6 . CLIMA O clima angolano, onde se enquadra a província do Kunene, encontra-se sujeito à circulação geral da atmosfera da África Meridional. Com efeito os principais centros que influenciam os estados do tempo nesta parte do continente são: o anticiclone sub-tropical quase permanente do Atlântico Sul, o anticiclone do continente africano durante a época seca, e o vale depressíonário equatorial, da época das chuvas (Ferreira, 1965a). Constata-se uma nítida associação das chuvas no interior de Angola com o movimento para Sul do vale depressíonário equatorial, de Setembro a Janeiro, e também com o seu movimento para Norte, de Janeiro a Maio, transportando sobre grande parte do território ar instável de origem tropical com forte convergência nos níveis inferiores, que dá origem a céu muito nublado com cúmulos, cumulonimbos, altocúmulos e altostractos que originam chuva, sobre a forma de aguaceiros e trovoadas muito frequentes e intensas. Há que associar ainda factores climáticos locais, como é o caso do relevo que, actuando em conjunção com as condições gerais, determinam as especificidades entre diferentes áreas. O período seco, de Maio a Agosto, corresponde à acção do núcleo anticiclónico do continente africano, transportando sobre território angolano, ar continental seco e estável com inversões de temperatura nas camadas inferiores. O clima da região, a partir dos seus diferentes elementos, em associação com outros factores físicos como o solo ou a orografia, determina os calendários agrícolas, hidrológicos, vegetativos, entre outros, que condicionam em última instância o dia-a-dia das populações. Em termos gerais o clima da província do Kunene é essencialmente do tipo semi-árido, com a estação das chuvas a coincidir com os meses de Verão, período em que as temperaturas médias são mais elevadas. No entanto, as chuvas apresentam uma grande variabilidade, não só nos seus quantitativos absolutos, mas também ao nível espacial e temporal, determinando, ao nível hidro-agrícola, anos “bons” e anos “maus”, que no entanto apenas sublinham uma característica natural típica do clima semi-árido. Para a presente exposição sobre as características climáticas da área de Ondjiva foram utilizados os dados climatológicos referentes ao período 1937-74. Refira-se, no entanto, que a ausência destes elementos após 1975, por desactivação da estação meteorológica de Ondjiva, constitui lacuna grave na análise do comportamento dos elementos climáticos para a área. 6.1 . ELEMENTOS CLIMÁTICOS 6.1.1 . TEMPERATURA A província do Kunene apresenta-se, do ponto de vista térmico, como uma área onde é patente a influência da continentalidade, acentuada por uma barreira orográfica marcante, a continuidade meridional do grande rebordo montanhoso da Chela, que sublinha a ruptura entre uma faixa litorânea, desértica, refrescada por fluxos de ar marítimo e por isso de temperaturas amenizadas em contraste com o interior planáltico onde a altitude e a topografia impõem marcada influência no comportamento destas. 53 Caracterização Biofísica
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Caracterização Biofísica 53 - Bibliotecaterrabibliotecaterra.angonet.org/sites/default/files/volume_i... · 6 . CLIMA O clima angolano, onde se enquadra a província do Kunene,
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6 . CLIMA
O clima angolano, onde se enquadra a província do Kunene, encontra-se sujeito à circulação geral da
atmosfera da África Meridional. Com efeito os principais centros que influenciam os estados do tempo
nesta parte do continente são: o anticiclone sub-tropical quase permanente do Atlântico Sul, o
anticiclone do continente africano durante a época seca, e o vale depressíonário equatorial, da época
das chuvas (Ferreira, 1965a).
Constata-se uma nítida associação das chuvas no interior de Angola com o movimento para Sul do vale
depressíonário equatorial, de Setembro a Janeiro, e também com o seu movimento para Norte, de
Janeiro a Maio, transportando sobre grande parte do território ar instável de origem tropical com forte
convergência nos níveis inferiores, que dá origem a céu muito nublado com cúmulos, cumulonimbos,
altocúmulos e altostractos que originam chuva, sobre a forma de aguaceiros e trovoadas muito
frequentes e intensas. Há que associar ainda factores climáticos locais, como é o caso do relevo que,
actuando em conjunção com as condições gerais, determinam as especificidades entre diferentes áreas.
O período seco, de Maio a Agosto, corresponde à acção do núcleo anticiclónico do continente africano,
transportando sobre território angolano, ar continental seco e estável com inversões de temperatura
nas camadas inferiores.
O clima da região, a partir dos seus diferentes elementos, em associação com outros factores físicos
como o solo ou a orografia, determina os calendários agrícolas, hidrológicos, vegetativos, entre outros,
que condicionam em última instância o dia-a-dia das populações. Em termos gerais o clima da
província do Kunene é essencialmente do tipo semi-árido, com a estação das chuvas a coincidir com
os meses de Verão, período em que as temperaturas médias são mais elevadas. No entanto, as chuvas
apresentam uma grande variabilidade, não só nos seus quantitativos absolutos, mas também ao nível
espacial e temporal, determinando, ao nível hidro-agrícola, anos “bons” e anos “maus”, que no
entanto apenas sublinham uma característica natural típica do clima semi-árido.
Para a presente exposição sobre as características climáticas da área de Ondjiva foram utilizados os
dados climatológicos referentes ao período 1937-74. Refira-se, no entanto, que a ausência destes
elementos após 1975, por desactivação da estação meteorológica de Ondjiva, constitui lacuna grave
na análise do comportamento dos elementos climáticos para a área.
6.1 . ELEMENTOS CLIMÁTICOS
6.1.1 . TEMPERATURA
A província do Kunene apresenta-se, do ponto de vista térmico, como uma área onde é patente a
influência da continentalidade, acentuada por uma barreira orográfica marcante, a continuidade
meridional do grande rebordo montanhoso da Chela, que sublinha a ruptura entre uma faixa litorânea,
desértica, refrescada por fluxos de ar marítimo e por isso de temperaturas amenizadas em contraste
com o interior planáltico onde a altitude e a topografia impõem marcada influência no comportamento
destas.
53Caracterização Biofísica
Figura 6.1 - Modelo da temperatura média anual para a província do Kunene.
A figura 6.1 representa um modelo da temperatura média anual para a província do Kunene e sua área
envolvente, sendo possível verificar que de uma forma geral os valores deste elemento climático
aumentam de Norte para Sul e das áreas de maior altitude para as mais deprimidas. Com efeito é ao
longo do profundo entalhe que define o percurso internacional do rio Cunene que os valores médios
anuais são mais elevados, oscilando entre os 27-29oC. Por outro lado o rebordo meridional da Chela
impõe a presença de maciços montanhosos que, na área da Oncócua definem, a nível térmico, sectores
de valores médios anuais abaixo dos 22oC. A vasta Bacia Sedimentar do Cuanhama, com um gradiente
altimétrico extremamente suave, apresenta por seu lado um zonamemto térmico que de forma regular
aumenta de Norte para Sul com os valores mais elevados a serem observados junto à fronteira com a
Namíbia.
