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CAUSOS DE RHCAUSOS DE RHCAUSOS DE RHCAUSOS DE RH
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As histrias mais engraadas, divertidas, dramticas es histrias mais engraadas, divertidas, dramticas eAs histrias mais engraadas, divertidas, dramticas es histrias mais engraadas, divertidas, dramticas e
emocionantes da Comunidade de Recuemocionantes da Comunidade de Recuemocionantes da Comunidade de Recuemocionantes da Comunidade de Recursos Humanosrsos Humanosrsos Humanosrsos Humanos....
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Sumrio
A perna curta da mentira ------------------------------------------------ 04
Compromisso x Comprometimento ----------------------------------- 06
Estagiria de RH no setor de comrcio exterior -------------------- 09
A mesma estagiria: Parte 2 Novo carimbo ----------------------- 10
RH e a vida como ela --------------------------------------------------- 11
Tio --------------------------------------------------------------------------- 15
A primeira chance --------------------------------------------------------- 18
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A PERNA CURTA DA MENTIRA
Renata Adalgisa Santos de Oliveira, de Recife/PE
Estudante de Psicologia
Nossa empresa familiar e com uma poltica de aqui se trabalha
independente de qualquer coisa e situaes que no tenham a ver com a empresa que
nem chegue por aqui. Um belo dia, uma funcionria, coordenadora da empresa, que por
sinal no da famlia dos diretores, adoeceu e passou vrios dias internada no hospital.
A recomendao que obtive da diretoria foi: no quero que faam
visitas em horrios de trabalho, se virem, problema da pessoa que adoeceu. Tudo bem,
ouvi isto, fiquei tristinha de incio, mas tudo bem.
Essa funcionria era muito querida de todos e chefiava muitas equipes.
Todos os funcionrios procuravam saber a seu respeito e desejavam ir visit-la, porm
tnhamos recebido uma recomendao da diretoria, e para nossa infelicidade o horrio
de visitas era justamente durante nosso expediente. Sendo assim, ou montvamos
alguma estratgia de visita ou nada feito.
A coordenadora hospitalizada, era muito querida por todos e ficava
ligando o tempo todo para todos exigindo a visita e que estava com muitas saudades.
J se passara uma semana desde a hospitalizao, porm a coordenadora
no sabia da ordem dos diretores.
Aguardamos um dia especial em que os diretores viajassem e esse dia
chegou. Optamos para fazer a visita no finzinho do expediente para tambm no
atrapalhar o andamento da empresa. Juntei trs funcionrios mais prximos da
coordenadora hospitalizada e fomos fazer a visitinha. Pegamos o carro e chegamos ao
hospital. Passamos uns dez minutos no trreo, aguardando o elevador chegar ao
estacionamento e nada. Quando o elevador chega e se abre quem est descendo para a
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nossa surpresa? Sim, ele mesmo, um dos nossos diretores. Olhamos um para o outro e
no sabamos o que dizer, no tnhamos local algum para enfiarmos nossos rostos, ele
percebeu o quanto estvamos tensos, olhou para ns e disse: Vocs por aqui? Largaram
mais cedo? No tinham mais nada para fazer na empresa? Que coincidncia? No
lembro de ter autorizado vocs para fazer essa visita? E a pergunta que soava em nossas
mentes e que no queria calar era: mas, e no viajou? Como se fosse um adivinho ele
respondeu: Desisti da viagem, achei melhor ficar para uma reunio com a administrao
hospitalar do hospital H.E.
Enfim, ele compreendeu a situao e permitiu que autorizando ou no os
funcionrios iriam visit-la, e seria bom para ambos.
A sorte j estava lanada e acabamos chamando-o para ir visitar conosco
a coordenadora. Ele o fez e samos de l refletindo e dizendo: ser RH dureza, no
adianta esconder determinadas situaes que elas aparecem de algum modo.
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angstia muito grande. Muitos colegas foram demitidos sem qualquer explicao
plausvel. Apenas era necessrio.
A nova proprietria, agora uma empresa multinacional, assumiu os contratos
existentes e os poucos empregados que restamos. Alguns de ns permanecemos na
multinacional por mais algum tempo e depois samos.
Trabalhei cinco anos no servio pblico federal, como empregada terceirizada,
na gesto de polticas pblicas de emprego e renda e qualificao profissional.
