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A I N S P I R A A O DIVINA E O C A N O N DA BBLIA Gerhard F.
Hasel*
Existe um relacionamento inegvel entre a inspirao divina da
Bblia e a formao do cnon. A inspirao historicamente afirmada entre
judeus e cristos como a qualidade essencial, intrnseca da Escritura
da qual sua autoridade deriva. Enquanto jtlgiimas
vozes-insistentes-iiegnm...qualquer_cojiexo entre inspirao e
canonizao,1 o ponto-de-vista-oposto. ainda._mais-_amplamente
sustentado.2
Neste sculo, tem surgido novamente uma acalorada discusso sobre
a questo do cnon bblico, particularmente desde os n n o s
sfiSsanta.3 Q de.hale-tem sido
estimulado,_em-parte,_pela-descoberta dos rolos do Mar Morto,4 e
porque_jD_vas investigaes de questes do cnon..tm
indicado-que-o-antigo-consenso crtico tm
' Es te artigo foi publ icado no Journal of lhe Adventist
Theological Saciei)' V o l u m e 5 N m e r o 1 Spring 1994, 6 8 - 1
0 5 , entitulado "Div ine Inspiration and the Cnon of the Bible ,"
n o s s o s agradecimentos a A T S , q u e c o n c e d e u - n o s
a permisso de publicar este artigo. "Gerhard F. Hasel, erudito
adventista, fa lec ido em 1994, foi diretor e professor do Seminrio
T e o l g i c o da Andrews University, E U A . 'Albert C. Sundberg
Jr. "The Bible and the Christian Doctrine of Inspiration,"
Interpretation 29 (1975) , 3 5 2 ; James Barr, Holy Scripture.
Canan, Authority, Criticism (Philadelphia: West iminster Press,
1983) , 74 . 2 E x e m p l o s t picos so R. L. Harris, Inspiration
and Canonicity of the Bible (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1957); N.
L. Geis ler e W. E. Nix ,
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Uma das maiores questes gira em torno da idia do conceito de
Cnon", a canonizao da Bfblia, deve ser radicalmente separada.do
conceito, de "Escr.itura"^e" no apenas dn p r 9 p ^ n rfrr
incpimnnn A respeito do AT dito por alguns eruditos que o cnon no
se fixou por um longo perodo aps o comeo da era crist, mas em algum
ponto entre 90 d.C. e o quarto sculo d.C.7
48 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)
.significativas fragilidades. Discusses continuam sem cessar at
o presente.5 Um novo consenso sobre o cnon est em formao.
Critrios externos para canonizao do NT, tais como
apostolicidade, ortodoxia, antigidade, catolicidade, valor
espiritual e aceitao pela igreja so cada vez mais predominantes.8
Estes critrios tm a tendncia de colocar o processo de canonizao e
sua autoridade nas mos da igreja.
Origem do Cnon: Sobre Que Base?
Agentes Humanos ou Agente Divino? O assunto das foras e/ou
fontes que autorizam os escritos bblicos a serem cannicos de
crucial importncia- questo se (1) a Bblia o produto de decises
humanas baseadas em normas scio-culturais e eventos na histria do
passado que podem ser reatualizados no presente, ou se (2) os seres
humanos vieram a reconhecer a autoridade da Escritura por causa de
uma natureza inerente e qualidade dos escritos da Bblia como a
auto-autenticadora, a auto-validante Palavra de Deus.
Agentes humanos, isto , rabis, bispos, conclios, e/ou
comunidades
'Tais publ icaes c o m o Y. Gamble , The New Testament Canon:
Its Making and Meaning (Philadelphia: Forlress Press, 1985); Roger
Bechwi th , The Old Testament Churcli (Grand Rapids, MI: Wil l iam
B. Eerdmans, 1985); L e e M. M a c D o n a l d , The Formation of
the Christian Biblical Canon (Nashvi l le : A b i n g d o n Press,
1988); F. F. Bruce, The Canon of Scripture ( D o w n e r s Grove,
IL: Inter Varsity Press, 1988); Ingo Baldermann et al. eds.,
Problem des biblischen Kanons (Neukirchen-Vluyn: Neukirchener
Verlag, 1988); e Gerhard Maier, ed., der Kanon der Bibel
(Wuppertal: Bochaus Verlag, i 990 ) do ev idnc ia deste cont inuo
interesse. ''Um e x e m p l o t pico desta pos io expresso por A.
C. Sundberg, "Canon of the N e w Testament ," Interpreteis Bible
Dictionary. Supplementary Volume (Nashvi l le , TN: Abingdon ,
1976), 137: "No ma i s satisfatrio usar os termos 'escritura' e
'cnon' c o m o s innimos . A igreja recebeu 'escrituras', isto ,
escri tos rel igiosos que eram de certo m o d o cons iderados c o m
o autoritativos do judasmo; mas a igreja no recebeu um cnon, i.e.,
uma c o l e o fechada de escritura a qual nada poderia ser
acrescentado, nada subtrado." Sundberg de fende a pos io agora
rejeitada de que o cnon do AT foi "fechado" em Jmnia por volta de
90 d.C. (ibid.). Por e x e m p l o A. Jepsen, "Zur Kaongesch ichte
des Alten Testaments ," Zeistsclirift fr die
Alttestamentliche Wissenschaft 71 (1959) , 114-136; idem, "Kanon
und Text des Alten Testaments ," Theologische Zeitschrift 21 (1965)
, 3 5 8 - 3 7 0 ; Domin ique Barthlemy, "L'tat de la Bible ju ive
depuis le d'but de notre re j u s q u ' Ia d e u x u m e rvolte
contre R o m e ( 1 3 1 - 1 3 5 ) , "Le cnon de VAncian Testament. A
Formation et son liistoire, eds. J. - D . Kaestli et O. Wermel
inger (Geneve: Labor et Fides, 1984), 9-45; Hartmut Gese , "Die
dreifache Gesta l twerdung des Alten Testament ," Mitte der
Schrift? Einjdisch-cliristlisches Gespracli, ed. Marin A. Klopenste
in et al. (Bern: Peter Lang, 1987), 2 9 9 - 3 2 8 ; Shemaryahu
Talmon, "Hei l iges Schrif t tum un Kanonische Biicher aus Jdischer
S i c h t - be l egungen zur Ausbi ldung der Grsse "Die Schri f t '
im Judentum," Mitte der Scrift?, -45-79. s C a d a livro recente
sobre a formao do cnon do AT discute estes critrios.
A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 49
"determinam" quais livros bblicos pertencem ao cnon e, por este
modo, os fazem Escritura Sagrada? O verbo "determinar" usado no
sentido de decises formais feitas na base de normas imanentes, no
sobrenaturais e scio culturais. Alternativamente, os indivduos,
entidades e/ou comunidades "reconhecem" na base da natureza e
qualidade intrnseca quais escritos eram cannicos?
