São 15 os universitários que pensaram, produziram e escreveram este número do 20.° aniversário da Notícias Magazine. Vieram de todas as universidades portuguesas com cursos de Comunicação Social - e são os melhores alunos finalistas. Têm a idade da revista, chegaram de todo o país. E dizem isto TEXTO OE RICARDO J. RODRIGUES FOTOGRAFIAS DE GERARDO SANTOS, LEONARDO NEGRÃO E PAULO SPRANGER/GLOBAL IMAGENS UNIVERSIDADE CATÓLICA DE LISBOA «FOI O PRIMEIRO CONTACTO REAL COM O JORNALISMO. E COMECEI LOGO DE FORMA PROVEITOSA, A ENTREVISTAR UMA BANDA QUE ADMIRO.»
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CATÓLICA 20.° Vieram...São 15 os universitários que pensaram, produziram e escreveram este número do 20. aniversário da Notícias Magazine. Vieram de todas as universidades portuguesas
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São 15 os universitários que pensaram,
produziram e escreveram este número do
20.° aniversário da Notícias Magazine. Vieram
de todas as universidades portuguesas com
cursos de Comunicação Social - e são
os melhores alunos finalistas. Têm a idade da
revista, chegaram de todo o país. E dizem istoTEXTO OE RICARDO J. RODRIGUES FOTOGRAFIAS DE GERARDO SANTOS, LEONARDO NEGRÃO E PAULO SPRANGER/GLOBAL IMAGENS
UNIVERSIDADE CATÓLICADE LISBOA
«FOI O PRIMEIROCONTACTO REAL COMO JORNALISMO. ECOMECEI LOGO DEFORMA PROVEITOSA,A ENTREVISTAR UMABANDA QUE ADMIRO.»
Dedirresponsabilidades políti-
cas a quem conduziu a nossa ge-ração para este beco sem saída.»
«Falar dos que têm a nossa ida-
de c são obrigados a emigrar pa-m m ra fazer qualquer coisa da vida.»II «Contarahistóriadosquesãojo-\\ vens como nós e têm ideias bri-
lhantes.» «Ou dos que foram ao passado recuperar pro-fissões que estavam abandonadas.» «Compreender o
paíshá vinte anose.apartirdaí, olhar paraafrente.»Estas foram algumas das primeiras ideias que
nos trouxeram os estudantes de Comunicação So-cial de todo o país a quem iriamos entregar a edi-
ção do vigésimo aniversário da Notícias Magazine.Se algum receio houvesse de que a inexperiênciapoderia tornar a revista vaga, ele dissipar-se-ia ao
primeiro contacto, precisamente com estas ideias.A ideia de fazer a edição dos 20 anos com jovens de
20 anos surgiu quando estávamos a celebrar a edição
TiAGO MARTINS - 22 ANOSUNIVERSIDADE DE COIMBRA
«FOI ENRIQUECEDORCONTACTAR COMPROFISSIONAISDA REVISTA E COMCOLEGAS DE TODOO PAÍS. E FOI MUITOIMPORTANTE PODERFAZER TRABALHOS COMTANTA ENVERGADURAE EXIGÊNCIA.»
1000 desta revista de domingo do DNedoJN, em ju-nho do ano passado. O projeto ficou guardado parauma efeméride de peso: o vigésimo aniversário da re-vista. Entregar a direção de uma revista a uma figu-ra notável da sociedade tinha sido uma hipótese emcima da mesa, mas era uma ideia batida. Já a impren-saestrangeiraotinhafeito, já os jornais portuguesesotinham feito. E nós sabíamos que nunca poderíamoschegar aos calcanhares da Time com aquele número
especial de 2009, em que o humorista Stephen Col-bert se fez diretor e conseguiu - sem ligeireza nenhu-
ma - pôr o mundo a pensar na Guerra do Iraque. De-cidimos que haveriam de ser os jovens na casa dos 20anos - e que querem ser jornalistas - acontrolar a edi-
ção de uma revista com duas décadas de vida. E isto é
maisdoqueumaideia inédita. É também uma manei-
ra de preferir o futuro à nostalgia.Contactámos todas as universidadesdo pais com cur-
sosdeComunicação Social, Equasetodasresponderam.Pedimos-lhes que selecionassem o melhor finalista
de Jornalismo. Então houve quem escolhesse os alunoscom melhormédiado curso, com melhor média nas ca-deiras de jornalismo ou quem, como a Universidade deTrás-os-Montes e Alto Douro, montasse um processode seleção. A Bárbara Matias veio de Vila Real paraa Notícias Magazine porque, de entre os alunos de VilaReal, foi ela quem escreveu o melhor texto sobre o futu-ro do jornalismo. Acabou por fazer a peça de moda des-ta edição. Em meados de março, estavam encontrados15 nomes de 15 estabelecimentos diferentes. Marcámos,no finaldessemês,aprimeirareunião.Epercebemos lo-
go que este número nãoiaser brincadeira.
