Top Banner
42 M MA AX XI IL LL LA AR RI IS S JANEIRO 2013 Ciência e prática Reabilitação oral em doentes oncológicos caso clínico CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 42
14

caso clínico - dentalface.netdentalface.net/images/artigos/reabilit.pdf · caso clínico CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 42. MAXILLARIS JANEIRO 2013 43 Ciência e prática

Oct 06, 2020

Download

Documents

dariahiddleston
Welcome message from author
This document is posted to help you gain knowledge. Please leave a comment to let me know what you think about it! Share it to your friends and learn new things together.
Transcript
Page 1: caso clínico - dentalface.netdentalface.net/images/artigos/reabilit.pdf · caso clínico CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 42. MAXILLARIS JANEIRO 2013 43 Ciência e prática

42 MMAAXXIILLLLAARRIISS JANEIRO 2013

Ciê

ncia

e p

rátic

a

Reabilitação oral em doentes oncológicoscaso clínico

CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 42

Page 2: caso clínico - dentalface.netdentalface.net/images/artigos/reabilit.pdf · caso clínico CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 42. MAXILLARIS JANEIRO 2013 43 Ciência e prática

MMAAXXIILLLLAARRIISS JANEIRO 2013 43

Ciência e prática

IntroduçãoO cancro oral refere-se ao conjunto de tumores localizadosna região dos lábios, cavidade oral e/ou orofaringe, sendoo quinto tumor mais comum do mundo e com valores deincidência que rondam os 500.000/ano2. Durante as cincoúltimas décadas, a taxa de sobrevivência a cinco anos nãotem sofrido alterações, verificando-se que aproximadamen-

Nuno Braz de Oliveira

AUTORES:

NNuunnoo BBrraazz ddee OOlliivveeiirraaMédico Dentista. Pós-graduado em Ortodontia pela Universidade de Nova

Iorque (NYU). Residência de dois anos em Cirurgia Oral na NYU. Prática exclusiva em Ortodontia e Cirurgia Oral.

Diretor clínico da Clínica Dental Face em Lisboa.

JJoosséé NNuunnoo RRaammoossLicenciatura em Medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa.

Especialista em Cirurgia Plástica, Reconstrutiva e Estética C.H.L.O.

GGuuiillhheerrmmee GGuueerrrraaMédico Dentista. Bacharelato em Prótese Dentária. Prática exclusiva em

Prostodontia e Oclusão. Clínica Dental Face em Lisboa.

DDuuaarrttee BBrraazz ddee OOlliivveeiirraaMédico Dentista. Clínica Dental Face em Lisboa.

FFrraanncciissccoo BBrraannddããoo ddee BBrriittooMédico Dentista. Especialização em Periodontologia pela Faculdade

de Medicina Dentária da Universidade de Lisboa (FMDUL). Mestrado emPeriodontologia pela FMDUL. Docente da Especialização em Periodontologia

da FMDUL. Tesoureiro da Sociedade Portuguesa de Periodontologiae Implantes (SPPI). Prática exclusiva em Periodontologia e Implantes.

Clínica Dental Face em Lisboa.

Lisboa.

te 47% dos pacientes com carcinoma na cavidade oral oufaringe e 44% na laringe morrem cinco anos após terem sidodiagnosticados1.

95% dos cancros orais são detetados em pacientes commais de 40 anos, apresentando uma média de 65 anos na

CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 43

Page 3: caso clínico - dentalface.netdentalface.net/images/artigos/reabilit.pdf · caso clínico CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 42. MAXILLARIS JANEIRO 2013 43 Ciência e prática

44 MMAAXXIILLLLAARRIISS JANEIRO 2013

Ciê

ncia

e p

rátic

a altura do diagnóstico. Os seus principais factores etiológi-cos são o tabaco e o álcool, salientando-se a sinergia queapresentam, quando ambos estão presentes.

Normalmente é assintomático nos estádios iniciais e o seudiagnóstico é geralmente tardio, devido à inespecificidadedos sintomas que o paciente apresenta, o que atrasa a pro-cura de cuidados médicos. A abordagem dos pacientes comcancro oral representa um desafio multidisciplinar, devido àcomplexidade e diversidade de tratamentos que estes doen-tes requerem. Os princípios gerais de abordagem do pacien-te com cancro oral são: avaliação minuciosa do paciente eda doença; diagnóstico, classificação e estadiamento dadoença tumoral; realização de um plano de tratamento rigo-roso; coordenação das várias modalidades terapêuticas;reconstrução e reabilitação pós-tratamento e suporte fisioló-gico e social. O médico dentista tem assim um papel ativo,não só no rastreio e diagnóstico precoce desta patologia,porque disponibiliza cuidados de saúde oral à população emgeral, que lhe permitem intervir sobre fatores de risco comoo tabaco e/ou álcool, mas também no acompanhamentodurante e após o tratamento.