Os Protestantes Histricos sustentavam que a canonizao da Bblia,
de ambos o Antigo e o Novo Testamentos, o produto no de seres
humanos, mas da obra do iEsprito Santo o qual produziu os livros
bblicos. Por virtude de sua inspirao, e sua resultante
auto-autenticao e auto-validao, os livros bblicos foram ;
"reconhecidos" como cannicos.
O verbo "reconhecer" distintamente diferente do verbo
"determinar". O primeiro verbo afirma a inerente origem
sobrenatural, natureza, e autoridade do livros bblicos como a causa
para seu status cannico. Enquanto que o ltimo termo "determinar"
significa comunicar o poder de autorizao puramente humana do cnon
por quaisquer foras religiosas, sociolgicas e histricas que
estiveram a operar individualmente e/ou coletivamente.
Similarmente, foi a canonizao da Bblia um processo de
desenvolvimento no transcurso de muitos anos, ou mesmo sculos? O
cnon do AT foi formado em trs diferentes estgios como amplamente
suposto desde que um cnon de trs partes foi proposto pelo judasmo
anterior poca do NT?
a Bblia o produto da Igreja?9 O conclio catlico romano de padres
em 8 de Abril de 1546, no Conclio de Trento, fechou o cnon bblico?
No ltimo caso, a Igreja poderia ter um "cnon" aberto bem como um
cnon "fechado". O corpo que "fechou" o cnon poderia alterar o cnon
pela incluso ou excluso de livros adicionais atravs de decises
subseqentes.
Viso Encarnacional da Escritura e do Cnon. O reformador Mart
inho Lutero (1483-1546) fala da "Palavra de Deus [Escritura]" que
"preserva a Igreja de Deus,"1 0 dando assim prioridade Bblia sobre
a Igreja. Na viso da Reforma, qualquer autoridade_deveria ser
testadapQLSua-fideIidad,e, Escritura. V
De fato, a Bblia manifesta a encarnao da Palavra de Deus em
forma escrita, "a Santa Escritura a Palavra de Deus, escrita, por
assim dizer ' inscr i turada . ' "" Uma forma mais recente de
expressar esta idia falar da Bblia como palavra de Deus
"inscriturada".
A viso encarnacional elevada da Escritura sustenta que "assim
como a divindade e poder de Deus esto contidos no vaso do corpo
encarnado de Cristo, assim a mesma divindade e poder de Deus esto
contidos na Escritura, um vaso feito
''Stuhlmacher, Biblische Theologie des Nenen Testaments, 1:2-3
fala do "cnon ec les is t ico [kirchlicher Kanon]" e a f irma q u e
"o N o v o Tes tamento o cnon ec les is t ico dos livros cristos
primitivos q u e so fundamentais para a f crist e em cuja origem e
determinao a igreja participou essencialmente" [itlicos meus ] (3).
Esta opinio comparti lhada por muitos te logos protestantes
liberais na S e g u n d a metade deste scu lo . '"Martin Luther,
Weimar Ausgabe, 3 :542 . "Ibid., 4 8 : 3 1 .
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50 Revista Teolgica do SALT-IENE 4:2 (Jul-Dez 2000)
cie letras,... Para captar a revelao em sua plenitude necessrio
conceber a Escritura em termos da natureza divino-humana de
Cristo."12 To elevada viso da Escritura baseada e fundamentada em
uma elevada viso da encarnao onde o Jesus Cristo terrestre a
manifestao da indivisvel unio do divino e do humano.
/"Em analogia com Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado, a
Bblia consiste igualmente de uma indivisvel unio do divino e do
humano justamente como
J. manifestada no Filho de Deus. Eilen G. White tambm sustenta
uma elevada viso encarnacional da Bblia.
Ele fala da perfeita "unio do divino com o humano" a respeito da
Bblia em analogia com aquela no Filho de Deus. Ela escreveu, "a
Escritura Sagrada, com suas divinas verdades, expressas em
linguagem de homens, apresenta uma unio do divino com o humano.
Unio semelhante existiu na natureza de Cristo, que era o Filho de
Deus e Filho do Homem. Assim, verdade com relao Escritura, como o
foi em relao a Cristo, que "o verbo se fez carne e habitou entre
ns" (Jo 1:14)."13
A "unio do divino e do humano" da qual a Bblia foi formada tambm
causa impacto na compreenso da natureza e desenvolvimento do cnon.
Segue-se que o cnon/f io pode ser percebido como simples resultado
de aes ou interesse humanos /O processo de canonizao est
interligado com a "unio do divino com o humano" da qual a Bblia par
t ic ipjT?
A Natureza do Cnon
O Termo "Cnon" definido. A palavra portuguesa "cnon" deriva do
grego ho kanon via o Latim. Tem uma origem hebraica e dito que
remonta ao antigo sumeriano.14
O termo tem uma rica histria de uso tanto em crculos no cristos
como cristos.15 Um significado bsico providenciado com tais
designaes como "vara de medir"16 ou "basto de medir".17 "A palavra
[kanon] veio a significar entre os gregos aquilo que um padro ou
norma pela qual todas as coisas so julgadas e avaliadas, tanto a
perfeita forma a seguir em arquitetura ou o critrio infalvel
(kritrion) pelo qual todas as coisas devem ser medidas."18
No uso cristo posterior veio a significar a lista autoritativa
(cannica) de livros
12Ibid., 3 :515; 4 0 3 - 4 0 4 .i : iEllen G. White , The Great
Controversy, 8 M notado usualmente que a palavra grega kann
emprestada do hebraico qaneh, "reed, rod.
A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 51
que pertencem Bblia.19 importante entender que o posterior uso
de "cnon" como um "lista" de livros no seno uma definio de uma
perodo tardio para este termo. O uso anterior e mais proeminente do
termo "cnon" como a "regra," "padro" ou "norma" para crena ou
prtica o mais significante. Como tal o "cnon" o padro da Escritura
santa e inspirada pelo qual o ensino e a ao crist devem ser
regulamentados.
Uso Neotestamentrio. O termo "cnon" usado no NT quatro vezes (G1
6:16; 2Co 10:13-16; alguns manuscritos contm a palavra tambm em Fp
3:16), Glatas 6:16 l-se, "E a todos quantos andarem de conformidade
com esta regra, [kanon] paz e misericrdia sejam sobre eles e sobre
o Israel de Deus" (ARA). Aqui o significado de "cnon" a "regra de
medir"20 pela qual todas as coisas da novacriao so medidas. E a
"norma" e "padro" ou "medida de avaliao"21 pela qual nossas aes e
dos outros so medidas. Em Filipenses 3:16 a palavra empregada com o
mesmo sentido.
A passagem de 2 Corntios 10:13-16 linguisticamente difcil de
traduzir; existe alguma ambigidade. Contudo, Paulo parece defender
sua autoridade apostlica ao notar que ele tem um "cnon" "ou padro
para seu trabalho para a reivindicao de validade apostlica que ele
no se conferiu a si mesmo mas recebeu de D e u s . " " O "cnon" ou
"padro" no fabricao sua mas lhe foi conferido por Deus.