ÀS ARMASO que é que gostavam de ler numa revista? Foi assim
que arrancaram as hostilidades, no primeiro encontroda redação com os estudantes. O Tiago Martins, fina-lista de Jornalismo na Universidade de Coimbra, qua-se saltou da cadeira. «Está na hora de fazer perguntasincómodas aos políticos. Foram eles que conduziram a
UNIVERSIDADELUSÍADA, LISBOA
«DUAS LIÇÕESQUE APRENDI:LEVAR PAPELE CANETA PARAONDE QUERQUE VA E SABERESTAR COMAS PESSOAS,INDEPENDENTE-MENTE DASUA POSIÇÃOSOCIAL.»
nossa geração a este ponto em que não temos perspeti-vasdetrabalho.independénciaoucasaprópria.»
De voltadamesa começaram asaltar nomes. «Se es-
colhermos um antigo ministro para crucificar, esta-
mos a arranjar um bode expiatório», dizia com razão
Filipe Pardal, da Universidade do Algarve. Não demo-
rou muito a surgir o nome de u m antigo presidente da
República. Um estadista, mais do que um governan-te, garantiria uma análise suficientemente próxi ma e
distante darealidade.Trêsalunos haveriam, semanas
depois, de entrevistar Jorge Sampaio.Foi a Susana Serra, da Escola Superior de Educa-
ção de Portalegre, quem se lembrou de falar de emi-
gração. «E um problema real que estamos a viver, es-
te da fuga de cérebros. Na minha geração já perdi a
conta aos am igos que se mudaram para outros países.
Antigamente saíam as pessoas mais pobres, hoje sa-
em as que têm maiores aptidões.» E, em vez de fazei"
uma reportagem igualatodasasoutras,aaíunado Po-
litécnico de Portalegre resolveu o problemacom umaideia fresca. Entrevistar por c/wtduas das suas melho-
res amigas que fugiram para paragens distantes.
Neste número acriaçãoera tudo. Issoé visível no for-
mato que Maria Martinho, da Universidade Fernando
Pessoa, e Marta Portocarrero, da Universidade do Por-
to, escolheram para o seu artigo. As raparigas passa-ram horas nos arquivos dos jornais a investigar como
eraPortugaleomundoeml992,anodcfuridaçãoda re-
vista e, também, ano em que nasceram. «Porque é quenão fazemos o artigo como se fosse uma carta de uma
amiga que mora no Porto para outra amiga que moraem Lisboa.acontaroseu dia?» Assim foi.
Às tantas, o Ruben Carvalho, da Universidade Téc-nicade Lisboa, avisa que arevistanão pode ser só aná-lise, ele também quer ler o que a malta de 20 anos an-da a fazer bem. «Há tipos da nossa idade que estão afazer coisas absolutamente inovadoras. Temos de fa-lar deles.» O Anthony McMurray (que é filho de paisul—africano e mãe moçambicana), do Instituto deNovas Profissões, disse que conhecia alguns nomes.E os dois atiraram-se de cabeça a traçar os perfis das
jovens mentesbrilhantes do país.A Jessica Santos, da Universidade Lusófona do
Porto, é uma rapariga preocupada com questões de
ecologia. Mas, em vez de ambiente, decidiu escreversobre sustentabilidade económica: profissões que ti-nham sido abandonadas e que voltaram a ganharvida pela mão dos mais novos. Ainda veio a Sandra
Mesquita, do Instituto da Maia, reivindicar espaçoparaamúsica.«Somos jovens e, como emqualquer ge-ração, a música define-nos.» Queria entrevistar umabanda portuguesa, com certeza. Quem é consensual
na geração que agora tem 20 anos? A resposta nãopodia ser mais surpreendente: um grupo nascido háduas décadas, falecido há uma e que este ano volta ao
palco para matar a sede aos saudosistas. Os Ornatos
Violetaacabariamporesclareceroque nunca tinhamesclarecido à Sandra, ao Ricardo Cruz Andrade - que
1 '{, 1- 2? MíOÍUNIVERSIDADE DO MINHO
«ATÉ AQUI, NÓS ESTUDÁVAMOSJORNALISMO, MAS 0 MUNDODA IMPRENSA ESTAVA-NOSVEDADO. CONHECI GENTEINTERESSANTE E, SOBRETUDO,
estuda na Universidade Catól ica em Lisboa e toca nu-ma banda alternativa - e à Sofia Serrano, do Politéc-
nico de Coimbra. Uma rapariga tão fã do grupo por-tuense que, nofimda conversa, não resistiuapedirumautógrafo. «Para uma amiga», disse.
SNVASÀOAÍíS. 'WSOAs ideias estavam prontas, agora era pô-las em mar-cha. Cada grupo de jovens repórteres teria um jor-nalista da redação da Notícias Magazine a prestar--lhe aconselhamento e apoio. Mas o trabalho, asen-trevistas, os contactos, tudo seria tratado por eles.
Até ao final de abril, todos os artigos deveriam estar
prontos - e claro que a maioria esticou o prazo, co-
moqualquerjornalistaque se preze.
