NELSON CARVALHO MARCELLINO Capacitação de Animadores Socioculturais UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA DEPARTAMENTO DE ESTUDOS DO LAZER MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO SECRETARIA DE DESPORTOS DEPARTAMENTO DE DESPORTO SÓCIO-EDUCACIONAL PROGRAMA DE FOMENTO DESPORTIVO NA COMUNIDADE Primeira edição 1994 Edição atual – São Paulo 2013
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NELSON CARVALHO MARCELLINO
Capacitação de Animadores
Socioculturais
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO FÍSICA
DEPARTAMENTO DE ESTUDOS DO LAZER
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO SECRETARIA DE DESPORTOS
DEPARTAMENTO DE DESPORTO SÓCIO-EDUCACIONAL PROGRAMA DE FOMENTO DESPORTIVO NA COMUNIDADE
Primeira edição 1994
Edição atual – São Paulo 2013
Comunidade:
“Nada mais abstrato do que a comunidade, e
nada mais concreto quando nos declararmos
seus representantes.”
Drummond de Andrade, Carlos. O avesso das coisas:
Aforismos, Rio de Janeiro, 1987, p.34
301.15 Marcellino, Nelson Carvalho, 1950 -
M331C Capacitação de animadores sócio-
culturais / Nelson Carvalho Mar-
celino. - Campinas: UNICAMP, FEF,
DEL; Brasília, D.F.: MED, SEED,
PFDC, 1994.
48p.
1. Dinâmica de grupo; 2. Lazer
Filosofia; 3. Relações Humanas. I.
Título.
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO (Favor PREENCHER, DESTACAR e ENTREGAR ao Coordenador do Curso).
1. Nome:
2. Endereço:
Número: Complemento:
Bairro: CEP:
Cidade: Estado:
Fone: e-mail:
3. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
4. Idade: anos
5. Escolaridade: ( ) primeiro grau incompleto ( ) primeiro grau
( ) segundo grau incompleto ( ) segundo grau
( ) superior incompleto ( ) superior
curso:
6. Cargo/Função:
7. Já colaborou na programação ou realização de atividades de Lazer Comunitário,
ou não?
( ) sim - tipo de atividade:
( ) não
FICHA DE IDENTIFICAÇÃO
(Favor PREENCHER, DESTACAR e ENTREGAR ao Coordenador do Curso).
1. Nome:
2. Endereço:
Número: Complemento:
Bairro: CEP:
Cidade: Estado:
Fone: e-mail:
3. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
4. Idade: anos
5. Escolaridade: ( ) primeiro grau incompleto ( ) primeiro grau
( ) segundo grau incompleto ( ) segundo grau
( ) superior incompleto ( ) superior
curso:
6. Cargo/Função:
7. Já colaborou na programação ou realização de atividades de Lazer Comunitário,
ou não?
( ) sim - tipo de atividade:
( ) não
SUMÁRIO
1o DIA
Apresentação do Curso
Apresentação Pessoal
“Quebra Gelo”
Normas do Grupo
Regras de Trânsito
Papéis
Tempo e Atitude
Ainda sobre Tempo e Atitude
Avaliação
2o DIA
Desempenho de Papéis
O Conteúdo do Lazer
Novos Usos Para...
Atividade e Passividade
Clínica do Rumor
As Barreiras para o Lazer
Um Duplo Processo Educativo
Avaliação
3o DIA
Desempenho de papéis
Equipamentos não específicos
Equipamentos específicos
Ataque e defesa
Ação comunitária
Quebra cabeças
Detalhamento de Comissões
Avaliação
4o DIA
Desempenho de papéis
Tomada de Decisões
Levantamento da situação – confronto
de valores e estabelecimento de
objetivos
Conhecendo a situação de sua região
Projeto - elaboração - explicação
detalhada
Reuniões - explicações detalhadas
Avaliação
5o DIA
Desempenho de Papéis
Elaboração de projetos – exercício
Apresentação de projetos
Preparação da primeira reunião com a
comunidade
Avaliação final
APRESENTAÇÃO DO CURSO
Este curso faz parte de um processo de Capacitação de Animadores
Sócio-Culturais, interessados no desenvolvimento de programas de Lazer,
baseados na estratégia da “Ação Comunitária”.
