UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FFCLRP - DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENTOMOLOGIA “Caracterização do perfil de hidrocarbonetos cuticulares de operárias, rainhas virgens e rainhas fisogástricas de Melipona marginata Lepeletier, 1836.” (Hymenoptera, Apinae, Meliponini) Maria Juliana Ferreira Caliman Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto-USP, como parte das exigências para obtenção do título de Mestre em Ciências - Área: Entomologia. RIBEIRÃO PRETO / SP 2008
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FFCLRP - DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENTOMOLOGIA
“Caracterização do perfil de hidrocarbonetos cuticulares de operárias, rainhas
virgens e rainhas fisogástricas de Melipona marginata Lepeletier, 1836.”
(Hymenoptera, Apinae, Meliponini)
Maria Juliana Ferreira Caliman
Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Ribeirão Preto-USP, como
parte das exigências para obtenção do título de
Mestre em Ciências - Área: Entomologia.
RIBEIRÃO PRETO / SP
2008
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FFCLRP - DEPARTAMENTO DE BIOLOGIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENTOMOLOGIA
“Caracterização do perfil de hidrocarbonetos cuticulares de operárias, rainhas
virgens e rainhas fisogástricas de Melipona marginata Lepeletier, 1836.”
(Hymenoptera, Apinae, Meliponini)
Maria Juliana Ferreira Caliman
Orientador: Prof. Dr. Ronaldo Zucchi
Dissertação apresentada à Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras de Ribeirão Preto-USP, como
parte das exigências para obtenção do título de
Mestre em Ciências - Área: Entomologia.
RIBEIRÃO PRETO / SP
2008
FICHA CATALOGRÁFICA
Ferreira-Caliman, Maria Juliana Caracterização do perfil de hidrocarbonetos cuticulares de operárias, rainhas virgens e rainhas fisogástricas de Melipona marginata Lepeletier, 1836. (Hymenoptera, Apinae, Meliponini) Ribeirão Preto, 2008. Dissertação de Mestrado, apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – USP, Área de concentração: Entomologia. Orientador: Zucchi, Ronaldo 1. Insetos sociais. 2. Hidrocarbonetos cuticulares. 3. Meliponíneos. 4. Cromatografia gasosa-espectrometria de massa.
Agradeço,
Ao Prof Dr Ronaldo Zucchi pela oportunidade, paciência, orientação e amizade.
Ao Sr. Sidnei Mateus, mestre e doutor em entomologia, especialista em laboratório
de insetos, informalmente meu co‐orientador e principalmente meu grande amigo, pela
ajuda incondicional durante a realização deste trabalho.
À amiga Izabel Cristina Casanova Turatti, técnica do laboratório de química
orgânica da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto, pela realização das
amostras químicas.
Ao amigo Prof. Dr. Fabio dos Santos Nascimento pela orientação durante a
montagem do projeto e pelo incentivo durante a realização do mesmo.
À CNPq pelo auxilio financeiro.
Aos meus filhos, Letícia e Pedro, e ao meu esposo, Wellington, pelo carinho e pela
paciência incondicionais durante a realização deste trabalho.
Aos meus pais, Sônia e Assis, e à minha irmã, Silvia, que sempre estiveram comigo
apesar da distância física que nos separa.
À senhora Neuza Caliman por me ajudar sempre que necessário.
À Gisele, amiga de todas as horas e ouvinte paciente, que sempre me confortou e
me deu ânimo para continuar mesmo nas horas mais difíceis.
À Patrícia, amiga que conquistei durante esse último ano e que desejo manter
eternamente.
Ao grande amigo Leo, sempre presente e dedicado.
Ao colega de trabalho Túlio pelo auxílio durante a realização dessa dissertação e
pela ajuda na correção da mesma.
À amiga Cidinha pela amizade e por cuidar sempre com carinho de nosso ambiente
de trabalho.
A todos os colegas de laboratório: Cristiano, Michael Hncir, Denise, Plésio, Victor,
Rafael, Ayrton, Elinton, Carolina, Janaina, Elynor, Marco, Cyro, Yara e em especial às
amigas Giovanna e Juliana Alonso.