Uso Posterior poca do NT. A designao "cnon" usada nos escritos
posteriores poca do NT desde a metade do segundo sculo no sentido
de uma "medida de julgamento" que determinante para a igreja em
termos do que verdadeiro e do que falso.23
Pelo quarto sculo d.C. o termo "cnon" passou a ser aplicado a
lista de escritos que pertenciam e formavam o conjunto de
Escrituras autoritativas.24 Assim, a palavra "cnon" veio a ser
definida dentro da comunidade crist como "a lista dos escritos
reconhecidos pela Igreja como documentos de revelao divina."23
Historicamente o termo "cnon" refere-se tanto forma (normens
normata) das Escrituras quanto funo autoritativa (norma normens) da
Escritura.26 "Cnon" tambm significa a autoridade com a qual a
Escritura usada. A amplamente citada e aceita Confisso de
Westminster, escrita em 1647 e um dos mais influentes credos do
calvinismo, afirma em seu artigo sobre a Escritura, "Todos [os
sessenta e seis livros] que so dados por inspirao de Deus, para ser
a regra de f e vida."27 Que
'''Bruce, The Cimon of Scripture, 18. 2 0 Sand, 9. 2 l Beyer ,
111:598. "Ibid., 111:599. 2 3Sand, 9. 2 4Bruce, The Canon of
Scripture, 17; Sand, 9. 2 5R. P. C. Hanson, Origin's Doctrine
ofTradition (London: S C M Press, 1954) , 93. 2 6 Bruce Metzger ,
The Canon of the New Testament (Oxford: Oxford University Press,
1987) , 2 8 2 - 8 8 . 2 7Citado por Bruce, The Canon of Scripture,
18.
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52 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)
papel a inspirao desempenha em conferir ao "cnon" como normens
normata, sua essencial qualidade, e como norma normens, sua funo
normatizante que diferente de outros documentos que foram
canonizados?
O Escopo do Cnon Bblico
O escopo da Bblia - que livros so includos nela - de crucial
interesse. H uma radical diferena entre os catlicos romanos (e
certas comunidades ortodoxas) e
' o s protestantes a respeito dos livros que pertencem ao AT.
Por outro lado, h uma plena concordncia entre todos os cristos a
respeito dos livros que pertencem ao NT.
Desenvolvimento do Cnon do AT. A diviso tripartita posterior
poca do NT do AT tem sido usada como fundamentos para a opinio
amplamente aceita de que o cnon do AT se desenvolveu em trs estgios
no curso de um longo perodo de tempo. alegado que a "lei" (Tor) foi
canonizada primeiro. Posteriormente os "Profetas" (Nebiim), e numa
final e terceira etapa os Escritos (Ketubim) foram canonizados.
Um desenvolvimento do cnon do AT'^em trs estgio " completamente
90
hipottico: no h evidncia para isto, quer no AT quer em outro
lugar."" Isto significa que a hiptese ou recontruo amplamente
aceita do suposto desenvolvimento do cnon do AT simplesmente esta.
No h base histrica para isto. Contudo, pode no assumir muito a
medida em que pensamos acerca do desenvolvimento do cnon.
Uma opinio alternativa sugere que o cnon se desenvolveu
exatamente__np momento em que os livros bblicos foram escritos sob
inspirao.: A origem dos livros bblicos sob inspirao divina a fonte
para o reconhecimento pelos contemporneos e comunidades posteriores
que estes livros eram em si mesmos portadores de autoridade divina.
Conseqentemente, os escritos divinamente inspirados so cannicos
desde o comeo devido a sua natureza inerente como documentos
inspirados. Assim, a autoridade dos escritos bblicos manifestada em
sua inspirao divina causa radical para a origem do cnon.
O Cnon Catlico Romano do AT. A Igreja Catlica Romana tem um cnon
maior para o AT do que o cnon da Bblia Hebraica com 39 livros
assumido por Jesus e os apstolos e seguido pelo Protestantismo em
geral.
Em 8 de AbriL.de- 1546, no Conclio de Trento, o Conclio dos
Padresdeterminou que o,s assim chamados livros dutero-cannicos tais
como Tobias, Judite, 1 e 2 Macabeus, Eclesistico (Siraque),
Baruque, Sabedoria e acrscimos a Daniel e Ester eram to cannicos
como os outros livros do cnon do Antigo Testamento. Desde aquele
tempo a designao "proto-cannicos" tem sido usada para os 39 livros
do cnon do AT que Protestantes e Catlicos tm em comumj? a designao
"dutero-cannicos" tem sido usada para os livros que apenas os
\
2*Ibid., 3 6 .
A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 53
catlicos reconhecem como cannicos.-.
..De acordo com o Conclio de Trento tanto escritos
proto-cannicos como os dutero-cannicos no tm distino em qualidade,
valor e importncia.;Todos os escritos cannicos reconhecidos esto no
mesmo nvel . Assim A Igreja Catlica Romana criou uma regra
permanente a respeito da extenso e do valor qualitativo da Bblia
para os catlicos.29
A deciso do Conclio de Trento coloca duas questes fundamentais
que continuam a dividir o verdadeiro Protestantismo do Catolicismo.
(1) Sobre que base ' deveriam os assim chamados livros
Dutero-Cannicos, adies ao cnon na Bblia Catlico Romana, serem
honrados como Escritura? (2) Sobre que base conferida a autoridade
cannica? E a Escritura, com sua autoridade intrnseca, baseada na
inspirao divina? Ou, uma autoridade comunitria chamada Igreja?
Desde que o Conclio dos Padres decidiu o que Escritura, torna-se
bvio que eles, e com eles a tradio anterior da igreja, permanecem
acima da Escritura. Ao conceder aos livros escritursticos seu
status cannico, a autoridade da Igreja se coloca acima da
autoridade da Escritura.
Se a Escritura, por outro lado, manifestar uma autoridade
inerente, divina, baseada em sua inspirao divina, que qualquer
comunidade posterior reconhea, ento a Escritura est acima da
comunidade religiosa quer Judaica quer crist, j Colocando em
palavras ditas por muitos outros: A igreja cria na Escritura? Ou, a
Escritura cria e mantm a Igreja? Em oposio ao Protestantismo
Reformado histrico, o Conclio de Trento manteve, e no de
surpreender, que "o cnon no pode ser derivado da prpria
Escritura."30 Esta posio inegocivel e de essencial importncia para
a autoridade superior que alegadamente reveste a Igreja, seu
magistrio e sua tradio, quando comparada com a posio sustentada
entre a linha principal dos Protestantes de que as Escrituras so
auto-autenticadoras.
Voltemos questo dos livros dutero-cannicos que fazem parte da
Bblia Catlico-Romana. O volume de material contidos em Tobias,
Judite, Sabedoria, Eclesistico (Siraque), Baruque, 1 e 2 Macabeus,
e suplementos a Ester e Daniel, cerca de dois teros do tamanho do
NT. O debate no gira em torno da utilidade destes livros. O debate
enfoca a questo destes livros pertencerem Bblia e de possurem plena
autoridade escriturstica. Merecem estes escritos um lugar no "cnon"
da Bblia?