O curso é composto de três eixos em termos de conteúdo,
diretamente interligados, e trabalhados concomitantemente: “Teoria do Lazer”,
“Trabalho em Grupos” e “Ação Comunitária”, e é desenvolvido através de
técnicas de “Dinâmica de Grupo”, adaptadas.
Os textos e a forma de trabalhá-los são o que pude reunir de mais
simples, propositadamente, através do trabalho desenvolvido durante mais de oito
anos, como “orientador social” do SESC - Serviço Social do Comércio; mais de
seis anos, como docente da PUCCAMP - Pontifícia Universidade Católica de
Campinas; e mais de seis anos, como docente da UNICAMP - Universidade
Estadual de Campinas, uma vez que, a pretensão é atingir o maior número de
pessoas possível, interessadas em atuar neste campo, e inclusive a serem “agentes
multiplicadores”, a partir da vivência das experiências do processo, do qual este
curso é parte.
Não posso deixar de registrar meus agradecimentos a todas as
pessoas que vivenciaram comigo, ao longo de quase vinte anos de trabalho, essa
troca de experiências, para mim muito rica, que possibilitou a elaboração deste
material.
Ficamos no aguardo de críticas e sugestões. Consulte nosso site:
Grupo de Pesquisa em Lazer - GPL - www.unimep.br/gpl.
NELSON CARVALHO MARCELLINO
Agosto de 2013
APRESENTAÇÃO PESSOAL
Preencha e coloque o seu “crachá” de identificação, usando o
nome ou “apelido” pelo qual gosta de ser chamado, em letra grande e legível,
usando para isso os “pincéis atômicos”.
Você terá três minutos para entrevistar o(a) colega que está
sentado(a) ao seu lado.
Faça as perguntas que julgar mais significativas para conhecê-lo(a)
e escreva no espaço abaixo:
Agora o(a) colega fará o mesmo com você; procure responder do
modo mais adequado possível, não ultrapassando, também aqui, o tempo de três
minutos.
Finalmente, cada um de vocês apresentará o outro ao grande grupo.
OBS: a apresentação poderá ser feita também pessoalmente, ao grande grupo,
individualmente, como forma opcional.
VOCÊ SABE SEGUIR INSTRUÇÕES?
A)
B)
1. Leia tudo antes de executar qualquer tarefa indicada;
2. Escreva seu nome na linha A, acima;
3. Escreva a data de hoje na linha B, acima;
4. Faça um círculo em volta da palavra “nome” da frase dois;
5. Desenhe cinco quadradinhos no canto esquerdo superior desta folha;
6. Ponha um “X” dentro de cada quadradinho;
7. A seguir ao título, escreva: “SIM, SIM, SIM”;
8. Faça um “X” no canto direito desta folha;
9. Desenhe um retângulo em torno da palavra “folha” da frase n° 5;
10. Desenhe um triângulo em torno do “X” que foi feito no canto direito desta
folha;
11. Ao chegar a esta parte do teste, diga seu primeiro nome em voz alta;
12. Conte em tom de voz normal, de dez até um;
13. Se você for o primeiro a chegar até este ponto, diga em voz alta: “FUI O
PRIMEIRO A CHEGAR ATÉ ESTE PONTO, DE MODO QUE SOU UM
CAMPEÃO EM SEGUIR INSTRUÇÕES”;
14. Sublinhe todos os números pares ao lado;
15. Agora que acabou de ler tudo com atenção, execute apenas a instrução número
2.
OBS.: Anote no espaço abaixo, as conclusões que você chegou após o uso desta
técnica.
FINALIDADES:
1.
2.
OUTRAS TÉCNICAS DE “QUEBRA-GELO”:
1.
