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CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS DO CONSUMIDOR DE PEIXENO MERCADO
DE BELÉM1
Jucineide Alves Barbosa2Antônio Cordeiro de Santana3
Ismael Matos da Silva4Marcel do Nascimento Botelho5
José Maria H Condurú Neto6
RESUMOO Estado do Pará é o maior produtor de pescado da Região
Norte, respondendopor cerca de 64% do total desembarcado na região.
O objetivo do trabalho foianalisar o comportamento do consumidor de
peixe no mercado de Belém eidentificar os atributos que influenciam
a compra de peixe, tais como: o tamanhodas famílias, renda do
consumidor, freqüência de consumo, local de aquisição,preço e
qualidade do peixe, espécies mais consumidas e produto substituto.
Foramentrevistados, intencionalmente, 400 consumidores nos locais
de venda de peixe.Utilizaram-se como metodologia tabelas de
freqüência e a regressão múltipla. Osresultados mostraram que a cor
foi o atributo que mais atraiu o consumidor. Cercade 30% dos
entrevistados consomem peixe apenas uma vez por mês, 68%compram o
peixe nas feiras e 50% compram peixe inteiro. O tamanho de 51%
dasfamílias consumidoras de pescado é de 4 a 6 pessoas. As espécies
maisconsumidas em Belém são: dourada, pescada branca e pescada
amarela.Palavras-chave: peixe, consumidor, mercado, Belém.
ABSTRACTBehavior characteristics of fish consumer at the market
places in Belém
The State of Pará represents the greatest fishing economy within
the North Region,calling for about 64% of the total unloaded. The
objective of this work was to analysethe fish consumer behaviour
regarding the market of Belém and identify attributesthat have
influence upon the consumer at the moment of purchase, such as:
familysize; consumer income; frequency of consumption; purchase
place; fish price;species preference; and substitute product. The
data collection was done through_________________________________1
Artigo extraído do Trabalho de Conclusão de Curso, defendido e
aprovado em 2006, daprimeira autora.Os autores são gratos à revisão
primorosa feita pelos conselheiros e consultores anônimosdeste
Boletim. As imperfeições remanescentes correm por nossa conta.2
Graduada em Medicina Veterinária pela Universidade Federal Rural da
Amazônia (UFRA).3 D.Sc. Economia Rural e Professor Associado I da
UFRA. E-mail: [email protected] M.Sc. Economia Rural e
doutorando da UFRA.5 D.Sc. Educação e Desenvolvimento Local e
Professor Adjunto da UFRA.6 Professor Adjunto da UFRA.
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Jucineide Alves Barbosa, Antônio Cordeiro de Santana, Ismael
Matos da Silva, Marcel doNascimento Botelho, José Maria H Conduru
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400 interviews within the different sale sites. The results were
estimated usingbasic statistics and multiple regression. The
results show that colour is the attributethat attract more
consumers, approximately 30% of the consumers eat fish once amonth,
68% buy fish at free markets and 50% prefer to by the whole fish.
About51% of the consumer’s families are composed by 4 to 6 members.
The “dourada”,“pescada branca” and “pescada amarela” are the most
consumed species in Belém.Key words: fish, consumer behaviour,
market, Belém.
INTRODUÇÃOA Amazônia é privilegiada por abrigar uma diversidade
de espécies naturais
de fauna e flora aquática, das mais importantes do mundo. Esse
potencial contribuipara o desenvolvimento de atividades econômicas,
como é o caso da pesca, quegarante alimento, renda e emprego para
importante contingente populacional naregião.
A produção industrial de pescado, no Brasil, tem avançando mais
na tecnologiade processamento empregada. As principais indústrias
de processamento depescado estão localizadas na Região Sudeste. Só
recentemente as empresasparaenses iniciaram o emprego de novas
tecnologias de processamento dopescado.
O estado do Pará possui um potencial pesqueiro significativo,
atendendo àsempresas de pesca, assim como aos gostos e preferências
do consumidor. Asempresas regionais ainda são deficientes em
tecnologia, ofertando produtos combaixo nível de processamento e
agregação de valor e, conseqüentemente, combaixa competitividade no
mercado nacional. Os peixes são exclusivamenteindustrializados sob
a forma de postas e filés resfriados e/ou congelados.
O mercado de produtos pesqueiros industrializados é seguro (em
quesentido) e está em expansão, principalmente o pescado produzido
em cativeiro,em função da redução dos estoques naturais. A demanda
de pescado estáevoluindo à taxa superior à oferta. Isto ocorre em
função da mudança na culturalocal de consumir peixe apenas na
Semana Santa para consumir ao longo do ano.O aumento de consumo de
pescado também está vinculado a aspectos de saúde,a introdução de
produtos semiprontos e/ou com receitas e a redução de preço
emfunção do explosivo aumento da produção em cativeiro,
substituindo a escassezdos estoques naturais. Os consumidores estão
mais exigentes e, dentre outrasexigências, procuram produtos de
melhor qualidade e com garantia de segurança,oriundos de empresas
que tenham reputação, além de produtos que apresentempreço
acessível. O peixe tem alto valor dietético, com teor de gordura
inferior àscarnes de aves e bovina, com alto teor de proteínas e
baixo nível de colesterol.Além disso, o pescado é um alimento
apreciado por todas as classes sociais etodas as idades, do mais
jovem ao idoso dada a existência de uma grande variedadede
espécies, podendo-se atender aos gostos dos mais diferentes tipos
deconsumidores.
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O Estado do Pará tem importância significativa na economia
pesqueira noBrasil, devido ser o maior produtor nacional (17,3%),
ter o segundo maior consumoper capita do país, com cerca de 24
kg/ano, e contribuir com aproximadamente 64% da produção de pescado
da Região Norte (POF/IBGE, 2005).
