Pós-graduação em Preparação Corporal nas Artes Cênicas PAULA MARIZ Canto de câmara em movimento: Pesquisando movimento expressivo para cantores com o Sistema Laban Rio de Janeiro 2015
Pós-graduação em Preparação Corporal nas Artes Cênicas
PAULA MARIZ
Canto de câmara em movimento:
Pesquisando movimento expressivo para cantores com o Sistema Laban
Rio de Janeiro
2015
PAULA MARIZ
Canto de câmara em movimento: Pesquisando movimento expressivo para cantores com o
Sistema Laban
Monografia apresentada ao curso de pós-
graduação em Preparação Corporal nas Artes
Cênicas da Faculdade Angel Vianna como
requisito parcial à obtenção do grau de
especialista.
Orientadora: Prof.ª MS. Ana Bevilaqua Penna Franca
Rio de Janeiro
2015
Mariz, Paula.
Canto de câmara em movimento: Pesquisando
movimento expressivo para cantores com o Sistema
Laban. / Paula Mariz. — 2015.
f.57; 30 cm.
Monografia (Pós-graduação em Preparação Corporal
nas Artes Cênicas)—Faculdade Angel Vianna, Rio de
Janeiro, 2015.
1.Laban. 2.Escalas de Movimento. 3.Música de
Câmara. 4.Canto. I. Franca, Ana Bevilaqua Penna (Orientadora) II. Faculdade Angel Vianna III.
Título.
AGRADECIMENTOS
À Marilia Velardi e todos os integrantes do Núcleo Universitário de Ópera que me
receberam com amor, ótimas indicações de leitura e conversas estimulantes.
Ao Menelick de Carvalho e sua equipe na Casa das Artes de Laranjeiras pela oportunidade
de acompanhamento das aulas de teatro musical.
Ao Eduardo Pessanha Cavalcanti pelo incentivo, apoio e companhia em todas as peças que
assisti.
Às minhas amigas queridas Ana Lúcia Gaborim, Joana Mariz e Regina Vendeiro pelos
debates, passeios em Sampa, indicações bibliográficas e outros mimos.
À minha irmã Flávia Mariz que cuidou da minha cachorrinha nas minhas viagens.
À Andrea Brisson por dirigir meus movimentos in the Laban way e por permitir que eu
dirigisse os dela em outras pesquisas Laban.
À Ingrid Bertin Carneiro pela leitura dos rascunhos e pelos conselhos preciosos.
Ao Yago Chamoun Ferreira Soares e a sua Nala, que trouxeram mais leveza ao nosso
quadrado.
À Tribo da Angel pelas indicações de palestras.
À Ana Bevilaqua Penna Franca que corrigiu e esclareceu cada dúvida com muita paciência e
delicadeza.
E à equipe da Faculdade Angel Vianna por todas as experiências de movimento que me
ofereceu.
RESUMO
Este trabalho apresenta o resultado de pesquisa de movimento para cantores em preparação para recitais de
música de câmara utilizando as premissas do Sistema Laban, em especial o treinamento corporal relacionado
com as Escalas de Movimento, desenvolvido por Rudolf Laban.
O nível de exigência técnica em música de câmara é excessivo e a formação superior em música no Brasil
ainda não proporciona vivências corporais de forma rotineira para cantores em formação. Essa lacuna advém
de longa tradição filosófica de oposição entre corpo e pensamento.
O Sistema Laban oferece oportunidade eficiente de criação de movimento expressivo para cantores por se
tratar de proposta inclusiva sob todos os aspectos, (tanto de quem se movimenta, quanto de como se
movimenta e onde) por conta do seu entendimento holístico do ser humano, da vida e do universo.
Palavras-chave: Laban. Escalas de Movimento. Música de Câmara. Canto.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 Posicionamento dos cinco diafragmas 18
Figura 2 Relação entre os músculos diafragma e psoas 19
Figura 3 Influência da respiração no corpo segundo a visão constitutiva por tubos de
Keleman 20
Figura 4 Extensões da respiração 21
Figura 5 Planos dimensionais (vertical, sagital e horizontal) 36
Figura 6 Organização geométrica do octaedro 37
Figura 7 Modelo de interseção entre os planos dimensionais e o octaedro 37
Figura 8 Centro do Corpo e sua expansão para o espaço 38
Figura 9 Escala dimensional do octaedro 38
Figura 10 Organização geométrica do hexaedro 39
Figura 11 Interseção dos centros espaciais do cubo e do Centro do Corpo 40
Figura 12 Escala diagonal do cubo 41
SUMÁRIO
1 Introdução…….................................................................................. 1
2 Canto se aprende na escola?............................................................. 5
3 Como se faz…..................................................................................... 15
4 Respirando e ouvindo………………………………………………. 35
5 Conclusão............................................................................................ 50
6 Bibliografia………………………………………………………….. 52
1
Introdução
O que me mobilizou para a escrita da minha dissertação de mestrado - Atitudes de
intérpretes cantores durante recitais e sua relação com o texto musical no contexto das
Bienais Brasileiras de Música Contemporâneas do Rio de Janeiro entre 1975 e 2001 - foi a
contemporaneidade do movimento e a presença dos cantores que se apresentaram durante a
VIII Bienal de Música Brasileira Contemporânea, primeira que tive oportunidade de assistir,
em 1989.
No entanto, por conta dos caminhos percorridos até então, não tive acesso às leituras
e experiências de movimento que dessem conta de alcançar esta temática na ocasião da
realização daquela pesquisa (terminei o mestrado em 2003).
Quando realizei meus estudos de formação em canto, durante as décadas de 1990 e
2000, a orientação sobre movimento para cantores era divulgada informalmente,
dependendo da experiência do professor. Havia, no entanto, preocupação com profilaxia
para evitar a ocorrência de lesões, por conta disso, a Técnica de Alexander já era divulgada
em festivais de música.
Durante a minha graduação em canto na Universidade Estácio de Sá (UNESA),
durante a década de 1990, tive oportunidade de estudar com dois professores, ambos já
falecidos e nascidos durante a década de 1920, com trajetórias diferentes: Maria Helena
Bezzi, que se dedicou exclusivamente ao magistério do canto e Alfredo Colosimo, cantor
lírico com atuação importante no cenário operístico brasileiro, que foi inclusive primeiro
tenor do Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Bezzi costumava criticar de forma depreciativa performances no palco, se referindo a
desenvoltura de muitos cantores como de “uma empada em cena”, apesar disso, restringia
sua orientação a questões técnicas e estilísticas próprias do canto.
Colosimo iniciou seus estudos a partir da década de 1940 e começou a lecionar
apenas em 1968, após a morte do seu professor, Pasquale Gambardella. Sua orientação,
durante as aulas que fiz na UNESA, se concentrava nos princípios técnicos e interpretativos
do bell canto e em algumas dicas sobre como se posicionar no palco relacionadas com a sua
experiência em atuação em óperas: como utilizar a respiração para se concentrar antes de
apresentações; e o tipo de movimentação de braços que favoreceria a emissão de notas
agudas capazes de “furar” orquestra1.
1 “furar” orquestra, que significa ser ouvido mesmo quando acompanhado por grande orquestra e coro, é uma
qualidade determinante para a carreira de cantores líricos que se dedicam à ópera.
2
Em minhas aulas de aperfeiçoamento em música de câmara com Marcos Thadeu
Miranda Gomes, tenor e regente mineiro de carreira internacional, atual preparador vocal do
Coro da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (OSESP)2, nascido durante a década de
1940, pude observar outro tipo de postura diante do canto.
A atenção ao corpo esteve presente desde a primeira aula, sendo demonstrada desde
o princípio com orientação para relaxar os músculos da cintura pélvica, caminhar, fazer uso
de gestual durante exercícios vocais, conscientização do corpo a partir de observação visual
de possíveis tensões no corpo inteiro ao cantar (utilizando espelho) e realização de
movimentos que integravam o corpo inteiro aliados a respiração.
Apesar de profundos conhecedores de técnicas de preparação vocal, apenas o último
professor, cabe ressaltar, de outra geração, conhecedor dos movimentos contemporâneos de
teatro e dança e que lecionava fora do circuito universitário na ocasião3, adicionava
elementos de preparação corporal às suas aulas.
Em 2008, tive oportunidade de frequentar as aulas de Thomas Casciero em evento
prévio ao Encontro Laban realizado no Rio de Janeiro e conhecer o seu trabalho de
preparação de atores utilizando o Sistema Laban-Bartenieff. As experiências e os resultados
dos exercícios realizados durante as aulas me causaram uma impressão tão forte, que, a
partir desta ocasião, comecei a adquirir livros, frequentar oficinas sobre o tema, fazer os
exercícios desenvolvidos por Irmgard Barternieff com meus alunos de canto, até descobrir
os cursos de pós-graduação da Faculdade Angel Vianna e optar por frequentar a pós-
graduação em Preparação Corporal nas Artes Cênicas para aprofundar meus conhecimentos
sobre o Sistema Laban.
Metodologia de pesquisa
A metodologia adotada nesta pesquisa compreendeu:
Observação de ensaios e apresentações de performances em ópera, teatro musical
e recitais ao vivo e gravadas (divulgadas em: <www.youtube.com>);
Observação de aulas direcionadas a preparação corporal de atores e cantores na
Casa das Artes de Laranjeiras (CAL) e Núcleo Universitário de Ópera (NUO)
respectivamente;
2 Esta monografia foi escrita entre 2013 e 2015.
3 Atualmente Marcos Thadeu é professor da Faculdade Cantareira, em São Paulo.
3
Análise de performances de duas cantoras (Malu Mestrinho e Manuelai
Camargo) disponíveis em vídeo no sítio eletrônico <www.youtube.com>
seguindo os princípios da Labanálise [LMA];
Laboratório individual de criação de movimento utilizando as Escalas Espaciais
de Movimento desenvolvidas por Rudolf Laban para interpretação de canções
brasileiras eruditas contemporâneas;
Pesquisa de grades curriculares de cursos de bacharelado em canto em
universidades federais e faculdades particulares brasileiras; e
Leitura de textos relacionados a: Sistema Laban; preparação corporal; presença; e
expressividade.
A análise das performances das cantoras disponíveis em vídeo compreendeu as
seguintes etapas:
1. análise musical compreendendo forma, estruturação harmônica, elementos rítmico-
melódicos (esta etapa não foi realizada com a canção “Desafio”, por falta de acesso
à partitura);
2. análise do texto compreendendo significado e contextualização;
3. análise de movimento inspirada na Folha Codificada Simplificada para LMA
divulgada por Ciane Fernandes (2006); e
4. correlação das informações provenientes de cada uma das duas análises indicadas.
O laboratório de criação de movimento compreendeu as seguintes etapas:
1. Escolha do repertório;
2. Análise textual (com foco em significado e contextualização da ocasião em que o
texto foi escrito);
3. Análise musical (esquemática, com indicações de forma, harmonia, ritmo,
elementos melódicos);
4. Estudo da canção e declamação do texto (individual);
5. Ensaio da canção com pianista (gravação de base para ser utilizada durante etapa
7);
6. Pesquisa de movimento utilizando a Escala Dimensional do Octaedro e a Escala
Diagonal do Cubo desenvolvida por Laban; e
7. Experimentação de movimento relacionada diretamente com a canção escolhida
realizada em conjunto com sua interpretação acompanhada por gravação realizada
durante etapa 5.
4
O resultado destas atividades foi organizado neste texto da seguinte maneira:
Capítulo “Canto se aprende na escola?”, onde se relaciona as diretrizes curriculares
propostas pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) para os cursos de graduação em
música; treze grades curriculares (três de faculdades particulares e dez de universidades
públicas); os conceitos de auto-imagem de Moshe Feldenkrais, produção de
presença/produção de sentido de Hans Ulrich Gumbrecht, inteligência cega de Edgard Morin
e redução racionalista de Carlos Alberto Plastino para contextualizar limitações em
preparação corporal na formação universitária dos cantores no Brasil.
Capítulo “Como se faz”, onde, a partir do entendimento segundo o qual a respiração
é um sistema que envolve todo o corpo em função da manutenção da vida, é feita
aproximação com as ideias de Rudolf Laban e análise de performances das canções “Amor
em lágrimas”, de Claudio Santoro e “Desafio”, de Edino Krieger.
Capítulo “Respirando e ouvindo”, onde se descreve a experiência da autora durante
pesquisa de movimento utilizando duas Escalas Espaciais de Movimento desenvolvidas por
Laban.
5
Canto se aprende na escola?
A natureza deve ser considerada
como um todo, mas deve ser
estudada em detalhe.
Mario Bunge
Durante a conferência magna que proferiu no evento “Educação 360”, realizado no
Rio de Janeiro em setembro de 2014, Edgar Morin (2014) discorreu sobre autoconhecimento
e afirmou a importância da transdisciplinaridade, criticando as instituições de ensino por não
se dedicarem à diversidade do ser humano, ao contrário se especializam no fornecimento de
conhecimentos fragmentados.
Sua afirmação se voltava para a educação básica:
Aprendemos na escola muitos conceitos, muitos conhecimentos, mas todos
dispersos. Precisamos desenvolver um modelo educacional que ligue esses
conhecimentos, que os coloque na perspectiva. As escolas acumularam saberes,
mas não são capazes de organizá-los. (JORNAL O GLOBO, 2014, p. 35).
No entanto, sua magnitude atinge o ensino superior, que, no Brasil, especializa e fortalece a
fragmentação característica dos ensinos fundamental e médio.
