C I D A D A N I A 48 por Patrícia Mariuzzo Sistema baseado em agricultura sustentável ajuda pequenos produtores José Cardoso da Silva, que vive no assentamento Santa Helena, na cidade de Cruz do Espírito Santo, Paraíba, depen- dia de uma ou outra comissão da venda de gado para o sustento da família: ele, a mulher e quatro filhos. Hoje ele tira da roça uma renda mensal de R$ 1,2 mil. José é um dos cerca de mil pequenos agri- cultores que aderiram ao Projeto Mandalla, sistema de agricultura fami- liar sustentável, implantado na Paraíba pelo administrador de empresas Willy Pessoa. Desde 2004, a Bayer é parceira do projeto que funciona em oito assen- tamentos rurais na Paraíba e que está viabilizando a produção de frutas, ver- duras, além de ervas para tempero e chás. O projeto, batizado de mandala que, em sânscrito, quer dizer círculos, utili- za tecnologia simples e de baixo custo. São construídos nove canteiros ao redor de um lago circular de cerca de seis metros de diâmetro. A água do lago é bombeada para irrigar a plantação. Os três primeiros círculos são os da melho- ria da qualidade de vida, abrigando assim as culturas de subsistência. Os círculos seguintes são os responsáveis pela com- plementação da renda familiar. Neles são cultivados verduras e legumes para serem vendidos no mercado local. É daí que José Cardoso tira a sua renda. Pequenos animais como galinhas e cabras convivem em um sistema intera- tivo, onde as necessidades de um são supridas pela produção do outro. "Os pei- xes alimentam-se de plâncton derivado das fezes dos patos, além de mariposas e insetos noturnos atraídos para a água por uma lâmpada colocada pouco aci- ma da água. As fezes dos peixes são ricas em fósforo. Peixes e patos fertilizam as plantas, através da água, bombeada para os nove círculos de irrigação. As codor- nas, galinhas, coelhos, cabras e a vaca fornecem esterco e urina para a formu- lação de defensivos e nutrientes orgâni- cos para as plantas. As fezes de apenas 25 coelhos podem fertilizar a área de 2500 m² de uma mandala", explica Willy Pessoa, coordenador nacional da Agência Mandalla — DHSA, sigla para Desen- volvimento Holístico, Sistêmico e Ambiental. A Agência capacita peque- nos agricultores para a gestão do pro- cesso Mandalla. Além da Paraíba, Bahia, Alagoas, Ceará, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás também são atendidos pela ONG. A divisão da empresa alemã que apóia o projeto é a Bayer Cropscience que atua no segmento de proteção fitossanitária (herbicidas e fungicidas) e biotecnologia e cujos clientes são grandes produtores agrícolas. Como parceira da ONG, a Bayer dá apoio técnico para construção das mandalas e do sistema de irrigação e aju- da financeira para a compra de semen- tes, aves, peixes e caprinos e para o paga- mento de um salário mínimo por famí- lia durante os primeiros seis meses até que as primeiras produções se iniciem. No Brasil, a Bayer tem duas fábricas, em Belford Roxo (RJ) e em Portão (RS) soman- do mil funcionários. Foram eles que doa- ram livros e computadores para a forma- ção da biblioteca do Centro Cultural de Acauã que fica no assentamento com mesmo nome, criado pelo Incra em 1995 e que abriga 114 famílias e 63 mandalas. Segundo Eckart-Michael Pohl, diretor de comunicação corporativa da Bayer, o apoio ao projeto tinha como primeiro objetivo melhorar a qualidade de vida das famílias beneficiadas, por meio de alimentação mais farta e diversificada. Entretanto, outros resultados foram obti- dos, tais como a melhoria da renda fami- liar e a manutenção das famílias no cam- po. "Os nossos clientes são fazendeiros. É a agricultura industrial. Para eles é uma vantagem quando os assentados conseguem se sustentar na terra com qualidade de vida em vez de voltar para EM FORMA DE MANDALA, SÃO CONSTRUÍDOS CANTEIROS EM TORNO DE UM LAGO, ONDE SÃO CULTIVADAS HORTALIÇAS, QUE ALIMENTAM A COMUNIDADE E GARANTEM RENDA EXTRA AO SEREM COMERCIALIZADAS NO MERCADO LOCAL