O pescado entrou definitivamente no agronegócio e devido
aocomportamento dinâmico do consumidor, que exige maior qualidade e
segurançaalimentar do produto, cada vez mais impõem aos produtores
maior eficiência eprofissionalismo na produção e comercialização do
peixe e seus produtos. Istoremete para o conhecimento do mercado
consumidor, para que a oferta sejadimensionada e ajustada aos
gostos e preferências dos diversos segmentos doconsumidor.
Neste contexto, conforme Pinheiro et al. (2004), a identificação
do perfil doconsumidor de peixe é fundamental para as decisões dos
empresários,especialmente no estado do Pará, onde nunca foi
desenvolvida pesquisa destegênero. Para suprir essa lacuna, o
presente trabalho objetivou identificar o perfildo consumidor de
peixe da cidade de Belém e analisar o seu comportamento.
METODOLOGIAA área de estudo foi a cidade de Belém, onde se
concentra a maior volume
de transações comerciais de peixe do estado do Pará, no primeiro
semestre de2005. O método de pesquisa foi da abordagem direta aos
consumidores, visandoà aplicação de um questionário com questões
fechadas e mistas. A amostra foinão probabilística do tipo
intencional (KARMEL; POLASEK, 1981), em que oconsumidor era
abordado e perguntado sobre a possibilidade de responder
àsperguntas do questionário. O questionário foi elaborado com
questões para refletiro comportamento do consumidor, conforme Mowen
e Minor (2003). Não houvepreocupação de se obter um número
representativo da massa de consumidorestotal de Belém, mas de
entrevistar um considerável número de pessoas, dasdiversas classes
sociais, no período da manhã e da tarde, em diferentes locais
devenda de peixe. Foram preenchidos 400 questionários válidos. As
entrevistas foramrealizadas em supermercados, feiras e mercados
municipais de Belém. Comoos mercados municipais apresentam a mesma
forma de comercialização dasfeiras, os questionários foram
analisados conjuntamente. Assim, foramconsiderados para estudo o
que se denominou de feiras e os supermercados.Além dos dados
primários, foram também utilizados dados secundários
paracomplementar os resultados. Estes dados foram obtidos por meio
de pesquisasdiretas em órgãos envolvidos com o setor pesqueiro, a
exemplo do Centro dePesquisa e Gestão de Recursos do Litoral Norte
(CEPNOR) do Instituto brasileirodo Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA) e bibliotecas dasUniversidades locais
como Universidade Federal Rural da Amazônia (UFRA),Universidade
Federal do Para (UFPA) e Universidade Estadual do Pará (UEPA).
A partir das informações obtidas dos 400 questionários válidos,
os dadosforam digitados em planilha eletrônica, sendo apresentados
na forma de gráficos
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e tabelas de freqüência. As variáveis analisadas foram: a) Com
relação aoconsumidor – dados sobre as variáveis que o influenciam
na hora da compra;tamanho da família, nível de renda, nível de
escolaridade, consumo fora do domicílio,preferência quanto à
qualidade (estado e ao tipo de peixe), preferência por local
decompra, preferência com relação à forma de comprar o peixe,
freqüência deconsumo do peixe, forma de consumo e gosto do
consumidor em relação aprodutos que não estão no mercado e b) Com
relação ao produto dados sobre osatributos de qualidade do peixe,
preço do peixe e as espécies mais consumidas.
No que diz respeito à forma de compra do peixe, forma de consumo
e aosatributos de qualidade foram atribuídos índices de acordo com
a preferência doconsumidor como: 1 – quando a importância atribuída
foi nula; 2 – quando aimportância atribuída foi baixa; 3 – quando a
importância atribuída foi média; e 4 -quando a importância
atribuída foi alta, ou seja, esta opção seria a mais importantepara
o consumidor, sendo decisivo para ele.
Para estimar a equação de demanda de peixe, determinar a
elasticidade eidentificar as relações com produtos substitutos e
complementares no consumode peixe em Belém, foi proposta a seguinte
regressão múltipla (SANTANA, 2003):
Equação de Demanda: QPi= ao + a1 PPi + a2 Ri +a3 PBi + a4 TFi +
ui
em que QPi = é a quantidade per capita de peixe demandada pela
família i, nomercado de Belém; PPi = é o preço real do peixe, pago
pela família i no mercadode Belém; PBi= preço real da carne bovina
adquirida pela família i no mercado deBelém; Ri = renda real das
famílias consumidoras de peixe de Belém; TFi =tamanho das famílias
dos entrevistados, medido pelo número de pessoas; e ui = éo termo
do erro aleatório.
Hipóteses teóricas para os sinais dos parâmetros associados às
variáveisexplicativas da equação de demanda:
a1 < 0 = os preços devem apresentar uma relação negativa com
a quantidadedemandada de peixe, confirmando a lei da demanda de que
os preços variaminversamente às quantidades demandadas de um
produto, ceteris paribus;a2 > 0 = o consumo de peixe, por ser
considerado um produto essencial àalimentação, deve apresentar uma
relação positiva com a renda do consumidor,confirmando a lei de
Engel de que o consumo dos bens normais ou superioresvariam
diretamente com a renda, ceteris paribus;a3 > 0 = o preço da
carne de boi deve apresentar uma relação positiva com oconsumo de
peixe, indicando que os produtos são substitutos;a4 > 0 = o
tamanho da família deve apresentar sinal positivo, pois espera-se
que oconsumo aumente com o aumento do tamanho da família, pois isto
reflete umaumento no tamanho do mercado, ceteris paribus.
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ANÁLISE DOS RESULTADOSOs resultados gerados a partir da
aplicação da metodologia aos dados dos
400 consumidores entrevistados são analisados nas seções
seguintes.