O paciente oncológicoO tratamento do paciente oncológico comportaum conjunto de possíveis complicaçõese efeitos secundários resultantesdo tratamento da patologia,aos quais o médico den-tista deve estar atentoe saber como agir,

não só durante as consultas de rotina, como também duran-te o planeamento do tratamento. O tratamento do cancro oralpassa, normalmente, pela realização de um procedimentocirúrgico, quimioterapia ou radioterapia, podendo haver aassociação de alguns destes em situações de maior maligni-dade. Os procedimentos cirúrgicos podem envolver a remo-ção de grandes quantidades de tecidos e, por sua vez, aradioterapia e quimioterapia vão causar alterações a nívelcelular. Algumas das principais complicações a nível dentá-rio e oral descritas na literatura como consequência destasterapias são a mucosite e infeções orais, hiposalivação, des-mineralização dentária, disgeusia (alteração do paladar),alterações funcionais (fonação, deglutição e mastigação),trismos, osteorradionecrose e malnutrição.

A mucosite e as infeções orais resultantes da quimio e radio-terapia criam desconforto e dor durante a utilização de pró-teses que fiquem assentes ou em contacto com a mucosa.

A hiposalivação vai causar alterações a diversos níveis, des-de maior propensão para o desenvolvimento de cáries, porausência do efeito tampão e lavagem, à alteração do pala-dar, não esquecendo também que a saliva desempenha umpapel importante na retenção de algumas próteses. A altera-ção das funções básicas como a deglutição e mastigação

irá refletir-se na capacidade de recuperação dopaciente.

Os trismos causam uma limitaçãoda abertura da boca, que dificul-

ta a mastigação e o acesso àszonas a reabilitar.

CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 44

Page 4: caso clínico - dentalface.netdentalface.net/images/artigos/reabilit.pdf · caso clínico CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 42. MAXILLARIS JANEIRO 2013 43 Ciência e prática

MMAAXXIILLLLAARRIISS JANEIRO 2013 45

Ciê

ncia

e p

rátic

aA osteorradionecrose é uma situação de difícil tratamento epode levar à falha das reabilitações por perda ou alteraçãodo osso de suporte.

Salienta-se, ainda, um quadro de alterações sistémicas e psi-cológicas que também podem condicionar o plano de trata-mento, quer por défice nutricional, reduzindo a capacidadede cicatrização, quer pela própria motivação do paciente.

ReabilitaçãoA reabilitação do paciente oncológico tem como objetivo prin-cipal devolver-lhe a qualidade de vida pessoal e social. Ela éde índole multidisciplinar, envolvendo uma equipa de espe-cialistas muito diversa que inclui o cirurgião, o médico onco-logista, enfermeiras, o psicólogo, o médico dentista, o higie-nista oral, fisioterapeutas, nutricionistas, técnicos de prótesee a assistente social. O planeamento da reabilitação não deve

começar depois do tratamento da patologia, mas sim a partirdo momento do diagnóstico, de modo a que haja uma maiorcoordenação entre as diferentes equipas envolvidas.

Numa fase pré-cirúrgica deve-se debater com o paciente assuas necessidades e expetativas face à reabilitação e ideal-mente registar e recolher toda a informação que vá influenciarou condicionar a reabilitação. A realização de impressões dasduas arcadas, registo de mordida e fotografias extra e intra-orais podem vir a facilitar os trabalhos a realizar no futuro2.Após a cirurgia de remoção de tumores da maxila e/ou man-díbula o paciente encontra-se normalmente “mutilado” pelaextensão da mesma, pelo que a reabilitação é fundamentalpara prevenir deformações faciais, manter a continuidadeóssea e facilitar as funções de mastigação, deglutição e fona-ção, não esquecendo que a redução da morbilidade e o esta-belecimento de uma qualidade de vida aceitável são tambémessenciais. As diferenças entre os defeitos criados na maxilae na mandíbula vão influenciar a reabilitação, a qualidade devida, o nível de função psico-social, entre outros. As princi-pais diferenças relacionadas com a reabilitação encontram-seresumidas no quadro 15.