O sentimento de frustrao foi enorme. Nesse rgo as condies de trabalho
eram ruins. O plano de sade o menos pior possvel. A estrutura fsica horrvel. Os
recursos financeiros escassos e a administrao engessada. Os servidores mais
insatisfeitos ainda. Mas o interessante que mesmo ganhando mal eu me sentia bem,
realizada. Estava fazendo algo que gostava e sendo reconhecida, no financeiramente,
mas profissionalmente.
Atualmente trabalho numa empresa da administrao pblica, em que o contrato
de trabalho regido pela CLT Consolidao das Leis Trabalhistas. Nesta empresa as
pessoas so remuneradas de acordo com o mercado de trabalho. Dispem de um Plano
de Cargos e Salrios, implantado recentemente. Temos um Plano de Sade muito bom,
as restries so apenas as que a Lei no permite. Auxlio-alimentao com um valor
significativo. Programa de Qualidade de Vida. Uma administrao aberta negociao.
No entanto os empregados tm compromisso, mas no, comprometimento. Existe uma
diferena muito tnue entre compromisso e comprometimento.
Afinal o que falta para que os empregados dessa empresa se comprometam com
o seu trabalho? Eles tm compromisso com o emprego, mas no tem comprometimento
com o trabalho a ser realizado. a que afirmo: s h comprometimento com o trabalho
se houver prazer ao realizar esse trabalho. Se o dinheiro no for coisa mais importante.
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O reconhecimento financeiro ser conseqncia da realizao profissional.
Infelizmente somos obrigados a fazer o que no gostamos, pois no h
oportunidades iguais para todos. E isso no s no servio pblico no. Os jovens esto
se formando em qualquer curso apenas para terem um diploma e acesso ao mercado de
trabalho. No importa a sua vocao, o que ele realmente gostaria de fazer.
Como haver comprometimento com a tarefa se no h prazer na sua realizao?
As empresas particulares j esto buscando profissionais que gostem do que
fazem. O processo seletivo envolve muito mais do que provas de conhecimentos
tcnicos e provas de ttulos. A seleo envolve mecanismos que identifiquem o
equilbrio emocional do candidato, seus objetivos na vida, seus hobbies, seus gostos,
enfim quem ele realmente e o que quer. Os reconhecem por isso, e o
comprometimento vem naturalmente.
preciso que as empresas pblicas percebam que somente concursos pblicos
de provas e provas de ttulos no qualificam um profissional para determinado cargo.
Ento o que fazer para minimizar o problema existente nas empresas e rgo
pblicos? Acredito que este um trabalho rduo, mas possvel, que passa desde a
anlise do modo de vida de cada servidor/empregado pblico, suas habilidades e
competncias. Sua formao profissional. Seus hobbies.
Mapear o servidor/empregado e fazer a sua realocao de modo que permita a
ele desenvolver todo o seu potencial de forma criativa e plena, respeitando sua vocao,
sua limitao enquanto ser humano que .
Parece impossvel? No acho. Pior ouvir as pessoas reclamando pelos
corredores, os chefes sem saber o que fazer, e pior ainda o pblico sendo mal atendido,
pois o principal cliente desse servidor insatisfeito o pblico. Afinal somos servidores
pblicos.
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ESTGIRIA DE RH NO SETOR DE COMRCIO EXTERIOR
Emerson Aguiar Pontes, de Niteri/RJ.
Administrador
Eu trabalhava no Porto de Itagua-RJ numa multinacional no setor de comrcio
exterior. Vocs no tm noo do que eu j escutei no Porto!
Uma vez, o diretor de RH da empresa contratou uma estagiria (comidinha)
para auxiliar ele no setor. Certo dia, um dos rapazes do setor de exportao ia tirar frias
e, de imediato, mandaram a estagiria de RH para cobrir as frias do garoto.
Certa vez, numa operao de embarque, a estagiria, com uns dias de
embarcada, gritou pelo rdio: "Emerson... corre aqui, t embarcando um continer todo
avariado... ele t sem teto, sem laterais... s tem a porta, e a carga t toda exposta...
corre! Fui correndo! Pra minha surpresa, quando cheguei no ptio dos contineres era
uma unidade FLAT RACK. Para quem no tem noo do que um continer Flat Rack,
segue a foto abaixo. Pode acreditar?
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A MESMA ESTAGIRIA: PARTE 2
NOVO CARIMBO
Vou defender a garota, ele super inteligente, mas, um dia, com toda suadelicadeza, caiu na pegadinha do pessoal Matriz.
