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CHRONICA SEMANAL RE DIGI DA POR UM A SOCI EDADE D 'H OMENS SEM LETTRAS PROPRIETARIO- B:UM:SER'l'O S. PIN'l' O C 0RRE$P0NOtNCIA Á LIVRARIA POPULAR, R. AUGUSTA, 222- LISBOA X-U Xllr. XCA•Sle: ÁS QU X::O.: ' JrA S •lr'"lE:XlR. A S POR tNNO OU 52 N ... 11000 REIS- CADA N. 0 20 R!IS ANNO P.\ LACIO LH'\\"ERl'\O DI S. PETERSHlRGO C HRONICA DA SEMA NA su." '•AR10- . \\cdida• 'anitarias-0 concerto n favor do" pcs· cadorcs de Caparica- em assa•sin(llO N .\.o tl:em escasseado louvores ús auctorida· des encarregadas de velarem pela saude publica e, graças às proYidcncias adopta- das . tem melhorado consideraYclmentc o estado sanitario de Lisboa, como pode verificar-se pe- 1 los boletins demographicos das ultimas sema- nas, que dão uma percentagem menor na mor- talidade, comparados com os dos annos prece- dent es . eloquente o facto e demonstra cathcgori- camente a necessidade de torn ar effcctivas as medidas adoptadas, não sú para est armos sem- pre prcca,·idos contra a invasão de qualquer epidemia, mas para desmentirmos a qualificaçao
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Feb 07, 2019

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CHRONICA SEMANAL RED I G I DA POR UM A SOCI EDADE D 'HOMENS SEM LETTRAS

PROPRIETARIO- B:UM:SER'l'O S . PIN'l'O C 0RRE$P0NOtNCIA Á LIVRARIA POPULAR, R. AUGUSTA, 222- LISBOA

X-U Xllr. XCA•Sle: ÁS Q U X::O.:'JrA S •lr'"lE:XlR.A S

---~~PRCÇO POR tNNO OU 52 N ... 11000 REIS- CADA N.0 20 R!IS

ANNO L°

P.\ LACIO LH'\\"ERl'\O DI S. PETERSHlRGO

CHRONICA DA SEMANA

su." '•AR10- .\\cdida• 'anitarias-0 concerto n favor do" pcs· cadorcs de Caparica- em assa•sin(llO

N.\.o tl:em escasseado louvores ús auctorida· des encarregadas de velarem pela saude publica e, graças às proYidcncias adopta­

das. tem melhorado consideraYclmentc o estado sanitario de Lisboa, como pode verificar-se pe-

1 los boletins demographicos das ultimas sema­nas, que dão uma percentagem menor na mor­talidade, comparados com os dos annos prece­dentes.

f~ eloquente o facto e demonstra cathcgori­camente a necessidade de tornar effcctivas as medidas adoptadas, não sú para estarmos sem­pre prcca,·idos contra a invasão de qualquer epidemia, mas para desmentirmos a qualificaçao

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.\ ILLGSTRA<,:.\O POPUL.\R

de - insalubre - que tem. nüo só no paiz, como no estrangeiro, a formosa rainha do Tejo.

Nào basta, porem, o que; se: tem feito, que é realmente muito. L~ neccssario mais ainda. l~ preciso cortar o ma l pela raiz e acabar de vez com a causa uoica d'essa crescente e assustadora mortalidade, que de anno para anno se vae ac­ccntuando e contra a qual nüo são sufiicientes os meios proph~ latico~. adoptados na occasião presente.

Todos sabem que no pessimo s~stema de ca­nalisação está a genese d'esse morbus morticida, que se manifesta por dilforentes fórmas e ao qual a scicncia já deu o nome de febres de l ,isboa.

Ora se é conhecida a causa e se essa causa pódc ser supprimida, façam-se todos os sacrifi­cios, empenhem-se todos os esforços e esgo­tc.:m-sc todos os recursos para conseguir esse be­nclicio publico e para satisfater esse desidera­tum commum.

S e os rendimentos do município não são suf­ficientes peça-se auxilio ao governo e se isso não fôr bastante recorra -se ao emprestimo nacional, com um juro modico, que não faltarão capitaes, que se ofTcreçam para um fim tão util e tão ins­tante.

ll:ós conhecemos e sabemos avaliar os sacri­fícios que são precisos para l..:var a cabo uma obra de tal magnitude: mas sabemos tambem que outras se tcem realisado, menos neccssarias e menos urgentes do que esta que reclamamos.

