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EQUIP ES NOVAS C ARTA No l EQUIPES DE NOSSA SENHORA SÃO PAULO - 1974
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CARTA No l - ENS

May 24, 2022

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EQUIPES NOVAS

CARTA No l

EQUIPES DE NOSSA SENHORA

SÃO PAULO - 1974

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EDITORIAL

TRIUNFO DA CARIDADE

É necessário que a caridade fraterna se desenvolva sem cessar nas vossas equipes.

Quando alguns casais se exercitam no auxmo mútuo e no amor fraterno, pouco a pouco o seu coração se engrandece . E, gradualmente o seu amor conquista a casa, o bairro, o pais . . . até alcançar as paragens mais longínquas.

Construir uma igreja é importante : dia. e noite o Cristo eucarístico terá nela. a sua morada . Para. a cristandade, não é menos necessário possuir equipes de caridade: é uma. outra. maneira de fazer com que Cristo esteja. presente no meio dos homen.s. "Onde se encontra o amor fraterno, ai está Deus", canta a liturgia da Quinta-Feira Santa. "Quando dois ou três estiverem reunidos em meu Nome, promete Jesus Cristo, Eu estarei presente no meio deles".

Presença de Cristo e por isso presença da Igreja. Onde há cristãos que se amam, ai está a Igreja. Sob condição, no entanto, de que esta pequena comunidade queira, ela própria, estar presente na Igreja, ao serviço da Igreja .

O poder de intercessão dos cristãos, quando estão unidos, é de uma eficácia extraordinária: "Se dois dentre vós se juntarem na terra para pedir alguma coisa, em verdade eles o conseguirão de meu Pai que está nos céus" .

O amor fraterno é de uma fecundidade excepcional. A sua volta o mal retrai-se e o deserto floresce. Um pároco dos subúrbios dizia-me: "Quando uma rua de minha paróquia

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está demasiado contaminada, peço a casais cristãos para. virem instalar-se nela e darem apenas o testemunho do seu amor fraterno. Ao fim de seis meses, os moradores da rua respiram um novo ar".

Uma comunidade fraterna é uma mensagem de Deus aos homens. Sua mensagem mais importante, aquela que revela a vida intima de Deus, sua vida trinitária. Não há discurso sobre Deus mais eloqüente e persuasivo do que o espetáculo de cristãos que "são um" como o Pai e o Filho são Um.

Não há nada que dê maior glória a Deus do que cristãos unidos. lt a grande obra prima da graça divina. Deus põe ai as suas complacências, descobre nisso um reflexo da sua vida trinitária. "Os céus cantam a glória de Deus", o amor fra­terno canta o Amor eterno.

Seja isto, pois, a vossa grande preocupação: fazer da vossa equipe UM TRIUNFO DA CARIDADE.

l!ENRI CAFFARE'L

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UMA BOA NOVA PARA O AMOR HUMANO

Damos a seguir alguns extratos do discurso que o Papa Paulo VI dirigiu aos 2.000 casais das Equipes de 'Nossa se­nhora, quando da peregrinação a Roma, aos 4 de maio de 1970. Este discurso continua a ser um acontecimento porquan­to, antes dele, nenhum docmnento da Igreja tinha falado do amor e do casamento de maneira tão positiva. Aqui, o Santo Padre apresenta o amor como sendo o "cimento" que dá ao casamento a sua solidez e o "impulso" que o leva a uma ple­nitude cada vez mais perfeita.

* Muitas vezes a Igreja tem parecido, sem razão, suspeitar

do amor humano. Também nós queremos dizer-vos clara­mente hoje: não, Deus não é inimigo das grandes realidades humanas, e a Igreja de maneira nenhuma desconhece os valores quotidianamente vividos por milhões de lares. Bem ao contrário, a boa nova trazida por Cristo Salvador é também uma boa nova para o amor humano, também ele excelente nas suas origens - "E Deus viu que isso era muito bom" <Gênesis, 1, 31) - também ele corrompido pelo pecado, tam­bés ele resgatado, a ponto de se tornar, pela graça, meio de santidade.

O MATRIMONIO, NO SENHOR, VOCAÇAO DE SANTIDADE

Como todos os batizados, sois com efeito chamados à santidade, segundo o ensinamento da Igreja solenemente afirmado pelo Concilio (cf. Lumen Gentium, n9 11) . Mas pertence-vos tender para tanto, à maneira que vos é própria, na e pela vida do lar (ibid., n9 41).

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:S: a Igreja que nos ensina: "Os esposos tornam~se capa­zes pela graça de levar uma vida santa" (Gaudium et Spes, n9 49, § 2), e de fazer do seu lar como que "um santuário da Igreja" (Apostolicam actuositatem, n~> 11). Estes pensa­mentos, cujo esquecimento é tão trágico para o nosso tempo, vos são certamente familiares. Desejaríamos meditá-los, por alguns instantes, convosco, para reforçar em vós, se necessário, a vontade de viver generosamente a vossa vocação humana e cristã no casamento (Cf. Gaudium et Spes, n~> 1, 47-52), e de colaborar ao mesmo tempo no grande desígnio de amor de Deus sobre o mundo, que é formar um povo "em louvor da sua glória" (Efesios, 1, 14).

ELE OS CRIOU HOMEM E MULHER

Como a Sagrada Escritura nos ensina, o casamento, antes de ser um sacramento, é uma grande realidade terrestre: "Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou, homem e mulher os criou" (Gênesis, 1, 27). Importa refletir sempre nesta primeira página da B!blia, se se quer compreender o que é, o que deve ser um casal humano, um lar.