A região onde se insere Ondjiva caracteriza-se por apresentar uma temperatura média anual (segundo
o período de referência 1937-74) em volta dos 23oC, registando-se os valores mais elevados durante o
período chuvoso, e os mais baixos no período seco. Com base no quadro 6.1, verifica-se que os meses
mais frios são os de Junho e Julho, com valores médios de 17,4oC e 17,1oC respectivamente. Observe-
se, no entanto, que as amplitudes térmicas diárias são consideráveis, atingindo valores extremos
durante o período em referência superiores a 38oC. Em termos médios as amplitudes térmicas para
Junho e Julho variam entre os 19oC e os 20,6oC, respectivamente. O valor mínimo absoluto registado
para Ondjiva é de -2,3oC em Junho de 1944, tendo sido no ano seguinte registado um valor idêntico
de -1,2oC para o mesmo mês. No entanto é o mês de Julho, que, no seu conjunto, regista em média
os valores mínimos diários mais baixos. A oscilação térmica diária apresenta em geral os valores mais
diminutos no nictoperíodo e em particular durante a madrugada.
Quadro 6.6 - Evaporação de Piche mensal e anual para Ondjiva, em milímetros (1951-70).
63Caracterização Biofísica
6.2 . SINOPSE DAS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS LOCAIS DE ONDJIVA
Descrevem-se neste ponto, em forma condensada e sistematizada, as condições climáticas à superfície
com base nos elementos recolhidos na estação meteorológica Pereira de Eça / Ondjiva, no período
referido, quer em base tabelada (Quadro 6.7), quer abordando o estado geral do tempo, por estação,
com vista a uma descrição síntese das características meteorológicas estacionais da área.
6.2.1 . VALORES MÉDIOS DOS ELEMENTOS CLIMÁTICOS
Plano de Urbanização da Cidade de Ondjiva64
Quadro 6.7 - Valores médios mensais dos elementos climáticos (Pereira de Eça / Ondjiva - 1937/75).
6.2.2 . ESTADO GERAL DO TEMPO POR ESTAÇÕES
Estação Seca:
Duração - Maio a Outubro, sendo o mês menos quente o de Julho.
Nebulosidade - o céu apresenta-se geralmente limpo, pontualmente encoberto por nuvens altas do
tipo cirroestratos.
Nevoeiro - muito raro
Vento predominante - de Leste e Nordeste, sendo o período de calmas mais frequente em Outubro.
Trovoadas - muito raras, apenas se registando 4-5 dias no mês de Outubro.
Estação Húmida:
Duração - Novembro a Abril, sendo o mês mais quente o de Novembro.
Nebulosidade - geralmente céu pouco nublado (2/4 a 4/8) durante a manhã, aumentando (3/8 a 5/8)
para a tarde, principalmente com nuvens de grande desenvolvimento vertical, cumulonimbos.
Nevoeiro - raro.
Precipitação - forte, normalmente sobre o regime de aguaceiros.
Vento predominante - de Sueste e Sudoeste, em especial durante os episódios de forte instabilidade
atmosférica, sendo frequente durante esta estação a presença de calmas.
Trovoadas - frequentes, 4 a 9 dias por mês, em regra de convecção.
6.3 . CLASSIFICAÇÃO DO CLIMA
As classificações aqui apresentadas resultam de uma relação entre diferentes factores climáticos,
nomeadamente os relativos ao regime pluviométrico e ao regime térmico. Assim, para uma melhor
definição das características climáticas da área onde se implantou a cidade de Ondjiva, serão
apresentados vários índices numéricos e classificações climáticas que ajudarão na compreensão destas.
6.3.1 . ÍNDICE DE ARIDEZ DE MARTONNE
Este índice é calculado pela seguinte expressão:
IAM= P/T+10
Onde:
P = Precipitação anual média;
T = Temperatura anual média.
A aridez é, segundo este índice, uma função da natureza dos rios:– Regiões com valores do índice superiores a 40, consideram-se como exorreicas.– Regiões em que tal índice varia entre 30 e 40, oscilam entre o endorreísmo e o exorreísmo.– Regiões com o índice de aridez entre os 20 e 30, apresentam um endorreísmo temporário
ou fraco.– Regiões com um índice inferior a 20, caracterizam-se como apresentando um endorreísmo
marcado ou característico.
Atendendo às características dos elementos climáticos referentes a Ondjiva, verifica-se que o índice
apresenta um valor de 18,3 segundo estes, o que identifica a área de Ondjiva como sendo de
endorreísmo marcado ou característico, conforme é comprovado pelas características hidrológicas
apresentadas no capítulo 7.
6.3.2 . COEFICIENTE HIDROTÉRMICO DE LANG
Coeficiente obtido pelo cociente entre a precipitação média anual e a temperatura média anual,
apresenta uma organização numérica segundo a qual o valor 40 marca a separação entre os climas
húmidos (CHL>40 = clima húmido) e os climas secos; o coeficiente hidrotérmico de valor entre os 20
e os 40 define a presença de uma região com clima semiárido, enquanto que para valores inferiores a
20 já se apresentará como clima árido.
Com base nos valores referentes à estação meteorológica Pereira de Eça/Ondjiva, o coeficiente
apresenta um valor de 26.4, o que identifica um clima semiárido. Refira-se, no entanto, que este
método, apesar de rápido, é grosseiro uma vez que não tem em conta os ritmos estacionais dos
elementos climáticos considerados.
65Caracterização Biofísica
6.3.3 . CLASSIFICAÇÃO BIOCLIMÁTICA DE KOPPEN
Esta classificação bioclimática que toma em consideração fundamentalmente a temperatura do ar e a
aridez, rege-se por critérios fundamentados nos cinco principais grupos de vegetação, que desta forma
estabelecem os limites de temperatura entre cada unidade.
A aridez é aqui tida como consequência directa da precipitação escassa e da precipitação efectiva
(precipitação menos evaporação). Com efeito, e tendo em consideração os critérios definidos por De
Candolle em 1874, quando o grosso da precipitação acontece no Verão, como é o caso de Ondjiva, é
necessário uma maior quantidade desta para compensar a evaporação e manter um total equivalente
de precipitação efectiva, ao contrário se esta acontecesse no Inverno.
Segundo esta classificação, Ondjiva está representada no grande grupo climático definido por Climas
de Classe B, ou seja climas secos ou áridos com grande predomínio da evaporação sobre a precipitação
média anual, onde não se constituem reservas de água no solo permanentes. Existem dois tipos
principais dentro dos Climas B: BW - clima árido (precipitação média anual <250mm) e BS - clima
semiárido (precipitação média anual entre 380mm e 760mm). Ondjiva é assim enquadrada pelo tipo
BS, sendo as chuvas concentradas durante os meses de verão.
Uma última distinção, subtipo climático, tem em conta a temperatura, sendo no caso presente
identificada com a letra h, isto é, apresenta uma temperatura média anual superior a 18oC, ou seja,
define-se como um subtipo quente e seco. A fórmula final para Ondjiva, segundo a classificação de
Koppen e assim definida por BSh, ou seja um clima seco e quente de estepe, com uma altura
pluviométrica anual inferior a 600mm, uma Inverno seco, onde o mês mais seco não apresenta qualquer
quantitativo em termos de precipitação e em que a temperatura média anual é superior a 18oC.
6.3.4 . CLASSIFICAÇÃO RACIONAL DE THORNTHWAITE
A classificação racional de Thornthwaite (Thorntwaite,1948), posterior à de Köppen, apresenta três
elementos importantes que resultam vantajosos: o facto de se basear exclusivamente nas observações
de estações meteorológicas, não deixando assim espaço para apreciações subjectivas; os limites das
classes são fixados de forma racional e não de modo arbitrário, o que implicará que uma mudança de
classe se traduza numa mudança real de um dado aspecto do território; o processo de classificação
gera, como sub-productos, números importantes e de extrema utilidade, questionáveis apenas ao nível
da precisão com que foram obtidos os dados de base. Com efeito, a determinação de todos os
parâmetros necessários à elaboração de uma classificação final do(s) tipo(s) climático(s) de uma dada
área baseada em Thornthwaite, por si só, representa uma caracterização detalhada de um conjunto de
dados extremamente úteis e importantes.
