CAPTULO IV: ANTIGUIDADE CLSSICA - ROMA Andrea Lcia Dorini de
Oliveira Carvalho Rossi Introduo
OestudosobreaHistriadeRomadeveseriniciadocom
discussesarespeitodasfontesquejforamfeitasanteriormente.No
entanto,nestecaptulo,seranalisadaaespecificidadedasfontese algumas
metodologias de abordagem documental para escrever a Histria da
Sociedade Romana. Para tanto, far-se- uma discusso rpida sobre as
tendncias historiogrficas dos ltimos dois sculos e a produo sobre a
AntiguidadeClssica.Estedilogocomahistoriografiaestdiretamente
relacionado s concepes de fontes utilizadas para se escrever a
Histria de Roma.
Aconscinciadadistnciatemporaleespacialexistenteentrea
nossasociedadeeaSociedadeRomana,antigaoumoderna,umdos elementos
fundamentais para o estudo de Roma
Antiga.Muitassoasconstantesrefernciascontemporneassobreas
identidadesdasociedadeocidentalcomaSociedadeRomanana
Antiguidade.Dentreosprincipaiselementosquegeramestarelaode
identidadeestoasorigensdareligiocristedaIgrejaCatlica,os
fundamentosdoDireito,asbaseseasestratgiasmilitares,asprticas
polticaseaorganizaodaRepblica,aadministraodecidades,os complexos de
distribuio de gua e de saneamento urbano, o conceito de
imperialismo, e muitas outras referncias.
Sofundamentaisessasduasdiscusses,poisho
questionamentoconstanteeatualsobreanecessidadedeseestudar
HistriaAntiganoBrasil.QualHistriaAntigadeveserestudada?Nesta relao
de identidade, nos Parmetros Curriculares Nacionais elaborados
peloMinistriodaEducao(MEC)seapresentaanecessidadedese estudar a
antiguidade da Amrica que a nossa referncia. Nesta relao espacial,
o questionamento sobre a importncia do estudo da Sociedade Romana
se d, principalmente, no que diz respeito s suas aproximaes
eaosseusdistanciamentoscomoBrasil.Narelaotemporal,a conscincia do
distanciamento de dois a trs mil anos tambm de suma
importnciaparaquesefaaaanlisedautilizaodedeterminadas fontes
documentais para o estudo da Histria da Roma Antiga. O estudo da
Histria de Roma, assim como da Antiguidade, deve
partir,nestesentido,daconcepodedocumentoedefontequeo
historiadortemadotadonodecorrerdotempo.Estaconcepotemque
seranalisadaemseusvriosmomentoshistricos.Aconcepode Histria e sobre
a escrita da Histria para os romanos antigos, assim como esta mesma
concepo no decorrer do tempo desde ento, sofreu muitas
mudanas.Estasmudanasforamdeterminantesnasobrevivnciade
muitasfontesquehojesousadasparaseescreveraHistriasobrea Sociedade
Romana. Segundo Moses Finley, em sua obra Histria Antiga:
Testemunhos
eModelos,ocampodahistriasocial,incluindoaHistriaAntiga,est
constantementeemtransformao(p.4).Oautorfundamentaasua afirmao com a
indicao de dois elementos: as alteraes nos volumes
dedadosqueohistoriadorutilizacomofonteshistricasassimcomoas tcnicas
e tecnologias aplicadas ao estudo destas
fontes.ParaFinley,acombinaodestesdoiselementosfazcomquea
escritadaHistriaestejaemconstantemudanaequecadadiscurso
historiogrficoresultadodopresenteemqueestefoiconstrudo.
Segundooautor,todohistoriadortemumaexperinciahistricamaior
queadeseuspredecessores,pormaisdestacadosqueestestenham sido. (p.
5). Esta afirmao demonstra que o historiador tem que ter conscincia
dequeaescritadaHistriadeveseranalisadasegundoasformasde pensar o
conhecimento histrico e como este foi elaborado, quais foram as
fonteshistricaseastecnologiasaplicadasparaaconstruodeste
conhecimento.
Deve-se,portanto,pensarasrelaesexistentesnahistoriografia quanto s
fontes histricas e as suas abordagens.Estas relaes esto
intrinsecamente ligadas funo social da Histria. Esta funo social
est diretamente relacionada necessidade de manuteno do passado para
a construodeumaidentidadenopresente.Aconstruohistoriogrfica
sobreaSociedadeRomananofogeaestalgica.Asidentidadeseas
diversidadesqueestopresentesentrenseosromanosantigosso refletidas
nos discursos historiogrficos que so produzidos.
LeGoff,aofalarsobreafunosocialdaHistria,fazuma
refernciaaumdosfundadoresdosAnnalesesuaconceposobreo passado e a
Histria: [A] interao entre passado e presente aquilo a que se
chamou a funo social do passado ou da histria. Tambm
LucienFebvre[1949]:Ahistriarecolhesistematicamente,
classificandoeagrupandoosfatospassados,emfunodas
suasnecessidadesatuais.emfunodavidaqueela interroga a morte.
Organizar o passado em funo do presente: assim se poderia definir a
funo social da histria. (1992, p. 26)
Portanto,nosepodepensaraHistriadeRomaeaspossveis
fontesparaasuaconstruosemterclaraarelaopresente-passado.
