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CINZAS DO NORTE MILTON HATOUN
43

Cinzas do norte

Jul 08, 2015

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Page 1: Cinzas do norte

CINZAS DO NORTE

MILTON HATOUN

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MILTON HATOUN

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Relato sobre a vida de Mundo, nascido em Manaus, cujo sonho era ser pintor.

Brigas entre Trajano (Jano) Mattoso e eu filho Mundo.

História de Alícia e seu envolvimento com a família de Lavo.

Amizade de Lavo e Mundo.

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FOCO NARRATIVO

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Tipologia de Friedman , o narrador de

Cinzas do Norte é um Narrador-

Testemunha (narração homodiegética, de

acordo com Gerard Genette).

Narrador do romance é Lavo, no entanto,

no cap. 16 e no epílogo, quem narra é

Mundo, portanto, o narrador passa a ser

homodiegético, de acorodo com Genette.

Hatoum parte da testemunha para tentar

dizer ao leitor que sua narrativa é real, que

ela de fato ocorreu.

Page 10: Cinzas do norte

“O que eu lembrava do primeiro encontro: o

cinturão, grosso, cinza-escuro, quase da cor dos

olhos.” (HATOUM 2005, p.20, grifos nossos)

“ „Já és um rapaz, Lavo. Nossa conversa vai ser

entre homens.‟[...] Então me fez jurar que não

contaria nada aos meus tios” (idem, p.35)

“Falava com entusiasmo de artistas famosos e de

anônimos, e parecia embriagado pelas imagens. ”

(idem, p.20, grifos nossos)

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“ Mundo repetia que queria dormir; depois

perguntava por um amigo do internato, o Cará.

Na cama, continuou falando dele. Esfaqueava

um porco-do-mato, mordia um pedaço de

fígado cru e estendia as mãos sangrentas para os

oficiais. [...] Mundo começou a rir e tossir, e os

olhos de sua mãe cresceram, me interrogando:

que doideira era aquela? O que tinham feito

com seu filho? Eu não sabia de nada, que fosse

perguntar ao diretor do colégio. (HATOUM,

2005, p.132, grifos nossos)

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Paralelamente à narrativa de Lavo, há a carta

de Tio Ran para Mundo, em que há a rememoração

de um passado anterior ao início da história narrada.

Tal carta é diferenciada, graficamente, dos

capítulos de Lavo. Além disso, não há a numeração

de capítulos.

A narrativa de tio Ranulfo é intercalada aos

capítulos escritos por Lavo.

Neste caso, o narrador também é testemunha

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“A notícia do casamento de sua mãe atraiu

jornalistas e fotógrafos para um lugar esquecido:

o Jardim dos Barés. Eles chegaram de canoa e

subiram o barranco por uma escadinha de

madeira;[...]” (HATOUM, 2005, p.111)

“Lembro daquela noite de setembro o céu

estava apagado, o aguaceiro do dia deixara a

mata e a terra molhadas, e eu me escondi para

ver quem ia sair de casa, se algum homem...”

(idem, p.51)

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MUNDO (Raimundo) “um jovem artista visual que nasce e cresce na Amazônia e dela parte

para Alemanha e Inglaterra, mais para perder o mundo do que para

ganhá-lo”. (CRISTO,2007 p.357)

“Antes de conviver com Mundo no ginásio Pedro II, eu o vi uma vez

no centro da praça São Sebastião: magricelo, cabeça quase raspada,

sentado nas pedras que desenhavam ondas pretas e

brancas.[...];olhava o barco do monumento e desenhava com uma

cara de espanto, mordendo os lábios e movendo a cabeça com

meneios rápidos como os de uma pássaro.”(HATOUM, 2005, p.12)

“O narrador, de forma discreta, vai criando um clima de empatia,

apresentando a personagem principal de maneira convincente e

levando o leitor a enxergar, por um prisma ao mesmo tempo discreto

e fascinado, a figura do protagonista.” (BRAIT, 1999,p .6 4)

Como podemos observar no trecho acima.

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LAVO (Olavo)Órfão, criado por sua tia Ramira e seu tio Ran, é um

advogado acomodado que sabe que nunca vai deixar sua

cidade.

Amigo de Mundo desde a infância, Lavo o conhece no

colégio Pedro II e passa a freqüentar sua casa.

TIO RAN (Ranulfo)“Lembro que, em plena tarde, de um dia de semana, Ramira

o encontrou lendo e fazendo anotações a lápis numa tira de

papel de seda branco. Perguntou por que ele lia e escrevi em

vez de ir atrás de trabalho.