A J.\ venida da Liberdade, por exemplo, era mais dispensaYel, e a • \ 1•enid,1 abriu-se á custa de ccnt.:nas de contos de reis e sem haYer uma necessidade publica que reclamasse aquclla obra.

Apro\·eitem·se, pois, os estudos feitos e fa­çam-se outros se tanto for necessario, mas refor­me-se o pessimo s.1 stema de canos de esgoto que ex iste, e faça-se a reforma de modo que as aguas do Tejo arrastem barra fóra esse lixo im­mundo que, na baixa mar, fica exposto ao sol, tornando insupportavcl o ambiente pelos mias­mas que exhala.

X

Realisou-se, como se tinha annunciado, o con­ccrto em favor das \ictimas do incendio de Ca­parica.

Se o espaço fosse mais am pio, maior teria sido o numero dos contribuintes para o meritorio fim, que teve em vista a bcncmcrita commissão, o r­gaoisadora d 'aquella esp lcndida festa.

f.. illuminação e ra profusa e deslumbrante e

o programma foi executado com a maestria, que distingue as bandas, que tomaram parte no con­certo.

J\ Ode symjihonica do maestro ,\\anoel J\nto­nio Correia fo i irreprehensivelmente executada por todas as bandas sem omissào de nenhuma da~ e;-.igencias da partitura.

l ~sta composição mereceu o applaui.o gcral e, sc outros titulos de gloria náo cngrinaldassem a fronte do illustre compositor, ba~ta\·a esta peça para dar-lhe um Jogar distinctissimo entre os mais inspirados maestros.

,\ commi~sào de\·e estar satisfeita pela bi1.ar­ria, com que o publico tem acud ido ao seu ap­pcllo, t.: as desventuradas victimas d 'aquetlc fatal inccnd io devem ficar reconhecidas aos esforços empregados pelos seus bcmfcitorcs, que se não t~em poupado a sacrificios para lhes melhorar a triste situaçáo em que fica1·am.

X

\\ai» um assassinato. praticado co m a infamis· sima navalha. fi.:ou registado n<h annacs do crime.

Repugna relatar taes factos cuja sequencia é um lab6o lançado no caractcr nacional, que não 6, como póde suppôr-se, dado a estas sce nas de sangue .

O caso é tão repetlente que náo carece de st:i· carregado nas córes para ser visto. tal qual é, si­nÍ!'tro e hediondo.

Um cautclleiro fadista. um cobarde, um mi­sera\'cl, um dºesses ser.:s abjecto:;, que por ahi enxamcam, porque a lei e tão condescendente, que tolera esses parasitas, que entram na vida roubando um lenço e vão subindo na escala dos vicios e dos crimes até chegarem ao assassinato, enterrou uma navalha no coraçúo de um homem que lhe castigou umas insolcncias com um par de murros.

1": a histo ria de todos os criminosos d'aquellc jacz, para os quaes o degredo é uma pena 1ns1-gnificante .

Conhecemos que é diílicil exterminar essa horda de faquistas, que infestam a capital: mas se é dinicil. não é impossível a tarefa, e o primeiro passo é supprimir essa vergonha nacional cha­mada a- Loteria- que é a capa que encobre a ociosidade d'csses malvados, mais perigosos que os cães hydrophobos, porque para cs.tes a civili­sação inventou a agulha envenenada e para aquel les abol iu a fo rca e supprimiu o carrasco.

~~[~ -

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/\ ILLUSTRAÇAO POPULAR

DESCRIPÇÀO DAS NOSSAS GRAVURAS

O 1 \t.,,uo 01·: '''"'mo e uma das sumptu0sas rcs idencias dos autocratas ela Russia .

Pelo c1·oq11is, que os nossos lei tores en­contram n'cste numéro, póde ª'·aliar-se a sum­ptuosidade d'esse cdilicio, que e um monumento de architectura, não só pela sua grandéza, como pela regularidade do risco e pela perfeição artis­t ica cios seus labores.

Entre as residencia~ dos faustosos czares, esta é uma das mais nota,·cis: e na historia d 'a­quella nação o :Pal.Jcio de lm•emo representa um papel importantíssimo, porque tem sido o theatro de muitas se..:nas politicas.