Estarelaoserdeterminantenadefiniodefontesemetodologias, assim como
ser determinada pelas identidades e diversidades
sociais.importante,nestemomento,resgataretimologicamenteo conceito
de fonte que tem a sua origem no latim fons que significa fonte de
algumacoisa,origem.SegundoFunari,ousodapalavraremeteuma metfora
para fazer aluso capacidade de jorrar informaes histricas do
documento a ser estudado pelo historiador (2005). Da mesma forma,
como j foi anunciado anteriormente, o conceito
deHistriadeveserentendidonestarelaopresente-passado.Pensar
sobreasfontesdocumentaisparaoestudodaHistriadeRoma,no presente,
remete diretamente uma reflexo sobre as vrias concepes de
Histrianodecorrerdotempoedoespaodesdemeadosdoprimeiro milnio antes
de Cristo at nossos dias.Sendo Roma o objeto deste captulo,
importante a sntese sobre a
concepodosromanossobreaHistriaapresentadaporJ acquesLe Goff: A
mentalidade histrica romana no foi muito diferente
dagrega,quealisaformou.Polbio,omestregregoque
iniciouosromanosnopensamentodahistria,vno
imperalismoromanoadilataodoespritodacidadee,
peranteosbrbaros,oshistoriadoresromanosexaltaroa
civilizaoencarnadaporRomaqueSalstioexaltaperante J
ugurta,oafricanoqueaprendeuemRomaosmeiosdea combater, a mesma que
Tito Lvio ilustra perante os selvagens
deItliaeosCartagineses,essesestrangeirosquetentaram
reduzirosRomanos escravatura, comoosPersasotinham
tentadocomosGregos,queCsarencarnacontraos Gauleses, que Tcito
parece abandonar no seu despeito
anti-imperialparaadmiraressesbonsselvagensbretese
germanos,queelevcomostraosdosantigosromanos virtuosos, anteriores
decadncia. Com efeito, a mentalidade
histricaromanacomoosermaistardeaislmica
dominadapelanostalgiadoscostumesancestrais,domos maiorum. (LE GOFF,
1992, p. 63) Estasnteserefleteosusosdopassadopresentenasvrias
experinciasdeescritadaHistriadeRomapelosprpriosromanos.A Histria
para os romanos est diretamente vinculada construo de uma
identidade que se inicia com a expanso territorial de Roma no
perodo de transiodaMonarquiaparaaRepblica.comaguerracontraos
cartaginesesqueasexaltaessobreosfeitosromanoscomeamaser uma
preocupao para a escrita de uma Histria de Roma. Polbio, como
citaLeGoff,umdosprincipaisresponsveispelaconstruodesta identidade
histrica dos romanos que relaciona presente- passado.
Destamesmaforma,osinteressesdosvriospresentes sobrepostos nos
ltimos dois mil anos levaram manuteno, ou no, das fontes que hoje
so utilizadas para a construo dos discursos histricos sobre
Roma.Aseguir,seroanalisadososdoisltimossculosesuas influncias na
historiografia no que diz respeito s concepes de fontes e s produes
de discursos histricos sobre a Sociedade Romana. Histria de Roma e
o sculo XIX O Positivismo histrico A Histria, para o positivismo,
era vista como uma cincia objetiva.
Todofatohistricodeveriaserpensadoapartirdeumaperspectivade
comprovaoemprica,ouseja,apartirdesuaexistnciareal.Para construir o
conhecimento histrico, os positivistas pregavam a utilizao de
documentos para se obter o mximo de informaes possveis sobre o fato
histrico.Na anlise dos documentos, para os seguidores desta
corrente
histrica,ohistoriadordeveriaabster-sedejuzosdevaloresnaanlise
dosfatos.Parafundamentarestasanlises,osdocumentosutilizados
deveriam ser os documentos oficiais, principalmente textuais.
Fustel de Coulanges (1830-1889) foi um dos historiadores sobre a
Antiguidademaisrepresentativosdestacorrente.EscreveuoclssicoA
CidadeAntiga(1864) que analisa a organizao das cidades de Roma e de
Atenas. Em sua concepo sobre a Histria, Coulanges (1965) afirma que
a "Histria no arte, mas uma cincia pura (...) a busca dos fatos
feitapelaobservaominuciosadostextos,damesmamaneiraqueo qumico
encontra os seus em experincias minuciosamente conduzidas".A
objetividade, a minuciosidade, o detalhe e a dedicao impessoal
soasprincipaiscaractersticasdaEscolaPositivistanoquetangeo estudo
da Histria no sculo XIX e no incio do XX.Ainda segundo Fustel
deCoulange,ahabilidadedohistoriadorconsisteemretirardos
documentosoqueconvmenadaaacrescentar...Aleiturados
documentosdenadaserviriasefossefeitacomidiaspr-concebidas (Fustel
de Coulanges apud LEGOFF, 1992, p.
96).Opapeldohistoriadorsegundoestaescola,buscareescrever aquilo que
realmente aconteceu (Leopold von Ranke apud FINLEY, 1994, p. 64).
As fontes documentais so caracterizadas por serem documentos
escritos que retratam os fatos histricos e so sinnimos de Histria.
Cabe
aohistoriador,comocientista,extrairahistriacondensada,escondida,
nestes documentos. O discurso histrico resultante de erudio
cientfica
poistodohistoriador,principalmenteodaAntiguidade,deveterum
conhecimentoaprofundadodalinguagemutilizadanosdocumentos,
principalmenteolatimeogrego.Esteconhecimentoeruditoefilolgico
permite a execuo de uma slida crtica interna que resulta na escrita
da Histria-Verdade.A maioria dos documentos utilizados por estes
historiadores foram osclssicosliterriosamplamenteconhecidos
eusadosnaeducaoda elite europia do sculo XIX. A arqueologia no
considerada como fonte
histrica,masapenasumsubsdioparailustrarecomprovaroqueos documentos
textuais relatam. Alguns dos historiadores que se destacaram nesta
corrente e que soconsideradosclssicosparaoestudodoperodosoTheodor
Mommsen,queescreveuHistriadeRoma,ojcitadoFustelde Coulanges, que
escreveu A Cidade Antiga e Edward Gibbon, que escreveu o clssico A
Histria do Declnio e Queda do Imprio Romano. Segundo Peter Burke,
este ltimo historiador faz parte de um grupo inovador das
abordagens positivistas: Alguns deles dedicaram-se reconstruo de
comportamentos e valores do passado, especialmente histria do
sistema de valoresconhecidocomocavalaria;outroshistriadaarte,
daliteraturaedamsica.Porvoltadofinaldosculo,esse grupo
internacional de estudiosos havia produzido um conjunto de obras
extremamente importante. Alguns historiadores, como Edward Gibbon
em seu Declnio e Queda do Imprio Romano, integraram narrativa dos
acontecimentos polticos esse novo tipo de histria sociocultural
(1992, p. 12). O Sculo XX e os novos caminhos da Histria de Roma Em
relao s correntes historiogrficas predominantes no Sculo XX, sero
tratadas as duas tendncias mais significativas: o Materialismo
Histrico e a decorrente dos Annales. Neste tpico, estas correntes
sero analisadasquantosconcepesdeHistria,defonteseasuafuno
social.Nestemomento,nohointuitodeaprofundamentodestas tendncias.