UNIDADE E INDISSOLUBILIDADE DO MATRIMONIO

A união do homem e da mulher difere, com efeito, radi­calmente de toda outra associação humana, e constitui uma realidade singular, a saber, o casal fundado sobre o dom mútuo de um ao outro: "e eles se tornam uma só carne" (Gen. 2. 24). Unidade cuja indissolubilidade irrevogável é o selo aposto ao compromisso livre e mútuo de duas pessoas livres que, "desde então, j á não são dois, mas uma só carne" (Mat. 19, 6) : uma só carne, um casal, quase poderia dizer-se, um só ser, cuja unidade tomará forma social e jurídica pelo ca~~amento, e se manifestará por uma comunidade de vida, do qual o dom carnal é a expressão fecunda. Quer dizer que,

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ca.sando-se, os esposos exprimem uma vontade de se perten­cerem para a vida e de contraírem com este flm um liame objetivo, cujas leis e exigências, multo longe de serem uma servidão, são uma garantia e uma proteção, um rverdadeiro sustentáculo, como vós o sentis na vossa experiência quotidiana.

AMOR CONJUGAL

O dom, de fato, não é uma fusão. Cada personalidade permanece distinta e, longe de se dissolver no dom mútuo, afirma-se e afina-se, cresce ao longo da vida conjugal, segun­do esta grande lei do amor: dar,-se um ao outro para se da­rem juntos. O amor é, efetivamente, o cimento que dá. a sua solidez a esta comunidade de vida e o impeto que arra.sta para uma plenitude cada vez mais perfeita. Todo o ser nisso participa, nas profundezas do seu mistério pessoal e dos seus componentes tanto afetivos, sensíveis e carnais como espi­rituais, até constituir cada vez melhor aquela imagem de Deus que o ca.sal tem a missão de encarnar dia a dia, tecendo-a das sua.s alegria.s como das suas provações, tão certo é que o amor é mais do que o amor. Não há amor conjugal que não seja, na sua exultação, impulso para o infinito, e que não se queira, no seu arrebatamento, total, fiel, exclusivo e fecundo (cf. Humanae Vitae, nQ 9) .

~ nesta perspectiva que o desejo encontra a sua plena significação. Meio de expressão tanto de conhecimento como de comunhão, o ato conjugal mantém, fortifica o amor, e a sua fecundidade conduz o ca.sal ao pleno crescimento: toma­-se, à Imagem de Deus, fonte d.e vid.a .

Sabe-o o cristão, o amor humano é bom pela sua origem e se é, como tudo o que existe no homem ferido e deformado pelo pecado, encontra em Cristo a sua salvação e a sua re­denção. Além disso, não é a lição de rvinte séculos de história cristã? Quantos casais não têm encontrado na sua vida con­jugal o caminho d.a santidade, nesta comunidade de vida que é a única a estar fundada sobre um sacramento! "

PAULO VI

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OBJETIVOS E ORIENTAÇõES

Em 1947 os "Estatutos" apresentaram o Movimento tal qual tinha sido pouco a pouco edificado. E, em meio aos vários movimentos de leigos, a.s Equipes de Nossa Senhora situavam-se deliberadamente como "mo­vimento de espiritualidade".

Trata-se de bem compreender o que signüica esta expressão. Ainda recentemente várias questões foram apresentadas a este respeito à Equipe Responsável do Movimento por vários casais. Encontrarão a seguir a.s respectivas perguntas e respostas.

- Por que se conserva a denominação "movimento de espiritualidade''? Ela soa mal aos ouvidos de numerosos cris­tãos de hoje.

A palavra "movimento" indica dinamismo e adaptação continua. O termo "espiritualidade" acentua a prioridade do espirito sobre a organização e os métodos, e especüica nitida­mente o seu objetivo: a vida "espiritual", isto é, a vida cristã enquanto animada pelo Espírito Santo e tendendo para a santidade.

Um movimento de esplritualidade é aquele que ajuda os seus membros a caminhar em direção à santidade assim com-

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preendida: um amor, este amor por Cristo que consome o co­ração dos santos e do qual São Paulo nos fornece fervorosas afirmações: "Quem me irá. sep3jl'ar do amor de Cristo? A tribulação? A a.ngústia? A perseguição? A fome? A nudez? O perigo? O gládio? Mas em tudo isto somos mais que vencedores" (Rom. 8, 35-37).

- Queiram ou não, falar de santidade é evocar a preocupa­ção de se aperfeiçoar, de ser realmente "bom", mais do que a de se integrar no serviço da Igreja e do mundo.

Se a santidade é este amor apaixonado por Cristo de que São Paulo nos dá o exemplo, caminhar para ela não comporta o risco de favorecer o "fechar-se sobre si", muito pelo contrário. A alma da santidade, com efeito, é a caridade, que é ao mesmo tempo amor de Deus e dedicação à obra de Deus. São Paulo mais uma vez o atesta: "A caridade de Cristo nos impele . .. " (2 Cor. 5.14). "Em que, sendo completamente livre, me fiz servo de todos para ganhar a todos.. . Fiz-me tudo, para todos, para salvar alguns a todo custo" (1 Cor. 9, 19 e 22). 1!: preciso verificar continuamente, através da nossa dedicação ao próximo, a autenticidade do nosso amor a Cristo.

- Falam de "espiritualidade", mas, no caso das Equipes, não se trata de "espiritualidade conjugal e familiar''?

De fato as Equipes de Nossa Senhora definem-se, mais precisamente, como um "movimento de espiritualidade conjugal e familiar". Um movimento de espiritualidade é, vimo-lo, uma associação cujo principal fim é encaminhar os seus mem­bros para a santidade . Um movimento de espiritualidade con­jugal e familiar convida-os a seguir este mesmo rumo "no e pelo matrimônio", como disse Paulo VI. O casamento, com efeito, pelas suas exigências e riquezas, pelas suas alegrias e dores e, sobretudo, pelas graças sacramentais que comporta, é de fato um caminho de santidade: por tudo aquilo que exige de doação e renúncia, faz amadurecer o coração humano e favorece o crescimento da caridade de Cristo nos cônjuges.