Chega ela no balco da Matriz para a retirada do B/L* e solicita, talvez
ingenuamente:
" - .. viu.. eu preciso que voc bote o CARIMBO DE TRANSTORNO..
TRANSTORNOOOOOOOOOOOOO!!!!"
Sacana, o rapaz do balco diz estagiria que s poderia carimbar o documento
com a minha autorizao e ainda d-lhe as coordenadas para preencher a autorizao.
Eu, (nome da estagiria) solicito autorizao para o CARIMBO DE
TRANSTORNO para os devidos B/Ls numerao (...) sob sua superviso (...)
Coitadinha, vou eu explicar para ela que no era transtorno, e sim,
transbordo*.
B/L* = Documento usado nas operaes de comrcio exterior para embarque em navios, conhecido como
Conhecimento de Embarque Martimo (Bill of Lading- B/L)
Transbordo* = transferncia de bens ou mercadorias de um veculo para outro pertencente ao mesmo titular.
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RH E A VIDA COMO ELA
Ana Cristina Portmann Borba e Evandro Valentim de Melo, de Braslia
Psicloga e Administrador, respectivamente
Todos os olhares eram atrados para os relgios, seja na tela do computador,
no pulso ou na parede... Quando os tic-tacs se avizinham das 18h o marcador biolgico,
sofrendo de ansiedade, deseja que os infindveis minutos passem com maior rapidez.
Einstein j dizia algo sobre a relatividade do tempo...
Enfim, 18h. Equipamentos so desligados, todos juntam os pertences e se
vo. Mais um dia de trabalho termina, menos um dia na contagem de tempo para a
aposentadoria.
Alguns se dirigem para seus automveis, outros, menos afortunados, s
paradas de nibus. Muitas pessoas, muitos caminhos, muitos destinos. Cada um segue o
seu.
No RH da empresa, Ana Lcia, como boa comandante a ltima a
abandonar o barco. Conclui as anotaes em sua agenda, fixa alguns lembretes na tela
do computador, olha ainda uma ltima vez para se certificar que tudo est em ordem e,
finalmente, parte. Seu ritual de fim de tarde se repete: caminha at a catraca eletrnica,
encosta o polegar, ouve o bip, despede-se dos seguranas, mais alguns passos e chega a
seu carro. Inspira aquele cheirinho de carro novo. H duas semanas havia se
presenteado, com a participao nos lucros da companhia. A manuteno de seu carro
anterior estava encarecendo demais. Passou pela panificadora, adquiriu alguns gneros e
foi para casa, conviver com a famlia no restinho daquele dia.
Na manh seguinte, chegando ao trabalho, de longe notou que havia algo de
errado. Pessoas se aglomeravam entrada do edifcio. Estacionou o carro e foi verificar,
afinal o RH precisa estar antenado aos acontecimentos.
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- Bom-dia, pessoal. O que houve?
- O Srgio...
- O que tem o Srgio?
- Foi assassinado ontem.
- Como que ?
- Isso mesmo, Ana Lcia. O Srgio morreu ontem noite, voltando para casa.
A notcia foi um baque. Srgio era um bom amigo de Ana Lcia, que no
conseguiu segurar algumas lgrimas.
Ana Lcia foi para a sala do Diretor Administrativo que, a par do ocorrido,
j a estava aguardando.
- Entre em contato com a famlia do Srgio, veja o que podemos fazer, se esto
precisando de algum apoio, essas coisas. E, por favor, mantenha-me informado.
J em sua sala de trabalho, outros colegas tambm a aguardavam, bastante
chocados. Partilharam os afazeres daquele dia, designando a alguns as rotinas, afinal o
RH no pode parar, e a difcil tarefa de contatar a famlia do Srgio.
Dizem que chefe ganha mais que os outros para resolver problemas. Nas
teorias estudadas na Administrao chama-se administrao pelas excees. E se havia
algo considerado exceo, era a morte de um colega de trabalho.
Ana Lcia concluiu que deveria ir pessoalmente residncia do colega.
Perguntou se havia algum voluntrio para acompanh-la e sua xar, Ana, na verdade
Ana Paula, se ofereceu.
No caminho conversavam com Ado, um dos motoristas da empresa, que
forneceu mais detalhes a ambas.
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- Foi na sada da faculdade. Ele estava na parada de nibus, quando dois bandidos
mascarados se aproximaram e anunciaram o assalto. Parece que ele reagiu e levou dois
tiros. Os bandidos fugiram sem levar nada. O socorro chegou, mas j era tarde.
