-
Caso 18: “Aprender a relaxar e relaxar para aprender:
metodologias ativas de ensino em biologia” Professora: Carolina
Corado da Silva OliveiraQuem é a professora: Licenciatura e
bacharelado em Ciências Biológicas, com mestrado em genética e
biologia molecular, leciona na rede federal de educação científica
e tecnológica há oito anos. Foi destaque estadual do Rio Grande do
Norte, na etapa do ensino médio, na 10ª edição do Prêmio
Professores do Brasil.
Escola: Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia do RN
(IFRN) – Campus Cidade AltaMunicípio: Natal UF: Rio Grande do
NorteEtapa de ensino: Ensino Médio
Ano de realização: 2016Área de conhecimento: Ciências da
NaturezaComponente curricular: Ciências biológicas
OUTRAS COMPETÊNCIAS DESENVOLVIDAS:
RELAXAR E DIALOGARPARA APRENDER
CASO 18
“Aprender a relaxar e relaxar para aprender: metodologias ativas
de ensino em biologia”
Conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física �e
emocional, compreendendo-se na diversidade humana �e reconhecendo
suas emoções e as dos outros, �com autocrítica e capacidade para
lidar com elas.
COMPETÊNCIA 8: AUTOCONHECIMENTO E COMPETÊNCIAS
SOCIOEMOCIONAISCOMPETÊNCIAS
GERAISDA BASENACIONALCOMUM 1.CON
HEC
IMEN
TO
3. A
RTE
E CU
LTU
RA
4. M
ÚLT
IPLA
S LI
NG
UAG
ENS
5. T
ECN
OLO
GIA
S DA
INFO
RMAÇ
ÃO E
CO
MU
NIC
AÇÃO
6. D
IVER
SIDA
DE
E PR
OJE
TO D
E VI
DA
7. A
RGU
MEN
TAÇÃ
O P
ARA
A VI
DA C
ON
TEM
PORÂ
NEA 8
. AU
TOCO
NH
ECIM
ENTO
COM
PETÊ
NCI
AS S
OCI
OEM
OCI
ON
AIS
9. E
MPA
TIA
E CO
OPE
RAÇÃ
O
10. A
UTO
NO
MIA
E
CON
SCIÊ
NCI
A CI
DADÃ
2. P
ENSA
MEN
TO C
IEN
TÍFI
CO
REALIZAÇÃO
-
RELAXAR E DIALOGAR PARA APRENDER
Professora aplica técnicas de meditação a jovens do Rio Grande
do Norte para aliviar a tensão em sala e facilitar o aprendizado de
biologia, priorizando a construção de diálogos e o protagonismo do
aluno
Você já passou pela experiência de, durante a aula, ter que
assistir um estudante adolescente em pânico, no meio de uma crise
de ansiedade?
A professora Carolina Corado da Silva Oliveira, de 35 anos, já
havia experimentado tal situação mais de uma vez na carreira
docente e resolveu aplicar estratégias que ampliam a tomada de
consciência corporal para ajudar a relaxar jovens do ensino médio.
O controle da ansiedade em sala, ligada em geral à proximidade de
exames vestibulares ou do Enem, foi um modo de facilitar o processo
de aprendizagem.
Desenvolvido com estudantes do 1º e 3º anos do Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, o projeto
“Aprender a relaxar e relaxar para aprender: metodologias ativas de
ensino em biologia”, interligado à temática da disciplina, fez
parte do trabalho da professora em 2016.
O contato com estudos do Instituto do Cérebro de Natal,
referência em neurociências e temas correlatos, ajudou Carolina a
se aproximar de técnicas comuns à meditação e ao mindfulness, ou à
busca da “atenção plena”, que servissem aos “padawans”, como ela
costuma chamar seus “aprendizes” (referência ao filme Star Wars). A
ideia da prática era que cada um deles pudesse conhecer-se melhor,
reconhecer estados de ansiedade e então aprender a cuidar da
própria saúde, tanto física quanto emocional.
“Percebi que eles tinham um componente de ansiedade forte,
limitante para o desenvolvimento em sala de aula”, relata Carolina.
