CENTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA PAULA SOUZA Faculdade de Tecnologia de Jundiaí Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental LETÍCIA ROSSINI ARANTES SAMARA MENDONÇA KRIEGER REALIZAÇÃO DE UM DIAGNÓSTICO AMBIENTAL EM ÁREA RURAL: com elaboração de um plano de gerenciamento de resíduos e iniciativa de educação ambiental Jundiaí 2013
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CENTRO ESTADUAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA PAULA SOUZA
Faculdade de Tecnologia de Jundiaí
Curso Superior de Tecnologia em Gestão Ambiental
LETÍCIA ROSSINI ARANTES
SAMARA MENDONÇA KRIEGER
REALIZAÇÃO DE UM DIAGNÓSTICO AMBIENTAL
EM ÁREA RURAL: com elaboração de um plano de
gerenciamento de resíduos e iniciativa de educação
ambiental
Jundiaí 2013
i
LETÍCIA ROSSINI ARANTES
SAMARA MENDONÇA KRIEGER
REALIZAÇÃO DE UM DIAGNÓSTICO AMBIENTAL
EM ÁREA RURAL: com elaboração de um plano de
gerenciamento de resíduos e iniciativa de educação
ambiental
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Tecnologia de Jundiaí como requisito parcial para a obtenção do título de Tecnólogo em Gestão Ambiental, sob a orientação da Professora Ms. Ana Carolina B. G. Veredas.
Jundiaí 2013
ii
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado, como requisito parcial para a obtenção do título
de Tecnólogo em Gestão Ambiental, à banca examinadora da Faculdade de Tecnologia de
Jundiaí.
Nota: ___________________________
Data da defesa: ___________________
________________________________
Orientador
Aprovada Aprovada com restrições Reprovada
_______________________________________
Prof. Dra. Fernanda Alves Cangerana Pereira
iii
Este trabalho é dedicado aos nossos
amigos e familiares, pela paciência
e entendimento da importância
da realização deste trabalho para a nossa
formação acadêmica e profissional, assim como
pela contribuição com a sociedade
e o meio ambiente.
iv
AGRADECIMENTOS
Agradecemos a nossa orientadora Prof.ª Ms. Ana Carolina B. G. Veredas pela
dedicação e contribuição com o desenvolvimento deste trabalho. Aos colaboradores
e a direção da área de estudo pela permissão e envolvimento com o tema. À
direção, à coordenação de curso e aos professores da FATEC-Jundiaí que de
alguma forma contribuíram com o presente trabalho. E por fim e sem menos
importância ao Centro Paula Souza pela oportunidade.
v
A harmonia com a Terra é como a harmonia com um amigo; não se pode segurar a mão direita e ceifar a esquerda.
Aldo Leopold
vi
ARANTES, Letícia Rossini e KRIEGER, Samara Mendonça. REALIZAÇÃO DE UM
DIAGNÓSTICO AMBIENTAL EM ÁREA RURAL: com elaboração de um plano de
gerenciamento de resíduos e iniciativa de educação ambiental 76 f. Trabalho de
Conclusão de Curso de Tecnólogo em Gestão Ambiental. Faculdade de Tecnologia
de Jundiaí. Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza. Jundiaí. 2013.
RESUMO
O aumento da população mundial e a demanda crescente por alimentos é uma das
grandes preocupações atuais. Visando assegurar produtividade e qualidade tem
sido empregados agrotóxicos em diversas etapas da produção agrícola: no
tratamento prévio das sementes, durante o cultivo ou após a colheita (SANCHES et
al, 2003). Dentro deste contexto, a realização de um diagnóstico ambiental, com
enfoque na elaboração de um plano de gerenciamento de resíduos químicos
gerados em áreas rurais e iniciativas de educação ambiental, proposto neste
trabalho, vem ao encontro para a contribuição da questão do correto manuseio
destes produtos. Quatro atividades principais foram realizadas para obtenção do
diagnóstico: revisão da literatura, questionário com o público alvo, avaliação in loco e
registro fotográfico, gerando uma matriz de impactos que elenca os principais
aspectos e impactos ambientais observados e suas ações de mitigação. Como
resultado prático, originou-se um manual orientativo e aplicação de iniciativa de
educação ambiental. Concluindo que, a gestão ambiental para a temática dos
defensivos agrícolas é de suma importância para atingir a conformidade legal,
garantindo a saúde e segurança do trabalhador, bem como a minimização de
impactos ambientais.
Palavras-chave: defensivos agrícolas, gerenciamento de resíduos, diagnóstico
ambiental, iniciativa ambiental.
vii
ARANTES, Letícia Rossini e KRIEGER, Samara Mendonça. EXECUTION OF AN
ENVIRONMENTAL DIAGNOSTIC IN RURAL AREA: with elaboration of a waste
management plan and environmental education initiative 76 f. End of course
paper in Technologist Course in Environmental Management. Faculdade de
Tecnologia de Jundiaí. Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza.
Jundiaí. 2013.
ABSTRACT
The increasing world population and the growing demand for food is a major concern
today. Focusing to ensure productivity and quality have been used pesticides in
various stages of agricultural production: the pretreatment of seeds, in cultivation or
after harvest (SANCHEZ et al, 2003). In this context, the realization of an
environmental diagnostic, with a focus on developing a waste management plan in
rural areas and environmental education initiatives proposed in this work, meets the
contribution to the issue of proper handling of these products. Four main activities
were carried out to obtain the diagnosis: a literature review, questionnaire with the
target audience, site evaluation and photographic record, generating an impact
matrix that lists the main environmental aspects and impacts observed and their
mitigation actions. As a practical result, there arose a guidance manual and
application of environmental education initiative. Concluding that the environmental
management for the theme of pesticides is extremely important to achieve legal
compliance, ensuring the health and safety of workers as well as the minimization of
APÊNDICE A – MANUAL ORIENTATIVO ............................................................... 60
APÊNDICE B - RELATO DE INICIATIVA AMBIENTAL........................................... 68
xii
APÊNDICE C – QUESTIONÁRIO PARA AS ATIVIDADES ADMINISTRATIVO,
LABORATORIAL E CAMPO .................................................................................... 70
APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO PRELIMINAR E FINAL APLICADOS NA
INICIATIVA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL .............................................................. 72
13
INTRODUÇÃO
O aumento da população mundial e a demanda crescente por alimentos é
uma das grandes preocupações atuais. Visando assegurar produtividade e
qualidade tem sido empregados agrotóxicos em diversas etapas da produção
agrícola: no tratamento prévio das sementes, durante o cultivo ou após a colheita
(SANCHES et al, 2003). Entretanto, seu emprego deve ser controlado devido à alta
toxicidade de alguns deles (KNEZEVIC E SERDAR, 2009). Portanto, o uso
adequado de agrotóxicos é um dos temas que vem atraindo a atenção de vários
segmentos do setor agrícola, uma vez que tem implicações em três áreas básicas
de grande importância no contexto global da sustentabilidade da agricultura: a
preservação do ambiente, a segurança da saúde dos usuários e a segurança
alimentar.