A reconstrução cirúrgica, apesar de permitir obter resultadosaceitáveis na restauração de defeitos ósseos e de tecidosmoles, da continuidade da mandíbula e da forma da língua5,se não for associada a uma adequada reabilitação oral, podepermanecer insatisfatória no que se refere à mastigação,fonética, estética e deglutição2. As soluções disponíveis para

Defeitos na maxila Defeitos na mandíbula

qualidade • Alguns casos permitem reabilitar • Maioria dos casos com comprometimentoao ponto de restituir níveis quase normais da função e estética. Difícil de reabilitarde função e estética. a níveis pré-cirúrgicos.

• Qualidade de vida aceitável. • Qualidade de vida limitada.

Reabilitação • Normalmente imediata • Primariamente cirúrgico.modo e relativamente simples. • Demorado.

• Resultados mais previsíveis. • Resultados menos previsíveis.

eficácia • Eficazes a curto e a longo prazo. • Menos eficazes.

Cirurgia de reconstrução • Não é a primeira escolha devido à eficácia • Melhoramento estético e funcional.da reabilitação prostodôntica.

• Pode atrasar o diagnóstico de recidivas. • Condiciona a reabilitação prostodôntica.

Equipa de reabilitação • Pode ser realizada apenas • Obriga necessariamente uma equipapelo prostodontista, mas não é o ideal. multidisciplinar.

Quadro 1. Adaptado de Roumanas et al., 2006.

CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 45

Page 5: caso clínico - dentalface.netdentalface.net/images/artigos/reabilit.pdf · caso clínico CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 42. MAXILLARIS JANEIRO 2013 43 Ciência e prática

46 MMAAXXIILLLLAARRIISS JANEIRO 2013

Ciê

ncia

e p

rátic

a a reabilitação prostodôntica do paciente oncológico, após areconstrução, são as próteses removíveis e as próteses fixasdento e implantosuportadas. As próteses removíveis normal-mente resultam em próteses instáveis e pouco funcionais eas próteses fixas dentosuportadas, nos casos de ressecçõesextensas, são na maioria das vezes inviáveis. Assim, o recur-so a implantes endósseos permite providenciar soluçõesprotéticas mais estáveis e satisfatórias a nível funcional5-7.Contudo, a adesão do paciente à reabilitação com implantesmuitas vezes é comprometida pelo seu estado psicológico,face ao esforço adicional que terá de fazer ao submeter-se amais cirurgias. Quando se opta por esta solução surgemduas questões importantes que envolvem os pacientes sub-metidos à radioterapia. A primeira refere-se à viabilidade dosimplantes colocados nestes pacientes, ou seja, a preocupa-ção de que as alterações causadas nos tecidos moles e durospela radiação comprometam a osteointegração dos implan-tes colocados. A literatura científica indica que a extensãodestas alterações depende da dose, local e duração do trata-mento com radiação e torna, à partida, o doente irradiado nacabeça e pescoço, mais suscetível ao desenvolvimento deosteorradionecrose dos maxilares e sujeito a maiores taxasde insucesso implantar19. A segunda questão está relaciona-da com a altura da colocação dos implantes. Existem autoresque defendem que os implantes devem ser inseridos na altu-ra da cirurgia de ressecção – colocação primária8, enquantoque outros advogam que devem ser colocados depois do tra-tamento oncológico estar completo – colocação secundária8,

aproximadamente seis a 12 meses após radioterapia2. Asvantagens de cada uma das situações estão resumidas noquadro 22,8,9.

Reabilitação na maxila

Os maxilares são os ossos mais importantes do esqueletodo terço médio da face. Juntamente com os ossos malaresfornecem o suporte para os músculos responsáveis por fun-ções como a expressão facial, mastigação, fonação, respira-ção e deglutição. Têm, ainda, importância no estabelecimen-to de grande parte do contorno facial. A decisão de recons-trução maxilar depende, em parte, da extensão da maxileto-mia – que frequentemente causa uma comunicação entre ascavidades oral, nasal e do seio maxilar. Na reconstrução damaxila são usados diversos tipos de enxertos, entre eles,enxertos osteocutâneos do perónio e do rádio, da grelhacostal e enxertos vascularizados e não vascularizados dacrista ilíaca interna, com retalho do músculo oblíquo10.Segundo Sarukawa10, são várias as indicações para areconstrução maxilar, incluindo-se a reconstrução imediataapós extirpação de um tumor maligno/benigno ou a recons-trução secundária. A reconstrução imediata após a cirurgiaressectiva de um tumor maligno distingue-se dos outrostipos de reconstrução maxilar, pois está em causa a maligni-dade da doença, sendo o primeiro objetivo a remissão damesma e prevenção de recidiva local, em detrimento dareconstrução, que passa assim para segundo plano. A rea-bilitação protética dos defeitos maxilares ganha, assim, umamaior importância, principalmente quando o objetivo ime-diato é encerrar a comunicação entre a cavidade oral e anasal e/ou sinusal, pois a circulação de ar e fluídos entreestas cavidades é bastante comprometedora da função.