Ao abordarmos esta questo temos que nos informar sobre uma
quantidade de itens. Primeiro, estes escritos no derivam de
"profetas" bblicos. Isto dizer que f .X. eles no foram inspirados.
Segundo, existem contradies histricas entre 1 Macabeus e 2
Macabeus. geralmente reconhecido que h um diferente nvel de exatido
entre 1 Macabeus e Judite, ou mesmo 2 Macabeus. Assim, a
exatido
2"A. M a i c h l e , Der Kcuum der Biblischen Biicher itnd das
K0n7.il von Trient (Freiburg: Herder, 1929) , 7 4 -9 9 ; Z i e g e
n a u s , 2 1 8 - 2 2 0 .
"'Anton Z i e g e n a u s , Kanon von der Viiteneit bis sur
Gegenwart (Fre iburg /Base l /Wien: Herder, 1991) , 220.
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54 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)
histrica est comprometida nestes livros. Terceiro, as adies a
Ester so encontradas apenas em manuscritos gregos. Nenhum
manuscrito hebraico original ou fragmento do mesmo conhecido e
conclui-se usualmente que ele foi composto depois dos tempos do AT,
em grego. Os livros de Tobias e Judite existiram somente em lngua
grega tambm. O AT cannico reconhecido foi escrito em
hebraico/aramaico e no em grego. Quarto, todos os assim chamados
livros dutero-cannicos foram produzidos em poca posterior ao
"perodo proftico" que fechou-se ao redor de 400 a.C.31 Quinto, o NT
no cita estes livros assim como cita os livros do AT.32 O NT
reconhece como "profticos" e inspirados apenas os livros que
pertencem "lei e os profetas", mas no os apcrifos aos quais
pertencem os assim chamados escritos dutero-cannicos.33 Sexto, os
antigos pais da Igreja, muitos dos quais citam a Escritura como
Escritura, no citam estes livros a par com o que eles mantinham
como Escritura.^Stimo, os assim chamados livros dutero-cannicos
foram preservados na metrpole norte africana de Alexandria, mas no
na Palestina. Estes escritos respiram um esprito diferente como
qualquer leitor pode detectar.34 Oitavo, o cnon hebraico contm 22
(respectivamente 24) livros, isto , nossos 39 livros, e estes
escritos no esto entre eles desde os mais antigos tempos em que
tais nmeros so mencionados3"'' nas listas posteriores poca do NT.36
Em concluso, os escritos adicionais da Bblia Catlico Romana no
merecem estar a par com a Escritura se o cnon do AT for limitado
queles livros que Jesus, os apstolos, os judeus, e a Igreja
Primitiva reconheceram como Escritura. - j 0 . . . - ;0.0
"Inspirao Bblica" e a Formao do Cnon
Uma metodologia slida exige que ouamos o que os prprios escritos
bblicos tem a dizer a respeito de sua origem por inspirao
divina.:Isto essencial porque a
,autoridade.-bblica-'~baseada na inspirao tambm o cnon. Uma vez
que limitaes de espao no permitem um estudo exaustivo, tentaremos
apresentar a posio representativa da Escritura.
Inspirao: O Testemunho do AT. O AT no usa a palavra "inspirado"
ou ^soprado, por Deus" (theopneustos). Esta linguagem empregada
apenas por Paulo. Contudo o AT mantm, firmemente sua origem
divina.
O AT tem sua prpria maneira acerca de sua inspirao divina, e,
assim, de sua resultante canonicidade. Vamos nos referir a alguns
pontos altos expressos por seu prprio auto-testemunho.
w "Ver Josefo , Contra Apionem, I, 3 8 - 4 2 . " J u d a s 14-15
uma alegada citao do livro apcrifo de 1 Enoque. Contudo Judas no
cita no livro, ele. cita um h o m e m , o patriarca Enoque. " B r u
c e Metzger, An Introduction to the Apocrypha ( N e w York, 1957),
177. 34 Ibid., 172 ,262 . 1 5 Josefo , Ani., 1.13; 10.63; Introd.
to Eccles iast icus; Philo, Vil Cont., 25, 28; 2 M a c . 2 : 1 3 -
1 4 ; Baba bathra 14 a-b.
3 6 Ver a l ista de Orgenes dos 22 livros do AT em Eusb io ,
Ecc. Hist. 1:25.
A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 55
1. "Profeta(s)." A lngua hebraica usou o termo beycid, "atravs
de,"literalmente, "pela mo de," para comunicar que Deus falou
"atravs" de seus "profetas" (nebi'im). Isaas 20:2 diz que "naquele
tempo o Senhor falou atravs de {beyad) Isaas filho de Amoz."
Jeremias 37:2 relata que o povo no ouviu "as palavras do Senhor que
Ele falou atravs de {beyad) Jeremias o profeta (nabi0" (cf. Jr
50:1). A "palavra do Senhor" veio "atravs de {beyad)" Ageu (1:1, 3;
2:1) e Malaquias (1:1). "A palavra do SENHOR, o Deus de Israel, a
qual Ele falou atravs de {beyad) seu servo Jonas, filho de Amitai,
o profeta {nabi),..." (2Rs 14:25). Coletivamente afirmado que
Yahweh advertiu Israel e Jud atravs de {beyad) todos os seus
profetas (nebi'im) (2Rs 17:13, cf.23).
Na poca de Ezequiel o Senhor pde falar dos "dias antigos"
durante os quais Ele falou "atravs dos {beyad) meus servos os
profetas de Israel, os quais profetizaram naqueles dias por muitos
anos"(Ez 38:17). No livro de Daniel expressa uma lamentao segundo a
qual Israel recusou-se a obedecer "a voz do Senhor nosso Deus" e os
"ensinos {torot) que ele ps diante de ns atravs de {beyad) Seus
servos os profetas" (Dn 9:10). Esta ltima passagem informativa
acerca do que Deus tem concedido "atravs de Seus profetas," ou
seja, a "voz" do Senhor e Seus "ensinos." Profetas "profetizam" (Ez
38:17) e eles fornecem "ensinos" divinos (Dn 9:10).
Yahweh falou "atravs de {beyad) Seus servos os profetas"(2Rs
21:10; Cf. 2Rs 24:2; 2Cr 29:25). O autor dos livros de 1-2 Samuel
includo entre os "profetas" ( ISm 3:20) assim como o bem conhecido
profeta Isaas (Is 37:2). Em um abrangente sumrio Esdras fala dos
"mandamentos" de Deus os quais Israel tinha esquecido mas que Deus
"ordenara atravs de {beyac) teus servos os profetas" (Ed
9:10-11).
E digno de nota que "Teu Esprito" admoesta o povo "atravs dos
{beyad) teus profetas" (Ne 9:30). O que os "profetas" dizem o que o
"Espirito" diz.