Dentro deste contexto, a realização de um diagnóstico ambiental, com
consequente elaboração de plano de gerenciamento de resíduos químicos gerados
em áreas rurais, proposto neste trabalho, vem ao encontro para a contribuição desta
questão do correto manuseio destes produtos.
O presente trabalho tem como objetivo a realização de um diagnóstico
ambiental com enfoque na elaboração de um plano de gerenciamento de resíduos
químicos e iniciativas de educação ambiental em áreas rurais, tendo como foco de
estudo uma propriedade rural, localizada na cidade de Jundiaí-SP, por apresentar as
condições favoráveis e necessárias para a elaboração do plano de manejo.
No contexto apresentado, este trabalho tem como objetivos específicos:
1) Abordar o estado da arte de defensivos agrícolas e seu correto manejo;
2) Levantar os instrumentos legais e estudar os aspectos jurídicos e de
regulamentação relacionados ao tema;
3) Fazer um diagnóstico ambiental, por meio de diferentes ferramentas que
forneçam uma visão macro dos processos na área rural;
4) Propor medidas que priorizem o uso eficiente e ambientalmente adequado
dos produtos em questão e sugerir alternativas, do ponto de vista de
viabilidade técnica, operacional, financeira e ambiental, buscando
promover as ações integradas de gestão de resíduos sólidos gerados em
áreas rurais;
14
5) Elaborar um plano de gerenciamento, direcionado ao público alvo,
consolidando as informações coletadas ao longo da pesquisa e
desenvolvimento do estudo e advindas do diagnóstico;
6) Promover iniciativas de educação ambiental, buscando uma abordagem
transversal nas temáticas da não geração, redução, consumo consciente,
produção, consumo sustentáveis e orientação e adoção de ações de curto,
médio e longo prazo.
15
1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
As transformações ambientais, as quais o homem intensifica por meio do uso
de técnicas, equipamentos e produtos químicos, interferem no equilíbrio dos
ecossistemas com prejuízo para a qualidade do solo e sua microbiota, aos recursos
hídricos, à fauna e flora e ao próprio homem.
A perda da qualidade do solo está intimamente relacionada com a redução da
capacidade de produção de alimentos. Causando assim danos à sustentabilidade da
vida. (OLIVEIRA, 2012)
Desta maneira é fundamental a adoção de medidas sustentáveis e
ecologicamente corretas na produção agrícola no Brasil e no mundo.
1.1 Histórico e Evolução dos Agrotóxicos
Os agrotóxicos foram desenvolvidos na Primeira Guerra Mundial e utilizados
mais amplamente na Segunda Guerra Mundial como arma química. Com o fim da
guerra, o produto desenvolvido passou a ser utilizado como "defensivo agrícola". No
pós-guerra, os vencedores articularam uma expansão dos seus negócios a partir
das indústrias que haviam se desenvolvido durante o conflito, e entre elas a indústria
química. (SANTOS, 2009)
Na Europa havia fome. Foi então que surgiu a revolução verde, que visava
promover a agricultura, gerando comida para os famintos do mundo. A revolução
verde chegou ao Brasil em meados da década de 60. Foi implantada através de
imposição das indústrias químicas e do governo brasileiro: o financiamento bancário
para a compra de semente só saia se o agricultor comprasse também o adubo e o
agrotóxico. (SANTOS, 2009)
Esta política levou a uma grande contaminação ambiental, sem que a fome
fosse extinta. Hoje, 1/5 das crianças não ingerem a quantidade suficiente de calorias
e proteínas que necessitam. E cerca de 2 bilhões de pessoas – terceira parte de
humanidade – sofrem de anemia. A cada ano 30 milhões de pessoas morrem de
fome no mundo e 800 milhões sofrem de subalimentação crônica.
É preciso, desse modo, não só um modelo econômico diferente, mas também
um modelo que atente para a problemática ambiental em prol de um bem-estar
16
social (PACOBAHYBA & BELCHIOR, 2011). No ano de 1987, as vendas dos
agrotóxicos não ultrapassavam as 100 mil toneladas. Fazendo um comparativo com
o ano de 2012, estas vendas ultrapassaram mais de 825 mil toneladas, o que
movimentou para o agronegócio um pouco mais de US$ 8,5 bilhões somente em
2012. Ou seja, o uso de agrotóxicos pela população mundial cresceu e, atualmente,
o Brasil é considerado o maior consumidor de agrotóxicos do mundo (SINDAG,
2012). Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o país é
responsável por 1/5 do consumo mundial de agrotóxicos, uma vez que usa 19% de
todos os defensivos agrícolas produzidos no mundo; os Estados Unidos, 17%; e o
restante dos países, 64%. Tal configuração do modelo produtivo da agricultura atual
acabou fortalecendo o mercado e o uso indiscriminado de agrotóxicos. Diante destas
configurações e o consequente aumento da exposição aos agrotóxicos, os riscos à
saúde dos trabalhadores que manipulam tais substâncias, bem como os impactos
ambientais de seu uso, tem merecido especial destaque.
1.2 Impactos à Saúde Humana
A aplicação indiscriminada de agrotóxicos afeta tanto a saúde humana quanto
os ecossistemas naturais. Os impactos na saúde podem atingir tanto os aplicadores
dos produtos, os membros da comunidade e os consumidores dos alimentos
contaminados com resíduos, mas, sem dúvida, a primeira categoria é a mais afetada
(BOWLES & WEBSTER, 1995).
De acordo com Batista Filho (2012) para introduzir o assunto de uso de
defensivos agrícolas e impactos na saúde humana, destacamos a seguinte
declaração:
“Só como forma de ingressar no assunto: a) somos os campeões mundiais no uso de biocidas agrícolas; b) dos 50 agrotóxicos mais utilizados nas lavouras de nosso país, 22 são proibidos na União Europeia, inclusive em nações onde se acham as matrizes externas de suas empresas produtoras.”
Dados apontados pela Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde
Coletiva (ABRASCO) e Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial
da Saúde (OPAS/OMS) existem inúmeras doenças ou manifestações de intoxicação
que estão vinculados à temática de defensivos agrícolas, algumas delas são: efeitos
neurotóxicos retardados, alterações cromossomiais, lesões hepáticas e renais,
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disfunções cardíacas, dermatites de contato, Doença de Parkinson,
hipersensibilidade entre outros, declarando ser uma situação ameaçadora. (apud
BATISTA FILHO, 2012).