1. Evita que a cirurgia de implantes seja realizada em osso irradiado, podendo esperar-se um menor risco de osteorradionecrose.

2. Permite que a osteointegração se inicie antes da radioterapia.

3. Permite a realização de obturadores cirúrgicos retidos nos implantes, permitindo um pós-operatório mais favorável na mastigação e na fala.

4. Evita ao paciente mais um tempo cirúrgico.

5. Diminui o tempo de profilaxia e necessidade de terapia hiperbárica.

6. Período de reabilitação mais curto.

1. Evita que haja um posicionamento incorreto dos implantes,impossibilitando a reabilitação protética em casos em que a cicatrização crie alterações anatómicas importantes.

2. Evitar que a colocação de implantes interfira com o tratamentooncológico, atrasando a radioterapia.

3. A percentagem alta de recorrência local ou morte nos 13 meses a dois anos após a ressecção tumoral faz com que a terapia com implantes imediatos, com o dispêndio de esforço, custo e potenciais complicações,resulte em próteses que não chegariam a ser usadas.

4. Permite que o paciente estabilize, haja a cicatrização dos tecidos, conseguindo-se avaliar assim a necessidade de retenção e estabilidade adicional necessária.

Vantagens da colocação primária Vantagens da colocação secundária

Quadro 2. Adaptado de Schepers et al., 2006, e Schoen et al., 2008.

CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 46

Page 6: caso clínico - dentalface.netdentalface.net/images/artigos/reabilit.pdf · caso clínico CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 42. MAXILLARIS JANEIRO 2013 43 Ciência e prática

MMAAXXIILLLLAARRIISS JANEIRO 2013 47

Ciê

ncia

e p

rátic

a

Têm sido publicados vários sistemas de classificação dosdefeitos ósseos, entre eles o proposto por Okay11 em 2011,e vários algoritmos para os procedimentos de reconstrução,onde se sugere que a maioria desses defeitos maxilares sejareconstruída com enxertos osteocutâneos livres10. Os siste-mas de classificação permitem aos cirurgiões e médicosdentistas responsáveis pela reabilitação o estabelecimentode um prognóstico com base nas características de um defeitoem particular. O sistema de classificação dos defeitos criadospelas maxiletomias, proposto por Okay, baseia-se na localiza-ção, tamanho, conformação do defeito e peças dentárias pre-sentes11. Geralmente uma reabilitação imediata, ou de curtoprazo, passa pela confeção de uma prótese cirúrgica imediata,colocada durante o tempo da intervenção cirúrgica, devido aofacto de uma prótese definitiva não se encontrar indicada até àestabilização do sítio cirúrgico4,13.

A reabilitação dentária na maxila pode ser obtida através de pró-teses removíveis dento-mucosuportadas ou de próteses sobreimplantes endósseos2,4,12. No planeamento da reabilitaçãodevem ser tidos em consideração fatores como os movimentosda prótese, as alterações do tecido local, a presença de próte-ses obturadoras no palato, a extensão do defeito, a presença dedentes e o seu prognóstico, assim como o peso, o volume dareabilitação protética e a zona neutra, para além de fatores comoa quimioterapia ou radioterapia e a condição médica geral2,4,12.Por ser dependente de uma multiplicidade de fatores, a reabili-tação maxilar com próteses removíveis pode tornar-se bastantecomplexa e, por vezes, funcionalmente insuficiente, o que tornaa reabilitação com implantes osteointegrados uma alternativaviável, segura, confortável, eficaz biomecanicamente e maissatisfatória para o paciente2. Atualmente, é possível reabilitar aspeças dentárias através de uma reabilitação implantosuportadaindependente do obturador2, simplificando a manutenção pro-tética e aumentando a estética e qualidade de vida do paciente.

Em relação ao tipo de solução prostodôntica, esta podeser fixa ou removível, onde a removível ganha relativa van-

tagem por permitir uma higienização facilitada, um follow-upvisual do defeito e das margens cirúrgicas, para além do custoinicial e manutenção serem relativamente reduzidos quandocomparados com a fixa2. Quando utilizada uma reabilitação fixa,esta deve ser separada da prótese obturadora, de modo a per-mitir a remoção desta última para facilitar a higienização e ofollow-up da lesão, e deve ficar suficientemente afastada dasmucosas de modo a prevenir lesões traumáticas que podemevoluir para osteorradionecrose.