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Note-se que a esplrltualldade conjugal e famU!ar pode compreender-se de duas maneiras distintas. Uma mais restrita, que vê nela a ciência e a arte de viver cristãmente as reali­dades do matrimônio. A outra, mais larga, que a considera como a ciência e a arte de viver no estado de casado toda a dimensão do cristianismo integral. As Equipes abraçaram sempre este segundo sentido.

- Compreende-se que um Movimento se preocupe com os seus membros. Mas não corre o risco de se fechar sobre si mesmo e sobre os problemas internos, em vez de se abrir aos apelos de nosso tempo?

lt verdade que o Movimento se preocupa, primeiro, com a santificação dos seus membros mas nem por isso deixa de levar em conta a sua missão de Igreja que consiste, por um lado, em elaborar e difundir a espiritualidade conjugal e familiar e, por outro, em testemunhar a promoção do casal dentro da Igreja.

Elaborar uma espiritualidade conjugal e familiar não só para os membros das Equipes mas para todo o povo de Deus. Pode-se dizer, sem triunfalismo, que os nossos "inquéritos a serviço da Igreja" lhe trouxeram uma contribuição eficaz.

Difundir esta espiritualidade. O Movimento como tal, e os seus membros individualmente, muito contribulram para isso. São inúmeros os casais das Equipes de Nossa Senhora que dão o seu concurso à pastoral dos noivos, dos recém-casa­dos e dos casais em dificuldade.

Testemunhar, na qualidade de Movimento, este fenômeno característico do século vinte : a promoção do casal no Povo de Deus. As Equipes de Nossa Senhora (como de resto os outros movimentos de casais) manifestam, pelo simples fato de sua existência, que o amor humano é uma grande realidade aos olhos de Deus e da Igreja. Será isto supérfluo em nossa época?

Em resumo: As Equipes de Nossa Senhora são um Movimento de

formação espiritual aberto aos casais:

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- que querem levar uma vida cada vez mais cristã, no quadro de sua vida conjugal e de sua vida de homens e mulheres tendo responsabilidades familiares, profissionais, sociais, etc.;

- desejosos de se ajudarem uns aos outros no selo de cada equipe;

- aceitando apoiar-se nos Estatutos do Movimento.

As Equipes participam do grande impulso que, há 30 anos, deu origem a numerosos grupos de casais cristãos; repousam sobre uma certa concepção do casamento e da vida cristã, que pode ser chamada a espiritual!dade conjugal; têm o seu objetivo e os seus métodos próprios.

Deixemos finalmente o Pe. Caffarel (Roma 1970) definir, numa frase, a missão das Equipes de Nossa Senhora:

As Equipes de Nossa Senhora são um Movimento de espi­ritualidade, e os casais que o compéem querem, no século do ateísmo, tomar consciência da presença ativa de Deus, dentro de si e de seus lares, para que a sua. vida, a exemplo da vida de Cristo, manifeste a Deus e as suas perfeições ou, melhor ainda, permita a Deus manifestar-se e doar-se.

~TODOS E PEDAGOGIA

Nas páginas que precedem, citamos as respostas dadas pela Equipe Responsável a questões apresentadas por alguns casais; acrescenta, agora, a propósito dos mé­todos e da pedagogia do Movimento, mas:

- Não é suficiente que as Equipes proponham um fim? Por que determinam os meios?

Nas Equipes de Nossa Senhora tudo adquire sentido quan­do se considera o fim: ajudar os casais a caminhar para a santidade. Mas, para atingir o seu fim, um movimento deve

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determinar os meios que entende pôr em ação, e adotar uma pedagogia, uma organização e um modo de governo. De resto, qualquer empresa, mesmo espiritual, não escapa à necessidade de ter uma regra que, nas Equipes, chama-se "Estatutos". Mas é evidente que esta regra está subordinada ao fim. Ela não deve tornar-se um fim, sob pena de gerar o farisaismo. Pode modificar-se de acordo com as exigências do fim, seja porque este fim firmou-se mais claro, seja porque novos contextos se apresentaram.

- Esta regra e as "obrigações" que comporta, não haveria o risco de se tornarem um obstáculo para certos casais?

Muitos casais vão buscar nesta regra o auxilio que lhes possa trazer; é, inegavelmente, por necessidade de uma regra que certo número de casais ingressa nas Equipes. Mas não é menos verdade que alguns não se sentem à vontade.

Uma regra não é propriamente uma roupa "feita sob medida". Nunca se ajusta perfeitamente a cada um dos membros do Movimento e concebe-se facilmente que certos temperamentos se sintam pouco à vontade. Mas esta regra não é uma camisa de força para aqueles que, embora acei­tando-a lealmente em vista do fim desejado, têm a preocupação de ajustá-la às suas condições de vida. É uma base comum adotada por todos, deixando a cada um o cuidado de comple­tá-la com uma "regra de vida" que corresponda às suas neces­sidades e responsabilidades e sobre a qual tem total iniciativa.

Entretanto, é preciso confessá-lo, quase todos nós gostamos de variar, repugna-nos a regularidade, a submissão - daf a irritação contra as "obrigações". Mas, precisamente esta constatação é o melhor argumento em favor de uma regra. Ela nos protege contra nossa própria inconstância, que se manüesta muito especialmente no dominio espiritual, onde não estamos submetidos a imperativos inexoráveis como na vida familiar e profissional. É por isso que vemos na regra e nas "obrigações" um amparo e um estímulo à nossa procura de Cristo.

