Manual de Salvamento em Grande Ângulo S.R.P.C.B.A. - Divisão de Prevenção, Formação e Sensibilização _________________________________________________________________________________________ Capítulo Cabos e Fitas 3 _________________________________________________ 1. INTRODUÇÃO A relevância de se elaborar um capítulo para tratar dos têxteis (cabos e fitas) está no fato de que em toda a atividade do salvamento são utilizados e, por isso, os técnicos devem conhecer bem as suas especificações e limitações para utilizá-las de acordo com atividade a ser realizada. Com o desenvolvimento do nylon, depois da II Grande Guerra, as fibras naturais, como o sisal e o cânhamo, foram abandonadas e substituídas por cabos mais leves, capazes de suportar maiores cargas (≈2 toneladas). Os primeiros cabos de escalada feitos em nylon possuíam características dinâmicas que lhe proporcionavam elasticidade. A força de choque era mínima, pois a energia cinética dissipava-se dinamicamente com o alongamento. Apesar de mais evoluídos que os cabos de fibras naturais, eram difíceis de manusear, geravam muito atrito e eram exageradamente elásticas, tornando-se difícil a sua ascensão e, a sua elasticidade aumentava perigosamente o fator de queda. Os equipamentos têxteis utilizados pelos Grupos de Salvamento em Grande Ângulo (GSGA), são na sua maioria construídos à base de materiais sintéticos, provenientes da indústria petroquímica. Se a poliamida (NYLON) é a mais conhecida, outras derivadas, são cada vez mais utilizadas, combinadas ou a sós: poliéster, polipropileno, aramida (KEVLAR), polietileno de alta resistência (DYNEEMA). A poliamida predomina, pois é a que assegura o melhor compromisso força-alongamento. Também conhecida por Nylon tipo 6, quando molhada perde cerca de 10 - 20% de resistência e com um temperatura de fusão a 230ºC, superior à exigida pela EN 1891 (isto é 195ºC), sendo os mais utilizados pelas equipas de SGA. Ela é mais densa que a água (1,14). A escolha do cabo para o salvamento é muito importante, sendo os diâmetros mais comuns entre 10,5mm – 11mm, devendo-se no entanto, seguir as recomendações da norma do equipamento e fabricante. Como exemplo do referido anteriormente, nos Estados Unidos da América (EUA), as normas são diferentes (National Fire Protection Association – NFPA) e, utilizam-se equipamentos de diâmetros ___________________________________________________________________ 1 Capítulo 3 – Cabos e fitas
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Capítulo Cabos e Fitas - prociv.azores.gov.pt · De acordo com a sua utilização, são classificados como cabos dinâmicos os que se destinam a uma segurança dinâmica durante
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_________________________________________________________________________________________ superiores. Devido a isto, existem fabricantes de equipamentos desde polias, descensores,
conectores, bloqueadores e outros, dimensionados para este mercado. No entanto, este tipo de
equipamentos e para estes diâmetros, apresentam algumas desvantagens, tais como:
Maiores custos;
Os cabos implicam mais peso, consequentemente maior dificuldade de transporte;
Utilizações mais difíceis (ex. dificultam o rappel);
Necessidade de equipamento específico.
Como vantagens pode-se mencionar a carga de rutura superior e uma maior resistência à
abrasão. Quanto aos comprimentos utilizados, os mais comuns são de 30, 50 ou 100 metros,
dependendo da área de atuação, existindo também bobines de 200m que só podem ser adquiridas por
encomenda.
2. OS CABOS
De acordo com a sua utilização, são classificados como cabos dinâmicos os que se
destinam a uma segurança dinâmica durante a subida ou descida do alpinista e do escalador, são
capazes de aguentar a queda livre do escalador reduzindo a força de choque.
Os cabos de baixo alongamento são destinados para trabalhos em altura, salvamentos e
para espeleologia.
Além destes principais, falaremos de outros cabos com a mesma manufatura, mas com um
diâmetro menor (menos de 8mm), são chamados de cabo de apoio (cordeletas).
2.1. Classificação dos cabos
a. Cabo estático (100%): não são indicados para a nossa vertente de salvamentos, no
entanto poderemos encontra-los numa solicitação. São usados principalmente para
construção de pontes de cabo (tirolesas específicas), não absorvem qualquer tipo de
energia (ex: cabos de Polietileno – Dyneema, muito utlizados por equipas
profissionais em atividades de Canyoning na Áustria).
b. Cabo semi - estático: cabo de baixo alongamento (EN 1891), são geralmente
chamados de cabos estáticos. Eles são utilizados para a segurança nos trabalhos em
altura, nos salvamentos, espeleologia e para outras atividades similares. É importante
que estes cabos tenham baixo alongamento mas grande resistência (força).
