1 Considerações gerais para o delineamento de um Pomar Moderno de Cerejeira (Aspectos gerais e análise de investimento à plantação)
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Considerações gerais para o delineamento
de um Pomar Moderno de Cerejeira
(Aspectos gerais e análise de investimento à plantação)
- Embalamento e Comercialização de Cerejas da Cova da Beira, Lda.
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INDICE
1 – Introdução ................................................................................................................. 3
2 – Planeamento de um Pomar Moderno e Intensivo de Cerejeira ........................... 4
2.1 – Selecção das componentes para um correcto delineamento ................................ 5
2.1.1 – O factor radiação solar .................................................................................. 5
2.2 – Compreender a fisiologia da copa – a chave para o funcionamento do pomar ... 6
2.2.1 – Relação directa entre a produtividade e a intercepção de luz ....................... 6
2.2.2 – Copa necessária para optimizar a intercepção de luz ................................... 7
2.2.3 – A luz é a fonte da fruta de qualidade ............................................................ 8
2.2.4 – O uso dos princípios no delineamento do pomar e na resolução de
problemas práticos .................................................................................................. 10
2.3 – O porta-enxerto como uma componente essencial para a intensificação .......... 11
2.4 – A importância da variedade ............................................................................... 12
2.5 – Densidade de plantação e a intercepção de luz – chaves para as produções
precoces e sustentáveis ............................................................................................... 13
2.5.1 – Densidade de plantação .............................................................................. 13
2.5.2 – Elevada intercepção de luz no estado adulto do pomar .............................. 14
2.5.3 – A distribuição de luz na copa do pomar adulto .......................................... 16
2.6 – Qualidade das árvores – uma parte importante no sucesso da plantação .......... 18
2.6.1 – Características mínimas das árvores ........................................................... 19
2.7 – Sistema de suporte – um investimento que propícia muitos dividendos ........... 20
2.8 – Sistema de condução – Desenvolvimento e manutenção da arquitectura do
pomar .......................................................................................................................... 20
2.8.1 – Desenvolvimento da copa das árvores........................................................ 21
2.8.2 – Manutenção da área verde para promoção da produtividade e da qualidade
da fruta .................................................................................................................... 22
2.9- Alcançar o equilíbrio entre os crescimentos vegetativos e a produção ............... 23
2.9.1 – Poda e condução: princípios fisiológicos ................................................... 24
2.9.2 - Poda e condução: nos primeiros anos de vida do pomar ............................ 26
2.9.3 – Poda de manutenção em árvores adultas .................................................... 27
2.9.4 - Fertilização .................................................................................................. 28
2.9.5 – Regime hídrico ........................................................................................... 31
3 – Análise de Investimento à plantação de um Pomar Moderno de Cerejeira...... 33
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1 – Introdução
Os pomares tradicionais de cerejeira (Fig.1) correspondem a pomares antigos
com baixas produtividades resultado da idade das árvores, da sua altura excessiva
derivada do porta-enxerto usado e de algumas das cultivares utilizadas se encontrarem
desactualizadas, com baixo valor comercial e pouco produtivas. O facto de existir uma
elevada percentagem de pomares de sequeiro é também um factor que influencia
negativamente o seu rendimento, bem como as mobilizações periódicas que são um
contributo para a diminuição da fertilidade do solo apesar das estrumações e adubações
executadas durante o ano. Outros factores, como a condução e a fertilização, necessitam
de ser melhorados e abordados de uma perspectiva moderna de Produção Integrada.
Todos estes aspectos conjugados resultam numa baixa produtividade do pomar,
num baixo rendimento de colheita, numa baixa margem bruta e numa reduzida ou
negativa margem de contribuição das explorações agrícolas.
Fig.1 – Pomar de cerejeiras tradicional. Fig.2 – Pomar de cerejeiras intensivo.
A obtenção de boas produtividades com cerejas de qualidade passa, numa
primeira fase, pela reconversão das variedades, porta-enxerto e densidades de plantação
e numa segunda fase, pela actualização e modernização das práticas culturais efectuadas
no pomar, que incluem a poda, a rega, a fertilização, a manutenção do solo sem
descuidar os tratamentos fitossanitários. Trata-se de um processo moroso (realizado por
etapas para evitar uma forte descapitalização do empresário agrícola) que envolve
grandes investimentos mas que se torna indispensável para fazer face às exigências dos
mercados e à crescente competitividade e globalização do comércio de hortofrutícolas
(Fig.2).
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2 – Planeamento de um Pomar Moderno e Intensivo de Cerejeira
Os principais parâmetros que devem ser considerados para o delineamento de
um Pomar Moderno e Intensivo de Cerejeira (Fig.2) são: a densidade de plantação, o
porta-enxerto, as variedades, a disposição das árvores e a sua qualidade, o sistema de
suporte, o sistema de condução e a poda. Compreender a importância de cada
componente e a sua integração em todo o processo é a chave para alcançar o sucesso.
Não é possível seleccionar as respectivas componentes sem antes conhecer os
princípios básicos da fisiologia de crescimento das árvores e o seu modo de frutificação.
Sem entender a influência do sistema de condução (posicionamento da copa e a poda), a
densidade de plantação e outros parâmetros na intercepção e distribuição da radiação
solar, as componentes não podem ser seleccionadas. Sem perceber a relação entre a
intercepção da luz e a produtividade e a interacção entre a distribuição da radiação e a
qualidade dos frutos, não é possível efectuar o delineamento de um pomar moderno de
cerejeiras. A eficiência e a importância de cada componente (ex. densidade de
plantação, porta-enxerto e sistema de condução) poderão ser medidas pela sua
influência na intercepção de luz pela copa e a sua distribuição em cada árvore.
Sem a presença de porta-enxertos que reduzam o vigor não é possível
intensificar as densidades de plantação tornando inviável alcançar produtividades
elevadas, precoces e sustentáveis. Também não é possível atingir produções precoces
sem árvores de qualidade provenientes de viveiros devidamente certificados.
Um dos custos do uso de porta-enxertos redutores de vigor que induzem
menores crescimentos vegetativos mas que alcançam produções mais precoces é a
instalação de um sistema de suporte adequado que permita suportar o peso das árvores e
da sua copa.
Para optimizar a intercepção da luz pela copa e a sua distribuição é importante
conhecer os efeitos do sistema de condução, da poda e do posicionamento da massa
verde bem como a sua arquitectura. O sistema de condução é uma das ferramentas
cruciais juntamente com o porta-enxerto, no balanço entre os crescimentos vegetativos e
reprodutivos (produção).
De seguida serão abordados as diversas componentes que se consideram ser
fulcrais no planeamento e posterior instalação de um pomar moderno de cerejeira.
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2.1 – Selecção das componentes para um correcto delineamento
Existem sete parâmetros que devem ser considerados na planificação do pomar:
1) porta-enxerto, 2) densidade de plantação, 3) qualidade da árvore, 4) arquitectura da
árvore, 5) sistema de suporte, 6) sistema de condução através do posicionamento da
copa e 7) sistema de condução através da poda.
É uma conclusão comum em diversos pomares, que os mais intensivos (maior
densidade de plantação) são quase sempre os mais produtivos.
2.1.1 – O factor radiação solar
A explicação para que alguns sistemas de condução sejam mais produtivos que
outros reside no exame da intercepção da luz pela copa e a sua distribuição individual
por cada árvore. Muitos estudos demonstram que à medida que aumenta a intercepção
de luz aumenta também a produtividade. A distribuição da radiação no interior da copa
influencia preponderantemente a qualidade da fruta, a floração e o vingamento. Outros
estudos revelam também que nas áreas de copa com fraca distribuição de luz, zonas de
ensombramento, a fruta é de menor qualidade, com baixo calibre, com coloração fraca e
com teor baixo de sólidos solúveis.
A importância de cada componente no delineamento do pomar (densidade de
plantação, porta-enxerto, sistema de condução e outros) pode ser medida pela sua
influência na intercepção de luz e a respectiva distribuição. Se considerarmos uma
forma cónica das árvores com uma densidade de plantação comum, as árvores mais
altas têm uma intercepção de luz maior do que as árvores mais baixas. No entanto, as
mais altas têm uma distribuição de radiação mais pobre nas partes mais baixas da copa.
As densidades de plantação mais elevadas têm tendência para uma maior intercepção de
luz mas usualmente têm problemas com ensombramentos nos espaços entre as árvores
resultando numa má distribuição de luz ao longo da copa.
Os porta-enxertos que produzem árvores largas, originam maiores intercepções
de luz mas infelizmente apresentam uma distribuição muito baixa da radiação ao longo
da copa. Por outro lado, as árvores com porta-enxertos ananicantes poderão ter uma
fraca intercepção de luz exceptuando se forem plantadas com uma maior densidade de
plantação e se conseguirem atingir uma altura suficientemente razoável. No entanto, as
árvores destes porta-enxertos apresentam excelentes distribuições de luz uma vez que
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têm pequenos crescimentos vegetativos originando uma copa mais aberta e com menos
ensombramentos.
