Verônica ROMANCES 1 CAPÍTULO DOIS FLOR DE LOTUS VERÔNICA Cheguei ao trabalho. Esperava ansiosa que Kátia voltasse a falar comigo. Como sempre ela ainda não havia chegado e eu não havia passado em seu apartamento antes de sair. Peguei uns papéis e fui até a sala dos professores. Na verdade, os papéis eram apenas uma desculpa para poder falar com Edgar. __ Bom dia. –Kátia me disse quando eu estava saindo da sala. __ Oi. –disse timidamente. __ Não se preocupe, eu não estou mais chateada. __ Me desculpe...
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Verônica ROMANCES
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CAPÍTULO DOIS FLOR DE LOTUS
VERÔNICA
Cheguei ao trabalho. Esperava ansiosa que Kátia
voltasse a falar comigo. Como sempre ela ainda não
havia chegado e eu não havia passado em seu
apartamento antes de sair. Peguei uns papéis e fui até
a sala dos professores. Na verdade, os papéis eram
apenas uma desculpa para poder falar com Edgar.
__ Bom dia. –Kátia me disse quando eu estava saindo
da sala.
__ Oi. –disse timidamente.
__ Não se preocupe, eu não estou mais chateada.
__ Me desculpe...
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__ Tudo bem, eu sei que você não quis me magoar. __
Aonde vai?
__ Levar esses papéis para Ed... Para os professores.
__ Tudo bem, vou arrumar algumas coisas na sala.
Segui para a sala dos professores e distribui os
formulários, no fim do ano haveria uma viagem
escolar e alguns professores tinham que se habilitar
para acompanhar os alunos. Edgar não estava na sala,
então subi para o segundo andar na esperança de
encontrá-lo em algum corredor.
EDGAR
Estava no corredor esperando à hora de entrar na sala
de aula, conversando com algumas alunas. De repente
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uma funcionária da escola cujo nome não recordava se
aproximou.
__ Bom dia Edgar. –ela disse quase gaguejando.
__ Bom dia... –tentei lembrar seu nome, mas não foi
possível.
__ Eu vim trazer esses formulários...
__ OK.
Ela continuou parada me olhando.
__ Mais alguma coisa?
__ Bom, eu sei que você anda meio ocupado, mas
queria saber se você e... Eu...
__ Tudo bem. –disse olhando para uma aluna do último
ano que passou fazendo sinal para que eu ligasse pra
ela mais tarde.
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__ Pode ser hoje? Depois do trabalho? –ela perguntou
sorrindo.
__ Sim? –respondi sem saber realmente do que ela
estava falando.
__ Tudo bem. –ela disse e depois saiu.
Provavelmente ela queria que eu entregasse os
formulários preenchidos ainda hoje. Coloquei-os na
pasta e entrei para a sala de aula.
VERÔNICA
Eu me sentia a mulher mais realizada do mundo!
Como era possível, Verônica Vale e Edgar juntos num
encontro? Segui para minha sala tentando de todas as
formas esconder a animação de Kátia. Eu havia
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brigado com ela por causa de Edgar e não queria
repetir a dose.
__ Está tudo bem?
__ Por que não estaria? __ Tenho a melhor amiga do
mundo!
__ Eu já te perdoei, não precisa puxar saco. –ela disse.
__ Não estou puxando saco! –disse a abraçando e me
jogando no divã vermelho que compunha nossa
humilde sala.
VIVIANE
Eu assumo: sou possessiva. Mas quem não é? Eu quero
que tudo o que é meu seja somente meu e não me sinto
mal por isso; principalmente quando se trata de amor.
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Eu fiz coisas imagináveis para conseguir ficar com
Edgar e eu não vou deixar que um sonho inútil de ser
notado atrapalhe nossa relação.
__ Ed?
__ Oi querida. –ele disse.
__ O que está fazendo?
__ Acabei de sair da sala de aula. __ Por quê?
__ Por nada, eu vi uma matéria na TV sobre a nova
grife da MODA DE VERÃO e lembrei-me de você. __
Como foram às fotos?
__ Excelentes, você tinha que ter visto. __ Em breve seu
namorado vai ser uma celebridade!
__ É isso que me preocupa. __ Eu não quero que você
viva rodeado de outras mulheres.
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__ Você sabe que eu só tenho olhos pra você!
__ E também sei que você tem um grave problema no
pescoço quando uma mulher passa por você!
__ Não vamos brigar agora, vamos?
__ Não. –disse. __ Como dormiu a noite passada? __ Eu
não queria ter de deixar sozinho.