As grades curriculares dos cursos de graduação em canto em instituições de ensino
superior brasileiras fazem uso da teoria dos sistemas4 para definir as disciplinas e os
conteúdos a serem observados pelos alunos durante sua vida acadêmica. Essas definições
sofrem variações5 influenciadas por questões que vão desde limitações na formação dos
docentes a entendimento político da possibilidade de atuação futura dos alunos, passando
por influência internacional, disponibilidade de recursos e restrições legais, e influenciarão
posteriormente as possibilidades de atuação e de reflexão destes alunos por ocasião de sua
vida profissional.
De acordo com Moshe Feldenkrais (1977), cada indivíduo constrói sua auto-imagem
ao longo de sua vida, influenciado por seu modo de agir. O modo de ação de cada um pode
ser modificado com mudanças na natureza de suas motivações e na mobilização de todas as
partes do corpo a elas relacionadas.
Apesar da indicação de Feldenkrais em si já ser uma fragmentação – uma vez que
seu conceito de auto-imagem é decomposto em quatro elementos (movimento, sensação,
sentimento e pensamento) com propósito didático, – ela se configura como uma
oportunidade de observação do detalhe para alcançar o todo, e, a opção pela sua indicação
4 Um sistema é uma coleção ou agregado de qualquer coisa que mantém entre si relações, das quais surjam
propriedades coletivas ou partilhadas. 5 Em nossa realidade todos os sistemas são abertos, ou seja, têm propriedades que variam no tempo.
6
neste texto tem propósito de indicar que a insistência no pensamento é a fragmentação
primordial que afasta os currículos dos cursos de graduação em canto da essência corpórea
(movimento e sensação) daquele que estuda canto e do cantar (modo de ação em questão).
O estado6 de cada curso de graduação em canto é diferente dos demais. Num
levantamento das disciplinas obrigatórias de grades curriculares dos cursos de graduação em
canto (bacharelado) de treze instituições de ensino superior brasileiras (três particulares e
dez públicas em 2013 e 2014) foi possível encontrar apenas duas disciplinas comuns: canto
(com variação de nomenclatura: canto e formação específica), marcado em amarelo nas
tabelas a seguir, e percepção musical (com variação de nomenclatura: percepção, percepção
musical, leitura à primeira vista, treinamento auditivo e teoria, linguagem e estruturação
musical, morfologia musical – teoria e percepção musical e introdução à percepção musical),
marcado em laranja nas tabelas abaixo.
Cinco cursos de graduação em canto oferecem disciplinas obrigatórias diretamente
relacionadas ao treinamento do corpo para cena (expressão corporal, interpretação cênica,
laboratório de performance, fundamento das práticas corporais, consciência corporal em
performance musical e prática de performance), marcado em verde escuro nas tabelas que
indicam as disciplinas; e seis cursos oferecem disciplina obrigatória relacionada com o
conhecimento do funcionamento do aparelho fonador (fisiologia da voz, fisiologia da voz e
dicção vocal, fisiologia vocal prática e fisiologia da voz teoria), indicada em verde claro nas
mesmas tabelas.
Grades curriculares de cursos de graduação em canto em instituições de ensino
particulares:
Conservatório Brasileiro de Música
– CBM (RJ)
Faculdade Santa Marcelina –
FASM (SP) Universidade Cruzeiro do Sul (SP)
Análise musical Análise Análise musical
Atividades complementares Antropologia filosófica Antropologia
Canto Atividades complementares Canto coral
Canto coral Canto Contraponto
Cultura popular brasileira Canto coral Diversidade étnico-cultural
Dicção Contraponto Estética musical
Estética
Elementos da linguagem
musical Estudos dirigidos
Expressão corporal Estética Filosofia
Harmonia funcional
Fisiologia da voz e dicção
vocal Formação específica
6 Estado de um sistema é a coleção das intensidades das suas qualidades em um momento.
7
Harmonia tradicional Harmonia
Fundamentos de regência instrumental e
coral
História da música História da música Harmonia
Iniciação científica Informática História da música brasileira
Interpretação cênica Instrumento complementar História da música popular brasileira
Introdução percepção musical Laboratório de performance
História da música: das origens ao
barroco
Leitura a 1ª vista e solfejo Metodologia de pesquisa
História da música: do classicismo ao
romantismo
Música de câmara Monografia História das artes
Percepção musical Música contemporânea LEM - linguagem e estruturação musical
Piano em grupo Percepção Linguagem brasileira dos sinais
Prática vocal Prática de grupo Língua portuguesa
Repertório Produção musical Metodologia de pesquisa
Seminários de interpretação |
pesquisa de repertório
Temas da cultura
contemporânea Música de câmara
Técnicas de redação
Música e contemporaneidade
Teoria geral da música
Música e tecnologia
Orquestração
Percepção musical
Rítmica
Sociologia
Grades curriculares de cursos de graduação em canto em instituições de ensino
públicas:
Universidade
Federal do Rio
Grande do Sul -
UFRGS (RS)
Universidade
Federal do
Estado do Rio
de Janeiro -
UNIRIO (RJ)
Universidade
Federal da Bahia
- UFBA (BA)
Escola de Música e Belas
Artes do Paraná -
EMBAP (PR)
Universidade do Estado
de Minas Gerais -
UEMG (MG)
Análise musical
História da
música Canto Acústica musical Análise musical
Canto
Análise
musical
Estágio
curricular Antropologia cultural Antropologia cultural
Canto coral
Análise
musical
avançada
História da
música Dicção lírica Canto coral
Contra-
ponto Canto
Introdução à
pesquisa
Didática musical -
didática geral Canto
Fisiologia da voz Canto coral
Literatura e
estruturação
musical
Didática musical -
técnicas de ensino do
instrumento - canto
Consciência corporal
em performance
musical
Fundamen-
tos da música Dicção Literatura vocal Estágio supervisionado Contraponto
Harmonia
Expressão
corporal Monografia Filosofia da arte
Elaboração de projeto
de TCC
História da música
Fisiolo-
gia voz
Percepção
musical Fisiologia vocal prática Estética musical
História da música
brasileira
Harmo-
nia
Piano
suplementar Fisiologia vocal teoria Fisiologia da voz
8
Iniciação à
pesquisa Interpretação
Prática de
conjunto: canto
coral
Fundamento das práticas
corporais
História da música
barroca
Laboratório de
execução vocal
Música de
câmara
Prepração de
recital
Fundamentos das línguas
estrangeiras
História da música
brasileira a
Percepção musical Oficina canto
Princípios
práticos de
informática História música
História da música
clássica e romântica
Recital de
graduação
Oficina de
ópera
Instrumento canto
História da música da
antiguidade ao
renascimento
Teclado
complementar
Percepção
musical
Leitura à 1 vista
História da música dos
séculos XX e XXI
Técnica de
interpretação de
música de câmara Recital
Literatura musical -
literatura geral da música
Leitura à primeira vista
i
Repertório
vocal
Literatura musical -
literatura musical
brasileira
Leitura e produção de
textos acadêmicos
Literatura musical -
literatura musical do
século XX e
contemporânea Literatura do canto
Metodologia da pesquisa
científica
Metodologia da
pesquisa científica
Música de câmara Música de câmara a
Núcleo de ópera Percepção musical
Prática de repertório Piano complementar
Prática de performance
Prática do canto com
acompanha-
mento a
Sintaxe musical -
harmonia
Práticas em
performance musical
TCC TCC
Morfologia musical -
teoria e percepção
musical
Sintaxe musical -
fundamentos de análise e
apreciação musical
Universidade do Estado do
Amazonas - UEA (AM)
Universidade
Federal do Rio
Grande do Norte
- UFRN (RN)
Universidade
Federal do Rio
de Janeiro -
UFRJ (RJ)
Universidade de São
Paulo - USP -
Ribeirão Preto (SP)
Universidade de
São Paulo - USP -
São Paulo (SP)
Canto coral: técnicas de
expressão vocal Canto Canto Canto Análise musical
Análise interpretativa de
repertório
Apreciação
musical
Dicção e
pronúncia Canto coral Canto
Canto Canto coral
Fisiologia da
voz
Conceitos
fundamentais da
música Canto coral
Contraponto Fisiologia da voz
História da
ópera Contraponto Contraponto
Estética e história da arte Harmonia Oficina de ópera
Estética e história da
arte
Estudos de
repertório coral
9
Filosofia da arte MPB
Percepção
musical
Fundamentos da
acústica musical
Expressão corporal
para cantores
Folclore: etnomusicologia e
música latino-americana Percepção Piano b Harmonia
Fonética aplicada
ao canto
Harmonia
Prática de
conjunto Pratica vocal
História e estilo da
música
Fundamentos da
acústica musical
História e evolução da
música Recital
Recital de
formatura
Linguagem e
estruturação
musicais História da música
Língua inglesa instrumental
Montagem de ópera História da ópera
Linguagem e estruturação
musical
Música brasileira
História do
repertório coral:
criação,
interpretação e
recepção
Metodologia do trabalho
científico
Percepção musical Instrumento
Música brasileira
Piano complementar
Metodologia da
pesquisa em música
Organologia
Piano em grupo Montagem de ópera
Piano complementar
Prática de repertório
de canto Música brasileira
Prática de conjunto para
canto
Seminário de
introdução ao curso
e à profissão Percepção musical
Prosódia musical
Seminário de projeto
de pesquisa
Piano comple-
mentar
Recital de formatura
Seminário de projeto
de pesquisa
Prática de
repertório de canto
Redação e expressão oral
TCC
Repertório coral
brasileiro: música e
literatura
Regência coral
Técnicas da música
contempo-
rânea
Seminário de
execução musical i
Trabalho de conclusão de
curso
Tecnologia musical TCC
Essas propriedades se relacionam com as diretrizes curriculares propostas pelo
Conselho Nacional da Educação (CNE) da Câmara Nacional da Educação Superior (CES)
para cursos de graduação em música7, classificação em que os cursos de graduação em canto
se enquadram. A Resolução CNE/CES n.º 2, de 8 de março de 2004, estabelece como
grupos de conteúdo a serem seguidas por estes cursos:
7 Essas diretrizes são similares às diretrizes propostas para outras graduações brasileiras, claramente seguindo a
tradição filosófica ocidental que, de acordo com Hans Ulrich Gumbrecht, “...o cogito cartesiano fez a ontologia
da existência humana depender exclusivamente dos movimentos do pensamento humano.” (GUMBRECHT,
2013, p. 39). Apesar da indicação de que o currículo pleno da graduação em música deve abranger formas de
realização da interdisciplinaridade, não há menção a habilidade para experimentação, nem de conteúdo ligado
ao corpo
10
I - conteúdos Básicos: estudos relacionados com a Cultura e as Artes, envolvendo
também as Ciências Humanas e Sociais, com ênfase em Antropologia e Psico-
Pedagogia;
II - conteúdos Específicos: estudos que particularizam e dão consistência à área de
Música, abrangendo os relacionados com o Conhecimento Instrumental,
Composicional, Estético e de Regência; e
III - conteúdos Teórico-Práticos: estudos que permitam a integração teoria/prática
relacionada com o exercício da arte musical e do desempenho profissional,
incluindo também Estágio Curricular Supervisionado, Prática de Ensino, Iniciação
Científica e utilização de novas Tecnologias. (Conselho Nacional de Educação,
2004, p.2).
Os conteúdos indicados pelo CNE/CES se configuram como uma lista de
propriedades a serem apreendidas pelos alunos dos cursos de graduação em canto. Ao
mesmo tempo em que o CNE/CES pretende reconhecer a diversidade cultural brasileira,8
também propõe uniformização da formação superior e música no Brasil, indicando com
rigor os grupos de conteúdos e como devem ser abordados para a obtenção de um arcabouço
acadêmico imediatamente absorvível pelo exercício profissional.
O CNE/CES indica inclusive qual seria o exercício profissional pretendido:
educação, pesquisa e composição9. Cabe ressaltar que os grupos de conteúdo não são
passíveis de variação.
O inusitado da proposta do CNE/CES é a desvinculação dos três tipos de conteúdos
da porção humano-corpórea do cantor que iria usufruir dos benefícios desta formação.
Poderia ser argumentado que a indicação das propriedades se volta para a totalidade dos
cursos de música e que esta opção afastaria a percepção desta especialidade corpórea do
cantor. No entanto, à exceção dos cursos de composição, todas as habilidades possíveis de
graduações em música, instrumento, aqui incluído o canto, e regência, são iminentemente
corpóreos e, em grande medida, ainda exercidos diante de plateia.
A iminência corpórea da atividade dos músicos, a relação obrigatória com o público
e a relação possível entre os músicos quando em performance em todas as ocasiões
diferentes de gravações não é cogitada nas diretrizes determinadas pela Resolução
CNE/CES n.º 2/2004, que, ao contrário, prioriza o pensamento:
Art. 3º O curso de graduação em Música deve ensejar, como perfil desejado do
formando, capacitação para apropriação do pensamento reflexivo, da sensibilidade
artística, da utilização de técnicas composicionais, do domínio dos conhecimentos
relativos à manipulação composicional de meios acústicos, eletro-acústicos e de
outros meios experimentais, e da sensibilidade estética através do conhecimento de
estilos, repertórios, obras e outras criações musicais, revelando habilidades e
aptidões indispensáveis à atuação profissional na sociedade, nas dimensões
8 De acordo com a teoria dos sistemas, cada sistema é aberto por premissa, ou seja, se modifica ao longo do
tempo influenciado pelas condições a que estiver exposto. 9 A indicação de composição como exercício profissional pretendido pelo CNE/CES foi feita aqui em função
do estabelecimento da obrigação de utilização de novas tecnologias, em música, tecnologia musical se é termo
relacionado a música eletroacústica.