Para as nossas condições de latitude, uma intercepção e distribuição de luz
optimizadas ocorrem quando a altura das árvores não ultrapassa duas vezes a distância
aberta entre as linhas das árvores (zona onde
usualmente passam as máquinas). A título de
exemplo, se a distância aberta necessária para o
tractor e o pulverizador passarem for de 1,5m, a
altura das árvores não deverá ultrapassar os 3m.
Também se deverão orientar as linhas das árvores
no sentido Norte-Sul de maneira a homogeneizar
a captação de radiação evitando assim
desequilíbrios de intercepção e distribuição de luz
entre as linhas de árvores (Fig. 3).
Fig. 3 – Horas de radiação solar durante a fase de crescimento de um pomar de
macieiras nas diversas zonas da copa consoante a orientação das linhas (Faust, 1989).
2.2 – Compreender a fisiologia da copa – a chave para o funcionamento do pomar
A fisiologia da copa das árvores é a central de energia do pomar. A intercepção,
a absorção e a conversão fotossintética da energia luminosa em fotoassimilados são o
combustível e os alicerces para o crescimento das árvores e para a qualidade dos frutos.
A luz é o principal factor ambiental que controla a performance do pomar. Assim os
pomares devem possuir uma forma arquitectónica e uma estrutura que permita uma boa
distribuição da luz bem como uma quantidade de área foliar suficiente para assegurar
uma boa intercepção da radiação evitando ao máximo a ocorrência de ensombramentos.
2.2.1 – Relação directa entre a produtividade e a intercepção de luz
A relação entre a produtividade por unidade de superfície e a intercepção de luz
aplica-se a todos os pomares localizados em todos os tipos de clima (Fig.4). É também
verdade que esta relação directa entre estes dois parâmetros é o princípio fundamental
para todas as culturas agronómicas e regulador da produtividade por hectare.
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A produtividade de pomares jovens está relacionada com a baixa intercepção de
luz provocada pelo incompleto desenvolvimento da copa. Em pomares adultos 60 a
70% de intercepção de luz parece ser o limite superior a atingir. Quando a intercepção
da radiação supera os 70% a relação linear com a produtividade quebra-se. A copa
necessária para atingir esses valores de intercepção de luz introduz outros problemas
relacionados com a distribuição da radiação na copa do pomar.
A plantação de pomares usando árvores mais pequenas com maior densidade por
unidade de superfície foi uma das grandes inovações na redução do tempo que vai desde
a plantação até à optimização da intercepção de luz por parte da respectiva copa. Apesar
da produção unitárias das árvores com porta-enxertos ananicantes ser mais reduzida, a
rápida passagem até alcançarem o máximo da intercepção de luz (período juvenil das
árvores bastante mais baixo), resulta num aumento de produtividade pelo pomar no seu
todo.
A instalação de pequenas árvores muito juntas providencia o método mais eficaz
para o rápido estabelecimento da copa do pomar e a respectiva intercepção de luz para
optimizar a produtividade.
Fig.4 – Relação entre a intercepção de luz total (percentagem) e a produtividade (t. por
ha) em pomares de macieiras, (Barrit, 2003).
2.2.2 – Copa necessária para optimizar a intercepção de luz
Um assunto prático a ter em consideração no delineamento de um pomar e na
sua gestão é saber a quantidade de massa verde necessária para optimizar a intercepção
da radiação solar. Para isso é usado em fisiologia vegetal o conceito de índice de área
foliar (LAI). O LAI é calculado pelo número de vezes que a área de terreno plantado é
coberto pela área foliar da cultura. Como exemplo, um LAI de 3 representa 3 m2 de área
foliar por m2 de área de terreno.
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A intercepção da luz solar aumenta rapidamente até 60% à medida que o LAI
aumenta até 3,0. Os aumentos de LAI acima dos 3 até 3,5 não resultam em aumentos
significativos de intercepção de luz (Fig.5).
Para pomares modernos, alcançar níveis de intercepção de radiação para
optimizar a produtividade da copa terá de apresentar um índice de área foliar próximo
de 3.
Fig.5 – Relação entre o LAI e a intercepção de luz em percentagem em pomares de
macieiras, (Barrit, 2003).
2.2.3 – A luz é a fonte da fruta de qualidade
A produção comercializável encontra-se directamente dependente de uma
adequada distribuição da luz solar na árvore. Individualizando ao nível do gomo a
produtividade também poderá ser reforçada, uma vez que os gomos de fruta
desenvolvidos sob condições de elevada radiância irão desenvolver-se melhor e originar
mais frutos e de melhor calibre ao contrário dos outros que se encontram mais
ensombrados. Resumindo, a luz é o factor ambiental primário a controlar a performance
económica do pomar.
Outro factor de medição importante a introduzir é a radiação fotossinteticamente
activa (PAR) que consiste na radiação captada pelas folhas convertida efectivamente em
energia e posteriormente usada na produção de fotoassimilados. Os gomos que
experimentam ambientes de elevada radiação de PAR, na fase da iniciação floral e
durante o desenvolvimento dos frutos, produzem frutos de melhor qualidade
nomeadamente com melhor calibre, com melhor coloração, com um teor mais elevado
de sólidos solúveis, com melhor firmeza e sabor.
Como se observa na Figura 6, a cerejeira é das fruteiras, juntamente com a
amendoeira, que melhor responde à intercepção de luz alcançando mais tardiamente o
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ponto de estabilização onde uma maior captação de radiação não implica propriamente
uma maior taxa fotossintética através da captação de CO2.
Fig. 6 – Relação entre a taxa fotossintética (Pn) calculada através da assimilação de CO2
e o nível de PAR para diversas fruteiras: (1) Amendoeira; (2) Cerejeira; (3) Macieira;
(4) Pessegueiro; (5) Ameixeira; (6) Damasqueiro (Faust, 1989).
Assim sendo, os pomares deverão apresentar
uma arquitectura e uma estrutura que
permitam uma eficiente distribuição da
radiação e ao mesmo tempo apresentar uma
área foliar suficiente para assegurar uma
óptima intercepção de luz (Fig.7).
Os pomares intensivos são dos mais
eficientes, usando árvores individualmente
pequenas que providenciam uma elevada área
de superfície vegetal em proporção com o
volume de copa ao contrário de outros
sistemas culturais que pecam precisamente
nesta relação que fica nitidamente
descompensada devido à fraca distribuição da
radiação no interior da copa.
Fig.7 – Calculo da distribuição de luz em três secções de copa para 2 tipos de dimensão
de LAI em três sistemas de condução de macieiras: Palmeta, Cónico e Campo Coberto.
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As áreas ensombradas recebem luz insuficiente para produtividades satisfatórias, (Faust,
1989).
2.2.4 – O uso dos princípios no delineamento do pomar e na resolução de
problemas práticos
O desenvolvimento prático e conceptual de pomares intensivos é baseado nos
princípios e conhecimento do papel da luz na produtividade e na qualidade da fruta. A
transferência da plantação intensiva para a produção comercial introduz, naturalmente,
vastas e variadas aplicações que poderão inadvertidamente comprometer propriedades
fisiológicas necessárias para optimizar a performance do pomar. Usualmente, os
problemas surgem causados pelas condições deficitárias de intercepção de luz, de índice
de área foliar ou de densidade de área vegetal.
As decisões a tomar relacionadas com o espaçamento entre as árvores, a
densidade e o vigor do porta-enxerto são a origem comum dos problemas ligados à
radiação solar no pomar. Geralmente esses problemas só se manifestam quando o pomar
atinge a idade adulta. Os assuntos relacionados com a baixa produtividade, declínio na
qualidade da fruta e falência da performance económica do pomar são sintomas típicos
evidenciados.
As baixas produtividades estão, normalmente, relacionadas directamente com
uma inadequada intercepção da luz solar. A causa mais provável é que o espaço usado
entre as árvores é muito largo para o seu tamanho final (principalmente o espaço da
entre-linha), ou seja a densidade de plantação é muito baixa. A solução nestas situações
é aumentar o índice de área foliar e a intercepção de luz permitindo o crescimento em
altura das árvores ou prolongando a ramificação lateral para aumentar a copa e a área
vegetal total.
O declínio da performance económica e da qualidade da fruta, especialmente a
cor e o calibre, estão relacionados com uma inadequada distribuição da radiação solar e
uma elevada percentagem de área de ensombramento. Estes problemas ocorrem em
pomares adultos quando as árvores ultrapassam o volume que lhes estava destinado à
partida. É o problema clássico de densidades de plantação demasiado elevadas. O pomar
nos primeiros anos comporta-se muito bem produzindo fruta de qualidade excepcional
até à altura que a área foliar vai aumentando e os volumes individuais de copa das
árvores começam-se a sobrepor. Nestas circunstâncias, a poda necessária para confinar
os volumes de copa a um espaço inadequado e mal planeado resulta em crescimento
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vegetativos excessivos e área foliar marginal reduzindo a distribuição da radiação solar.
Um sintoma típico de pomares plantados com densidade de plantação excessiva é a
perda da forma cónica das árvores com o posterior desenvolvimento de formas
irregulares.
