7/29/2019 Cenografia-Uma história em construcao http://slidepdf.com/reader/full/cenografia-uma-historia-em-construcao 1/25 1 ARTEREVISTA, v.1, n.1, jan/jun 2013, p. 1-25. Cenografia: uma história em construção André Sass de Carvalho (André Latorre) 1 Eliana Branco Malanga 2 RESUMO Este trabalho tem o objetivo de apresentar o nascimento da cenografia ocidental e suas modificações através dos tempos. É apresentado um breve relato da história da cenografia no mundo antigo. Os elementos da cenografia são analisados e associados ao movimento teatral. O trabalho visa ainda apontar como esse processo de desenvolvimento da cenografia acontece juntamente com fatos importantes de nossa história mundial. Palavras-chave: Arte, Teatro, construção, cenografia, atmosfera e edifício ABSTRACT This paper aims to show the birth of western scenery and its changes through ages. It is shown a brief report of history of scenography in the ancient world. The elements of scenography are analyzed and associated with the dramatic movement. The paper also aims to point out how this process of development of scenography happens with important events in our world history. Keywords: Art, theatre, construction, scenography, atmosphere and building 1 André Latorre é diretor de teatro, pós-graduado em Artes Cênicas pela Faculdade Paulista de Artes, onde é professor do curso de teatro. 2 A Profa. Dra. Eliana Branco Malanga orientou este trabalho, originalmente apresentado como monografia de conclusão do curso de pós-graduação em Artes Cênicas.
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Este trabalho tem o objetivo de apresentar o nascimento da cenografia ocidental e suasmodificações através dos tempos. É apresentado um breve relato da história dacenografia no mundo antigo. Os elementos da cenografia são analisados e associados aomovimento teatral. O trabalho visa ainda apontar como esse processo dedesenvolvimento da cenografia acontece juntamente com fatos importantes de nossahistória mundial.
Palavras-chave: Arte, Teatro, construção, cenografia, atmosfera e edifício
ABSTRACT
This paper aims to show the birth of western scenery and its changes through ages. It isshown a brief report of history of scenography in the ancient world. The elements of scenography are analyzed and associated with the dramatic movement. The paper alsoaims to point out how this process of development of scenography happens withimportant events in our world history.
Keywords: Art, theatre, construction, scenography, atmosphere and building
1 André Latorre é diretor de teatro, pós-graduado em Artes Cênicas pela Faculdade Paulista de Artes,
onde é professor do curso de teatro.2 A Profa. Dra. Eliana Branco Malanga orientou este trabalho, originalmente apresentado comomonografia de conclusão do curso de pós-graduação em Artes Cênicas.
Como podemos perceber nos dias de hoje, os cenários tem importância muito
significativa não só para construir uma atmosfera, mas também para dar suporte aos
atores que tem a missão de contar uma história. O cenário conta uma história.
Diante do vasto material histórico, podemos notar que a cenografia tem grande
influência logo no nascimento das idéias de alguns diretores ou encenadores teatrais. A
cenografia neste caso surge antes de outras questões de ordem estética e de direção.
Ela encaminha este processo de montagem de um espetáculo. Através do texto, o
diretor ou o cenógrafo, visualizam o ambiente onde toda a ação vai acontecer.
Este material tem como objetivo geral, traçar um panorama de como surgiu a
cenografia e de como este elemento do teatro vem se atualizando e descobrindo
possibilidades técnicas e ideológicas.
Todo o estudo foi realizado com base em dois cenógrafos e “homens de teatro”.
O primeiro deles, Gianni Ratto e o segundo e não menos significativo para a história da
cenografia no Brasil, Cyro Del Nero. Suas construções cenográficas e seus tratados ou
“anti-tratados” acerca da cenografia são de grande importância artística e técnica nesta
arte que alia criatividade, conhecimento teórico e métodos específicos de construção.
Esta pesquisa é de pessoal importância para o pesquisador, pois este realiza um
trabalho acadêmico desenvolvido durante onze anos, onde trabalha na criação de
cenografias que na maioria das vezes servem como ponto de partida para a construção
da atmosfera de espetáculos de teatro com alunos de artes cênicas.