A toxicologia é uma importante área do conhecimento que estuda os efeitos
nocivos de substâncias nos seres vivos, as principais consequências estudadas no
campo de defensivos agrícolas dizem respeito ao câncer e aos defeitos congênitos.
(ANDRADE & QUEIROZ, 2009)
Em estudo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA) é apontado que quantidades significativas de resíduos químicos foram
encontrados em maçãs, que faz parte do cardápio de muitos brasileiros, em
diferentes classes e concentrações.
A questão da saúde humana no cenário do agronegócio tem seu expoente no
uso e aplicação de defensivos agrícolas, muito foi apontado ao longo da história
casos de intoxicação, seja de forma direta ou não pelo manejo inadequado desses
produtos, caracterizando relevante o estudo e investimento no manuseio correto e
adequado dos agrotóxicos garantindo a saúde do aplicador e segurança alimentar.
1.3 Impactos ao Meio Ambiente
Os impactos ambientais sobre o solo, água e sua microbiota causados pelo
uso dos agrotóxicos estão relacionados principalmente com o tempo de
permanência de seus resíduos acima do necessário, para garantir sua ação. A
persistência, por sua vez, é resultado da ausência de processos que modificam a
estrutura química dos compostos e promovem sua dissipação, e é dependente de
processos físicos, químicos e biológicos que ocorrem no próprio ambiente.
(RIBEIRO, 2010)
Os defensivos agrícolas em primeiro momento foram criados para serem
biodegradáveis na natureza, embora isso não tenha ocorrido conforme esperado, o
principal problema está nos agrotóxicos organoclorados, onde sua composição
química dificulta sua degradação rápida, acumulando no meio ambiente.
(ANDRADE, I. QUEIROZ,S. 2009)
Especificamente, a biota aquática está constantemente exposta a um grande
número de substâncias tóxicas lançadas no ambiente, oriundas de diversas fontes
18
de emissão, sendo os principais contaminantes de origem agrícola os resíduos de
fertilizantes e os agrotóxicos. Esses produtos, quando aplicados sobre os campos de
cultivo, podem atingir os corpos d’água diretamente, através da água da chuva e da
irrigação, ou indiretamente através da percolação no solo, chegando aos lençóis
freáticos. Outras formas de contaminação indireta podem ocorrer através da
volatilização dos compostos aplicados nos cultivos e pela formação de poeira do
solo contaminado e/ou da pulverização de pesticidas, que podem ser transportados
por correntes aéreas e se depositarem no solo e na água, distantes das áreas onde
foram originalmente usados.
As regiões de expansão dos monocultivos do agronegócio têm apresentado
também problemas graves de contaminação ambiental das águas subterrâneas,
como são os casos dos Aquíferos Guarani e Jandaíra – este nos estados do Ceará e
do Rio Grande do Norte (COGERH, 2009). Também as águas superficiais de rios,
lagoas, açudes têm sido encontradas contaminadas, e até mesmo as águas
disponibilizadas pelos sistemas de abastecimento às comunidades, onde já foram
encontrados até 12 ingredientes ativos diferentes numa mesma amostra (RIGOTTO
et al, 2010).
Durante muito tempo os impactos ao meio ambiente foram tratados como
secundário e o enfoque estava na produção de alimentos, após várias análises,
estudos, artigos e legislações o meio ambiente influi diretamente na qualidade de
vida do ser humano, merecendo sua devida atenção, por isso pesquisa no campo de
defensivos agrícolas é bem vindo, para que possamos cumprir com a
sustentabilidade, ou seja, produzir com o mínimo impacto.
1.4 Classificação Toxicológica dos Agrotóxicos
Segundo a ANVISA (Agência Nacional da Vigilância Sanitária), os agrotóxicos
serão enquadrados em quatro categorias de I a IV, sendo a classe I para os
extremamente tóxicos e classe IV para os poucos tóxicos de acordo com a dose letal
em cinquenta por centro dos animais testados (DL50), conforme Quadro 1 abaixo.
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Quadro 1 – Classificação toxicológica dos agrotóxicos segundo a ANVISA.
Classe ClassificaçãoCor da faixa no rótulo da
embalagem
IExtremamente tóxico (DL50 menor
que 50mg/kg de peso vivo)Vemelho vivo
IIAltamente tóxico (DL50 de 50 a
500mg/kg de peso vivo)Amarelo intenso
IIIMedianamente tóxico (DL50 de
500mg a 5000mg/kg de peso vivoAzul intenso
IVPouco tóxico (DL50 maior que 5000
mg/kg de peso vivoVerde intenso
Fonte: EMBRAPA Arroz e Feijão, 2013.
Com relação às cores do rótulo, a ANVISA determinou que esta é a principal
forma de comunicação entre fabricante e usuários com relação a toxidade, onde vão
constar também os cuidados necessários quanto à manipulação, a aplicação que se
destina (tipo de praga, por exemplo), os tipos de cultura, a dosagem, a carência e
quais reações adversas se em contato com o homem.
Figura 1 – Detalhe para o rótulo em amarelo do agrotóxico – Classe II, Altamente tóxico.
20
1.5 Gestão Ambiental em Áreas Rurais
Todo tipo de processo, seja ele de um organismo ou de atividades não
naturais, como a industrial, necessita de matérias-primas, energia e geram resíduos.
Estes resíduos em processos naturais são degradados e entram novamente
no sistema em forma de energia. No entanto, o uso intensivo de substâncias
sintéticas ou de difícil degradabilidade, faz com estas permaneçam no ambiente por
muito tempo, competindo por espaço, bioacumulando nos organismos e muitas
vezes tendo um efeito sinérgico com outras substâncias.
Em especial nas propriedades agrícolas, os tipos de resíduos gerados e a
falta de conhecimento por parte dos produtores tornam-se agravantes no contexto
de preservação do meio ambiente e de sustentabilidade.
Conforme apontado pela Embrapa (2007) é fundamental a aplicação de
gestão ambiental em propriedades rurais, por meio da adoção de práticas de
gerenciamento de resíduos, educação ambiental e plano de manejo e adequação
ambiental, visto que a gestão ambiental é um conjunto de práticas administrativas
que permite um controle permanente da qualidade ambiental de produtos, serviços e
ambiente.
Apesar de haver legislações e boas práticas ambientais, muitos produtores
rurais ainda apresentam falta de conhecimento.
Segundo Oliveira (2012), os produtores rurais de Santa Margarida do Sul (RS)
possuem uma preocupação com o meio ambiente, porém necessitam de maiores
esclarecimentos quanto à gestão de resíduos, manejo do solo e determinações
legais, visto que poucos realizam coleta seletiva de resíduos em suas propriedades.