Uma inadequada distribuição de luz também se poderá desenvolver em pomares
com densidades de plantação optimizadas através de poda insuficiente originando uma
densidade vegetal excessiva. Essa má distribuição poderá ter um impacto elevado na
produtividade, nomeadamente na dimensão da fruta, na diferenciação de gomos florais,
e num crescimento vegetativo fraco em zonas de ensombramento. A reduzida
distribuição de radiação solar e uma elevada percentagem de zonas de ensombramento
recebem menos 20 a 30% de luz incidente indicando uma excessiva, e não óptima, área
e densidade foliar. Uma vez que transmissão da luz nas folhas das fruteiras é muito
limitada, a distribuição de luz depende da baixa densidade de folhagem fazendo com
que a maior percentagem de espaços abertos permita que a luz incidente e reflectida
tenha uma penetração maior e mais uniforme ao longo da copa.
As altas produtividades e as boas performances económicas nos pomares
alcançam-se através do equilíbrio na gestão da distribuição da área foliar. O objectivo
será conseguir pelo menos 60% de intercepção de radiação e uma adequada distribuição
da luz que assegure consequentemente uma óptima produtividade e uma boa qualidade
na fruta.
2.3 – O porta-enxerto como uma componente essencial para a intensificação
A fundação de um pomar moderno e intensivo é o porta-enxerto redutor de vigor
e precoce bem como as elevadas densidades de plantação.
Apesar das altas densidades serem o factor mais importante que afecta a
produtividade nos primeiros anos de vida do pomar, os porta-enxertos redutores de
vigor induzem uma floração e uma produção precoce o que aumenta significativamente
o rendimento do pomar. Além disso, estes porta-enxertos permitem o estabelecimento
das altas densidades de plantação mesmo quando o pomar atinge a idade adulta. Os
porta-enxertos influenciam a repartição dos assimilados e dos recursos da planta entre a
parte vegetativa e a produtiva. Outras características importantes dos porta-enxertos são
a indução de boas produções com bons calibres, tolerância a pragas e doenças e ainda a
tolerância a stress abióticos (seca, asfixia radicular, geadas e frio invernal).
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Os porta-enxertos semi-ananicantes oferecem uma das melhores alternativas
para assegurar produtividades elevadas nos pomares logo nos primeiros anos. Através
da selecção de porta-enxertos precoces, bem adaptados e ananicantes, plantando a
elevadas densidades e garantindo bons crescimentos iniciais das plantas é possível
atingir bons rendimentos nos pomares recém instalados. Se todos estes factores forem
combinados com uma condução apropriada, uma fertilização equilibrada e um regime
hídrico monitorizado e adequado, os sistemas de alta densidade são muito mais
rentáveis que os sistemas tradicionais.
Todos os pomares modernos dependem da precocidade produtiva para serem
rentáveis. Os porta-enxertos semi-ananicantes que induzem florações precoces
combinadas com elevadas densidades de plantação aumentaram drasticamente as
produtividades dos pomares modernos. Além disso, a elevada eficiência das
produtividades destes porta-enxertos significam que quando são plantados à sua
densidade óptima as produtividades acumuladas, ao longo da vida útil do pomar, são
muito superiores às dos porta-enxertos vigorosos.
Para serem competitivos os produtores têm de aumentar as produtividades. Os
porta-enxertos inovadores oferecem uma das melhores e mais económicas maneiras de
alcançar produtividades precoces e sustentáveis. Se seleccionarem porta-enxertos
precoces e bem adaptados às condições edáficas e climáticas, densidades de plantação
elevadas e se obterem crescimentos vegetativos precoces, os melhoramentos na
eficiência dos pomares são possíveis. Se todos estes factores forem combinados com
podas reduzidas, os pomares modernos e intensivos poderão ser muito mais rentáveis
que os tradicionais.
2.4 – A importância da variedade
Um produtor procura as variedades que melhor se ajustam aos seus objectivos
de produção e de comercialização. Terá que contar tanto com os factores externos às
árvores como os factores climáticos bem como com os factores internos nomeadamente
o porte das árvores e as diversas características dos frutos. Sendo assim os principais
factores a ter em consideração na escolha de uma variedade são: o calibre, a dureza, a
qualidade gustativa, a produtividade, o vingamento e o porte da árvore, a resistência ao
rachamento, a apresentação do fruto (cor, brilho, comprimento e destacamento do
pedúnculo), a data de colheita e a data de floração (especial atenção aos fenómenos de
esterilidade entre árvores de variedades iguais ou mesmo de variedades distintas).
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2.5 – Densidade de plantação e a intercepção de luz – chaves para as produções
precoces e sustentáveis
A grande maioria dos pomares modernos intensivos apresenta árvores mais
pequenas que produzem menos unitariamente do que as árvores tradicionais. No
entanto, com a combinação adequada de porta-enxerto de menor vigor e densidade de
plantação, os novos sistemas intensivos podem alcançar produtividades semelhantes ou
maiores que os melhores pomares tradicionais. Nos pomares modernos e intensivos
pequenas mas significativas produções são esperadas nos primeiros anos do pomar,
enquanto o seu estado adulto é esperado no 5º ou 6º ano após a plantação. Em contraste,
os pomares tradicionais, com baixas densidades de plantação e porta-enxertos
vigorosos, começam a produzir ao 6º ou 7º ano após a plantação alcançado o estado
adulto de produtividade ao 15º ano.
2.5.1 – Densidade de plantação
A densidade de plantação é o factor singular mais preponderante que afecta as
produções precoces nos pomares modernos de cerejeira. Nos primeiros anos de vida, a
intercepção de luz pela copa é baixa limitando o potencial produtivo. O grande
objectivo a alcançar na fase juvenil é de desenvolver o mais depressa possível o volume
de copa para a fase adulta (Fig.8 e 9).
Fig.8 – Instalação de um pomar intensivo. Fig.9 – Pomar intensivo recém plantado.
Existe uma relação curvilínea ascendente entre a densidade de plantação e a
produtividade acumulada. À medida que a densidade de plantação vai aumentando a
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produção vai crescendo progressivamente. No topo da relação curvilínea, aumentos
adicionais na densidade de plantação não originam produtividades extras suficientes
para pagarem o custo acrescido de aquisição das plantas (Fig.10).
Fig.10 – Relação entre a densidade de plantação (árv. por ha) e a produção acumulada
em macieiras (mt por ha), (Barrit, 2003).
A densidade de plantação, quando devidamente calculada, considera o vigor da
variedade, o vigor do porta-enxerto e a fertilidade do solo. Com variedades vigorosas,
os produtores deverão seleccionar porta-enxertos mais ananicantes e distâncias de
plantação superiores. O inverso também deverá ser acautelado, ou seja, com variedades
mais produtivas deverão ser usados porta-enxertos mais vigorosos bem como distâncias
de plantação mais pequenas.
2.5.2 – Elevada intercepção de luz no estado adulto do pomar
As produtividades dos pomares no seu estado adulto, independentemente da
densidade de plantação e do sistema de condução, estão relacionadas com a radiação
solar interceptada. Apesar das produtividades iniciais e precoces estarem relacionadas
com a densidade de plantação e com o porta-enxerto (nem tanto com a forma de
condução), as produtividades na fase adulta podem diferir significativamente consoante
a intercepção de luz (dependente da forma e arranjo das árvores).
A intercepção de luz pode ser aumentada através do aumento da densidade de
folhagem, do aumento da altura das árvores equilibrando com a distância entre as
linhas, e por último com a intensificação da densidade de plantação. No entanto, devido
ao espaço necessário para as máquinas passarem, a intercepção da radiação solar é mais
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influenciável pela densidade de plantação e pela altura das árvores do que pela
densidade da copa.
As árvores grandes em forma de vaso plantadas com grandes espaçamentos
como é típico dos pomares tradicionais de cerejeira, interceptam muito pouca luz
quando são jovens e quando atingem a fase adulta o nível de ensombramento no seu
interior é muito elevado. A conclusão de que uma significativa porção de terreno e de
recursos energéticos (radiação solar) estava a ser totalmente desperdiçada levou à
plantação de pomares modernos e mais intensivos o que resultou em produções mais
precoces e um melhor aproveitamento dos recursos naturais através de uma melhor e
mais eficaz captação de luz. Os estudos feitos nesta área revelam que a intercepção de
luz está positivamente relacionada com a
densidade de plantação e com a
produtividade. O efeito da arquitectura da
árvore e do porta-enxerto são menos
importante que o número de árvores por
hectare para o aumento global da
intercepção de radiação e da
produtividade. A intensificação cultural é
o parâmetro mais relevante para o
aumento das produtividades precoces e da
intercepção de luz nos pomares jovens.
Do ponto de vista da intercepção
de radiação, a grande desvantagem dos
pomares convencionais e da respectiva
arquitectura é a quantidade substancial de
energia solar que é desperdiçada entre as
linhas das árvores e na zona de passagem
das máquinas que podia ser aproveitada
para produzir fruta.