__ Não se preocupe querida, eu dormi com os anjos. –
ele disse.
__ Tudo bem, e quando vamos nos ver?
__ Por que você não passa aqui na escola mais tarde? __
Eu vou dar aula até o último horário e depois não vai
ter ninguém na escola.
__ Tudo bem. –disse e despedindo ele desligou.
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Joguei meu celular contra a parede quando me
lembrei da sessão de fotos. Alguns minutos depois o
telefone tocou. Fui até a sala atender.
__ Alo?
__ Como vai Viviane?
__ Quem fala?
__ Não reconhece minha voz?
__ Lúcio? –perguntei assustada.
__ Sim, parece um pouco surpresa?
__ Na verdade sim. __O que quer?
__ Só liguei para te cumprimentar. __ Como está seu
namoradinho? __ Soube que ele esta ficando famoso.
__ Infelizmente. –disse com raiva.
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__ Não deveria estar feliz?
__ Talvez, mas agora corro o risco de perdê-lo.
__ Não se preocupe querida; posso assegurar-lhe que
não.
__ O que quer dizer?
__ Entenda como quiser, você sabe que posso fazer
com que ele fique com você até quando quiser... __ Ou
fazer com que ele termine com você neste exato
momento.
__ O que você quer? __ Não quero me meter em
encrencas outra vez.
__ Quero que pense bem, não quer perder seu
namorado, quer?
__ Tudo bem, vou pensar.
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__ Um mês é o suficiente?
__ Sim.
__ Então, até breve. –ele disse e desligou.
__ Maldito! –disse batendo o telefone no gancho.
ALGUMAS HORAS MAIS TARDE...
EDGAR
Segui para o portão fingindo estar saindo junto aos
outros funcionários. Depois que todos haviam ido,
esperei por Viviane e quando ela chegou tornei a
entrar na escola. Como sempre o porteiro estava
dormindo e não percebeu nada.
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__ Tem certeza que não tem mais ninguém nessa
escola?
__ Se considerarmos o porteiro como gente, somos
apenas nós três.
__ Pra onde vamos?
__ Que tal a sala dos professores?
__ Tudo bem.
Viviane e eu seguimos para a sala e começamos a nos
beijar. Eu a acariciava e retirava nossas roupas
enquanto ela me abraçava ferozmente. Começamos ali
mesmo nossa relação amorosa e ainda no ato
seguimos para um dos banheiros.
Passamos vários minutos de intensivo prazer e no
auge da excitação fomos interrompidos por uma visita
inesperada.
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__ O que está acontecendo? – Verônica perguntou.
__ O que essa mulher faz aqui Ed, você disse que não
tinha ninguém!
__ Eu não sei. __ O que faz aqui? –perguntei.
__ Edgar! – Viviane gritou quando me levantei nu na
frente de Verônica.
__ Eu não queria interromper. –ela disse chorando
imóvel na nossa frente.
__ Seu idiota! –Viviane disse e vestindo-se
rapidamente saiu em direção à porta.
__ Espera! –disse correndo atrás dela.
Verônica ficou no banheiro imóvel até o momento em
que saí da escola.
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VERÔNICA
E mais uma vez a Lua se torna minha companheira. Nas
diversas vezes que chorei, nenhuma por decepção tão
grande, a lua me acompanhou.
Aquela havia sido a cena mais deplorável que havia
presenciado em toda minha vida. Eu sinceramente não
culpava ninguém além de mim mesma. Como eu pude
acreditar uma só vez que era a pessoa certa para
Edgar? Qualquer mulher teria muito mais a oferecer do
que eu.
Naquela noite me senti totalmente de acordo com os
quatro elementos – fogo, ar, terra, água – quando se
sentiram mal com a interferência do humano em sua
reunião de reencontro. E pior do que isso: Neste caso
era eu o humano. E diferente deles, eu não poderia criar
algo tão bonito que me servisse de lição. A flor de Lótus
para mim, nada mais seria do que um coração partido,
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representando a amargura de ser uma frágil humana
lutando contra os seus sentimentos primitivos.
Segui para casa tentando não pensar em nada no
caminho. Adormeci rapidamente e quando acordei
precisei mentir pra mim mesma para conseguir a
coragem suficiente para encarar minha amiga Kátia e
o meu trabalho ao lado de Edgar.
NO OUTRO DIA...
KÁTIA
__ O que aconteceu? – perguntei quando Verônica
entrou na sala.
__ Não aconteceu nada. –ela mentiu.
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__ Não minta, eu te conheço tanto quanto você me
conhece! __ Sei que você não está bem.