NORMAS DO GRUPO
Todo jogo tem regras que devem ser seguidas pelos participantes:
o cumprimento de regras não implica em perda de espontaneidade. A ausência de
regras não configura uma situação de liberdade, mas de desordem. O que
caracteriza um grupo autônomo é o livre estabelecimento de regras.
Exemplos de Normas do Grupo:
1. Dispor as cadeiras em círculo de modo que todos se vejam. No círculo não existe
destaque ou dominação;
2. Não forme subgrupos: o subgrupo é uma agressão ao grupo. Sente-se ao lado de
pessoas que você não conhece. Não se sente duas vezes ao lado da mesma pessoa;
3. Não se alheie dos fatos que ocorrem durante as sessões. Não se prepare mentalmente
para falar: ouça tudo;
4. 4.Ao intervir, sempre que possível, refira-se sempre à última afirmação formulada.
Encadeie a verbalização. Não dê saltos;
5. Conclua suas intervenções com uma pergunta: deixe o assunto em aberto. Provoque
dúvidas;
6. Duvide de tudo: não aceite nada sem provas;
7. Todas as contribuições merecem atenção de sua parte: insignificante para você não se
confunde com insignificante:
8. Não deixe para criticar após a reunião: seja leal e autêntico. Intervenha na hora em que
achar conveniente;
9. Quem não sabe o assunto é extremamente útil ao grupo por que faz perguntas. Talvez
seja ele o criativo;
10.Permita que todos falem. Estimule os tímidos. Bloqueie os dominadores. Seja breve:
discurso é chato;
11.Se não puder cumprir suas tarefas, solicite colaboração dos demais. Mobilize todos
para auxiliá-lo;
12.Não use títulos de tratamento. Embora diferentes, no grupo todos são equivalentes.
Chame pelo nome;
13.Evite falar baixo com alguém ao seu lado: tudo que é formulado no curso interessa a
todos ou a ninguém. Se interessa, fale para todos. Se não interessa, não fale;
14.Se não compreendeu algo, interrompa na hora e peça esclarecimentos. Pergunte o
significado de palavras que não conhece. Não permita equívocos;
15.Não espere ser convidado à participação: exija seu lugar no grupo. Reivindique.
OBS.: Cada uma das normas deverá ser discutida e aceita, ou não, pelo grupo. O
grupo poderá propor novas regras, que também serão submetidas à discussão.
REGRAS DE TRÂNSITO A construção das regras de trânsito constitui uma forma de estabelecer um ponto
de partida para o funcionamento do grupo, criando novos hábitos, por meio da
definição de normas cujo não cumprimento, no interior do grupo, acarreta uma
pequena multa que é cumulativa.
É interessante que essa dinâmica faça parte do primeiro dia de curso e que possa,
no último dia, ser retirada, para que seja possível perceber a mudança no
comportamento do grupo.
Resumo das normas do grupo a serem seguidas pelos participantes do curso:
1. Faltar sem motivo justificado;
2. Chegar atrasado;
3. Deixar de cumprir tarefas;
4. Conversar paralelamente;
5. Chamar alguém por título ou qualquer tratamento cerimonioso;
6. Deixar de usar o crachá;
7.
8.
9.
10.
Caberá ao grupo determinar a multa que será imposta aos
infratores das “Regras de Trânsito”.
O grupo poderá resumir outras normas, baseadas nas “normas do
grupo”, estabelecidas à página anterior.
PAPÉIS
A cada participante caberá um papel específico, que deverá ser desempenhado
durante todo o curso.
Se você julgar que não tem aptidão para desempenhar o papel que lhe foi
atribuído, encare isto como um desafio para o desenvolvimento de mais esta
capacidade.