Fig.11 – Influência da arquitectura da área verde, da altura das árvores e da distância
entre-linhas na intercepção e distribuição de luz. As riscas presentes na copa das árvores
indicam zonas de ensombramento, (Faust, 1989).
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Existe uma relação simples entre a altura das árvores, o espaço entre as linhas
(incluindo a zona de passagem da maquinaria) e a intercepção de luz. Quanto maior a
altura das árvores, mantendo o espaçamento na entre-linha, aumenta a intercepção de
luz originando melhores produções se a distribuição da radiação for adequada ao longo
da copa. No entanto, se altura das árvores for demasiado elevada resultam problemas de
ensombramento e de distribuição deficitária de radiação solar no pomar. As condições
ideais de intercepção de luz ocorrem quando existe um rácio entre a altura das árvores e
a distância entre linhas de 0,8 e 1, atendendo às nossas condições de latitude. O
principal objectivo deverá ser de maximizar a intercepção da radiação solar (Fig. 11).
2.5.3 – A distribuição de luz na copa do pomar adulto
À medida que as árvores vão evoluindo e crescendo a intercepção de luz alcança
o seu máximo, sendo o desafio de manter uma boa distribuição de radiação que permita
boas produções com fruta de qualidade. Na maioria dos pomares tradicionais de
cerejeira, existe uma tendência para as árvores adquirirem uma forma de guarda-chuva
(Fig.12) onde o topo da copa recebe grande percentagem da radiação originando
ensombramento nas zonas interiores e inferiores. Estas áreas apresentam piores
induções florais e deficientes diferenciações de gomos florais e produzem frutos de
baixo calibre e de baixa qualidade.
Fig.12 – Distribuição da luz numa árvore em forma de vaso fechado, (Barrit, 2003).
Algumas abordagens têm sido conduzidas no sentido de melhorar a distribuição
da luz nos pomares.
Uma delas consiste em disponibilizar pequenas aberturas entre os ramos que
permitam a penetração da radiação para o centro e para as zonas inferiores da copa. Esta
abordagem é usada nas formas naturais como são o eixo central, a forma cónica, a
forma piramidal e o eixo vertical (Fig.13).
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Fig.13 – Distribuição de luz padrão num sistema de condução em eixo central, (Barrit,
2003).
Uma segunda aproximação é de fornecer de uma forma permanente poucas mas
grandes aberturas para penetração da luz restringindo a copa a formas geométricas como
são a palmeta, os muros fruteiros e as formas A, V ou T.
A terceira e última abordagem é manter a profundidade da copa das formas
naturais das árvores muito fina para melhorar a penetração da radiação.
Na sua generalidade, uma boa distribuição de luz pode ser alcançada, em árvores
adultas, se os topos forem mais estreitos do que a base e se o equilíbrio entre a parte
vegetativa e a produtiva existir. Para sistemas cónico como, o eixo vertical, a forma
piramidal ou o tradicional eixo central, a manutenção da forma cónica, à medida que a
árvore vai evoluindo, é fundamental para manter uma boa exposição solar, boas
produções e boa qualidade de fruta desde o topo até à base da árvore.
O objectivo chave na planificação de um pomar moderno e intensivo deverá ser
o de maximizar as produções nos primeiros anos e alcançar de uma forma eficaz
grandes produtividades de elevada qualidade durante e depois da fase adulta. A melhor
forma de obter elevadas produções numa fase precoce é através da alta densidade de
plantação independentemente da forma das árvores e do sistema de condução
seleccionado.
Todos os pomares intensivos dependem das produções precoces para serem
rentáveis. A escolha específica do sistema de condução usado no desenvolvimento do
pomar é menos importante que a densidade de plantação desde que as intervenções de
poda sejam reduzidas ao mínimo. Os produtores devem focar-se em alcançar produções
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precoces através da intensificação cultural, pela selecção de porta-enxertos precoces e
ananicantes, localizações com boa exposição solar e com baixo risco de geada e por
último obter bons crescimentos iniciais das árvores. Se todos estes parâmetros forem
interligados com uma adequada condução das árvores e intervenções mínimas de poda,
os pomares modernos e intensivos poderão ser substancialmente mais rentáveis
economicamente que os tradicionais. As altas produtividades na fase adulta requerem
uma intercepção da radiação elevada podendo ser atingidas através de um correcto
dimensionamento do pomar onde a altura das árvores deverá ser, pelo menos, 80% da
distância entre-linhas. A produção de elevada qualidade necessita de uma boa
distribuição da luz no interior da copa podendo ser alcançada por uma boa arquitectura
das árvores com boas aberturas que permitam uma boa penetração da radiação e através
de uma eficiente renovação da área foliar.
2.6 – Qualidade das árvores – uma parte importante no sucesso da plantação
A qualidade do material vegetal é importante uma vez que influencia a obtenção
de produções precoces e a capacidade de um pomar amortizar o investimento de uma
forma mais célere aumentando assim a sua rentabilidade. A performance de uma árvore
de fruto nos primeiros anos apresenta um grande impacto nas produções precoces e na
rentabilidade do pomar.
A qualidade de uma árvore deverá ser analisada não só pelo diâmetro do tronco
mas também pela ramificação, pelo desenvolvimento do sistema radicular, pelo
comprimento do porta-enxerto, a saúde fitossanitária e pelo método de propagação.
Do ponto de vista fisiológico, são as reservas de nutrientes que se encontram no
interior da planta que suportam o seu crescimento inicial durante a sua transplantação
do viveiro para o pomar. Assim, uma árvore de qualidade, não só precisa de ter um bom
tamanho e envergadura como também um bom rácio entre raízes e ramos sendo que o
mais importante deverá ser a presença de elevados níveis de reservas de nutrientes.
Nesse último aspecto, o azoto desempenha um papel fundamental uma vez que as suas
reservas são o material de construção inicial antes de as raízes iniciarem a sua extracção
no solo. Secundariamente, as reservas de hidratos de carbono são importantes devido ao
facto de providenciarem a energia e os alicerces para os novos crescimentos antes do
desenvolvimento de qualquer gomo ou do início da fotossíntese.
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2.6.1 – Características mínimas das árvores
De uma maneira geral, recomenda-se que o material vegetal proveniente do
viveiro para a plantação de um pomar moderno e intensivo deverá estar
convenientemente ramificado apresentando entre 6 a 10 ramos que estejam 60 a 80 cm
do solo e com um comprimento entre 20 a 38 cm. Deverão evidenciar uma boa
envergadura e altura não menos do que 1,5 m. As árvores com um bom diâmetro de
tronco são a próxima escolha quando as árvores ramificadas não se encontram
disponíveis.
Os estudos nesta área demonstram que as árvores com bom diâmetro de tronco e
que também apresentam boa ramificação produzem mais fruta que as que não
apresentam estas características, especialmente nos primeiros anos após a plantação
(Fig.14 e 15). Para os pomares intensivos que dependem das primeiras produções, as
árvores ramificadas são vitais para o seu sucesso económico. Se os produtores usarem,
na sua maioria, árvores de pequeno porte e com fraca ramificação, as produções
precoces ficam seriamente comprometidas bem como a amortização do investimento
inicial e a posterior rentabilidade do pomar.
Fig.14 – Árvore bem ramificada. Fig.15 – Árvore com muitos ramos laterais.
A qualidade do material vegetal proveniente dos viveiros é uma parte integral do
sucesso da instalação de um pomar moderno e intensivo. Quanto melhor a árvore,
maiores serão as probabilidades de sucesso económico do investimento.
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2.7 – Sistema de suporte – um investimento que propícia muitos dividendos
Os sistemas de suporte são delineados para suportarem o peso da cultura
prevenindo a quebra de ramos e mesmo a danificação das árvores (Fig.16). Numa etapa
inicial, a preservação da copa das árvores depende essencialmente da arquitectura do
sistema de suporte. A sua instalação deverá ser encarada como um investimento que
permite as produções iniciais preservando a estrutura das árvores não comprometendo
as futuras produtividades de modo a que permite retirar muitos dividendos ao contrário
de uma simples despesa sem qualquer retorno económico. Quando as árvores se
encontram devidamente alicerçadas e seguras, poderão desenvolver-se
convenientemente nos primeiros anos, aumentando as suas produções
progressivamente. Sem um sistema de suporte devidamente instalado as árvores teriam
que ser severamente podadas para poder originar crescimento vegetativos suficiente
para se conseguirem desenvolver e segurar, comprometendo seriamente o equilíbrio
entre a parte vegetativa e produtiva o que originaria fracas ou nulas produções.
Fig.16 – Tipologia de um sistema de suporte de um pomar intensivo, (Barrit, 2003).
2.8 – Sistema de condução – Desenvolvimento e manutenção da arquitectura do
pomar
As podas estimulam os crescimentos vegetativos e reduzem a frutificação. Os
crescimentos causados pelas intervenções são uma resposta da árvore para restaurar o
equilíbrio intrínseco entre o tamanho do sistema radicular e o volume da sua copa, ou
seja a relação entre raízes e ramos. As podas reduzem o tamanho da copa logo a planta
responde com novos crescimentos para reequilibrar o balanço perdido. Assim que o
equilíbrio seja alcançado os crescimentos diminuirão de intensidade.