Thatʹs What It Takes (George Harrison)
And now it begins to shine And you found the eyes to see Each little drop at dawn of every day Your smile, it comes back to me And whatever you may say Donʹt let it stop, never fade away As we got to get out in this world together, doesnʹt matter if we start to make some changes. If thatʹs what it takes Then Iʹve got to be strong Donʹt want to be wrong If thatʹs what it takes The closer I get Into that open door Iʹve got to be sure If thatʹs what it takes And now that itʹs shining through And you can see all this world Donʹt let it stop, never fade away If we got to be in this life forever, Then weʹd better be taking all the chances, If thatʹs what it takes …
Ao senhor Cícero Caliman, exemplo de bondade e alegria,
heptacoseno (TR 33,295), heptacosano e Z‐nonacoseno (TR 38,016).
Tabela 1: Valores médios e desvio padrão da concentração relativa dos hidrocarbonetos cuticulares de operárias recém emergidas (ORE), com atividade no favo de cria (OF), operária ovipositando na ausência da rainha (OP) e com atividades no campo (OC) de Melipona marginata COLÔNIA 1 (Cunha-SP). Tempo de Retenção
A classificação da matriz apontou um total de 100% de correta alocação das
operárias dentro do grupo previsto. A tabela 2 e a figura 1 ilustram os resultados da
análise discriminante e canônica, respectivamente, para todas as combinações entre
diferentes idades.
15
Tabela 2: Resultado da análise discriminante aplicada para os compostos químicos cuticulares de operárias da colônia 1. ORe-operária recém emergida, OF-operária do favo, OC-operária campeira, OP-operária poedeira (na ausência da rainha)
Combinações Distância de Mahalanobis
F 7,23 P
ORe x OF 788,82 378,52 < 0,001 ORe x OC 855,14 430,61 < 0,001 ORe x OP 582,85 226,31 < 0,001 OF x OC 13,92 7,47 < 0,001 OF x OP 178,05 72,62 < 0,001 OC x OP 278,35 118,26 < 0,001
Raiz 1 vs. Raiz 2
-15 -10 -5 0 5 10 15 20 25
Raiz 1
-14
-12
-10
-8
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
Rai
z 2
ORe OF OC OP
Figura 1: Gráfico do resultado da análise canônica realizada com os compostos químicos cuticulares de operárias de M. marginata, Colônia 1. ORe- Operária Recém-emergida, OF- Operária do Favo (com postura de ovo trófico), OC- Operária Campeira, OP- Operária poedeira (produzindo machos na ausência da rainha).
Colônia 2
As operárias da colônia 2 apresentaram um total de 25 hidrocarbonetos (tabela 3).
Aqueles com maior representatividade durante toda a fase de vida das operárias foram:
tricosano, pentacosano, heptacosano e Z‐hentriaconteno (TR 42,350).
16
Tabela 3: Valores médios e desvio padrão da concentração relativa dos hidrocarbonetos cuticulares de operárias recém emergidas (ORE), com atividade no favo de cria (OF) e com atividades de campo (OC) de Melipona marginata COLÔNIA 2 (Cunha-SP). Tempo de Retenção
e TR 38,192), nonacosano e Z‐hentriaconteno (TR 42,962).
A figura 2 ilustra os resultados da análise canônica entre os grupos. A tabela 4
mostra o resultado da análise discriminante para todas as combinações possíveis entre os
grupos analisados. A classificação da matriz apontou um total de 100% de correta alocação
dos indivíduos.
Raiz 1 vs. Raiz 2
-15 -10 -5 0 5 10 15 20
Raiz 1
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
10
Rai
z 2
ORe OFOC
Figura 2: Gráfico do resultado da análise canônica realizada com os compostos químicos cuticulares de operárias de M. marginata, Colônia 2. ORe- Operária Recém-emergida, OF- Operária com atividade no favo de cria, OC- Operária Campeira.
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Tabela 4: Resultado da análise discriminante aplicada para os compostos químicos cuticulares de operárias da colônia 2. ORe-operária recém emergida, OF-operária com atividade no favo de cria OC-operária campeira
Combinações Distância de Mahalanobis
F 5,21 P
ORe x OF 544,68 406,69 < 0,001 ORe x OC 601,84 505,55 < 0,001 OF x OC 71,49 53,37 < 0,001
Colônia 3
As operárias dessa colônia apresentaram menor variedade de hidrocarbonetos em
relação às colônias 1 e 2, totalizando 19 compostos (tabela 5). Aqueles com maior
representatividade durante toda a fase de vida das operarias foram: tricosano, pentacosano,
Z‐heptacoseno (TR 33,295), heptacosano e Z‐nonacoseno (TR 38,192).
