~Dl90es
que caracterizam as historiografias do Deutero-nomlsta e d,os
profetas. Cada urn dos Iivros hist6ricos repro-duz estes tres
aspectos da reden9ao, dos beneficios e da apos-tasia seguida pe10
castigo.
III . ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA SALVA
-
l'lfth" III "'"" '/" Ih, 111'" l'UIllUnicado por tercei-N ,I ."
, .. 1111 , hllll, " ",,111 III loca com as maos a I' " ,II lilli'
" "III"""".' fruto da surpresa agrada-
I I" 1111 I ,10 111110" ,,00 " uolquer possibilidade de cons-I
'lilA" "hI iI " 111111 (1I'1 161'10s normais de percep,ao E t
ill''''' '" "'Ili 1IIIIlil iu loge total mente as normas hab't s.e
" ~\ "KIIII ~n", I uals
""III lIundo 0 SI 77, 0 milagre e essencialmente 1111.1 11"
divino om hora de extrema necessidade d' d '1111111110, que
consiste numa serie decircunsta~ci~er~ara~ v lI' l)SRS
acompanhantes, quando a vinda de D ( . . eus acarreta l) 08 I
emeclmento do cosmos do mar da ter d Il"onuncios da majestade
da~uele qu~ se ap~~ ': os ;res, sh~ais concomitantes estao
subordinados ao x.\ma. sses pnamente dito. Tambem nos evangelhos
sin6ti~01 agre p.rlo-gres de c C t - d s, os ml a-d ur~ I? erven,ao
ireta) sao bern mais importantes
o que os smals quanto as leis da Natureza. '1 Vejamos ainda a
atua,ao do Criador interpretada como
ml agrosa em SI 139,14s:
Eu te celebr~ por tanto prodigio, e me maravzlho com as tuas
maravilhas I Conhecias ate 0 fundo 0 meu ser: . meu ossos nito Ie
foram escondidos quando eu era feito, em 5\?gredo, tecido na terra
mais profunda (cf. Is 28,29).
Esta extensao combina com 0 conceito original do milagre no
contexto do louvor. Acontecendo na obra do Criador prova 9ue 0
mil~gre nao foi tornado como viola,ao das lei; naturals, mas
umcamente devido ao confronto surpreenden-te do homem com Deus.
como quando nos quedamos empolgados em excesso ante a beleza
descomunal.
Diversamente dos milagres, os sinais testemunham a pr~veniencia
divina de palavras (por exemplo, Is 7). Os si-
n~l~ p;rt;ncem a ?:,tro genero. A iguala,ao de "sinais e
pro-dlglOs e secundana.15
15 R. Albertz, artigo pi' in THAT 413-42()' mais bibliografia em
G. Quell, Festschr. W. Rudolph. ' ,
50
2. A ~a de Deus no Antigo Testamento o Deus-redentor e 0 Deus
que vern, ja em Ex 3,8: "Eu
descereJparasalyar", e- em toda a Biblia are Ap 1,7: "Eis ue
virei em breve"; "eis que ele vern vindo!" Ou em x 5,21: - --
Cantai a Jave, pois Si1 ergueu, lan90u ao mar cavalo e
carro!
Os versiculos falam de dois atos divinos: Deus se poe em
movimwto antes de proceder a salva,ao propriamente dita. Cabem
neste contexto as duas exelama,oes em volta das viagens da
arca:
Levanta-te, Jave, e sejam dispersos os teus inimigos, e fujam
diante de ti os que te aborrecem! Volta, lave, para as multidoes de
milhares de Israel! (Nm 10,35.36).
Os apelos dirigidos a f ave prolongam-se no largo caudal de
e1amotes populares na hora do perigo iminente. Em todos os casos, 0
ato de levantar-se e de a roximar-se compoem a interven ao do Deus
e salvador.
Durante os anos da conquista de Canaa, 0 simples verbo que
indicava a vinda de Deus foi substituido pel a complexidade da
epifania ou do aparecimento aparatoso de f ave: 16 fz 5,4.5; SI
18,8-16;68,8s.34; 77 ,7-20;97 ,2-5; 114; 29; Hab 3,3-5; Mq 1,3.4;
Na 1,3b-6. Vejamos fz 5,4.5:
Jave! quando saiste de Seir, quando avan9aste nas planicies de
Edam, a terra tremeu, troaram os dus, as nuvens desfizeram-se em
agua na presen9a de J ave, 0 do Sinai, diante de Jave, 0 Deus de
Israel.