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As podas poderão remover a dominância apical dos ramos através da remoção
de uma proporção dos pontos de crescimento (ápices dos gomos) induzindo respostas de
crescimento aos gomos próximos dos cortes. Noutros casos, a dominância poderá ser
apenas alterada com a remoção de ramos laterais ou com a promoção de ramos laterais
em detrimento do ramo principal.
A condução dos ramos, ao contrário das podas, influencia o crescimento e a
frutificação através do efeito gravitacional e morfológico que afectam os padrões de
ramificação e de controlo apical. A flexão dos ramos com ângulos superiores a 45º em
posições próximas ou superiores do horizontal aumenta a indução floral e todas as
respostas opostas à poda. É possível modificar consideravelmente o crescimento e a
forma de um ramo através da variação da magnitude do seu ângulo de inserção da
posição vertical.
Os padrões de ramificação poderão não ser alterados mas os crescimentos
vegetativos são sempre reduzidos conduzindo os ramos para posições próximas da
horizontalidade. Se forem arqueados abaixo da posição horizontal, a dominância apical
do gomo terminal é perdida e os gomos da zona de curvatura do ramo desenvolvem
novos crescimentos numa tentativa da planta retomar o controlo apical. Os segmentos
de ramos orientados abaixo dessa posição não produzem praticamente crescimentos
vegetativos.
A gestão da copa de um pomar enquadra-se em duas fases principais: o
desenvolvimento das árvores desde a plantação até à idade adulta sendo seguida pela
manutenção das suas copas ao longo da vida produtiva do pomar.
2.8.1 – Desenvolvimento da copa das árvores
A gestão da área foliar do pomar desde a plantação deve focar-se em diversos
pontos críticos:
- Definição da forma e arquitectura da copa das árvores;
- Rápida expansão da copa para aumentar a intercepção da radiação solar;
- Estabelecimento rápido da copa para promoção do potencial de produção.
A preferência pelo mínimo de intervenções de poda possíveis dando prioridade
pela condução dos ramos irá maximizar o incremento da expansão da copa através da
optimização do crescimento potencial da estrutura existente da jovem árvore.
A remoção intensa dos ramos ocasionada pelas podas reduz o tamanho global
das árvores, podendo adiar a expansão da sua copa ocasionando uma redução drástica
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das produções precoces. No entanto, existem oportunidades estratégicas de poda, como
é o exemplo das intervenções em verde, que poderão promover crescimentos específicos
no sentido de melhorar a arquitectura e a forma das árvores. Este tipo de intervenções
poderão melhorar significativamente a distribuição dos fotoassimilados pela árvore,
através da remoção de ramos que não sejam importantes para a sua estrutura. A melhor
partição dos assimilados permite uma redução significativa do vigor dos crescimentos
vegetativos e uma promoção da ramificação lateral.
Durante o desenvolvimento juvenil do pomar, a poda do eixo das jovens árvores
é geralmente indesejado uma vez que reduz uma porção significativa de massa verde
desequilibrando o crescimento natural e os padrões de ramificação das jovens plantas.
No entanto, quando as árvores apresentam um vigor vegetativo muito reduzido poderá
ser aconselhado o corte da parte superior do eixo, uma vez que a resposta vegetativa
será muito forte na tentativa de reequilibrar a sua estrutura.
2.8.2 – Manutenção da área verde para promoção da produtividade e da qualidade
da fruta
A manutenção da arquitectura da copa das árvores e a sua associação com a
distribuição da área foliar e a renovação dos crescimentos dependente largamente das
intervenções anuais de poda.
A relação entre os crescimentos vegetativos e a frutificação são totalmente
antagónicos. Uma gestão que estimule os crescimentos reduz a frutificação enquanto a
frutificação reduz drasticamente os crescimentos. O objectivo deverá ser o de alcançar o
equilíbrio dependendo das capacidades do produtor, da sua experiência, do seu
conhecimento e da compreensão da resposta das árvores às intervenções efectuadas.
As podas reduzem a frutificação através da remoção de uma quantidade
significativa de gomos florais e aumentando a proporção de gomos foliares sendo este
desequilíbrio mais acentuado à medida que a severidade da intervenção aumenta.
Consequentemente, a qualidade da fruta e a produtividade estão directamente associadas
com a agressividade das intervenções praticadas. Tanto a intensidade como o tipo de
poda efectuada têm repercussões na produção e na qualidade da fruta através da
modificação da arquitectura da copa e o equilíbrio entre a frutificação e o vigor
vegetativo influenciando preponderantemente a intercepção e distribuição da radiação
solar na área foliar do pomar.
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A gestão da área foliar dos pomares modernos e intensivos é baseada em
intervenções leves e pontuais evitando a agressividade e a severidade nas intervenções
com o principal objectivo de manter o equilíbrio entre a componente vegetativa e a
produtiva.
Um bom princípio a respeitar será de estabelecer uma hierarquia dos ramos ao
longo do eixo da árvore onde o respectivo comprimento vai aumentando à medida que
vamos baixando em altura de maneira a permitir uma boa distribuição da radiação e
evitar possíveis ensombramentos com a consequente renovação natural dos
crescimentos vegetativos. O objectivo será renovar as fontes de má qualidade dos frutos,
melhorando a distribuição da luz e a gestão do tamanho da árvore, a sua forma e
intensidade de frutificação usando métodos de intervenção que evitem excessivo vigor
nos crescimentos vegetativos.
É também essencial conhecer os hábitos de frutificação de cada variedade
devendo-se adaptar as intervenções a efectuar à sua forma de produção seleccionando os
gomos que melhor desempenho apresentem na qualidade da fruta para serem a base de
sustentação da nossa produção. A renovação da copa deverá ser direccionada para a
preservação das melhores condições de penetração e distribuição de luz optimizando as
zonas de elevado potencial qualitativo de frutificação.
2.9- Alcançar o equilíbrio entre os crescimentos vegetativos e a produção
O sucesso na gestão de qualquer pomar moderno e intensivo depende do
equilíbrio entre a componente vegetativa e a produtiva. Se o vigor for muito reduzido,
resulta em excessiva frutificação, baixando drasticamente os calibres aumentando a
alternância de produção. Se os crescimentos vegetativos forem excessivos a floração e a
frutificação são reduzidos originando problemas de produção. O sucesso no equilíbrio
entre o vigor vegetativo e a produção resulta em árvores “calmas” que originam
produtividades elevadas necessitando apenas de pequenas intervenções anuais de poda
(Fig.17). As estratégias de condução e de poda juntamente com a fertilização são as
principais ferramentas de gestão para alcançar o equilíbrio desejado ao longo da vida
útil do pomar.
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Fig.17 – O Equilíbrio entre os crescimentos vegetativos e a frutificação é fortemente
influenciado pela poda, fertilização e produção (adaptado de Barrit, 2003).
2.9.1 – Poda e condução: princípios fisiológicos
A poda é a prática cultural mais dispendiosa e importante na gestão dos pomares
podendo ter um efeito pronunciado no crescimento da árvore, na produção, no tamanho
dos frutos e na sua qualidade. É sempre uma questão de compromisso uma vez que
apresenta efeitos positivos e negativos. Os principais benefícios são: 1) melhoramento
na penetração da radiação solar no interior da copa potenciando a qualidade da fruta e a
indução floral, 2) redução do tamanho da árvore, 3) renovação da superfície produtiva,
4) melhoramento da penetração dos tratamentos fitossanitários, resultando num controlo
mais eficaz das pragas e das doenças. Os factores adversos da poda incluem 1) redução
da produção, 2) retardamento da frutificação e 3) aumento do vigor vegetativo.
Na perspectiva das árvores de fruto, a poda pode ser simplificada em dois
grandes tipos de corte: os atarraques e a extracção de ramos ou de crescimentos
completos. O atarraque consiste na remoção do gomo terminal com ou sem uma porção
de ramo abaixo dele. Usualmente o corte pressupõe a remoção de 1/3 a metade do ramo.
O outro tipo de corte refere-se à eliminação de um ramo ou de um crescimento
completo desde o seu ponto de origem. Os dois tipos de intervenções produzem
diferentes respostas que são resultantes, numa primeira análise, da extracção do gomo
terminal.
O gomo terminal de um ramo controla o seu crescimento directo e o futuro
desenvolvimento dos ramos que o sucedem. É o local de produção de diversas
hormonas vegetais onde se incluem as auxinas, as giberelinas e as citoquininas. As
primeiras produzidas pelas pontas dos ramos são transportadas no sentido gravitacional
- Vigor e pouca frutificação; - Árvores grandes; - Frutos com calibre elevado.
- Ausência de poda; - Elevadas produções.
Floração e
frutificação - Poda; - Azoto.
- Árvores fracas e produtivas; - Frutos pequenos.