__ Ontem eu flagrei Edgar com outra.
__ Aonde? __ Com quem?
__ Aqui na escola com a namorada dele ontem à noite.
__ Então ele não estava com outra, e porque você
estava na escola ontem à noite?
__ Havia marcado um encontro com ele!
__ Canalha! –gritei. __ Vou agora mesmo acertar as
contas com esse...
__ Você não vai a nenhum lugar! –Verônica disse me
segurando.
__ Não vou deixar que ele brinque com você! __ Você
não merece isso!
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__ Não foi culpa dele! __ Eu é que me iludi outra vez.
Eu realmente não estava disposta a brigar novamente
com Verônica, apesar de saber que ela era mais do que
Edgar merecia, era ele quem ela queria e eu não podia
fazer nada se não apoiá-la.
RICARDO
__ Bom dia Sr Ricardo, você recebeu uma ligação mais
cedo.
__ Clarice? –perguntei desanimado.
__ Na realidade não, foi de uma escola...
__ Eu não acredito! __ Te adoro Ivone! –disse
abraçando-a e a carregando.
__ Mas...
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__ Não tem problema, diz logo o que eles queriam!
__ Pediram que retornasse a ligação.
__ Vou ligar agora mesmo. –disse correndo para o
telefone.
Ansiava por isso há quase dois meses... Além de ser
editor da BREATH, sou formado em Letras, apesar de
nunca ter dado aulas. Essa talvez fosse a minha maior
oportunidade de declarar-me a Verônica e eu com
certeza não iria perdê-la. Tudo na vida tem propósitos e
depois de muito refletir decidi me tornar professor e
não vi opção melhor do que enviar meu currículo para
a escola onde Verônica trabalha.
Alguém pode me perguntar por que abandonaria meu
alto cargo numa grande empresa para me tornar
professor. E apesar de eu não ter intenção de
abandonar meu antigo emprego, só teria uma resposta:
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“Como posso eu viver sem minha vida. Como posso viver
sem minha alma?!” 1
E neste caso minha vida e alma se resumiam em apenas
uma pessoa, e eu estava indo ao seu encontro...
Depois de telefonar para a escola e confirmar minha
admissão voltei à cozinha e abracei Ivone novamente.
Estava explodindo felicidade!
KÁTIA
Como uma boa mulher, a melhor solução que
encontrei para a depressão de Verônica foi convencê-
la a irmos juntas fazer compras e ao salão de beleza.
Depois de algumas sessões de extrema relutância ela
terminou por aceitar. Como ainda estava cedo,
1 Famoso trecho do livro O Morro dos ventos uivantes.
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decidimos ir a um restaurante almoçar antes de
seguirmos para o nosso programa.
Passamos por no mínimo três restaurantes e todos
estavam cheios, no fim decidimos comer no
restaurante japonês da esquina. Entramos no
restaurante e nos sentamos próximo a porta, devido a
também lotação. Depois de um tempo Verônica
percebeu algo e ficou inquieta.
__ O que foi Verônica?
__ Olha quem está ali! –ela disse quase em cochicho.
Virei-me discretamente e percebi que se tratava de
Rodrigo almoçando com uma mulher.
__ Pilantra! Não se faz uma semana que terminamos e
ele já está com outra? Ele me paga.
__ O que vai fazer? –Verônica perguntou assustada.
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__ Só um minuto querida. –disse me levantando e
concertando meu vestido que agora deixava minhas
pernas à mostra e segui em direção a um garçom.
__ Esta bandeja é para aquele casal?- perguntei e ele
confirmou.
__ Pode deixar que eu mesma leve, sou uma velha
amiga deles. –disse e depois me arrependi de ter
usado o termo “velha”.
__ Claro. – ele disse.
Na bandeja havia uma comida estranha e uma tigela
com algo parecido com um molho esverdeado. Percebi
que Verônica instintivamente abaixou a cabeça
quando percebeu o que eu iria fazer.
Segui para a mesa de Rodrigo com o cardápio
tampando o rosto.
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__ Com licença, vocês pediram este prato? – a mulher
confirmou com a cabeça.
__ Então, aqui está ele! – disse derramando o molho na
cabeça da mulher e jogando a bandeja em Rodrigo.
__ O que é isso? __ Kátia? –ele disse percebendo quem
eu era.
__ Isso é o pagamento por dizer a alguns dias que me
amava e hoje já estar com outra!
__ Você não deveria ter feito isso! – a mulher se
levantou e pegou uma bandeja de um garçom que
estava próximo e jogou em mim.