Cada papel faz parte de uma equipe. O Grupo funcionará com três equipes:
A) EQUIPE DE ANIMAÇÃO: responsável pelo “aquecimento”:
1. Animador: promove atividades recreativas breves; leva o grupo a espontaneidade;
elimina as tensões, quebra o formalismo;
2. Repórter: encarregado do jornal mural; noticia os principais acontecimentos
envolvendo o grupo;
3. Fotógrafo: Caricatura o perfil dos participantes; fotografa as distrações; destaca as
reações dos participantes;
4. Decorador: cuida da decoração do local do curso;
5. Fofoqueiro: descobre o inventa fofocas; imagina o que cada participante pensou,
mas não disse.
B) EQUIPE DE ORGANIZAÇÃO: responsável pela ordenação e bom andamento dos
trabalhos:
6. Recapitulador: relembra ao grupo as etapas percorridas; destaca pensamentos e
ações do dia anterior;
7. Controlador: controla as regras de trânsito;
8. Tesoureiro: cobra as multas das infrações de trânsito;
9. Programador: cuida da formação do grupo nas diversas ativida- des; controla o
horário, a freqüência e os atrasos; acelera a execução dos trabalhos, evitando a perda
de tempo;
10. Dicionarista: explica ao grupo o significado dos termos empregados no curso;
11. Merendeiro: cuida do lanche do grupo;
12. Provedor: providencia o material necessário e cuida da arrumação da sala;
13. Relações públicas: entrevista, diariamente, algum participante sobre o curso, ou
presta informações extra-cursos, como filmes, teatro, cinema, TV, etc.
C. EQUIPE DE AVALIAÇÃO: responsável pela verificação dos eventos do curso:
14.Superego do grupo: analisa o desempenho do grupo como um todo;
15.Incentivador: aplica ao grupo a didática do elogio; descobre ações elogiáveis;
16.Superego do coordenador: analisa o desempenho do coordenador;
17.Relações humanas: faz o grupo conhecer cada um: entrevista pública, leva todos a
ajudarem a todos; dá conjunto ao grupo.
OBS.: a cada componente do grupo caberá desempenhar o papel correspondente
ao _________ colocado no seu “crachá”.
TEMPO E ATITUDE *
Nelson Carvalho Marcellino
Nas reivindicações das associações de moradores, nos luminosos das
lojas, nos anúncios de imobiliárias, nas propostas dos candidatos a cargos
públicos, nos títulos de revistas, nas seções dos jornais, e em muitas outras
situações da vida quotidiana, a palavra “lazer” vem aparecendo com uma
frequência cada vez maior, que não se verificava até bem pouco tempo atrás, pelo
menos com tanto destaque. Isso faz com que seja quase inevitável, quando se
aborda de maneira específica a temática do lazer, iniciar-se destacando os vários
entendimentos que a palavra comporta na nossa sociedade, motivados pela
incorporação relativamente recente do termo ao vocabulário comum. Além disso,
não se pode deixar de considerar, ainda, que se trata de um termo carregado de
preconceitos, motivados por um pretenso caráter supérfluo dessas atividades,
contrapondo-se a nossa situação socioeconômica e pela sua utilização como
instrumento ideológico, contribuindo para o mascaramento das condições de
dominação nas relações de classes (“Pão e Circo”).
Com relação à utilização da palavra “lazer” o que se verifica, com
maior frequência, é a simples associação com experiências individuais
vivenciadas, dentro de um contexto mais abrangente que caracteriza a sociedade
de consumo, o que, muitas vezes, implica na redução do conceito à visões parciais,
restritas aos conteúdos de determinadas atividades. Dessa forma, para algumas
pessoas, lazer é futebol, para outras é pescaria, ou jardinagem, etc, etc. O uso
indiscriminado e impreciso da palavra, englobando conceitos diferentes e até
mesmo conflitantes, fundamenta a necessidade de tentar precisá-lo no sentido de
orientar discussões que contribuam para o seu entendimento e significado na vida
quotidiana de todos nós. Na intervenção na comunidade, considerando que se
trabalha com equipes de voluntários, é fundamental que seja estreitada a relação
do povo com a equipe técnica envolvida no projeto.