Os compostos que foram sendo perdidos gradativamente com a idade da operária
foram: Z‐heptacoseno (TR 33,295), octacosano, Z‐nonacoseno (TR 38,192) e Z‐hentriaconteno
(TR 42,442).
O Fator 1 da Análise dos Componentes Principais (PCA) descreveu 51,90% da
variação encontrada. A soma dos dois primeiros fatores (Fator 1 + Fator 2) descreveu 73,85%
e dos três primeiros (Fator 1 + Fator 2 + Fator 3) descreveu 89,51% dessa variação. A análise
discriminante stepwise dos compostos analisados separou significativamente os grupos de
operárias dessa colônia (Modelo Global: Wilk’s Lambda= 0,00149; F10,42= 104,46; p < 0,001).
Os compostos responsáveis pela separação entre os grupos foram: tricosano,
A classificação da matriz apontou que todos os grupos são significativamente
separados entre si, sendo 100% de correta alocação dos indivíduos.
A tabela 6 mostra o resultado da análise discriminante para todas as combinações
entre os grupos analisados. A Figura 3 mostra o resultado da analise canônica entre as
operárias da colônia 3.
19
Tabela 5: Valores médios e desvio padrão da concentração relativa dos hidrocarbonetos cuticulares de operárias recém emergidas (ORE), com atividade no favo de cria (OF) e com atividades de campo (OC) de Melipona marginata COLÔNIA 3 (Itanhaém-SP). Tempo de
Tabela 6: Resultado da análise discriminante aplicada para os compostos químicos cuticulares de operárias da colônia 3. ORe-operária recém emergida OF-operária com atividade no favo de cria OC-operária campeira
Combinações Distância de Mahalanobis
F 5,21 P
ORe x OF 517,95 391,57 < 0,001 ORe x OC 592,58 471,56 < 0,001 OF x OC 23,34 18,57 < 0,001
20
Raiz 1 vs. Raiz 2
-15 -10 -5 0 5 10 15 20
Raiz 1
-5
-4
-3
-2
-1
0
1
2
3
4
5
Rai
z 2
ORe OF OC
Figura 3: Gráfico do resultado da análise canônica realizada com os compostos químicos cuticulares de operárias de M. marginata, Colônia 3. ORe- Operária Recém-emergida, OF- Operária com atividade no favo de cria, OC- Operária Campeira. Caracterização geral das operárias em relação à atividade desempenhada no
momento da coleta.
A partir dos dados obtidos para cada colônia individualmente realizou‐se a análise
estatística para verificar a semelhança entre os indivíduos, independente de sua colônia de
origem. Os resultados mostram que as operárias estão separadas significativamente em
grupos de acordo com a idade (e conseqüente atividade). A análise dos componentes
principais (PCA) descreveu 48,09% (Fator 1), 71,30% (Fator 1 + Fator 2) e 83,20% (Fator 1 +
Fator 2 + Fator 3).
A análise discriminante stepwise dos compostos separou os grupos de operárias
recém emergidas, com atividade no favo de cria e coma atividade no campo (Modelo
Global: Wilk’s Lambda= 0,00361; F14,154= 171,95; p < 0,001), sendo os compostos responsáveis
pela separação: tricosano, pentacoseno (TR 28,253), pentacosano, Z‐heptacoseno (TR
33,477), Z‐nonacoseno (TR 38,016) e o hentriaconteno (TR 42,350).
21
As análises estatísticas mostram que, mesmo pertencendo a três diferentes colônias,
as operárias apresentam‐se caracterizadas pela atividade que desempenham, sendo 100%;
95,60% e 90% de correta alocação para recém emergidas, operárias com atividade no favo e
campeiras, respectivamente. O valor esperado para uma distribuição ao acaso é de 33,33%.
A tabela 7 e a figura 4 ilustram os resultados das análises discriminante e canônica
obtidos, respectivamente.
Raiz 1 vs. Raiz 2
-12 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8
Raiz 1
-5
-4
-3
-2
-1
0
1
2
3
4
5
6
Rai
z 2
ORe OF OC
Figura 4: Resultado da análise canônica realizada com os compostos químicos cuticulares de operárias de três colônias de M. marginata. ORe- Operária Recém-emergida, OF- Operária com atividade no favo de cria, OC- Operária Campeira.