A epifania desenrola-se em tres etapas: a vinda de Deus - os
abalos c6smicos concomitantes - a interven,ao em
16 J. Jeremias. WMANT 10 e C. Westermann, 4' ed., 1968, pp.
69-76.
51
-
prol do lernol cOI1"'n 01 Il1lmlgos, Pode haver influxo
lite-r~rlo do mod 101 roro do Isracl (ver nota 16), mas as
epifa-mas do Antillo Tostomcl1to nao ostentam vestigios de
mito-login. (\ntlg08, 0 dl'oma deslumbrante da chegada nao e mito,
mos 61m 0 con6rio normal do evento entre Deus e 0 seu pOVO
ocabrunhado pel a proximidade do perigo, Outro excmplo lemos em SI
88,2 ou em Is 63,19b-64,2a:
o.xala que lendesses a ceu e descesl>es, dtante da tua lace
as montes se abalariam; como a logo laz arder as gravetos, como a
logo lerve a agua, para dares a conhecer a teu nome aos reus
adversarios' as naroes tremeriam perante a tua lace, ' ao lazeres
prodigios que nao esperavamos,
o aspecto primiirio da epifiinia e a pr6pria chegada' 0
se-cundiirio, e 0 modo desta chegada que, por sua vez, ~udou de
tempos em tempos, Deus desce do ceu ou de cima: Jz 5.4,5; Dt 33,2;
cf, SI 18.10s; Deus aproxima-se atraves do mar: SI 77 ,20s; desde
Siao: SI 50,2s, Desde os primeiros textos, a majestade divina e
revelada no ato da chegada' em textos mais recentes, porem, no Deus
sentado no seu tro: no e e aqui que ja se vislumbra a fase do
louvor de Deus,
Ao se iniciar 0 exilio, a vinda de Deus e remetida para futuro
incerto: assim no Deutero-Isaias, desde 0 pr610go (40,9) e
repetIdas outras vezes. Nos profetas p6s-exilicos:. "Eis que teu
rei vern a ti, ele e justo e vitorioso" (Zc 9,9); enos Salmos:
Que 0 campo leste;e, e a que nel,q existe! As arvores da selva
gritem de alegria, diante de Jave, pois ele vem, pais ele vem para
;ulgar a terra (SI 96,12.13), ~m meio as epifanias dos tempos
antigos e da expecta-tIva dos tempos mais recentes, situam-se os
anuncios rofeti-os do Deus que vira para julgar Israel, por
exemplo, Is 2, 12.19, Ambos os modos sao cif de urn Deus em atitude
de chegar,
52
A vinda de Deus e a escatologia. 0 ~ntig~ Testamento, falando da
vinda de Deus, e urn acontecimento externo para o homem, uma
experiencia dirtita da salva~ao, 0 contrario da afli~ao que e
sentida como urn Deus afastado: "Por que estas longe de mim?" Ja 0
futuro, na Biblia, nao e prima-riamente aquila que sobrevira, mas
sim Aque/e que vira a mim, 0 futuro e identico com 0 Deus que vira.
Sendo assim, e problematica a aplica~ao da palavra escatologia it
vinda de Deus, ja pelo fato de 0 termo denotar, antes de tud?, a
doutrina sobre os novissimos, ou seja, 0 acervo das COisas
vindouras. Ora, a vinda de Deus nao se encaixa numa do~trina
ensinavel a alguem, ou que verse sobre temas palpa-veis e
disponiveis it pesquisa. . .
No Antigo Testamento, a vinda de Deus constItUi 0 encerramento
'definitivo do futuro. Por rna is que se fale em novlssimas coisas
, a vinda de Deus ultrapassa tudo 0 que se possa aventar, Deus nao
se dei,xa compromissar. A su.a c~~gada rematara qualquer especle de
futuro, ,quer do l~dl.vIduo, quer do povo, da humanidade, do
umverso. A u~
afirma~ao certa e que caminhamos ao~ontro de Deus_e que ele nos
vern ao encontro . . " Eis que venho em ~reve" e a ultima palavra
do Novo Testamento e da revela~ao.