Isto demonstra a necessidade de práticas extensionistas de gestão ambiental
como a capacitação dos profissionais da área e a implantação de programas de
educação ambiental pra todas as pessoas envolvidas na produção rural, visando
sistemas produtivos mais sustentáveis, onde eles possam aliar mais produção, maior
rentabilidade e menor impacto ao meio ambiente.
21
1.6 Normas e Legislações
Como a presença de resíduos de agrotóxicos em alimentos pode oferecer
riscos à saúde humana e ao meio ambiente, nos últimos anos, países de todo o
mundo tornaram-se mais exigentes em relação à qualidade dos alimentos que
consomem, quer produzidos internamente ou importados. Para garantir tal
qualidade, têm sido estabelecidos regras e controles cada vez mais rigorosos no que
se refere às determinações de resíduos de agrotóxicos. Muitos obstáculos
comerciais hoje existentes, como barreiras alfandegárias prejudicam os avanços da
exportação, em especial para a União Europeia, que é o principal mercado agrícola
dos produtos brasileiros.
Segundo o Decreto Federal Brasileiro no. 4.074, de 4 de janeiro de 2002,
entende-se por agrotóxicos:
“Produtos e agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou plantadas, e de outros ecossistemas e de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como as substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento.”
O mesmo Decreto Federal anteriormente citado define vários termos
utilizados na temática do uso e manejo de defensivos agrícolas, dentre os quais
separamos três principais, que são de suma importância para o bom entendimento
do projeto desenvolvido, são eles: centro ou central de recolhimento, embalagem e
Equipamento de Proteção Individuais (EPI), assim definidos:
“Centro ou central de recolhimento - estabelecimento mantido ou credenciado por um ou mais fabricantes e registrantes, ou conjuntamente com comerciantes, destinado ao recebimento e armazenamento provisório de embalagens vazias de agrotóxicos e afins dos estabelecimentos comerciais, dos postos de recebimento ou diretamente dos usuários; [...] Embalagem - invólucro, recipiente ou qualquer forma de acondicionamento, removível ou não, destinado a conter, cobrir, empacotar, envasar, proteger ou manter os agrotóxicos, seus componentes e afins; Equipamento de Proteção Individual (EPI) - todo vestuário, material ou equipamento destinado a proteger pessoa envolvida na produção, manipulação e uso de agrotóxicos, seus componentes e afins.”
22
A legislação brasileira é um importante instrumento de fiscalização,
monitoramento e controle do uso e manejo de defensivos agrícolas, se utilizado de
maneira correta e eficaz, muitos inconvenientes ambientais e na saúde humana
poderiam ser evitados.
A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental, ligada à Secretaria
do Meio Ambiente (CETESB) junto com o Ministério da Saúde aponta limites
aceitáveis permitidos por lei que pode ser encontrado na natureza, como lençóis
freáticos e solos, já Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) estabelece
limites aceitáveis de agrotóxicos em alimentos. (ANDRADE, I. QUEIROZ,S. 2009)
No Brasil, até muito recentemente, os setores relacionados à gestão de
resíduos sólidos sofriam com a falta de diretrizes claras. Isto mudou com a recente
publicação da Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS (Lei 12.305/10 e
Decreto 7.404/2010). Este regulamento introduziu o tema de gestão integrada de
resíduos sólidos, que é o conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para
os resíduos, considerando as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e
social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável.
Outro preceito inserido pela PNRS é o da logística reversa, que compreende
o gerenciamento de todas as ações necessárias à retirada dos produtos pós-uso do
consumidor até a sua destinação final ambientalmente adequada. A logística
reversa, conforme definição da PNRS, é o instrumento de desenvolvimento
econômico e social caracterizado pelo conjunto de ações, procedimentos e meios
destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor
empresarial, para reaproveitamento em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou
outra destinação final ambientalmente adequada.
Os resíduos e embalagens de agrotóxicos são considerados resíduos com
logística reversa obrigatória. O conjunto de resíduos definido pela PNRS é
constituído por produtos eletroeletrônicos; pilhas e baterias; pneus; lâmpadas
fluorescentes (vapor de sódio, mercúrio e de luz mista); óleos lubrificantes, seus
resíduos e embalagens e, por fim, os agrotóxicos, também com seus resíduos e
embalagens. Vários dos resíduos com logística reversa já têm a gestão disciplinada
por resoluções específicas do CONAMA – Conselho Nacional de Meio Ambiente.
Especificamente a Resolução 334/2003 define os critérios mínimos para a
construção de unidades para recebimento de embalagens vazias de agrotóxicos,
indicando os critérios mínimos para o armazenamento e complementa a legislação
23
anterior que responsabiliza o fabricante pelo recolhimento, transporte e destinação
final das embalagens, assim como obriga o usuário pela tríplice lavagem e
devolução das embalagens aos revendedores ou fabricantes.
1.7 Processo de Logística Reversa
Por muito tempo a logística foi definida como uma atividade que consistia em
transportar um material de um ponto até o destino. O termo logística reversa trata,
de uma maneira simplificada, da movimentação contrária, trazer de volta ao ciclo
produtivo materiais, embalagens e produtos. Segundo Filho (2006), isto traz um
benefício às empresas, uma vez que o material devolvido oferece oportunidade de
recuperação de valor e economia de custo.
Além disso, as empresas passaram a adotar a logística reversa por pressão
de legislações, como é o caso das empresas fabricantes de agrotóxicos, que
necessitam incorporar no seu ciclo de vida do produto o recolhimento das
embalagens vazias, tratamento e destinação.
Apesar de o termo remeter a um processo simples, a logística reserva é mais
complexa. Conforme apresentando por Stock (1992) apud Filho (2006), o processo
de logística reversa deve englobar, além do retorno do produto, a redução de custo,
reciclagem, reutilização de materiais, destinação adequada de resíduos,
reaproveitamento, reparação e remanufatura de materiais. Do ponto de vista
ambiental, ocorre uma redução no consumo de recursos naturais e controle da
contaminação do meio pelos resíduos que podem ser descartados de maneira
inadequada.
De acordo com Carbone (2005), as questões ambientais tiveram peso na
implantação da logística reversa uma vez que a conquista por novos consumidores
deveria prever, no planejamento estratégico, o enfoque ambiental. Desta maneira,
esta deve ser entendida como o gerenciamento da cadeia produtiva de maneira a
sistematizar o retorno de resíduos de produtos para que ocorra o devido tratamento
destes tornando-os inertes ao meio ambiente ou que possam ser utilizados
novamente no processo produtivo.
24
As primeiras medidas para adoção de logística reversa para embalagens
vazias de agrotóxicos foram adotadas em 1994. Antes disso, era bastante comum
queimar as embalagens ou enterrá-las.