Apenas pelo exemplo citado percebe-se que o entendimento do
lazer não pode ser estabelecido somente a partir do conteúdo da ação, ou pelo
menos que ele não constitui condição suficiente para a conceituação. Se para
algumas pessoas o futebol, a pescaria, a jardinagem constituem atividades de lazer,
certamente isso não se verifica, em todas as oportunidades, para o jogador
profissional, o pescador que depende da sua produção ou para o jardineiro. Além
disso, aquilo que pode ser altamente atraente e prazeroso para determinada pessoa,
não raro significa tédio ou desconforto para outro indivíduo. Assim, as
circunstâncias que cercam o desenvolvimento dos vários conteúdos são
básicas para a concretização das atividades.
Nesse particular, podem ser destacados como fundamentais os
aspectos tempo/espaço e atitude. O lazer considerado como atitude será
caracterizado pelo tipo de relação verificada entre o sujeito e a experiência
vivida, basicamente a satisfação provocada pela atividade. O lazer ligado ao
aspecto tempo, considera as atividades desenvolvidas no tempo liberado do
trabalho, ou no “tempo livre”, não só das obrigações profissionais, mas também
das familiares, sociais e religiosas. Apesar da polêmica sobre o conceito, a
tendência que se verifica, na atualidade, entre os estudiosos do lazer, é no sentido
de considerá-lo tendo em vista os dois aspectos - tempo e atitude.
A consideração do aspecto tempo na caracterização do lazer tem
provocado uma série de mal entendidos. Um deles diz respeito ao conceito “livre”
adicionado a esse tempo. Na realidade, considerado do ponto de vista histórico,
tempo algum pode ser visto como livre de coações ou normas de conduta social.
Talvez, fosse mais correto se falar em tempo disponível. Mesmo assim,
permanece a questão da consideração do lazer como esfera permitida e controlada
da vida social, o que provocaria a morte do lúdico, e a ocorrência do lazer marcada
pelas mesmas características alienantes verificadas em outras áreas de atividade
humana.
* Estudos do Lazer – uma introdução. Campinas: Autores Associados, 1996.
Técnica: leitura e discussão em grande grupo.
OBS: procure ler pausadamente o texto para facilitar seu entendimento e o do
restante do grupo.
Anote o funcionamento:
Figuras representativas do texto:
Figura 1 - Relação tempo/espaço e atitude no lazer – natureza das obrigações
TEMPO ESPAÇO
ATITUDE
Figura 2 – O lúdico como elemento da cultura
CULTURA
Religião
Escola
Família
Trabalho
Partido
Político
Obrigações
Sociais
LAZER
ESPORTE
TURISMO
ARTE
LÚDICO
Obrigações profissionais
Obrigações familiares
Obrigações políticas
Obrigações sociais
Obrigações religiosas
LAZER
Desinteressada
Descompromissada
Prazer
Livre Adesão
Descanso
Divertimento
Desenvolvimento
Público
Privado
Atividade
Não-Atividade
AINDA SOBRE TEMPO E ATITUDE*
Nelson Carvalho Marcellino
Conforme já verificamos neste espaço, a consideração dos
aspectos tempo e atitude é fundamental para o entendimento do âmbito do lazer.
Já colocamos, inclusive, que essa consideração não deve ficar isolada num único
desses aspectos, mas sim combiná-los, uma vez que o simples isolamento de cada
um pode provocar uma série de equívocos, decorrentes de situações nebulosas na
sua consideração.
Dessa forma, o lazer encarado apenas como atitude, como um
estilo de vida, independente de um tempo determinado, fica na dependência
exclusiva da relação da pessoa envolvida com a atividade. E, assim, qualquer
atividade poderia ser considerada lazer, até mesmo o trabalho, desde que atendesse
determinada características, como a escolha individual, e um nível de satisfação e
de prazer elevados. Ora, sabemos que para a maioria da população o trabalho não
pode ser assim considerado, e mesmo para a minoria privilegiada em termos de
escolha e satisfação profissional, o componente de obrigação é marcante,
principalmente em nossa sociedade que valoriza, sobretudo, a produtividade. Esse
componente forte de obrigação está presente em uma série de outras atividades,
como as familiares, os compromissos sociais, religiosos, etc. Talvez, o ideal seria
caminhar em busca da gradativa eliminação do componente obrigação em todas
essas atividades, mas a história tem demonstrado que ele é uma constante,
variando em suas formas.