A mesma designao beyad, "atravs de" no sentido de "pela mo de"
usada por Deus ao dar Sua "lei" "atravs de" {beyad) Moiss" (Ne
8:14; 9:14; 10:29[30]). H numerosas passagens que simplesmente
afirmam que Deus/Yahweh ordenou ou falou "atravs de {beyad) Moiss"
(Js 14:2; 20:2; 21:8; 22:9; Jz 3:4; lRs 8:53, 56; 2Cr 33:8; 35:6)
ou o "livro da lei do SENHOR dado atravs de {beyad) Moiss" (2Cr
34:14). Tanto o prprio Moiss, "sendo ele mesmo um profeta," como os
"profetas" so agentes "atravs dos (beyad) quais Deus revelou a lei
e os profetas," do AT.
2. "A Palavra do SENHOR." A frase "a palavra do SENHOR" {debar
Yahweh) usada 269 vezes em vinte e oito diferentes livros do AT.37
As expresses paralelas, "palavras do SENHOR"(//bre;y Yahweh), usada
dezessete vezes em oito livros38 e
"Gi l l i s Gerleman, "dabar Wort," Theo log i sche
Handwrterbuch z u m Alten Testament , eds . E. Jenni e Claus
Westermann (Munich: Kaiser, 1971), 1:439, alista apenas 2 4 2 usos.
N o s s o uso v e m de um es tudo de computador da Bblia Hebraica.
3SEX 4:28; 24:3 ,4; Nm 11:24; l S m 8 : 1 0 ; 15:1; Jr 34:4 , 6 , 8
, 12; 37:2; 43:1; Ez 11:25; Am 8:11; 2 C r 11:4; 29:15 .
-
56 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)
"palavras de Deus" (dibrey Elohim),39 aparece trs vezes. A frase
"palavras do Senhor Deus"(debar Adonay Yahweh), aparece umas poucas
vezes.40 Assim tambm a frase, "palavra de Deus" (debar
(ha)Elohim).41 Mais do que 300 usos destas respectivas frases
testificam do fato de que -o AT percebia-se a si mesmo como
derivado de Deus. Ele a "Palavra de Deus." / Uma investigao destas
frases revela que as mesmas muito freqentemente se referem vises e
revelaes profticas. Cerca de 75% dos usos se referem a palavras
divinas que vieram aos profetas incluindo Abrao, Moiss, e todas as
pessoas conhecidas como "profetas" no AT. Nestes casos a expresso
significa muito freqentemente que a "palavra de Yahweh" a "palavra
de Deus" que o profeta proclama a seus contemporneos e escreveu em
seu livro.
Estas expresses indicam que o que o profeta anuncia no
simplesmente "uma palavra" de Deus. Ao contrrio, ela " sempre
chamada a Palavra de Deus."42
Ludwig Koehler, o famoso lexicgrafo da lngua hebraica, notou que
neste uso "deve ser encontrado o real fundamento da doutrina bblica
da inspirao da Santa Escritura."43
Em aproximadamente 20% dos usos, a frase "palavra[s] do
SENHOR/Deus," se refere s leis divinas que Deus deu a Israel
incluindo o Declogo. Os Dez Mandamentos so designados como "a
palavra de Yahweh" (Dt 5:5; lCr 15:15; etc.)44 ou "as palavras de
Yahweh" (x 24:3-4; etc.).45
3.) "Sentena do Senhor." Uma frase dominante traduzida "sentena
do SENHOR/Yahweh" ou "(assim) diz o SENHOR" ne'um Yahweh. Aparece
no menos do que 364 vezes no AT.46 Esta frase extensamente usada
nos livros profticos do AT. Mas ela tambm aparece em Gnesis 22:16;
Nmeros 14:28; 1 Samuel 2:30; Salmos 110:1; 2 Reis 9:26; 19:33;
22:19 e 2 Crnicas 34:27.
O uso revela que ela empregada mais freqentemente no comeo, no
meio, ou no fim de um dito de Yahweh dado por um profeta para
apoiar um relato na primeira pessoa ou "Eu" de Yahweh. O propsito
desta expresso enfatizar "a origem da mensagem dos profetas como
derivando de revelao divina e testificar de seu comissionamento
divino."47 Encontramos aqui uma grande expresso vtero-testamentria
que testifica da inspirao do AT.
4. "(Assim) diz Yahweh." A frase, "assim diz Yahweh (SENHOR)"
(koh 'amar
w J r 2 3 : 3 6 ; Ed 9:4; ICr 2 5 f 5 [ver texto hebraico] . 4 i
,EZ 6:3; 25:3; 36:4 . 4 1 J z 3 : 2 0 ; l S m 9 : 2 7 ; 2 S m
16:23; l R s 12:22; ICr 17:3. 4 2 L u d w i g Koehler ,
OlcfiTestament Thealogy (Phi ladelphia: Wes tmins ter Press, 1957)
, 106. "Ibid., 1 0 6 - 1 0 7 . ""O. Grether, Nanie und Wirt Gottes
im Alten Testament (Berl in: W. De Gruyter, 1934) , 7 1 - 7 7 ,
para textos adic ionais . 4 3 N o t e t a m b m a expres so "as d e
z palavras" para o d e c l o g o (Ex 34:28; Dt 4 :13; 10:4). 4 f
tIncludas nesta c o n t a g e m esto variantes c o m inseres c o m
o Adonai em 92 casos e outras variantes. V e r D. Werrer, " n e ' u
m Aussprach ," Tlieologisclies Handwiirterbuch zuni Alten
Testament, 2:1 . 4 7 H. E i s i n g "ne'um" Theologisclies
Wrterbuch zum Alten Testament, 2:1 .
A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 57
Yahweh), usada 291 vezes no AT.48 A mesma frase sem o "assim"
(koh) usada outras 76 vezes. uma expresso que afirma em linguagem
direta que Yahweh/Deus fala no AT.49 tambm um expresso que declara
que o que dito no AT de origem divina, a revelao sendo originada no
prprio Deus. Ademais, comunica que uma proclamao divina est sendo
apresentada pelo profeta que est falando ao povo.
Estas trs expresses em suas variantes so usadas mais de mil
vezes no AT. Este uso abundante esmagador porque mui extensamente
distribudo. a maneira que o AT tm te dizer que derivado de Deus e
"soprado por Deus." Ele usa esta linguagem para dizer aos leitores
que inspirado e autoritativo.
Inspirao e Canonicidade. A canonicidade est enraizada na
inspirao. Apenas os livros inspirados so "Palavra de Deus" e
"Escritura," e apenas livrosl inspirados so cannicos. Inspirao traz
consigo o cnon e a canonicidade.
[vganonicidade.1 no uma autoridade atribuda a Bblia a partir do
exterior. Ao " contrrio,c_derivada_da Bblia e inerente na prpria
natureza dos documentos que pertencem Bblia. |A inspirao torna o
escrito inspirado "Palavra de Deus" uma vez que a inspirao vem de
Deus e a "Palavra de Deus" deriva dEle. Portanto, a Palavra
inspirada de Deus por sua prpria natureza "Escritura",e cannica
desde o momento em que registrada- em forma escrita pelas mos de
escritoresinspirados.