Mais recentemente surgiram os implantes zigomáticos que,em associação com os implantes convencionais, podem mini-mizar ou excluir a necessidade de enxerto ósseo ou mucoso, oque se traduz num menor tempo de hospitalização e menosdor e morbilidade2,14. Este tipo de implantes encontram-segeralmente indicados para a reabilitação prostodôntica emsituações de reabsorção maxilar extensa, ou como forma deancoragem de reabilitações protéticas, em defeitos maxilares,nomeadamente aqueles secundários à cirurgia oncológica2,14.As principais desvantagens apontadas a estes implantessão oacesso cirúrgico dificultado e a visibilidade reduzida, princi-palmente quando o paciente apresenta trismos e o potencialrisco de dano ocular2,14.

Cada caso de reabilitação maxilar deve ser analisado indivi-dualmente considerando todas as hipóteses, pois não existeuma única solução para a reabilitação de todos os defeitossecundários à cirurgia oncológica.

Reabilitação na mandíbulaO osso mandibular é um componente chave na função orofa-ríngea e na estética facial. A ressecção parcial ou total da man-díbula pode estar indicada por razões oncológicas, o que aca-rreta uma significativa morbilidade15. A reconstrução e reabili-tação funcional de pacientes sujeitos a ressecção mandibularpermanece um dos grandes desafios para a cirurgia maxilofa-cial e para a equipa de Medicina Dentária, pois a ressecçãomandibular envolve problemas estéticos e psicológicos, prin-cipalmente se for acompanhada de condiletomia16, assim comoincompetência na fala, mastigação, deglutição, controlo dasfunções salivares, respiração e desvio mandibular para o lado

CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 47

Page 7: caso clínico - dentalface.netdentalface.net/images/artigos/reabilit.pdf · caso clínico CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 42. MAXILLARIS JANEIRO 2013 43 Ciência e prática

Ciê

ncia

e p

rátic

a que sofreu a ressecção2,16. Quanto maior for a extensão dodefeito mandibular, pior será a disfunção e consequentementeo prognóstico da reabilitação protética, na medida em que,para além do tecido ósseo, também se encontra envolvidotecido mucoso, muscular e nervoso (sensitivo e motor)16.

A reabilitação destes defeitos mandibulares, unicamente atra-vés de componentes protéticos, não é, frequentemente, viável,uma vez que é necessária a reposição de tecido ósseo, muco-so e cutâneo2. Assim, na maioria das vezes, é possível maxi-mizar a mastigação do lado não afetado, sem o recurso a umasolução mais dispendiosa para o paciente17.

Para um defeito criado por uma mandibuletomia parcialencontra-se geralmente indicada a reposição da forma e fun-ção através de reconstrução óssea2,15,16,18.

A reconstrução da mandíbula pode ser executada no mesmotempo cirúrgico da ressecção mandibular2, sendo colocadoum enxerto ósseo suportado por placas metálicas adaptadasao contorno da mandíbula, permitindo assim reestabelecer acontinuidade da mesma2,15,18. A decisão de reconstruir a man-díbula concomitantemente com a ressecção do tumor, ouaguardar para uma segunda intervenção cirúrgica, prende-secom o potencial de malignidade do tumor. No caso de serbenigno, está indicada a reconstrução imediata ou aguardarpela estabilização da primeira intervenção para posteriorreconstrução. No caso de ser maligno, está indicado aguardarum a dois anos antes de se realizar a reconstrução, de modo apoder vigiar-se possíveis recorrências2.

A reabilitação prostodôntica neste “ambiente” reconstruí-do pode ser complexa devido à existência decomorbilidade médica do paciente, necessi-dade de quimioterapia ou radioterapia,

altura óssea suficiente, tecido mucoso alterado, xerostomia eperda de inervação motora e sensitiva, o que tanto podeinfluenciar negativamente a utilização de uma prótese dentáriaremovível mucosuportada como a utilização de uma próteseimplantosuportada2,15,18.

De qualquer forma, parece que a estabilidade e retençãoda reabilitação prostodôntica pode ser melhor asseguradacom o recurso a implantes endósseos2,15. Uma eventualcontraindicação da utilização dos implantes prende-secom a radioterapia, muitas vezes necessária e potencial-mente prejudicial à osteointegração do implante2,15. Duran-te alguns anos defendeu-se que a oxigenoterapia hiperbá-rica contribuía para reduzir esse risco, aumentando osucesso da osteointegração de implantes em doentesoncológicos sujeitos a essa radioterapia2,15. Mais recente-mente, Coulthard et al, em 2003, numa revisão sistemáti-ca, mostraram que não havia evidência científica de quali-dade a provar que o oxigénio hiperbárico possa melhorara sobrevivência de implantes em pacientes irradiados20.