Conforme apontado por Carbone (2005), o processo da logística reversa das
embalagens vazias de agrotóxicos inicia-se no produtor rural, que tem definido em
legislação que estas devem passar por uma tríplice lavagem, que tem por objetivo
reduzir o potencial contaminante e fazer o aproveitamento de aproximadamente 3%
do agrotóxico uma vez que o resíduo removido da embalagem pode ser armazenado
para ser utilizado em campo posteriormente.
Além disso, o produtor deve furar a embalagem de modo a inutilizá-la e
entregar junto com a tampa.
Em Jundiaí as embalagens lavadas devem ser entregues em um centro de
recolhimento localizado em Vinhedo-SP, no entanto o local correto é sempre
indicado na nota fiscal de venda do produto.
Vale lembrar que as embalagens passam por inspeção para validar a entrega
e o produtor recebe novamente um carimbo na nota fiscal, uma vez que é passível
de fiscalização por órgãos ambientais.
De acordo com dados da ANDEF (Associação Nacional de Defesa Vegetal), o
Brasil encerrou o ano de 2009 com um aumento de 18% de embalagens recolhidas
em relação ao ano anterior. Neste mesmo ano, foram processadas 28.771 toneladas
de embalagens. Nos últimos oito anos foram processadas 136.000 toneladas de
embalagens vazias.
É possível constatar que a logística reversa está ganhando espaço e tem
aumentado. No entanto, conforme apontado por Carbone (2005) o tamanho da
propriedade rural influencia neste processo, necessitando assim maior investimento
em trabalhos de instrução e conscientização da importância da devolução das
embalagens vazias.
1.8 Alternativas e Práticas Agrícolas
A utilização dos agrotóxicos tem trazido uma série de consequências para o
ambiente, para a saúde do trabalhador e também para a população em geral, não só
no meio rural. Essas consequências são condicionadas por fatores intrinsecamente
25
relacionados com uso inadequado desses produtos, a alta toxicidade de alguns
deles, a falta de utilização de equipamentos de proteção individual e a precariedade
dos mecanismos de vigilância para identificação das exposições e intoxicações.
Esse quadro é agravado quando as populações expostas vivem em contextos de
produção e reprodução marcados pela vulnerabilidade social. (Cabral, 2012)
O manejo sustentável de uma área permite que ela seja utilizada
constantemente, sem que ocorra a degradação ou abandono da área por exaustão.
Usar sabiamente os defensivos agrícolas permite que haja maior eficiência
agronômica, uma vez que o cultivo de grandes culturas para distribuição local,
regional e até mundial é comprometida por pragas (insetos, ácaros, fito patógenos,
plantas daninhas e etc.) é necessária à utilização de fitossanitários para proteção do
cultivo.
Com a evolução dos produtos agrícolas houve uma redução de dose e
toxicidade aguda e dessa maneira, menor impacto ambiental e maior seletividade,
sendo este o foco do nosso trabalho, a aplicação de técnicas de gestão ambiental
que obedeçam ao tripé da sustentabilidade: economicamente viável, socialmente
justo e ambientalmente correto.
O manejo sustentável além de contribuir com a diminuição de impactos no
meio ambiente, pode contribuir com o bolso do produtor. Isso porque, ao mesmo
tempo em que reduz o custo de produção devido à diminuição do uso de produtos
contra pragas, doenças ou plantas daninhas, ele pode aumentar a produtividade e
valorizar o produto final na hora da comercialização. (Pitombeira, 2013)
É apontado por Liechoscki e Mainier (2003) como uma solução em menor
grau, o uso da agricultura orgânica ou biológica, a qual não utiliza produtos
químicos, nem como agrotóxicos ou como fertilizantes. Existe também um respeito
pelas condições naturais do solo e recursos naturais, porém não é apontada como
solução para produção de alimentos em larga escala.
Os mesmos autores ainda apontam que o perfil socioeconômico dos
trabalhadores agrícolas é de idosos, com percentuais expressivos de analfabetismo
e baixa renda, constituindo o uso de agrotóxicos como comum para eles,
evidenciando a necessidade de mudar certas práticas agrícolas, não só com o
repasse do conhecimento, que seria a própria educação ambiental, como o
desenvolvimento de estratégias minimizando o uso de defensivos agrícolas e seus
riscos.
26
2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O estudo foi desenvolvido no município de Jundiaí, cidade do interior do
Estado de São Paulo, localizado a aproximadamente 60km da capital. O município é
parte integrante do turismo rural, denominado circuito das frutas, sendo um
importante representante de produção de frutas, principalmente a uva.
Para o desenvolvimento do presente trabalho foi necessário realizar um
diagnóstico ambiental de uma propriedade rural. A propriedade escolhida possui
uma área verde agricultável considerável, contendo corpos d’água e manejo de
algumas culturas, como pêssego, uva, entre outras, sendo eleita pelas graduandas
como relevante e importante estudo de caso.
Especificamente para realização do diagnóstico e respectivo processo de
construção do plano de gerenciamento e das iniciativas de educação ambiental,
foram levados em consideração hábitos, informações e comportamento do público
alvo. Foram definidas como ferramentas:
Revisão de literatura onde as fontes foram revistas especializadas,
artigos científicos, dispositivos legais e normas técnicas vigentes
relacionadas ao tema.
Aplicação de questionário ao público alvo.
Avaliação in loco.
E a realização de um registro fotográfico.
O diagnóstico foi estruturado com dados e informações sobre o perfil da área
de estudo. Foi fundamental entender a situação dos resíduos sólidos gerados na
respectiva área quanto à origem, características, formas e disposição final adotadas,
bem como expectativas e aceitação de mudanças comportamentais e de
procedimentos. Os sujeitos do processo de avaliação foram colaboradores do corpo
técnico-administrativo e operadores.
O esquema prático da metodologia adotada no estudo de caso por ser
visualizada na Figura 2.
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Figura 2 – Esquema prático da metodologia adotada para realização do diagnóstico ambiental
na área em estudo.
2.1. Aplicação do questionário
Foi elaborado um questionário (ver APÊNDICE C) para facilitar a avaliação da
área de estudo, abrangendo os seguintes departamentos: administrativa e atividades
de campo. Integrando como pontos principais: entradas e saídas dos processos,
pontos de geração de resíduos, forma de acondicionamento, armazenamento e
destinação dos resíduos gerados e nível de conscientização e conhecimento dos
colaboradores acerca das exigências legais e impactos gerados.
Para a elaboração do questionário foi realizada a identificação e levantamento
dos requisitos legais, o atual estado da arte de defensivos agrícolas e seu correto
manejo, a fim de contemplar todos os aspectos relacionados ao tema.
As entrevistas foram realizadas no período de 16 de maio a 31 de julho de
2013 e por questões de confidencialidade os dados pessoais dos entrevistados,
assim como da propriedade não serão revelados.
As informações abaixo são descrições das percepções, anseios e
observações passadas pelos entrevistados. A análise crítica e as sugestões de
melhoria foram tratadas no item 2.2 Avaliação in loco.