Inspirao: O Testemunho do NT acerca do AT. Volvemo-nos agora
para o testemunho do NT acerca do AT. O NT faz reivindicaes
explcitas a respeito do AT que so normativas na Escritura. Tambm
faz explcitas reivindicaes acerca de si mesmo. Ambas as reas
necessitam ser investigadas.
1. "Profecia e Profetas. " O apstolo Pedro insiste que "nunca
jamais qualquerprofecia foi dada por vontade humana, entretanto
homens [santos] falaram da parte de Deus movidos pelo Esprito
Santo." (2Pe 1:21 ARA). "Profecia" o resultado do movimento do
Esprito Santo sobre as pessoas chamadas "profetas."
"Profecia neste sentido originada no Esprito Santo. O Esprito
Santo moveu seres humanos , "profetas," que falaram da parte de
Deus. O que eles falam "da parte de Deus." Sendo que suas mensagens
se originam de Deus, o que estes "falaram da parte de Deus" a
"palavra de Deus."
"Profecia" no o fruto do "impulso" humano. No o resultado da
imaginao, pensamento ou gnio humano. Nunca "foi dada por vontade
humana," escreve Pedro, mas tem sua origem em Deus que por meio do
Esprito Santo inspirou os profetas com sua mensagem.
A frase "vontade humana" necessita ateno mais detida. O
contraste neste texto entre a "vontade humana" e a atividade do
Esprito Santo sobre o "ser
41i usada 11 v e z e s em x o d o (x 4 :22; etc . ) , duas v e z
e s em Josu 7 :13; 24 :2 ) , u m a v e z em Juzes (6:8) , o i to
vezes em 1-2 S a m u e l , 33 v e z e s em 1-2 Reis , 10 vezes em
1-2 Crnicas , 27 vezes em Isaas, mais de 150 vezes em Jeremias e o
restante das vezes em outros livros proft icos .
W. H. Schmidt , "amar, sagen," Theologisches Handworterbuch zum
Alten Testament, 1:214.
-
58 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)
humano." A diferena entre vontade humana e atividade divina. A
diferena entre a dimenso horizontal do pensamento e experincia
humana baseada na ambientao scio-cultural do agente humano e a
dimenso vertical manifestada na entrada de Deus no processo
histrico por meio do Esprito Santo. Esta ltima toca os seres
humanos e lhes concede a revelao divina de maneira cognitiva.
A dimenso horizontal, a "vontade humana," inerente em qualquer
ser humano. E parte da experincia humana geral dentro da esfera do
contexto scio cultural de qualquer pessoa e os anteriores contextos
humanos dos quais testifica a histria. Todos os seres humanos
compartilham esta dimenso horizontal; uma parte e parcela de ser um
ser humano.
A dimenso vertical expressa na frase, "homens falaram da parte
de Deus movidos pelo Esprito Santo." Esta a dimenso do
sobrenatural. a concesso do Esprito Santo a homens escolhidos, isto
, a "profetas." Isto no parte e parcela da experincia universal de
todos os seres humanos. Estes seres humanos especialmente
escolhidos, os "profetas," so tocados pelo Esprito Santo de uma
maneira especial, revelacional.
Pessoas que falam profeticamente so "movidas" pelo Esprito Santo
porque o Esprito divino d-lhes informao real e cognitiva a qual
eles no tinham acesso anteriormente, e a qual eles precisam
comunicar. O que estas pessoas dotadas do Esprito Santo comunicam,
eles "falaram da parte de Deus." No falam de si mesmas. A separao
radical entre o "falaram da parte de Deus" e o que "vontade humana"
no pode ser super-enfatizada.
"Profecia," como a palavra usada em 2Pedro 1:21, est conectada
com a frase "profecia da Escritura" no verso 20. No est restrita
partes ou livros profticos da Escritura somente. Isto , no est
restrita segunda parte do cnon hebraico, os Nebi'im dos tempos
posteriores poca do NT que incluem os Profetas Anteriores e
Posteriores. No est restrita tambm segunda parte do cnon do AT dos
tempos anteriores poca do NT que inclui todos os 34 livros exceo do
Pentatuco.
O termo "profecia" refere-se quilo que foi escrito pelos
inspirados "profetas que profetizaram" ( IPe 1:10), que dizer, "por
homens movidos pelo Esprito Santo [que] falaram da parte de Deus"
(2Pe 1:21). Que pode ser includo sob o termo "profetas"? O NT usa
tais expresses como "lei/Moiss e os profetas '0 0 com os "profetas"
aparentemente se referindo a todo o AT fora do Pentatuco.
Os "profetas" falam de si mesmos como em Lucas 1:70, "Como Ele
[Deus] falou pela boca de Seus santos profetas desde a antigidade"
(NASB) com uma citao dos Salmos uma referncia a Abrao. Fica a
impresso de que neste caso "profetas" um termo inclusivo que
ultrapassa a segunda parte do cnon do AT, na realidade incluindo a
"Lei" e os "Escritos."
O uso inclusivo da designao "profetas" para toda a Escritura do
AT pode estar contida no dito de Jesus, "O nscios, e tardos de
corao para crer tudo o que
5 , lMt 5:17; 7:12; 11:13 ( e m ordem inversa); Lc 16:16, 29 ;
'24 :27; Jo 1:45; At 13:15; 24:14; 26:22; 28:23; R m 3:21.
A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 59
os profetas disseram" (Lc 24:25, ARA). Isto parece provvel pois
que Jesus explica aos discpulos no caminho de Emas "todas as
Escrituras," ou seja, "Moiss e os Profetas" (v. 27). A frase
"discorrendo por todos os profetas" parece ser idntica frase "todas
as Escrituras,'01 expressando a totalidade da Bblia dos dias de
Jesus, o AT.
A frase "as Escrituras dos Profetas" que Jesus emprega em Mateus
26:56, e que deveriam ser cumpridas nEle, mais uma vez parece
incluir todo o AT.'"1" Se este o caso, ento o termo "profetas" na
frase "as Escrituras dos profetas" so as pessoas que produziram as
Escrituras do AT sob inspirao. Mais uma vez h um uso inclusivo do
termo "profetas" como aqueles que produziram todo o AT sob
inspirao.
O apstolo Paulo tambm fala em Romanos 16:26 das "Escrituras
profticas." Esta expresso se refere a todo o AT no simplesmente
partes do mesmo."13 Ela testifica do fato de que os escritores de
todas as Escrituras, todo o AT, so percebidos como "profetas."
A abertura da carta aos Hebreus confirma este uso inclusivo do
termo "profetas" como os escritores que produziram todo o AT. O
autor afirma que Deus havia falado ao antigos antepassados dos
hebreus, isto , os "pais" que no so meramente os patriarcas mas os
hebreus dos tempos do AT, "muitas vezes, e de muitas maneiras, aos
pais pelos profetas, nestes ltimos dias nos falou pelo Filho" (Hb
1:1 -2pp, ARA)".rO termo "profetas" uma designao abrangente
inclusiva de cada escritor do AT. "Profetas" nesta passagem
refere-se a pessoas nas quais "Deus habita... e atravs das quais
ele fala,..."54 uma designao expressando a funo da inspirao divina
pois "Deus" que "falou" atravs deles.
yA revelao inspirada do AT dada pelos "profetas," os quais so
escritores humanos divinamente nomeados, tem a Deus como seu autoif
assim como Deus "nos falou" atravs de Seu prprio Filho o qual pode
ser visto como sendo O "Profeta." O uso inclusivo de "profetas"
apoiado pelo uso inclusivo de "Filho."