Crescimentos vegetativos
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ao longo do ramo controlando o crescimento dos gomos laterais. As auxinas param o
crescimento destes ramos laterais que se encontram num estado de dormência. O gomo
terminal também funciona como um grande consumidor de nutrientes dirigindo o
desenvolvimento de ligações vasculares e a translocação de nutrientes provenientes das
raízes, hidratos de carbono e água. A remoção do ponto terminal de crescimento resulta
na extracção do abastecimento de auxinas que origina posteriormente a quebra da
dormência dos gomos laterais seguido do seu desenvolvimento. Após o atarraque segue-
se o fornecimento, para os gomos laterais, de hormonas, de nutrientes, de hidratos de
carbono e de água provenientes das raízes que anteriormente eram deslocalizados para o
gomo terminal.
Contrastando com os atarraques, a extracção de crescimentos e ramos
completos, não só remove o gomo terminal como também os gomos laterais não
alterando o balanço hormonal. Os efeitos deste tipo de cortes manifestam-se no
equilíbrio geral entre o sistema radicular e a copa resultando numa redistribuição dos
nutrientes, da água e das hormonas nas folhas provenientes das raízes para os gomos
remanescentes.
Geralmente, a extracção de ramos não ocasiona excessivo vigor no local do corte
podendo aumentar o vigor geral da árvore estando dependente da proporção da copa
removida pela intervenção. Em árvores jovens, este tipo de cortes poderão originar
desequilíbrios através de respostas vigorosas e decréscimo na frutificação devido à
remoção de uma porção significativa de copa. Em árvores adultas, este tipo de
intervenções têm uma influência menor no vigor podendo aumentar substancialmente na
distribuição de luz originando melhoramentos na qualidade da fruta e na produção.
Outro conceito fisiológico importante encontra-se relacionado com o ângulo de
posicionamento do limbo. Na posição vertical, um ramo cresce mais vigorosamente do
que na posição horizontal ou pendente. Este processo é ocasionado pela produção de
quantidades significativas de auxinas pelo gomo terminal monopolizando a translocação
de nutrientes e de recursos para o topo do ramo limitando fortemente a ramificação e o
desenvolvimento de gomos florais. Uma posição do limbo mais horizontal origina
menores crescimentos apicais e uma menor produção de auxinas permitindo uma quebra
de dormência dos gomos laterais e uma ramificação dos crescimentos. O aumento de
pontos apicais de crescimento permite uma maior competição por recursos, nutrientes e
hormonas reduzindo o vigor dos meristemas terminais, resultando numa iniciação floral
dos gomos dos ramos. Esses crescimentos posicionados horizontalmente ramificam
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melhor podendo produzir de uma forma substancial no ano seguinte apresentando
posteriormente uma tendência para pender devido ao peso da fruta.
Os frutos são também fortes competidores por recursos limitando o crescimento
dos ramos. Se um ramo posicionado na vertical for horizontalmente colocado, os gomos
laterais serão libertados do estado dormente. Se o vigor do ramo for excessivo, esses
gomos originaram crescimentos vigorosos não diferenciando gomos florais. No entanto,
se o ramo apresentar um vigor moderado os gomos laterais irão desenvolver pequenos
crescimentos, diferenciando com mais facilidade gomos florais. Os ângulos dos ramos
também influenciam as respostas aos atarraques. Em ramos verticais, os atarraques
estimulam significativamente o vigor reduzindo consequentemente a indução floral e a
posterior frutificação. No entanto, nos ramos pendentes ou horizontais, os atarraques
têm efeitos praticamente nulos uma vez que o efeito do gomo terminal é muito
reduzido.
2.9.2 - Poda e condução: nos primeiros anos de vida do pomar
Durante os anos de desenvolvimento da vida de um pomar as árvores têm o seu
período juvenil onde o equilíbrio entre a componente vegetativa e a produtiva é
claramente favorável aos crescimentos vegetativos. Com sistemas culturais intensivos o
objectivo é tornar o mais cedo possível, os pomares produtivos, sendo a melhor solução
o mínimo de intervenções de poda nos primeiros 4 anos. Evitar os atarraques ao eixo a
todo o custo exceptuando se a densidade de plantação for mais reduzida e as árvores
necessitem de massa verde para preencher os espaços existentes. Nestas situações, os
atarraques servem para equilibrar a copa com o sistema radicular de maneira a assegurar
bons crescimentos nos primeiros anos. Posteriormente, os crescimentos máximos e a
precocidade de produção são alcançados com ausência de poda. Nos primeiros 4 anos as
intervenções deverão cingir-se à remoção de ramos mal posicionados tais como os que
pelas suas dimensões poderão competir com o eixo central.
Nos primeiros 5 anos a manipulação dos ângulos dos ramos poderão ser uma
preciosa ajuda na modificação de uma árvore jovem, vigorosa e em estado vegetativo
numa produtiva e equilibrada. Em muitos climas, se a poda de ramos for mínima, o peso
da produção irá pender os ramos estabelecendo o equilíbrio entre os crescimentos
vegetativos e a produção. Em climas amenos e quentes, com frio invernal insuficiente,
os ramos tornam-se demasiado grandes até começarem a produzir o necessário para
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retumbarem sendo necessário pendê-los manualmente, nos primeiros 3 a 5 anos, até a
árvore começar a produzir em condições.
No entanto, nos pomares tradicionais, os produtores costumam investir bastante
no posicionamento dos ramos que deverá ser limitado ao essencial nos primeiros 2 anos.
Após esse período, a precocidade do porta-enxerto deverá fazer o resto do trabalho,
através da indução de produtividades elevadas logo nos primeiros anos de vida útil.
2.9.3 – Poda de manutenção em árvores adultas
Assim que o pomar atinge a idade adulta, a contenção nas intervenções é crítica
e fundamental para manter as árvores no seu espaço respectivo e para melhorar a
distribuição da radiação solar para as zonas mais baixas da copa. Usualmente, as
estratégias de poda baseadas no “atrasar” e encurtar de ramos permanentes, que
ultrapassaram o seu espaço correspondente, não são tão eficazes como as estratégias de
renovação. Isto é parcialmente ocasionado pela remoção de madeira produtiva quando
um ramo é encurtado estimulando adicionalmente vigor localizado, que resulta em
ensombramento para as zonas mais baixas da copa reduzindo inaceitavelmente a
produtividade e originando má qualidade de fruta.
Uma aproximação mais eficiente é a remoção de 1 a 2 ramos superiores
completos desenvolvendo jovens substitutos. Esta intervenção nas zonas mais elevadas
da copa dos pomares intensivos ajuda a abrir canais para penetração da luz mantendo a
produção nas zonas mais baixas. Esta prática consiste na renovação da área foliar sendo
um dos conceitos de poda mais importantes para pomares intensivos adultos. Para
assegurar o desenvolvimento de um ramo substituto, o ramo grande deve ser removido
com um ângulo que permita que uma pequena porção de ramo se mantenha originando
posteriormente um ramo menos vigoroso e naturalmente mais pequeno que os ramos da
zona mais baixa da copa mantendo a sua forma cónica.
As recomendações usuais são de iniciar pela remoção de 1 a 2 ramos inteiros do
topo da árvore assim que esta atinja a idade adulta (6 a 7 anos). Isto permite
intervenções moderadas todos os anos sendo um método eficaz de contenção do
tamanho das árvores e de manutenção de uma boa distribuição da luz no interior da
copa sem induzir vigor excessivo. Em árvores com os topos demasiadamente
desenvolvidos que necessitam de reestruturação, uma poda de renovação (1 a 2 ramos
superiores removidos anualmente) durante um período de 4 a 5 anos poderá eliminar
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todos os ramos excessivamente grandes localizados na parte superior da copa. Este tipo
de intervenção poderá ser aplicado em quase todos os sistemas de condução.
Assim que os ramos se tornem horizontais ou pendentes devido ao peso da
produção, poderão ser encurtados com atarraques sem o efeito adverso uma vez que os
gomos terminais destes ramos já não exercem um controlo tão acentuado e significativo.
Este tipo de intervenção poderá ser útil para conter o tamanho da árvore mas se os
ramos horizontais do topo forem atarracados poderão, nos anos mais próximos,
ramificarem e iniciar um processo de ensombramento perigoso para a metade mais
baixa da copa. Neste ponto, os ramos deverão ser removidos e substituídos por um
outro.
O efeito natural de pendência dos ramos devido ao peso da produção sem os
atarraques poderá ser usado com grandes vantagens fisiológicas nos topos de árvores
vigorosas quando é necessário controlar a sua altura. Usualmente, os produtores
preferem atarracar o eixo no topo da árvore que resulta em mais crescimentos fortes e
vigorosos. Se os ramos forem inclinados manualmente e posicionados horizontalmente,
continuará a existir excessivo vigor que originará no crescimento dos gomos laterais no
topo do ramo horizontal. No entanto, se os crescimentos daí resultantes não forem
encurtados, irão frutificar naturalmente e consequentemente pender com o peso da fruta
no ano seguinte. A produção irá também funcionar como um forte consumidor de
recursos e nutrientes, reduzindo o vigor vegetativo no topo da árvore. Assim que este
estiver devidamente frutificado e o eixo central inclinado com o peso da fruta, poderá
ser atarracada para um ramo mais fraco sem uma resposta vigorosa. O lema deverá ser
“a altura das árvores, deverá ser reduzida após a inclinação do eixo central com o peso
da fruta”.