11
artísticas, culturais, sociais, científicas e tecnológicas, inerentes à área da Música.
(Conselho Nacional de Educação, 2004, p.2).
Claramente as diretrizes curriculares propostas para os cursos de graduação em
música ignoram a porção cênica da atuação dos músicos, que nem sempre tocam para
realização de gravações. John Cage (1961) tratou dessa situação, sob outro ponto de vista,
em seu livro Silence, quando afirmou “Elas [as obras mais recentes] são ocasião para
experiência e esta experiência não é recebida apenas pelos ouvidos, mas pelos olhos
também. Um ouvido sozinho não é um ser. Eu percebi ouvindo uma gravação.” 10
Nesta linha de pensamento, se uma apresentação musical oferece oportunidade de
experiência além da audição para o intérprete e para o público, também oferece para o
intérprete a necessidade de preparação em conteúdos que não são essencialmente musicais e
nem essencialmente relacionados ao pensamento.
Voltando o olhar para as diretrizes curriculares propostas pelo CNE11
para o curso de
teatro, obtém-se informação que considera a necessidade de formação que revele
competências e habilidades voltadas para o “domínio técnico e expressivo do corpo visando
a interpretação teatral” (Conselho Nacional de Educação, 2003, p.6) e “domínio técnico
construtivo na composição dos elementos visuais da cena teatral” (Conselho Nacional de
Educação, 2003, p.6). Além disso, de acordo com o CNE, os conteúdos curriculares deste
curso devem se relacionar com artes cênicas, música, cultura e literatura.
Esta situação das diretrizes curriculares para os cursos de graduação em música em
contraposição ao de teatro reflete a dualidade complementar “produção de
presença”/”produção de sentido” indicada por Gumbrecht (2013) como efeito da
tangibilidade espacial advinda da comunicação que não parece ser objeto de discussão no
CNE.
De acordo com Gumbrecht:
Ainda que possa defender-se que nenhum objeto do mundo pode estar, alguma
vez, disponível de modo não mediado aos corpos e às mentes dos seres humanos, o
conceito “coisas do mundo” inclui, nessa conotação uma referência ao desejo de
imediatez [...] Se atribuirmos um sentido a alguma coisa presente, isto é, se
formarmos uma ideia do que essa coisa pode ser em relação a nós mesmos, parece
que atenuamos inevitavelmente o impacto dessa coisa sobre o nosso corpo e os
nossos sentidos. [...] o que este livro defende é uma relação com as coisas do
mundo que possa oscilar entre os efeitos da presença e efeitos de sentido. No
10
Versão da autora para “They are occasions for experience, and this experience is not only received by the
ears but by the eyes too. An ear alone is not a being. I have noticed listening to a record.” (CAGE, s/d, 31).
11
O Parecer CNE/CES 0195/2003 trata dos cursos de graduação em música, dança, teatro e design.
12
entanto, só os efeitos de presença apelam aos sentidos.” (GUMBRECHT, 2013,
p.13-5).
Os conteúdos curriculares indicados pelo CNE consideram a atribuição de sentidos e
estimulam sua discussão indo além dos limites puramente musicais e artísticos, alcançando
as ciências humanas. No entanto, a presença e seus efeitos sobre o corpo e seus sentidos foi
ignorada.
Ao se considerar que uma performance musical se relaciona com questões espaciais,
que geram impacto nos corpos humanos dos performers e do público, que vão além do
sentido, a presença se apresenta como elemento constitutivo fundamental da prática musical
No esquema acima, o texto12
foi indicado como passível de se relacionar tanto com o
universo do sentido quanto com o da presença. Essa indicação foi proposital, posto que há
elementos de sentido advindos de várias origens, inclusive, e exemplificando, do texto
literário que também pode fazer parte da performance do cantor.
Nesse contexto, o texto literário pode propor tanto elementos de sentido, quanto de
presença, de acordo com Gadamer, citado por Gumbrecht: “Não cantamos o texto? Será que
o processo pelo qual o poema fala só deve ser conduzido por uma intenção de sentido? Não
existe ao mesmo tempo uma verdade na sua performance...?” (GUMBRECHT, 2013, p.89).
O reducionismo proposto pelo CNE, que define a grade curricular por propriedades
que relacionam cultura e artes com ciências humanas e sociais e conhecimentos específicos,
12
Além do proposto neste esquema, texto é toda informação que possa oferecer sentido aos intérpretes e ao
público. Assim, texto pode ser texto literário, cenário, iluminação, vestuário, citações musicais, harmonia,
encadeamentos harmônicos, gestos, tudo que possa ser entendido como oportunidade de sentido e por
complementaridade, por conta da dimensão de tangibilidade da performance, de presença.
Sentido – texto
Presença - qualidade da performance que faz uso de Corpo do intérprete
MAS
Seus efeitos apelam aos sentidos
Corpo do outro (público, outro intérprete)
13
propondo integração com o universo profissional, já indicando obrigação pedagógica,
provoca limitações de experiências de conhecimento e afasta o estudante do
experimentalismo que poderia levar à modificação das próprias práticas artísticas.
Como reflexo desta percepção pode-se constatar que, entre as treze instituições de
ensino superior de canto pesquisadas há pequena oferta de disciplinas obrigatórias13
que
tratam do universo do corpo humano, tanto em seu aspecto de presença, quanto de sentido:
cinco oferecem disciplina expressão corporal (variações de nomenclatura foram
consideradas: expressão corporal; expressão corporal para cantores; fundamentos das
práticas corporais; e consciência corporal em performance musical) e sete instituições
sequer mencionam fisiologia da voz.
Induzindo ao entendimento de que, no Brasil, a expressividade do corpo e o
conhecimento de seu funcionamento em detalhes não é objeto de estudo regular, mas
resultado de talentos ou histórias pessoais, independente da grandiosidade do teor
cênico/performático do trabalho do cantor e de sua essência corpórea.
A situação descrita se configura como exemplo de “inteligência cega” termo adotado
por Morin para indicar que especialização, neste caso, a formação acadêmica em canto, leva
à busca pela simplificação, por parte do regulador (CNE/CES) que fixa
diretrizes/propriedades, que trazem em si o afastamento da visão global da realidade: uma
lacuna na formação acadêmica dos cantores, que se configura justamente como o
acirramento da indicação de importância do intelecto (sentido) em relação ao corpo
(presença), seguindo a oposição cartesiana mente - corpo. Sem falar em direcionamento
artístico que afasta a prática do cantor do experimentalismo/criatividade, aproximando-a da
repetição/virtuosismo.
Ou, no dizer de Plastino (1996), trata-se de um deslumbramento moderno com a
possibilidade racionalista de revelar o mundo por meio da redução à simplicidade de leis
constitutivas, ou máquinas matematicamente elaboradas, que exclui a complexidade do real.
Real este que se aprofundaria na medida em que se acirrassem experiências, vivências e os
desdobramentos de todos os cantares.
No entanto, contrariando este reducionismo, a experiência artística que os cantores
oferecem ao público é oportunidade de experimentação dos quatro elementos constitutivos
da auto-imagem: movimento (do próprio corpo e dos corpos e objetos envolvidos na
13
Algumas instituições de ensino oferecem disciplinas eletivas ou optativas que se afastam do universo
estritamente musical, sem se aproximar das ciências humanas e sociais, como: libras (FASM e UFRGS); e
preparação para palco e performance (UFRN)
14
performance14
); sensação (do próprio corpo e dos corpos do público), sentimento (do
público em relação à obra de arte) e pensamento (dos intérpretes e do público).
14
Por performance entende-se aqui o momento único da realização da obra de arte, que conjuga tempo e
espaço, interpretação e assistência.
15
Como se faz
Quem não se atira, é atirado antes Hermeto Pascoal
O conceito de música de câmara, independente da instrumentação, traz a ideia de
performance em ambiente íntimo. Trata-se de um pressuposto espacial histórico que faz
referência à sua realização em lugar alternativo aos usuais teatros e igrejas de alguns séculos
atrás. Atualmente, esse tipo de música ocorre em teatros e igrejas, suas características mais
fortes são o número limitado de intérpretes e a sofisticação da interpretação.
Há várias possibilidades de instrumentação para recitais de música de câmara que
incluam voz, no entanto, o mais comum ainda é a tradicional dupla canto e piano.
A interpretação de qualquer instrumento musical requer conhecimentos técnicos que
envolvem a relação do corpo com o instrumento e como essa relação influencia na
sonoridade. Essa relação é construída diariamente, ao longo de anos, por meio da repetição
de exercícios próprios.
Existe uma série de regras que favorecem o desenvolver desta relação: postura ereta;
posicionamento de braços, pulsos, mãos, dedos, lábios, pescoço; estar de pé ou sentado;
posicionamento de pernas, pés; angulações, tensões e relaxamentos. Várias escolas de
técnica determinando a melhor maneira de posicionamento de cada parte do corpo de forma
muito sofisticada visando determinada sonoridade; agilidade; força; ou outra qualidade, de
forma eficiente para diferentes estilos musicais.
A performance de um corpo influenciado pelo encontro com um instrumento musical
é interessante e expressiva pelos movimentos envolvidos durante o fazer musical.
E o corpo do cantor na música de câmara? Não há como negar que a relação de um
cantor com seu corpo expressivo difere da de um instrumentista, apesar de também estar
sujeito aos limites impulsionadores técnicos próprios da música.
Mas a questão da presença afeta o cantor de forma diferente do instrumentista. No
palco, mesmo em recitais intimistas como é o caso da música de câmara, a demanda por
interpretação do cantor é similar a de um ator.
16
O cantor precisa construir relação com o espaço e com o público que o assiste, que
não se contentaria em observá-lo absorto em si, ou permitindo uma neutralidade funcional
que previsse apenas movimentos estritamente relacionados com a respiração e com a
emissão vocal.
Afinal, mesmo a proposta de estar presente em um evento primordialmente
relacionado com a audição, oferece ao público a oportunidade de experimentar a dualidade
sentido-presença, não em oposição, mas em complemento, como sugerido por Cage (19--)
quando afirmou que um ouvido sozinho não é um ser.
No entanto, as pesquisas de Rudolf Laban sobre análise, pesquisa e notação de
movimento, sua repercussão, possibilidades de utilização e benefícios são pouco discutidos
pela comunidade musical, apesar de grande parte da sua atuação consistir em performances
diante de público.
A utilização do Sistema Laban na formação de cantores, tendo em vista a pesquisa de
movimentos expressivos, se apresenta como alternativa à oposição mente-corpo / sentido-
presença pela sua abrangência. De acordo com Ciane Fernandes (2006):
As explorações propostas por Laban/Bartenieff nas categorias Corpo -
Expressividade – Forma – Espaço constituem uma estrutura que prepara e conecta
o corpo, mente, as emoções para qualquer atividade, até mesmo para pegar um
ônibus, ir a uma entrevista ou fazer uma pesquisa bibliográfica. (FERNADES,
2006, p.40-1).
Barbara Adrian (2008) vai além ao afirmar que as oportunidades que Laban teve de
observar movimentos realizados durante rituais religiosos o levou a acreditar no potencial
mágico do movimento e no espiritual como elemento extracorpóreo do movimento15
.
A produção da voz humana resulta dos movimentos inerentes à respiração, que
apesar de involuntários, acontecem enquanto o corpo estiver vivo. De acordo com Adrian,
Em alguns níveis, este processo é apenas funcional, o que significa que a
“mecânica” da respiração, fala e movimento deve refletir uma relação harmoniosa
entre os músculos responsáveis pela ação. Você não vai atingir o seu potencial
criativo a não ser que as suas habilidades funcionais suportem os seus impulsos
expressivos. No entanto, o caminho oposto também é possível. Enquanto você
experimenta os poderes expressivos do som e do movimento, você vai desenvolver
esta funcionalidade16
. (ADRIAN, 2008, p.23).
15
“Sensitizing the body to be receptive to inner and outer forces of energy, which Laban believed could lead to
psychic experiences, was prevalent throughout his work. But also present was an effort to balance the
practical with the spiritual”. (ADRIAN, 2008, p.4). 16
Versão da autora para “To some degree, this process is purely functional, meaning that the mechanics of
breathing, speaking, and moving must reflect a harmonious relationship among the muscles responsible for the
task. You will not realize your creative potential unless your functional skills can support your expressive
impulses. However, the reverse is also true. As you explore the expressive powers of sound and movement,
you will also be improving your functionality”. (ADRIAN, 2008, p.23).
17
Stanley Keleman (1992) afirma que o corpo todo se envolve na respiração e, em
concordância com Adrian, apesar de não se referir à criatividade ou expressividade, sustenta,
citando atividades esportivas, que “...todos os exercícios são úteis, pois aumentam a
sensibilidade geral e nos preparam para outras atividades.” (KELEMAN, 1992, p.63).
Adrian lembra que, apesar da utilização eficiente dos músculos durante a respiração
ser uma questão funcional, existe uma interdependência entre funcionalidade e
expressividade, o que faz com que conhecimentos de anatomia sejam interessantes no
treinamento para atuação.
É possível abordar a respiração a partir de vários pontos de vista, mas não é possível
se abster de entendê-la como um sistema que se relaciona com troca de gases no sangue
(conectando o corpo com que lhe é exterior: o ar); ou ignorar a atividade do diafragma
torácico/abdominal; e a solidariedade (ou conexão) entre este e outros músculos, tendões,
nervos, órgãos e ossos, englobando a totalidade do corpo.