CENOGRAFIA NA GRÉCIA ANTIGA
Segundo Cyro Del Nero (2010), a cenografia nasce no século V a.C. e tem como
responsável Sófocles. Desenhos nas tendas onde os atores se trocavam dão o pontapé
inicial para a criação da cenografia.
As apresentações de teatro eram realizadas quase em sua totalidade ao ar livre,
pois os primeiros prédios de teatro foram construídos em madeira e somente no século
V, estes prédios foram feitos em pedra.
Eram concêntricos e circulares. O Teatro tinha um caráter religioso, e noedifício não havia divisões para o público em classes sociais. A estrutura era:
orkhêstra, o círculo central onde atuava o coro; kôilon, lugar do espectador,um anfiteatro em degrau que envolvia o círculo central; proskênion, lugaronde atuavam os atores, situado dentro do círculo central; e a skéne, umaparede maior que o diâmetro do círculo centra, com entradas e saídas para osatores. (MANTOVANI, 1989, p.08).
Em propriedades rurais no interior da Grécia dos séculos VII e VI a.C., existiamas eiras, pisos circulares onde grãos eram moídos por uma mó girada por uma parelha
de bois. Até hoje nós utilizamos este mesmo tipo de processo para realizar a moenda de
grãos. Durante as colheitas, várias festas e rituais religiosos eram realizados nela ou em
um terreno circular. A eira dos bois criava um círculo de terra batida onde os festivais
agrícolas eram realizados: a festa de Komos, origem da comédia. Estes festejos se
davam com as danças fálicas festivas, logo o primeiro cenógrafo pode ter sido a pessoa
chamada para decorar o local da festa ou mesmo somente pode ter esculpido o grandefalo.
Figura 1 - Eira de bois
Fonte: DEL NERO, 2010
As cerimônias rurais foram transferidas para dentro do Teatro de Dionísio,
quando este foi construído por Pisístrato (600-528 a.C.).
Neste teatro havia um santuário de Dionisos, um altar, uma gruta e uma“orquestra” circular de terra batida ou areia (arena), onde se realizavam danças coletivas
e cantos. Esta orquestra tinha diâmetro de 27 m (onde caberia o teatro shakespereano).
Neste primeiro edifico teatral construído, a visão para o público e a acústica
eram perfeitas. Não existia a diferenciação de assentos para classes sócias mais
privilegiadas ou mesmo pessoas com cargos importantes da região.
Este teatro tinha capacidade de abrigar 14 mil espectadores igualmente sentados
e com condições naturais em termos de acústica. Hoje em dia, nenhum de nossos teatros
recebe esta quantidade de público com condições naturais de acústica. A amplificação
se tornou um recurso obrigatório.
Figura 2 - Desenho do século XIX do Teatro Dionísio em Atenas
Fonte: DEL NERO, 2010
A pintura dos cenários e a troca de cenografia foram sugeridas por Sófocles, que
viveu noventa anos do século V a. C. As pinturas realizadas para os espetáculos podiamser comparadas com obras de arte,ou seja, a arte que se fazia naqueles tempos.A
escultura ,arquitetura e o trabalho com cerâmicas tinha atingido um nível muito alto,que
a cenografia certamente atingiria em questão de pouquíssimo tempo.
Ainda no século V, Phormis de Siracusa utilizou os painéis que podiam ser
trocados durante a apresentação de um único espetáculo.
Temos estes dados, pois Ésquilo os cita e ainda nomeia alguns pintores:
Agatarcus de Samos segundo Vitrúvio foi um dos destaques, pelo seu trabalhodetalhado das perspectivas e qualidade final das obras. Neste período Demócrito e
Anaxágoras fizeram estudos e teorias à respeito da perspectiva.
Na Grécia antiga existiam vários estilos de cenários: trágico, cômico e satírico.
Vitrúvio chamava estes cenários de scaena ductilis (cena móvel ou conduzida),
que podem ter sido utilizados tomando o espaço do proscênio ou ainda tenham criado
um espaço de representação à sua frente.