Materialismo Histrico
OMaterialismoHistricodecorrentedasteoriasdeKarlMarx, filsofo do
sculo XIX, e de Friedrich Engels, seu contemporneo. Nesta teoria, a
concepo de homem est diretamente vinculada ao conjunto das
suasrelaessociais.Destaforma,todoconhecimentoresultantedas
prticassociaisdosujeitoemseucontexto.Oshomenssoprodutores, agentes
de sua prpria Histria, limitados pelas condies estabelecidas e
transmitidas pelas geraes
anteriores.AHistria,naconcepodoMaterialismoHistrico,produtoda
atividadedohomematravsdasrelaesdohomemcomanaturezae
entreosprprioshomens.Estasrelaes,oMaterialismoHistrico
denominademododeproduo.Estarelaodeinterdependnciase
baseiaestestabelecidaentreabasereal,ouexistnciasocial,ou
estruturadasociedade,eaconscinciahumanadossujeitos,ouas formas
ideolgicas, ou superestrutura.
MarxdesenvolveuumaconcepodaHistria,relacionandoo modo pelo qual a
produo material de uma sociedade organizada. Este modo de produo
determina a organizao poltica e das representaes
intelectuaisdeumadeterminadapoca.Destaforma,adistribuiode
classesougrupossociaisnopodeserseparadadasrelaesde
produoexistenteentreestesgrupos.Oespaosocialdosindivduos, portanto,
composto por um complexo de sentimentos e imagens, assim
comosuasreaesrepresentamumsimbolismoespacialqueenvolveo indivduo e
o grupo ao qual ele pertence. Em sntese, cada classe social tem as
suas formas de agir, pensar e reagir na sociedade de acordo com as
suas relaes de
produo.Portanto,paraoMaterialismoHistrico,osinteressesdeclasses
influenciamaproduodeconhecimentodoshomens.AHistria
resultantedestacontradioentreasforasprodutivaseasrelaesde produo.
Esta relao , para os seguidores de Marx, o motor da Histria.
AliadassteoriasdoMaterialismoHistrico,aspropostasda
Hermenuticacontemporneatambmpassamaseressenciaisparaa
construodoconhecimentohistrico.Nestaperspectiva,nosedeve
confundiropassado(acontecimentosoufatosintangveis)comorelato
dopassado(representaoounarrativadofatoouacontecimento) (FUNARI,
1985, p. 4).Diferentedaspropostaspositivistas,osujeitoprodutorde
conhecimentonoseeximedasinflunciassociaisnoprocessode interpretao
dos documentos histricos. Todo conhecimento produzido decorrente de
suas formas de agir, pensar e reagir na sociedade de acordo com as
suas relaes de produo, ou seja, o seu papel social.Para esta
tendncia, o historiador deve ser o principal crtico social
dopresente.elequefazaHistria.EstaHistriadevelevarao desenvolvimento
crtico sobre o Homem como agente transformador. Para tanto,
necessrio que se analise historicamente os modos de produo,
osconflitosentreasclassessociaiseosinteressesdegrupo
historicamenteconstitudos.AHistriadeRomafoiamplamenteutilizada
porestatendncia.Principalmentenoquedizrespeitosrelaes escravistas,
os movimentos sociais e as prticas imperialistas. Estes dois
aspectos, no Materialismo Histrico, foram fundamentais para o
estudo de Roma. Alguns historiadores so fundamentais para entender
a Histria de Roma sob esta perspectiva. O russo Mikhail Ivanovich
Rostovtzeff
(1870-1952),queescreveuHistriaSocialeEconmicadoImprioRomanoe
HistriadeRoma,entre outros, uma das grandes referncias clssicas
para se estudar a Sociedade Romana. Suas obras trazem uma riqueza
de citaes das fontes textuais e apresentam uma grande inovao quanto
utilizaodasfontesarqueolgicasnaconstruodeseudiscurso histrico.H
tambm o ingls Perry Anderson (1938) que escreveu a clssica
obraPassagensdaAntiguidadeaoFeudalismo.Estaobraanalisaa
transiodoescravismoromanoparaofeudalismomedievalediscutea tese
sobre a crise escravista como origem da crise da Sociedade Romana.
OutrohistoriadorqueescreveusobreRomanaperspectivado
MaterialismoHistrico ohngaroGzaAlfldy.Suaobradereferncia para o
estudo da Sociedade Romana Histria Social de Roma. Esta obra
apresentaumaanlisedasmudanassociaisromanaaolongodeum
milnio,daRepblicaaoImprioRomano,apartirdosseusaspectos econmicos e
sociais. Muitosoutrosautorespoderiamsercitadosvinculadosaesta
correntehistoriogrfica.Noentanto,anfimanomeaodosautores citados
acima pode representar uma viso das formas que Roma assume no
Materialismo Histrico. O que vale ressaltar quanto s concepes
fontes nesta tendncia
aampliaodousodefontesliterriaseoaumentodasfontes arqueolgicas. As
formas de abordagem destas fontes, no entanto, sempre
sonasperspectivaseconmicasesociaiscomonosexemploscitados
anteriormente. Dos Annales Histria Cultural
Estacorrenteestbaseadanatrajetriadeumarevistafrancesa
quesofreualgumasalteraesemsuadenominaodesde1929.De
"Annalesd'HistoireconomiqueetSociale",comofoifundadaem1929, passou
a ser denominada "Annales d'Histoire Sociale" em 1939, e
depois"Annales.conomies,Socits,Civilisations"em1946.Finalmente
recebeuottulo"Annales.Histoire,SciencesSociales"em1994e
permaneceassimatosnossosdias.Estacorrentepassouaser denominada, a
partir de 1979, como Nouvelle Histoire, ou Histria
Nova.Decorrentedasmudanasocorridasapartirdadcadade80,a diversidade
terico-metodolgica adotada levarou corrente historiogrfica
conhecidacomoHistriaCultural.Assimcomonascorrentesanteriores, no
sero aprofundados os fundamentos tericos desta corrente. At por
que, diferentemente das tendncias anteriores, esta corrente contm
uma diversidadetericaabrangentequesecaracterizapela
interdisciplinaridade. No que diz respeito Histria de Roma, poucos
estudos podem ser destacados da dcada de 30 at a dcada de 70
vinculados aos Annales. No entanto, alguns dos historiadores das
duas primeiras fases da revista
fazemrefernciasemseusestudossobreasformasdeabordagens utilizadas
por historiadores da Antiguidade mas no as estuda diretamente.