X .\ M.:gunda gravur:1 d 'cstc numero representa

uma Sarakoleza e uma l\assonke/a, mulheres do Alto enegal. De,·em pouco á naturéza as mu­lheres d'aquellas raças. :\cm belleza, nem ele­gancia, nem graça, nem intelligencia, finalmente falta completa de todos os predicados, que des­tinguem o bello sexo do sexo forte .

. \lcm de feias, 'l'i;tem-se de uma man.:ira tão exotica. que ficam ainda mais horroro::.as.

Os penteados, que usam, são esquisitos e ext ravagantes, mas tão complicados e ditliceis, que S<' podem considcrnr milagres da pacien­c1a.

Tcem uma grande prcdilecção pelas contas e pelos enfeites de metal, com que se adornam com tal profusão, que chegam a esconder o pes­coço nas voltas duplicadas dos collares.

Têem noções tão exactas do pudôr, que en­volvem o tronco em amplos manteus e usam cm ,·ez de :.aia uns sacos de riscado, tão estreitos que lhes tolhem os movimentos.

Os pcs são chatos, informes e horrendos. Os leitores, em face da gravura, podem fazer ideia da benevolcacia da nossa apreciação.

X O Cabo Xortc .:: uma massa enorme de ro­

chedos t:sbranquíçados e de aspecto phantas­tico, que entra pelo mar dentro, cortando as va­gas espumantes do oceano artice.

;./ 'essas sombrias paragens, segundo as in­formações que nos dá o illustre viajante inglez, a que abaixo nos referimos, é tal a aridez das paisagens, que a vista nãQ encontra um oasis em

que repouse . li :\\ontanhas de gelo, um ceu carregado, onde

St: não vi: o brilho do sol, noites escu r:is, sem o

matiz das cstrcllas, eis o quadro desolador que olTcrece aos ,-íajantes aquella paragem. reprc~en­tada na nossa terceira gravura.

X A nossa ult ima gravura é o retrato de um

d't.:sscs valentes marinheiros russos, que alTron­tam os perigos marítimos com o sangue frio e a coragem caractcriscos dos homens do norte.

Não ha typo mais accentuadamcnte ,·íril do que o d'esses homens tão valorosos como intclli­gentcs, que se empregam na ardua e arriscada profissão marítima, no mar polar.

Cobertos de pclles, com a barba crescida, o olhar firme e inci<;i,·o, as feições correctamcnte desenhadas, a estatura désen,·olvida e com uma energia moral, pouco commum, aventu­ram-se aos r iscos da navegação, da caça e da pesca, com um stoicismo admiravcl.

Xo curioso livro de mr. William lle1rn oll Dixon - a Russia l .ivre - encontram-se deta­lhadas noticias áccrca do caracter, dos costu­mes e da vida cios habitantes das regiões pola­res, que elle teve occasião de estudar, nas suas viagens áquel las regiões.

CASTRO AL YES c:crchro d..:: 'J>iil'l<.tnO. Ü grande -.o) fc~undo. 1 u. l}Uc a -.orh: chora~tc aos mi'."!~r·os t.:'cra\"o-...

1- úra~ Christo mo~lrando nos r~:-..Íl.tnados bra,·1, ... \ ( ruz da rcdempç;io no ccu do ~"'º .\\undo.

Sim, quando o abutre informe, o negro capti\t.:Ít"( A(;: entranhas roi.i n tantos infdi/c ... , F o braço do foitor. p.:<ado. traiçoeiro \\ a.is e mai-.. lht.:"' c.:ivava as funda-.. cic._1tril~~:

Qu,mdo o pae e senhor os seio~ a•-.i ltarn Ás desgraçadas mties, rnubando-lhes os li lhos Para os vender cm publico â c .... :-n nH,'O ign.iYu, A~ .. im .:omo quem vende um bando de novi lho .... :

~ ·e~e instante u bramir das mai .. acerbas dór..: .. Parecia ou' ir--.c no:;. para mo ... do' ccus ! Eras tu, eras tu. que contra o~ mcrcadorc~ Anda,·as acccndendo as colcrn• de Ileu<!

P!'odigo scmc3dor da Santa Liberdade C'os soluças da• mães lirmastc a tua l(loria ! Já nada mai• te rc;,ta: Cm .ol n~ c1crnidadc F: um nonie arrcmc,<ado ás amplid<te' d,l llistoria.