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2.1.1 Área - Atividade de Campo
Pelo fato desta área estar intrinsicamente relacionada ao uso de defensivos
agrícolas, foram definidos três colaboradores para serem entrevistados com funções
diferentes, contemplando dessa maneira todas as atividades desenvolvidas.
Abaixo seguem as informações tratadas durante as entrevistas:
Quadro 2 – Defensivos mais utilizados pela área de estudo.
Inclui-se também outros produtos químicos como fertilizantes (NPK
granulado – 10-10-10, 4-14-8 e 20-5-20, a numeração refere-se a
porcentagem de nutriente no saco).
Uso dos EPIs:
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Foi informado que todos utilizam o EPI adequadamente e conforme
legislação. A melhoria apontada pelos entrevistados nesta atividade foi a de
realizar a lavagem dos EPIs no próprio instituto, garantindo assim que os
requisitos legais sejam atendidos, como por exemplo, lavar separadamente
das roupas da família e não usar máquina de lavar. Foi verificado que quando
haverá aplicação no dia seguinte não é feita a lavagem do EPI, pois este
possivelmente não estará devidamente seco para o uso.
A legislação recomenda que sejam feitas até 30 lavagens, após isso
pode haver diminuição da eficácia e hoje isso não é controlado ou é solicitada
a troca junto ao departamento responsável. Isto só acontece quando a roupa
já está danificada.
Forma de armazenamento:
Os entrevistados descreveram que existem pontos positivos como a
separação por prateleiras, identificação do produto por categoria (herbicida,
fungicida ou inseticida) e que a utilização segue conceito de FIFO (first in, first
out), ou seja, o produto com menor prazo de validade é utilizado primeiro e o
próximo frasco só é aberto depois que acabou o anterior. No entanto,
descrevem alguns pontos de melhoria, tais como a instalação de janelas para
ventilação, piso frio para impermeabilização e área de contenção em caso de
derramamento. Os passivos ficam no mesmo local e sem identificação.
Uma alternativa apontada durante as entrevistas e aplicação do
questionário foi a de mudar fisicamente a atual área de armazenamento, visto
que a hoje existente fica próxima a um corpo d’água. A construção de uma
nova área já contemplaria as melhorias apontadas, inclusive o correto
distanciamento de corpos d’água e aderência aos requisitos legais, porém
esta ação dependeria de tramitação interna.
Descarte das embalagens vazias:
As embalagens vazias são lavadas três vezes, furadas para sua
inutilização e não são tampadas. Elas ficam armazenadas junto com os
defensivos e após certo volume os próprios funcionários levam para uma área
de recolhimento localizado em Vinhedo-SP (cidade próxima a área de estudo)
ou eles aguardam o Campo Limpo, que trata-se de uma campanha realizada
30
pela prefeitura de Jundiaí que faz uma força tarefa para recolher as
embalagens vazias e limpas do maior número possível de produtores rurais.
Ciclo de uso dos defensivos:
o Preparação da calda.
Trata se de realizar as medições descritas na receita, adicionar
água e misturar. Esta receita é definida pelos pesquisadores e pelo
técnico agrícola.
Os entrevistados apontam que após feita as medições descritas
na receita, deve ser realizada a tríplice lavagem do balde de
preparação da calda e das embalagens vazias. A água utilizada para
realizar a tríplice lavagem é depositada no tanque de pulverização,
evitando contato destes resíduos com outros meios. No entanto, hoje
este processo é realizado sem uma estrutura adequada, visto que se
houver um acidente com derramamento da calda, tanto na etapa de
preparado como na etapa de depósito no tanque de pulverização, esta
atingirá diretamente o solo e por consequência os corpos d’água mais
próximos. O aparato ideal é o uso de rampa de mistura dotada de área
de contenção e impermeabilização, porém dizem que esta estrutura só
é comum em grandes produtores.
o Pulverização em campo
Após a etapa anterior, os operadores preparam o tanque para
fazer a pulverização no campo. Os entrevistados informaram que na
etapa de pulverização, todos seguem boas práticas de aplicação como
não realizar a atividade em dia chuvoso, utilizar o vento contra para
diminuir a incidência de vapores diretos no operador e o uso do EPI.
Foi salientado que todos os aplicadores fizeram curso de
aplicação de defensivo no campo e que este curso é obrigatório por lei.
Informado também que os operadores se alimentam no campo
durante a pausa nos trabalhos de pulverização, mas tomam cuidados
de retirar as luvas, lavar mãos e rostos e manter os alimentos
embalados e afastados da área de aplicação.
o Lavagem do tanque de pulverização
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Após a aplicação em campo deve ser feita a tríplice lavagem do
tanque de pulverização, pois a calda corrói as mangueiras.
Segundo os entrevistados sobra um resíduo no tanque, que se
for feita uma outra aplicação da mesma calda no mesmo dia este
resíduos é aproveitado, caso contrário deve ser feita a tríplice lavagem
do tanque e este resíduo é despejado diretamente no solo. Considera-
se este um ponto crítico, e que pulverizar este resíduo no campo traria
um prejuízo técnico, visto que iria diminuir a concentração do defensivo
aplicado anteriormente e traria resistência às pragas.
Descreveram que, no dia, logo ao término da aplicação ou da
lavagem do tanque de pulverização, o operador deve tomar banho,
onde a primeira ducha deve ser fria para fechar os poros e a partir
disso podem usar água morna. Segundo os entrevistados, a melhor
opção é ter um vestiário na própria propriedade, visto que hoje o
funcionário tem que se deslocar até sua residência.
Por fim, as vestimentas do EPI são lavadas na própria residência
do operador.
2.1.2 Área entrevistada – Laboratório
As principais atividades realizadas no laboratório são análises físicas e
químicas em frutas e sementes como: Análise de tamanho do fruto; Peso; Cor;
Quantidades de bagas; Acidez por titulometria; pH e Brix.
Resíduos gerados pelo laboratório:
o Restos de frutas:
Hoje os resíduos de frutas não possuem um descarte adequado,
algumas vezes são descartados no lixo comum e outras são
descartados no pé de árvores, que causam mau cheiro e atraem
insetos.
o Resíduos de solução hidróxido de sódio 0,1 N:
Utilizado na análise de acidez por titulometria. Os resíduos
gerados na análise são descartados diretamente na pia.
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o Resíduos de solução de fungicida para tratamento de sementes:
Os resíduos gerados por esta atividade são descartados
diretamente na pia. Além disso, a embalagem fica armazenada
juntamente com produtos de limpeza em uma garrafa PET
devidamente identificada.