Keleman, quando discorre sobre respiração, fala sobre cinco diafragmas:
1. Cerebral (camadas do crânio, duramáter e ossos), que “...estende-se pelo forame
magno até o sacro, pelo revestimento crural da medula.”17
(KELEMAN, 1992,
p.45);
2. O segundo, ainda no crânio (membrana de duramáter, expansão do tronco cerebral,
revestimento da medula espinha e músculos occipitais) regulando a pressão interna
da cabeça;
3. Assoalho do cérebro (língua, palato, céu da boca, músculos naso-faringeanos, glote,
ossos hióide, esterno-hióide e omo-hióide e músculos da clavícula) que regula
pressão na traqueia e ajuda na manutenção da postura ereta;
4. Diafragma torácico/abdominal que separa o tórax do abdômen; e
5. Diafragma abdominal/pélvico (teto do diafragma, coluna lombar, ligamento, psoas,
ilíaco e assoalho pélvico) que opõe força descendente da pressão interabdominal que
ocorre com a inspiração).
17
Keleman constrói sua aproximação do corpo humano abordando sua formação por tubos que se relacionam,
a medula é indicada aqui por sua característica de tubo.
18
Figura 1: Posicionamento dos cinco diafragmas
(Keleman, 1992, p.59).
Peggy Hackney (2002), quando trata de respiração, propõe outra aproximação,
fortalecendo a ideia de conexão entre as partes alta e baixa do corpo, para evitar o
entendimento de respiração atrelada apenas aos pulmões.
De acordo com Hackney, a entrada do ar nos pulmões só é possível devido à
atividade muscular integrada da parte baixa do tronco: o diafragma, músculo que por seu
formato de abóboda e sua posição (abaixo dos pulmões e do coração, ao mesmo tempo
acima da cavidade abdominal), divide o tronco; e o psoas, que conecta as pernas às costelas
(funcionando como flexor do fêmur, elemento importante na manutenção da postura ereta e
integrante do assoalho pélvico) entremeado ao diafragma. Estes dois músculos integrados
funcionam como central core18
.
18
Central Core é um conceito fundamental no Sistema Laban, este termo foi traduzido como Centro do Corpo
por Lenira Rengel (2001) em “Dicionário Laban”. No sistema Laban, toda a conceituação espacial parte do
Centro do Corpo, de acordo com Rengel, “A região do umbigo forma o centro de dois outros centros, também
muito experienciados no método Laban: cintura pélvica e cintura escapular.” (RENGEL, 2001, p.36). Rengel
se refere a essas duas cinturas como centro de gravidade e centro de leveza, Hackney fala em parte alta e parte
baixa do corpo, aprofundando o assunto tratando das relações musculares. Lisa Billingham (2009) quando fala
da importância da realização do movimento a partir do centro informa didaticamente que “...neurologicamente,
as pessoas se movem a partir do centro em direção às extremidades do corpo. Existem seis extremidades: dois
braços, duas pernas e duas terminações da coluna vertebral (cabeça e cauda). A ênfase neste padrão visa
assegurar que todas as seis extremidades se movimentem em direção e partindo do centro”. Versão da autora
para “...neurologically, humans move from their core to their distal edges. There are six distal edges: two
arms, two legs, and the two ends of the spine (head and tail). The emphasis in this pattern is to be sure that all
six limbs can move in toward and out of the core”. (BILLINGHAM, 2009, p.15).
19
Ainda mais interessante é o fato das fibras musculares desta abóboda
irradiarem do seu ápice para se ligar às cartilagens costais, nas costelas flutuantes,
no arco costal e mais para baixo ainda, na terceira e quarta vértebras lombares. Ou
seja, o diafragma se conecta com a pelve. Neste processo, suas fibras se cruzam,
como dedos, com as fibras do músculo psoas e outros músculos que formam a
parede muscular interna do abdômen, como o quadrado lombar. Como o psoas
maior conecta o trocanter menor do fêmur com a vértebra lombar atravessando
todo o caminho até a 12ª vértebra torácica (na altura da última costela), ele não é
apenas um músculo da parte baixa do tronco, mas também é (a exemplo do
diafragma) um músculo do central core. O psoas é a ligação das pernas com a
espinha e pode formar uma "cadeia cinética" com o diafragma para integrar as
atividades das partes alta e baixa do corpo através da respiração. (HACKNEY,
2002, p.62-3)19
.
Figura 2: Relação entre os músculos diafragma e psoas (HACKNEY, 2002, p.63).
Dennis Lewis (1997), quando discorre sobre a influência negativa do sistema
nervoso simpático, em função do estresse e emoções negativas, sobre o diafragma (e por
consequência sobre a respiração), faz questão de mencionar que a motilidade do diafragma
“...é também adversamente influenciada pela tensão supérflua a que submetemos músculos,
tendões e ligamentos, bem como pela configuração pouco favorável da estrutura do
esqueleto” (LEWIS, 1997, p.39). Ressaltando que “...o diafragma sofre a influência da
saúde e da motilidade da coluna, da pélvis e dos músculos a elas ligados, os quais, por sua
19
Tradução da autora para “Even more interesting is the fact that the muscle fibers of this dome radiate out
from its apex to attach to the costal cartilages, the lower ribs (11 and 12), the costal arch, and even as far
down as the 3rd and 4th lumbar vertebrae (by means of the crura). Thus, the diaphragm connects far down
into the pelvic basin. in this process, its fibers interdigitate, like fingers crossing through one another, with
fibers of the psoas muscle and other muscles which form the internal muscular wall of the abdomen such as the
quadratus lumborum. Since the psoas major connects the lesser trochanter of the femur with the lumbar
vertebrae traveling all the way up to the 12th thoracic vertebrae (level of the lowest rib), it is also not simply a
"lower body" muscle, but is also (like the diaphragm) a muscle of the "central core". The psoas is a link from
the legs to the spine and can form a 'kinetic chain" with the diaphragm to integrate upper and lower body
activity through the breath”. (HACKNEY, 2002, p.62-3).
20
vez, sofrem a influência não só de nossa postura comum como também de nossas atitudes e
emoções”. (LEWIS, 1997, p.40).
Voltando à primeira indicação de Keleman, que faz referência ao fato do diafragma
cerebral se estender pela medula até o sacro, as tentativas de controle voluntário da
respiração (que é um sistema involuntário, ou semi voluntário) e seus reflexos de hiper ou
hipoventilação influenciando cérebro, coração e intestinos; ou ainda de estados de
consciência alterados (como na meditação ou em alguns rituais religiosos) confirmam a ideia
de corpo todo envolvido com a respiração. Sugerem também a ideia da respiração
funcionando como conexão do corpo com o universo fortalecendo a proposta de olhar
holístico20
sobre o corpo.
Figura 3: Influência da respiração no corpo segundo a visão constitutiva por tubos de Keleman
(KELEMAN, 1992, p.61).
Ou seja, no dizer de Keleman:
“Para nos controlarmos, precisamos controlar nossa respiração. Os três
centros cerebrais - o cortical-voluntário, o talâmico-emocional e o tronco cerebral-
cerebelo - correspondem a regulagem da respiração. Sem respiração, não há
oxigenação. Sem oxigenação, não há calor. sem calor não há vida. Sem vida, não
há força. Sem força, não há espírito. É por isso que o coração, o cérebro e a
respiração estão tão intimamente ligados". (KELEMAN, 1992, p.62).
Quando se fala em canto, a respiração, apesar da sua grandiosidade, passa a ser vista
como parte de um sistema que permite a emissão vocal, ou seja, “a expiração se torna
20
Holismo aparece aqui como entendimento do ser humano em sua totalidade, abarcando o corpo em sua
totalidade, percebendo seus detalhes e articulações entre eles, evitando fragmentações: “Procura juntar para
conhecer. Enfatiza o físico, mas intimamente inter-relacionado com a mente, a consciência, o espírito e com as
energias do universo”. (TEIXEIRA, s/d, p.5).
21
sinônimo de fonação” (MARIZ, 2013, p.48). Em muitas aulas de canto, a referência que se
faz à respiração é literalmente de apoio.
Joana Mariz (2013) explica esta situação com clareza, quando discorre sobre o
modelo fonte-filtro desenvolvido por James Flanagan: “a respiração desempenha o papel de
geradora de energia para o sistema formado entre a fonte, isto é, a fonação, e o filtro, isto é,
a articulação”. (MARIZ, 2013, p.42).
Como toda esquematização, esta simplificação afasta o estudo do canto da
possibilidade não só de construção da auto-imagem defendida por Feldenkrais, como da
pesquisa entre as relações que se constroem no próprio corpo.
Figura 4: Extensões da respiração (KELEMAN, 1992, p.61).
Este texto não pretende tratar de técnica vocal para o canto, mas do corpo expressivo
durante o canto como dimensão de presença em performances musicais e de como os
estudos de Rudolf Laban podem ser utilizados por cantores de música de câmara21
com
intuito de aprimorar suas performances na direção da oposição complementar sentido /
presença.
As teorias desenvolvidas por Laban agregam elementos de sentido e presença, seu
sistema pode ser aplicado no treinamento de cantores para o palco da mesma forma como
21
Apenas por se tratar do foco desta pesquisa, certamente cantores que se dediquem a outras especialidades
podem fazer uso das teorias de Laban, com esta aproximação, ou com outras, obtendo bons resultados.
22
vem sendo aplicado em outras áreas de conhecimento que reconhecem a importância do
movimento e de sua análise.
Este texto traz o resultado da pesquisa de movimento que envolveu apenas dois
aspectos da proposta de Laban: a análise simplificada do movimento (aplicada às
performances de duas canções brasileiras contemporâneas de câmara); e a pesquisa de
movimento (para outras duas)22
. A aproximação pretendida pela utilização destes dois
aspectos foi a de complementaridade, para verificar o tipo de influência dos aspectos de
produção de sentido na produção de presença.
Labanálise [LMA]: Expressividade/Forma é um método sistemático de
observação, registro e análise dos aspectos qualitativos do movimento corporal. A
qualidade do movimento pode ser pensada em termos de “como” um movimento é
realizado. Responde a questões do tipo: Como Jane saiu da cadeira? Ela foi
rápida e forte em sua qualidade de movimento? Talvez ela tenha se jogado para
fora da cadeira com uma qualidade pesada? Veio de um impulso central ou com
contratensões espaciais nos membros? (...) O movimento começou no torso que é a
área central do corpo? O movimento começou nas mãos que é uma área periférica
do corpo? (COHEN, 1978 apud FERNANDES, 2006, p.35).
A principal característica da LMA é a possibilidade de registro das qualidades do
movimento em diferentes níveis de aprofundamento.
Análise da canção “Amor em lágrimas”
“Amor em lágrimas” é a segunda canção do ciclo de câmara “Três Canções
Populares” de Cláudio Santoro (1919 – 1989) para voz média e piano.23
Com poesia de
Vinícius de Moraes (1913 – 1980), esta canção foi composta em 1957, em Leningrado e
editada por Edition Savart.
De acordo com José Hue (2001), Cláudio Santoro e Vinícius de Moraes se
encontraram em Paris em 1957/8, ocasião em que lá viviam e estavam apaixonados (Santoro
por Lia, a quem dedicou algumas canções, e Moraes por Lucinha Proença, a quem dedicou o
poema “Para viver um grande amor”). Santoro forneceu a Moraes uma procuração, por
meio da qual autorizava Moraes a tratar de seus interesses junto à editora Ricordi de São
Paulo relacionados a quatro canções, entre elas “Amor em lágrimas”, que na ocasião
apresentava apenas linha melódica com indicação de acompanhamento.
Ou seja, a melodia desta canção foi composta sem preocupação com as palavras que
viriam a fazer parte dela. Outra qualidade importante deste processo composicional é a sua
22
No próximo capítulo: “Respirando e ouvindo”. 23
A primeira versão da música foi para voz e violão.
23
aproximação do universo popular, não só pela estética “sofisticação coloquial” indicada por
Wladimir Mattos (2006), como pela parceria experimentada por Santoro e Moraes naquela
ocasião24
.
Ainda de acordo com Mattos, “Amor em lágrimas” e outras canções foram gravadas
com voz acompanhada por violão “...à maneira popular, com maior liberdade interpretativa
(…) com resolução improvisada” (MATTOS, 2006, p.86), o resultado, no entanto, não foi
divulgado por não ter agradado os autores.
Sobre o Texto
Ouve o mar que soluça na solidão Ouve, Amor, o mar que soluça Na mais triste solidão. E ouve, Amor, os ventos que voltam Dos espaços que ninguém sabe Sobre as ondas se debruçam E soluçam de paixão. E ouve, amor, no fundo da noite, Como as árvores ao vento Num lamento se debruçam E soluçam para o chão. Deixa, Amor, que um corpo sedento, Como as árvores e o vento, No teu corpo se debruce E soluce de paixão.
A poesia de Vinícius de Moraes faz uso de elementos da natureza para definir o
ambiente de sofreguidão e desejo relacionado à paixão amorosa e para sugerir/propor o ato
sexual, pela repetição dos termos que indicam movimento (debruçar) e som (soluçar).
O texto se organiza em quatro estrofes todas terminadas com -ão-.
Sobre a música25
24
Entre 1957 e 1960, Claudio Santoro e Vinícius de Moraes experimentaram parceria em três ciclos de
canções: “Canções de amor, série 1”, “Três canções populares” e “Canções de amor, série 2”. A prática de
parceria não é usual entre compositores de música erudita. 25
Foi possível localizar duas dissertações que incluíram a análise musical de “Amor em lágrimas” em seus
trabalhos: “Processos de criação musical”, defendida por Michelle Botelho da Silva Salgado (2010); e “Análise
rítmico-prosódica como ferramenta para a performance da canção: um estudo sobre as canções de Claudio
Santoro e Vinícius de Moraes”, defendida por Wladimir Contesini de Mattos (2006), ambas na UNESP.