Esta introduo a Hebreus, com a revelao atravs dos "profetas"
(todo o AT) e agora atravs do "Filho," similar no fraseado a 2
Pedro 3:2: "para que vos recordeis das palavras que anteriormente
foram ditas pelos santos profetas, bem como do mandamento do Senhor
e Salvador ensinado pelos vossos apstolos." Aqui tambm as "palavras
que anteriormente foram ditas pelos santos profetas" parecem
referir-se ao AT como um todo assim como o "mandamento do Senhor e
Salvador ensinado pelos vossos apstolos" refere-se ao que foi
preservado no NT como um todo.
Deus falou no AT atravs dos "profetas," e Deus manifesta-se a Si
mesmo
" A s s i m W. W i e f e l , Das Evangelium nach Lukas "Theolog
isches Handkommentar zum N T " (Berlin: Evange l i s che
Verlagasntalt , 1988) , 4 1 1 . 5 2E. Schwe izer , Das Evangelium
nach Matthhiius "Das N e u s Testament Deutsch" (Get ingen: V a n d
e n h o e c k & Ruprecht, 1973), 324 . " O t t o Miche l , Der
Brief an die Rnier (Gett ingen: Vandenhoeck & Ruprechet, 1963),
3 9 0 - 9 1 n.4. 54 W. Friedrich, " p r o p h e t s T h e o l o g i
c a l Dictionary of the New Testament ( 1 9 6 8 ) 6 :832 .
-
60 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)
unicamente atravs do Filho no NT o qual "[falou] pelos vossos
apstolos." Assim, a Escritura vem a ns atravs dos "profetas" (todo
o AT) e dos "apstolos" (todo o NT). Ambas as categorias de pessoas
inspiradas, "profetas" e "apstolos" (todo o NT). So agentes humanos
divinamente apontados para falar e escrever por Deus.
+ Esta relao de passagens-chave usando o termo "profetas" em um
sentido inclusivo leva a concluso de que o termo "profetas" usado
de modo abrangente para pessoas inspiradas que escreveram o AT.53 A
correlao de "santos profetas" e "vossos apstolos" em 2 Pedro 3:2
significativa. Correspondendo aos "profetas" como a designao para
os escritores inspirados do AT est a designao paralela "apstolos"
como os escritores inspirados do NT. Eles so os porta-vozes
autoritativos de Jesus Cristo de Quem so apstolos.56
Moiss foi designado um "profeta" (Dt 34:10; 18:15,18) e assim
qualifica-se como estando entre os profetas que escreveram a
Escritura. A Moiss creditada a autoria do Pentatuco, os primeiros
cinco livros da Bblia (Js 1:7-9; 24:25, 26; lRs 2:2-4; Ed 7:6,7,
23-26; etc.) que so considerados como Escritura autoritativa ao
longo dos tempos do AT.37
Quando dois homens estavam profetizando e Moiss foi solicitado a
proibir-lhes, ele disse, "Oxal todo o povo do SENHOR fosse profeta,
que o SENHOR lhes desse o seu Esprito!" (Nm 11:29, ARA). Esta
declarao expressa um desejo de que todo o povo do Senhor pudesse
ser profeta. Contudo, este no o caso, "Profetas" so pessoas
especialmente dotadas. Moiss destaca o fato de que a comunidade
inteira de Israel no funciona no papel de profeta. No h profecia ou
inspirao comunitria de Israel.
diferente na igreja do NT, a comunidade crist primitiva? Na base
da promessa divina (Jo 14-16), o Esprito Santo chegou no
Pentecostes (At 2). Aqueles sobre os quais desceu o Esprito Santo
no se tornaram "profetas." Ao invs,, eles. foram capacitados para
miraculosamente falar lnguas para proclamar as boas-novas com poder
o mais rapidamente possvel (At 2:2-13). : ,s Cada verdadeiro
seguidor de Cristo na comunidade da f tem o dom do Esprito Santo
como Paulo insiste quando ele escreve aos Romanos, "de fato. o
Esprito de Deus habita em vs. E se algum no tem o Esprito de Cristo
esse tal no dele." (Rm 8:9). "Isto no significa que todos eles
receberam o dom especfico de profecia: o dom da profecia... era
apenas um de vrios dons do Esprito distribudo entre os membros da
igreja."39
5 5Isto pode encontrar apo io adicional na combinao de duas
categorias de pessoas q u e so o fundamento da igreja crist tal
como^so menc ionadas na expresso "o fundamento dos apsto los -e dos
profetas" (Ef 2:20; cf . 3:5) . 5 f , No NT os d i sc pulos de
Jesus so os "apstolos" ( M c 3:16-19; Mt 10:2-4; Lc 6 : 1 3 - 1 6 ;
At 1:13, 23 , 26; etc.). Paulo tambm chamado um "apstolo" ( I C o
1:1; 2 C o 1:1; Rm 1:1; Cl 1:1; Ef 1:1; l T m 1:1-2; 2 T m 1:1, 11;
Tt 1:1). " i s t o ev idente a partir do uso de "(livros da) lei de
Moiss" (Js 8:31, 32 ; 23:6; 1 Rs 2:3; 2 R s 14:6; 23:25; 2 C r 2 3
: 1 8 ; 30:16; Ed 3:2; 7:6; Ne 8:1; Dn 9: 13; Ml 4:4) .
Ver Gerhard Hasel , Speaking in Tangues. Bblica! Speaking in
Tangues and Modem Glossolalia, 2 ed. (Berrien Springs, MI: Advent
is t Theo log ica l Soc ie ty Publications, 1994). w B r u c e ,
Tlie Canon of Scripture, 2 6 4 .
A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 61
A recepo do Esprito Santo pelos crentes deve ser distinguida do
papel de um "profeta." O papel de "profeta" envolve um chamado e
capacitao especiais pelo Esprito Santo (ver ICo 12:29).
Os escritores bblicos estavam plenamente cnscios de que o que
eles escreveram no era produto de seus impulsos prprios. Davi
expressou a convico de que suas palavras se originaram do Esprito
Santo: "O Esprito do SENHOR fala por meu intermdio, e a sua palavra
est na minha lngua" (2Sm 23:2 ARA).
Daniel reconheceu que o livro de Jeremias era "a palavra do
SENHOR"(Dn 9:2), e que o anjo refere-se a "escritura da verdade"
(Dn 10:21).
Jesus apelou para a Bblia de seus dias, o AT, como a palavra de
suprema autoridade quando Ele encontrou o diabo ao afirmar "Est
escrito," citando a Escritura (Mt 4:4,7,10). Satans respondeu
torcendo a Escritura, ao que Jesus mais uma vez replica, "Est
escrito."