Para a análise aqui realizada, foram utilizados os dados base referentes à estação meteorológica de
Pereira de Eça / Ondjiva, bem como o respectivo coeficiente K (Thorntwaite & Mathers, 1957),
permitindo assim calcular o balanço hídrico do solo, peça fundamental desta classificação.
6.3.4.1 . Balanço Hídrico do Solo
O balanço hídrico do solo, constitui um balanço climatológico das quantidades de água que são
transferidas da atmosfera para a superfície da terra e desta, de novo, para a atmosfera. Estes
Plano de Urbanização da Cidade de Ondjiva66
quantitativos dependem do estado físico da atmosfera e da natureza da superfície terrestre; dos seus
valores e variação ao longo do ano pode resultar excesso ou deficiência de água no local ou região
considerada. O seu cálculo, apoiado em constantes, e entrando em linha de conta com os valores de
temperatura e precipitação médios anuais, introduz os conceitos de evapotranspiração potencial (ETP)
- grandeza não real - e evapotranspiração real (ETR), sendo o primeiro definido como a quantidade
máxima de água que o solo (por evaporação) e as plantas (por transpiração) podem repor à atmosfera,
e apenas igualado pelo segundo se a precipitação for igual ao seu valor e o solo se encontrar com a sua
capacidade de campo no seu máximo. A determinação da ETP e ETR, permitem definir os valores
mensais do deficit hídrico e do superávit de água, os quais estruturam as expressões referentes aos
índices de aridez (Ia), humidade (Ihm) e hídrico (Ih).
67Caracterização Biofísica
Figura 6.10 - Balanço hídrico do solo para Ondjiva.
A figura 6.10, apresenta os parâmetros que estabelecem o cálculo do balanço hídrico do solo para
Ondjiva e respectivos índices de que em seguida se fará referência.
6.3.4.2 . Evapotranspiração Potencial e Real
A evapotranspiração potencial é a grandeza fundamental desta classificação climática, designando o
termo evapotranspiração o regresso à atmosfera da água que esta perdeu em consequência do
fenómeno da precipitação (na parte sólida da superfície da terra a água regressa à atmosfera por
evaporação e também pela transpiração das plantas). Por evapotranspiração potencial entende-se a
quantidade de água que o solo e as
plantas podem repor à atmosfera, sendo a
hipótese fundamental de Thornthwaite, a
admissão que num dado local esta só
depende da temperatura média do ar,
podendo ser calculada a partir da
multiplicação por um coeficiente fixo por
uma potência da temperatura do ar cujo
expoente é um número décimal
(Thornthwaite, 1948).
Do ponto de vista anual verifica-se que,
em Ondjiva, a ETP apresenta valores mais
elevados nos meses de Outubro e
Novembro, precisamente os meses mais
quentes do ano, na transição entre as
estações seca e de chuvas (Fig. 6.11).
Com efeito, apenas entre Fevereiro e Março os valores de ETP são inferiores ou idênticos aos
quantitativos pluviométricos o que indica uma grande carência de água no solo no restante período do
ano, sendo o total anual de evapotranspiração potencial, cerca 1167mm, muito superior aos
aproximadamente 600mm de precipitação médios por ano.
A evapotranspiração real (ETR), como parâmetro fortemente condicionado pela precipitação ao longo
do ano, define-se como sendo igual à evapotranspiração potencial nos meses em que a precipitação é
igual ou superior a esta, como já atraz referido. Se a precipitação for superior à evapotranspiração
potencial haverá cedência de água pela atmosfera ao solo, se este ainda não se encontrar com a sua
capacidade de campo preenchida. Quando, pelo contrário, a precipitação é inferior à
evapotranspiração potencial, verifica-se cedência de água do solo para a atmosfera. O limite de
capacidade de recepção e cedência de água por parte do solo, depende da natureza do solo e do seu
revestimento vegetal, tendo-se convencionado, atendendo à dificuldade em traduzir de forma correcta
as características pedogénicas da área, o valor tabelado universalmente de 100mm.
Os meses onde o valor de ETR é mais elevado são precisamente aqueles onde os quantitativos
pluviométricos são mais elevados e onde há água retida no solo, nomeadamente Janeiro, Fevereiro e
Março. Esta situação inverte-se à medida que a estação seca avança e a água no solo vai
desaparecendo, apresentando valores mínimos entre Agosto e Setembro.
6.3.4.3 . Deficit Hídrico
Sendo resultante da diferença entre a evapotranspiração potencial e a evapotranspiração real, o défice
de água regista valores de zero nos meses em que ETR=ETP, enquanto que nos meses em que ETR for
Plano de Urbanização da Cidade de Ondjiva68
Figura 6.11 - Precipitação média mensal e ETP, para Ondjiva.
inferior a ETP este registará um determinado valor, uma vez que a água precipitada e retida no solo é
insuficiente para o desenvolvimento fenológico das plantas (em termos teóricos). O valor anual
corresponde à soma dos doze valores mensais.
A utilidade deste parâmetro é particularmente importante, por exemplo, no domínio agrícola, no
sentido de se poderem satisfazer com alguma antecedência as necessidades de determinadas culturas
em períodos secos, ou para avaliar as consequências ao nível da cobertura vegetal de áreas
particularmente afectadas por episódios de seca, estacional ou anual, como é o caso da região que
enquadra a cidade de Ondjiva.
Verifica-se que para Ondjiva, e sua envolvente, existe um défice hídrico anual considerável de cerca de
494,6mm, o que traduz a natureza de semiaridez do clima regional. Por outro lado os meses onde é
maior o stress hídrico são os de Setembro, Outubro e Novembro, com 95,5mm, 118,2mm e 90,1mm,
em défice, respectivamente, ou seja o final da estação seca e a transição para a húmida quando as
temperaturas diárias se apresentam mais elevadas.
6.3.4.4 . Superávit de Água
O superávite é o excesso de água de precipitação que não é evapotranspirada nem fica armazenada no
solo, escoando superficialmente, ou infiltrando-se e com isso fazendo subir o nível da toalha freática.
Conforme refere Silveira (1962), o excesso de água não é reposto na atmosfera na região onde teve
origem mesmo que se mantenha no solo até à chegada dos meses secos, uma vez que, ao infiltrar-se
deixa de estar em contacto com o ar e, em parte, com as raízes das plantas; ao escoar superficialmente
reúne-se em linhas de água cuja área, teoricamente nula, é muito pequena comparada com a área de
campo, sendo igualmente pequeno o tempo de escorrência de uma partícula de água.
Atendendo às características da região, em Ondjiva apenas se regista escoamento superficial de origem
local, em média, no mês de Fevereiro, e de valor muito modesto, cerca de 26mm, o que elucida sobre
a dependência da área ao nível do abastecimento de água, dos mananciais provenientes do sector
montante das cabeceiras da rede hidrográfica Cuvelai-Mui. Em anos onde não se verifica a efundja, a
presença de água superficial durante o período chuvoso é extremamente efémera.