3. Anuncio da sa/varGo atraves do A.T.
No inicio, a salva~ao e anunciada aos israelitas gemen-tes sob 0
juga dos trabalhos for~ados; a salva~ao pode che-gar de improviso,
pode demorar, mas sempre come~a pela promessa
com0.JlJll:te.Jntegrant'
-
~a descreve os A po.rmenores da salvayao que ha de vir (Is
11,1-10): Os tres tlpOS refletem tres situayoes diferentes: o
co~~romlsso pressupoe a suplica e e realizado pelo inter-riiech8rlo
(Ex 3; Is 40), OU pelo sacerdote em beneficio de suplicante
individual e durante 0 culto divino (oraculo sa-cerdotal). 0
anuncio r~~senta 0 vaticinio salvador dos profetas (Jr
32,I~s;28,2-4; lR~ 22,11); fora das profecias, nas ~romessas feltas
aos patrlarcas. A narrativa comaet~ aos vI~entes (Gn 49,11.12; Nm
24,5-7a); as vezes liga a a profeclaus 2,1-4; 11,1-10), florescendo
finalmente na lite-ratura apocaliptica.
Outro criterio de classificayao sao os destinatarios:---Israel,
0 homem individual, 0 genero humano, 0 mundo.
----a) Qpox . A promessa teve seu cumprimento na posse da terra
prometida a qual os israelitas se sentem particular-mente
!igados,19 mais do que as outras nayoes a sua patria rcspechva.
E~ta. convicyao continua viva nos anos seguintes, ~o DeuteronomlO e
em todas as epocas quando a posse legi-hma sofreu contestayoes.
Foram sempre de novo reavivadas as promessas feitas a Abrao, Isaac
e laco:
Enlim lose disse a seus irmfios: Eu Vall morrer, mas Deus vas
visitard e vas. lard subir para a !erra que ele prometeu, com
Juramenta, a Abraao, Isaac e lac6 (Gn 50,24).
A promessa d~ ter~ e 0 elo de Iigayiio entre os patriarcas e
anlstOr18 naclOnal oe Israel, por isso, Gn 12-15 foi colDCa:" ~o
~nte~ do hodo. A benyao prometida, bern como a mul-hphcayao (Gn
12,1-3 e 13,14-16) focalizam ja a historia nacional depois dos
patriarcas. A quanti dade como "areia na praia do mar e como as
"estrelas do ceu so tern cabi-
~ento na ~ist?ria nacio~al. Ao mesmo genero pertencem amda
referenclas a urn fllho (Gn 15; 16; 18), a assistencia ?o ~eus
presente (Gn 26,3.24;28,15) e ao espayO vital, mcluldo em Gn
12,1-3. Inseridas na vida dos patriarcas, essas promessas conservam
0 horizonte limitado da epOCa.20
19 G. v. Rad, ThB 8, pp. 87-100. 20 Mais argumentos em C.
Westennann. 1976.
54
Outras promessas rompem 0 horizonte para atingir a envergadura
dos povos da terra:
Aben90arei as que te aben90arem, amaldi90arei as que te
amaldi90arem, par ti serfio benditas todas as familias da terra (Gn
12,3).
Esta sentenya, no prologo javista da historia dos patriarcas,
deve ser compreendida como transiyao da pre-historia a historia dos
patriarcas,21 do mesmo modo como ela precede a hist6ria nacional de
Israel. A "toda as familias da ter-ra" ja houve alusao no elenco de
Gn 10. Os tres periodos sao perfeitamente encadeados entre si,
tendo como fundo comum a relayiio de Deus com a humanidade. Esta
mesma historia ganhani destaque nos Canticos do Servo de I ave e se
estendera ate os escritos apocalipticos.
A libertayiio da servidiio egipcia tem seu correlato na
repatriayao dos exilados em Babil6nia; assim entendeu 0
Deutero-Isaias (Is 40,14-21). A saida do Egito e ate supe-rada pelo
retorno a terra prometida (Is 40,18.19). A dife-renya e a novidade
residem no perdao dos pecados que ne-cessariamente veio antes da
volta a patria (40,1-3;43,22-28), ao pas so que a libertayao do
jugo egipcio foi ate da pura contemplayao e comiserayiio de I ave.
Entre ambas as libertayoes, ergue-se a montanha da culpa contraida
no de-curso da historia do povo (43,22-28). Por isso, 0
Deutero-Isaias apressa-se a anunciar a garantia do perdao:
"Dizei-lhe em alta voz que a sua iniqiiidade esta expiada"
(40,2).