„Estou trabalhando, mana‟, disse tio Ran. „Trabalho com a

imaginação dos outros e com a minha.‟”(HATOUM, 2005

p. 24)

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TIA RAMIRAÉ uma costureira resignada, apaixonada por Jano.

“Alicia falou antes de mim: „Ramira sempre foi cobra na cozinha e na

costura. Cobra em tudo o que faz. Aliás, bem diferente da tua mãe.

Levantou com o copo na mão e continuou: “[...] Ramira sempre foi

esquisita, morria de ciúme da tua mãe, de todos...” (HATOUM, 2005, p.

31)

ALICIA“... a mulher reapareceu, sozinha, o cabelo ondulado úmido; a blusa de

seda, molhada, provocou assobios dos veteranos. A morena de cerca de

trinta anos desceu com pressa a escadaria; na calçada abriu a sombrinha e

aproximou o rosto das grades de ferro. Viu-me encostado a uma coluna e

me chamou: era um absurdo não ir visitá-la, mas de agora em diante eu

não teria mais desculpas, seu filho ia estudar no Pedro II.

Concordei com um gesto tímido, e ela ainda disse: “Penso na tua mãe

como se estivesse viva”. Era Alicia, a mãe de Mundo.”(idem, p.13)

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JANO (Trajano)“Era a segunda vez que o via de muito perto, os olhos

miúdos acinzentados e a testa enrugada como se estivesse

sempre franzida. Em poucos anos a doença o envelhecera

mas a pose era a mesma. A camisa de linha engomada, azul

com botões de madrepérola; a calça branca, larga. O que

eu lembrava do primeiro encontro: o cinturão, grosso,

cinza-escuro, quase da cor dos olhos.” (HATOUM, 2005,

p. 20)

FOGO: Cachorro de Jano.

“O cachorro tinha na pelagem umas manchas amareladas

que o menino detestava porque um dia o pai dissera:

„Manchas que brilham que nem ouro. Aliás, Fogo é um

dos meus tesouros.‟”( idem, p. 11)

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ARANA

Artista e espécie de “guru” de Mundo que faz arte com

“causa social”, objetos lindos como “peças

marajoaras”que vende a preço de ouro aos

estrangeiros. Com quem Mundo também se

decepciona. (CRISTO, 2007, p. 359)

“Um assobio mais nítido, e então surgiu um homem

alto e descabelado, feições arredondadas, olhos

miúdos. Descalço, só de bermuda, mãos amareladas

de serragem. Abriu os braços num gesto exagerado,

me abraçou e disse com voz grave: „Deves ser o amigo

de Mundo, não é? Vamos entrar. Mais um jovem no

ateliê do Arana.‟” (HATOUM, 2005, p. 41)

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MACAU

“Macau, que as vezes aparecia de paletó

branco, também era respeitado. Poucas

clientes da costureira tinham chofer,

...”(HATOUM, 2005, p. 38)

NAIÁ

“Ela (Alícia) riu e me encarou: „Não queres

provar a sobremesa de Naiá? A Naiá faz

tudo. E ainda tem tempo para mimar meu

filho‟.”(idem, p. 31)

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Tempo da história ≠ tempo do discurso

Início da história: década de 60

Fim da história: começo da década de 80

Livro de mémorias, como Relato de um certo Oriente (1989)

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“[...] mas eu não quis saber a data nem a hora: detalhes que não interessam” (HATUOM, 2005, p.9)

Algumas datas:

1. 1961: mudança de Lavo e sua família para a Vila Olímpia;

2. 1964: quando Lavo e Mundo começam a estudar juntos no colégio Pedro II;

3. 1973(8): Morte de Jano;

4. Agosto de 1980: morte de Mundo.

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Narrativa de Lavo: linear, com alguns momentos de rememoração (passado contado por tia Ramira, tio Ran, Alícia, Jano) e algumas prolepses.

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“No início de 1961, quando nos mudamos para o centro, o Morro da Catita ainda era formado de chácaras e casinhas esparsas” (HATOUM, 2005, p.23)

“Cresci ouvindo meus tios brigarem por causa e Alícia” (idem, p. 24)

“ „De qualquer forma‟, disse ele anos mais tarde” (idem, p.27)

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“Foi só um sopro, pois 1973 acabou com um acúmulo de infortúnios e uma despedida” (HATOUM, 2005, p.169)

“Quando o Electra prateado decolou, fiquei pensando na promessa de Alícia: depois da morte de Jano, ela nunca mais viria a Manaus...Mas eu ainda tinha esperança de rever Mundo” (idem, p.214)

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“Foi só um sopro, pois 1973 acabou com um acúmulo de infortúnios e uma despedida” (HATOUM, 2005, p.69)

“Quando o Electra prateado decolou, fiquei pensano na promessa de Alícia: depois da morte de Jano, ela nunca mais viria a Manaus...Mas eu ainda tinha esperança de rever Mundo” (idem, p.214)

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A carta de tio Ran não é linear,

ocorrem analepses nas quais há a

narração da origem de Alícia, o

relato de fatos ocorridos na

infância de Mundo, além da vida

e do passado do próprio Tio

Ran.