UmdosmaisimportantesFernandBraudel,queemsuaobraO Mediterrneo se
vale de recursos adotados por Edward Gibbon, segundo Burke:
Mesmoassim,elessocarregadospelacorrente.Numade
suasmaisfamosasanlises,Braudelexaminaoimpriode Felipe II como uma
colossal empresa de transporte terrestre e
martima,queseexauriuporsuaprpriadimenso,eno
poderiaserdiferentenumapocaemquecruzaro
Mediterrneodenorteasullevavaumaouduassemanas,
enquantoatravess-lodelesteaoestedoisoutrsmeses
(Ibid.,p.363).AobservaolembraoveredictodeGibbon
sobreoImprioRomanodestrudopeloseuprpriopesoe suas afirmativas sobre
geografia e comunicaes, no primeiro captulo do Declnio e Queda.
(1992, p. 34) Portanto, at a dcada de 70, poucos historiadores
vinculados aos Annales tm como objeto de estudo a Sociedade Romana.
Um dos mais representativos, Paul Veyne (1930), escreve Opoeocirco
(1976). Esta obra aborda as prticas evergticas romanas e tem como
objeto de estudo
asprticassociaisromanas.Nestaobra,oautortambmsevaledas influncias
sociolgicas de Max Weber e usa a idia dos tipos ideais para
fundamentarasuaanlisedaSociedadeRomana.TambmescreveuA
SociedadeRomana(1991) em que o foco de abordagem so a estrutura
social,aeconomia,odireitoeamentalidadedosromanos.Almde participar
da coleo organizada por Phillipe Aris e George Duby, Histria da
Vida Privada, no primeiro volume intitulado Do Imprio Romano ao Ano
Mil. Esta coleo assume muitas das caractersticas da chamada
terceira gerao da Escola dos Annales que aborda, entre outras
temticas, a vida cotidiana e privada da sociedade estudada,
deixando de lado os aspectos polticos, econmicos e factuais
presentes nas abordagens das tendncias anteriores.As fontes
utilizadas por Veyne so as literrias e as arqueolgicas,
equiparando-as em importncia para a escrita da Histria de Roma.
AsconcepesdefontesedeHistriapresentesnestas abordagens sobre a
Sociedade Romana seguem o que apresenta J acques Le Goff:
Ahistriafaz-secomdocumentosescritos,semdvida. Quando estes existem.
Mas pode fazer-se, deve fazer-se sem documentos escritos, quando no
existem. Com tudo o que a habilidade do historiador lhe permite
utilizar para fabricar o seu mel, na falta das flores habituais.
(...) Numa palavra, com tudo
oque,pertencendoaohomem,dependedohomem,serveo
homem,exprimeohomem,demonstraapresena,a actividade, os gostos e as
maneiras de ser do homem. (1992, p. 89)
Apartirdestasnovascaractersticashistoriogrficas,aquicitadas
demaneiranfimaemeramenteexemplar,percebe-seoalargamentodo
universodetemasedasabordagenssobreaSociedadeRomananas
ltimasdcadasdosculoXX.Estaabrangnciatemcadavezmais demonstrado a
necessidade de se revisitar as fontes sobre a Histria de
Romaedesefazernovosquestionamentossobasluzesdasteorias
antropolgicas,sociolgicas,lingsticas,arqueolgicasemuitasoutras. As
possibilidades variadas das tipologias das fontes histricas
demonstram aspotencialidadesdenovasabordagensedenovasproblematizaes
sobre a Roma Antiga.
Estaspossibilidadesterico-metodolgicasdecorrentesdas mudanas
historiogrficas recentes demonstram que o leitor-historiador da
SociedadeRomanadeveserincentivadoatratartantodeassuntos comuns como
de questes pouco usuais, a confrontar opinies divergentes
sobreomesmodocumentoeformarsuaprpriainterpretao.Nose
devereforarosmodeloseosparadigmasvigentes,masencorajara
proliferaocrticadeinterpretaes.Asrazesdaexplicaohistrica
encontram-se,sempre,nopresente,nassociedadeseculturasde
determinados perodos, nas quais se insere o historiador. Portanto,
assim comotodooconhecimentohistrico,aHistriadeRomaestparaser
revista,revisitada,repensada,reescritasnovasluzesdasteoriase
metodologias historiogrficas da Histria Cultural. Possibilidades
para a Histria de Roma Tendoapresentadobrevementeosproblemasquantos
concepesdefonteseascorrenteshistoriogrficasdosculoXIXao
SculoXXI,valeressaltaranecessidadedelocalizaraspossibilidades
documentais para se estudar a Histria da Sociedade Romana. Para
tanto, utilizar-se-asdivisescronolgicastradicionaisparaapresentaras
referencias das fontes para cada perodo da Histria de Roma. No
entanto, valeapenaressaltarqueestapropostaficarprejudicada,poisser
possvelperceberumadasmaioresdificuldadespresentesnasfontes
histricasparaoestudodaAntiguidade:estacarecedecontinuidadee
padronizaodesuastipologias.Estascaractersticasdasfontes documentais
para o estudo de Roma geram lacunas e problemas para a abordagem de
determinadas problematizaes cronolgicas e temticas. O Perodo
Arcaico: Monarquia ou Realeza Romana
Espacialmenteetemporalmente,adelimitaodeabordagemda
MonarquiaouRealezaromana est limitada na regio do Lcio, na
pennsulaitlica,noinciodoI milnio a.C. H muitas discusses sobre
aslacunasexistentesnoestudo deste perodo da Histria de Roma
devidosfragilidadesexistentes emrelaosfonteshistricas utilizadas.
Para o positivismo, o estudo polticoefactualdesteperodofoi
baseadonosdocumentosescritos
produzidospelosromanosaofinaldoperodorepublicanoeinciodo
Principado.AtravsdosrelatosdeVerglio,emEneida(19a.C.),eTito Lvio,
em Histria de Roma (Ab Urbe Condita libri) (19 a.C.), as origens de
Romasofundamentadaspelamemriacoletivarepresentada, principalmente,
pelos mitos de
origem.MuitodoqueseconheceatravsdaHistriadesteperodofoi
influenciadopelavisohistoriogrficadosculoXIX.Noentanto,h
grandesavanossobreosestudosdasorigensdeRomaedospovos Regio do Lcio
em destaque na Pennsula Itlica Montes em torno de Roma: Campidolio,
Quirinal, Viminal, Esquilino, Clio, Aventino e Palatino.