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Tabela 7: Resultado da análise discriminante aplicada para os compostos químicos cuticulares das operárias de três colônias de M. marginata. ORe-operária recém emergida OF- operaria com atividade no favo de cria OC- operária do campo
Combinações Distância de Mahalanobis
F 7,77 P
ORe x OF 90,41 167,54 < 0,001 ORe x OC 260,07 508,25 < 0,001 OF x OC 83,28 156,84 < 0,001
3.2 Influência da origem da população sobre o perfil de hidrocarbonetos
cuticulares de operárias.
Todos os grupos amostrais de operárias foram comparados entre si para a
verificação da influência da origem da população sobre o perfil de hidrocarbonetos
cuticulares. Os resultados mostram que os perfis das operárias das colônias 1 e 2
provenientes de Cunha‐SP são mais próximos entre si do que em relação à colônia 3,
originaria de Itanhaém‐SP (tabela 8), sendo bem evidente entre as operárias recém
emergidas e do campo. A tabela 9 mostra a classificação da matriz e a figura 5 ilustra o
resultado da análise canônica. A análise dos componentes principais (PCA) descreveu
Tabela 8 :Distâncias de Mahalanobis entre as colônias 1, 2 e 3. ORe-operária recém emergida, OF-operaria com atividadede no favo de cria, OC-operária campeira
Grupos Distâncias de Mahalanobis
F 8,70 p
ORe1 x ORe 2 16,814 9,55 < 0,001 ORe 1 x ORe 3 101,135 54,43 < 0,001 ORe 2 x ORe 3 130,164 70,06 < 0,001 OF 1 x OF 2 187,863 96,06 < 0,001 OF 1 x OF 3 194,080 99,24 < 0,001 OF 2 x OF 3 177,638 90,83 < 0,001 OC 1 x OC 2 20,516 11,65 < 0,001 OC 1 x OC 3 210,622 119,67 < 0,001 OC 2 x OC 3 191,575 108,85 < 0,001
Tabela 9: Classificação da matriz das operárias de acordo com atividade e colônia de origem. Valor esperado para distribuição ao acaso=11,12%. Grupo Amostral ORe
col 1 ORe col 2
ORe col 3
OF col 1
OF col 2
OF col 3
OC col 1
OC col 2
OC col 3
Porcentagem de correta alocação
100% 100% 100% 88,9% 100% 87,50 100% 100% 100%
23
Scatterplot (Spreadsheet10 10v*86c)
Var2
Var3
ORe col 1OF col 1OC col 1ORe col 2OF col 2OC col 2ORe col 3OF col 3OC col 3-14 -12 -10 -8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10 12 14 16
-8
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
10
Figura 5: Gráfico do resultado da análise canônica entre operárias das 3 colônias de M.marginata.
ORe-recém emergida, OF-operária do favo, OC-operária campeira, Col- colônia.
3.2. Composição cuticular de rainhas virgens
A análise dos compostos cuticulares de rainhas virgens mostrou que, assim como
ocorre em operárias, existe uma modificação no perfil de hidrocarbonetos em relação à
idade dos indivíduos. Os hidrocarbonetos encontrados apresentaram de 23 a 33 átomos de
carbonos e cada grupo de rainha foi caracterizado por apresentar formas diferentes destes
compostos (tabela 10).
As recém emergidas foram caracterizadas pela baixa presença de alcadienos
(somente traços) e pela pouca diversidade dos alcenos, sendo os alcanos: tricosano,
pentacosano, heptacosano, nonacosano e hentriacontano, e três alcenos Z‐heptacoseno (TR
32.962), Z‐nonacoseno (TR 37.532) e Z‐hentriaconteno (TR 41.840) os compostos com maior
concentração relativa.
24
As rainhas virgens com 2 dias de idade apresentaram maior diversidade de
compostos em relação àquela encontrada em recém emergidas. Estão presentes na cutícula
desses indivíduos principalmente alcanos seguidos por alcenos, sendo que não foram
encontrados hidrocarbonetos metilados e somente um alcadieno, este último em
concentrações muito baixas em duas das três colônias. Os hidrocarbonetos com maior
representatividade nesses grupos foram: Tricosano, Pentacosano, Heptacosano,
Nonacosano, Z‐Heptacoseno (TR 32.962), Z‐Nonacoseno (TR 37.532) e Z‐Hentriaconteno
(TR 41.840).
A composição de hidrocarbonetos cuticulares de rainhas virgens coletadas em um
refúgio comum mostra que estas apresentam perfis semelhantes aquele encontrado em
rainhas com dois dias de vida, exceto pela alta concentração de Z‐nonacoseno (TR 32.761) e
Z‐heptacoseno (TR 33.159).