“Todo aprendiz tem a zona de conforto, a de desenvolvimento e a de
pânico... Eles passavam da zona de conforto para a de pânico
rapidamente. Tinha que trabalhar algo. Não é fácil ver um estudante
ter um ataque de pânico em sala e ter que acalmá-lo enquanto lida
com os demais (estudantes).”
As técnicas de mindfulness ajudaram a professora, por exemplo, a
orientá-los sobre a postura ao sentar na cadeira, a percepção da
respiração e dos movimentos do corpo. Segundo Carolina, esse
trabalho ajudou na percepção do outro, do que ocorria no entorno e
no desenvolvimento de um nível maior de atenção no decorrer do
projeto.
“Eu vou guiando-os em 3 a 5 minutos da aula. Era pouco, mas
suficiente para eles perceberem os resultados no diálogo. Com
ansiedade, você não come, dorme nem estuda direito”, diz Carolina.
“Queria que o aluno aprendiz soubesse fazer associações do conteúdo
com a realidade que o cercava para trabalhar com isso de forma
positiva.”
O trabalho de relaxamento foi fundamental ao longo das
atividades construídas para priorizar estratégias de diálogo e pôr
os estudantes no centro do processo. Em 2014, como parte de um
programa federal de formação, Carolina ficou cinco meses
-
na Finlândia aprendendo sobre metodologias de ensino. “Lá eles
usam muito Paulo Freire, o estudante como protagonista e
estratégias para você tornar o diálogo como arcabouço do processo
de aprendizagem”, afirma.
Nessa proposta, Carolina criava no começo uma situação lúdica
para que os alunos se autoavaliassem e reconhecessem a importância
de se comunicar melhor para ampliar o entendimento de suas
mensagens. “Eles mesmo disseram nesta autoavaliação que era difícil
entender o que o outro estava falando”, lembra.
A construção de um diálogo mais apurado permeou os quatro
módulos criados para o ensino de biologia. Primeiramente, a
professora introduziu conceitos de metodologia científica ao
apresentar uma caixa fechada contendo um objeto não identificado.
Sem abri-la, os estudantes passaram duas semanas interagindo com a
caixa, debatendo e elaborando hipóteses. Utilizaram, entre outras,
habilidades de matemática e física, como a geometria da caixa e o
tipo de som que o objeto fazia.
“Não revelo o que tem dentro, mas ao final eles apresentaram
modelos de objetos que desenharam próximos ao real”, conta
Carolina.
As divergências acentuadas entre os alunos, em especial nas
fases iniciais da prática, fizeram a professora trabalhar bastante
a maneira como discordavam uns dos outros. “Eles se atacavam.
Trabalhei com eles como discordar, tentando escutar e compreender o
que o outro diz, analisar o ponto central do argumento e aí sim
montar o seu próprio argumento”, afirma.
Nas etapas seguintes, a maioria em grupo, eles realizaram
passeios pelo jardim da escola para discutir temas como bioquímica
e nutrição, foram protagonistas de jogo em que respondiam perguntas
relacionadas aos grupos alimentares e debatiam metabolismo, por
meio do código compartilhado (QR Code) de um aplicativo, e
trabalharam citologia ao vivenciarem experiências em sala,
comparando por exemplo as reações de infusão do chá em água quente
e em água fria.
Para cada módulo, a professora realizou um tipo de avaliação.
Observou o resultado individual no jogo aplicado em sala, obtido
pelo aplicativo; analisou o desempenho dos estudantes em
conferência na qual formulavam hipóteses e faziam deduções no
módulo sobre metodologia científica; avaliou a participação deles
em pequenos seminários, a maneira como dialogavam dentro e fora dos
grupos e também os argumentos utilizados para explicar aos colegas
os conceitos aprendidos.
No final, foi aplicada uma prova escrita em que Carolina usou
recursos variados para aliviar a tensão pré-teste. As folhas foram
impressas em papel azul e formato de paisagem e uma bola de Pilates
foi colocada no meio da sala de aula para que os jovens
interagissem com ela quando quisessem relaxar na hora da prova. A
professora também não atribuiu pontos às questões, mas sim
descreveu as habilidades esperadas na resolução delas.
“Todo o projeto foi trabalhando ansiedade. Queria fazê-los
entender que aprendiam de acordo com o interesse deles”, diz
Carolina.