Com relação à Atividade de Campo, o entrevistado acrescentou uma
observação que considera a armazenagem inadequada e que o ponto mais crítico é
o uso de EPI, visto que na etapa de preparo da calda os operadores não utilizam
todas as vestimentas do EPI e que as usam em mais de um ciclo de pulverização
sem a devida lavagem.
2.1.3 Área entrevistada – Administrativo
O foco da entrevista com a área administrativa eram as etapas de compra e
transporte dos agrotóxicos.
Compra:
O entrevistado informou que um pedido anual é elaborado e é enviado
ao departamento responsável da matriz. Eventualmente pode ser feita compra
em agropecuárias, que saem com nota fiscal da loja já com o carimbo do
posto de recolhimento, onde a embalagem vazia deverá ser devolvida.
Transporte:
Foi informado que não há controle da área de estudo a respeito do
transporte dos defensivos do pedido anual, visto que tudo é organizado pela
matriz.
Nos casos em que as compras são feitas em agropecuárias, o
transporte é feito nos carros nos próprios carros da propriedade que não
possuem medida de segurança em caso de acidentes.
33
2.2. Avaliação in loco
Depois de realizadas as entrevistas e pelo convívio com a rotina da área de
estudo foi possível observar pontos positivos, pontos de melhoria e pontos críticos
que incidem riscos ao operador e ao meio ambiente.
Estes pontos são tratados abaixo:
Laboratório:
o Armazenagem de fungicida:
É um ponto crítico visto que mesmo identificado, ele está
armazenado junto com produtos de limpeza que são manipulados por
pessoas com diferentes conhecimentos das rotinas do laboratório
havendo o risco de intoxicação.
o Descarte de resíduos:
Com relação ao descarte de frutas consideramos como um
ponto de melhoria, onde a forma correta de descarte precisa ser
definida e informada a todos.
O descarte de hidróxido de sódio e de solução de fungicida é um
ponto crítico, visto que hoje é feito diretamente na pia.
Administrativo:
o Compras:
Foi verificado que a ação é passiva por parte da área de estudo
uma vez que eles já recebem a carga de defensivos vindos da compra
da matriz. Nos casos onde ocorrem compras diretamente em casas
agropecuárias normalmente os volumes são pequenos e isso ocorre
eventualmente.
o Transporte:
Ficou claro que não existe definida nenhuma medida de
prevenção do risco no transporte dos produtos de compra eventual,
visto que os carros não são equipados com materiais absorventes ou
EPIs em caso de derramamento.
Atividade de campo:
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o Armazenamento:
Atualmente os defensivos ficam armazenados em prateleiras e
as mesmas são identificadas por tipo (herbicida, fungicida e inseticida).
Os frascos abertos ficam na frente dos outros frascos indicando uma
sequência lógica de utilização. No entanto, foi possível constatar que:
Falta adequação do local com relação a ventilação,
luminosidade, altura e área de contenção.
Vários produtos armazenados diretamente no chão sem
uma organização, faltando ainda mais espaço para
ventilação e com risco de contaminação.
O armazém fica próximo a um corpo d´agua.
Não há no local ficha de procedimentos que caso de
acidentes;
o Preparação da calda:
No mesmo local de armazenamento existe uma mesa pequena
onde o operador prepara a calda por meio da pesagem e dosagem dos
defensivos. Foi possível constatar que:
Os instrumentos, utensílios e equipamentos não
apresentam condições satisfatórias de manuseio.
Muitos entrevistados mencionaram que ocorre da pessoa
que vai preparar a calda não usar todos os EPIs
requeridos que são: calça e jaleco, botas, avental
impermeável, respirador, óculos ou viseira, touca árabe e
luvas de borracha. (MANUAL ANDEF, 2013)
A ficha de controle de preparação da calda é ineficiente.
Não houve tríplice lavagem de todos os utensílios.
Quando a medição foi finalizada, o operador se encaminhou
portando o balde até um ponto de água, acrescentou um pouco de
água e misturou com a ajuda de uma vareta de madeira.
O tanque de pulverização foi previamente testado e abastecido
com o volume de água descrito na receita (300 litros), o operador
despejou o volume do balde no tanque e efetuou a tríplice lavagem
despejando esta água no tanque, porém não fez o mesmo com a
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vareta utilizada para misturar, assim como com os utensílios usados
para medir.
O principal risco envolvido nas atividades descritas acima é:
Ausência de área específica ou uma rampa de mistura,
com contenha as condições de impermeabilização e de
contenção necessárias.
o Pulverização:
Completada a etapa de preparação da calda o operador se
deslocou até o campo para realizar a pulverização. Foi verificado que o
operador se manteve com todos os EPIs e que utilizou medidas de
segurança e boas práticas como usar o vento contra para evitar o
encontro da névoa do defensivo contra o corpo.
No entanto observamos pontos críticos conforme abaixo:
Falta de identificação em campo quanto ao período de
carência da cultura, sendo que esta sinalização evitaria
risco de contato ou até consumo das frutas ainda com
resíduo de defensivo (período de carência).
E ingestão de alimentos na pausa da etapa de
pulverização.
o Tríplice lavagem do tanque:
A aplicação normalmente leva uma manhã inteira e quando o
operador retorna do campo e não havendo nova pulverização da
mesma calda, ele faz a tríplice lavagem do tanque. Neste ponto
identificamos que:
A água contendo resíduos é descartada diretamente no
solo e não há definida outra forma de descarte deste
resíduo.
o Higienização:
Após feita a lavagem do tanque, o operador vai para casa com o
traje do EPI onde impreterivelmente deve lava-lo e tomar seu banho.
Neste ponto foi mencionado pelos operadores um ponto crítico:
36
Ausência de vestiário na área, uma vez que pode haver
contaminação cruzada no ambiente onde operador irá
manipular seus EPIs, apesar de serem instruídos a
lavarem separado das roupas da família. Todos os
entrevistados que tem contato com os defensivos
informaram que não misturam o EPI com a roupa da
família.
2.2.1 Fluxograma da Atividade de Campo
Para melhor visualização do ciclo de uso dos defensivos foi elaborado um
fluxograma de processos, representado na Figura 3, nota-se que os símbolos
destacados de vermelho são aqueles que possuem resíduos de defensivos
agrícolas, se tornando foco do plano de gerenciamento de resíduos.
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Fluxograma de Processos
Preparar o
equipamento
Funcionou
?
Receita
EPI
Vestir EPI Preparar a
calda
Despejar calda
no tanque
Fr.
Vazio
Armazenar
Tríplice
Lavagem
Lavar
utensílios
Pulverizar
Novamente
?
Lavagem do
tanque
Descartar
resíduo
Retirar EPI
S
N
N
S
S N
N
S
Realizar
higienização
Acondicionar
equipamento
Figura 3 - Ciclo dos defensivos agrícolas
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2.3 Registro Fotográfico
Foi realizado um levantamento fotográfico das etapas de Atividade de Campo,
para ilustração e entendimento do uso e manejo dos defensivos agrícolas, sendo
assim, possível acompanhar seu ciclo.