As rainhas coletadas no momento em que eram agredidas pelas operárias
apresentaram maior diversidade de hidrocarbonetos em relação àquelas recém emergidas e
com 2 dias de vida. Além dos alcanos e alcenos, foram encontrados alcanos metilados e
alcadienos, além de uma maior variedade de alcenos. Os compostos mais representativos
foram os mesmos encontrados nas recém emergidas e com dois dias, além do Z‐
42.010) e Z‐hentriaconteno (TR 42.020). Esse grupo foi bem caracterizado pela presença de
alcenos e alcadienos de cadeia longa (C29, C31 e C33) e por alcanos metilados (C27 e C29).
As análises estatísticas revelaram que os grupos de rainhas virgens com 2 dias estão
significativamente separados por colônias, sendo 95%, 61,54% e 100% de correta alocação
dos indivíduos nas colônias 1, 2 e 3, respectivamente. O esperado em uma distribuição ao
acaso para três grupos é de 33,3%. Os compostos responsáveis por essa separação foram:
tricosano, pentacosano, Z‐heptacoseno (TR 32.962), heptacosano, nonacosano e Z‐
hentriacontene (TR 41.840).
O Fator 1 da Análise dos Componentes Principais (PCA) descreveu 46,39% da
variação encontrada. A soma dos dois primeiros fatores (Fator 1 + Fator 2) descreveu 67,80%
e dos três primeiros (Fator 1 + Fator 2 + Fator 3) descreveu 80,97% dessa variação. A análise
discriminante stepwise dos compostos analisados separou significativamente os grupos de
operárias dessa colônia (Modelo Global: Wilk’s Lambda= 0,05635; F10,58= 18,634; p < 0,001).
25
Tabela 10: Valores médios e desvio padrão da concentração relativa dos hidrocarbonetos cuticulares de rainhas virgens de Melipona marginata. Re-recém emergida.
A figura 5 e a tabela 11 ilustram os resultados das análises discriminante e
canônica realizada entre rainhas virgens com 2 dias de idade.
Raiz 1 vs. Raiz 2
-10 -5 0 5 10 15
Raiz 1
-10
-8
-6
-4
-2
0
2
4
Rai
z 2
col 1 col 2 col 3
Figura 5: Resultado da análise canônica entre rainhas virgens com dois dias de idade, de 3 colônias diferentes, a partir dos hidrocarbonetos presentes na cutícula. Colônia 1 (N=20) e 2 (N=15), proveniente de Cunha-SP; Colônia 3 (N=15), proveniente de Itanhaém- SP.
27
Tabela 11: Resultado da análise discriminante aplicada para os compostos químicos cuticulares de rainhas virgens com dois dias de idade de 3 colônias.
Combinações Distância de Mahalanobis
F 5,29 P
Col 1 x Col 2 3,69754 4,780 < 0,001 Col 1 x Col 3 67,07308 46,663 < 0,001 Col 2 x Col 3 68,99964 42,802 < 0,001
Ainda, a análise discriminante stepwise dos compostos analisados separou
significativamente as rainhas virgens de uma mesma colônia de acordo com os 3 grupos
amostrais formados (Modelo Global: Wilk’s Lambda= 0,07779; F14,50= 9,2339; p < 0,001). Os
testes apontam valores de 100%, 92,31% e 88,89% de correta alocação dos indivíduos nos
grupos de rainhas virgens recém emergidas, com dois dias e agredidas, respectivamente.
Os compostos responsáveis por essa separação foram: tricosano, Z‐heptacoseno (TR
32.962), heptacoseno (TR 33.159), hentriacontano.
O Fator 1 da Análise dos Componentes Principais (PCA) descreveu 29,84% da
variação encontrada. A soma dos dois primeiros fatores (Fator 1 + Fator 2) descreveu
54,51% e dos três primeiros (Fator 1 + Fator 2 + Fator 3) descreveu 70,52% dessa variação. A
tabela 12 e a figura 6 ilustram os resultados da análise canônica para todas as combinações
entre diferentes idades das rainhas.
Tabela 12: Resultado da análise discriminante aplicada para os compostos químicos cuticulares de rainhas de diferentes idades.