Por outro lado, a consideração isolada do aspecto tempo, traz uma
série de interrogações. Por exemplo: como poderiam ser consideradas as
atividades desenvolvidas no tempo em que o trabalhador se desloca do local de
trabalho para o local de moradia, ou vice versa? Como considerar as ações
prazerosas desenvolvidas no âmbito de tempo dedicado às obrigações familiares?
Não seria o lazer, nesse sentido um elemento desagregador, uma vez que os
interesses na família são bem diversificados?
Por tudo isso, e conforme já colocamos a tendência atual, entre os
estudiosos do lazer, é considerá-lo tendo em vista a combinação dos dois aspectos
– tempo/espaço e atitude.
Outras questões se colocam quando o lazer é examinado levando
em conta o aspecto tempo. Que tempo é esse? Quais as suas características?
Antes de mais nada, o tempo do lazer encontra-se não em
oposição, mas em relação com o tempo das obrigações. Sobretudo com as
obrigações profissionais - com o trabalho. E aqui algumas questões podem ser
colocadas. Apenas a título de exemplo: o tempo do desempregado poderia ser
considerado como lazer? A questão que pode, a primeira vista, parecer fora de
propósito, na realidade é bastante atual, quando se analisa programas de lazer
desenvolvidos por determinados organismos, tentando preencher o tempo do
desempregado com atividades “sadias”. Na condição de desemprego seria mais
pertinente considerarmos a ociosidade do trabalhador dentro do sistema produtivo
e não a dimensão do ócio que é uma das possibilidades do lazer.
Considerando apenas a esfera das atividades profissionais - do
trabalho, o tempo do lazer situa-se no “tempo liberado” do trabalho, portanto,
supõe a sua existência. Dessa forma, o tempo gerado pelo desemprego nunca pode
ser considerado tempo liberado, mas sim tempo desocupado que reflete a
ociosidade do trabalhador decorrente da incapacidade do sistema econômico gerar
trabalho. Além disso, pelas próprias características da situação de desempregado, a
pessoa nessa circunstância não tem condições de desenvolver atitudes adequadas
para o desenvolvimento do lazer, vivenciando as possibilidades de descanso
(ócio), desenvolvimento e divertimento.
* Estudos do Lazer – uma introdução. Campinas: Autores Associados, 1996.
Técnica: leitura e discussão em grande grupo.
Anote o funcionamento:
O CONTEÚDO DO LAZER *
Nelson Carvalho Marcellino
A realização de qualquer atividade de lazer envolve a satisfação de
aspirações dos seus praticantes. Há alguma coisa de comum entre o que se busca
indo ao cinema ou ao teatro, e que difere das razões que motivam o
desenvolvimento de esportes, por exemplo. Enquanto, no primeiro caso, a
satisfação estética pode ser considerada como critério orientador, no segundo caso,
via de regra, prevalece o movimento - o exercício físico.
É exatamente a distinção entre o que se busca de forma
preponderante no desenvolvimento das várias atividades, que abre a
possibilidade para a classificação dos seus conteúdos. Embora os campos
abrangidos sejam de difícil demarcação, a separação pode ser estabelecida em
termos de predominância. Dessa forma, ainda com referencia ao exemplo citado
acima, pode-se argumentar que o domínio do movimento ou do exercício físico
também é um campo para a manifestação estética, mas não de modo tão específico
como ocorre no terreno das artes. Os vários interesses que as aspirações pela
prática do lazer envolvem formam um todo interligado e não constituído por
partes estanques. A distinção só pode ser estabelecida em termos de
predominância, representando escolhas subjetivas, o que evidencia uma das
características das atividades de lazer - a opção.