24
A canção é composta por 48 compassos divididos em ritmo quaternário, com
indicação andante para o andamento em que a semínima é a unidade de tempo, a tonalidade
é si menor com modulação para si bemol menor.
A partitura se limita a indicações musicais, oferecendo liberdade de interpretação aos
intérpretes, por se abster de indicações de expressividade (intensidade, fraseado para a voz,
rubattos, acentuações), se limitando a um molto rallentando final e ao fraseado do piano.26
A organização da relação voz e piano transcorre sem novidade que vá além das já
mencionadas: o piano faz na introdução (quatro primeiros compassos) a apresentação do
tema a ser desenvolvido pela voz a partir do quinto compasso.
Ao fim da terceira estrofe da poesia, há um interlúdio só para o piano no tom de si
bemol menor. Quando a voz retorna, a tonalidade volta para si menor.
A parte do piano se caracteriza por acordes arpejados na mão esquerda e ligeiro
reforço da melodia realizada pela voz com terceiras batidas na mão direita.
Ao final da canção, há uma coda para o piano, de textura diferente do que foi
apresentado anteriormente. Após a respiração indicada pela vírgula, a movimentação
diminui alterando a textura, este recurso antecipa a intenção do molto rallentando e
diminuendo finais.
Seções Compassos Estrofe Instrumentação
Introdução 1 a 4 - piano
A (antecedente) 5 ao 12.3 1a. voz e piano
A' (consequente) 12.4 ao 20.3 2a. voz e piano
A' 20.4 ao 28 3a. voz e piano
Interlúdio 29 ao 36.3 - piano
A' 36.4 ao 44.3 4a. voz e piano
Coda 44.4 ao 48 - piano
Na organização das frases musicais, a palavra “ouve” que inicia as três primeiras
estrofes da poesia, surge em duas propostas rítmicas diferentes:
1. No início da parte da voz, em ritmo tético, afirmativo e, além disso, firmando a
tonalidade menor pela escolha da 3ª da escala (esta e a única utilização de início
tético nas frases para voz); e
2. No início da segunda frase da primeira estrofe e no início das segunda e terceira
estrofes da poesia, a opção foi por início anacrústico acompanhado pela adoção da 26
Também não oferece qualquer orientação de movimentação expressiva para os intérpretes.
25
conjunção -e- em elisão ao verbo: “e ouve”, conduzindo, em elisão, à outra palavra,
“amor”.
Sobre a performance
A performance analisada neste trabalho está disponível em
<https://www.youtube.com/watch?v=9tp6LnGjgN4>. Há informação de que foi postada
pela própria intérprete27
da obra no video, a cantora Malu Mestrinho, ao piano, Marcus
Medeiros, e que a performance ocorreu em novembro de 2009 no Teatro Glauce Rocha, em
Campo Grande (MS).
Trata-se, portanto, de versão reconhecida e divulgada pela própria cantora.
Malu Mestrinho é meio soprano, professora de canto da Universidade Federal de
Campina Grande (UFCG), com atuação tanto em ópera quanto em música de câmara (na
ocasião da realização desta gravação, Malu Mestrinho e Marcus Medeiros eram professores
da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS)).
A gravação dura 2 minutos e 41 segundos, a câmera de vídeo foi posicionada a
direita do palco, provavelmente italiano, sendo visíveis: as costas e as mãos do pianista, o
teclado e a partitura na estante do piano de quarto de cauda. Não é possível ver o público, as
costas do pianista que se veste de preto e o piano da mesma cor se confundem com o pano
de fundo e as laterais do palco. A cantora usa vestido de alças, em tom terroso, longo,
esconde seus pés.
Não há qualquer comunicação verbal com o público, que permanece em absoluto
silêncio durante toda a performance28
. A iluminação única com foco nos intérpretes.
Análise inspirada na “Folha codificada simplificada para LMA”29
A “Folha codificada simplificada para LMA” divulgada por Ciane Fernandes parte
da impressão geral proporcionada pela situação observada para o observador, permitindo
27 Em 1/4/2013. 28 Provavelmente todo o ciclo foi interpretado na ocasião, pois não há som de palmas. É habitual que as
palmas aconteçam apenas ao final da interpretação de ciclos. 29
Modelo divulgado por Ciane Fernandes (2006).
26
aprofundamento na qualidade que mais lhe chamar atenção dentro da relação entre as
categorias Corpo30
-Expressividade31
-Forma32
-Espaço33
.
A divisão desta proposta de análise em categorias, a exemplo da fragmentação do
conceito de auto-imagem em quatro elementos proposto por Feldenkrais, é uma
oportunidade de detalhamento de natureza metodológica com propósito de alcançar o todo,
“...as quatro categorias estão sempre presentes em todo movimento, porém com diferentes
graus de importância ou destaque.” (FERNANDES, 2006, p.36).
Os nomes das categorias do Sistema Laban são sempre escritos com letras
maiúsculas para favorecer sua identificação e diferenciação, quando da utilização da mesma
nomenclatura, porém relacionada a outros conceitos.
A observação desta performance foi realizada exclusivamente por meio de vídeo
divulgado pela internet e a sua análise foi iniciada em 10 de janeiro de 2015.
Em se tratando de obra composta originariamente como de câmara, os intérpretes,
tradicionalmente, devem restringir sua movimentação, a não ser que haja indicação contrária
na partitura. Em se tratando de obra para voz e piano, é de praxe que o cantor se posicione
próximo à curva da cauda do piano.
A cantora segue a tradição e se posiciona, sem realizar deslocamentos, na curva da
cauda do piano, esta opção faz com que seu corpo e seus movimentos tendam mais para a
30
A categoria Corpo indica “o que” se movimenta partindo, dentre outros conceitos, dos pressupostos
desenvolvidos por Irmgard Bartenieff, sem se restringir a eles:
“Respiração e as Correntes de Movimento
O Suporte Muscular Interno
A Dinâmica Postural
As Organizações Corporais e os Padrões Neurológicos Básicos (PNB)
As Conexões Ósseas
A Transferência de Peso para a Locomoção
A Iniciação e o Sequenciamento de Movimentos
A Rotação Gradual
A Expressividade para a Conexão Corporal
A Intenção Espacial” (FERNANDES, 2006, p.52). 31
A categoria Expressividade trata da maneira “como” o movimento é realizado. “A categoria Expressividade
refere-se à teoria e prática desenvolvidas por Laban, onde qualidades dinâmicas expressam a atitude interna do
indivíduo com relação a quatro fatores (dispostos na ordem de seu desenvolvimento na infância):
fluxo
espaço
peso
tempo [...]
Estas qualidades dinâmicas oscilam entre duas polaridades de cada fator...” (FERNANDES, 2006,
p.120). 32
A categoria Forma se relaciona com “com quem” se movimenta. “...refere-se a mudanças no volume do
corpo em movimento, em relação a si mesmo ou a outros corpos”. (FERNANDES, 2006, p.159). 33
A categoria Espaço faz referência a “onde” o movimento é realizado e envolve os conceitos de harmonia
espacial, cinesfera, alcance do movimento, padrão axial, formas cristalinas, percurso espacial e tensão espacial.
27
direita34
, onde o pianista se posiciona. A câmera de vídeo que registrou esta performance
foi posicionada à direita do palco, parece razoável imaginar que não se trate de coincidência,
mas de pretensão de registrar a movimentação das mãos do pianista sobre o teclado.
É provável que a cantora seja canhota, pois, na primeira parte da música, ela realiza
mais movimentos com o braço esquerdo do que com o direito35
.
Em se tratando das relações estabelecidas pelo corpo da intérprete, no âmbito da
categoria Corpo, ele se constrói ereto, neutro, com solidez própria de enraizamento em
relação ao chão.
Os gestos se configuram como movimentos para cima e retorno a posição inicial
realizados com braços e cabeça. O corpo se volta ligeiramente para a direita e retorna e para
o centro, há também ligeiro avanço.
Esta performance foi realizada em um teatro, a gravação, que não foi editada, foi
realizada com apenas uma câmera, e corresponde à situação exata de um recital, ocasião em
que cantores interpretam canções ao vivo para o público que, neste caso, imagina-se que
esteja sentado na plateia em frente ao palco. Ou seja, esta gravação exerce função de
registro de performance.
Neste caso, a cantora se dirige ao público, traz decorada a sua parte, oferece visão
total de seu corpo à plateia36
, o que influencia diretamente o fator espaço da categoria
Expressividade: a cantora se coloca em situação de multifoco, oferecendo sua atenção ao
pianista, ao som, ao ambiente, inclusive à câmera que realiza a gravação e ao público
presente.
Seu corpo inteiro se compromete com a proposta multifoco, apesar da tendência para
a direita37
.
O fator fluxo permanece controlado durante toda a interpretação da canção, não há
deslocamento no espaço, devido à opção por seguir a tradição de posicionamento na curva
do piano, os movimentos que se configuram como gestos são contidos, nenhuma tensão
34
Essa tendência para a direita pode se relacionar também à busca por comunicação com o pianista. Antes do
início da música, a cantora se posiciona com o corpo inteiro voltado para a direção do pianista, a posição
frontal em relação ao público só é alcançada durante a introdução interpretada pelo piano. 35
Alguns cantores tem o hábito de estudar direcionando o som da voz com movimentos do braço dominante. 36
Em muitas performances, cantores optam por cantar deixando a partitura disponível para consultas eventuais
durante a performance, ou até mesmo cantam lendo sua parte. Nestas ocasiões fazem uso de estantes para
partituras, que podem ser colocadas diretamente à frente do cantor, ou em diagonal. Nas duas situações, o
cantor ocupa o seu olhar com a leitura, mesmo que eventualmente, e afasta possibilidade de aprofundamento
do contato visual com o público. 37
Antes do início da música, quando a cantora se volta diretamente para o pianista, é possível observar um
breve momento de foco direto, no entendimento tácito entre os dois para iniciar a performance.
28
pode ser percebida, mas as restrições da música e até da opção pelo multifoco influenciam
na percepção do fluxo contido.
Em se tratando do fator peso, o que se observa é o enraizamento delicado, o tronco
forte e ativo, e, braços ativos e leves, seguindo a influência sonora da música.
No que se refere ao fator tempo, a constância é a tônica, é inegável a influência do
som sobre este fator e a canção segue do início ao fim sem alterações de andamento que
pudessem sugerir situação diferente de tempo constante. No entanto, na ocasião de
interpretação da última estrofe da música: “Deixa, Amor, que um corpo sedento, como as
árvores e o vento”, uma urgência na voz e no corpo da cantora pode ser percebida. Parece
que esta urgência foi influenciada pelo texto, pois se inicia em uma palavra que indica
necessidade fisiológica extrema: “sedento” e termina logo a seguir em “árvore”.
Esta urgência pode ser percebida como aceleração momentânea, pois já na próxima
palavra (“vento”), a cantora retorna ao tempo anterior.
É mais difícil falar sobre a categoria Forma nesta performance. No entanto, se
considerarmos a relação espacial criada pelo posicionamento do conjunto piano/pianista38
e
cantora, pode-se falar em Forma Básica (tridimensional) trazendo Pirâmide, cujo vértice
seria reforçado pela altura da cantora. Sua tridimensionalidade é reforçada pela
movimentação ascendente/descendente de braços e cabeça; pequenos avanços e recuos do
tronco da cantora; e fechando/espalhando na movimentação dos braços do pianista.
No que se refere à categoria Espaço, considerando exclusivamente a cantora, há que
se pensar no conceito de Formas Cristalinas desenvolvido por Laban a partir da ideia de
desenho do movimento, pela justaposição de dois elementos imateriais (o tempo e o
movimento) na materialidade dos poliedros.
Considerando as características da atuação da cantora (a opção pela frontalidade,
manutenção da postura ereta, o multifoco e o não deslocamento no espaço) seus gestos
trabalham dentro das possibilidades oferecidas pelas dimensões Vertical e Sagital, dentro da
da Forma Cristalina do Octaedro.
É interessante observar que o enraizamento do corpo e o tronco forte, ativo da
cantora não são percebidos como opostos à fluidez do som advindo deste corpo, ao
contrário, essas características favorecem o fraseado e a estabilidade da voz.
Sobre a confrontação entre sentido e movimento
38
A base da pirâmide se construiria no espaço ocupado por piano, pianista e cantora.
29
Não houve gestos descritivos das situações indicadas pelo texto. O que se pode
perceber, no entanto, é uma relação entre a emissão vocal e a movimentação dos braços. A
cantora movimenta os braços durante todo o seu cantar, com exceção do momento em que,
no início de sua performance, apresenta o tema (compassos 5 a 8).
Os gestos realizados e a própria música fluem leves e precisos, quase sem alterações
de andamento.
Análise da canção “Desafio”
A canção “Desafio” foi composta por Edino Krieger durante a década de 1950 a
partir de poema de Manuel Bandeira datado de 1938. O título da música, que repete o título
do poema, remete a uma tradição folclórica brasileira, que se caracteriza pela improvisação
acompanhada por instrumentos musicais.
Sobre o Texto
Não sou barqueiro de vela,
Mas sou um bom remador:
No lago de São Lourenço
Dei prova do meu valor!
Remando contra a corrente,
Ligeiro como a favor,
Contra a neblina enganosa,
Contra o vento zumbidor!
Sou nortista destemido,
Não gaúcho roncador:
No lago de São Lourenço
Dei prova do meu valor!
Uma só coisa faltava
No meu barco remador:
Ver assentado na popa
O vulto do meu amor...