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- Fala-se em obrigações - aliás é uma. palavra que se ouve muitas vezes na boca de membros das Equipes; no entanto é bem desagradável!

Para bem compreender esta palavra (substituamo-la, se quiserem, por "meios de aperfeiçoamento" ... ) eis algumas reflexões que, assim o esperamos, poderão ir ao encontro das vossas aspirações mais profundas.

O Movimento nasceu da experiência de alguns casais desejosos de viver, segundo o Evangelho, os sacramentos do batismo e do matrimônio. Foram assim percebendo, cada vez melhor, as exigências da vida cristã. Para atender a tais exigências, quiseram obrigar-se a alguns esforços práticos sobre alguns pontos que lhes pareceram fundamentais para bem firmar a sua união com Cristo. E isto no plano de sua <vida de casal, mas também no plano da vida de cada um. Deram assim ocasião a si mesmos de dizer "sim" a Cristo e aos seus apelos.

Em suma, a palavra "obrigação" não deve ser considerada no sentido de uma imposição vinda do exterior, mas sim uma coisa à qual aceitamos aderir, confiados na experiência de numerosos casais, desejosos, também eles, de progresso espiritual.

- De que modo esta regra foi elaborada?

Em verdade, na origem, todos os casais participaram da elaboração desta regra. Durante os primeiros anos todos os membros das Equipes se reuniam regularmente com o Cônego Caffarel para pôr em comum esforços e estudos. Depois, dado o número crescente de casais. só os responsáveis de equipes escolhidos pelos equipistas participavam dessas reuniões. Men­salmente confrontavam as experiências, apuravam as obriga­ções, os métodos, a pedagogia e, sobretudo. aprofundavam com alegria a espiritualidade conjugal que descobriam pouco a pouco. Somente após sete anos de investigação, de experi­mentação e de vivência é que os Estatutos foram promulgados.

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Sem dúvida alguma, deve-se a este realismo na elaboração dos métodos e orientações o fato de as Equipes de Nossa Senhora convirem a tantos países (trinta e dois atualmente) e a meios sociais e culturais muito variados.

É mesmo notável que casais de paises tão diferentes como os Estados Unidos e a Ilha Mauricia, a Espanha e o Canadá, etc., adotem sem dificuldade um movimento nascido fora das suas fronteiras. Aqueles dentre nós que viajam e participam de reuniões de equipes a milhares de quilômetros de suas casas ficam sempre muito surpreendidos por não se sentirem deslocados.

É certo que os casais de hoje recebem das Equipes uma regra já feita. Mas incumbe a cada um deles refazer por sua conta o caminho que conduziu à elaboração dos meios de aperfeiçoamento. Somente nestas condições podem com­preender a sua razão de ser e conseguir integrá-los na própria vida.

- Falou-se da "pedagogia" das Equipes. Que entendem por isso?

Há casais que vêm para as Equipes desejosos de caminhar com Cristo para o Pai. O Movimento pretende ajudá-los neste caminho e ser o educador espiritual dos seus membros.

Contribui para essa educação o conjunto do que ele propõe: os Estatutos, os meios de aperfeiçoamento, a organização, a vida de equipe, a reunião mensal, e também as orientações do ano, os temas, as grandes opções, as sessões de formação, as peregrinações, etc.

É igualmente relevante o papel do casal piloto presente às primeiras reuniões de uma nova equipe, e do casal de l!gação em seguida, a quem compete levar em conta os casos particulares, preservar as equipes e os seus membros da fan­tasia mas também da rigidez de uma disciplina aplicada sem discernimento.

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E a. ajuda fraternal foi sempre considerada, àesàe o in!clo, como fator essencial da nossa pedagogia.

- Qual é, então, o luga,r do auxílio fraterno nas Equipes?

Desde sempre, as Equipes propuseram-se ser uma "vitória da caridade" e viver a realidade misteriosa do que chamam "ecclesia", essa pequena comunidade cristã da qual emerge e na qual se concretiza o mistério da grande Igreja. Preco­nizam o auxílio mútuo espiritual no verdadeiro amor, em todos os niveis: entre esposos, entre casais, entre equipes.

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Somente equipes cheias de vida, alegres, dinâmicas na sua fé, no seu acolhimento, na sua rigorosa retidão, como também na sua fantasia e no seu júbilo de filhas de Deus, podem se situar, frente ao gigantismo de hoje, como testemunhas da liberdade e da juventude de Deus.

JACQUES LOEW

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OS "ESTATUTOS" DO MOVIMENTO

Os Estatutos das Equipes de Nossa Senhora, que apre­sentam o seu ideal e indicam as suas regras, só vieram a lume no ano de 1947, após 8 anos de experiências. Os primeiros grupos de casais que se tinham formado ao redor do Cônego Caffarel, durante a segunda guerra mundial, começaram a vivê-lo antes de o definirem: são as observações e experiências feitas então que explicam e justificam a pedagogia adotada. Deixemos o Cônego Caffarel, fundador e diretor das Equipes de 'Nossa Senhora, apresentar os Estatutos do Movimento.

O primeiro objetivo dos Estatutos é apresentar o ideal cristão do casamento e determinar os meios que irão permitir aos casais a sua melhor compreensão. No decorrer dos pri­meiros anos eu chegara à conclusão de que, para suscitar nos cristãos casados uma vida espiritual generosa, era preciso antes de mais nada levá-los a fazerem a descoberta das grandezas de sua vocação.

De que modo os Estatutos favorecem esta descoberta? Pelo tema mensal de estudo sobre um assunto de espiritualidade conjugal e familiar. Através desse estudo, trata-se de apro­fundar o assunto e precisar o pensamento, levar marido e mulher a formarem o hábito de se ajudarem mutuamente no

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estudo da fé e, por fim, no decorrer da reunião mensal, permitir uma proveitosa troca de idéias.