A distin,l(ao entre as duas formas de salvayao e impor-tante,
tfill'Igfaao ambas terem sua razao de ser e apresenta-rem
afinidades notorias. 0 compromisso assumido por Deus e 0 mesmo (Ex
3,7s e Is 43,1-3), bem como a descri-yao atraente do pais a ser
alcanyado; a terra que transborda leite e mel (Ex 3) corresponde a
prosperidade da Palestina restaurada (Is 54 e 55).
Vejamos brevemente os dois palos que delimitam a salvayao. A
certeza da salvayao teve seu prolongamento nas promessas de
vitorias nos conflitos que caracterizam a toma-
21 G. v. Rad, ATD (Gn 12,3) e H. W. Wolff, ThB 22.
55
-
da de Canaa, as assim chamad~s "guerras de Jave".22 Jave
costumava ser consultado em vespera de empreendimentos de vulto e
ele respondia ao lider carismatico mediante a for-mula da entrega;
por exemplo: "Eis que entregarei as tuas maos 0 rei-de Hai" (Js
8,1). Mais comprovantes em G. v. Rad 1951, 7s.
Posta em pnitica a vida sedentaria, advem as ben~aos divinas,
seguidas, aos poucos, pelos anuncios fatais do juizo divino no
periodo da monarquia, acompanhados, porem, das promessas de
salva~ao que jamais si!enciaram totalmente.
b) Promessa dirigida ao medi~ei~ relacionada com a sua fun ao no
seio da co'nntnidacle- clo povo. Distinguem-se duas linhas, de
acordo com as caracteristicas da pessoa do escolhido.
Primeiro, quando a promessa e dirigida a urn varao fragi! capaz
de gemer sob a peso do encargo. Era a caso
d~ Moises e, urn pouco tambem de Josue, de Elias, de Jere-mias,
do Servo de J ave. Moises receia sucumbir debaixo do cargo, Elias
almeja a morte; mas as queixas mais drama-ticas sao de Jeremias e
do Servo de Jave. Deus reage com reservas, assegura ao mediador a
perseveran~a, mas nao a exito total; no ultimo Cantico, Deus
promete ao seu Servo a fruto para alem da morte (Is 53,10-12).
Outras vezes Deus se dirige a urn rei poderoso, como a Davi
mediante 0 profeta Nata (2Sm 7), confirmando-Ihe a dura~ao da
dinastia. A confirma~ao da realeza davidica constitui caso inedito
na historia de Israel. Oaf em diante, as promessas sao ligadas a
ulJ!a institui~ao politica. E foi justamente esta garantia que
ttla1O'gflfu. a desmoronamento da casa davidica deve ter sido uma
das crises mais graves para a fe em Deus. a Sl 89, que tomava a
serio e textual-mente 0 vaticinio de Nata, revive tambem 0 abalo
sismico causado pela anula~ao aparente desta promessa. A luz
deste
de~abamento explicam-se as assim chamadas profecias mes-sianicas
que, de urn lado, sup6em a queda da monarquia, e, de outro lado,
esbarram contra a nao cumprimento das profecias.
22 G. v. Rad, 1951 e R. Smend, FRLANT 84.
56
( As mensagens remetidas ao intermediario atingem dois
pontos altos: as profecias atinentes a urn reino de salva~ao e
as outras relativas ao Servo sofredor que alcan~ara a mesmo alva
atraves da morte. Ambas as linhas convergem na pessoa de Jesus. Ele
e a Messias e rei de futuro reino de paz, e tambem a medianeiro
indefeso cujos padecimentos produzem a remissao dos pecados.