Na casa de Srgio, a famlia chorava. Esposa, um casal de filhos, com 9 e 6
anos estavam abraados av paterna. Ana Lcia e Ana Paula se aproximaram, se
identificaram e ficaram daquele jeito, impotentes diante da tragdia. Na conversa com
Zulmira, a viva, souberam quando e onde ocorreria o sepultamento. Ana Paula se
afastou discretamente e contatou o RH para que repassassem as informaes. A
mobilizao da empresa foi macia. Todas as unidades se cotizaram, enviaram coroas
de flores e representantes ao cemitrio. Velrio e enterro transcorreram como era de se
esperar. Muita tristeza.
Na segunda-feira os profissionais do RH se organizaram para que as medidas
prticas fossem operacionalizadas. Trataram de levantar dados sobre seguros,
beneficirios, resciso contratual etc.
s 14h daquele dia a viva compareceu ao RH acompanhada de advogado a
fim de se inteirar de seus direitos. Ana Lcia os recebeu e orientou pormenorizadamente
sobre todas as aes a serem adotadas.
Mais uma vez, o tempo, senhor de tudo, se encarregou de arquivar aquele
episdio em um cantinho da memria. Dias, semanas e exatos dois meses se passaram,
quando mais uma vez, Ana Lcia chegando ao estacionamento da empresa, para mais
um dia de labuta, percebeu que algo havia acontecido. Pessoas se aglomeravam
entrada do edifcio. Estacionou o carro e foi verificar, afinal o RH precisa estar antenado
aos acontecimentos (parece a repetio de uma cena...).
- Bom-dia, pessoal. O que houve?
- A viva do Srgio...
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- O que tem ela?
- Foi ela.
- Ela o qu?
- Ela que mandou matar o Srgio!
- Que histria essa, gente?
- Olha aqui o jornal.
Ana Lcia recebeu o jornal e leu rapidamente a matria que relatava a ao
policial no desvendamento do assassinato encomendado de Srgio Dias Ribeiro por sua
ex-esposa, Zulmira Pereira Ribeiro em associao com o advogado aquele que
compareceu ao RH em companhia da viva Hrcules Mendes Figueiredo, com o
objetivo de receber o seguro de vida que o falecido destinara viva...
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TIO
Evandro Valentim de Melo, de Braslia
Administrador
A Equipe de Sebastio do Amor Divino, Tio, como era conhecido, contava
com seis tcnicos, incluindo ele prprio. Tio era o veterano da equipe e um dos mais
antigos na empresa. Foi admitido ainda garoto como auxiliar de infra-estrutura.
Humilde, semi-alfabetizado e forte de compleio e carter, como o so muitos dos
sertanejos, veio para Braslia com o irmo mais velho, tentar ser algum na vida,
seguindo o conselho do pai, pequeno agricultor do interior da Bahia. Nos primeiros anos
de existncia de Braslia era fcil se empregar. Bastava comparecer nos locais de
seleo e iniciar na mesma hora.
O encarregado simpatizou com aquele rapago e o inseriu na equipe de
manuteno da empresa.
Tio logo se destacou entre seus pares. Dedicado e comprometido, foi
ganhando atribuies e ampliando seu espao de atuao. Em pouco tempo ficou
bastante conhecido na empresa, pelas qualidades e sade de ferro. Jamais adoecia.
A empresa cresceu e novas oportunidades foram surgindo. Tio,
aproveitando as polticas de recursos humanos da empresa, para elevao de
escolaridade, voltou a estudar. Concluiu o ensino fundamental e em seguida o ensino
mdio.Carregava consigo o desejo de se tornar tcnico em eletrnica. Os colegas da
rea de RH, sabedores disso, incentivavam Tio a procurar as escolas tcnicas, a fim de
que fizesse o curso profissionalizante, que, concludo, lhe permitiria participar das
selees internas e, finalmente, chegar a ser um tcnico em eletrnica.
Tio se esforava muito, mas no conseguia ser aprovado nos exames finais.
Tentou uma, duas, trs vezes e a aprovao no vinha. Com a ajuda do RH, que o
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mantinha sempre informado, Tio passou a viajar e a fazer as provas em outras cidades
do Brasil, que permitiam ao aluno apenas fazer os exames finais, algo semelhante a um
curso a distncia.