Neste ponto abordaremos os efeitos sobre um corpo humano duma queda protegida por um cabo.
O risco de queda é um dos primeiros critérios associado ao meio vertical. Assim que
acontece, os efeitos resultantes diferem dependendo se está preparado com equipamento de proteção
ou não.
Na primeira hipótese, o sistema de proteção deverá, particularmente fazer aquilo para que foi
concebido, os danos corporais mesmo que severos, serão absorvidos pelo sistema.
Na segunda hipótese, as consequências são resultantes dum impacto com o solo; serão mais graves.
2.2.1. Fator Queda
Fator de queda teórico
O fator de queda (indicado como f) determina a dureza ou a gravidade de uma queda: quanto
maior o seu valor, mais dura a queda.
Este valor é teórico porque, com um “valor numérico” não se pode prever o que estará na rota
da queda e o que poderá acontecer com o corpo do escalador. Ele mede, com certa precisão, os
danos sofridos pelos equipamentos que suportaram a queda, ou seja, o sistema de segurança de um
modo geral.
O fator de queda (Indicado como f) tem uma influência muito significativa no tempo de vida de
um cabo, e obtêm-se dividindo a altura (h) da queda pelo comprimento do cabo que amorteceu a
queda (c), representado na seguinte fórmula:
O intervalo normal para o fator de queda é de f = 0 a f = 2. Um fator de queda maior não
pode ocorrer quando uma pessoa está usando um cabo fixo a uma amarração (ver figuras 1a, 1b, 1c,).
Só quando escala numa via, denominada de “ferrata” (ou Klettersteig em alemão), trilhos de montanha
com sistemas fixos de escalada, a situação pode ocorrer em que o fator de queda será maior do que
dois. Este é um caso em que um alpinista está seguro por um talabarte curto conectado a um corrimão
fixo (aço). Em caso de queda, se a distância entre o alpinista e a ancoragem do cabo (corrimão) for 5
metros, e o talabarte de 1 metro, o fator queda poderá ser superior a f = 7! (ver figura 1d). As forças do
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_________________________________________________________________________________________ impacto aumentam para limites intoleráveis, e pode levar à rutura do talabarte e causar ferimentos
muito graves.
Por esta razão, em vias de escalada fixa, equipamentos específicos devem ser utilizados,
nomeadamente anti quedas para linhas de vida, com ou sem absorvedor de energia, que diminuíram
consideravelmente a força choque (impacto).
Ilustrações gráficas da Força de choque:
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possível inserir um medidor (cónico) com um diâmetro no máximo 1,2 vezes (múltiplo) o
diâmetro do cabo na abertura do nó apertado pela força de teste
Exigências da EN 1891 – cabos semi-estáticos
VALORES REFERÊNCIA PARÂMETROS MONOTIRIZADOS CABO TIPO A CABO TIPO B
Diâmetro do cabo 8,5 – 16 mm 8,5 – 16 mm
Resistência ao nó máx. 1,2 máx. 1,2
Deslizamento do revestimento máx. 40 mm máx. 15 mm
Alongamento máx. 5 % máx. 5 %
Encolhimento Indefinido Indefinido
Força choque (Fator 0,3) < 6 kN < 6 kN
Número de quedas fator 1 min. 5 min. 5
Resistência sem nós 22 kN 18 kN
Resistência com nós (oito duplo) min. 15 kN (3 minutos) min. 12 kN (3 minutos)
Figura 11: Tendon 2012
2.3.2. Cabos dinâmicos - EN 892
Este tipo de cabo é produzido nas seguintes variações:
a. Cabo simples – capaz de proteger a queda de uma pessoa, utilizando um cabo. É
identificado com um 1 dentro de um círculo (ver figura 12).
Estes cabos são utilizados em cadeias simples (ver figura 13), por isso são ideais onde não há aumento, perigo do cabo a ser cortado por queda de rochas. Figura 12: (Tendon 2012) Eles são apropriados para as rochas, penhascos, rochas de faces verticais,
paredes artificiais e para subir grandes paredes. Cabos simples normalmente
têm um diâmetro de 9mm ou maior. Como são cabos mais espessos, são mais
fortes e suportam maiores quedas. Infelizmente, eles também são mais
pesados. É por isso que você precisa de escolher o equilíbrio certo entre a
espessura e peso. Em atividades desportivas, isto dependerá da experiência
do escalador e da natureza da escalada envolvida. Os mais experientes
preferem, cabos mais leves. Por outro lado, os principiantes ou menos
Figura 13: (Tendon 2012)
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