O levantamento fotográfico ocorreu em dois momentos, um em junho feito por
uma das componentes do grupo e a outro realizado em julho pela outra componente,
objetivando obter percepções diferentes e complementares dos processos das
atividades de aplicação dos defensivos agrícolas no campo.
Dentre os processos e práticas registrados podemos evidenciar nas imagens
a seguir, os principais momentos do ciclo dos defensivos agrícolas que ocorre na
área de estudo em questão, obtendo assim a perspectiva dos processos através de
imagens, onde a Figura 4 representa o início do ciclo e a Figura 10, o final.
Figura 4 - Preparação do equipamento
Fonte: Registro realizado por ARANTES, L.R e KRIEGER,
S.M.
39
Figura 5 - Uso do EPI
Fonte: Registro realizado por
ARANTES, L.R e KRIEGER, S.M.
Figura 6 - Preparação da calda
Fonte: Registro realizado por
ARANTES, L.R e KRIEGER, S.M.
Figura 7 - Despejo da calda no tanque
Fonte: Registro realizado por
ARANTES, L.R e KRIEGER, S.M.
Figura 8 – Tríplice Lavagem
Fonte: Registro realizado por
ARANTES, L.R e KRIEGER, S.M.
40
Figura 9 – Lavagem de utensílios
Fonte: Registro realizado por ARANTES, L.R
e KRIEGER, S.M.
Figura 10 – Pulverização
Fonte: Registro realizado por ARANTES,
L.R e KRIEGER, S.M.
41
2.4 Iniciativa ambiental
A principal característica da educação ambiental é a mudança de
comportamento, exercício da consciência e do discernimento perante as questões
analisadas, sendo assim parte integrante e relevante do presente projeto.
Portanto, foi elaborado um plano de iniciativa ambiental (ver APÊNDICE B),
contendo o objetivo, meta, resultados esperados, cronograma e duração e ações e
etapas de implementação.
Figura 11 – Elaboração da Iniciativa Ambiental
O relato ou a programação da iniciativa ambiental foi elaborado e apresentado
para a direção da área de estudo para aprovação, sendo combinados dia e horário
compatível para aplicação.
Para avaliação do projeto de educação ambiental, foram considerados os
critérios segundo Mayer (1989 apud TOMAZELLO & FERREIRA, 2001) que divide a
avaliação em três grupos de indicadores:
“O primeiro, considerado por ela como o mais importante, centra-se na mudança de valores, atitudes, hábitos e crenças dos alunos. O segundo grupo de indicadores descreve a estratégia educacional do projeto sob o ponto de vista cognitivo (relevância local do projeto, enfoque multi/inter/transdisciplinar) enquanto que o terceiro descreve a estratégia
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educacional do projeto do ponto de vista afetivo, isto é, descreve as interações entre alunos, professores, família, comunidade e autoridades.”
Sanmartí (1994 apud TOMAZELLO & FERREIRA, 2001) formulou algumas
questões para análise de adequação de um projeto de educação ambiental,
inspirado nessas questões foram formuladas novas perguntas adaptadas para a
realidade do projeto, sendo elas:
1. O diagnóstico ambiental da área foi relevante para o entendimento dos
trabalhadores?
2. As metas propostas no plano de iniciativa ambiental foram cumpridas?
3. Os resultados esperados foram alcançados?
4. O cronograma e a duração da iniciativa de educação ambiental foram
respeitados?
5. Os temas selecionados são relevantes para o meio ambiente?
6. Os temas selecionados são relevantes para os trabalhadores?
7. O projeto promove ações dos indivíduos para solução de problemas?
8. Observou-se uma disposição à mudança de hábitos e comportamentos do
diretor da área de estudo ou responsáveis?
9. Observou-se uma disposição à mudança de hábitos e comportamentos dos
trabalhadores?
10. Observou-se uma disposição ao acato das novas adequações dos
trabalhadores? (sinalização, EPIs)
11. Melhorou a capacidade de tomada de decisões por parte do diretor da área
de estudo?
12. As ações e etapas de implementação foram cumpridas?
13. Houve comentários positivos ou negativos sobre o evento?
Com o estabelecimento de critérios de avaliação e formatação da iniciativa
ambiental foi possível verificar sua viabilidade na área de estudo e analisar os
resultados de tal prática, podendo assim concluir os pontos positivos e negativos
da educação ambiental direcionado para gerenciamento de resíduos químicos
em áreas rurais.
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3 ANÁLISES E RESULTADOS
O estudo realizado possibilitou identificar os aspectos e impactos ambientais
associados aos processos das áreas estudas da propriedade, sendo elas a área
Administrativa, Atividade de Campo e Laboratório.
Como produto do presente trabalho foi elaborada uma matriz de impacto que
elencou por área os aspectos e impactos e suas respectivas alternativas de
mitigação. Da matriz foi elaborado o plano de gerenciamento de resíduos, sob a
forma de um manual orientativo, e a iniciativa de educação ambiental, onde ambos
contemplam as ações de mitigação propostas na matriz sob suas diferentes
realidades.
Figura 12 – Resultados do Diagnóstico
3.1 Matriz de Impactos
Para auxiliar na identificação, bem como qualificação e quantificação (quando
passíveis de mensuração) dos impactos decorrentes das diversas atividades
desenvolvidas na área de estudo, foi adotada matriz de impacto ambiental que
busca identificar de forma sistemática, os impactos gerados por ações
potencialmente causadoras de modificações ambientais.
Após conhecido o processo potencial de mudança na qualidade ambiental
preexistente, os impactos foram avaliados segundo um conjunto de atributos,
conforme especificados e detalhados adiante, sendo que todo este conjunto de
atributos permite classificar a magnitude dos impactos por meio de indicadores.
Primeiramente foram identificadas todas as atividades, tarefas ou processos e
seus respectivos aspectos ambientais. Este levantamento inicial contemplou todos
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os aspectos (elementos das atividades, produtos ou serviços que podem interagir
com o meio ambiente), independentemente das suas características, tais como
probabilidade, magnitude ou frequência de ocorrência. Após foram relacionados
todos os impactos (qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica,
que resulte no todo ou em parte, das atividades, produtos ou serviços), ou seja, as
respectivas consequências reais ou potenciais no meio ambiente.
Os impactos foram avaliados seguindo o critério de abrangência (A),
frequência (F), influência (I) e magnitude (M), onde a forma mais branda de cada
critério foi representada por uma menor pontuação e a forma mais severa por uma
pontuação maior, conforme apresentado no Quadro 2.
Quadro 3 – Critério utilizado para classificação de impacto ambiental segundo sua importância.