A primeira escolha para a reconstrução mandibular tem sido oenxerto osteocutâneo do perónio, com ou sem o componentecutâneo, pois proporciona um osso de comprimento signifi-cativo, bicortical e com boa qualidade para a osteointegraçãode implantes2,15. Outras técnicas de reconstrução mandibularrecorrem a materiais de enxerto aloplásticos ou autólogos emcombinação com retalhos musculares pediculados, mas pare-cem ter uma taxa de complicações superior à encontrada nosenxertos livres15.

As próteses fixas e removíveis suportadas nos implantesendósseos constituem as duas principais opções de tratamen-to para restaurar as arcadas dentárias dos pacientes sujeitos a

cirurgia ressectiva da mandíbula18 e devem ser capazes derepor a função mastigatória. No sentido de maximizar a

reabilitação mandibular, todo o planeamento prosto-dôntico deve incluir e detetar elementos base do des-

enho de uma prótese, nomeadamente a distribuição dastensões exercidas durante a função, a estabilidade da

arcada, localização de componentes e a substituição de den-tes, bem como do reposicionamento do plano oclusal18.

Posteriormente à reabilitação dentária, é necessário um acom-panhamento próximo no sentido de prevenir possíveis com-plicações da reabilitação, como a mucosite, a periimplantiteou outras complicações tardias, tanto nos implantes como nosenxertos18. Uma vez mais, cada caso de reabilitação mandibu-lar deve ser analisado individualmente, considerando todas ashipóteses, pois também aqui não existe uma única soluçãopara a reabilitação de todos os defeitos secundários à cirurgiaoncológica.

48 MMAAXXIILLLLAARRIISS JANEIRO 2013

CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 48

Page 8: caso clínico - dentalface.netdentalface.net/images/artigos/reabilit.pdf · caso clínico CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 42. MAXILLARIS JANEIRO 2013 43 Ciência e prática

MMAAXXIILLLLAARRIISS JANEIRO 2013 49

Ciê

ncia

e p

rátic

a

Figs. 2 e 3. Fotografias intraorais da paciente, imediatamente antes da colocação dos implantes endósseos.

2 3

Caso clínicoPaciente do sexo feminino, com 71 anos de idade, que com-pareceu na nossa consulta com queixas de úlcera crónicana mucosa lingual mandibular direita. Foi-lhe diagnostica-do um carcinoma espinocelular.

Para remoção do tumor, foi-lhe efetuada uma mandibuleto-mia segmentar, bem como um esvaziamento cervical radicalmodificado. Na mesma intervenção foi realizada uma recons-trução provisória com placa de osteosíntese e parafusos.

Para reabilitação funcional e estética da paciente, doismeses depois, foram colocados cinco implantes endósseos,

num protocolo de carga imediata, com uma prótese híbri-da metalo-acrílica.

Passado um ano da reabilitação com implantes, verificou-sea falência do material de osteossíntese, que foi detetada,aquando de uma consulta de rotina, através da observaçãode uma mordida aberta do lado direito.

A paciente foi, de novo, intervencionada de forma à realiza-ção de uma reconstrução definitiva do defeito segmentaranteriormente criado, através de uma abordagem submandi-bular extraoral, pela colocação de um distrator interno uni-vetorial para se conseguir uma distracção do segmento man-dibular proximal até conseguir o preenchimento do defeito.Mais tarde, o distrator foi removido e foi colocada uma pla-ca de reconstrução do sistema matriz AO.

1

Fig. 1. Aspeto da cirurgiade mandibuletomia segmentar comesvaziamento cervical radical modificado.

CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 49

Page 9: caso clínico - dentalface.netdentalface.net/images/artigos/reabilit.pdf · caso clínico CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 42. MAXILLARIS JANEIRO 2013 43 Ciência e prática

50 MMAAXXIILLLLAARRIISS JANEIRO 2013

Ciê

ncia

e p

rátic

a

Figs. 4 e 5. Fotografias extraoraisda paciente, imediatamente antes

da colocação dos implantesendósseos.

Fig. 7. Ortopantomografia apósa colocação de cinco implantes.

Fig. 6. Ortopantomografia após cirurgiade recessão tumoral e antesda colocação dos implantes endósseos.

6

7

4 5

CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 50

Page 10: caso clínico - dentalface.netdentalface.net/images/artigos/reabilit.pdf · caso clínico CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 42. MAXILLARIS JANEIRO 2013 43 Ciência e prática

9

MMAAXXIILLLLAARRIISS JANEIRO 2013 51

Ciê

ncia

e p

rátic

a8

Figs. 8 a 11. Fotografias intraorais das prótesesacrílicas definitivas. A inferior implantosuportada

e a superior prótese total acrílicamucosuportada.