Exatos seis anos depois da primeira tentativa, Tio finalmente superou este
difcil obstculo. Foi uma festa. Alis, duas. Isso porque logo em seguida, Tio tambm
foi aprovado na seleo interna que o permitiu mudar do cargo de auxiliar de infra-
estrutura para tcnico em eletrnica.
Tio, agora, participava da equipe de manutenes em estaes repetidoras
da empresa, que atuava no ramo de telecomunicaes. Tais estaes eram bem distantes
da sede da empresa, o que demandava, dependendo da situao, que a equipe
permanecesse por at trs dias ausente.
A partir dessas viagens Tio, j bem conhecido e admirado na empresa virou
uma espcie de mito. A equipe, forosamente, fazia refeies nos sempre presentes
botequins de beira de estrada, sendo que a qualidade do que se come nesses
estabelecimentos deixa muito a desejar. Todos os integrantes, de todas as equipes que se
deslocavam nessas viagens, cedo ou tarde contraiam algum problema de sade: infeco
intestinal, diarria, disenteria e males semelhantes eram comuns nesses empregados.
Exceto no Tio. Dono de um fantstico metabolismo e digesto invejveis, Tio
consumia o mesmo que seus colegas e no era afetado. Adiciona-se a isso, seu paladar
no muito exigente. Ele, ento, comentava que os membros da equipe eram muito
delicados. E esses, j cansados de ouvir chacota do Tio resolveram, um dia, se vingar.
A oportunidade surgiu quando determinada manuteno preventiva, que parecia ser
coisa rpida, se transformou em uma srie de procedimentos emergenciais, em
decorrncia de uma forte chuva, que danificou parte de um importante equipamento.
Dois dos colegas se ofereceram para buscar o almoo na birosca mais prxima. O prato
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do dia era strogonoff com arroz e fritas, que alis, Tio apreciava muito. Antes, porm,
passaram na farmcia e compraram um vidro de leite de magnsia, poderoso laxante
bem conhecido das pessoas que sofrem de constipao intestinal. Naquele almoo, a
quentinha destinada a Tio recebeu um ingrediente que nenhum chefe de cozinha jamais
havia pensado.
De volta estao, os colegas se reuniram para o almoo. Nessa hora e meia
de intervalo laboral, alguns cochilavam, outros jogavam domin, at que chegasse o
momento de retornar ao trabalho.
Tio, como sempre, devorou o almoo. Tirou um breve cochilo e, acordou
cinco minutos antes da hora do reincio das atividades. Mais uma qualidade biolgica
do Tio, que no precisava de despertador.
A expectativa de todos pairava no ar. Passada uma hora, nada. Duas horas
depois, nada. Terminado o servio, A equipe acomodou os instrumentos e ferramentas
no porta-malas do veculo e iniciou o trajeto de volta sede. Estavam incrdulos. Tio
no manifestou nenhum sintomazinho sequer. De repente, seu rosto se contorceu. Um
dos colegas cutucou outro pensando, ambos, agora! Qual no foi a decepo de todos
quando a contoro facial do Tio foi apenas o anncio de um ftido e sonoro pum,
daqueles dignos de entrar para os anais da histria, seguido, claro, daquela gargalhada
gutural do Tio, acompanhada da dedicatria: pra vocs, com carinho.
Esta viagem foi contada e recontada por muito, muito tempo, inclusive no
discurso de despedida, a cargo do presidente da empresa, quando da aposentadoria do
Tio. Foi um dia muito especial. Muitas homenagens, depoimentos, presentes e l se foi
o Tio, para uma nova fase da vida. Sade digna de um super-heri snior. Voltou para
a Bahia e, dizem, continua firme como uma rocha.
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A PRIMEIRA CHANCEEvandro Valentim de Melo, de Braslia
Administrador
Chegou quela poca da vida em que no era mais possvel permanecerdependente dos pais. Mesada? Nunca recebeu. Era coisa, para poucos privilegiados.
Ganhos espordicos aqui e acol, porm inconstantes, no mais satisfaziam suas
necessidades. Era o ltimo estgio da adolescncia. O passo seguinte era conseguir um
emprego e mergulhar na vida adulta, com todos os reveses, vantagens,
responsabilidades etc.
Encontrava-se nesta fase. Namorava firme, com a mesma pessoa h quase dois
anos. Conclura o ensino mdio. No tinha a menor chance de passar no vestibular da
UnB, graas pssima qualidade dos professores de seu curso de ensino mdio, salvo
rarssimas excees, e o desinteresse prprio com o qual convivera durante os trs anos
de estudo. Sem possibilidade de estudar em faculdades particulares, vivia no limbo,
entre o fim do ensino mdio e o incio do primeiro emprego.