Motivação do consumidor na hora da compra:Observou-se que tanto
os consumidores das feiras como dos
supermercados, consideram que suas decisões de compra são
influenciadas pelacor e aparência do peixe, uma vez que este item
foi priorizado por 75,6% dosconsumidores de feira e 63,5% dos
consumidores de supermercados (Figura 1).A menor representação
destes fatores entre os consumidores que adquirempescado nos
supermercados se deve ao fato dos mesmos terem maiorconfiabilidade
na qualidade do produto exposto à venda. Muitos afirmaram quenos
supermercados o pescado é fiscalizado.
Figura 1 – Freqüência das propriedades que atraem o consumidor
de peixe dossupermercados e das feiras de Belém. Dados coletados ao
longo do primeirosemestre de 2005.
O valor nutritivo e o sabor são valores que os consumidores
dossupermercados elegeram como importantes na decisão de compra do
peixe, compesos significativamente superiores aos atribuídos pelos
consumidores de peixedas feiras, respectivamente 13,7% e 4,7%. A
diferença observada se deve à própriaescolha pela compra no
supermercado, uma vez que se acredita que os produtosali
comercializados apresentam qualidade superior aos ofertados nas
feiras.
Os demais itens revelados pelos consumidores foram o gosto e
preferênciapela carne de peixe, em função das propriedades
nutricionais, exercendo maiorinfluência nas decisões dos
consumidores de supermercados, isso, talvez devido
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60 65 70 75 80
Porcentagem
outros
duas ou m ais
valor nutritivo
cor
sabor
Freq
uênc
ia d
e pr
iorid
ades
Feiras s uperm ercado
-
Jucineide Alves Barbosa, Antônio Cordeiro de Santana, Ismael
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ao maior grau de escolaridade e nível de renda desses
consumidores, conformeserá apresentado mais adiante.
Freqüência de consumo de peixe entre os entrevistados no mercado
deBelém
A Figura 2 apresenta a de freqüência de consumo entre os
consumidoresdas feiras e dos supermercados. O porcentual de
consumidores que compra peixenos supermercados 2 a 3 vezes por
semana (37%) é maior do que aquele observadopara os consumidores de
feiras (29%). Com relação ao consumo diário, observa-se que tanto
os consumidores das feiras quanto os dos supermercadosapresentam a
mesma freqüência de consumo (2%).
Figura 2 – Freqüência de consumo do peixe nos supermercados e
das feiras deBelém. Dados coletados ao longo do primeiro semestre
de 2005.
Um porcentual de 24% dos consumidores que compram pescado
emsupermercados declarou consumir peixe duas vezes por mês,
enquanto nas feirasessa freqüência correspondeu a 35%,
comportamento inverso ao observado quantoaqueles que consomem peixe
duas a três vezes por semana. Já os que consomempeixe apenas uma
vez por mês são praticamente iguais entre os dois setores.Apesar
desta alta freqüência de consumo de peixe pelas famílias
entrevistadas,cabe ressaltar que as vendas de peixe nos
supermercados de Belém iniciou hápouco tempo, mas já atingiu uma
parcela considerável do mercado em função daqualidade e da
propaganda, associadas às promoções semanais.
Preferência do consumidorQuanto ao estado, o peixe é
classificado para comercialização em fresco,
resfriado e congelado, sendo que mais de 95% dos consumidores
entrevistadosem Belém, tanto de feiras como de supermercados
responderam que preferempeixes frescos, muito embora a maioria
saiba que compra peixe resfriado oucongelado, pois o mercado
dificilmente oferta peixe fresco, devido a distância que
0 5 10 15 20 25 30 35 40
P orcentagem
outra
1 no m ês
2 no m ês
2 a 3 na sem ana
diariam ente
Freq
uênc
ia d
e co
nsum
o fe ira s s u pe rm e rcad o
-
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o mesmo é capturado. A Figura 3 apresenta a variação de
preferência doconsumidor entre as feiras e os supermercados.
Figura 3 – Preferência do consumidor quanto ao estado de
conservação do peixena hora da compra em supermercados e feiras de
Belém. Dados coletados aolongo do primeiro semestre de 2005.
Observa-se, de modo geral, que os resultados da Figura 3 são
praticamenteiguais, ou seja, tanto os consumidores entrevistados
nos supermercados quantonas feiras revelaram preferências
semelhantes em relação ao estado do peixe nahora da compra, ou
seja, de: 98% e 95% para peixe fresco; 1% e 4% para peixeresfriado;
1% para peixe congelado, respectivamente nos supermercados e
feiras.
No que diz respeito ao tipo, o peixe foi classificado em peixe
de pele, escamae ambos, pois há aqueles consumidores que gostam dos
dois tipos de peixe. Osresultados foram semelhantes entre os
consumidores das feiras e osconsumidores dos supermercados, quanto
à preferência ou indiferença quantoaos dois tipos de peixe (Figura
4).
Figura 4 – Preferência do consumidor em relação ao tipo do peixe
na hora dacompra em supermercados e feiras de Belém. Dados
coletados ao longo doprimeiro semestre de 2005.
0 5 1 0 1 5 2 0 2 5 3 0 3 5 4 0 4 5 5 0 5 5 6 0 6 5 7 0 7 5 8 0
8 5 9 0 9 5
P o rc e n ta g e m
c o n g e la d o
r e s fr ia d o
f r e s c o
Est
ado
de c
onse
rvaç
ão
fe i r a s u p e rm e rc a d o
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50 55 60
P orcentagem
pele / esc am a
esc am a
pele
Tipo
de
peix
e fe iras s up erm ercad o
-
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No que se refere ao peixe de escama, a preferência de compra foi
maiorpara os consumidores dos supermercados 25% em relação a 20%
dosconsumidores de feira. Por outro lado, quase na mesma proporção
o consumidorde feiras manifestou preferência (22%) por peixe de
pele, contra 16% dosconsumidores de supermercado (Figura 4).