6.3.4.5 . Índices de Aridez, Humidade e Hídrico
O índice de aridez corresponde ao quociente entre o défice de água anual e a evapotranspiração
potencial anual, expresso em percentagem. Rege-se pelo princípio que um clima sem água útil para as
plantas é totalmente árido, enquanto que outro em que as plantas dispõem sempre desta para
qualquer das suas necessidade não apresentará aridez. Efectivamente, como refere Silveira (1962), uma
deficiência anual de água de 400mm num clima megatérmico, onde a evapotraspiração anual é de
cerca de 1200mm, corresponde apenas a um terço da necessidade de água enquanto que num clima
mesotérmico com 800mm de evapotranspiração potencial a mesma deficiência de 400mm
corresponde a metade da necessidade de água.
O valor mínimo deste índice é zero e o máximo 100, com base na fórmula:. Ia = 100 *
Onde: Ia = Índice de aridez; Dh = Défice hídrico; Etp= Evapotranspiração potencial
69Caracterização Biofísica
DhEtp
O valor obtido para Ondjiva é assim de 42,4, ou seja, em termos fenológicos representará mais de um
terço das necessidades em água para as plantas, o que implica uma selecção criteriosa em termos de
culturas e espécies arbóreas ornamentais que possam sobreviver na área.
O índice de humidade, parte do princípio que uma região que não tem excesso de água não terá
nascentes (em termos simplificados) nem contribui para a alimentação dos rios. Desta forma o índice
será tanto mais próximo de zero quanto menor for o excesso de água, sendo zero se não existir excesso
desta. Se o excesso de água for igual às necessidades, o índice será 100; se o excesso for superior às
necessidade, então o índice de humidade será superior a 100.
A formula que o define, é: Ihm = 100 *
Onde: Ihm = Índice de humidade; Sp = Superávite; Etp= Evapotranspiração potencial
Em Ondjiva o valor obtido é de 2,3, o que traduz uma clara deficiência em termos hídricos de génese
local. Mais uma vez é salientado de forma indirecta, o elemento exógeno tão importante que são as
cheias cíclicas da região.
Se existe excesso de água num mês e deficiência noutros, como acontece na área em referência, torna-
se necessário utilizar um índice global de humidade com os dois índices anteriormente definidos, de
maneira a que este índice seja afectado positivamente pelo índice de húmidade e negativamente pelo
índice de aridez. Desta conjugação surge o índice hídrico (Hh) que se rege pela seguinte fórmula:
Hhd = Ihm - 0.6*Ia
O facto de se calcular este índice com uma redução do peso do índice de aridez imposta pala sua
multiplicação por 0.6 explica-se pelo facto de na época seca, algumas plantas com raízes profundas
ainda poderem utilizar a água do subsolo o que não afecta sensivelmente a quantidade de água
disponível para escoamento mas pode melhorar as características hídricas da região. Desta forma um
excesso de apenas 6mm contrabalançaria uma deficiência de 10mm.
O índice hídrico é elemento definidor entre regiões de clima húmido (índice positivo) e regiões de clima
seco (índice negativo), e base da estrutura classificativa de Thorntwaite conforme à frente é
apresentado para Ondjiva que apresenta um valor de -23,2.
6.3.4.6 . Fórmula Climática Segundo os Índices Calculados para Ondjiva
Com base no índice hídrico chega-se à primeira etapa da classificação climática racional de Thorthwaite
de um local, constituída por quatro letras, duas maiúsculas seguidas por duas minúsculas, com os
respectivos índices. Desta forma a primeira maiúscula é dada pela seguinte relação, apresentada no
quadro 6.8:
Plano de Urbanização da Cidade de Ondjiva70
SpEtp
71Caracterização Biofísica
Quadro 6.8 - Tipo climático segundo o índice hídrico.
Quadro 6.9 - Tipos climáticos segundo o índice de eficiência térmica.
Tipo Climático Índice hídrico
A - Hiper-húmido >=100
B4 - Muito Húmido 80 a 100
B3 - Húmido 60 a 80
B2 - Moderadamente Húmido 40 a 60
B1 - Pouco Húmido 20 a 40
C2 - Sub-húmido húmido 0 a 20
C1 - Sub-húmido seco -20 a 0
D - Semiárido -40 a -20
E - Árido -60 a -40
Sendo o valor do Ih para Ondjiva de -23,2, esta localidade encontra-se associada ao tipo climático D -Semiárido.
A segunda maiúscula é obtida com o valor da evapotranspiração potencial, que se apresenta comoíndice de eficiência térmica (IET), distinguindo-se o símbolo pela aplicação de uma plica, conformeapresentado no quadro 6.9. Ondjiva, com um valor de ETP anual de 1166,9mm, enquadra-se no tipoMegatérmico.
IET (mm) Tipo Climático
0-142 E´ Gelado
142-285 D´ Tundra
285-427 C1´ 1º Microtérmico
427-570 C2´ 2º Microtérmico
570-712 B1´ 1º Mesotérmico
712-855 B2´ 2º Mesotérmico
855-997 B3´ 3º Mesotérmico
997-1140 B4´ 4º Mesotérmico
>1140 A´ Megatérmico
A obtenção da primeira minúscula encontra-se determinada pelas características do índice de
humidade, uma vez que Ondjiva se encontra numa região de clima seco por definição (climas C1, D e
E), e de época seca coincidente com o período de Inverno do Hemisfério Sul, conforme indicado no
quadro 6.10, sendo desta forma adoptada a letra minúscula “d”.
Climas Secos Índice de Humidade
d- excesso de água nulo ou pequeno 0 a 10
w- excesso moderado de água no Verão 10 a 20
w2- grande excesso de água no Verão >20
Quadro 6.10 - Qualificação climática pelo índice de humidade.
No que diz respeito à segunda letra minúscula da fórmula, que indica a concentração estival da eficácia
térmica, ou seja, a percentagem da evapotranspiração anual que corresponde aos meses de Verão,
caracteriza-se em todo o território angolano por se apresentar abaixo dos 48%, ou seja do tipo “a´”,
que representa pequena concentração estival.
A fórmula climática obtida para Ondjiva segundo o método de Thorntwaite-Matter, é assim definida
pela expressão: DA´da´, ou seja um clima semi-árido megatérmico de excesso de água nulo ou
pequeno e de pequena concentração estival. Dentro da classificação em referência apresenta-se
como um clima com quantitativos pluviométricos médios modestos, mas de extrema variabilidade
inter-anual, podendo atingir valores extremos muito elevados. Por outro lado caracteriza-se por
apresentar uma concentração do período das chuvas em menos de metade dos meses do ano, sendo
em geral dominado por fortes teores de evaporação ao longo de todo o ano, fruto de uma constância
dos valores médios de temperatura acima dos 25oC, nomeadamente durante a época húmida.
7 . HIDROLOGIA SUPERFICIAL A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CUVELAI
O Cuvelai é um rio endorreico, com cerca de 430km de comprimento, que nasce na Serra do Encoco,
na linha divisória entre as províncias do Kunene e Huíla, definindo uma bacia hidrográfica que se
encontra enclavada entre as bacias do Cunene a ocidente e a do Cubango a oriente (Figs. 7.1 e 7.2).
Apresenta um regime permanente a semi-permanente nos primeiros 100km do se percurso, até atingir,
por alturas do Evale, o ápice do seu delta interior, onde o seu canal principal se subdivide em múltiplos
braços que se espraiam por vasta superfície de ondulado suave onde adquire um regime temporário.