Mas os Estatutos não têm por única finalidade levar à descoberta das grandezas da fé cristã. Devem também oferecer aos casais os meios de vivê-la. Daí uma série de obrigações que têm como razão de ser, levar os casais a progredirem na vida cristã, convidando-os a reoorrerem a Deus, ao sacerdote, ao auxilio fraterno, ao apoio de uma estrutura:

- A Deus: oração conjugal e oração familiar, oração na reunião de equipe, recitação diária da oração das Equipes (cântico de Maria - Magnificat - seguido da invocação: Nossa Senhora das Famílias rogai por nós) . . . Os retiros devem também, e em primeiro lugar, ser considerados sob este aspecto do recurso a Deus.

- Ao sacerdote: o papel do Conselheiro Espir itual de equipe é fundamental no Movimento. Aos padres que me vêm interrogar sobre este papel, eu costumo mostrar que o nosso Movimento, com sua organ ização e seus diverws métodos, é essencialmente um instrumento posto à disposição dos sacer­dotes para lhes permítir desempenhar, da melhor forma pos­sível, a sua missão de educadores espirituais dos casais.

- Aos outros: o auxilio mútuo entre cônjuges é, dizia Pio XI na "Casti connubü", um dos fins essenciais do casa­mento. Deve-se processar todos os dias. A obrigação de um diálogo mensal entre os cônjuges, a que chamamos o "dever de sentar-se", deve ser considerado sob este aspecto de auxílio mútuo espiritual.

O auxílio mútuo enflre casais é, de certo modo, a razão de ser das Equipes. Quero citar aqui um trecho dos Estatuto;; : "Porque conhecem a própria fraqueza e a limitação das pró­prias forças, como também da boa vontade que os anima; porque a experiência de todos os dias prova-lhes o quanto é difícil viver como cristãos num mundo pagão, e porque depo­sitam uma fé indefectível no poder do auxílio fraterno, nossos casais decidiram unir-se em equipe " . Todos os momentos e

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todas as atividades da reunião mensal são orientados no sentido deste auxílio fraterno.

Finalmente, auxilio mútuo entre equipes. Nosso Movimento é uma equipe de equipes. Assim, as antigas equipes ajudam as que se fundam no outro extremo do mundo, levando-as a aproveitar da sua experiência. Por outro lado, o Movimento todo beneficia-se do exemplo de cada equipe: do dinamismo apostólico das do Brasil, da amizade fraterna que, na Ilha Mauricia e em outros lugares, levou os equipistas a triunfarem dos preconceitos raciais, etc.

Nossos contemporâneos, facilmente individualistas e fran­co-atiradores, só vêem nos quadros de uma organização, constrangimento, entraves, prisão. As Equipes, longe de se esquivarem, propõem seu forte enquadramento e sua rigorosa disciplina como um auxílio de gra.nde valor: a regra. em primeiro lugar, e o compromisso de respeitá-la que é pedido aos casais assumirem após um certo tempo de vivência na equipe; o controle da maneira como são respeitadas as obri­gações dos Estatutos - controle, sim, o termo não me assusta - mas controle inspirado pela caridade e exercido com a finalidade de ajudar ao crescimento na caridade; finalmente os Responsáveis que, de alto a baixo, são os guardiães da regra, de sua correta interpretação e de sua aplicação.

Depois de ter exposto assim "a primeira inspiração dos Estatutos, a vocação original do Movimento, o pensamento de Deus sobre o amor e o casamento e a sua aplicação na existência digna do casal", o Cônego Caffarel apresentou aos peregrinos de Roma uma nova dimensão:

"A pesquisa levada a efeito não era somente orientada para a santificação, o desabrochar, a irradiação de nossos lares, mas também para o testemunho que devem dar do Deus vivo, ante um mundo que o ateísmo invade".

Dava assim maior precisão ao que dizem os Estatutos desde os primeiro anos: "Querem ser em toda parte os missionários de Cristo. Devotados à Igreja, querem estar sempre prontos a responder aos apelos de seu bispo e de seus sacerdotes".

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A "CARTA MENSAL" DAS E.N.S.

O que vocês têm em mãos é uma CARTA e não um fascículo, uma brochura, um impresso como tantos outros, nem mesmo uma revista ... Estas páginas foram escritas graças à experiência de milhares de casais; são dirigidas a vocês, como resposta à expectativa pessoal de cada um, como também às equipes, consideradas como órgãos vivos, com reações próprias.

Esta Carta quer utilizar, manifestar, intensificar as correntes, os impulsos que são e fazem a própria vida do Movimento:

- corrente ascedente que sobe das múltiplas equipes até a Equipe Responsável do Movimento: corrente muito rica, dada a variedade de equipes (países, idades, origens sociais);

- corrente descendente que transmite, a partir da Equipe Responsável, a animação exigida pela dimensão católica <uni­versal, supra nacional) do Movimento, tão adaptada quanto possível a gostos e aspirações tão diferenciados;

- correntes horizontais, pelas noticias que dá de uns e de outros, pelos testemunhos que relatam as experiências vividas aqui ou acolá.

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Em res\.uno, é o 'boietim interno das Equipes de Nossa Senhora, através do qual os membros podem dialogar un.s com os outros.

As equipes já "compromissadas" recebem todos os meses uma outra Carta Mensal. As equipes novas recebem, nos 12 primeiros meses, números especialmente pensados para elas. Vocês receberão, portanto, depois da presente Carta, uma por mês; tomarão assim conhecimento daquilo que o Movimento propõe, para assim viver melhor o ideal de cristãos casados.