No que se refere à qualidade e as preferências do tipo de peixe
consumido,pode-se inferir que os consumidores dos supermercados e
das feirasapresentaram um padrão de comportamento mais ou menos
semelhante.
Preferência por local de compraCom relação ao local de compra,
68% dos entrevistados adquirem o peixe
em feiras, 20% em supermercado e 2% em outros locais como casa
de peixe(peixaria). Apenas 10% dos consumidores entrevistados
compram peixe tanto nasfeiras quanto nos supermercados.
A grande maioria dos consumidores entrevistados compra o peixe
em feiraspelo fato do preço do peixe ser mais baixo do que nos
supermercados. Além disso,os declarantes justificaram que nas
feiras eles se sentem mais à vontade paraverificar a textura, a cor
(guelras) e assim levar um peixe “fresco” para casa. Osconsumidores
de renda alta costumam comprar peixe nos mercados, inclusivefazem
encomenda de grande quantidade (Tabela 1).
Tabela 1 – Freqüência de preferência do local de compra dos
consumidores depeixe em supermercados e feiras de Belém. Dados
coletados ao longo do primeirosemestre de 2005.
Preferência em relação à formaA forma de compra do peixe foi
dividida em peixe vivo, peixe inteiro, peixe
inteiro sem cabeça, posta e filé de peixe. Para cada, o
consumidor entrevistadoatribuiu uma importância de acordo com a sua
preferência na hora da compra. Asimportâncias atribuídas foram
nulo, baixo, médio e alto. Nulo o consumidor nãolevaria o produto,
baixo ele levaria, mas em ultimo caso, médio seria a segundaopção e
alto seria a de maior importância, ou preferência. Tanto nas feiras
comonos supermercados, nenhum consumidor revelou o hábito de
comprar peixe vivo,todavia, não existe uma oferta regular dessa
alternativa de venda.
n %feira 68 68,0supermercado 20 20,0ambos os locais 10
10,0outros 2 2,0Total 100 100,0
FrequênciaLocal de compra
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A Tabela 2 apresenta a diferença revelada entre os
consumidoresentrevistados nos supermercados e os consumidores
entrevistados nas feiras,diante da maneira de como comprar o peixe.
Observou-se que a preferência pelacompra do peixe na forma de filé
é maior entre os consumidores entrevistadosnos supermercados do que
entre os da feira. Isto ocorreu porque a maioria dosentrevistados
nas feiras apresentou poder aquisitivo menor, ou seja, a renda
dosconsumidores entrevistados nos supermercados é maior do que a
renda daquelesentrevistados nas feiras. Além disso, em nenhuma das
feiras em que foramrealizadas as entrevistas havia comercialização
de peixe em forma de filé, dadoque este tipo estraga mais rápido,
pois as condições de conservação sãoinadequadas.
A pesquisa constatou que tanto os consumidores entrevistados
nossupermercados quanto nas feiras têm alta preferência por peixe
inteiro,apresentando um percentual de 51,5% e 69,6%,
respectivamente. Os entrevistadosnas feiras informaram que compram
peixe com cabeça porque a utilizam parafazer caldo; geralmente, os
que apresentaram essa justificativa foram osconsumidores de renda
mais baixa. A preferência por peixe em posta foi de 22,5%para os
consumidores que realizam suas compras nas feiras e de 22,8%
nossupermercados. A compra do peixe na forma de filé nos
supermercados apresentoualta preferência para 20,8% dos
entrevistados, enquanto que nas feiras foi deapenas 5,0%.
Tabela 2 – Freqüência da Preferência na forma da compra de peixe
dosconsumidores de peixe em supermercados e feiras de Belém. Dados
coletadosao longo do primeiro semestre de 2005.
Forma de consumo do peixeForam apresentadas aos consumidores as
quatro alternativas de consumo
de peixe conforme a seguir: peixe cru, peixe cozido, peixe frito
e peixe assado. Acada forma de consumo foi atribuído um valor de
acordo com a sua preferência,
n % n % n % n %
inteiro 33 29,7 7 5,9 14 12,9 58 51,5 112descabeçado 97 86,3 5
4,9 3 2,9 7 5,9 112postas 42 37,6 5 5,0 39 34,7 26 22,8 112filé 68
60,4 15 13,9 6 5,0 23 20,8 112
inteiro 55 19,6 11 3,9 19 6,9 195 69,6 280descabeçado 250 89,2
14 4,9 5 2,0 11 3,9 280postas 104 37,3 8 2,9 104 37,3 64 22,5
280filé 210 75,2 39 13,9 17 5,9 14 5,0 280
Feira
Supermercado
TotalForma de compra
Frequências nulo baixo médio alto
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sendo que o valor alto indica a forma de consumo de maior
preferência. Nenhumdos consumidores entrevistados, tanto das feiras
como dos supermercados,possui o hábito de consumir peixe cru. As
formas cozido e frito, por sua vez, sesobressaíram como as mais
preferidas pelos consumidores (Figura 5).
Figura 5 – Freqüência da forma de consumo de peixe dos
consumidoresentrevistados nos supermercados e feiras de Belém.
Dados coletados ao longodo primeiro semestre de 2005.
A preferência de consumo de peixe nas formas cozido e frito,
deve-se àsdiversas opções de pratos típicos e receitas regionais
como a caldeirada, peixeao molho, peixe acompanhado de pirão, etc.
O peixe cru, receita típica dosrestaurantes nipônicos, ainda não
foi incorporado, em larga escala, no hábito doconsumidor paraense.
Por outro lado, o peixe assado é demandado em praias ereuniões de
família. É uma forma especial de servir o tambaqui e outros peixes
naforma de churrasco, porém, não muito comum no dia-a-dia dos
consumidores.