Alguns viajaram até Lisboa, outros foram ao Por-
to.uns quantos andaramemrodalivre pelo país, sem-
pre à caça das histórias. Na véspera da entrevista a
Jorge Sampaio, o João Gonçalves, da Universidadedo Minho, trazia para jantar uma lista de perguntase uma confissão: «Quando nos contactaram, pensava
que nós tínhamos de pagar para poder participar nes-
te projeto.» A jornalista Célia Rosa, que estava a au-xiliar o grupo que ia entrevistar o ex-presidente, ain-da retorquiu: «Achavas que ias pagar os transportes,a alimentação e as estadas para poderes fazer estes
trabalhos?»OJoão, tal como váriosoutros alunos mais
tarde confessaram, não só achava que teria de pagaras despesas, como ainda desembolsar uma taxa parapoder dar o rosto a esta edição especial. «Nunca, mas
mesmo nunca, dêem a precariedade como certa», res-
pondia a Célia. O jornalismo, concluiríamos todos à
sobremesa, c um exercício de responsabilidade social.
E isso deve começar dentro dos próprios jornais.Num instante chegou o dia 10 de maio. Os artigos
estavam todos entregues, as fotografias prontas e a
equipa gráfica com a paginação em andamento. Fo-
ram instaladas várias secretárias e computadoresextra no quinto piso do edifício Diário de Notícias,
em Lisboa, onde fica a Notícias Magazine. Uma áreaficaria reservada para a edição de vídeo, e, aí, o
A escolha das capasdos 20 anos feita
pela equipa de jovens
cornasuprevisâodeCatarina Carvalho,Rui Leitão e RicardoJ. Rodrigues (1). Sofia.
russo, veio para Portugal bem novo, e agora, quasesem sotaque, estuda Comunicação e Multimedia naUniversidade Lusíada, em Lisboa.
Durante dois dias, os jovens jornalistas invadiram a
redação para ultimar a edição especial. E fizeram tu-do o que havia para fazer. Uma equipa andou a esco-lher as cartas dos leitores para a secção Faça-se Ouvir.Outros puseram-seaeditarvídeos da entrevistaa Sam-
paio e aos Ornatos Violeta. Duas equipas produziramfilmes - um sobre osbastidoresdo projeto N M 20 Anos,outro com entrevistas de rua sobre como era a vida há
duasdécadas(estãotodosdisponíveisnapáginaon/meeno Facebookda revista). E todos participaram cm reu-niões de planeamento e escolha de primeira página doDiáriodeNotíciaseJornaláeNotícias - as nossas casas.
Depois houve um grupo que correu duas décadas deNotícias Magazine para escolher vinte capas emblemá-ticas. E outros que iam alterando a planificação dos ar-tigos à medida que iam chegando páginas de publ ici-dade. Isso deu conta do juízo à Patrícia Rebelo, da Uni-versidade Nova de Lisboa, que tinha escrito um artigosobre os dez objetos essenciais para um jovem de 20anos e que, a meio do primeiro dia, tinha uma página,na manhã seguinte tinha duas páginas seguidas e, aofim tarde, duas páginas isoladas. Mas é assi m agestão de
uma publicação - e os alunos viveram-na, tal como elaé.Na tarde do dia 11, Rui Leitão, diretor de arte, entre-
gou os artigos paginados aos autores. «É preciso fazer
cortes, ajustar o texto, escrever legendas e destaques.»Os grupos invadiram então a secção gráfica para o maisdoloroso dos processos jornalísticos: eliminar texto.
Oquevaleéque.ameio da tarde.opaginador Vítor Cos-ta não só conseguiu partir uma haste dos óculos comopôr um grupo inteiro debaixo da mesa à procura do ob-
jeto perdido. Atenuou-se o drama com gargalhadas.Os estudantes - que por esta altura já tinham dei-
xado de ser universitários para passarem a ser jor-nalistas inteiros - ainda estiveram com o gabinetede revisão de texto, aprenderam a ajustar os artigosao novo acordo ortográfico e à linha editorial da re-vista. E, quando o relógio soou as nove da noite, o
quinto piso do Marquês era uma redação cansada,mas satisfeita. Profissionais e amadores.
Seguindo a tradição dos velhos jornais lisboetas,toda a equipa da edição especial de aniversário daNotícias Magazine acabaria a noite jantar no BairroAlto. Cá fora, enquanto fumava um cigarro, a Ma-dalena Marques Pinto - que é a assistente editoriale por isso o ai-jesus de toda a redação - olhava paranovosevelhosc comentava com ajornalis ta Catari-na Pires: «Fez-se disto uma coisa bonita, pá.»
«Há muitas publicações que convidam pessoasdo exterior para dirigi rem os jornais», dizia Catari-na Carvalho, diretora executiva da Notícias Maga-zine. «Mas são sempre pessoas que já conhecemos,
que já sabemos como pensam.» De facto, não sabía-mos o que estes universitários pensavam, para on-de iriam, com quem queriam falar. «Foi quase uminquérito a uma geração sobre a qual se fala muitomas se ouve pouco. E o melhor de tudo foi ver em-penho, originalidade, um profissionalismo exem-plar.» Se o futuro de Portugal são eles, então aindahá esperança para este país. •