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_\\CLHERES DO ALTO SEl\ECAL

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S·l A 1LLUSTR.\Ç.\0 POPCLAR

É

MINIAT U RAS

C>%L V%0ENT El

ti't do:-. 'ulto~ mnis em inentes do scculo xv. Poeta l)'rÍ\!O e dramatico di~tincto, tornou-se tam­

hcm nota\cl como nctor. como musico e como ouri·

O -.cu tht.:;.1tro tem o r._\ro merecimento de ser 'crdadci­ramcntc portuguc1.

Gil \"iccnte foi o primeiro c"-Criptor do no<-"-0 pai7, que .:ompr~hcndcu . ..:om uma dc\~ada intui~ão. o valor das liuc· rJturas. É p0r i~-.o que~ cm muita!-- da!-t ""lias obras. ha profun­

dos w«tigios da tradiç,io nacional. O celebre fundador do no"o thc<Ltro. era um e, pi rito al­

tamente culto~ e ~e como põeta comico. é por ventura o pri­meiro do ~cu h.:mpo, como /a,,,·ante, oc:cupa um loga r distin· cto entre os admira\'ci~ nrd~tas do ~ccu l o de Migud Anr;clo e de Leonardo de \'inci . \ primorosa Custod ia de llclem uma das mara,llha~ do ourlvc~nria do renascimento-e a rc .. ,·dação mai< brilhante da in,piraçào artistica de Gil \'iccntc, ll poeta jo,·ial e originaJi,ta da ci1rtc de D . . \\ anucl.

O encyclopcdi-;mo e o trnço mai .... caracteristi~o da~ cclc­bridac!cs da RcM~en~a.

CARTEI RA UTIL

O•TF.m:r1· 'lº"' '-l'.'> no~~a~ genti ... lcitora"- umc.1 rccclta ma· gnifica para fazerem, com economia., um s.aborosis~i­mo licor, ttio ugra.dn,cl ao paladat\ como ao o1phato,

é que além d'isso é um tonico C"-Ccllcnle e rccommcndado pe­los melhores e ma i ~ :-.ahio~ hygic nistas.

Não tem d iflic1al d,1dc' o fohrico cl'csta deliciosa bchida e a oecasião é apropriad.1 p.lra ~cr feita a C\.petjcncia,

Escolhcm-~c do.1c pc~cí(O~ u,randc~, maduro~ e !'k10 ... , e partem-se cm fatia, dcl<;.1dinha<. que <.e deitam dentro de um tacho no,·o e vidrado. onde j.i dc\em c-t:lr doi< litro• de bom ,·inho branco.

Ocpois p<l<!-...: <> tacho 'ohn: um lume brando. onde "' deixa ferver. até que º' pccc~os e o vlnho formem uma cald.t gros•a e gclat i nosa.

Retira-se então o L•l•ho do lume e passa-S<! o seu con­thcudo por uma peneira tina, ajuntando-se-lhe cm <;cguida 05 gramma> de assucar hranco, meio lit ro de aguardente e um pau de canclla.

Deixa-se re1>0u>ar tudo, por c•puço de qu inze d ias, e côa­sc depois para garrnfo,, onde pódc ser cnnservado por o tem· po que se qui>cr.

Experimentem v. e'\.• . ..: l:'rcmprc 4uc sabureicm o prc­oioso licor lembrem-se de quem, com tanto desprendimento, lhes deu a r.:ceita. que p<.dia fotcr a fortuna de qual-iuer t.!on~rvciro.

L.\t c1-1.o~o.

REVISTA DOS THEATROS

NÃO ha uma unica casa de t:spectaculos , que abra as suas portas ao publico, nem havia tambe m publico, que acceitasse o supplicio

de ir penar para o purgatorio do theatro n'estas noi tes de asphyxiantc calor, que tem havido em L isboa.

O Colyseu chegou a ten tar, nào d i;:emos bem , imaginou ten tar a concorre nc ia, annunciando uns concertos espectaculosos nos programmas; mas o publico resistiu ú tentaçào e continuou a aílluir ao passeio de S. Pedro d',\ lcantara e aos pequenos sq11.:zres do ;-\ tcrro, preforindo a tepida baíagcm das auras ao supplicio <le vêr on·alha­dos de suor os inst rumentos dos illustres pro­fcssnres, que com uma coragem sobrchumana se arriscavam a ver desgrudar os seus str.1diva­ri11s n'aquclle ambiente de 10 graus ccntigrados.