Vitrúvio e Pollux apontam textos onde descrevem prismas triangulares
decorados em seus três lados. As mudanças de cena indicavam os momentos em que
Deste modo, o público já entendia que não era mais um ator que estava saindo
de cena para se trocar e si um personagem indo em direção de algum lugar. Eram três as
portas utilizadas e construídas de forma fixar a porta principal, ricamente decorada e
esculpida e as outras duas,menores com adornos mais simples. O palácio estava
representado pela porta central e como a arquitetura grega não construía palácios, estes
eram representados por entradas,ou portas de templos. A porta da direita do ator era os
aposentos dos hóspedes ou a saída para outra cidade qualquer; e a porta da esquerda do
ator era o gineceu. Giné significa mulher e gineceu é o nome dos aposentos da casa
destinados à mulher.
Existem muitas teorias à respeito do uso das portas, onde estas convenções
adquirem outros significados.Pelo menos até a metade do século V a.C. usava-se apenas
a porta central, adotando o mínimo de recursos que cercavam os atores.
Figura 6 - Portas
Fonte: DEL NERO, 2009
A Katablemata era uma estrutura de painéis pintados que ficavam sobrepostos aofundo da cena no teatro grego. Com o decorrer da encenação, estes painéis eram
trocados, revelando novos fundos e indicações para elenco e público.
Com a chegada dos romanos em território grego, o edifício teatral passou por
várias modificações. Os romanos perceberam que o teatro poderia ser uma excelente
arma em suas mãos. Descobriram que o Teatro poderia ser usado como arma política,
fazendo assim um programa de dominação das massas. A primeira grande modificação,
o esvaziamento das idéias contidas no teatro grego. Agora, para os romanos, esta arma
serviria apenas para a diversão de uma platéia. A idéia era dar diversão e com isso
dominar o pensamento do povo e mostrar poder dos dirigentes.
Agora o que importava era o espetáculo e não a idéia e a reflexão contidas nele.
Do ponto de vista estrutural, os romanos possuíam uma engenharia magnífica, que foi
aplicada na construção de grandes teatros, mesmo em regiões onde não existiam colinas
para a construção do local reservado ao público. Teatros foram construídos em desertos,
tudo graças á engenharia desenvolvida pelos romanos. Podemos então comparar estes
dados e perceber que os gregos escolhiam terrenos para a construção de seus teatros,
que tivessem condições mais parecidas com o formato do edifício que seria construído,
já os romanos ignoram esta dificuldade e espalham seus grandes teatros onde havia
grande concentração de gente, já que um de seus objetivos era atingir o maior número
de pessoas possível.
Os primeiros teatros romanos foram construídos em madeira e eram erguidos
apenas para os festivais, logo em seguida eram desmontados. Com o passar do tempo, o
gosto romano foi sendo colocado na arquitetura destes prédios. Na arquitetura romana,
estes teatros eram feitos a partir de um semicírculo perfeito, que desembocava logo no
limite onde se iniciava o espaço da cena. Com isso fechava-se a passagem entre o palco
e o auditório.
A elevação do palco e a profundidade eram maiores que no teatro grego. Quantoà platéia, agora os romanos criam a distinção entre as pessoas do público:
Era dividido por classes sociais, onde os melhores lugares eram reservadospara uns poucos privilegiados. No palco, elimina-se o circulo central, quepassa a ser um semicírculo, dispensa-se o coro. O proscênio amplia-se e omuro que antes no teatro grego correspondia à skene, agora envolve todo oedifico teatral. (MANTOVANNI, 1989, p.8)
É nesta época que surge o edifico teatral como nós conhecemos hoje.
Com o desaparecimento do caráter religioso, o Teatro profano volta a ser feito,
inicialmente em salões de palácios dos príncipes. Neste trecho histórico, o palco era
construído em salões e o público se resumia a corte.
Nesta época o Teatro passou a ser estudado e analisado como uma arte erudita.
Graças a esse pensamento, o edifício teatral foi repensado nos moldes Greco-romano e
passou a ser tratado como um local reservado para um povo “selecionado”, ou ideal.
A platéia passa a ter lugares reservados de acordo com a hierarquia.
O surgimento destas salas de espetáculos teve que esperar um longo tempo de
maturação de idéias teóricas, até que enfim começaram a ser construídas.