10

11

CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 51

Page 11: caso clínico - dentalface.netdentalface.net/images/artigos/reabilit.pdf · caso clínico CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 42. MAXILLARIS JANEIRO 2013 43 Ciência e prática

52 MMAAXXIILLLLAARRIISS JANEIRO 2013

Ciê

ncia

e p

rátic

a

Figs. 12 a 14. Fotografias intraorais,em oclusão, nas quais se verificauma mordida aberta do lado direito,que veio a significar uma falênciado material de osteossíntese.

12

13

14

CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 52

Page 12: caso clínico - dentalface.netdentalface.net/images/artigos/reabilit.pdf · caso clínico CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 42. MAXILLARIS JANEIRO 2013 43 Ciência e prática

MMAAXXIILLLLAARRIISS JANEIRO 2013 53

Ciê

ncia

e p

rátic

a18 19

16

15

17

Figs. 15 a 19. Fotografias intrae extraorais com quatro anosde follow-up.

CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 53

Page 13: caso clínico - dentalface.netdentalface.net/images/artigos/reabilit.pdf · caso clínico CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 42. MAXILLARIS JANEIRO 2013 43 Ciência e prática

54 MMAAXXIILLLLAARRIISS JANEIRO 2013

Ciê

ncia

e p

rátic

a

Figs. 20 a 22. Ortopantomografiae telerradiografia atuais,com quatro anos de follow-up.

21

20

22

CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 54

Page 14: caso clínico - dentalface.netdentalface.net/images/artigos/reabilit.pdf · caso clínico CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 42. MAXILLARIS JANEIRO 2013 43 Ciência e prática

MMAAXXIILLLLAARRIISS JANEIRO 2013 55

Ciê

ncia

e p

rátic

a

ConclusõesA reabilitação oral do paciente oncológico é um desafio multidisciplinar de elevada complexidade que deve ser planea-da de modo a integrar-se nos diversos procedimentos terapêuticos a que estes pacientes são sujeitos. Apesar dos ele-vados níveis de sucesso que se conseguem atingir no que toca à qualidade de vida, em alguns casos, o paciente vê-sedesmotivado perante o aumento da morbilidade frequentemente associada aos procedimentos efetuados e acaba pordesistir antes de concluir a reabilitação. É essencial que o médico dentista, como membro da equipa multidisciplinar,tenha conhecimento das complicações e alterações sistémicas subjacentes ao tratamento oncológico, de modo a aju-dar o paciente a eleger a melhor opção de reabilitação. Por outro lado, como prestador de cuidados básicos de saúdeda cavidade oral, o médico dentista encontra-se numa posição privilegiada, não só para fazer o rastreio da patologia,permitindo eventualmente detetá-la numa fase mais precoce, aumentando assim a probabilidade de sobrevivência dopaciente, como também o controlo desta depois de concluída a terapêutica e a reabilitação do paciente.

Bibliografia11.. KKaaoo SSYY,, CChhuu YYWW,, CChheenn YYWW,, CChhaanngg KKWW,, LLiiuu TTYY.. Detection and scre-

ening of oral cancer and precancerous lesions. J Chin Med Assoc.Mai 2009; 72(5):227-33.

22.. SSaannttooss AAMMMM,, SSiillvvaa AAJJSS.. Reabilitação oral em oncologia - implantesosteointegrados. ISCSEM. 2008.

33.. MMoooorree UUJJ,, eeddiittoorr.. Tumors of the mouth and the management of oralcancer in Principles of oral and maxillofacial surgery. 5th ed. Oxford(England): Blackwell Science; 2001. P. 224-40.

44.. BBeeuummeerr JJ,, CCuurrttiiss TTAA,, FFiirrtteellll DD.. Maxillofacial rehabilitation prostho-dontic and surgical considerations. St. Louis (US): The C.V. MosbyCompany; 1979.

55.. RRoouummaannaass EEDD,, FFrreeyymmiilllleerr EE,, BBeeuummeerr IIIIII JJ,, KKaappuurr KKKK.. Masticatory andswallowing threshold performances with conventional and implant-supported prostheses after mandibular fibula free-flap reconstruc-tion. J Prosthet Dent. Out 2006; 96(4):289-97.

66.. PPiiggnnoo MMAA.. Conventional prosthetic rehabilitation after free-flapreconstruction of a maxillectomy defect: a clinical report. J ProsthetDen 2001; 86(6):578-81.