Cada uma destas Cartas irá lhes oferecer as seguintes rubricas:

- um EDITORIAL que dará uma visão espiritual às re­flexões que, mais adiante, serão dadas sobre a vida da equipe, a reunião mensal, ou algum outro aspecto do Movimento;

- um BILHETE DE ESPIRITUALIDADE, seja no plano pessoal, seja no do casal ou da famflia: será uma revisão de alguma das exigências do Batismo ou do Sacramento do Matri­mônio;

- uma apresentação da VIDA DE EQUIPE ou de ALGUM MOMENTO DA REUNIAO;

- a seguir, um parágrafo que lhes permitirá descobrir os ESTATUTOS como um eco da palavra de Deus, ou perceber as RAZOES DE SER DOS MEIOS DE APERFEIÇOAMENTO na vida cristã;

- poderemos então nos deter sobre cada um dos MEIOS DE APERFEIÇOAMENTO;

- depois, sobre ALGUM OUTRO ASPECTO DO MOVI­MENTO;

-e como as Equipes de Nossa Senhora timbram em ser · da Igreja, e da Igreja do Vaticano II, apresentaremos em

seguida algum texto dos últimos Papas ou do Concilio;

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- esperando que o anseio de se tornarem pais já se ache realizado ou virá a sê-lo, uma página será dedicada a algum aspecto da educação, vista muito particularmente sob o ângulo da fé. As Equipes de !Nossa Senhora dirigem-se a vocês não somente como esposos, mas também como pais;

- levando uma vida espiritual de cristãos casados, vocês terão (como a árvore que produz os seus frutos) "irradia­ção" - pessoalmente, como casal, ou mesmo como familia -na Igreja e no meio dos homens. Um texto evocará esta dimensão que venha autenticar toda pesquisa e todo progresso de vida interior.

Finalmente, encontrarão:

-uma apresentação de livros - PARA A SUA BffiLIO­TECA - que tenham relação com este ou aquele valor tratado nas páginas precedentes;

- uma página de CORRESPONDll:NCIA ou de TES­TEMUNHOS;

-finalmente, um texto de ORAÇAO PARA A PROXIMA REUNIA O.

(Nas quatro primeiras Cartas, encontrarão também um "tema" para a reunião seguinte. São eles feitos para lhes permitir uma troca de idéias na reunião, a respeito do que vieram procurar ao entrar nas Equipes de Nossa Senhora. O Casal Piloto estará também presente para lhes oferecer a sua experiência e o seu testemunho.

Depois destes temas, ou mesmo paralelamente, as equipes estudam o primeiro tema fundamental sobre o casamento, o qual retoma o discurso do Papa Paulo VI, de que já leram alguns extratos nesta Carta Mensal).

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MISSÃO APOSTóLICA DO LAR

No seu discurso às Equipes de Nossa Senhora, Paulo VI convida os esposos e pais a darem testemunho de sua vida cristã. EVoca um apostolado próprio dos lares, antes de os convidar a se lançarem para o exterior. Proclama nitidamente que os casais têm, na Igreja, uma missão insubstituível mas convida-os com a mesma nitidez a procurarem na Palavra de Deus, na oração e nos sacramentos, a força para darem cumprimento a esta missão.

DEVER DE HOSPITALIDADE

"Quereríamos apenas, esta manhã, chamar a vossa atenção para a hospitalidade que é uma forma eminente da missão apostólica do lar. A recomendação de São Paulo aos Romanos: "Praticai diligentemente a hospitalidade" (12, 13) não é, antes de tudo, dirigida aos lares, e ele próprio, formulando-a, não pensava na hospitalidade do lar de Aquila e Priscila de que tinha sido o primeiro beneficiário e que, em seguida, devia acolher a assembléia cristã? (cf. Atos, 18 2-3; Rom. 16, 3-4; Cor. 16, 19). No nosso tempo, tão duro para tantos, que graça ser acolhido "nesta pequena Igreja", segundo a palavra de S. João Crisóstomo, entrar na sua ternura, descobrir a sua maternidade, experimentar a sua misericórdia, tão verdade é que um lar cristão é "o rosto sorridente da Igreja"! É um apostolado l.nSubstituível que a vós incumbe realizar generosamente, um apostolado do casal para o qual a formação dos noivos, o auxílio aos jovens casais, o amparo aos lares em aflição cons­tituem domínios privilegiados.

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Ajudando-vos um ao outro, de quantas tarefas não sereis capazes na Igreja e na sociedade! Para isso vos chamamos com grande confiança e muita esperança: "a famflia cristã proclama em alta voz o poder atual do Reino de Deus e a esperança da vida feliz. Assim, pelo seu exemplo e pelo seu testemunho, convence o mundo de pecado e ilumina os homens em busca da verdade" (Lumen Gentlum, n9 35).

~.!EDITAI i\ SUA PALAVRA ...

Inquieto e febricitante, o nosso mundo oscila entre o medo e a esperança, e numerosos jovens aproximam-se, titubeando, do caminho que diante deles se rasga. Seja isto, para vós, um estímulo e um apelo. Com a força de Cristo podeis, e portanto deveis, realizar grandes coisas. Meditai a Sua Palavra, recebei a Sua graça na oração e nos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, confortai-vos uns aos outros, dando testemunho, com simplicidade e discrição, da vossa alegria. Um homem e uma mulher que se amam, um sorriso de criança, a paz de um lar: pregação sem palavras, mas tão surpreendentemente persuasiva, em que todo homem pode já pressentir, como que por transparência, o reflexo de um outro Amor, e o seu apelo infinito".