Não há dúvidas de que as atividades de lazer devem procurar
atender as pessoas no seu todo. Mas, para tanto, é necessário que essas mesmas
pessoas conheçam as atividades que satisfaçam os vários interesses, sejam
estimuladas a participar e recebam um mínimo de orientação que lhes permita a
opção entre várias possibilidades. Em outras palavras, a escolha, a opção, em
termos de conteúdo, está diretamente ligada ao conhecimento das alternativas que
o lazer oferece. Por esse motivo, é importante a distinção das áreas abrangidas pelo
conteúdo do lazer.
A classificação mais aceita é a que distingue seis áreas
fundamentais: os interesses artísticos, os intelectuais, os físicos, os manuais, os
sociais e os turísticos.
O campo de domínio dos interesses artísticos é o imaginário - as
imagens, emoções e sentimentos; seu conteúdo é estético e configura a beleza do
encantamento. Abrange todas as manifestações artísticas.
Já nos interesses intelectuais, o que se busca é o contato com o
real, as informações objetivas e explicações racionais. A ênfase é dada ao
conhecimento vivido, experimentado. A participação em cursos ou a leitura são
exemplos.
Por sua vez, as práticas esportivas, os passeios, a pesca, a ginástica
e todas as atividades onde prevalece o movimento, ou o exercício físico, incluindo
as diversas modalidades esportivas - constituem o campo dos interesses físicos
esportivos.
O que delimita os interesses manuais é a capacidade de
manipulação, quer para transformar objetos ou materiais - por exemplo, o
artesanato e o “bricolagem” - quer para lidar com a natureza, por exemplo, a
jardinagem e o cuidado com os animais.
Quando se procura fundamentalmente o relacionamento, os
contatos face a face, a predominância deixa de ser cultural e passa a ser social,
manifestando-se os interesses sociais no lazer. Exemplos específicos são os bailes,
os bares e cafés, servindo de pontos de encontro, a frequência à associações, etc.
Já o que caracteriza a satisfação dos interesses turísticos é a busca
da quebra da rotina temporal ou espacial e o contato com novas situações,
paisagens e culturas. Os passeios e as viagens constituem exemplos.
Tendo em vista os conteúdos do lazer, o ideal seria com que cada
pessoa praticasse atividades que abrangessem os vários grupos de interesses ,
procurando, dessa forma, exercitar, no tempo disponível, o corpo, a imaginação, o
raciocínio, a habilidade manual, o relacionamento social, o intercâmbio cultural e a
quebra da rotina, quando, onde, com quem e da maneira que quisesse. No entanto,
o que se verifica é que as pessoas geralmente restringem suas atividades de lazer a
um campo específico de interesses. E geralmente o fazem não por opção, mas por
não terem tomado contato com outros conteúdos.
* Estudos do Lazer – uma introdução. Campinas: Autores Associados, 1996.
(classificação baseada em Joffre Dumazedier)
Técnica: leitura e exposição em grande grupo.
Anote o funcionamento:
Figura representativa do texto:
ATIVIDADES LAZER MANIFESTAÇÕES HUMANAS
TEMPO/ CONTEÚDOS
ESPAÇO CULTURAIS
Atividades são
baseadas nos
interesses
predominantes das
pessoas ao fazê-las, e
que consubstanciam
em 6 conteúdos
culturais:
Físico-Esportivo
Social
Artístico
Manual
Intelectual
Turístico
Cada um desses
conteúdos pode ser
desenvolvido em
três níveis de
participação:
Inferior
caracterizado pelo
conformismo
Superior
caracterizado pela
criatividade
Médio
caracterizado pela
criticidade
Gêneros da participação → Praticar ------ Conhecer ------- Assistir
Cultura do povo
Cultura erudita
Cultura de massa
“NOVOS USOS PARA”
No espaço abaixo, enumere novos usos, diferentes daquele para o
qual ele já foi concebido, para o objeto colocado no centro do grupo; para isso
você terá três minutos. A tarefa é individual. Esgotado o tempo, não escreva mais