Este delta interior, em parte herdado de época em que o rio Cunene era o principal distribuidor de
águas na vasta superfície do Cuanhama, estende-se por mais de 130km em largura na faixa em que
está definida a fronteira entre Angola e a Namíbia, a partir de onde se inverte a organização da rede
de drenagem no sentido convergente até atingir a caldeira do Etosha.
O escoamento superficial do rio Cuvelai apresenta-se normalmente errático e de quantitativos
modestos. Segundo Pallett (1997), os valores variam entre 0 e 100Mm3/ano, sendo em média, a partir
de registos obtidos em Oshakati, na ordem dos 5Mm3/ano.
O sistema de drenagem superficial, estruturado por uma vasta rede de chanas, definindo uma unidade
paleo-deltaica, constitui o suporte à vida de mais de 850 000 pessoas entre Angola e a Namíbia, sendo
a agricultura (apoiada essencialmente na cultura do massango) e a pecuária os principais meios de
subsistência económica destas populações, a que se associa uma exploração tradicional de frutos
colhidos em árvores da região. Devido à topografia plana, e à presença de aquíferos com elevados
teores em sais, o armazenamento de água superficial encontra-se limitado a pequenos açudes e
chimpacas, que sofrem grandes perdas por evaporação. No entanto estes represamentos retêm parte
do fluxo das cheias que ciclicamente atingem a região (efundja), constituindo um importante
contributo no fornecimento de água dentro da bacia.
Com base nas sondagens electromagnéticas realizadas em 1965 pelo LNEC, verificou-se que a
espessura das formações do Kalahari na área de Ondjiva era de cerca de 500m, sendo desconhecida a
constituição litológica específica do “bed-rock” onde estas assentam.
9.1.2 - RECOMENDAÇÕES
Verificando-se lacuna ao nível de cartografia geológica de grande e média escala, para a generalidade
da província do Kunene, e em particular para a área onde se encontra Ondjiva, recomenda-se, em
articulação com o Instituto Geológico e Mineiro de Angola, proceder-se a um levantamento detalhado
das características geolitológicas da região, nomeadamente na área enquadrada pelo sistema drenante
do Cuvelai-Mui, pela relevância desta informação na compreensão das relações dos diferentes
elementos físicos presentes no sistema regional, nomeadamente ao nível hidrogeológico e pedológico.
9.2 - HIDROGEOLOGIA
9.2.1 - SINOPSE HIDROGEOLÓGICA
Do ponto de vista hidrogeológico, Ondjiva encontra-se inserida na Província Hidrogeológica Cuvelai Mui
- Ondjiva - Namacunde que é formada por todas as chanas que escoam as águas da mulola Mui e do
105Caracterização Biofísica
rio Cuvelai em direcção à caldeira do Etosha e cujas aluviões aquíferas são alimentadas pelas águas de
cheia destes dois cursos de regime temporário.
A província hidrogeológica apresenta-se, até à data, como a única que apresenta condições propícias
à ocorrência de águas subterrâneas, a profundidades não superiores a 30m, em toda a região do
Cuanhama, sendo os grés aluvionar brancos a única formação aquífera da província hidrogeológica
Sob Ondjiva, encontra-se um paleo-vale, o mais importante de um conjunto de quatro que entalha o
substrato Precâmbrico, onde é apontada a possibilidade de ocorrência de águas profundas.
Em toda a Bacia Sedimentar do Cuanhama estão identificados os seguintes aquíferos regionais: Aquífero
Suspenso Descontínuo (ASD), Aquífero Pouco Profundo Principal (APPP), Aquífero de Fácies Carbonatada
(AFC), Aquífero de Fácies Psamítica (AFP), Aquífero Artesiano de Oshivelo (AAO), Aquífero Profundo Principal
(APP) e Aquífero Muito Profundo (AMP).
Na área de Ondjiva, os sistemas de aquíferos mais expressivos serão: Aquífero Suspenso Descontínuo
(ASD), Aquífero Pouco Profundo Principal (APPP), Aquífero Profundo Principal (APP) e Aquífero Muito
Profundo (AMP), sendo os dois primeiros os que actualmente contribuem integralmente para o
fornecimento de água à cidade, com base em poços e captações subterrâneas que não ultrapassam em
média os 5m e os 30m de profundidade, respectivamente.
Os recursos aquíferos obtidos com base no sistema ASD, implantado sob os mufitos, são
exclusivamente gerados em função da precipitação local, sendo de extrema vulnerabilidade quer em
termos de contaminação quer em termos de disponibilidade de mananciais de águas pouco salobras.
Estes aquíferos são essencialmente utilizados pela população com base nas “omufimas”, poços
artesanais pouco profundos e de produtividade reduzida em termos de caudal e tempo de utilização.
O sistema de aquíferos APPP, assegura o essencial do caudal diário extraído ao longo do ano pelas
diferentes captações que operam na área de Ondjiva, e encontra-se subjacente aos planos de chana
(chanas: Ipembe, Caricoco e N´Giva). A sua recarga, feita com base nas cheias regionais e na percolação
lateral das águas de infiltração das chuvas ao longo da vertente dos mufitos, estabelece-se em função
das linhas de contacto entre as chanas e os mufitos, bem como ao longo de lineações disseminadas
pelo corpo principal das primeiras, sendo estas áreas de extrema importância, quer para a manutenção
do processo de recarga, quer para a qualidade das águas subterrâneas.
No aquífero da chana N´Giva-Caricoco, onde se encontram implantadas um conjunto de captações
fundamentais ao abastecimento de água à cidade, foi verificado um raio de influência por captação de
cerca de 123-130m, sendo o nível estático influenciado em termos anuais, quer pelo caudal de
extracção efectivo do ano, quer pela ocorrência da cheia regional no ano anterior. Foi também
identificada uma relação entre o nível estático para um determinado ano, e os quantitativos
pluviométricos gerados na estação húmida anterior.
Os aquíferos da província hidrogeológica, onde se inserem os explorados na área de Ondjiva, tendem
a esgotar-se ao fim de alguns anos de exploração, quando esta ultrapassa a capacidade de recarga
destes, nomeadamente em ciclos de seca prolongados.
Em termos da natureza mineralógica das águas subterrâneas, estas apresentam como seus constituintes
fundamentais na área de Ondjiva: cálcio, magnésio, sílica, carbonatos, sulfatos, cloretos e bicarbonatos.
As águas encontradas sob as chanas apresentam constituição muito diferente das encontradas nos
mufitos, sendo as primeiras essencialmente doces, bicarbonatadas-cálcicas ou bicarbonatadas-sódicas,
Plano de Urbanização da Cidade de Ondjiva106
de dureza fraca permanente e pontualmente sulfatadas, logo de boa qualidade para o consumo
humano. Nos mufitos as águas revelam-se fortemente mineralizadas, bastante duras e sulfatadas-
sódicas, apresentando-se assim muitas vezes impróprias para consumo humano.
Na área de Ondjiva, nomeadamente na sua envolvente mais próxima (chanas N´Giva, Caricoco,
Ocapale, Kashila, entre outras), existe um grave problema de deposição de resíduos sólidos urbanos
não tratados, que contribui para a degradação da qualidade físico-química quer das águas subterrâneas
quer das superficiais. Por outro lado, o enterramento de resíduos orgânicos e de outra natureza nas
depressões correspondentes a cacimbas abandonadas contribui para a contaminação do sistema de
aquíferos suspensos descontínuos da área.