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CORRESPOND~NCIA - TESTEMUNHO

Junto de cada equipe encontramos sempre um sacerdote a título de Conselheiro Espiritual. Com vocês ele ora, com vocês reflete. Eis o testemunho de um deles (ele é também religioso):

"As Equipes me levaram a descobrir as riquezas do sacra­mento do matrimônio e a profundidade do amor cristão. Fui então levado a rever a minha vida sacerdotal à luz destas descobertas. Foi-me assim revelado o "casamento" que existe entre o padre e Deus. Outra aquisição, foi a noÇão mais profunda do que é o amor fraterno, do tipo amor de caridade, agapé. Sinto-me mais irmão de meus irmãos religiosos, expe­rimento uma grande ternura para com eles, um grande desejo de lhes fazer o bem. Ao fazer o jogo da equipe, onde se é ao mesmo tempo sacerdote e irmão, habituamo-nos a viver com todos os homens que encontramos, aprendemos a amar os homens com o coração de Deus. Faz já seis anos que fui ordenado padre e um ano que sou Conselheiro Espiritual de uma equipe. As Equipes me levaram a encarar melhor a grandeza da oração comunitária, como também a crer ainda mais na meditação que considero agora como um elemento essencial do apostolado".

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Com a remessa de sua contribuição, um casal que in­gressou nas equipes logo depois de seu casamento - e isto há 18 anos - enviou-nos a carta que transcrevemos a seguir:

"Aproveito a ocasião destas questões materiais para dizer­-lhes ainda uma vez o meu apego às E.N.S. Dentro em pouco completaremos dezoito anos de vida no Movimento. Avaliamos o quanto as Equipes foram para nós um auxilio insubstituível na nossa vida espiritual. Durante esse período, tivemos altos e baixos, como acontece para todo o mundo, mas as Equipes, a nossa equipe e a reunião mensal nos ajudaram sempre a "aguentar firme" e a manter os olhos voltados para o Senhor.

Entramos para o Movimento, dois meses após o nosso casamento. Todo o mundo nos dizia que era preciso "dar tempo ao tempo". Estamos convencidos que é às Equipes que devemos a unidade profunda de nosso lar, porquanto desde o início tomamos o hábito de dialogar em profundidade e de nos voltarmos para o Senhor nas nossas dificuldades.

Por vãrlas vezes foram-nos confiadas responsabilidades no Setor; não o podemos fazer agora, pois os nossos cinco filhos estão crescendo e têm multo mais necessidade de nós do que quando eram pequenos. Têm necessidade de nossa presença, que estejamos junto deles para com eles discutir, mas continuamos muito apegados ao Movimento e às suas atuais orientações".

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PARA A SUA BIBLIOTECA

HENRI CAFFAREL- "0 amor e a graça"

Reunindo artigos, conferências, editoriais, O AMOR E A GRAÇA nos oferece o fruto da reflexão teológica e da expe­riência adquirida junto dos casais, por aquele que é o fundador e o animador espiritual de nosso Movimento, o Cônego Caffarel.

Para jovens casais, o livro que apresentamos é uma inicia­ção à e.spiritualidade do casamento e poderá ajudá-los durante toda a vida. A reflexão teológica que oferece é acessível a. todos, entremeada que é de experiências e fatos concretos.

O casal cristão deve fazer subir para Deus não somente o seu amor, mas todo o amor. E, de círculo em circulo, de pro­fundeza em profundeza, isto acaba tocando o universo inteiro.

Há o amor santo e consagrado daqueles que amam sob o sinal do sacramento; há o amor pecador e aberrante daqueles que mutilam a fisionomia divina da ternura; há o amor pro­fano, ou que se julga tal, mas cujas lutas, incertezas e espe­ranças abrem pouco a pouco o caminho de Deus no coração dos homens. Abaixo da humanidade, não há o obscuro e formidável trabalho do instinto animal a serviço da vida?

Assim, de todos os cantos do mundo, o impulso que apro­xima os seres vivos aflora à alma do cristão para dar glória ao Criador. "Laudem gloriae" - uma alma mística moderna tinha tomado por divisa estas palavras de São Paulo: "louvor de glória". E é justamente esta a missão para a qual os sacramentos consagram o homem, e o sacramento do matri­mônio o lar cristão.

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TEMA DE ESTUDOS PARA A 1 ~ REUNIÃO

!Na. primeira. reunião oa casais fazem um rápido estudo do conjunto dos Estatutos. O que é importante, em essência., é verificar se estão de acordo com as grandes idéias que cons­tituem a diretriz do Movimento. Não se detenham, portanto, nos detalhes. Nas reuniões seguintes, terão a ocasião de os estudar. Procurem, antes de tudo, compreender muito bem o espírito que presidiu à elaboração destes Estatutos. Leiam­-nos com toda. a. atenção e poderão notar quatro a~~pectoll principala.

1. - O IDEAL

lt o ideal do Evangelho, mas com uma aplicação concreta à vida. do homem e da mulher casados. lt portanto um ideal elevado, exigente, um ideal de santidade.

J!: bem evidente que, para ser membro de uma equipe, não se requer que tudo o que descrevem as primeiras páginas dos Estatutos já se ache realizado, mas os membros das equipes devem a~~pirar a este ideal.

Neste ponto, aliás, não se distinguem de numerooos outros casais cristãos que se agrupam em outras organizações. O que distingue as Equipes de Nossa Senhora, não é o ideal, mas sim

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os meios que propõem para o atingir. F.sses meios são expos­tos nos parágrafos que falam da "mística" e da disciplina.

2. - A "MíSTICA"

As equipes não são círculos de estudo ou organizações de auxUio mútuo. São antes de tudo o lugar de encontro de casais de ,boa vontade, que querem promover o seu mútuo desabrochar, tendo em vista o ideal que os Estatutos apresentam.