Combinações Distância de Mahalanobis
F 7,25 P
RV re x RV 2 dias 60,86749 21,03715 < 0,001 RV re x RV agred 22,07219 8,32215 < 0,001
RV 2 dias x RV agred 14,53920 12,06017 < 0,001
Apesar das semelhanças entre a presença de compostos e das altas freqüências de
correta alocação encontradas para os grupos de rainhas virgens foram encontrados perfis
cuticulares com concentrações relativas muito diversas. Deste modo, o perfil individual das
rainhas virgens foi descrito nas tabelas 18, 19 e 20 (Apêndice).
28
Raiz 1 vs. Raiz 2
-6 -4 -2 0 2 4
Raiz 1
-2,5
-2,0
-1,5
-1,0
-0,5
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
2,5
3,0
3,5
4,0
Rai
z 2
RV recém emergidas RV agredidas RV com 2 dias
Figura 6: Resultado da análise canônica de 3 grupos de rainhas virgens de uma colônia de M. marginata (recém emergidas N=10, com dois dias de idade N=20 e agredidas N=14), a partir dos hidrocarbonetos presentes na cutícula.
Caracterização do padrão de desenvolvimento ovariano das rainhas virgens
quimicamente analisadas.
O resultado da caracterização do desenvolvimento ovariano das rainhas virgens
mostra não haver correlação entre a atratividade que resulta em comportamento agressivo
por parte das operárias. No grupo onde se observou essa atratividade a porcentagem de
indivíduos com desenvolvimento ovariano presente foi menor que aquele encontrado
naquelas com 2 dias (colônia 2), entretanto, não foi observado nenhum comportamento
agressivo por parte das operárias no último grupo. A tabela 13 mostra porcentagens de
rainhas virgens com ovário desenvolvido.
29
Tabela 13: Resultado da caracterização do padrão de desenvolvimento ovariano das rainhas virgens. Desenvolvimento
3.3 Composição cuticular de rainhas fisogástricas.
Amostras em fibra de polidimetilsiloxano.
O resultado das análises da cutícula de rainhas fisogástricas revelou a presença de
uma grande variedade de hidrocarbonetos em relação ao que foi observado em rainhas
virgens (exceto rainhas virgens agredidas) e operárias da espécie. Estão presentes nesse
grupo compostos contendo de 25 até 33 carbonos, sob a forma de alcanos, alcenos,
alcadienos e alcanos ramificados (metil e dimetil alcanos).
Uma rainha fisogástrica foi analisada em três diferentes idades, sendo produzidos
três cromatogramas apresentados na figura 7 (Apêndice). Os picos foram identificados e
estão relacionados na tabela 13. Os perfis obtidos foram semelhantes entre as três idades
analisadas, exceto pela presença de alguns compostos na primeira análise, realizada no 6º
dia após o inicio da atividade de postura: tricosano, pentacoseno, octacoseno, octacosano, o
composto não identificado com tempo de retenção igual a 37,017 e o 9‐metil nonacoseno.
Todos esses compostos não foram encontrados nas rainhas fisogástricas com idades
desconhecidas analisadas e, quando presentes apresentaram baixas concentrações relativas
(tabela 14). O tricosano e o pentacoseno puderam ser observados no grupo de rainhas
virgens e em todos os grupos de operárias, e sua perda provavelmente não está relacionada
com a idade, mas com a fisogastria.
As nove rainhas com postura analisadas apresentaram concentrações relativas
variáveis para a grande maioria dos compostos, principalmente aqueles com as maiores
concentrações. As diferenças existentes entre as colônias referentes à origem da população,
como pôde ser observado para operárias e rainhas virgens, não favoreceram a análise
estatística das rainhas fisogástricas. Deste modo, os dados obtidos individualmente estão
expostos na tabela 15. Os resultados mostram que existe grande semelhança entre as rainhas
30
sucessoras de uma mesma colônia (colônias 1, 2 e 5), principalmente, quanto à ausência de
compostos.
Tabela 14: Concentrações dos hidrocarbonetos encontrados no abdômen de uma rainha fisogástrica após 6, 32 e 65 do início da postura. Dp-Desvio padrão Tempo de Retenção Hidrocarboneto 6 dias 32 dias 65 dias
Os compostos com concentrações relativas mais representativas encontrados em
rainhas com postura foram: pentacosano, heptacosano, ZZ‐nonacosadieno ‐ TR 37,603
(exceto Rainha 4), Z‐nonacoseno ‐ TR 38,089 (exceto Rainha 1), as três diferentes formas do
ZZ‐hentriacontadieno, as três formas do Z‐hentriaconteno, e a somatória dos compostos
dimetil‐heptacosano, metil‐nonacosano e metil‐hentriacontano, cujas concentrações
encontradas apresentaram um pico cromatográfico único.