c) Excurso: A Il!!:.lva9ao anunciada a individuos No Antigo
Testamento 0 individuo goza do mesmo valor
da coletlvidade ou do povo. 0 homem mdlVlduaI e ob~ do int"resse
divino, e nao s6 por' ser--membro do povo eleito; as provas estao
na hist6ria da cria~ao a ser humano, no livro de Jo, nos livros
sapienciais e nos numerosos salmos individuais. A hist6ria primeva
contempla a homem antes da discrimina~ao em povos e religi6es (Gn
1-11). 0 homem acha-se confrontado com a seu Criador e com suas
pr6prias faculdades e limita~6es. Na hist6ria dos patriarcas, 0
homem, membro de familia parti-cularmente distinta, coloca as
alicerces de sua fun~ao no seio do povo de Deus em forma~ao (Gn
12-50). Seguem as hist6-rias de cutras familias, com seus altos e
baixos em volta do pai e dos filhos, como, par exemplo, na casa de
Davi. 0 drama mais individual e, sem duvida, a vida do profeta
Jeremias. No culto divino, a individuo participa plenamente no
trato com Deus. Durante 0 exilio e, depois, na diaspora, a valor do
indivi-duo e da familia sao simplesmente indiscutiveis. Mostra-o a
figura de J 6 que, para contribuir religiosa e civicamente, a
indivfduo nem precisava ser israelita. Levemos ainda em conta o
tra~o humanitario que atravessa todo a Antigo Testamento: os
preceitos humanos do Deuteronomio, os conselhos sapien-ciais e a
marea univer.salista de muitos oraculos dirigidos as
na~6es. Numa palavra, no Antigo Testamento, a homem indivi-dual,
sua vida familiar e pessoal, e valorizado como parceiro condigno de
seu Deus.2J
Como a suplica individual sempre coexistiu ao lado das suplicas
do povo, assim jamais faltou a resposta dirigi-
23 R. Albertz, 1978.
57
-
d~ ao J,\3,~I (:'i~~o supli~a!1te. ~~ epoca das grandes
prafe-Clas commatonas do JUIZO dlvmo houve var6es e mulhe-r~s
bene~ic!ados de palavras confortadoras nas suas angUs-!las e
afh~oes, mantendo viva a uniao com 0 Deus-redentor.
Na hist6ria dos patriarcas as mensagens divinas visa-ram ao
homem no seu campo pessoal enos seus problemas pessoais: falta de
herdeiro, riscos corporais e vitais, a pre-potencia dos grandes,
disturbios no seio da familia . E nao f~i .diferente nos. tem~os
depois dos patriarcas. A palavra dlvma sempre fOI envtada para
abranger a vida pessoal, as casas, os lugares de trabalbo, os dias
e as noites.
o culto divino teve por fun
-
Nos eseritos apocalfptieos, a situa~ao final do mundo tern outro
aspeeto. A prosperidade definitiva sera preeedida do julgamento
universal para arrasar todos os poderes eon-trarios. S6 entlio
aparecera novo ceu e nova terra, sem sofrimento e sem morte,
eternamente.
Retrospecto
a) 0 anuncio de salva~lio, no Antigo Testamento, ja integra esta
salva~ao. A mensagem cria estado de tensao e de expectativa que,
ap6s 0 ato salvador, forma com este uma unidade. Estas unidades
variam de acordo com os tipos de liberta,ao e de interven~ao
divinas. A variedade das for-mas de anuncios caracteriza 0 Antigo
Testamento e a sua hist6ria entre Deus e 0 homem. Como outrora os
patriarcas nas suas jornadas nomades e sem conhecerem exatamente a
meta, assim tambem 0 povo de Deus permanece fiel e eon-fiante no
seu caminho, sem divisar 0 seu futuro.
b) A fe. uma forma de resposta ao anuncio.26 Ja a primeira
rea~ao Ii palavra e urn passo romo ao futuro aberto pela
mensagem:
On 12,4: ... e Abraao foi... Ex 3: Saindo do Egito para a
liberdade. Jz 6-8: Partindo para a luta pela liberdade.
o primeiro passo ja implica 0 fato da fe na mensagem, em-bora os
textos nao 0 mencionem explicitamente. Mas a re-flexao
retrospectiva desvenda 0 motivo da a~ao dos isra-elitas:
Ex 4,31: Sl 106,12:
On 15,6:
... e 0 povo acreditou ... Eles creram nas suas palavras e
cantaram o seu louvor. Abraao acreditou e isso foi-lhe imputado
como justi~a.
Em alguns casos, a mensagem de Deus nao foi acolhida lisa-mente,
conforme se eonstata na rea~ao de Sara que se riu
26 H. Wildenberger, .rtigo 'mOl, in THAT I, pp. 177-209, com bi
bliografia.