Mas isso era bom demais
- Sorriso claro dos anjos,
Graça de Nosso Senhor!
Manuel Bandeira, autor desta poesia, foi um dos poetas brasileiros mais importantes
do século XX, suas poesias foram musicadas por diversos compositores. E, este poeta,
assim como o já citado Vinícius de Moraes, teve oportunidade de oferecer palavras a
30
melodia composta previamente em algumas ocasiões. De acordo com Luciano Marcos Dias
Cavalcanti (2009), Manuel Bandeira estudou música, se dedicando ao piano e violão:
Esta aproximação com a música pode ser vista também como um meio de
aproximação da tradição popular. A música, para o Bandeira, é um objeto usado
para construção de seus poemas, para isso o poeta fez uso de técnicas musicais na
estrutura dos poemas, buscando efeitos semelhantes aos da música. Unindo, assim,
as duas artes irmãs. (CAVALCANTI, 2009, p.37).
O texto da poesia remete a uma fase da vida do poeta, quando portador de
tuberculose, frequentou estações de cura, neste caso em São Lourenço e se dedicava às
atividades prescritas pelos médicos.
A poesia se organiza em cinco estrofes, as quatro primeiras com quatro versos e a
última com três.
Sobre a performance
A performance analisada desta canção está disponível em
<https://www.youtube.com/watch?v=LVG4W0CTS4A>. Trata-se de vídeo editado com os
intérpretes se apresentando fora do formato de recital. O vídeo foi postado pelo violonista,
divulgando seu trabalho no Duo Cancionâncias.
O Duo Cancionâncias iniciou a sua trajetória em 2007, com proposta de interpretar
músicas brasileiras e latino-americanas. Seus integrantes são Manuelai Camargo, soprano
dramático, e Cyro Delvisio, violão.
A gravação dura 2 minutos e 46 segundos e alterna vários planos, inclusive com
movimentação de câmera, a locação é a frente do prédio da Academia Brasileira de Letras
(ABL) no Rio de Janeiro, onde se localiza, desde 2007, a estátua de Manuel Bandeira. A
cantora veste blusa sem mangas na cor creme e saia longa verde, não é possível ver os seus
pés; o violonista usa camisa de botão de manga longa, cuja padronagem permite entender o
cinza como cor principal, calça social preta e sapatos da mesma cor, seus pés só são vistos
enquanto caminha no início do vídeo.
Não há indicação de público para esta performance, mas é possível ver transeuntes
que não se interessam em acompanhar as atividades dos artistas.
31
Análise inspirada na “Folha codificada simplificada para LMA”
Diferente da gravação de “Amor em lágrimas”, a gravação de “Desafio” não é
registro de recital, mas um videoclipe39
. Este formato pressupõe edição de imagens e de
som, alternância de planos de gravação, o que indica a realização de roteirização e
planejamento que implica em elementos que estão além de questões relacionadas
exclusivamente à performance dos intérpretes.
Não há indicação de direção, direção de movimento, ou similar. Estão indicados nos
créditos do vídeo: Duo Cancionâncias, composto por Cyro Delvizio (violão) e Manuelai
Camargo (voz); e Andrés Patiño Casasfranco (gravação, edição e mixagem de áudio) e
Laura Patiño Casasfranco (gravação, montagem e edição de vídeo).
A característica que primeiro chama a atenção nesta proposta do Duo Cancionâncias
é o nome do projeto que justifica a realização do videoclipe: “Música nas estátuas”.
Este nome, a princípio, serviria como justificativa para a escolha da canção – a
existência de estátua do autor da poesia da música em logradouro público, - traz uma
oportunidade extra de sentido/presença para a apreciação da performance40
: a oposição
complementar traduzida pela imobilidade da estátua e o som e seu movimento. Não só o
movimento que provoca a produção do som, como também o movimento que o som inspira
nos corpos dos intérpretes, sendo percebido com mais facilidade no corpo da cantora do que
no do violonista41
.
A análise do videoclipe foi iniciada em 22 de janeiro de 2015 e seu objeto é a
movimentação da cantora Manuelai Camargo, é preciso salientar que há diferenças em sua
movimentação entre os momentos em que ela canta ou permanece em pausa e, que esta
análise observa o seu corpo ao cantar.
Considerando a categoria Corpo, há que se falar em corpo forte e cotidiano, como é
cotidiano o andar das pessoas que se deslocam pelas calçadas do entorno do local onde está
localizada a estátua de Manuel Bandeira.
Há poucas oportunidades de observação do corpo inteiro da cantora, no entanto,
pode-se afirmar que sua ênfase expressiva acontece na cintura escapular e no seu rosto.
39
De acordo com o Dicionário Michaelis, videoclipe é “Vídeo para apresentação de música, com imagens
visualmente interessantes, embora frequentemente não se relacionem diretamente à execução da música em si”.
(http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=videoclipe). 40
E justifica a opção pela realização de um videoclipe. 41
Por se tratar de vídeo editado, nem sempre é possível observar os corpos dos intérpretes. Há diferença de
atitude entre os dois, uma proposta de urgência no corpo da cantora, que não repercute no corpo do violonista.
32
A cantora traz sua parte decorada, no entanto, certamente, por conta da opção pelo
videoclipe, a voz que se ouve neste vídeo foi gravada em ocasião diversa da de captação da
imagem.
Considerando a categoria Expressividade no que se relaciona ao fator fluxo, há que
se falar em contenção, esta contenção se opõe à urgência perceptível em seu corpo quando
se considera o fator tempo, que se traduz por um balanço na cintura escapular (a gravação
não permite visão de todo o corpo da intérprete quando ela canta), atingindo, em seu ápice,
os ombros. Este balanço parece se relacionar com a alternância entre a grande quantidade de
sílabas pronunciadas em divisões de tempo e a inspiração da cantora nas estrofes “quem
nadou contra corrente...” e “no Largo de São Lourenço dei prova de meu amor, uma coisa só
faltava...”. Uma vez que a urgência se extingue durante a nota longa emitida (-mor- em
amor).
Com relação ao fator espaço, há alternância entre o foco direto e ausência de foco,
sendo especialmente interessante o ‘olhar para dentro’ propondo ausência daquele espaço
por sugestão de reflexão ou imaginação, em oposição ao olhar direcionado ao violonista.
Cabe ressaltar que o 'olhar para dentro' ocorre em momento de desaceleração.
Já o fator peso se traduz por ser ativo e forte de uma forma refinada que permite
que a aceleração (urgência) se traduza em um balanço.
É importante frisar que esse refinamento permite que a força seja mais visível, se
traduzindo claramente por movimento costal superior do tronco relacionado à inspiração na
estrofe do "gaúcho roncador".
O corpo da cantora adota Forma Fluida, relacionada com os ajustes de seu próprio
corpo.
Em se tratando da categoria Espaço, a despeito da oportunidade de expansão
oferecida pelo espaço da rua, o alcance do movimento é restrito a uma cinesfera42
pequena,
própria da música de câmara e ao mesmo tempo da oportunidade de registro oferecida pelo
uso da câmera de vídeo.
Impressão geral
Oposições complementares: a estátua em sua imobilidade eternamente sem vida e o
movimento do som trazendo movimento aos corpos dos intérpretes. Sentido e presença
42
Cinesfera é o termo utilizado para designar o espaço que circunda o corpo e que é utilizado durante o
movimento, sendo entendida como pessoal, seu centro se confunde com o Centro do Corpo.
33
representados, o primeiro pelo peso da referência literária e o segundo pela irreverência de
cantar a referência diante dela mesma.
Sobre a confrontação entre sentido e movimento
Não houve gestos descritivos das situações indicadas pelo texto. Como se trata de
performance roteirizada, há movimento durante toda a gravação, apreendido em detalhes
pela câmera. É interessante notar, no entanto, que os músicos interagem além de questões
musicais (entradas ou cortes de som) pelo olhar e que o som do violão sugere um balanço
que se reflete no movimento do corpo da cantora, mas não parece refletir no corpo do
violonista.
Considerações sobre o que significa ser forte e leve para um cantor
À primeira vista, observar que os corpos das cantoras durante suas performances são
fortes e oferecem oportunidade de leveza pode parecer incoerente. No entanto, este tipo de
cantar definitivamente requer condições especiais de preparo físico para que bons resultados
sejam alcançados durante performances. Claudia Friedlander (2005) compara cantores
eruditos a atletas de elite, Thomas Casciero fez a mesma observação durante seu workshop
em 2008.
Sua arte requer coordenação excepcional, resistência e graciosidade, controle
motor extremamente refinado, integração total de corpo/mente e a habilidade para
interpretar trechos musicais extremamente sofisticados ao vivo. Você precisa estar
calmo e com energia durante performances grandiosas, muitas vezes em
concursos. Você deve estar sempre são fisicamente43
. (FRIEDLANDER, 2005,
s.n.)
No entanto, como foi observado no capítulo “Canto se aprende na escola?”, a
orientação em preparação corporal do cantor ainda é tímida, dependendo da trajetória de
vida do cantor. Friedlander observa que a recomendação de exercícios para cantores, na
maioria das vezes se relaciona com profilaxia, redução de estresse, objetivos estéticos e bem
estar geral.
43
Versão da autora para “Your art requires exceptional coordination, endurance and grace, exquisitely fine
motor control, total mind/body integration, and the ability to perform highly skilled maneuvers in real time.
You must remain calm but energized while delivering peak performances, often in competitive situations. You
must maintain optimum physical health”. (FRIEDLANDER, 2005, s.n.º).
34
Ter consciência da respiração e saber tirar proveito dela é fundamental para o canto.
Neste ponto o corpo há que ser forte, com músculos condicionados, irradiando movimento
advindo da respiração para extremidades livremente, com todas as relações neurológicas
fluentes, assim como o fluxo de ar sonorizado. No entanto, neste corpo forte não pode haver
imobilidade e tensões, aqui surge a necessidade de leveza associada ao movimento.
O conceito de Centro do Corpo, considerando conexão do corpo inteiro com
propósito de movimento irradiando deste Centro do Corpo, é muito eficiente para entender a
necessidade de força e leveza integrados. A força no corpo pode ser entendida como vigor,
energia, disposição de um centro bem cuidado. E a leveza como outro tipo de disposição,
do corpo que mantém todas as condições necessárias para a fonação e permite a articulação,
não só de palavras, mas de movimentos, que expressivos, se aliam ao sentido para oferecer
oportunidade da experiência sentido/presença ao público.
35
Respirando e Ouvindo
Man muss wirklich lauschen was sagt die Musik44
Dietrich Fischer-Dieskau
No desenrolar de seus estudos sobre movimento, Laban desenvolveu conceitos
inspirados em arquitetura e filosofia, observando a tridimensionalidade do corpo humano e a
relação entre suas partes.
O conceito que vai ser utilizado neste capítulo é o das Escalas Espaciais, recurso
eficiente para mover o corpo expressivamente no espaço (sem qualquer preocupação com
sentido ou conhecimento) a partir da exploração de possibilidades de percursos, gestos,
andamentos e intensidades.
As Escalas Espaciais advém do conceito de Formas Cristalinas desenvolvido por
Laban a partir da percepção de que a justaposição dos vestígios de movimento do corpo
humano no espaço a formas geométricas seria capaz de fortalecer experiências criativas:
“Até mesmo em movimentos simples e mínimos como caminhar ou fazer um pequeno gesto,
o corpo cria formas no espaço ao seu redor...” (FERNANDES, 2006, p.179).
Laban escolheu os cinco poliedros regulares para desenvolver as suas escalas: o
tetraedro; o octaedro; o hexaedro (cubo); o icosaedro; e o dodecaedro. Todas as escalas
...servem como uma estrutura básica para desenvolver a consciência e
discernimento de cada ponto no espaço, clareando a Intenção Espacial do gesto e
da postura. As sequências constituem um exercício de expansão do corpo no
espaço, percebendo pontos pouco ativos ou que recebem pouca atenção. Aos
poucos, o ator-dançarino começa a visualizar esses pontos de forma nítida,
organizando-os nas Formas Cristalinas ao redor de seu corpo, mesmo que em
aparente repouso. Os pontos no espaço podem ser usados em outras combinações
além das desenvolvidas por Laban, até mesmo misturando os pontos de diferentes
formas cristalinas. (FERNANDES, 2006, p.191).
(Ciane Fernandes fala em ator-dançarino por conta de sua trajetória de vida, qualquer pessoa
que tenha oportunidade de experimentar as Escalas Espaciais desenvolvidas por Laban, terá
possibilidade de organizar seu corpo em relação às Formas Cristalinas).
As pesquisas para este trabalho se limitaram a utilizar as escalas de movimento
elaboradas a partir do octaedro e do hexaedro (cubo).
44
Devemos ouvir de verdade o que a música diz (tradução da autora).
36
Todos os poliedros regulares escolhidos por Laban para desenvolver suas escalas de
movimento são Poliedros ou Sólidos de Platão, ou seja, além de terem o mesmo número de
lados, de suas faces serem polígonos planos, da existência de simetria que transforma cada
face, aresta e vértice em outra face, aresta e vértice, foram utilizados por Platão no
desenvolvimento de suas teorias a respeito da origem do universo e por ele associados aos
elementos da natureza, na seguinte relação: tetraedro - fogo; octaedro - ar; hexaedro (cubo) -
terra; icosaedro - água; e o dodecaedro - cosmos (que seria a alma do mundo).
As escalas de movimento pretendem oferecer oportunidade para experiência de
movimento, a indicação das etapas que as constituem não informam formas a serem
alcançadas, apenas os caminhos que favorecem a experimentação proposta.