Esta fase, experimentada por muitos, bastante angustiante, pois como qualquer
jovem queria e precisava trabalhar, mas a grande maioria das empresas, quando havia
vagas, direcionava a seleo para trabalhadores j experientes.
Questionamento comum dos jovens nesta faixa etria se no nos deixam
trabalhar, como que adquirimos experincia?. Felizmente nos dias atuais, existem
polticas governamentais que incentivam as empresas a contratar pessoas sem
experincia, mas isso s passou a existir recentemente, antes a conversa era outra.
A alternativa encontrada e seguida por muitos jovens era fazer o mximo
possvel de cursos, como datilografia, matemtica financeira, relaes humanas, prticas
trabalhistas, prticas contbeis e por a vai. Dessa forma o currculo vai ganhando
robustez e compensando a falta de experincia profissional.
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Com ele no foi diferente. No SENAC cursou datilografia em mquina manual,
em mquina eltrica, em mquina eletrnica e matemtica financeira. Alis, foi o
SENAC que o encaminhou para a primeira oportunidade concreta de emprego.
Era um dia frio, como so os dias de junho em Braslia. A empresa situava-se no
Shopping Venncio 2000. L compareceu meia hora antes do horrio previsto, vestindo
roupas novssimas que aguardavam ocasio merecedora de tal atitude. Como informado
no SENAC, no seria o nico a ser encaminhado para anlise da empresa contratante.
Na sala de espera, logo a seguir chegaram uma jovem tambm encaminhada pelo
SENAC e aquele que seria o responsvel pela seleo.
Apresentou-se, explicou como seriam os testes e encaminhou ambos os
pretendentes vaga para uma sala contgua, onde esperavam, imponentes, duas
mquinas eltricas IBM, da marca e modelo preferidos dentre as opes disponveis no
mercado poca.
O selecionador entregou um texto para que treinassem por 10 minutos,
objetivando esquentar os dedos j que a temperatura girava em torno dos 12 graus.
Decorrido o tempo concedido para treino, informou que o mesmo texto treinado seria o
da prova de velocidade. Teriam os mesmos 10 minutos para comprovar que
conseguiriam superar os 250 toques lquidos por minuto. Mostrou o cronmetro zerado,
desejou boa sorte e deu o sinal de partida. Ouviam-se os frenticos tlec-tlecs da
mquina. Ambos os pretendentes foram bons alunos. A noo de tempo foi para o
espao. O foco da ateno era totalmente direcionado para aquele momento. Tinha
certeza de ter alcanado excelente pontuao, fato confirmado posteriormente. Sua
concorrente, apesar do bom resultado, cometeu erros, ficando em segundo lugar, que
naquele caso era sinnimo de ltimo. Outros testes foram aplicados: raciocnio lgico,
entrevista, ou melhor, duas entrevistas. No final de tudo, j prximo de meio-dia veio o
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veredito. Ele havia tido melhor desempenho. O selecionador teve a delicadeza de
chamar individualmente cada um dos concorrentes para evitar constrangimentos. No ato
em que recebeu a notcia de que fora o escolhido, o selecionador perguntou se estava
com os documentos necessrios admisso, que ocorreria dali a trs dias. Entretanto, ao
examinar o Certificado de Alistamento Militar constatou que o candidato ainda no
havia sido dispensado do servio militar.
- U! Voc ainda no foi dispensado do servio militar?
- No. Compareci no dia marcado, mas no fui nem admitido nem dispensado.
Disseram-me para retornar l em janeiro do prximo ano.
- Puxa vida, que chato! Temos um problema. Sem ser dispensado ou j ter
prestado o servio militar no h como contrat-lo. Infelizmente para ns dois. Para ns
pelo fato de voc ter apresentado um timo desempenho nos testes de seleo,
indicando que seria um bom colega de trabalho. Para voc, por perder uma boa
oportunidade profissional. Uma pena mesmo...
Ele ouviu e memorizou aquele discurso. Para o resto da vida guardou grande
mgoa para com o servio militar.
A vida continuaria e prosseguir era preciso. Quem d os primeiros passos rumo
vida profissional deve contar com possibilidades de sucesso ou insucesso. Por enquanto,
continuaria a figurar no exrcito, mas no exrcito de desempregados.