Duas das rainhas puderam ser analisadas em condições de ausência de postura,
fato observado simultaneamente em quase todas as colônias de M. marginata do laboratório.
As rainhas diminuíram gradativamente a freqüência de oviposição, e células construídas e
aprovisionadas eram desfeitas pelas operárias até o momento de ausência total de postura.
As rainhas eram alimentadas normalmente, entretanto deixaram de permanecer próximas à
região do favo e passaram a caminhar por toda a colônia, inclusive sob potes de alimento.
Todas as rainhas retomaram a atividade de postura após períodos que variaram de 26 a 59
dias. O perfil químico da rainha da colônia 5 pôde ser refeito após o reinício da postura. A
colônia 6 ficou órfã após 68 dias do reinício, não sendo possível a análise dessa rainha.
As concentrações apresentadas por essas rainhas antes e durante esse período foram
significativas, segundo teste de análise de variância entre os compostos, sendo p<0,05 e
p<0,001 para as rainhas das colônias 5 e 6, respectivamente. Os cromatogramas da rainha da
colônia 5 foram reproduzidos na figura 8 (Apêndice).
Os compostos que aumentaram suas concentrações relativas na ausência da postura
foram: nonacosadieno (TR 37,603) e Z‐hentriaconteno (TR 42,525). Aqueles que diminuíram
foram: heptacosano, os dimetil‐heptacosano (tempo de retenção único), ZZ‐nonacosadieno
(TR 37,411), ZZ‐hentriacontadieno (TR 41,838) e Z‐hentriaconteno (tempo de retenção
42,291). A maioria dos compostos manteve a concentração relativa e alguns compostos se
comportaram de maneira diferenciada em cada rainha de acordo com sua condição de
postura.
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Tabela 15: Concentração relativa individual (%) dos hidrocarbonetos cuticulares encontrados no abdômen de rainhas fisogástricas de 6 colônias de Melipona marginata com atividade normal de postura. Col- colônia, RF- rainha fisogástrica RF* referem-se às rainhas sucessoras das colônias 1, 2 e 5. Dp- desvio padrão TR Hidrocarboneto RF
Tabela 16: Concentrações dos hidrocarbonetos encontrados no abdômen de duas rainhas fisogástricas (colônias 5 e 6) durante a presença e ausência de atividade de postura. RCP- rainha com postura, RSP- rainha sem postura, RCP- rainha após a retomada da postura TR Hidrocarboneto RCP
Os compostos cuticulares encontrados em rainhas fisogástricas foram os mesmos
tanto com o uso de fibra de fibra de polidimetilsiloxano, quanto com o solvente apolar
hexano. Os resultados mostram, entretanto, que as concentrações variam de acordo com a
técnica utilizada, sendo o alcano e os alcenos do C23 (tricosano e tricoseno) somente
encontrados na amostra em hexano. Alguns compostos apresentaram concentrações
relativas maiores na amostra em hexano como o pentacosano e o heptacosano (Rainha 2).
Outros apresentaram concentrações menores quando extraídas com solvente como os
alcanos ramificados (mono e metil alcanos). Os alcenos e alcadienos comportaram‐se de
maneira variada de acordo com a técnica utilizada (tabela 17).
Tabela 17: Concentrações relativas de hidrocarbonetos cuticulares de 2 rainhas (R1 e R2) analisadas com fibra de polidimetilsiloxano e posteriormente com solvente hexano. TR Hidrocarboneto R1 fibra R1 hexano R2 fibra R2 hexano
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APÊNDICE
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Figura 7: Cromatogramas sobrepostos de uma rainha fisogástrica de M. marginata em diferentes idades. Linha preta-6 dias após o início da postura, linha rosa-32 dias após o início da postura e linha azul-65 dias após o início da postura. Os números correspondem aos hidrocarbonetos identificados na tabela 14.
Figura 8: Três cromatogramas sobrepostos de uma rainha fisogástrica (Colônia 5) de M. marginata em diferentes condições de postura. Linha preta-com postura; linha rosa-sem postura; linha azul- após a retomada da postura. Os números correspondem aos hidrocarbonetos identificados na tabela 16.