Quando se entra nas Equipes, não se trata de enriquecer o espírito, mas sim de abrir a própria alma; dar tanto quanto se pode, acolher o que os outros nos podem dar. A mistica das Equipes é pois, essencialmente, uma m!stima de partilha, de co-participação. Trabalhos, oração, auxilio mútuo adquirem o seu valor na medida em que cada qual der de si.

1: também uma mística de disciplina e de controle. Os casais das Equipes, conscientes de sua fraqueza, procuram o apoio de uma regra, e para que esta regra não seja - como tantas "resoluções" - letra morta, pedem aos outros casais para ajudá-los a vivê-la e a controlar a sua aplicação.

~ preciso notar, ainda, que a vida de equipe não é consi­derada como um objetivo em si, mas sim um meio de ser mais transparente a Deus e poder assim dá-lo com mais verdade ao redor de si.

3. -DISCIPLINA

Ao ler tudo o que diz respeito às regras da vida de equipe e de vida pessoal, é preciso distinguir bem o que é sugestão e o que é obrigação. Verão assim que as obrigações são limi­tadas e bem precisas. Correspondem às necessidades de um trabalho em comum conduzido com seriedade e às exigências de uma vida pessoal verdadeiramente cristã. São suficiente­mente limitadas para permitir uma larga margem à iniciativa de cada um.

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4. - A ORGANIZAÇAO DO MOVIMENTO

Reparem na importância do Casal Responsável e do Con­selheiro Espiritual, bem como no papel que lhes é próprio. Reparem no papel do Casal de Ligação. Graças a ele, a indiSpensável "organização administrativa" pode funcionar com toda a maleabilidade: as relações entre a Equipe Responsável e as equipes conservam um caráter humano e pessoal.

* Para ajudar a refletir e a orientar a discussão na equipe

eis algumas perguntas: - O que os leva a entrar numa equipe de casais? O que

vêm nela procurar? - QuaiS as dificuldades encontradas até agora, para manter

e aprofundar a vida interior? O que, nos Estatutos, lhes parece poder remediar a estas dificuldades?

- Que pensam da necessidade de uma regra e de um controle?

- Que pontos lhes parecem essenciais no ideal das Equipes de Nossa Senhora?

- Quais são, na sua opinião, os pontos mais importantes dos Estatutos? Quais os pontos que lhes parecem maiS difíceis de pôr em prática?

(Não fiquem desanimados, logo à primeira vista, em face de uma ou outra das obrigações dos Estatutos. Provavelmente, depois de refletir mais pausadamente, compreenderão melhor a sua necessidade. Foi com a intenção de facilitar esta com­preensão que se previu o estudo detalhado dos Estatutos).

Se estiverem de acordo, no seu conjunto, com o ideal, a mística e a regra propostos nos Estatutos, entreguem-se a um estudo mais aprofundado. Poderão ver assim, após alguns meses, se aqullo que as Equipes de Nossa Senhora lhes oferecem, corresponde às suas aspirações.

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"Caros filhos, a Igreja, de que iOis as células vivas e atuantes, dá através dos vossos lares, como que uma prova experimental do poder do amor salvador e produz os seus !rutos de santidade. Lares provados, lares venturosos, lares fiéis, preparais para a Igreja e o mundo uma nova Primavera cujos primeiros rebentos nos fazem estremecer de alegria. Vendo-vos, tendo presentes pelo pensamento os milhões de casais cristãos espalhados pelo mundo, sentimo-nos cheios de uma irreprimível esperança e, em nome do Senhor, confiadamente vos dizemos: •• Brilhe assim a vossa luz ao olhos dos homens, a fim de que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus" (Mt. 5,16). Em seu nome, imploramos sobre vós e sobre os vossos queridos filhos, sobre todos os lares das Equipes de Nossa Senhora e seus assistentes, muito particular­mente sobre o caro Padre Caf!arel, a abundância das divinas graç9.6, em penhor das quais vos damos, com todo o coração, uma larga Benção Apostólica".

PAULO VI

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ORAÇAO PARA A REUNIAO

Esta oração, toda ela, está orientada para a caridade: o amor de Cristo que nos escolheu, o amor dos outros por amor de Cristo. 1 , _ 111

TEXTO DE MEDITAÇAO (Jo. 15, 12-17)

O meu preceito é este: que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus amigos. Vós sereis meus amigos, se flzerdes o que vos mando. Já não vos chamo servos porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; chamo-vos amigos porque vos dei a conhecer tudo aquilo que ouvi de meu Pai. Não fostes vós que me escolhestes; mas fui eu que vos escolhi a vós e que vos destinei para que vades e deis fruto, e para que o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo o que pedirdes a meu Pai em meu nome, Ele vô-lo conceda. Isto vos mando: que vos ameis uns 8.05 outros.

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ORAÇAO LITúRGICA (Hino da Quinta-Feira-Santa)

Leitor: Reunidos por amor de Cristo e fazendo um só corpo,

Manifestemos-lhe a nossa alegria de estarmos juntos;

Esforcemo-nos por temer e amar O Deus IViVO,

E nos amarmos uns aos outros do fundo do coração.

Todos: Onde reinam o amor e a caridade Deus está presente.

Oração: O Deus, que utilizais todas as coisas para o bem dos que vos amam, imprimi tão profundamente nos nos­sos corações o ardor da vossa caridade que nenhuma tentação possa abalar os desejos que nos inspirais. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, que vive e reina com o Pai e o Espirito Santo, pelos séculos dos séculos. MmM.

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EQUIPES NOTRE DAME 49 Rue de la Glaciêre

Paris XIII

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EQUIPES DE NOSSA SENHORA 04538 - Avenida Horácio Lafer, 384

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