Atributos e qualidade do peixeDurante a pesquisa, analisou-se o
nível de importância que os consumidores
davam ao item qualidade do produto, por meio de sete atributos
vinculados àqualidade e segurança alimentar do peixe comercializado
no mercado de Belém,que foram higiene, preço, origem, textura,
aspecto visual, identificação e SIF(Sistema de Inspeção Federal). A
Tabela 3 apresenta os aspectos de maiorimportância considerados
pelos consumidores no momento da compra.
Tanto os consumidores de feiras como de supermercados elegeram
ahigiene, o preço, a textura e o aspecto visual como atributos de
alta importânciana hora de comprar o peixe, ou seja, a maioria dos
consumidores considerouessas características como decisivas no ato
da compra. O atributo textura, paraos consumidores entrevistados
nos supermercados, foi cerca de 17,8% menorem relação aos
consumidores de feiras, 70,3% e 88,1%, respectivamente.Geralmente,
quem compra em supermercado não tem o hábito de ficar apertandoo
peixe, apesar de muitos ainda fazerem, o que é um hábito muito
observado nasfeiras e nos mercados municipais, e exercitado,
principalmente, por consumidores
05
101520253035404550
Por
cent
agem
nulo baixo médio alto
Consumo
supermercado
cozido frito assado
05
10152025303540455055
Porc
enta
gem
nulo baixo médio alto
Consumo
feira
cozido frito assado
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de renda mais baixa. Nos supermercados, por sua vez, o aspecto
do peixe émelhor e o nível de confiança do consumidor é maior,
portanto, os itens textura easpectos visuais são considerados pelos
supermercados, daí a menor preocupaçãopor parte dos
consumidores.
Tabela 3 – Freqüência do nível de importância atribuído ao peixe
pelos consumidoresentrevistados nos supermercados e feiras de
Belém. Dados coletados ao longodo primeiro semestre de 2005.
Por outro lado, a origem, identificação, e o SIF apresentaram
alto percentualde irrelevância, ou seja, foram considerados de
influência nula na decisão decompra. Esses resultados foram
semelhantes aos encontrados por Silva (2005),em trabalho realizado
com consumidores de açaí. Estes resultados, todavia,divergem do
comportamento do consumidor de alimentos observado nos estudosde
Spers et al. (2003) e Saenz (2004).
Vale ressaltar que a grande maioria dos consumidores de peixe
entrevistadosem Belém mostrou coerência com o perfil de uma
população de baixa renda, quefoca suas decisões de compra no preço
do produto, em função do poder aquisitivonão lhe dar a liberdade de
não levar em conta o preço do produto. O consumidortambém não tem
informação sobre as necessidades de qualidade dos produtos,ao não
considerarem a inspeção federal dos produtos como requisito
fundamentalnas suas decisões de compra. Isto desestimula a
implantação das boas práticasde fabricação e a Análise de Perigos e
Pontos Críticos de Controle (APPCC) na
n % n % n % n %
higiene 1 1,0 2 2,0 15 12,9 94 84,2 112preço 2 2,0 19 16,8 22
19,8 69 61,4 112origem 90 80,2 4 4,0 6 5,0 12 10,9 112textura 14
12,9 9 7,9 10 8,9 79 70,3 112aspecto 3 3,0 1 1,0 4 3,0 104 93,1
112identificação 108 96,1 1 1,0 1 1,0 2 2,0 112SIF 108 96,1 1 1,0 1
1,0 2 2,0 112
higiene 8 3,0 22 7,9 56 19,8 194 69,3 280preço 6 2,0 25 8,9 36
12,9 213 76,2 280origem 238 85,1 17 5,9 6 2,0 19 6,9 280textura 2
1,0 14 5,0 17 5,9 247 88,1 280aspecto 3 1,0 277 99,0
280identificação 257 92,1 6 2,0 6 2,0 11 4,0 280SIF 274 98,0 6 2,0
280
Supermercado
Feiras
Atributos Totalnulo baixo médio altoFrequências
-
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Matos da Silva, Marcel doNascimento Botelho, José Maria H Conduru
Neto
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cadeia produtiva do pescado, vez que a parcela do mercado que
exige qualidadetotal do produto é pequena e sem repercussão no
mercado local.
Nível de escolaridade e tamanho das famíliasCom relação ao nível
de escolaridade, observou-se que 43,6% dos
entrevistados possuíam 2º grau completo e 23,6% nível superior
(Tabela 4). Estasinformações revelam o potencial crítico do
consumidor em relação à qualidade doproduto. Apesar de 67,2% dos
consumidores possuírem escolaridade a partir do2º grau, a maioria
não se apresentou preocupada em identificar a qualidade doproduto,
origem e a inspeção. Este resultado aponta para a prática cultural
deassumir que o produto exposto à venda nos locais tradicionais de
compra é deboa qualidade, independentemente do nível de
escolaridade.
Alguns dos consumidores com nível superior revelaram que nunca
sepreocuparam com a origem do peixe que consomem, se passam por
inspeção ounão, uma vez que ao comprarem nos supermercados, a
responsabilidade pelasegurança alimentar do produto deve ser uma
atribuição desse estabelecimentode venda. Porém, isto não é uma
atitude que se deve generalizar entre osconsumidores, vez que a
segurança alimentar deve ser um atributo intrínseco decada
consumidor.
Cerca de 1,0% dos consumidores entrevistados possui
pós-graduação e4,0% são analfabetos. A maioria dos consumidores
revelou que conhece o valornutricional do peixe, porém reclama do
preço muito alto, ressaltando que se fossemais acessível passariam
a consumir peixe todos os dias.