visinhoscomaincorporaogradativaefundamentaldosestudos arqueolgicos
desenvolvidos a partir do sculo
XIX.AsescavaesnosarredoresdeRomaenaprpriacidadede Roma
possibilitaram a explorao da documentao arqueolgica sobre as
influnciasetruscasnaconstituiodaUrbsedaprpriaSociedade Romana. Os
vestgios dos artefatos de metais, de cermicas, das rsticas
residncias,dasurnasfunerrias,dostemplosprimitivoseinscries latinas
esto proporcionando uma reviso dos estudos sobre as origens de
Roma.Estarevisofazcomqueaproduohistoriogrficasobreo perodo
monrquico esteja aberta a novas possibilidades e investigaes
histricas. Espacialmente,aregioemqueRomasedesenvolveu denominada
Septimontium, ou seja, regio entre os sete montes que so
aselevaesdo Palatino,do EsquilinoedoClio, juntamentecomo
pomoerium(recinto sagrado) sua volta. Aessarea agregou-sea
povoaoexistente nosmontesQuirinal e Viminal. Dentro dos
limitesdessacidade situavam-seo Frum,oupraado mercado, e o
Capitlio, a fortaleza central localizada no monte Capitolino (ou
Campidlio). Do Capitolino at as margens do Rio Tibre, se estende o
Campo de Marte. Os povos vizinhos que estavam em contato direto com
Roma e que
influenciaramoseupovoamentoforamosetruscos,mbrios,latinos, sabinos,
volscos e samnitas. Tambm h a possibilidade de influncia de povos
externos provncia itlica como os gregos, os fencios, os samnitas e
os celtas. Asescavaesarqueolgicasnosubsoloromanoeemtodaa regio da
Urbs proporcionaram nas ltimas dcadas um grande avano no
estudohistricosobreoperodo.Noentanto,muitoaindaestparaser feito. O
Perodo da Repblica Romana
OperodocorrespondentechamadaRepblicaRomana
correspondeporvoltade500anos.umperodocaracterizadopor
grandesmudanasnaSociedadeRomana.Asuaconfiguraoterritorial sofre
alteraes drsticas e definitivas. A historiografia caracteriza o
incio deste perodo com a expulso dos etruscos de
Roma.Asinformaeshistricasparaestadeterminao,assimcomoa maioria das
informaes do perodo anterior, so baseadas nos relatos de
romanosapartirdoIIIsculoa.C.Poucossoosrelatossobrea
Repblica,produzidosnomesmoperodo,quesobreviveram.Tambm possvel
estudar este perodo atravs da coletnea de inscries latinas do
Vsculoa.C.aoVsculod.C.publicadasnoCorpusInscriptionum
LatinarumpublicadopelaLoebLibrarydaUniversidadedeHarvard,
distribudoemquatrovolumes.Estasinscriessodecorrentesde
escavaesarqueolgicas.Asfontesarqueolgicassoasmais abundantes para o
estudo dos primeiros sculos da Repblica romana. As Fonte: Museu da
Civilizao Romana (Museo della Civilt Romana) Sala XVIII: Maquete da
Roma arcaica fontestextuaiseliterriasparaoestudodaRepblicadevemser
analisadas tendo como marco divisor as Guerras Pnicas, guerra entre
os romanos e os cartagineses. Dentre as fontes histricas textuais
que so utilizadas para o estudo da Repblica romana, sero
apresentadas algumas possibilidades.
OhistoriadorgregoPolbio(210a.C.130a.C.),dacidadedeMegalpolisnaArcdia,escreveuaobraHistriadoMediterrneoque
aborda o perodo de 264-146 a. C. Polbio viveu na Repblica Romana e
foipreceptordeCipioAfricano,generalromanoqueliderouaTerceira Guerra
Pnica que datada de171 a 168 a.C. Esta obra foi escrita com
informaes que Polbio coletou nos arquivos pblicos romanos etambm
baseadonatradioromana.Oseuprincipalobjetivoeraexplicaraos gregos as
razes da ascenso de Roma (HARTOG, 2001, p. 113-115). A
metodologiadeescritadePolbiosefundamentanatradiogregade valorizar o
testemunho contemporneo e a Histria recente. Polbio narra
osacontecimentosdasuageraoeosacontecimentosdagerao
imediatamenteanterior.SuaconcepodeHistriadeumaseqncia lgica de
causas e efeitos. A sua obra se fundamenta na anlise crtica das
fontesexistentesedatradioromana,descrevendocomos acontecimentos e
as motivaes e valores que os motivam. Seu objetivo a constituio de
uma viso global dos acontecimentos e no uma simples cronologia de
fatos. Esta obra uma das principais fontes para se estudar
osegundosculoa.C.eoscaminhosdeRomanoperododasGuerras Pnicas.
Seoshistoriadoresqueregistraramasaesantesdens
negligenciaramoelogiodaprpriahistria,talvezseja necessrio exortar
todos escolha e aceitao das memrias,
pornohavernenhumaoportunidadedemelhoramentomais
acessvelaoshomensqueacincias das aesdopassado. (Polbio, 3.1) Outro
historiador que escreve sobre o final da Repblica Salstio
(86-35a.C.)narraosacontecimentospolticosfinaisdoltimoperodo
republicanodeRoma.Salstioconsideradoointrodutordahistria
filosficanahistoriografialatina.SuasobrasmaisconhecidassoA
ConspiraodeCatilina,escritaem43-42a.C.,AGuerradeJugurta, escrita de
41-40 a.C. e Histria (39 a.C.), que so narrativas histricas de
fatos acontecidos em Roma (78-67 a.C.). Marco Tlio Ccero (106 43
a.C.) umadasprincipaisrefernciasparao
estudodofinaldaRepblica.Suasobras discorrem sobre vrios temas e so
fontes histricas fundamentais para muitos temas
deestudosobreaSociedadeRomana. Cceroescreveusobrevriosassuntose
muitasdesuasobraspermaneceram. Dentre os temas que foram abordados
por Ccero esto as leis, a poltica, a oratria,
areligio,afilosofiaemuitosoutros.Algumasdesuasobrasmais
importantessoDaRepblica,DasLeis,Sobreaadivinhao,Sobrea
naturezadosDeuses,SobreaOratria,SobreaAmizade,Sobrea
Velhice,Cartasatico,CartasaBruto,CartasaQuinto,Cartasaos
familiares, Sobre os ofcios e Sobre a oratria.