A aproximação feita por Laban aos sólidos de Platão, pressupõe o corpo humano no
centro da figura, para realizar pesquisa de movimento a partir das limitações impostas pela
utilização de cada figura.
O conhecimento dos planos dimensionais ajuda no entendimento da proposta:
vertical (partindo do centro, se movimentando para cima e para baixo); sagital (partindo do
centro, se movimentando para frente e para trás); e horizontal (partindo do centro, se
movimentando para direita e para esquerda), conforme desenho a seguir:
Figura 5: Planos dimensionais (vertical, sagital e horizontal) (http://www.laban-
analyses.org/laban_analysis_reviews/laban_analysis_notation/space_harmony_choreutics/planes/laban_dimens
ional_planes.htm
O Octaedro remete visualmente à ideia de duas pirâmides unidas pela base e,
geometricamente, pode ser representado desta maneira:
37
Figura 6: Organização geométrica do octaedro
(http://mediateca.educa.madrid.org/imagen/miniatura.php?id_imag
en=7iounw6a6bgf4wcp&t=3&ra=1&na=350)
A proposta de Laban para interseção entre os planos dimensionais e o octaedro leva a
um tipo de modelo (numa perspectiva estática), onde a forma cristalina compartilha o seu
centro com o Centro do Corpo na posição inicial (de acordo com Ciane Fernandes, este
aspecto é determinante para expansão das habilidades físicas, emocionais, intelectuais e
espirituais daquele que experimenta pesquisa de movimento seguindo as teorias de Laban).
Figura 7: Modelo de interseção entre os planos dimensionais e o octaedro
(http://www.laban-
analyses.org/laban_analysis_reviews/laban_analysis_notation/space_harmony_choreutics/
planes/in_octahedron.htm)
É nessa posição que este Centro do Corpo coincide com o Centro do Espaço, ou o
centro imaginário de todas as figuras geométricas. É a partir desse ponto que
irradiam todos os outros, de todas as figuras geométricas. Assim, quando o corpo
desloca-se ao longo dos diversos pontos no espaço, carrega o seu Centro consigo,
o que nem sempre coincide nem passa pelo Centro do Espaço! No caso do
Octaedro, o Centro do Corpo desliza ao longo das dimensões, passando pelo
Centro do Espaço. Mas em outras figuras, como o Icosaedro, o Centro do Corpo
desloca-se pela periferia e o Centro do Espaço, sem passar por este.
(FERNANDES, 2006, p.195).
38
Figura 8: Centro do Corpo e sua
expansão para o espaço
(HACKNEY, 2002, p.40).
Para a realização dos movimentos da Escala Dimensional do Octaedro criada por
Laban, é importante manter o entendimento de que o corpo se prolonga no espaço além de si
a partir do Centro do Corpo. É importante que haja também empenho pela manutenção da
frontalidade do quadril durante o exercício.
A Escala Dimensional do Octaedro tem como posição inicial o corpo ereto, de pé. O
movimento é iniciado pela direita, com o braço direito, mas parte do quadril, os braços
indicam o plano (dimensão) que está sendo objeto de experimentação naquele momento,
mas o movimento parte do Centro do Corpo e, como não poderia deixar de ser, por se tratar
do local principal de sua realização física, é influenciado pela respiração.
Figura 9: Escala Dimensional do Octaedro (FERNANDES, 2006,
p.198).
Poderia parecer, pela ideia de início de movimento pela esquerda ou direita, que o
lado do corpo que não orienta o movimento deveria pretender algum tipo de neutralidade,
mas não é esta a proposta. Ao contrário, o lado esquerdo do corpo complementa toda a
movimentação, quando o braço direito estiver na liderança do movimento e vice-versa, não
39
liderar movimento não significa passividade. Esta oposição pretende oferecer experiência
espacial relacionada com o conceito de Centro do Corpo relacionado com partes do corpo
que se prolongam no espaço.
A seguir, descrição de Ciane Fernandes para a Escala Dimensional do Octaedro
iniciada pelo braço esquerdo, com indicação exata da participação do outro braço:
Enquanto o braço esquerdo leva o corpo para o Alto, o braço direito está
alongado para Baixo.
Enquanto o braço esquerdo leva o corpo para Baixo, moderadamente curvado
para a esquerda à frente do torso, o braço direito encolhe-se cruzando ou
atravessando a frente do corpo para a esquerda, por detrás do braço esquerdo.
Enquanto o braço esquerdo fecha para a Direita, o braço direito atravessa o
Centro do Espaço em direção a Esquerda.
Enquanto o braço esquerdo abre para a Esquerda, o braço direito abre
moderadamente para a Direita.
Enquanto o braço esquerdo avança para a Frente, o direito alonga-se para
Baixo e moderadamente para Atrás.
Enquanto o braço esquerdo recua para Atrás, o direito alonga-se para Baixo e
moderadamente pra Frente. (FERNANDES, 2006. p.198-9.).
O Hexaedro ou Cubo pode ser geometricamente representado assim:
Figura 9: Organização geométrica do hexaedro (cubo)
(http://mediateca.educa.madrid.org/imagen/miniatura.php?i
d_imagen=stn7sycp6ann5n2d&t=3&ra=1&na=350)
A exemplo do octaedro, o cubo compartilha seu centro espacial com o Centro do
Corpo no momento inicial (é possível, inclusive, colocar o octaedro dentro do cubo por
causa desta característica), além disso, a posição inicial para experimentação da Escala
Diagonal do Cubo e os princípios do movimento iniciando a partir do Centro do Corpo; a
frontalidade do quadril; e movimento integrado à respiração são mantidos :
40
Figura 10: Interseção dos centros espaciais do cubo e do
Centro do Corpo
(http://edmusical2010.wikispaces.com/Expresión+Corp
oral)
Na Escala Diagonal do Cubo, criada a partir da interseção entre o centro espacial do
cubo e o Centro do Corpo, existem diferenças que trazem notável complexidade para os
movimentos desta escala em relação à Escala Dimensional do Octaedro: a impossibilidade
de não estar no Alto ou no Baixo, Frente ou Atrás, Direita ou Esquerda, porque assim que
inicia o movimento, o centro do corpo já toma a direção de uma diagonal45
, “o cubo não
possui pontos na altura da cintura” (FERNANDES, 2006, p.201); e a realização de
movimentos de torsão, alongamento e curvatura do tronco com manutenção da frontalidade
do quadril, apesar das diagonais.
As quatro diagonais do Cubo criam os oito pontos de direção do movimento da
Escala Diagonal do Cubo. Ao contrário da Escala Dimensional do Octaedro, a opção por
início com um braço ou outro, interfere em sua realização por levar a adoção de sentidos
diferentes: horário e anti-horário.
45
Uma diagonal se caracteriza por conjugar as três tensões dimensionais simultaneamente.
41
Figura 12: Escala Diagonal do Cubo (FERNANDES, 2006, p.205).
A seguir, descrição de Ciane Fernandes para a Escala Diagonal do Cubo iniciada
pelo braço direito:
DIAGONAL 1, VÉRTICE A - Alto-Direita-Frente: braços e pernas abrem.
Enquanto o braço direito leva o corpo, abrindo para o Alto-Direita-Frente, o
braço esquerdo está alongado para Baixo-Esquerda-Atrás (os braços abrem).
Com o peso do corpo na perna direita, as pernas se afastam com uma abertura
moderada, os pés em semiponta enfatizando o Alto.
DIAGONAL 1, VÉRTICE B - Baixo-Esquerda-Atrás: braços e pernas fecham.
Enquanto o braço direito leva o corpo, fechando para Baixo-Esquerda-Atrás, o
braço esquerdo encolhe-se cruzando ou atravessando a frente do corpo. A
perna direita cruza por detrás da esquerda, e o pé direito toca o ponto Baixo-
Esquerda-Atrás, enquanto o esquerdo sustenta o corpo mais à frente.
DIAGONAL 2, VÉRTICE C - Alto-Esquerda-Frente: braços e pernas fecham.
Enquanto o braço direito leva o corpo, fechando para Alto-Esquerda-Frente, o
braço esquerdo encolhe-se cruzando ou atravessando a frente do corpo para
Baixo-Direita-Atrás, abaixo do braço direito. Com o peso do corpo
principalmente na perna direita, as pernas se cruzam com a direita à frente, os
pés em semiponta enfatizando o Alto.
DIAGONAL 2, VÉRTICE D - Baixo-Direita-Atrás: braços e pernas abrem.
Enquanto o braço direito leva o corpo, abrindo para Baixo-Direita-Atrás, o
braço esquerdo alonga-se moderadamente em direção a Baixo-Esquerda-
Frente. A perna direita abre, e o pé direito toca o ponto Baixo-Direita-Atrás,
enquanto o esquerdo sustenta o corpo mais a frente.
DIAGONAL 3, VÉRTICE E - Alto-Esquerda-Atrás: braços e pernas fecham.
Enquanto o braço direito leva o corpo, fechando para Alto-Esquerda-Atrás, o
braço esquerdo encolhe-se cruzando ou atravessando a frente do corpo para
Baixo-Direita-Frente, abaixo do braço direito. Com o peso do corpo
principalmente na perna direita, as pernas se cruzam com a esquerda à frente,
os pés em semiponta enfatizando o Alto.
DIAGONAL 3, VÉRTICE F - Baixo-Direita-Frente: braços e pernas abrem.
Enquanto o braço direito leva o corpo, abrindo para Baixo-Direita-Frente, o
braço esquerdo alonga-se moderadamente em direção a Baixo-Esquerda-Atrás.
A perna direita abre, e o pé direito toca o ponto Baixo-Direita-Frente, enquanto
o esquerdo sustenta o corpo mais atrás.
42
DIAGONAL 4 - VÉRTICE G - Alto-Direita-Atrás: braços e pernas abrem.
Enquanto o braço direito leva o corpo, abrindo para Alto-Direita-Atrás, o braço
esquerdo alonga-se em direção a Baixo-Esquerda-Frente, com o peso do corpo
na perna direita, as pernas se abrem com a esquerda a frente, os pés em
semiponta enfatizando o Alto.
DIAGONAL 4, VÉRTICE H - Baixo-Esquerda-Frente: braços e pernas
fecham. Enquanto o braço direito leva o corpo, fechando para Baixo-
Esquerda-Frente, o braço esquerdo encolhe-se cruzando ou atravessando a
frente do corpo. A perna direita cruza pela frente da esquerda, e o pé direito
toca o ponto Baixo-Esquerda-Frente, sustentando a maior parte do peso
corporal". (FERNANDES, 2006, p.206-7).
Essas propostas de experimentação de movimento foram utilizadas quando a autora
pesquisou movimento para a interpretação das canções “A Bonequinha de seda” de
Francisco Mignone e “Rua Aurora” de Edmundo Villani-Côrtes.
A escolha das canções, ora analisadas, e objeto de pesquisa de movimento indicadas
neste capítulo, foi influenciada pelo gosto pessoal da autora, tessitura compatível com seu
timbre de meio-soprano, curta duração, para evitar questões relacionadas a memorização que
não são objeto deste estudo, e pelo fato de serem composições brasileiras contemporâneas
para câmara com acompanhamento de piano, evitando instrumentações que impedissem sua
interpretação plena.
A organização do estudo seguiu as etapas:
escolha de duas canções brasileiras de câmara;
realização de estudos musicais pertinentes (interpretação de texto; pesquisa sobre
contexto de composição; leitura da partitura; estudos práticos, incluindo
vocalizes);
realização de dois ensaios com a pianista Katia Ballousier. Ocasião em que a
pianista conheceu as músicas e a proposta interpretativa da autora e em que
foram gravadas duas versões para cada música: uma só com piano e a outra
completa;
experimentação da Escala Dimensional do Octaedro sob as seguintes condições:
sem preocupação com a sonoridade das músicas, declamando o texto, cantando
as frases a capella46
e influenciada pela sua audição durante o movimento;
experimentação da Escala Diagonal do Cubo sob duas condições: sem
preocupação com sonoridades e emitindo som de vogais, de forma improvisada,
em diferentes alturas e intensidades, junto a movimentos de expansão e
recolhimento do corpo relacionado aos braços;
46
a capella e um termo que indica canto sem acompanhamento de instrumentos.
43
Análise da canção “A Bonequinha de Seda - canção das mães pretas”
A canção "A Bonequinha de Seda" foi composta por Francisco Mignone (1897 –
1986), com letra de Narbal Fontes (1899 – 1960), em 1936, como parte da trilha sonora de
filme de mesmo nome47
, dirigido por Oduvaldo Vianna (1892 – 1972), produzido pela
Companhia Cinédia do Rio de Janeiro, a partitura foi editada pela E.S. Mangione.
Sobre o texto
Drume, drume, Bonequinha, Calunguinha de sinhá. Drume, fais favô, Drume, pra sonhá com seu amô. Quem nasceu pra padecê, Inda pode remediá Fecha os óio pra esquecê, Sonha inté a dô passá. Drume, drume, Bonequinha, Calunguinha de sinhá. Drume, fais favô, Drume, pra falá com seu amô.
A poesia se organiza em três estrofes e está escrita com indicação clara da pronúncia
pretendida para a voz, fazendo alusão à simplicidade e desconhecimento das normas de
língua culta das “mães pretas”, escravas que cuidavam dos bebês de suas senhoras no
período em que houve escravidão no Brasil.
Sobre a música
Trata-se de canção composta para voz e piano composta por 40 compassos em ritmo
binário, onde a semínima ocupa um tempo, no tom de fá maior, com indicação andantino
para o andamento.
A partitura, a exemplo do texto, indica com precisão a interpretação musical
pretendida: marcatto, intensidades, crescendo e diminuendo, legatto, ritardando, a tempo e
acentuações.