Alguns consumidores sugeriram que os supermercados informassem
qualo melhor peixe para fritar, cozinhar ou assar, assim como
disponibilizassemreceitas regionais e da cozinha internacional.
Essas informações ajudariambastante aqueles consumidores que não
conhecem muito bem peixe, e estimulariaa venda para os demais.
Adicionalmente, deveriam apresentar em local visível,informações
sobre como verificar a qualidade, sobre a origem,
propriedadesnutricionais do peixe e os benefícios para a saúde do
consumidor. Estas sãoestratégias de diferenciação de produto e de
marketing identificadas peloconsumidor e que os empresários ainda
não implantaram, embora conheçam(pelo menos os supermercados).
Com relação ao tamanho das famílias, a maioria, ou seja, 51,5%,
eramconstituídas por quatro a seis pessoas e 18,8% por sete a nove,
não sendoobservada maior diferença entre o porcentual
correspondente aos consumidoresdas feiras e dos supermercados.
Entre os consumidores dos supermercados,50,62% das famílias são
compostas por quatro a seis membros e 30,29% poruma a três pessoas.
Enquanto, que nas feiras 54,65% são compostas por quatroa seis
membros e 20,93% por uma a três pessoas (Tabela 4).
-
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CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS DO CONSUMIDOR DE PEIXE NO
MERCADO DE BELÉM
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Tabela 4 – Freqüências do nível de escolaridade declarado e do
número de pessoaspor famílias para os consumidores entrevistados
nos supermercados e feiras deBelém. Dados coletados ao longo do
primeiro semestre de 2005.
Observa-se que 73,3% das famílias que consomem peixe em Belém
sãoformadas por mais de quatro pessoas, o que revela um grande
potencial deconsumo a ser explorado, uma vez que esta variável pode
contribuir rapidamentepara ampliar o tamanho do mercado de peixe,
mediante deslocamento da demanda.
Nível de rendaCom relação ao poder aquisitivo do consumidor, os
resultados mostraram
que 13,9% das famílias entrevistadas nas feiras de Belém tinham
renda de umsalário mínimo, enquanto nos supermercados esse
porcentual correspondeu aapenas 2,0%, como já era esperado. No
outro extremo, as famílias, com rendasuperior a de dez salários
mínimos, apresentaram nos supermercados umapercentagem de 25,7% e
nas feiras de 5,9%. A maior parte dos consumidoresentrevistados,
com renda entre um e quatro salários mínimos foi mais freqüentenas
feiras com 51,5%, representando nos supermercados 36,6% do total
(Tabela5).
Esta variável é outro importante deslocador da demanda e que
deve serconsiderada pelos vendedores, diversificando os produtos
para atenderadequadamente a cada segmento de mercado, segundo seus
hábitos, tamanhoda família e nível de renda. Observa-se que 65,4%
das famílias ganham até quatrosalários mínimos, caracterizando um
consumidor de baixa renda, dado o tamanhoda família. Portanto,
deve-se observar o processo de formação dos preços paranão excluir
do mercado grande contingente de consumidores.
n %
Analfabeto 16 4,0Alfabetizado 20 5,0Ensino 91 22,82º Grau 174
43,53º Grau 95 23,8Pós-graduação 4 1,0Total 400 100
1 a 3 107 26,84 a 6 206 51,57 a 9 75 18,8mais de 9 12 3,0Total
400 100,0
Característica Frequência
Nível de escolaridade
Número de pessoas na família
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Matos da Silva, Marcel doNascimento Botelho, José Maria H Conduru
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Tabela 5 – Freqüência do nível de renda dos consumidores nos
supermercados efeiras de Belém. Dados coletados ao longo do
primeiro semestre de 2005.
DemandaOs resultados estimados para a equação de demanda,
envolvendo a
quantidade demandada de peixe por cada família em função do
preço do peixe,renda da família, preço da carne de boi e tamanho da
família, apresentaramcoerência com a teoria econômica, com todos os
parâmetros estatisticamentediferentes de zero a 5% de
probabilidade. Assim, aumentos simultâneos no preçodo peixe, renda,
preço do boi e tamanho da família, leva a uma diminuição
naquantidade demandada e deslocamentos positivos na demanda de
peixe,respectivamente.
Como as variáveis foram expressas na forma logarítmica (Eq. 1),
cada umdos coeficientes estimados reflete a elasticidade da
demanda. Assim, a cada 1%de aumento no preço do peixe,
simultaneamente nas feiras e nos supermercados,os consumidores
entrevistados tendem a diminuir a quantidade comprada em0,237%.
Isto significa que a demanda de peixe de Belém é inelástica a
preço,ceteris paribus. Isto significa que a reação do consumidor
quanto às quantidadesconsumidas variam menos que proporcional às
variações de preço do produto.
00,12F113,0R
)1Eq(TF247,0PBln327,0Rln189,0PPln237,0683,0QPln
2
i18,2
i30,4
i88,3
i80,107,2
i
==
+++−=−
Com relação à renda, tem-se que se a renda dos consumidores
entrevistadosaumentasse em 1%, a demanda de peixe por esses
consumidores tenderia aaumentar em 0,189%, ceteris paribus. Como a
elasticidade-renda foi positiva esituou-se entre zero e um, diz-se
que o peixe pode ser considerado um bem normalou de primeira
necessidade, uma vez que apresenta uma relação direta e menosque
proporcional com a renda.