Neste período, a perspectiva é redescoberta e reassume seu papel de grande
importância na cenografia. Através dela é que se representa a terceira dimensão noplano bidimensional. Alguns destes cenários pintados foram confeccionados por
grandes mestres das artes plásticas como Raffaello Sanzio e Baldassare Peruzzi. Um
detalhe técnico que marca este período é a convergência de todas as linhas para um
único ponto de fuga. É a chamada perspectiva central.
Os antecedentes navais chamam-se: deck, mastro, mezena, brigantina, velaflecha, joanete volante, gávea fixa, traquete e mil outros termos.Seus
descendentes teatrais são: carretilha, contrapesos, corda, cunha, entelado,esticadores, embarque e desembarque, escora, gornes, lastro, lona,malaguetas, manobras, nós, orelhas, passarelas, patamar, polia, porão,roldana, talha, tarugo, terça, trambolho, varas, varanda e velário.Essa tradiçãode cordas, velames, manobras, varandas aéreas, contrapesos e outroselementos nos foi descrita e algumas vezes desenhada por Nicola Sabbattini,quando os espetáculos teatrais estavam dominados pela troca de cenários,levando a cenografia aos limites da eficiência. (DEL NERO, 2009, p.193 )
Sabbattini foi um importante cenógrafo além do que conhecido como
matemático e engenheiro. Sabbattini trabalhou para cardeais e duques na função de
maquinista ou cenotécnico. Realizou diversos trabalhos como a canalização do rioFoglia, o desenho para um apartamento nobre para uma madame de Pesaro e finalmente
refez e equipou o Teatro Del Sole.
Em seus trabalhos descreve como fazer surgir um inferno em cena, como
acomodar um príncipe, uma das primeiras maneiras de fazer aparecer um mar no palco,
como fazer que uma nuvem desça do céu com atores dentro da estrutura, como fazer a
melhor representação de um paraíso e outras tantas idéias para efeitos em cena.
movimento, tecidos que se retorcem ao vento, a festa, coloca em um trono o sistema
barroco, sublinhando sua teatralidade. “E o cenógrafo vive bem, de festa. A propaganda
da fé católica deu grande impulso às manifestações espetaculares e cenográficas.” (DEL
NERO, 2009, p.209) A arquitetura e a pintura absorvem a idéia de forma total e isso é
imediatamente transportado para o Teatro.
Houve uma tendência ao gigantismo nas cenografias criadas a partir do século
XVII. Os cenários eram esplendorosos logo em sua criação.
Os Galli Bibiena são a maior expressão dessa tendência no século XVIII.
Ferdinando, Antonio, Carlo, Francesco e Giuseppe. Esses homens, todos de uma mesma
família, trabalharam em vários lugares do mundo: Paris, Lisboa, Londres, Berlim,
Dresden, Estocolmo e São Petersburgo. Entre eles, o que mais se destaca é Ferdinando
Galli Bibliena.
Essa equipe não realizou apenas cenários para diversas montagens, mas também
foram os responsáveis pelo projeto e construção de muitos teatros na Áustria,
Alemanha, Itália e França.
Neste momento da história da cenografia, a perspectiva nos cenários também é
usada em ângulo, e não mais centralmente, como era de costume.O responsável pela
inovação foi Ferdinando, que na Bolonha, utilizou dois ou mais ângulos na perspectiva
das pinturas de telões e cenários construídos em madeira. Também alterou a escala dos
cenários, assim, separando-os do auditório.
Ferdinando observou que o tamanho dos palcos era inferior às suas criações de
edifícios cenográficos. Isso fazia com que seu desenho ultrapassasse os limites de altura
da boca de cena.
O palco que é visto pelo espectador tem as mesmas medidas embaixo, emcima e nas laterais, como se existissem cinco palcos, em que um é visível e
quatro não. Ele é feito assim para permitir a utilização de máquinas cênicas epara a mudança rápida de cenários, que podem subir, descer ou entrar pelaslaterais. O palco é uma caixa mágica. (MANTOVANI, 1989, p.10 )
Nos cenários dos Bibliena, o efeito mais usado é um background pintado que
leva o olhar do espectador ao infinito e logo à frente, uma área de atuação.
Um detalhe técnico que deve ser lembrado é que nos cenários em ângulo, o
espaço ocupado pela cenografia é menor, mas transmite a impressão de ocupar uma área
maior. Como se estivesse saindo pelas laterais do palco.