60
ao ouvir a promessa de urn fiIho e, portanto, nao acreditava de
imediato. Mais evidente e a falta de fe quando 0 rei Acaz
simplesmente nao ere nas palavras de Isaias (Is 7). Caso estranho
esse de 0 ungido de J ave nao acreditar na palavra de J ave! 0
verbo erer reveste-se de significado todo particular na profecia de
Isaias. Este verbo ('aman) e em-pr~gado onde alguem nao acredita. A
atitude de crer e mencionada expressamente s6 quando alguem se
recusava a crer, porque na maioria das vezes 0 ate de
consenti-mento e tao evidente que nao precisa ser salientado. 0
substantivo "fe" nao existe no Antigo Testamento, e 0 verbo, como
ja vimos, e usado nos casos raros em que 0 homem nao quer saber. A
possibilidade da recusa deve ser levada na devida considera~ao ao
se tratar de mensagens de salva~ao. Ao homem e dado fechar-se ao
anuncio e ne-gar-lhe fe. J a com respeito it a~ao criadora de Deus,
0 term.o "crer" nao teria ca51mento, p~rqu~nto 0 israelita
desconhe-cia aualquer fOl!lliL de altemativa excogitave!. Quem
teria cm 0 0 mundo, senao Deus? Por isso, nao se fala em fe no
Criador, ao menos no Antigo estamento. 1 erente e 0 problema no
Novo Testamento no qual a palavra crer encer-ra a totalidade do
relacionamento do homem com Deus. Figu-rando na exegese
veterotestamentaria express6es tais como "a fe em Israel", "a fe
dos profetas", "a fe no Criador", a terminologia entao e
neotestamentaria. Ver K. Koch, Shaddai. Zum Vahiiltniss zwischen
israelitischer Monola-trie und nord-westsemitischem Polytheism us
(Shaddai. "Re-
la~ao entre a monolatria israeIitica e 0 politeismo semitico
noroeste"): VT 26 (1976) 299332: 0 termo hebraico ha' amin
traduzido comumente por 'fe, jamais assinalava a
diferen~a entre a religiao de Israel e as demais religi6es;
nunca e empregado para destacar 0 pr6prio Deus entre os muitos
outros. Refere-se sempre a promessas e vaticinios dos profetas" (On
16,6; Is 7,9; p. 301).
Quando, porem, a mensagem e a reayao corres ondel!: ~ ado am
signifi
-
Como a chuva e a neve descem do ceu e para La nao voltam, sem
terem regado a terra, tornando-a tecunda e tazendo-a germinar,
dando semente ao semeador e pao ao que come, tal oc6rre com a
palavra que sai da minha boca: ela nao torna a mim sem truto;
antes, ela cumpre a minha vontade e assegura 0 exito da missao para
a qual a enviei (Is 55,10.11).
A palavra "crer" existe nas entrelinhas dos ver~iculos ci-tados.
0 profeta insiste em que sua mensagem seJa tomada a serio. 0 termo
"crer" volta literalmente no ultimo canti-co do Servo de Jave:
Quem creu naquilo que ouvimos? (Is 53,1). Conforme 0
Deutero-Isaias emprega a palavra "crer", reco-nhece-se a transi9ao
do Antigo para 0 Novo Testamento.
4. A hist6ria do mediador
A mensagem divina e comunicada pel a boc.a ~ mem, tal como as
viagens pelo deserto eram cheflacIas por -urn IiOmem. Este
intermediario nao vive num mundo irreal, mas p'ossui a ,lJr6 ria
hlst6ria como parte integrante~ hist6ria de Israel com J ave, seu
Deus.
a) Na era dos patriarcas nao havia intermediario P..Q!.-que Deus
Ihes falara direta e imediatamente. Logo depois surgiu Moises no
papel de mediador do falar e do agir de Deus. A seguir, ja em
Canaa, dividiram-se as fun90es do intermediario da paliivra e da
a9aO de Deus. Pelo fim, Da pessoa do Servo de J ave, reunem-se
novamente ambas as formas de media,ao. .
A figura de Moises foi unica no seu genero em toda a hist6ria de
Israel.27 A historicidade de Moises fund amen-ta-se nesta sua
missao. 0 que aconteceu durante a saida
27 Em ~pocas posteriores Josue foi transformando, de prop6sito,
em sucessor de Moises.
62
do Egito nao pode ser imaginado sem a atua,ao de porta-voz de J
ave e de lider eficiente do grupO.28 Moises, porem, nao foi
fundador de religiao, papel que diz respeito as eta-pas posteriores
da hist6ria .29 Uma religiao, no rigor do ter-mo, nao tern come,o;
os fen6menos que aparentemente estao no inicio de uma religiao
marcam, na realidade, esta-gios de transforma,ao social e
politica.