2.9.4 - Fertilização
As necessidades em nutrientes encontram-se directamente correlacionadas com
o tipo de solo e com a espécie vegetal em questão. É de evitar que a nutrição mineral
seja um factor limitante na produção de frutos de boa qualidade. O racionamento da
fertilização deverá conduzir a um vigor moderado das árvores através da manutenção de
uma boa disponibilidade nutricional no solo. É necessário também, assegurar um nível
hídrico adequado.
As necessidades nutricionais encontram-se dependentes da idade das árvores, da
sua fase de crescimento (existem determinadas alturas do ano em que as árvores
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necessitam de uma maior fertilização), em função do tipo de pomar (densidade de
plantação, sistema de condução, técnicas culturais, vigor dos porta-enxertos e
produtividade das variedades existentes).
As condições para uma boa assimilação de elementos minerais terão de ter em
conta o sistema radicular (a alimentação da planta é assegurada por um volume restrito
de solo junto às raízes, por isso a assimilação de elementos minerais depende da
colonização do sistema radicular), condições do solo (factores físicos como a estrutura e
a textura), condições climáticas (temperatura, humidade), técnicas culturais, regime
hídrico (favorece a mobilização dos elementos minerais) e o equilíbrio entre elementos
(o fornecimento excessivo de certos elementos poderá provocar perturbações
fisiológicas).
Os elementos nutritivos mais importantes a considerar serão o Azoto, o Fósforo,
o Potássio, o Magnésio, o Cálcio e dentro dos micronutrientes o Boro, o Ferro, o Zinco
e o Manganês.
O Azoto é um elemento essencial ao crescimento das árvores podendo melhorar
a indução floral e o nível de produção. A fertilização em azoto estimula a formação da
floração nos gomos e reduz a tendência para a alternância. As suas aplicações
aumentam, aparentemente, o tamanho das primeiras folhas e a sua taxa fotossintética
inicial, que ocasiona um incremento na iniciação floral dos gomos. Supõem-se que
poderá ter um efeito benéfico na fecundação através do aumento da longevidade dos
óvulos e da receptividade do estigma. O seu papel na qualidade da cereja ainda não é
bem conhecido mas não afecta directamente o calibre e a dureza. A sua presença em
elevados níveis poderá provocar decréscimos noutros nutrientes também importantes
como é exemplo o Cálcio.
Frequentemente baixas doses de Azoto durante os primeiros anos de vida das
árvores favorecem o seu crescimento e acelerando o desenvolvimento da copa. A
excessiva fertilização, especialmente de Azoto, poderá originar crescimento excessivos
resultando em custos de poda elevados, atraso na indução floral e reduções
significativas nas produções precoces e na qualidade da fruta. A gestão do Azoto em
pomares intensivos deverá entrar em linha de conta com a densidade de plantação. Para
pequenas densidades as árvores deverão crescer de uma forma vigorosa por um longo
período de forma a preencher os espaços existentes, sendo desejado uma fertilização
azotada mais elevada nos anos posteriores à plantação. No entanto, se a intensificação
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aumenta, poucos anos são necessários para completar os espaços existentes devendo a
fertilização azotada ser mais diminuta.
O Fósforo favorece o desenvolvimento radicular, sendo extremamente
importante nos primeiros anos de vida das árvores. Ele favorece também a fertilidade
dos gomos florais e o consequente desenvolvimento das flores. O seu papel na dureza
dos frutos é também importante uma vez que retarda os processos de degradação das
membranas nos tecidos senescentes. O Fósforo desempenha um papel fundamental nos
mecanismos de transferência energética incluindo a formação das moléculas de ATP e
na formação dos açúcares participando ainda em mecanismos de regulação enzimática.
O Potássio é dos nutrientes mais requeridos para as árvores de fruto onde a
cerejeira não foge à regra. É fundamental na síntese de proteínas e na manutenção do
potencial osmótico das células vegetais e do seu conteúdo em água. Tem também um
papel importante na estabilização do pH, na activação enzimática, no movimento
estomático, na fotossíntese e na expansão celular. É dos nutrientes mais importantes na
formação dos frutos e na sua optimização favorecendo bastante a sua qualidade
gustativa. Poderá também conferir às árvores uma maior resistência às adversidades
externas. Os níveis excessivos deste nutriente poderão provocar fenómenos de
antagonismo com outros elementos como são o Cálcio e o Magnésio.
O Cálcio é talvez o nutriente mais determinante na qualidade da fruta um vez o
seu papel na vida pós-colheita é fundamental e insubstituível. Ele desempenha um papel
essencial na formação das paredes celulares através das ligações que estabelece entre os
polissacarídeos e as proteínas sendo facilmente retido ao nível das membranas
reduzindo assim a sua permeabilidade. Assim, torna-se essencial na firmeza dos frutos,
reduzindo a susceptibilidade dos frutos ao rachamento e permitindo uma melhor
conservação. Ele participa também nos fenómenos de respiração e de maturação.
O Magnésio é indispensável à fotossíntese uma vez que faz parte da constituição
da molécula de clorofila localizada nos cloroplastos. Ele participa em diversos
mecanismos bioquímicos e enzimáticos essenciais ao longo do processo fotossintético
sem o qual não existe formação de hidratos de carbono fundamentais para a fabricação
de matéria vegetal.
O Ferro é um constituinte essencial no sistema redox nas plantas aparecendo
naturalmente nas árvores de fruto. É capaz de alterar a sua valência facilitando as
mudanças de electrões no sistema redox, fundamental em todo o processo fotossintético.
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Ele entra também na constituição de numerosas hemoprotreínas, localizadas nos
cloroplastos e nas mitocôndrias.
O Boro desempenha um papel fulcral na floração e consequente vingamento dos
frutos. As grandes quantidades requeridas nesta altura são transportadas a partir das
reservas feitas pelas árvores durante o período de dormência. È um nutriente essencial
para o vingamento dos frutos influenciando preponderantemente a sua quantidade e as
suas qualidades uma vez que existe uma relação directa entre o peso do fruto e o seu
conteúdo neste nutriente. Ele tem também um papel na fase inicial de crescimento das
árvores jovens através do desenvolvimento dos botões florais e dos gomos foliares.
O Zinco entra na constituição de diversas enzimas que intervém na síntese
proteica e de clorofila sendo que a sua carência poderá provocar distúrbios hormonais
que comprometem os crescimentos dos ramos.
O Manganês é um activador de inúmeras enzimas sendo um elemento estrutural
de diversas proteínas desempenhando um papel de activador no sistema redox.
2.9.5 – Regime hídrico
A cerejeira é considerada como uma espécie pouco exigente em água. O
racionamento do regime hídrico é baseado nos objectivos de produção e no sistema de
condução do pomar. Está dependente das combinações solo/porta-
enxerto/variedade/clima. Uma boa disponibilidade de água é susceptível de melhorar o
crescimento das árvores mais jovens, bem como o desenvolvimento das raízes. Um
crescimento irregular provocado por um fornecimento de água sem restrições pode
retardar a entrada em produção: é conveniente, segundo o vigor dos porta-enxertos,
assegurar um desenvolvimento harmonioso das árvores. Um regime hídrico irregular
conduz a absorções minerais deficientes e a perturbações fisiológicas, bem como a uma
grande sensibilidade a agressões exteriores de índole sanitário. As grandes carências de
água poderão provocar o aparecimento de folhas prematuras. Um regime hídrico
abundante no Outono, juntamente com temperaturas moderadas poderá prolongar o
crescimento vegetativo e levar a uma deficiente lenhificação dos ramos que serão mais
sensíveis às geadas invernais.
O regime hídrico é um factor fundamental para a optimização qualitativa e
quantitativa da produção. A grande parte do tempo as reservas de água até ao início do
Verão são suficientes, com excepção para os solos esqueléticos ou superficiais. Neste
caso são outros factores que interferem como sejam a polinização e o número de flores
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frutificadas. O calibre não é directamente dependente da quantidade de água, mas sim
da quantidade de frutos na árvore (quanto maior for a «carga» da árvore menor será o
calibre dos frutos). A dureza dos frutos encontra-se mais dependente do teor se cálcio
dos frutos do que propriamente do regime hídrico da árvore. A susceptibilidade ao
rachamento e o teor de açúcares no fruto também não se encontram directamente
dependentes da disponibilidade de água. A manutenção de uma folhagem em bom
estado assegura uma actividade fotossintética que favorece a assimilação de elementos
nutritivos. O rendimento e a produção no ano seguinte encontram-se dependentes do
regime hídrico do ano corrente. A cerejeira é uma planta que reage bem a regimes
hídricos moderados.