Em se tratando de uma canção de ninar, é interessante observar o desenho pendular
iniciado no piano (que permanece durante toda a música, mesmo quando há adição de
47
O filme “Bonequinha de Seda” foi um grande sucesso cinematográfico brasileiro da década de 1930.
44
indicação de fraseado mais longo) e levado para a voz, que se afasta deste desenho durante a
segunda estrofe.
Seções Compassos Estrofe Instrumentação Introdução 1 e 2 - piano A 3 a 16 1a piano e voz B 17 a 26 2a piano e voz A' 27 a 40 3a piano e voz
Sobre a pesquisa de movimento
A pesquisa de movimento foi realizada a partir da Escala Dimensional do Octaedro.
A experimentação da Escala Dimensional do Octaedro sofreu variações neste estudo,
no entanto, a realização de todos os movimentos considerou o octaedro como uma figura
geométrica formada por três eixos (vertical, horizontal e sagital), cujo ponto de interseção e
expansão corresponde ao Centro do Corpo.
Durante a realização deste exercício, independente da variação experimentada, houve
cuidado para que a frontalidade do quadril fosse mantida e que a respiração se relacionasse
com o movimento.
Após realizar diversas vezes a Escala Dimensional do Octaedro, iniciando
movimento tanto com o braço direito quanto com o esquerdo, foi feita opção por observar
expansões de tronco provocadas pela inspiração/expiração quando da realização dos
movimentos.
Organização da pesquisa de criação de movimento expressivo para interpretação
desta canção:
inspiração antes de começar cada movimento - alto/baixo; esquerda/direita;
frente/trás (ou no retorno a posição inicial) - ou seja, o movimento só ocorria na
expiração (os movimentos foram decupados nesta ocasião);
inspiração no início de cada sequência, retornando à posição inicial apenas ao
fim da sequência: inspiração – alto / expiração - baixo; inspiração – esquerda /
expiração - direita; inspiração – frente / expiração - atrás. Realizada com
repetição de cada oposição e como sequência de planos
vertical/horizontal/sagital;
inversão da proposta anterior, iniciando cada sequência com a expiração aliada à
primeira parte do movimento;
declamação da poesia durante realização dos movimentos da Escala Dimensional
do Octaedro;
45
declamação da poesia sem realização dos movimentos da Escala Dimensional do
Octaedro;
interpretação a capella da canção;
realização da Escala Dimensional do Octaedro ao som da gravação completa
(piano e voz);
interpretação da canção ao som da gravação da parte do piano, improvisando
movimentação sem preocupação com a Escala Dimensional do Octaedro; e
repetição dos movimentos resultantes da improvisação indicada no item anterior.
Foram observadas no decorrer desta atividade mudanças positivas na qualidade da
voz falada48
da autora e de sua disponibilidade corporal49
.
Da mesma forma que o movimento influenciou a organização vocal e corporal da
autora, a escuta da gravação da canção durante a realização da Escala Dimensional do
Octaedro influenciou a qualidade dos movimentos realizados, que passaram a primar pela
leveza, foram realizados em andamento mais contido e com gestos arredondados.
Este arredondamento do gestual se manteve quando da interpretação da canção junto
com o acompanhamento gravado, tendo sido possível estabelecer uma pequena sequência de
movimentos de cabeça, inclusive faciais, braços, tronco, ombros e mãos após algumas
repetições.
Análise da canção “Rua Aurora”
A canção “Rua Aurora” foi composta por Edmundo Villani-Côrtes (1930) sobre
poesia de Mário de Andrade.
Mário de Andrade (1893 – 1945), poeta, famoso por sua participação na Semana de
Arte Moderna de 1922 em São Paulo, foi também músico, tendo atuado como professor de
piano e outras disciplinas no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo e escrito
diversos textos sobre composição de música brasileira, estética, folclore, pronúncia da voz
cantada, além de uma coletânea de modinhas imperiais.
Mário de Andrade defendia a pesquisa de pronúncia brasileira cantada para canções
em português mais próxima do que se ouvia no cotidiano, que ele entendia como afeita a
questões étnicas: “...nós, os semicultos, não sabemos cantar em nossa língua. É invejável a
48
A voz ficou mais encorpada e intensa. 49 O corpo ficou mais disposto para o movimento, inclusive os pequenos e com alteração de atitude pra uma
postura com mais energia.
46
naturalidade com que o povo ignorante fixou sua dicção cantada [...] é preciso que tenhamos
definitivamente a coragem da nossa naturalidade”. (ANDRADE, 1980, p.12 apud
PEREIRA, 2002, p.105).
Pela trajetória histórica deste poeta, que inclusive participou do Primeiro Congresso
Nacional da Língua Nacional Cantada realizado em 1937, a escolha de poesias de Mário de
Andrade para composição de canções eruditas traz inegavelmente uma sugestão de escolha
de pronúncia e postura/atitude mais próxima da utilizada em música popular, que por sua
vez se aproxima da fala cotidiana.
Sobre o texto
Na Rua Aurora eu nasci Na Aurora da minha vida E numa Aurora cresci No Largo do Paissandu Sonhei, foi luta renhida, Fiquei pobre me vi nu Nesta Rua Lopes Chaves Envelheço, e envergonhado Nem sei quem foi Lopes Chaves Mamãe, me dá essa lua Ser esquecido ignorado Como esses nomes da rua.
Texto confessional de Mário de Andrade, que realmente residiu nos locais e nas
circunstâncias e emoções indicadas.
Sobre a música:
Esta canção é composta por 32 compassos, cuja divisão rítmica principal é
quaternária, no entanto, há dois trechos binários: compasso 11 e outro entre os compassos 14
e 27. A indicação inicial de andamento é “Lento com liberdade, recitando para voz” e
“Lento, saudoso” para o piano. E o tom principal é o de lá menor, com modulação para si
menor e ré menor.
A partitura indica detalhadamente a interpretação musical, se abstendo de indicação
de movimentação para os intérpretes, mas indicando estado psicológico para o piano,
buscando uma relação de sentido com o texto da poesia.
47
Esta canção remete ao universo da Música Popular Brasileira (MPB), não só pela
sonoridade relacionada com a utilização de acordes de 7ª e 9ª menores, mas também pela
orientação de liberdade para a voz (em termos rítmicos) e, como já foi dito antes, pela
escolha do texto de Mário de Andrade, que foi um teórico que defendeu a aproximação da
composição e interpretação musicais brasileiras da cultura e sonoridade nacionais.
Para fortalecer a proposta de recitativo, a parte do piano apresenta basicamente
acordes batidos quando junto à voz e encaminhamentos (acordes/trechos de escala) entre
frases realizadas pela voz.
Seções Compassos Estrofe Instrumentação
Introdução 1 e 2 - piano A 3 a 7 1 piano e voz
B 8 a 13 2 piano e voz
C 14.2 a 22.2.1 3 piano e voz
D 22.2.4 a 27 1 verso da 4 estrofe piano e voz E 27 a 32 2 e 3 versos da 4 estrofe piano e voz
As indicações expressivas para a voz presentes na partitura são as seguintes:
legattos precisos em quase todas as frases, as exceções são:
a. stacatto em “fiquei pobre me vi nu”, que inclusive contém uma indicação de
respiração separando sonoramente a palavra “nu” do resto da frase e um
glissando entre as colcheias “me vi”. Essa proposta e muito inusitada por
trazer leveza justamente onde o texto fala de um revés da vida do poeta; e
b. “Mamãe, mamãe, me dá essa lua”, este outro trecho sem indicação de
legatto acontece em momento do texto que remete a desespero, ou
desilusão: as indicações F (forte) e p (piano) para a repetição “Mamãe,
mamãe” e o marcatto em “me dá essa lua” oferecem dramaticidade a este
momento da música.
a tempo e rallentando nos finais das duas frases das primeiras seções; e
menos e a tempo nas duas ultimas seções.
Com exceção da última frase “como esses nomes da rua”, nenhuma das frases para
voz tem início tético50
.
50
Em música o termo tético indica tempo, ou parte, forte.
48
Sobre a pesquisa de movimento
A pesquisa de movimento foi realizada inicialmente a partir da Escala Diagonal do
Cubo, como os resultados não foram favoráveis, a autora passou a utilizar a Escala
Dimensional do Octaedro.
Assim como na pesquisa de movimento realizada com a Escala Dimensional do
Octaedro, houve cuidado para manutenção da frontalidade do quadril, o que foi difícil
devido a sequência das diagonais sempre oporem níveis alto e baixo em relação a frente e
atrás, com torções, e com a relação entre respiração e movimento.
Organização da pesquisa de criação de movimento expressivo para interpretação
desta canção:
inspiração relacionada aos movimentos diagonais para o alto, seguida
imediatamente de expiração relacionada aos movimentos diagonais para baixo;
emissão improvisada de vogais quando da realização dos movimentos nas
diagonais, ou seja, uma expiração sonorizada abarcando uma diagonal inteira
(parte superior e inferior);
declamação da poesia sem a realização dos movimentos da Escala Diagonal do
Cubo;
declamação da poesia com a realização dos movimentos da Escala Diagonal do
Cubo;
interpretação a capella da canção, durante realização dos movimentos da Escala
Diagonal do Cubo;
interpretação a capella da canção, após realização dos movimentos da Escala
Diagonal do Cubo;
Escala Dimensional do Octaedro;
interpretação a capella da canção sem realização de Escala Dimensional.
Cantar durante a realização dos movimentos da Escala Diagonal do Cubo trouxe
perda de controle da respiração no canto, impossibilidade de realização de elementos
musicais expressivos (crescendo e diminuendo), devido à influência dos movimentos do
tronco na respiração. Esta atividade deixou a autora cansada, sem energia para cantar em
sequência.
Imaginando que o cansaço decorresse de exigência demasiada em um único
momento, a pesquisa foi suspensa na ocasião, sendo recomeçada em outro dia, evitando
49
emissão de voz falada ou cantada junto à realização dos movimentos da Escala Diagonal do
Cubo. O resultado, no entanto, foi o mesmo.
Somente após a mudança de Escala de Movimento para a Escala Dimensional do
Octaedro, a autora conseguiu pesquisar e desenvolver movimentação para a canção com
facilidade.
Como a pesquisa foi individual, não é possível afirmar que a Escala Dimensional do
Octaedro favoreça pesquisa de movimento para canto de câmara, em detrimento da Escala
Diagonal do Cubo. No entanto, vale a pena ressaltar que a Escala Diagonal do Cubo é muito
mais “móvel” que a Escala Dimensional do Octaedro.
Além disso, é importante frisar a sabedoria das palavras de Friedrich Fisher-Diskau
na epígrafe deste capítulo, mesmo com todo preparo técnico, estudos e ensaios, é
fundamental OUVIR o que a música estiver propondo ao corpo. A música interfere no
corpo e no seu movimento.
50
Conclusão
Um recital de música de câmara é um evento performático que pode variar em
muitos aspectos, mas sempre envolve um encontro de pessoas que experimentam sensações
(presença) e sentidos (conhecimentos).
Todos os que se propõem a este encontro, se dispõem a se preparar para ele
previamente, a passar alguns momentos juntos trocando estímulos energéticos, a ter
recordações dele, permitindo que essa experiência passe a fazer parte do seu universo de
auto conhecimento.
Esta pesquisa tratou de um aspecto preparatório para a realização da performance (o
movimento), devido à limitação naturalmente imposta por se tratar de um trabalho de fim de
curso e por se relacionar à trajetória e questões da autora, que como muitas outras pessoas
foi educada segundo diretrizes tecnicistas e se viu atuando influenciada por questões que o
tecnicismo (desdobramento cartesiano na educação) não alcança.
No entanto, a preparação para um encontro camerístico, apesar de requerer
planejamento e controle, não é um processo produtivo, o momento de realização de um
recital de música de câmara não é um produto, é uma experiência, sendo portanto, momento
de vida.
A este momento, a esta experiência deve ser oferecida outra oportunidade de visão, a
do holismo:
Leonardo Boff esclarece que “holismo não significa a soma das partes, mas a
captação da totalidade orgânica, una e diversa em suas partes, mas sempre
articuladas entre si dentro da totalidade e constituindo esta totalidade.” A
percepção do ser humano em sua totalidade adota este sistema de síntese ou
agregação dos componentes do ser, ao contrário do método cartesiano analítico,
reducionista, fragmentário ou dissociativo. Procura juntar para conhecer. Enfatiza
o físico, mas intimamente inter-relacionado com a mente, a consciência, o espírito
e com as energias do universo. (TEIXEIRA, s/d, p.5).
Neste sentido, a opção pela utilização do Sistema Laban quando da preparação para o
momento do recital por cantores de câmara é inquestionável por oferecer oportunidade de
conexão de corpos, espaço, emoções, conhecimento e espírito; de seguir intuições; de ser
influenciado pelo momento presente que o influencia também.
Em se tratando de estudo que faz referência à música, a influência do som se mostrou
inexorável, pesquisar movimento sem som é completamente diferente das ocasiões em que o
som se faz presente.
A afirmação de Jiddu Krishnamurti resume por oposição a oportunidade oferecida
pela pesquisa de movimento utilizando o Sistema Laban: “...Um coração vazio mais uma
51
mente técnica não fazem um ente humano criador”. (KRISHNAMURTI apud TEIXEIRA,
s/d, p.2).
Um cantor virtuose que não “ouça” a música, o seu corpo, o seu espaço, as suas
sensações, a vibração do público e dos outros intérpretes durante suas performances, não
consegue presença que afete o que puder alcançar do universo.
52
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