A elasticidade-cruzada da demanda determinada entre as variações
no preçoda carne de boi e o consumo de peixe, serve para indicar o
tipo de relação entre
n % n %até 1 2 1,8 39 13,9> 1 até 4 41 36,6 144 51,4> 4
até 7 21 18,8 44 15,7> 7 até 10 19 17,0 36 12,9> 10 29 25,9
17 6,1Total 112 100,0 280 100,0
Supermercados Feiras local
Salário mínimo
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CARACTERÍSTICAS COMPORTAMENTAIS DO CONSUMIDOR DE PEIXE NO
MERCADO DE BELÉM
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os produtos, se complementar ou substituto. A
elasticidade-cruzada foi da ordemde 0,327, indicando que a cada
variação de 1% no preço da carne de boi no mercadode Belém, os
consumidores entrevistados tendem a aumentar o consumo de
peixe0,327%, ceteris paribus. Isto significa que a carne de boi é
um produto substitutodo peixe para os consumidores de peixe
entrevistados no mercado de Belém.Dessa forma, uma estratégia de
redução no preço do pescado, pode potencializarum forte impacto
sobre o consumo, dado que deve atrair a atenção dosconsumidores de
carne de boi para substituí-la por carne de peixe.
Quanto ao tamanho da família, verificou-se que o consumo de
peixe aumentacom o tamanho da família. Assim, para um aumento de 1%
no tamanho da família,a demanda de peixe das famílias entrevistadas
tende a crescer em 0,247%, ceterisparibus. Este resultado indica
que o tamanho da família tem um impacto noconsumo superior ao
produzido pela renda ou pelo preço do peixe.
Consumo fora do domicílioMuitos entrevistados, principalmente
aqueles que a família é composta por
dois membros, tem o hábito de comer fora de casa. Esse é um
costume que temaumentado consideravelmente, devido à maior
participação da mulher no mercadode trabalho, o que exige um menor
tempo para ser gasto na preparação daalimentação da família
(SANTANA, 1999).
Dos entrevistados, 31% fazem refeição fora de casa e, desse
percentual,18% consomem peixe. Este percentual está acima do
revelado para o mercadobrasileiro que gira em torno de 15%. Os 69%
restantes não realizam refeiçõesfora de casa em função do poder
aquisitivo não permitir. Outros consumidores,dentro dessa parcela
de 69%, justificaram que o peixe é um produto que precisaser bem
preparado. Por isso só consome em casa, preparado a caráter, ou
seja,obedecendo a receitas consagradas no hábito do consumidor
paraense como acaldeirada.
Interesse do consumidor por produtos que não estão no
mercadoAlguns produtos a base de peixe, comercializados em mercados
das
Regiões Sul e Sudeste, mas que ainda não entraram no cardápio de
paraense,como fishburguer já estão sendo vendidos em Belém, alguns
dos quais comopalitinhos, peixe semipronto, que ainda não são
conhecidos dos entrevistados.Mesmo assim, dentre esses produtos, o
fishburguer, bolinhos, croquetes, salsicha,lingüiça e palitinhos em
tabletes, despertaram o interesse de 30,1% dosentrevistados que
responderam que gostariam de experimentar. Outro contingentede
37,9% revelou que não teriam interesse nesses produtos,
justificando que peixeé um produto muito perecível, portanto não
ficaria um sabor agradável; isto combase apenas na imaginação
(Tabela 6).
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Tabela 6 - Freqüência de citações de novos produtos de peixe,
segundo apreferência dos consumidores nos supermercados e feiras de
Belém. Dadoscoletados ao longo do primeiro semestre de 2005.
Esses produtos estão em estudo, desenvolvidos por técnicos da
área, noCEPNOR e já estão sendo elaborados por uma empresa local,
porém tudo édestinado aos mercados do Sul e Sudeste. Se esses
produtos forem colocadosno mercado, serão aproveitadas muitas
espécies não consideras de interessepela indústria e que são
desperdiçadas.
Os bolinhos e croquetes foram os produtos que apresentaram 16,5%
dapreferência dos consumidores. Muitos entrevistados associaram
esse produtocom os bolinhos e croquetes de frango que existem no
mercado.
Espécies mais consumidasDurante a pesquisa também foi analisado
o gosto do consumidor no que diz
respeito à preferência da espécie do peixe que costuma consumir.
Dentre asespécies, foram apresentadas aos consumidores as
seguintes: dourada,piramutaba, pescada amarela, pescada branca,
filhote, tambaqui, tucunaré,pratiqueira, tamuatá. Outros foram
citados pelos entrevistados como pescada gó,tainha, mapará,
pirarucu. A cada espécie, o consumidor acrescentou um valor
deimportância de acordo com sua preferência (alto, médio, baixo,
nulo). Os resultadosentão na Tabela 7.
Observe-se que, nas feiras, os consumidores apresentaram
maiorpreferência pela dourada, sendo que 58,6% atribuíram alta
importância à espécie.A maior parte dos entrevistados respondeu que
eventualmente levam outrasespécies em função do preço mais baixo.
Os consumidores entrevistados nossupermercados também apresentaram
maior preferência pela dourada, porémcom um percentual de 48,2%.
Tanto nas feiras como nos supermercados apescada branca destacou-se
em segundo lugar, seguida da pescada amarela.
Em que pese esse resultado de diferenças no grau de preferência,
no casoespecífico do mercado de Belém, em função do baixo poder
aquisitivo e da
n %Fishburguer 27 6,8Bolinhos e croquetes 66 16,5Salsicha 8
2,0Lingüiça 16 4,0Palitinhos em tabletes 4 1,0Mortadela 8
2,0Múltipla 120 30,0Nenhum 151 37,8Total 400 100,0
FrequênciasNovos produtos
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MERCADO DE BELÉM
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constância de todos os peixes na culinária do paraense, torna-se
quase indiferentea escolha do peixe.
Tabela 7 – Freqüência das principais espécies consumidas pelos
consumidoresfreqüentadores dos supermercados e feiras de Belém.
Dados coletados ao longodo primeiro semestre de 2005.
CONCLUSÕES
1. Constatou-se que o atributo de qualidade de maior importância
para o consumidorparaense, no momento da compra do peixe é a cor
das guelras, por ser um dosindicativos de maior generalidade e
facilidade de identificação.