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“No oitavo mês de gravidez, tua mãe

pediu a Jano que adiasse uma viagem

à Vila Amazônia” (HATOUM, 2005,

p. 215)

“Lembro daquela noite de setembro o

céu estava apagado, o aguaceiro do

dia deixara a mata e a terra molhadas,

e eu me escondi para ver quem ia sair

de casa, se algum homem...” (idem,

2005, p.51)

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Nos capítulos 16 e 20 (epílogo), em que

há a narração feita por Mundo, há a

apresentação de fatos recentes, porém

todos eles são relacionados a

momentos e sensações da personagem

vivida no passado. A última carta

apresenta, em meio aos devaneios, fatos

do passado, lembranças esparsas, além

da narração de Alícia sobre a origem de

Mundo (passado anterior à narrativa)

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“Se soubesse que o herdeiro da Vila Amazônia virou um biscateiro... Lembro que Ranulfo me dizia para recusar trabalhos tediosos e mal remunerados.” (HATOUM, 2005, p.245)

“Lembro de meus amigos fazendo uma encenação maluca perto da Remnant Street”(idem, p.307)

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“O tempo, que se atirava ferozmente contra mim, dava a ela um ultimato. Eu e minha mãe, reféns um do outro, nós dois reféns do tempo” (HATOUM, 2005, p.308)

“Pensei em reescrever minha vida de trás para frente, de ponta-cabeça, mas não posso, mal consigo rabiscar, as palavras são manchas no papel, e escrever é quase um milagre...” (idem, p.9 e p.331)

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“Ele me mostrou as

telas...estava empolgado,

orgulhoso; eu implorei pra ele

tirar aquele ódio da alma.

Disse que não ia tirar o que

sobrara da vida... „Memórias‟,

ele disse.” (HATOUM, 2005,

p.293)

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“Antes de mais uma viagem a rio Negro, ele

me entregou o manuscrito, dizendo com

ansiedade: “Publica logo o relato que

escrevi. Publica com todas as letras...em

homenagem à memória de Alícia e de

Mundo.

Atendi ao pedido do meu tio, mas não

com a urgência exigida por ele – esperei

muito tempo. Como epílogo, acrescentei a

carta que Mundo me escreveu, antes do fim”

(HATOUM, 2005, p.303)

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Manaus na década de 1960

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Região Central de Manaus em 1964

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Temas recorrentes na obra:

Revolta

Trabalho versus Sonho

Afeto versus Sangue

Loucura

Medo

Page 41: Cinzas do norte

BRAIT, Beth. A personagem. 7ª ed. São Paulo: Editora Ática, 1999.

CANDIDO, Antonio, et. al. A personagem de ficção. 9ªed. São Paulo: Editora Perspectiva, 1998.

CRISTO, Maria da Luz Pinheiro de (Org.). Arquitetura da Memória: ensaios sobre os romances Dois Irmãos, Relato de um Certo Oriente e Cinzas do Norte de Milton Hatoum. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2007, p. 356-360.

HATOUM, Milton. Cinzas do Norte. São Paulo:Companhia das Letras, 2005.

Page 42: Cinzas do norte

LEITE, Ligia Chiappini Moraes. O foco Narrativo. 9ª

edição. São Paulo: Ática, 1999. (Série Princípios, 4)

RIBEIRO, Milton. Cinzas do Norte, de Milton Hatoum. 2009. Disponível em: http://miltonribeiro.opsblog.org/2009/03/30/cinzas-do-norte-de-milton-hatoum/. Acesso em: 16/06/10

SÉRGIO, Ricardo. A Personagem na Narrativa. Disponível em: http://recantodasletras.uol.com.br/teorialiteraria/420168. Acesso em: 16/06/10

TELAROLLI, Sylvia. O Norte da Memória. Revista de Linguagem, Cultura e Discurso. ano 4, n. 7, julho-dezembro 2007. Disponível em: http://www.unincor.br/recorte/artigos/edicao7/7_artigo_sylviatelarolli.htm. Acesso em: 16/06/10.