A obra de Ferdinando que temos acesso hoje em dia, são placas de metal queseus patrocinadores fizeram, onde estavam representações de suas cenografias. Nestes
metais notamos a presença de escadas para atores e cantores, porém esses praticáveis só
existiam em figuras pintadas e planas nos telões. A área de ação era plana ou com
pequenas escadas para iludir o olhar do espectador junto ao telão pintado em
perspectiva.
Os Galli Bibliena introduzem a assimetria aos desenhos de cenários, as
extravagâncias, colunas em parafuso e a mistura de linhas retas com linhas curvas.
Esses elementos eram misturados com estátuas em alto relevo, que davam a sensação de
mobilidade à cenografia estática.
O estilo dessa família invadiria o século XIX e continuaria exercendo forte
influência nos projetos cenográficos se não fosse pelo surgimento de homens
considerados “profetas” desse século: Appia e, logo depois, Gordon Craig, realizam
seus trabalhos e avançam pelo século XX com seus cenários carregados de teoria e
talento para as novas idéias que começavam a surgir.
Figura 15 - Cenografia com dois pontos de fuga na perspectiva
Fonte: DEL NERO, 2009
RICHARD WAGNER (1813 – 1883)
No livro “Máquina para os Deuses”, Cyro Del Nero aponta a ópera de Wagner,
como responsável pela construção de seu edifício teatral. Com a construção deste teatro,
Wagner procura imortalizar suas obras. Ao contrário de sua música, seus cenários eram
considerados antigos, sempre com um olhar para o passado. Com isso, suas encenações
eram de cunho antigo.
Appia, um dos mestres da cenografia foi quem mais conseguiu traduzir a
grandeza das músicas de Wagner em cenários considerados “de uma grandeza plásticaabsoluta”. A música de Wagner foi mais valorizada com os cenários de Adolphe Appia.
achar preparado. Vai à Noruega e tenta o suicídio, onde é internado. No ano seguinte
torna-se aluno de iluminação de Bähr.
Em novembro de 1888, tenta o suicídio novamente e é internado em Zurique.
Em 1891 começa realmente seu trabalho teatral. Appia vai morar no campo, por fobia às
cidades grandes e lá faz o primeiro croqui para O anel de nibelungo, de Wagner.
Durante esse anos seguintes aparece Gordon Craig na cena teatral,desta vez como
ator.A Torre Eiffel está sendo construída.
Com 30 anos de idade termina a fase de formação de Appia. Desde então,
coleciona triunfos em suas criações para o Teatro do século XIX.
Antes de começar a trabalhar realizando cenografias para diversas óperas e
textos teatrais, Appia foi um estudioso de técnicas de cenografia iluminação e mise-en-
scène.
Sua obra parte de reflexões sobre o drama de Wagner. Assim ,realizou profundas
mudanças na arte da cena. Dava importância em primeiro plano ao texto dramático
musical e ao ator, para em seguida pensar a arquitetura e a luz da cena.
Durante toda sua vida escreveu três livros: mise-en-scène do drama wagneriano,
em 1895; A obra de arte viva, em 1921 e teve uma obra póstuma, publicada em 1963: A
música e a mise-en-scène.
Appia não aceitava os antigos telões pintados em seus cenários,pois é
contemporâneo da iluminação elétrica,sendo assim não vê sentido em painéis
ilusionistas e “realistas” até então em uso em Bayreuth.
Confere ao ator, a importância da presença viva e tridimensional no palco.
Assim negando superfícies planas pintadas. Appia acha que o ator deve mover-se e
relacionar-se com elementos tridimensionais como o próprio corpo do ator. No
pensamento de Appia, é da música e do drama que se engendra a encenação.
Para ele, a encenação não é resultado da junção de todas as artes e sim, resultadoda hierarquia entre diferentes meios de expressão, como a pintura, escultura, iluminação
e atuação de atores. O principal elemento e fundamental para Appia, é o ator. A ação do
ator, em seu pensamento, é que deve modelar o espaço. Para ele, o ator deforma o
espaço a cada movimento.