9.2.2 . RECOMENDAÇÕES
Devem ser retomados com a maior brevidade, os estudos referentes às características hidrogeológicas
da região correspondente à Província Hidrogeológica Cuvelai Mui - Ondjiva - Namacunde, nomeadamente
no que se refere à delimitação dos sistemas aquíferos subsuperficiais presentes, processos de recarga,
monitorização das áreas actualmente em exploração para abastecimento humano e pecuário, definição
dos locais mais aptos para implantação de futuras captações, bem como aprofundar o conhecimento
da caracterização das massas de água subterrâneas, avaliação das suas vulnerabilidades, qualidade das
suas águas e impacto das actividades humanas
A gestão dos recursos hídricos subterrâneos na área de Ondjiva, deve ser articulada com base na
totalidade da área correspondente à província hidrogeológica, num plano organizado ao nível
municipal e provincial. Neste plano deverá ser estabelecida uma política de consumo de água em
coordenação directa com os diferentes consumidores, levando em consideração quer os direitos destes,
quer as suas responsabilidades. Por outro lado, deverão ser estabelecidos procedimentos e técnicas de
conservação de água a diferentes níveis de utilização do solo para a totalidade da área da província
hidrogeológica, nomeadamente no que se refere à atenuação da escassez de recursos hídricos,
elaborando um plano de mitigação dos efeitos da seca, em parte baseado nos subterrâneos.
A reabilitação e entrada em funcionamento da estação hidrológica de Ondjiva, integrada num sistema
local de bases de dados que permitam recolher informações a diferentes níveis é uma prioridade. Entre
os elementos e acções fundamentais a considerar contam-se: a caracterização do sistema
hidrogeológico local, a monitorização físico-química sazonal, a monitorização piezométrica, a
identificação e caracterização de fontes de contaminação difusa e pontual, a identificação de áreas
vulneráveis à contaminação dos aquíferos, selecção de uma rede de monitorização eficaz, a
implantação de um SIG associado à base de dados, a construção de piezómetros e estações de
qualidade, entre outros.
Todas as captações a implementar na área devem ser equipadas com dispositivos de recarga.
Mediante estudo de viabilidade a construção de barragens subterrâneas, nas áreas mais produtivas,
com o fim de reter a água do escoamento subterrâneo, no tempo seco, melhorando, assim, o nível
estático nas captações e, consequentemente, o volume de água disponível, deverá ter em atenção a
possança do grés aquífero e o seu coroamento deverá ficar a 1m abaixo do tecto destes.
As áreas onde se processa a recarga de aquíferos, ou os sectores de vertente dos mufitos onde se dá
107Caracterização Biofísica
percolação para as chanas, são extremamente vulneráveis à contaminação de génese antrópica, pelo
que deverá ser implementado um sistema de controlo de possíveis focos de poluição existentes,
envolvendo nomeadamente uma campanha mobilizadora de recolha de lixo e outros materiais que
actualmente contribuem para a perda de qualidade das águas subterrâneas e superficiais.
Deverá ser deslocalizada a plataforma receptora de águas residuais do hospital provincial de Ondjiva
implantada na Chana N´Giva, em substituição por sistema de tratamento de resíduos hospitalares. Com
efeito, esta situação é potenciadora de um foco grave de poluição tanto das águas subterrâneas, por
infiltração de substâncias perigosas até à tolha freática, como das águas de escoamento superficial em
caso de uma cheia de grandes dimensões que leve ao estravazamento ou galgamento das águas
residuais ai confinadas.
A monitorização da qualidade das águas represadas no açude da chana Caricoco e a sua correcta
gestão, são elementos prioritários na salvaguarda da qualidade dos aquíferos das chanas Caricoco e
N´Giva, pelo que deverá ser definido um modelo de salvaguarda desta infraestrutura no curto prazo.
Deverá ser promovida a execução de infraestruturas de tratamento de águas residuais urbanas
necessárias para assegurar a qualidade das águas subterrâneas e superficiais a médio e longo prazo.
9.3 - GEOMORFOLOGIA
9.3.1 - SINOPSE GEOMORFOLÓGICA
A cidade de Ondjiva está localizada numa parte da superfície de enchimento da Bacia Sedimentar
Cuanhama-Etosha ou Bacia de Sedimentação do Cuanhama, que apresenta uma paisagem morfológica
de carácter ondulado suave de grande interesse e raridade, definindo a denominada Micromorfologia
do Cuanhama.
Identificam-se quatro tipos morfológicos principais: Chanas - Depressões alongadas encaixadas em grés
argilo-calcário cinzento claro, correspondendo a vales fósseis, com cerca de 30m de profundidade,
quase completamente assoreados; Mufitos - Áreas aplanadas constituídas por grés argilo-calcários
cinzentos, nunca atingidos pelas águas de inundação que se escoam pelas chanas; Ecangos -
Localizados no interior dos mufitos, definem depressões fechadas com o fundo preenchido por argila
cinzenta escura e sujeitas a inundação quando ocorrem precipitações intensas e concentradas de
âmbito local; Mahenene - com características intermédias entre as chanas e os mufitos, de solo
predominantemente arenoso apenas sujeitas a inundação quando a cheia regional assume grandes
proporções.
O padrão morfológico modelar da paisagem geomorfológica na área de Ondjiva apresenta-se do tipo
Micromodelado de Padrão Largo, ou seja, a estrutura deste modelado deve-se à presença de chanas
amplas, entre os 500m e os 3km de largura, que se desenvolvem por muitos quilómetros em curvas
múltiplas, separando-se e unindo-se por vasta superfície intercalada por interflúvios - mufitos -
alongados e de superfície irregular. Constituem formas “mortas” da superfície de enchimento do
Cunene, e apresentam um alinhamento escoante de sentido aproximado NNW-SSE.
Sob o ponto de vista geomorfológico da área envolvente a Ondjiva, no que se refere a processos de
erosão hídrica ou movimentos de vertente, dadas as características particulares ao nível da topografia
Plano de Urbanização da Cidade de Ondjiva108
e regimes hídricos superficiais presentes, estes são, em geral, praticamente desconhecidos (ambiente
essencialmente de sedimentação). No entanto, nas áreas onde foram instalados areeiros, envolvendo
uma alteração da morfologia original dos terrenos, nomeadamente pelos taludes da frente de lavra
gerados, verifica-se a presença de pequenos desabamentos, fruto de micro-arribas de declive
subvertical pouco coerentes, contribuindo assim para a instabilização dos terrenos contíguos,
nomeadamente aquando de períodos de precipitação intensa.
9.3.2 . RECOMENDAÇÕES
Os entalhes provocados pelas frentes de lavra dos areeiros presentes nos bairros Kakuluvale, Kashila I e
Kashila II, constituem factor de instabilidade geomorfológica localizada, para além de provocarem
descontinuidade biofísica e potencialmente definir focos de contaminação. Desta forma, estas
explorações devem ser alvo de encerramento e devolução destas áreas a usos de maior valor
paisagístico, ou reconversão urbanística.