UmadasfontesmaissignificativasparaoestudodaHistriade Roma desde a
fundao da cidade at os fins da Repblica a obra de
TitoLvio(59a.C17d.C.).HistriadeRoma(AbUrbeConditalibri) uma
referncia para o estudo desde a fundao da cidade em 753 a.C. at o
incio do I sculo d. C. A obra original com 142 livros no foi
preservada. O que chegou at os tempos atuais foram 35 livros,
apenas uma pequena parte do que teria sido a grandiosa obra de
Lvio. Alguns autores discutem sobre a natureza da obra e seu
objetivo. No entanto, no h dvidas sobre as possibilidades de estudo
da obra tanto para analisar o momento em que foi produzida a
Histria de Roma assim como os costumes e as tradies da Sociedade
Romana.Tambm se deve ressaltar as contribuies de J lio Csar com seu
relato sobre a Guerra Glica (50 a.C.) e a Guerra Civil (? 45 a.C.).
Relatos
muitoimportantesparaoestudossobreasprticaspolticasemilitares, alm
de proporcionar uma anlise sobre a estrutura social romana.
Almdestas,tambmpodemserindicadasasfontesliterriasde vrias naturezas
produzidas no final da Repblica. As comdias de Plauto Busto de
Marco Tlio Ccero (Fonte: Museu
Capitolino)(230-280a.C.)edeTerncio(185-159a.C.);aspoesiasdeQuintonio
(239-169a.C.),deLucrcio(99-55a.C.),deCatulo(84-54a.C.),de Horcio
(65-8 a.C.) e de Ovdio (43-17 a.C.). Cada uma destas fontes pode
proporcionar o estudo dos costumes e das formas de pensar da
Sociedade Romana.Valeressaltarqueasfontestextuaiseliterriassomais
abundantesnasegundametadedaRepblicaRomanadevidos
mudanasdasprticaspoltico-administrativasassumidaspelosromanos
apsaGuerradoPeloponeso.Anecessidadedemanutenodas
informaesdeinstituiespolticascomooSenadogeraoprocessode
registrodasatividadesadministrativasanuais.Umadasprincipaisfontes
utilizadasporaquelesquesepreocupamemescreverasmemrias coletivas dos
romanos so as atas senatoriais. Tambm as leis passam a ser escritas
e registradas pelo ao Senado, os conhecidos senatusconsulta.
AsinscrieseosregistrosnoSenadotambmoferecempossibilidades de
estudos temticos sobre a Sociedade Romana. As fontes literrias
passam a ser copiadas e difundidas por toda a
extensoterritorialqueseampliasignificativamentenosltimostrs
sculosdaRepblica.AsinflunciasgregasapartirdoSculoIIIa.C. tambm
podem ser consideradas como fator que determina as mudanas
emrelaosprticasliterriasedifusoartsticaentreosromanos,
principalmente no que tange ao teatro, poesia e filosofia. Esta
mesma expansopoltico-territorialproduziuumaculturamaterialmais
diversificada o que leva a uma abundncia de possibilidades nos
estudos dasfontesarqueolgicasemsuasvriastipologias.Umdiferencial
significativo o incio da cunhagem das moedas que passam a circular
por todoterritriodedomnioromano.Anumismtica,cincia queestudaos
processosdecunhagemdemoedasesuadistribuio,umadas possibilidades
para a anlise da Sociedade Romana na Repblica. Imprio Romano Para
Pierre Grimal (1999), este perodo inicia-se com a organizao do
imperium romano sobre o Mar Mediterrneo. O significado para palavra
imperiumassumeasrelaesdepoderpoltico-econmico-militarque
Romapassaarepresentarapartirdoseuprocessodeexpansoque inicia-se na
pennsula itlica e atinge o todo o Mar Mediterrneo, o mare nostrum
para os romanos. Guarinello sintetiza este processo de forma
exemplar: A criao do Imprio Romano foi um processo de alianas de
cidades da Itlia, capitaneado pela mais forte, sobre um mundo
urbanoenfraquecidoporseusconflitosinternose externos.A
expansoimperialistateve,portanto,razesestruturais derivadas dos
conflitos internos das cidades e do fato de que
asmaiorespodiamresolverosseusprpriosconflitos, expandindo-se sobre
as menores. Mas, se seu fundamento foi poltico e militar, a expanso
produziu efeitos drsticos sobre o prprio conquistador. (2006, p.
15) Desta forma, a ampliao da cultura material e imaterial
produzida a partir deste processo de expanso gera uma maior
abrangncia temtica
ehistoriogrfica.Onmerodedocumentosproduzidos,eque
permaneceram,referentesaoImprioRomanodesproporcionalaos
perodosanteriores.Sovriososfatoresquedeterminamesta
preservao:aampladifusoliterria,anecessidadederegistros
administrativos,aproduodeculturamaterialqueatendaasnovas
atividadeseconmicas,oaumentopopulacionalemgrandescentros,a
diversidade de culturas unidas pelas prticas imperialistas, as
mudanas e
osavanosmilitares,asvariaeseinovaesdasatividadesculturais,
religiosas e sociais e muitos outros elementos. Portanto, devido
grande
diversidadedefonteshistoriogrficasdecorrentesdaculturamateriale
imaterialcomaexpansodoImprioRomano,aamplitudede
possibilidadesdefontesparaoestudodaSociedadeRomana significativa.
Esta a justificativa para que se possa entender a razo da
grandeproduohistoriogrficasobreoperodoimperialromano.Outro
diferencial gerado pelas mudanas a ampliao dos locais de produo das
fontes. As provncias romanas passam a ser produtoras de culturas e
estas tambm so analisadas para o estudo da Sociedade Romana. A
produo do conhecimento histrico sobre o final da Repblica e os
sculos iniciais de nossa resultado do grande nmero de documentos
textuaiseliterriosamplamenteconhecidoselidosdesdeoperodo medieval.