A saida_do E ito nao faz nenhuma exce9ao. Os tex-tos provam
tratar-se mais de transi9aO do que de come'yo .. Os caps. 3 e 6 do
llxodo evocam a religiao dos patriarcas apontando para a evolu9ao
do nome divino. 0 Deus antigo recebe 0 nome novo de J ave,
acompanhado da interpreta,ao da novidade (Ex 3,14). A denomina9aO
do Deus-redentor como que brota da experiencia do encontro com ele.
0 nome confirma a continuidade dos eventos iniciados.30
A singularidade do encargo de Moises reside no fato de ele nunca
agir como chefe dos combates; ele nao era guerreiro, nem exercia
poder diante do grupo que liderava; nao dispoe de expedientes
executivos ou disciplinares. Ele sofre sob 0 peso do cargo e se
queixa como tantos outros depois dele.
b) Uma vez 0 povo instalado na terra prometida, a missao do
medianeho e repartida entre 0 porta-voz da pa-lavra e 0 executor da
a9ao de Deus. No livro do,.s J uiZ9 sao retratados os Iideres
carismaticos conyocados poiJJeUs para a missao de libertar 0 l'OVO
it mao armada. G. v. Rad real,a a peculiaridade destes combates n o
seu livro Dqr heilige Krieg im alten Israel (" A guerra santa no
Israel anti-go"); ver tamhem R. Smend, FRLANT 84. A rigor de teri1'
mos nao se trata de verdadeira guerra; sao antes refregas
passageiras e nunca guerra planejada e conduzida a termo com
estrategia e tatica especiais. 0 que aconteceu era uma eucessao de
combates travados pela sobrevivencia das tri-
. bos, sendo as vit6rias atribuidas a J ave, invocado no auge do
aperto. 0 che e teve consciencia de ter sido convocado
28 A historicidade da figura de Moises e concebida
diferentemente e~ M. Noth e S. Herrmann; cf. R. Smend. 1959.
29 K. Koch, KuD 8. 30 W. ZimmerIi, ThB 19, pp. 11-40.
63
-
por Deus e 0 povo 0 encarava e respeitava como tal. J ave falara
em favor aeie'"'qITando dizia: "Eis que- te en reguei as milos 0
inimigo". AJcan9ada a vit6ria, Deus e louvado como libertador de
verdade Uz 5). Em momento nenhum cogita-va-se em expansilo da
autoridade do chefe. 0 cargo expira-va com ele sem passar para os
filhos e descendentes mms longinquos. como era 0 caso normal em
tempos de mo-narquia.
Excurso: ruah. Nos conflitos de libertac;ao surge sempre 0
concei-to do "Espiriio de Jave" (Ruab Yhwh)ll que se apoderara do
lider escolhido, capacitando-o para a sua tarefa libertadora: Jz
3,10; 6,335;11,29;14,19;15,14; ISm 11,6. A ideia basica de ruab e
soprar fortemente pelas narinas, dai 0 sentido de hiilito, de ven
to, de ar e"pelido contendo forc;a constatave!. Em J 0 3 ,8 top~mos
com a mesma raiz etimol6gica. 0 Espirito de Deus exerce amda o seu
papel no profetisrilo e"tatico, caindo sobre 0 homem, cau-sando-Ihe
0 arrebatamento prof"tico (ISm 10). No profetismo literario, a
menc;ao do Espirito de Deus e mais rara. Para os tempos
escatol6gicos este Espirito de Deus e objeto de promessa em
beneficio tanto do Salvador prometido (Is 11,2;42,1;61,11), quanto
do povo em geral (Is 32,15;43,36;59,21;63,11; Ez 36, 26s;37; JI
2,28;3,1). A ruab Yhwh vira conceito estatico (Is 11,1; Jl 3,1),
identificando-se aos poucos com qualquer tipo de ac;ao divina (Ne
9,30; 2Cr 15,1;24,20; Zc 7,12). Em 0 Novo Testamento ocorrem ambas
as acepc;5es, a dinamica e a estatica.
c) Os --reis como intermediarios e 0 aspecto teol6gico da
realeza. Na pessoa de Saul processa-se a transi9ilo da lideran a
carismatica para a realeza, que nao podia ser outra senilo a me
la
-
texto hist6rico da apostasia de J ave em favor da ido1atria
ambienta1 e presente em todo este periodo. 0 rei tQ..mou-se cu1pado
da desgraya de s~ llOVO intei~o ; 0 rei era 0 grande desobediente
aos requisitos da benyao divina arro1ados no Deuteron6mio.
Nao resta a menor duvida de que 0 sistema poderia ter side
ju1gado