Concertos csplendidos foram os que no an­t igo passeio pu blico organisou e d ir igiu ,\ladame J oscphine . \mann .

Esses s im, eram dd iciosos, eram concorridos. eram apreciados, porque a lém da com petencia da eximia professora, que os dirigia, proporciona­vam ao cspcctador a commodidadc de OU\·ir as melodias dos g.-andcs mestres, ao ar li\Tc e cm um ambiente perfumado pelas emanações balsa­micas do arvoredo.

I ~ a verdade 1:: que esses conce rtos crearam no publico o gosto pe la musica class ica, que tem hoje innumeros amadores e que até en tão era quasi q ue desconhecida entre nós, q ue ti nha mos o ou\·ido acostumado ú musica ca11f,1bile da es· cola italiana .

\\aclame j osephine .\ mann, apesar de ter dcsapparecido o passeio publico e não haver em L isboa outro recinto, onde podésse continuar os

, seus concertos. alimenta o fogo sagrado, olTere­cendo, por um modicissimo preço, uma cxcellente publicação litteraria-artistica-musical , onde os amadores e ncon tram as mais primorosas joias da s ublime a r te de Beethoven, Schubert , L i· to llT e outros .

i~ um primo r artis tice a (;,11_eta ,l/11sie,1l ­\\agnifico papel - impressão nitida-curiosissi­mos a rtigos - a parte littera ria escrupulosamente cuidada e a parte musical esple nd ida pela va­riedade, pela q uant idade e pela q ualidade.

~em mesmo no estrangei ro conhecemos pu ­blicação alguma n'aquelle gcnero, que se lhe avan­tage e e de presumir que a cmpreza colha dos sacri ficios, que está fazendo, bene fi cos resul ta ­dos, attento o merecime nto da publicação, a mo­dicidade do preço e a regularidade da distribui­ção.

São esses os nossos votos. ---+]ôl-+----

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A ILLUSTRAÇ.\O POPULAR ss

FOR U~ BEIJO

R&rMtNC~ DE .. rlHFSfO t~APENIHJ

li

N u. Opo~·a:

•OMlirtautdo do "'"""°,." aAltw·rfif11l,1

S r:<;l'"io o meu systcma, rcpan: qut: não digo mal do dos outros, o amor. sendo uma paixão resu ltante de um contacto

qualquer material ou immatcrial , ha de ter ne ­cessariamente um começo.

- De accordo. - Uns gasta m sett: dias a constru ir csse ca-

dafalso, tantos quantos lku~ gastou para fazer o mundo e outros I.:vantam o cm sete segundos. f~ uma questão de temperamento. o que e no­ta \•el, porém, é que se, para a gcração do amor, o tempo varia segundo as organ isaçõcs, para a morte d'cllc a duraç·10 é a mesma, lenta e an­gustiosa. Portanto quer o temperamento seja nen·oso, bilio,;o ou 1.1 mphatico o tratamento a s~guir é sempre o mesmo.

-Qual, doutor? perguntou Roberto, sor­rindo.

-O abuso que \'<té direito a cura. isto é ao esquecimento.

-.\ sua theoria, \\'illiams, con,;inta que lh 'o dig.i, é ess.!ncialmentc materialista.

- Porque? - Porque o amor é considerndo como uma

doença physica. - .\\as o amor nào é outra coisa. - Seriamente? -.\'\uito seriamen te. - Então a ;ilma niiCJ tem nada com essa pai-

xão? - Nüo. - .\las entáo isso que sentimos moralmen-

te ... - Perdão. i'~ necessario não confundir as fa.

culdadcs da alma com as do cerebro. Eu nego que o amor nasça na alma e sustento que essa paixão é uma resultante de uma especie de amo· lecimento cerebral, porque o cerebro é a séde de todas as loucuras.

-É essa a sua con\'icc;ão? -Certamente, a convicção adquirida na ex-

paiencia propria .. \\as se as minhas thcorias lhe repugnam fica-lhe o direito sal\'O de 1·egeital-as. de continuar a viver nos seus mundos idiaes e .

de deixar voar a alma pelo rosco ccu da sua phantasia cm busca da sua irmã gemea. E se isso ainda o não contentar. eu explicar-lhe-hei o sy:,,­tema da attracção dos cspiritos, da união dos co­rações. o de s\\ edenb<>rg, o philo:-opho sueco. o de ...