77.. GGaarrrreett NN,, FFrreeyymmiilllleerr EE,, GGeerrrraatttt BB,, KKaappuurr KKKK.. Efficacy of conventionaland implant supported mandibular resection prostheses: study over-view and treatment outcomes. J Prosthet Dent. Jul 2006; 96(1):13-24.

88.. SScchheeppeerrss RRHH,, SSllaaggtteerr AAPP,, KKaaaannddeerrss JJHHAAMM,, vvaann ddeerr HHooooggeenn FFJJAA,,MMeerrkkxx MMAAWW.. Effect of postoperative radiotherapy on the functionalresult of implants placed during ablative surgery for oral cancer. Int JOral Maxillofac surg. 11 Mai 2006; 35:803-8.

99.. SScchhooeenn PPJJ,, RRaagghhooeebbaarr GGMM,, BBoouummaa JJ,, RReeiinnttsseemmaa HH,, BBuurrllaaggee FFRR,, RRoooo--ddeennbbuurrgg JJLLNN ee ccooll.. Prosthodontic rehabilitation of oral function inhead-neck cancer patients with dental implants placed simultane-ously during ablative tumos surgery: an assessment of treatment out-comes and quality of life. Int J Oral Maxillofac Surg. 4 Set 2008;37:8-16.

1100.. SSaarruukkaawwaa SS,, SSaakkuurraabbaa MM,, AAssaannoo TT,, YYaannoo TT,, KKiimmaattaa YY,, HHaayyaasshhii RR,, eettaall.. Immediate maxillary reconstruction after malignant tumor extirpa-tion. EJSO 2006; 33:518-523.

1111.. OOkkaayy DDJJ,, GGeennddeenn EE,, BBuucchhbbiinnddeerr DD,, UUrrkkeenn MM.. Prosthodontic guideli-nes for surgical reconstruction of the maxilla: a classification systemof defects. J Prosthet Dent 2001; 86:352-63.

1122.. WWaanngg RRRR.. Sectional prosthesis for total maxillectomy patients: a cli-nical report. J Prosthet Dent 1997; 78(3):241-244.

1133.. AArraaúújjoo CCRR,, MMeeyyeerr GGAA,, SSoouuzzaa IIAA.. Prevalência de próteses buco maxi-lo faciais na Faculdade de Odontologia da Escola Bahiana de Medici-na e Saúde Pública em Salvador, Bahia. Ver Port Estomatol Cir Maxi-llofac 2009; 50:133-139.

1144.. HHuu YYJJ,, HHaarrddiiaannttoo AA,, LLii SSYY,, ZZhhaanngg ZZYY,, ZZhhaanngg CCPP.. Reconstruction of apalatomaxillary defect with vascularized iliac bone combined with asuperficial inferior epigastric artery flap and zygomatic implants asanchorage. Int J Oral Maxillofac Surg. 2007; 36:854-857.

1155.. HHuunnddeeppooooll AACC,, DDuummaannss AAGG,, HHooffeerr SSOOPP,, FFookkkkeennss NNJJWW,, RRaayyaatt SSSS,,vvaann ddeerr MMeeiijj EEHH,, eett aall.. Rehabilitation after mandibular reconstructionwith fibula free-flap: clinical outcome and quality of life assessment.Int J Oral Maxillofac Surg. 2008; 37:1009-1013.

1166.. PPrraakkaasshh VV.. Prosthetic rehabilitation of edentulous mandibulectomypatient: a clinical report. Indian J Dent Res 2008; 19:257-260.

1177.. SShheettttyy PP,, BBaalliiggaa MM,, RRooddrriigguueess SS,, DDiixxiitt SS.. Prosthetic managementfollowing mandibular resection: a clinical report. J Nepal Dent Ass2009; 1(10):57-60.

1188.. HHaannnneenn EEJJMM.. Recreating the original contour in deformed mandiblesfor plate adapting. Int J Oral Maxillofac Surg 2006; 35:183-185.

1199.. IIhhddee SS,, KKoopppp SS,, GGuunnddllaacchh KK,, KKoonnssttaannttiinnoovviicc VVSS.. Effects of radiationtherapy on craniofacial and dental implants: a review of literature. OralSurg Oral Med Oral Pathol Oral Radiol Endod 2009; 107: 56-65.

2200.. CCoouulltthhaarrdd PP,, EEssppoossiittoo MM,, WWoorrtthhiinnggttoonn HHVV,, JJookkssttaadd AA.. Therapeuticuse of hyperbaric oxygen for irradiated implant patients: a systema-tic review. J Dent Educ 2003 Jan; 67(1): 64-8.

CC Oliveira New.qxp 3/1/13 16:14 Página 55