O conhecimento histrico produzido a partir do sculo XIX sobre
Romafoi,emgrandeparte,resultantedaanlisedestadocumentao textual e
literria e se tornou determinante para o que se conhece sobre a
SociedadeRomanaatomomento.Asgrandesrefernciasclssicas
sobreomundoromanotmcomoprincipalobjetodeanlise,emsua maioria, o
perodo em questo. A historiografia tem denominado o perodo
correspondente aos dois
primeirossculosdoImprioRomanocomoAltoImprioouPrincipado Romano. As
possibilidades de fontes neste perodo so abundantes. Cada vez mais
se tm explorado as potencialidades arqueolgicas advindas dos
processosdeescavaesiniciadosnosculoXIX.Aanlisedacultura
materialeimaterialresultantedosprocessosdeescavaestem
produzidosvisesinovadorassobreaSociedadeRomana.Umdos
grandesexemplosdestaexploraosoascidadesdePompiae
HerculanosoterradaspelaerupodoVesvionoanode79d.C.As escavaes em
Pompia e Herculano propiciaram um grande avano dos
estudossobreavidasocialromana.Ostemasligadosaocotidiano,
religiosidade, sexualidade, s relaes familiares, a alimentao e
muitos outrostiveramumaavanosignificativocomaexploraodesta
documentao. Emrelaosfontesliterrias,ariquezadevariedadese
possibilidades de explorao extendida. O I sculo d.C. apresenta uma
diversidade de fontes aqui apenas exemplificada.Em relao escrita da
Histria de Roma e suas tradies, podem ser citados dois nomes
significativos: Veleio Patrculo (19 a.C. 31 d.C.),
queescreveuHistriaRomanaeTcito(55120d.C.),queescreveu Anais e
Histria. Este ltimo autor, Tcito, foi muito mais referenciado que o
primeiro. Suas obras apresentam um relato dos Imperadores Augusto a
Domiciano. ApoesiapodeserrepresentadaporLucano(39-65d.C.),poeta
pico,J uvenal(60140d.C.),poetastiro,eMarcial(38102d.C.),
epigramtico.Suasobraspodemserfontesdeinformaessobreas prticas
sociais romanas. Emrelaoproduoliterriaemprosa,humavariedadede
estilo e de temas. Columela (10 70 d.C.) escreveu DeReRustica, obra
sobreasprticasagrcolasromanas.PlniooVelho(2379d.C.),
enciclopedista, escreveu HistriaNatural, uma coletnea de verbetes
que retratam o conhecimento da natureza. Quintiliano (30 95 d.C.),
orador e
retrico,escreveuaobraInstitutioOratoria(95d.C.).ValrioMximo
escreveuFatoseDitosMemorveis(31d.C.).PlniooJ ovem(61114 d.C.),
advogado e cnsul, escreveu Cartas e PanegricodeTrajano (100 d.C.).
Sneca (4 a. C. 65 d. C.), filsofo estico, escreveu vrias obras como
Questes naturais, os tratados Sobre a tranqilidade da alma, Sobre
abrevidadedavidae,talvezsuaobramaisprofunda,asCartasMorais
dirigidasaLuclio.Petrnio(2766d.C.),queescreveuSatyricon,e
Apuleio(125180d.C.),queescreveuMetamorfose,soexemplosde
romancistasquesatirizamaSociedadeRomanadesua poca.Suetnio (69 141
d.C.), bigrafo dos imperadores do I sculo, escreveu A Vida dos Doze
Csares, obra de referncia para estudos sobre as prticas polticas
romanas e a vida social.
NoIIIsculod.C.,inicia-seumamudananaliteraturalatina,
substituindo-sealiteraturagreco-latinapelaliteraturaromanocrist.
Esta fase se d com o Decreto de tolerncia do Cristianismo, no ano
de 260, que permite aos cristos manifestar publicamente sua
doutrina moral
ereligiosa.Destacam-seTertuliano,MincioFlix,Cipriano,Arnbioe
Lactncio, alm dos Padres da Igreja: Santo Ambrsio, So J ernimo e
Santo Agostinho.
Todasasfontescitadasnestecaptuloforamapenaselencadas para mostrar a
riqueza de possibilidades com que o historiador se depara ao se
propor a estudar a Sociedade Romana. Vale ressaltar que um dos
maioresproblemasrelacionadossfontessobreaAntiguidade,e
conseqentementeHistriadeRoma,aimpossibilidadedeseobter
anlisesseriais.Asfontesdisponveismuitasvezesseapresentam
fragmentadaseincompletas,oquefazcomqueohistoriadorbusque teorias e
metodologias que possibilitem o estudo destas caractersticas no
intuito de desvelar a Sociedade Romana. Enfim, a Histria de Roma
ainda est para ser escrita a partir das possibilidades do presente.
Referncias bibliogrficas BOURD,GuyeMARTIN,Herv.
AsEscolasHistricas.Lisboa:Editora Europa-Amrica, 2000.
BURKE,Peter.AEscoladosAnnales:aRevoluoFrancesada
Historiografia(1929-1989).2.Ed..Trad.NiloOdlia.SoPaulo,Editora
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politiques de lancienne France",inEHRARD,J
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Salvatore. Literatura Latina. In: Literatura Ocidental Autores e
Obras Fundamentais. So Paulo. tica, 2004. FINLEY, Moses I. Histria
Antiga: testemunhosemodelos. Trad. Valter L. Siqueira. So Paulo,
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FUNARI,PedroPauloAbreu.Arqueologia.SoPaulo,tica,1988. (Princpios,
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acyntho Lins Brando. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001. LEGOFF,J
acques.HistriaeMemria.2.Ed.Trad.IreneFerreira.Campinas, Editora da
Unicamp, 1992. Sugestes de leituras Sobre os artefatos
arqueolgicos, interessante visitar os seguintes sites: Museu
Palatino de Roma:
http://archeoroma.beniculturali.it/museo_palatino/index.htm Museu
da Civilizao Romana:http://www.museociviltaromana.it/ Museu
Capitolino:http://www.museicapitolini.org/ Museu do Mercado de
Trajano e Fruns Imperiais:http://www.mercatiditraiano.it/
Reconstituies virtuais de algumas runas
romanas:http://www.capitolium.org/eng/virtuale/virtuale.htm Mapas
sobre Roma
Antiga:http://www.ucm.es/info/antigua/Cartografia/roma1.htm
Livrosquepoderoserusadosparaaprofundamentosspbreos temas indicados
neste captulo: BEARD,MaryeHENDERSON,J ohn.AntigidadeClssica.Uma
brevssima introduo. trad. Marcus Penchel. Rio de J aneiro, J orge
Zahar, 1998. BOURD,GuyeMARTIN,Herv.
AsEscolasHistricas.Lisboa:Editora Europa-Amrica, 2000.
BURKE,Peter.AEscoladosAnnales:aRevoluoFrancesada
Historiografia(1929-1989).2.Ed..Trad.NiloOdlia.SoPaulo,Editora
UNESP, 1992. FINLEY, Moses I. Histria Antiga: testemunhos e
modelos. Trad. Valter L. Siqueira. So Paulo, Martins Fontes, 1994.
Atividades propostas
AfraseAHistriamestredavida,deCcero,foiutilizada
frequentementenodecorrerdostempos.Reflita,apartirdaleitura
realizadadestecaptulo,sobreaconcepodeHistriaeassuafuno social.