O volume substitui a superfície plana. A luz em cena é usada como meio
dramático, de maneira móvel, dando vida e realidade dos espaços criados para a
encenação. Surge com Appia, a plena consciência de que a luz pode e deve sugerirsensações.
Em Florença, durante dois meses, ao longo de 1907, desenhou, estudou,
repensou teorias, e desenhou magníficas gravuras que estão reunidas num volume
chamado Scenes.
Craig trabalha neste período em um estúdio, dessa forma poderia receber
pessoas interessadas e divulgar suas teorias. Chegou a construir um grande palco para
realizar suas experiências,mas teve esta tentativa frustrada,pois carecia de muitas
possibilidades técnicas.Durante as tentativas de estudo a práticas para que seus painéis
subissem, descessem e andassem para os lados, Craig recebe um telegrama de
Stanislavski. O artista lê o telegrama em maio, já em outubro está em Moscou, pronto
para usar os painéis em Hamlet . Mesmo assim, os painéis só fizeram fama por não
funcionarem novamente. Craig era pai de um sistema que não funcionava.
Hoje, vários estudiosos dizem que na época, ainda não havia tecnologia o
suficiente para ajudá-lo. Este complexo cenário tinha vinte painéis de várias alturas que
não se movimentavam com facilidade, gerando uma confusão de entradas e saídas.
Mas com alguns resultados de grande beleza: os atores diante do rei,representando de costas para o público, e o trono na parte mais distante dopalco cercado pelos membros da corte, e entre aqueles e estes, Craig rebaixouo palco, criando uma trincheira feita de degraus. Novas visões para o iníciodo século.Apesar dos problemas, o espetáculo significou um resultado triunfante para o
Teatro de Arte de Moscou, por ser um divisor de águas na história do palcorusso, segundo relato de Stanislavski. (DEL NERO,2009 p.253)
A partir deste momento, suas teorias se espalharam pelo mundo todo.
Cenógrafos de diferentes lugares começaram a ter vontade criadora com inspiração
direta no artista.
Os painéis de Gordon Craig só se moveram com a leveza e facilidade que o
criador queria, quarenta anos depois, com Josef Svoboda, em Praga.Eram idênticos aos
de Craig, com movimentos cinéticos,à custa de equipamentos eletrônicos, controleremoto e hidráulico.Mais uma infinidade de técnicas que na época de Craig não estavam
Joseph Svoboda foi um dos homens que fez nascer a idéia do Instituto de Teatro
de Praga e da Quadrienal de Praga. Morreu em 2002, com 82 anos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A trajetória da cenografia mundial apóia-se na irreversível evolução imaginativa
do ser humano. Grandes homens tiveram seus momentos de iluminação e criaram
máquinas de fazer sonhos.
A necessidade de maquinaria para a criação de efeitos, ao longo dos tempos foi
transformando-se em personagem junto à trama.
O cenário e o edifício teatral foram ganhando características e modificações à
custa de muitas tentativas ao longo dos tempos. É difícil para nós, imaginarmos a
dificuldade em criar, por exemplo, palcos móveis,mas temos que ter em mente que isto
nunca tinha sido feito antes.Nada do que foi criado nos tempos mais remotos tinha
existido antes.Tudo foi criado,inventado.
Hoje em dia ainda usamos os periactos e as katablematas da Grécia antiga. Os
telões que foram pintados por artistas e mestres da perspectiva são usados hoje em dia
em balés e óperas. Se a cenografia era usada em tempos antigos como decoração, hoje é
conceito. Serve à dramaturgia. Aponta climas, define espaços. Appia nos deixou sua
influência absolutamente impressa nas criações de vários cenógrafos. Eu,
particularmente, identifico seus degraus em um ou dois cenários desenhados por mim.
Acredito que a cenografia não tinha outro caminho a trilhar senão este que
trilhou. O cenógrafo exige sempre mais de seu próprio trabalho. Já fiz alguns cenários
com pouquíssimos elementos e vários cenários com muitos elementos, grandiosos e
cheios de movimentos. Sou lembrado como um diretor de Teatro que “adora” fazer
cenários grandes. Gosto sim, mas não faço só isso. Tenho influências de Craig, Appia,mas também vejo o brilhantismo na cenografia de Flávio Império e seu jogo com vários