9.4 . PEDOLOGIA
9.4.1 . SINOPSE PEDOLÓGICA
Os solos da região podem, quanto à sua génese, ser agrupados em dois grandes conjuntos
pedológicos: os que se encontram directamente relacionados com o sistema de drenagem endorreica
do Cuvelai, de génese sedimentar aluvionar, com variações de textura de acordo com o tipo de
sedimentos; os que se relacionam com a superfície arenosa do Kalahari, essencialmente psamíticos.
Estão identificados para a região os seguintes tipos de solos: Regossolos Psamíticos, Psamíticos
Pardacentos, Gravinigra, Pardo-cinzentos Semi-áridos, Pardo-avermelhados Semi-áridos e Cromopsâmicos.
Estes, por sua vez, encontram-se subdivididos em cerca de dez agrupamentos distintos.
Na área em referência, os solos são pouco férteis, do ponto de vista agrícola, em geral, de fraca ou nula
aptidão, exceptuando alguns agrupamentos mais evoluídos situados no coroamento dos mufitos onde
se pratica o essencial das actividades de cultivo. Com efeito, os agrupamentos situados nas áreas de
chana e ecangos apresentam um marcado halomorfismo e hidromorfismo, que os torna impróprios
para o estabelecimento de lavras.
De uma forma concisa e genérica os solos na área de Ondjiva são pobres em alguns nutrientes, como
o nitrogénio e o fósforo, em matéria orgânica, apresentando uma fraca estabilidade estrutural.
Apresentam pouca capacidade de retenção de água, e muitas vezes definem couraça a poucos
centímetros de profundidade. Por outro lado, os agricultores plantam essencialmente cereais, o que
deixa os solos completamente nus durante o longo período seco.
9.4.2 . RECOMENDAÇÕES
O levantamento detalhado das características pedológicas da área, nomeadamente em termos
espaciais, afigura-se como prioridade no sentido de identificar, entre outros aspectos, as manchas de
melhores solos existentes e desta forma contribuir para a sua conservação efectiva.
109Caracterização Biofísica
Tendo em atenção uma fertilidade fraca dos solos em geral, deverá ser incentivado nas áreas
actualmente sobre cultivo, e que se encontram em espaço rural (envolvente urbana), a utilização de
fertilizantes naturais, como estrume do gado bovino, promovendo desta forma o potencial agrícola das
terras e contribuindo para a não introdução de fertilizantes químicos potencialmente poluentes
nomeadamente dos mananciais aquíferos subterrâneos.
A protecção do solo passa igualmente pela salvaguarda do coberto vegetal natural, nomeadamente o
arbóreo, promovendo a proibição de queimadas e o corte injustificados de elementos lenhosos na área.
9.5 . CLIMA
9.5.1 . SINOPSE CLIMÁTICA
O conjunto de dados climatológicos existentes para Ondjiva, reportam-se ao período 1937-75,
existindo uma lacuna decorrente do encerramento da estação meteorológica Pereira de Eça / Ondjiva
em 1975, de quase 30 anos. Esta ausência de informações relativa aos diferentes elementos climáticos
por tão longo espaço de tempo, impede a correcta avaliação de todo um período do passado recente
do historial climatológico local, com implicações directas no conhecimento biofísico do território.
O clima regional apresenta-se, segundo a classificação racional de Thorntwaite-Mater, do tipo semi-
arido megatérmico com um excesso de água praticamente nulo e um concentração estival da
precipitação (DA´da´).
A temperatura média anual é de cerca de 22,7oC, sendo os meses de Outubro e Novembro os mais
quentes (26,1oC) e o de Julho o mais fresco (17,1oC). Em geral, verifica-se valores térmicos diários acima
dos 25oC em cerca de 351 dias por ano, atingindo a temperatura diária valores máximos absolutos
próximos dos 40ºC.
A precipitação média anual situa-se nos 599,7mm, sendo o período chuvoso compreendido entre
Novembro e Março, com o mês de Fevereiro a apresentar o maior quantitativo pluviométrico médio
mensal, cerca de 145,9mm. A época das chuvas é coincidente com o período mais quente do ano, e
estas apresentam-se essencialmente do tipo convectivo, normalmente intensas e concentradas, tanto
no espaço como no tempo, associadas frequentemente a forte instabilidade atmosférica (trovoadas).
Existe uma acentuada variabilidade no regime pluviométrico ao nível inter-anual, determinando de
forma decisiva todo o ciclo hidrológico regional, nomeadamente no que se refere à disponibilidade de
água para o abastecimento de plantas, animais e pessoas, bem como na recarga dos sistemas de
aquíferos.
Na área, os ventos dominantes apresentam-se o dos quadrantes Nordeste e Leste, entre os meses de
Abril e Agosto e dos quadrantes Sueste e Sudoeste no restante período do ano.
Os valores de humidade relativa do ar são em geral máximos nos meses de Fevereiro e Março (68,2%
e 66,8%, respectivamente), coincidindo com o pico do período chuvoso, e apresentam-se mínimos no
mês de Setembro (27%), no final da época seca. De forma inversa, os valores de evaporação real
apresentam-se moderados em Fevereiro e Março (178mm e 202mm, respectivamente) e bastante
elevados em Setembro (463mm) e Outubro (468mm).
Plano de Urbanização da Cidade de Ondjiva110
9.5.2 . RECOMENDAÇÕES
A reactivação da estação meteorológica de Ondjiva, incluindo a sua dotação completa em termos
instrumentais e técnicos, bem como aumentar a cobertura em estações meteorológicas e postos
udométricos em toda a área correspondente ao sistema drenante Cuvelai-Mui, no sentido de melhorar
o conhecimento existente sobre os fenómenos meteorológicos e a sua relação com os recursos hídricos
regionais.
Promover a construção de edifícios com um sistema de captação de águas pluviais adequado, ou em
superfícies especialmente preparadas para esse fim - telheiros, lageados, associando cisternas, de forma
a rentabilizar a água disponível para consumo humano bem como responsabilizar a população sobre
um recurso tão valioso.
Estimular a divulgação de informação sobre as inter-relações existentes entre as restrições biofísicas
impostas por climas do tipo semi-árido e acções de ordenamento e gestão da terra, a diferentes níveis
escolares e comunitários.
Promover a implantação de alinhamentos arbóreos nas principais ruas da cidade, para aumentar a área
de sombra, mas, salvaguardando a utilização de espécies especificamente adaptadas às condições
climáticas locais, dentro das utilizadas em ornamentação urbana.
9.6 . HIDROLOGIA SUPERFICIAL
9.6.1 . SINOPSE HIDROLÓGICA
A área drenante onde se insere Ondjiva, é parte integrante da bacia hidrográfica do Cuvelai, rio de
escoamento superficial normalmente errático no sector intermédio e jusante da sua bacia, com caudais
que variam entre os 0 e os 100Mm3/ano. Este complexo sistema drenante, estrutura-se com base em
depressões comunicantes ou isoladas em geral de 100-500m de largura e 30-100cm de entalhe no
plano escoante - chanas; as quais se encontram enquadradas por superfícies de enchimento psamítica
recobertas originalmente por floresta seca e savana arbóreo-arbustiva - mufitos.
Das várias sub-bacias que compõem a bacia do Cuvelai, a cidade da Ondjiva está integrada na mais
activa em termos hidrológicos superficiais. A sub-bacia em referência drena as cabeceiras do Cuvelai
propriamente dito, da mulola Mui e, em anos hídricos excepcionais, os contributos provenientes do
sistema drenante do Tchimporo.