Algumas datas essenciais Monarquia (753 a 509 a.C.) 753Fundao de
Roma, Primeiras cabanas no Monte Palatino 600 A rea do Frum
drenada, Primeiras inscries latinas 616-579 Tarqunio Prisco 579-543
Srvio Tlio 543-509 Tarqunio Soberbo, Construo do Templo Capitolino
Repblica (509 a.C. a 27 a.C.) 509 Expulso dos Reis Etruscos 494
Disputa entre plebeus e patrcios pelos direitos, Construo de novos
templos 450 Primeira lei: as Doze Tbuas 390 Roma saqueada pelos
Gauleses 378 Construo dos muros da cidade, Romanizao da Itlia 338
Ampliao da cidadania Romana 312 Construo da Via Apia 287 Trmino da
disputa com os patrcios 280 Comea a cunhagem de moedas 272 Roma
assume o controle de toda a Itlia 264-241 Primeira Guerra Pnica
(contra Cartago): Roma conquista a Siclia, Primeiras lutas de
gladiadores 218-201 Segunda Guerra Pnica: Anbal derrotado: 206 A
Espanha dividida em duas provncias Romanas 214-167 Guerras
Macednicas, Helenizao da Sociedade Romana; Comdias de Plauto e
Terencio; Poesias de Enio197-133 Guerras na Espanha149-146 Terceira
Guerra Pnica: Cartago destruda, A frica torna-se uma provncia
Romana 148 A Macednia torna-se uma provncia romana 133 A sia
convertida numa provncia romana; estatutos da terra de Tibrio Graco
123-122 Leis de Caio Graco 113-101 Guerra contra a Cmbria 107-86
Sete Consulados de Mrio;104 Reformas do exrcito 91-87 Guerra
Social; a cidadania romana estendida a toda a Itlia 88-85 Primeira
Guerra Mitridtica 82-81 Ditadura de Sula: proscries, reformas;
surgimento de Pompia 73-71 Revolta de Esprtaco 73-63 Terceira
Guerra Mitridtica 63 Consulado de Ccero; Conspirao de Catilina 60
'Primeiro Triunvirato' (Pompeu, Csar, Crasso) 58-50 Csar conquista
a Glia;55 54 Expedies a Bretanha, Discursos, Tratados e Cartas de
Ccero; Poesias de Catulo e Lucrcio; Histrias de Csar;55 Teatro de
Pompia 49-45 Csar ganha a Guerra Civil contra Pompeu e os
Republicanos 46 Frum de Csar 44 Assassinato de Csar 43 Segundo
Triunvirato (Antnio, Otvio, Lpido); proscries, assassinato de Ccero
39 Histrias de Salstio,clogas de Virglio 32-31 Otvio ganha a Guerra
Civil contra Marco Antnio;31 Fim da Guerra do cio 30 Morte de Marco
Antnio 29 Gergicas de Virglio O Imprio (27 a.C. a 476 d.C.) 27
Otvio torna-se o primeiro imperador Augustus, Panteo de Agripa 19
Eneida de Virglio, Poesias de Horcio, Tibullus, Propertius, Ovdio;
Histrias de Tito Lvio 16 a.C. -6 d.C. Conquista das provncias do
Danbio 13 Teatro de Marcelo 9 Ara Pacis Augustae 2 Frum de Augusto
1 d.C. Nascimento de Cristo 9 Derrota de Varo 14 Morte de Augusto,
Res Gestae de Augusto 14-37 Tibrio, Vida e Morte de Cristo 37-41
Calgula 41-54 Cludio 43 Conquista da Bretanha 54-68 Nero , Tratados
e Tragdias de Sneca; Poesias de Persius e Lucano; Satyricon de
Petrnio 60-61 Revolta de Boadiceia 64 Incndio de Roma; primeiras
perseguies aos Cristos 66-70 Revolta dos J udeus 68-69 Galba, Oto,
Vitellius 69-79 Vespasiano, Histrias e Tratados de Plnio o Velho 79
Erupo do Vesvio (Soterramento de Herculano e Pompia) 80 Coliseu
79-81 Tito 81-96 Domiciano, Epigramas de Marcial, Retrica de
Quintiliano 96-98 Nerva, Histrias de Tacito, Cartas de Plnio o J
ovem, Stiras de J uvenal 98-117 Trajano 107 Conquista da Dcia 112
Frum de Trajano 117-138 Adriano 122 Biografias de Suetnio 138-161
Antonino Pio 142 Muralhas de Adriano, Muralhas Antoninas, Novelas e
Oratria de Apuleio; as Leis de Caio 161-180 Marco Aurlio180-192
Cmodo 193-235 Dinastia Severiana 212 Caracala estende a cidadania
romana a todos os habitantes livres do imprio 216 Banhos de
Caracala 260 Decreto de Tolerncia do Cristianismo 271 Muralha de
Aureliano 272 A Dcia cedida aos Gdos 284-305 Diocleciano 293
Estabelecimento da Tetrarquia 307-337 Constantino I 312 Derrota de
Maxentio na Ponte Milvio 315 Arco de Constantino 324 Fundao de
Constantinopla 410 A Bretanha se defende sozinha 455 Os Vndalos
saqueiam Roma 476 Queda do Imprio Romano do Ocidente Glossrio
Emprico baseado em experincias. Erudio instruo vasta e variada
adquirida com a leitura. Filologia cincia que estuda a lngua e suas
modificaes. Informaes sobre a autora
DocentedeHistriaAntigadaUniversidadeEstadualPaulistaJ liode
MesquitaFilho-UNESP,campusdeAssis,desdeoanode2002.
graduadaecursoumestradoedoutoradonamesmainstituioemque leciona. Sua
dissertao de Mestrado foi Poder e Mito: o Pincipado sob a
perspectivaliteraturalatina(umaleituradeSuetnio,TcitoePlnioo J
ovem) defendida em 1996. Sua tese de Doutorado foi intitulada
Princeps e Basileus nos Discursos de Dion Crisstomo defendida em
2001 sob a orientaodoDr.IvanEsperanaRocha.LecionanoEnsinoSuperior
desde1995eatualmentedesenvolveoprojetodeps-doutoradocomo
ttuloOPensamentoMticoeFilosficoemDionCrisstomojunto
UniversidadeEstadualdeCampinasUNICAMPsobasupervisodo Prof. Dr.
Pedro Paulo Abreu Funari.