-Basta! interrompeu Roberto. Basta! O meu amigo possue uma erudição pasmosa sobre o as­sumpto e que só pode ter sido adquirida ú cu"ta de sacrificios ele sensibilidade .

- Como se engana. -:-\unca amou? - Nào digo que náo - n.:spondcu o nobre in-

glez. cuja fronte se annuviou.- .lú amei . .. - Quantas \'ezcs? - Uma só. -E? ... - 1·: esse amor vi\ e ainda. - Ah !. . . -.\las voltcmo!. ao nosso pon to dc partida.

Fallavamos de si. Diga-me, está apaixonado? - Xão! -Que diziamos cntáo, quando co.n.çamo,

esta discussão? -Que se o fogo se manifcsta~sc de repente,

n 'csta sala, eu me arriscaria ao perigo das cha:n­mas para salvar uma mulher, cuja b:ll:za me impressionou.

- Bravo! O seu cerebro resente·se ainda dos ardores do sol da i\írica . .\lostre-me essa houri que tanto o magnetisou. Onde collocou .\\:1ho· meth essa joia do seu parai~o?

-.\sua direita, \\ 'il liams. ' \o camarok que segue ao do marechal de .\\ º" .\\ H•. \'e?

Sir \\ ' illiams não respondeu. Os vidros do seu binoculo estavam na direc ­

ção do camarote da formosá mulh<!r, q ue n'cssa occasião estava só e cm la ng uido ab;rndono dei­xava errar ao acaso os formosos olhos, que pa ­reciam seguir no espaço um ~on ho caprichcso da sua imaginação.

Sir Williams viu, lixou-a e impalidcceu. - Que tem? perg untou Roberto. - Nada, meu amigo ... um choque ncrvobo.

É realmente formosa aquella mulher. -Conhece-a? -Conheço. - Sabe como se chama? -Sei- t a marque1a Regina de ~andov .. l.

P ertence a uma das mais illustres fom:I:as do Brazil.

- .Já lhe foi apre:.entado?

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A ILLUSTRAÇAO POPULAR

EXPEDIENTE

ACRADF:Clc..llOS a todos os nossos collabo­radores a sua i Ilus­

trada cooperação e é tal a alllucncia de ori~ina l para a nossa sccçflo, p.1ss.1/em­po, que não nos é possi­Yel publicar, como dese­javamos, todas as produc­ções, que nos teem s ido enviadas.

Fica assim explicado o motivo, por que não demos ainda algumas charadas, que nos fo ram offcrccidas com o pedido de urgen­cia na publicação.

X

Accusamos tambem a reccpção de algumas car­tas com a decifração do cn)gma e charadas do nu­mero antecedente.

Eis os decifradores: Carmo e Sousa- P . ~.

- (_). Pereira. Recebemos igualmente

a offcrta de dois excellen­tcs ar tigos do nosso col­laborador Rogerio de \ ' il­lamaior, que publ icare­mos cm um dos nossos prox imos numeros .

PASSA TE MPO ENIGMA

(SCl'l'rtt:ssi\o OE CONSO.\ NT.ES)

.a .uc .ão .o . . o .e .ui. - .e .e il .i .. a .e .a .. ão .ou - .e . a.a .o .. a .. ia . cu a.a .. e .o.a.ão

Cl l.\lUD.\ XO\"ISSl.\I.\

Atravc.., ... " a cdadc do rccr\!ÍO- ~ - .J.

:\ss.1 & S1 "º•· Aílirm:i e ordena est" mulher - 1 - 1.

B. P.

1 · \t 1•11.01 o rH :;so

CHARADA

No fim do pntrio Tejo Principia o Oceano - 1

1·: um nome port ugucz E c:hapado Ju,i tano- 1.

,\mor o fc1 a~"ª~~ino /\ mor o fc, de.humano .

P. ,\.

E'plic;iç:11> do cni,;m;i do n.• L:-Ou pua o homem <u para o i;:io lc\\.l !l llr.1 t:'pada na :não.

E,plica,ito d.1 char .. da- ,\Lr.\C~.

E•pli~açào dn eh m1da no Í••im:i - DESTl:\0.

Typ. da Empreza Litteraria Luso-Brazileira- Lisboa ,') P.ITEO DO ALJl'Bt -5