__ Sua... Sua... – disse retirando pedaços de algo que
parecia macarrão de minha cabeça.
__ Sua o quê? Quem você pensa que é pra jogar comida
em mim?
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__ Sou a ex-namorado deste covarde que está
encolhido na cadeira!
__ E o que eu tenho a ver com isso? – a mulher
perguntou.
__ Você não é a nova namorada dele? – perguntei sem
graça.
__ Claro que não, eu sou casada. Viemos em um almoço
de negócios.
- ela disse nervosa.
__ Me desculpe... – disse retirando um resto de comida
da cabeça da mulher.
__ Você vai pagar por isso; e você Rodrigo, não quero
te ver na minha frente nunca mais. – ela disse saindo
do restaurante.
__ Está satisfeita Kátia?
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__ Sim, não me arrependo do que fiz! –menti.
__ Você mesma disse que não temos mais nada e fica
me seguindo por toda parte!
__ Te seguindo? Seu idiota! – disse jogando a bandeja
caída na mesa sobre ele e saí do restaurante.
Não percebi no momento, mas Verônica me
acompanhava.
__ O que foi aquilo?
__ Eu não sabia que eram apenas negócios... –disse
agora me mostrando arrependida.
__ Sinceramente, foi a coisa mais engraçada que eu já
vi em toda minha vida! – ela disse dando gargalhadas.
__ Você viu a cabeça dela cheia de molho? – disse rindo
juntamente com ela.
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__ Sim, mas isso não retira o fato de que você está toda
suja de macarrão.
__ Você tem razão. __ Nossa ida ao salão vai ter que
ficar pra outro dia.
__ Tudo bem. –ela concordou.
__ Mas amanhã você não escapa! –disse.
__ A não ser que você encontre Rodrigo com outra. –
ela disse e voltou a rir.
RICARDO
Acordei animado. Também não fosse pra menos,
começaria naquele dia a trabalhar junto à mulher que
amo.
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Segui para escola, minha respiração se tornava cada
vez mais fraca. E então eu a vi.
Nem toda beleza do mundo pode ser comparada a
beleza da pessoa amada. Encontrei a parte de mim que
faltava, a pessoa certa pra minha vida.
__ Bom dia, pode-me dizer onde é a secretaria da
escola? –me dirigi a ela.
__ Claro. Quem é você? –ela perguntou curiosa.
__ Me chamo Ricardo, sou o novo professor de
português.
__ Prazer Ricardo, eu sou a Verônica. __ Eu te
acompanho até a secretaria...
__ Obrigado.
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Verônica me levou até a secretaria e depois decidiu
ser minha guia. Ela me mostrou a escola e no percurso
conversamos sobre nós mesmos.
__ Você trabalha na BREATH? –ela perguntou
surpresa.
__ Sim, foi lá que conheci seu amigo Edgar. –disse
tentando disfarçar a minha decepção.
Verônica havia falado o nome de Edgar pelo menos
dez vezes durante nossa conversa e eu acabei por
descobrir porque ele me foi tão familiar na BREATH.
__ E porque você decidiu dar aulas?
__ Me faço a mesma pergunta. __ Acho que é um
hobbie...
__ Desculpe a sinceridade, mas você é louco.
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__ Sem problemas, penso o mesmo de mim. – disse e
rimos juntos.
VERÔNICA
Conversava com o simpático novo professor quando
percebi que minha amiga Kátia se aproximava.
Despedi-me de Ricardo e segui ao encontro de Kátia.
__ Quem era o bonitão? – ela perguntou antes mesmo
de me cumprimentar.
__ Bom dia pra você também. __ Ele é o novo professor
de português.
__ MEU DEUS... Você tem que me apresentar. __ Você
não está...
__ Claro que não Kátia; sabe que meu coração já tem
dono.
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__ E o meu acaba de achar o dele. – ela disse sorrindo.
__ Sabe se ele é casado?
__ Não sei. –disse puxando-a pra nossa sala.
Durante o dia inteiro não houve outro assunto se não
o novo professor. Kátia havia ficado fascinada, e eu
estava começando a sentir pena do rapaz. Eu ainda
estava muito triste, o meu encontro mal sucedido com
Edgar havia deixado um buraco em meu coração.
__ Você não se esqueceu de nossa ida ao shopping
mais tarde, esqueceu? – Kátia perguntou.
__ Não, mas você não esta pensando em me fazer
comprar roupas parecidas...
__ Sim, você vai comprar roupas modernas e que
realcem sua beleza. –ela confirmou o meu medo.
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__ Mas minha opinião também vai contar. –disse quase