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3 – Análise de Investimento à plantação de um Pomar Moderno de
Cerejeira
O acréscimo dos resultados das margens passa pela modernização da actividade
direccionada para o aumento da produtividade do pomar e pelo aumento do rendimento
do próprio trabalho inerente à actividade. Essa modernização passa, inevitavelmente,
pela instalação de novos pomares de cerejeira mais intensivos que permitam aumentar
as produções e o rendimento dos trabalhadores na operação de colheita que no médio e
longo prazo implicariam um aumento significativo dos proveitos e uma redução drástica
dos custos de produção.
A melhor forma de verificar a viabilidade económica de um projecto é através da
análise ao investimento a realizar calculando o Valor Actualizado Líquido (VAL) ao
fim de um determinado período. Existe também outro parâmetro que costuma ser usado
para calcular a rendibilidade de um determinado projecto denominado de Taxa Interna
de Rendibilidade (TIR).
O VAL de um investimento é a diferença entre os valores dos benefícios e dos
custos previsionais que o caracterizam, depois de actualizados a uma taxa de
actualização (TA) convenientemente escolhida. Trata-se, portanto, de uma medida
absoluta de rendibilidade que traduz, numa perspectiva de momento presente, o
montante residual dos benefícios líquidos gerados durante o período de vida útil do
investimento depois de lhe ser deduzida a remuneração do conjunto dos capitais nele
envolvidos a uma taxa de juro igual à de actualização empregada nos cálculos.
A TIR de um projecto representa a taxa máxima de rendibilidade do projecto.
Não é mais do que a taxa de actualização (TA) que, no final do período de vida do
projecto, iguala o VAL a zero. Uma TIR>TA implica um VAL> 0; o projecto consegue
gerar uma taxa de rendibilidade superior ao custo de oportunidade do capital, pelo que
estamos perante um projecto economicamente viável enquanto que uma TIR<TA
pressupõe um VAL<0; o projecto não consegue gerar uma taxa de rendibilidade
superior ao custo de oportunidade do capital, pelo que estamos perante um projecto
economicamente inviável.
A taxa de actualização a adoptar no âmbito da análise empresarial de projectos
de investimento agrícola deve corresponder ao custo de oportunidade empresarial do
capital, ou seja, à taxa de juro correspondente à melhor remuneração alternativa do
capital alcançável em iguais condições de duração e de risco.
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O procedimento mais adequado para se proceder à determinação da referida taxa
deverá, assim, integrar as duas seguintes componentes:
- a taxa de juro correspondente à remuneração de uma aplicação de risco de
longo prazo;
- um prémio de risco médio considerado às características do investimento em
análise.
Quadro 1 – Análise de investimento à plantação de 1ha de um pomar intensivo de
cerejeiras.
Proveitos (€/ha)
Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Ano 7 Ano 8 Ano 9
Produção. (€)
- - 2.250 6.000 12.000 22.500 30.000 33.000 33.000 33.000
Custos (€/ha)
Terra
-100 -100 -100 -100 -100 -100 -100 -100 -100 -100
Benfeitorias
-13.466 -734 -734 -734 -734 -734 -734 -734 -734 -734
Máquinas
-1.500 -600 -600 -600 -600 -600 -600 -600 -600 -600
Consumíveis.
-2.000 -1.200 -1.200 -1.200 -1.200 -1.200 -1.200 -1.200 -1.200 -1.200
Serviços Externos
-900 -900 -900 -900 -900 -900 -900 -900 -900 -900
M. O Permamente
-1.200 -1.200 -1.200 -1.200 -1.200 -1.200 -1.200 -1.200 -1.200 -1.200
M.O. Eventual
-780 -300 -450 -1.200 -2.400 -4.500 -6.000 -6.600 -6.600 -6.600
Sub-total
-19.946 -5.034 -2.934 66 4.866 13.266 19.266 21.666 21.666 21.666
Imposto 27,5%
- - - -18 -1.338 -3.648 -5.298 -5.958 -5.958 -5.958
Cash-flow
-19.946 -5.034 -2.934 48 3.528 9.618 13.968 15.708 15.708 15.708
Cash-flow actualizado
-19.946 -4.576 -2.425 36 2.410 5.972 7.884 8.061 7.328 6.662
VAL (€/ha)
11.405
TIR
16%
Custos total prod.
(€/kg)
- - 3,46 1,48 0,89 0,62 0,54 0,52 0,52 0,52
Margem (€/kg)
- - -1,96 0,02 0,61 0,88 0,96 0,98 0,98 0,98
- Embalamento e Comercialização de Cerejas da Cova da Beira, Lda.
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Assim sendo, procedeu-se a uma análise de investimento à instalação de 1 ha de
um pomar moderno de cerejeiras (Quadro 1) onde se considerou um compasso de 4 x
1,5 m (1.666 árvores/ha), uma taxa de actualização de 10%, um imposto sobre o
rendimento de 27,5%, um preço de venda médio de 1,5 €/kg, um rendimento de colheita
de 100 kg/dia/pessoa, um salário diário de 30 € e uma produção de 1,5t/ha no ano 2, de
4 t/ha no ano 3, de 8 t/ha no ano 4, de 15 t/ha no ano 5, de 20 t/ha no ano 6 e chegando
ao ano 9 com uma produtividade de 22 t/ha. No ano 0 registou-se um valor de
benfeitorias de cerca de 13.466 € onde se engloba o custo das árvores de 9.996 €/ha, o
sistema de rega 2.000 €/ha e o sistema de suporte 1.470 €/ha. A terra é considerada
como sendo própria onde se considerou uma taxa de 4% de empate de capital avaliando
o hectare em 2.500€.
Analisando os resultados do Quadro 1 verificamos que ao fim do 9º ano o VAL
é de 11.405 €/ha sendo que só no ano 8 é que o montante investido é totalmente
rentabilizado com um VAL de 4.743 €/ha.
A TIR alcançada ao fim dos 10 anos de investimento é bastante favorável
alcançando um valor de 16% claramente superior à taxa de risco e ao custo de
oportunidade considerados para o projecto que foram de 10%.
Os custos mais significativos são a mão-de-obra eventual representando cerca de
0,30 €/kg apesar de num pomar moderno se conseguir atingir rendimentos de colheita
médios de 100 kg/dia/pessoa ao contrário dos 50 kg/dia/pessoa do pomar tradicional. Se
nesta situação o rendimento de colheita fosse equivalente ao de um pomar tradicional
resultaria num custo de 0,60 €/kg o que tornaria o rendimento obtido insustentável a
curto/médio prazo. As produções obtidas é que fazem toda a diferença e garantem a
sustentabilidade do investimento realizado uma vez que passamos de 5 a 8 t/ha do
pomar tradicional para as 15 a 22 t/ha do pomar moderno e intensivo.
Estabelecendo um paralelo entre a situação presente e o panorama descrito na
análise de investimento verificamos que os custos totais de produção quando o pomar
entra em plena produção são semelhantes aos custos que o pomar tradicional apresenta
só de mão-de-obra eventual.
A análise de investimento apresentada, bastante conservadora por sinal (quer nas
produções alcançadas, quer na ausência de subsídios, quer no preço médio de cereja
proposto), em nada se compara com a análise económica de um pomar tradicional onde
temos custos totais de produção próximos de 1,40€/kg.
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-25.000
-20.000
-15.000
-10.000
-5.000
-
5.000
10.000
Ano 0 Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Ano 7 Ano 8 Ano 9
€/ha
Fig.18 – Evolução do cash-flow actualizado a uma taxa de 10% durante os
primeiros anos de instalação de 1 ha de pomar moderno de cerejeira.
Analisando a Figura 18, verificamos que a evolução do cash-flow actualizado a
uma taxa de 10% é marcadamente positiva. Assim é de realçar que a partir do ano 3 os
valores começam a entrar em terreno positivo começando o investidor a rentabilizar o
investimento efectuado, chegando ao ano 8 com o montante global investido totalmente
rentabilizado e no ano 9 com um acumulado de 11.405 €/ha.
Com base nestas avaliações verificamos que o investimento na plantação de um
pomar de cerejeiras moderno apresenta uma boa viabilidade económica, no entanto o
agricultor só garante o retorno do capital investido a partir do 8º ano após a plantação.
Trabalho realizado por:
Filipe Costa
(Coordenador Técnico da CERFUNDÃO)
Nota:
- Ponto 2 adaptado do Livro “Apple Orchard Systems” de Bruce H. Barrit.
- Ponto 3 adaptado da Dissertação de Mestrado elaborada pelo Próprio com o tema
‘Caracterização agronómica da cerejeira ‘De Saco’ na região da Cova da Beira’
realizada no Instituto Superior de Agronomia da Universidade Técnica de Lisboa.
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BIBLIOGRAFIA
COSTA, F.M.M (2006). Caracterização agronómica da cerejeira ‘De Saco’ na região
da Cova da Beira. Dissertação de Mestrado em Horticultura e Agricultura Sustentáveis.
Instituto Superior de Agronomia. Universidade Técnica de Lisboa.
BARRITT, B. H. (2003). Apple Orchard Systems. Compact Fruit Tree Vol. 36 Special
Issue. International Dwarf Fruit Tree Association.
FAUST, F. (1989). Physiology of Temperate Zone Fruit Trees. John Wiley & Sons.