2. A maioria dos consumidores prefere consumir peixe fresco;
mais de 50% dosconsumidores não manifestaram preferência entre os
peixes de escama ou depele; a maior parte dos consumidores adquire
peixe em feiras; a maioria preferecomprar peixe inteiro e a forma
de consumo é cozida ou frito. Os demais atributoscomo preço,
textura e o aspecto visual também influenciam na decisão de
compra.
n % n % n % n %
Dourada 43 38,4 6 5,4 9 8,0 54 48,2 112Pescada branca 52 46,4 9
8,0 19 17,0 32 28,6 112Pescada amarela 55 49,1 10 8,9 20 17,9 27
24,1 112Piramutaba 103 92,0 1 0,9 1 0,9 7 6,3 112Pratiqueira 105
93,8 1 0,9 4 3,6 2 1,8 112Filhote 78 69,6 12 10,7 17 15,2 5 4,5
112Tambaqui 96 85,7 5 4,5 9 8,0 2 1,8 112Tucunaré 101 90,2 3 2,7 6
5,4 2 1,8 112Tamuatá 108 96,4 1 0,9 2 1,8 1 0,9 112Outros 85 75,9
15 13,4 9 8,0 3 2,7 112
Dourada 80 28,6 11 3,9 25 8,9 164 58,6 280Pescada branca 166
59,3 20 7,1 44 15,7 50 17,9 280Pescada amarela 183 65,4 17 6,1 39
13,9 41 14,6 280Piramutaba 219 78,2 6 2,1 14 5,0 41 14,6
280Pratiqueira 244 87,1 6 2,1 19 6,8 11 3,9 280Filhote 211 75,4 39
13,9 22 7,9 8 2,9 280Tambaqui 261 93,2 11 3,9 5 1,8 3 1,1
280Tucunaré 269 96,1 3 1,1 5 1,8 3 1,1 280Tamuatá 272 97,1 5 1,8 3
1,1 280Outros 208 74,3 36 12,9 28 10,0 8 2,9 280
Supermercado
Feiras
Espécies Totalbaixo médio altonuloFrequências
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Matos da Silva, Marcel doNascimento Botelho, José Maria H Conduru
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3. O nível de escolaridade não se manifestou como diferenciador
das exigênciasem qualidade do produto. A maioria das famílias
consumidoras de peixe éconstituída de quatro a seis pessoas.
4. O peixe é um produto normal e tem demanda inelástica a preço;
a carne de boise confirmou como produto substituto do peixe para os
consumidores entrevistadosno mercado de Belém.
5. O estudo também revelou que os consumidores têm interesse em
novosprodutos a base de peixe, que ainda não estão sendo
comercializados no mercadode Belém como fishburguer, bolinho e
croquete, salsinha, espetinho, etc. As trêsprincipais espécies de
maior preferência dos consumidores de Belém são:dourada, pescada
branca e pescada amarela.
6. Os consumidores entrevistados no mercado de Belém não
conhecem aspropriedades nutricionais do peixe, como fonte de
minerais, vitaminas eaminoácidos, a alta quantidade de gordura
ômega-3, que diminui a incidência dedoenças cardiovasculares, reduz
a pressão arterial e ação antiinflamatória; damesma forma, não
estão informados sobre a qualidade do produto, a certificaçãoe a
outras informações que induzem ao aumento do consumo do
produto.
7. O trabalho revelou os hábitos de consumo, poder de compra,
comportamento elocal de compra, tamanho das famílias, preferências
por espécies, interesse pornovos produtos e as limitações que
inibem o consumo. Estes fatores sãofundamentais os agentes de
produção e distribuição do produto no mercado, bemcomo cruciais
para a formulação de estratégias competitivas. Por fim, esta é
umacontribuição pioneira, vez que nunca foi realizada uma pesquisa
dessa naturezano mercado de Belém.
SUGESTÕESOs agentes do setor pesqueiros regional precisam
conhecer o mercado
consumidor, como fundamento para o desenvolvimento de
estratégias competitivassustentáveis. Os consumidores tomam decisão
por meio de julgamentos,envolvendo um conjunto diversificado de
atributos. Entre esses atributos seencontram preço, valor
nutritivo, aparência, sabor, conveniência, embalagem,segurança
alimentar e ambiente de venda. Ademais, o consumidor está cada
diamais informado e crítico quanto à escolha do produto a ser
adquirido, envolvendoos diversos segmentos do mercado. O trabalho
revelou que existem consumidoresinteressados e, em alguns casos,
exercendo esse conhecimento na escolha doproduto.
Ao mesmo tempo, os resultados do trabalho revelaram que há
deficiênciaem todos os itens arrolados no parágrafo anterior, com
destaque para a ausênciacompleta de divulgação das propriedades
nutricionais do peixe. Também não são
-
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MERCADO DE BELÉM
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explicadas as razões sobre a formação do preço do peixe, que
supera o preço dacarne de frango e de boi. As empresas e os
distribuidores precisam divulgar asqualidades do peixe, investir
nas ferramentas de marketing, entre elas a análisecompetitiva da
cadeia de valor, determinação do leque de produtos, técnica
desegmentação e posicionamento de marcas e produtos, formação do
preço epesquisa de mercado, que são técnicas indispensáveis ao
desenvolvimento dacadeia de suprimento de forma dinâmica e
sustentável.
É importante iniciar a criação de peixe e seu processamento em
escalacomercial, como forma eficiente de completar a oferta da
pesca extrativa, queestá diminuindo rapidamente em função da
redução dos estoques naturais. Istosignifica investimento na
agregação de valor aos produtos de peixe, para diversificara
produção e atender adequadamente aos diversos segmentos do
mercadoregional.
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