As cheias regionais cíclicas que se desencadeiam nesta bacia - “efundjas” - constituem parte vital da
subsistência das populações locais assim como da terra da qual dependem, como por exemplo na
recarga dos sistemas de aquíferos regionais sub-superficiais.
A “efundja”, de ciclicidade irregular, pode ocorrer em Ondjiva entre os meses de Dezembro e Abril,
sendo Fevereiro e Março os mais representativos. Este evento pode durar entre alguns dias a 2 meses. A
relação entre precipitação registada e ocorrência de “efundja”, na área não é regular. As cheias não são
em termos locais uma consequência directa das chuvas ai verificadas mas sim fundamentalmente
provocadas pela precipitação ocorrida nas cabeceiras da bacia, a muitas dezenas de quilómetros a Norte.
A magnitude das cheias varia consideravelmente entre distintos eventos, sendo expectável que uma
cheia de grande magnitude, onde o plano de alagamento apenas deixa a descoberto as áreas de mufito,
111Caracterização Biofísica
se registe com períodos de retorno de aproximadamente 50 anos (última ter-se-á registado em 1954).
Os únicos dados hidrométricos existentes para Ondjiva, reportam-se a um curto período de observação
entre 1947 e 1952.
Foi elaborada uma carta (Planta I. 3, em anexo) onde se apresenta um zonamento potencial das áreas
que poderão estar sujeitas a alagamento resultante de eventos de “efundja” na envolvente de Ondjiva,
com base em dados de natureza teledetectada bem como da interpretação directa no terreno de
elementos indicadores, nomeadamente formações vegetais, de diferentes níveis de constrangimento
hídrico superficial.
O fluxo para Sul das cheias regionais, seguindo o padrão estrutural das chanas, é particularmente
vulnerável a qualquer obstáculo que intercepte o seu lento escoamento superficial. Na área de Ondjiva,
os atravessamentos em aterro dos principais eixos viários dos planos de chana, constitui o principal
entrave à progressão da lâmina de cheia, quer pelo sub dimensionamento numérico de manilhas
drenantes, quer por estas se apresentarem frequentemente assoreadas e entulhadas com detritos.
Contributo importante para a economia tradicional local, associado à “efundja”, consiste na presença
cíclica de peixe nas superfícies alagadas pela cheia regional, que a população rural aproveita como
complemento nutricional e comercial. Não tendo sido ainda realizado qualquer estudo no sector
angolano da bacia, os dados existentes sobre a produtividade piscícola no outro lado da fronteira, em
directa dependência do fluxo proveniente deste, apontam para capitações entre os 3 e os 100kg/dia.
9.6.2 . RECOMENDAÇÕES
É prioritário o estabelecimento de uma rede de estações hidrométricas ao longo da bacia drenante do
Cuvelai, bem como de escalas limnimétricas nas principais chanas da envolvente de Ondjiva, no sentido
de ser conhecida de forma qualitativa e quantitativa a dinâmica hidrológica superficial da região,
nomeadamente no que diz respeito às cheias regionais, e em particular para a área de Ondjiva.
Deverão ser analisados dados teledetectados de toda a bacia, para meses específicos do ano com uma
maior dinâmica hidrológica, como complemento à validação detalhada recolhida no terreno.
Estabelecimento de uma rede de postos udométricos representativa das diferentes sub-bacias existentes
na região.
Deverá ser assegurada a manutenção do fluxo natural das cheias regionais, independentemente da sua
magnitude, através de regulamentação específica sobre infraestruturas a implantar na bacia drenante.
Deverá ser assegurado que o traçado de futuras vias de âmbito nacional, regional ou outro, de
orientação Norte-Sul, sejam implantadas preferencialmente paralelas às chanas, pseudo-mufitos e
ecangos existentes.
Nos atravessamentos dos planos de chana, as vias deverão ser construídas com base num sistema de
manilhas drenantes de diâmetro largo e em quantidade suficiente para não constituir entrave ao fluxo
de cheia. Por outro lado, a implantação das manilhas deve ser feita ao nível do solo, e não sobre
elevada. Em determinadas circunstâncias, em função do âmbito da infraestrutura da extensão e perfil
do atravessamento, a construção de tabuleiro apoiado por colunatas será a alternativa mais viável.
A implantação de estruturas do tipo oleoduto ou conduta, deve ser sempre subterrânea.
Plano de Urbanização da Cidade de Ondjiva112
Deverão ser reabilitados e melhorados os sistemas drenantes existentes nos aterros de atravessamento
nas chanas N´Giva e Kashila, por constituírem entrave ao fluxo de cheia regional.
9.7 . Ocupação do Solo
9.7.1 . Sinópse
As características das diferentes unidades que compõem a actual paisagem na área de Ondjiva são o
resultado da relação entre as particularidades naturais desta e a acção antrópica, ao longo de sucessivas
gerações, das populações que se têm vindo a instalar e a moldar o actual núcleo urbano.
O crescimento e expansão desordenados do núcleo urbano de Ondjiva têm, nos últimos anos,
promovido a transformação da paisagem na sua imediata envolvente, com consequências graves ao
nível ambiental e da qualidade de vida da população. Deve ser tido em especial atenção o facto da
região onde se implantou a cidade ser, ao nível climático, semi-árida, o que confere aos diferentes
sistemas que compõem a paisagem uma maior fragilidade a alterações ou exigências a que estes
estejam sujeitos.
Particular cuidado deve ser dado às formações de vegetação autóctone de estrutura arbórea,
componentes quer dos interflúvios (mufitos), quer dos planos fluviais (chanas) e faixas de contacto
entre estes, como sejam os núcleos de floresta seca, galerias ripícolas, formações arbóreas de Dyospirus
monspeliensis, entre outros.
9.7.2 . Recomendações
Deverão ser salvaguardados todos os núcleos de formações arbóreas ripócolas autóctones, de floresta
seca, bem como das principais formações arbóreo-arbustivas secundárias existentes, tendo em vista,
nomeadamente, a execução de estudos referentes a alterações na estrutura da vegetação local, a
salvaguarda de bolsas de elevado valor biológico que possam servir como núcleos de disseminação de
elementos estruturantes do ecossistema local para áreas adjacentes degradadas, a implementação de
acções de educação ambiental, a maximização de espaços de natureza lúdica, a protecção ao solo,
entre outros.
Deverá ser incentivado o uso sustentado e a conservação dos recursos lenhosos existentes,
nomeadamente pela utilização de fogões mais conservativos no consumo de carvão; redução nos
materiais de natureza lenhosa utilizados na construção de edificações, identificação de energias
alternativas; limitar ao máximo o corte de árvores em toda a área considerada.
Deverá ser incluída nos programas escolares a divulgação de informação sobre o valor das comunidades
florestais locais e dos seus múltiplos recursos, se utilizadas de forma sustentada.
Deverão ser realizados estudos relativos às mudanças na utilização e posse de terras entre o sistema
tradicional e a sua progressiva privatização na envolvente de Ondjiva, nomeadamente ao nível do
espaço agrícola.
O planeamento do território relativamente às práticas agrícolas tradicionais deve ser coordenado com
todas as restantes componentes de desenvolvimento propostas.
Deverão ser desafectadas as áreas que actualmente se encontram em exploração de inertes, elaborando
um programa de reconversão com base nas tipologias estabelecidas pela Planta de Ordenamento.
113Caracterização Biofísica
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115Caracterização Biofísica
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