*- Jesus e os apstolos repetidamente apelaram "Escritura" como a
Palavra de Deus que se cumpriu (Lc 4:21; 22:37; Mc 12:10; Mt 26:54;
Jo 7:38; 10:35; 13:18; 17:12; 19:24, 28, 36-37; At 1:16; etc.). A
Escritura vem pelos "profetas" (Mt 26:56; Rm 1:2; 16:26) que falam
pelo Esprito Santo (2Pe 1:21).
O prprio Jesus Cristo insiste que "todos os profetas e a lei
profetizaram at Joo"(Mt 11:13). dito que todo o AT proftico por
natureza. Ele "profetizou" ou "falou."60
O autor da carta aos Hebreus v o Esprito Santo como o Autor
primrio tanto da advertncia, "hoje se ouvirdes a sua voz..."(Hb
3:7-11) como tambm do significado e do ritual do Tabernculo
mosaico, "querendo com isto dar a entender o Esprito Santo que
ainda o caminho do Santo Lugar no se manifestou, enquanto o
primeiro tabernculo continua erguido" (Hb 9:8).
Quando, o "profeta" (At 2:16) falou, era "Deus" falando (v. 17).
Igualmente "Deus falou pela boca de Seus santos profetas desde os
tempos antigos" (At 3:21, ARA) e Moiss o primeiro citado (vs. 22).
O que est escrito pelos "profetas," por Moiss e os subseqentes
profetas inspirados do AT derivado de Deus. Deus "dantes anunciara
por boca de todos os profetas que o seu Cristo havia de
padecer,..." (At 3:18, ARA).
O "Esprito Santo [falou] pela boca de nosso pai Davi, Teu
servo"(At 4:25, NASB) citado do Salmo 2. A idia de Deus "falando
atravs dos profetas repetida varias vezes no NT.
Em um nvel abarcante, Yahweh tinha proclamado Suas palavras
"pelo (beyad) ministrio dos profetas que nos precederam" (Zc 7:7,
ARA). A designao "profetas que nos precederam" inclui "a lei e as
palavras que o Senhor dos Exrcitos havia enviado por Seu Esprito"
(vs. 12, NASB). Se por "lei [torah]" a "lei" de Moiss referida,
ento a designao "profetas que nos precederam" refere-se a todos os
profetas de Moiss a Zacarias.
Deus no apenas usou os "profetas" como oradores e pregadores,
Ele usou-os
''"Passagens adicionais so R m 4 : 3 ; 9 : 1 7 ; 10:11; 11:2; G1
3:8; 4:30; Tg 2:8; 4:6; l P e 2 : 6 ; 2 P e 1:20.
-
62 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)
tambm para registrar suas palavras.61 Em Marcos 1:2 o escrito
vem de um "profeta." O NT emprega frases como "foi escrito pelo
profeta" (Mt 2:5) ou "todas as coisas que foram escritas pelos
profetas a respeito do Filho do Homem" (Lc 18:31, NASB). Paulo fala
da promessa dada "mediante seus profetas nas Santas Escrituras" (Rm
1:2, NASB). O que os Profetas escreveram Escritura inspirada. Foi a
operao do Esprito Santo que capacitou os "profetas" a proferir suas
palavras.62
Paulo afirma que "toda a Escritura divinamente inspirada" (2Tm
3:16). Assim, "toda a Escritura" "soprada por Deus" que a traduo
literal do termo grego theopneustos.63 Embora "toda a Escritura"
lenha sido escrita pelos profetas, seu contedo e mensagem derivam
do prprio Deus.
O prprio Jesus Cristo mantinha que "a Escritura no pode ser
quebrada" (Jo 10:35, NASB). Assim, ele sustentou sua unidade e
coerncia por que sua fonte e origem estava em Deus. A Bblia inteira
de ambos os Testamentos concebida como derivando de "profetas"64 e
assim por inspirao do Esprito Santo.
2) "Escritura" e "Escrituras Sagradas." A opinio expressa no NT
sobre anatureza da "Escritura" e o uso de "Escritura Sagrada" (2Tm
3:15) instrutivo para a origem da Escritura e sua autoridade.
a. "Escritura" como usada por Jesus Cristo. Jesus Cristo
referiu-se "Escritura" em sua declarao, "Examinai as Escrituras"
(Jo 5:39).65 universalmente reconhecido que "Escritura" como usada
aqui por Jesus refere-se ao AT como um todo.
Jesus endossou atravs disso a compreenso de que Sua Bblia a
Escritura inspirada e traz em si mesma a autoridade para descobrir
(a) a vida eterna e (b) o prprio Jesus Cristo porque "elas mesmas
que testificam de mim."
Jesus Cristo se refere em muitas situaes totalidade da
"Escritura" como a Bblia autoritativa de seus dias. Tais expresses
e frases como "[discpulos] creram na Escritura" (Jo 2:22), "a
Escritura no pode ser quebrada" (Jo 10:35), "para que a Escritura
se cumprisse" (Jo 17:12), e "eles no compreenderam a Escritura" (Jo
20:9) do ampla evidncia a respeito de qual era Sua opinio sobre a
Escritura.
I- A designao "Escritura" no significa em cada caso lodo o AT.
Em contextos especficos esta designao refere-se a uma passagem
dentro da Bblia. Quando usada neste sentido restrito, ento
qualificada de forma especial. Por exemplo, Jesus em seu discurso
inaugural na sinagoga de Nazar referiu-se a "esta escritura"
referindo-se a passagem de Isaas 61 (Lc 4:21). Em Joo 19:37 Jesus
fala de "outra
f t l Is 8:1; 30:8; Jr 30:2; 36:2 , 28 ; Hc 2:2; Cf . x 17:14;
24:4; 34:1 , 27 ; Dt 27:3; 31:19 , 2 4 - 2 6 ; 2Cr 26:22; N e 9 :38
. f '2Bruce, The Canon of Scripture, 264 . M V e r o insupervel es
tudo de Benjamim B. Warfie ld, T h e Inspiration and Authority of
the Bible (Philadelphia: Presbiterian and Reformed Publ ishing
House , 1970), 2 4 5 - 2 9 6 . W E . G. S e l w y n , The First
Epistle ofSt. Peter (London: Macmil lan , 1946), 134, 2 6 2 - 2 6 3
. H U m a traduo alternativa fornecida pela A R A , "examinais as
Escrituras. Vi d i ferena de traduo no afeta o assunto de n o s s o
estudo de "Escritura."
A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 63
Escritura" e quer dizer Zacarias 12:10. Em Marcos 12:10 Jesus se
refere a "Esta Escritura" de Salmo 118:22-23. Estes exemplos dos
Evangelhos restringem o significado de "Escritura" a passagens
individuais dentro do AT com tais termos como "esta" e "outra."
Este uso restrito de Escritura salvaguardado por seus contextos e
pronomes especiais.
b. "Escritura" nos Escritos de Pedro. A mesma unidade e
totalidade dasEscrituras do AT intencionada pelo apstolo Pedro em
sua referncia a "Escritura" em 1 Pedro 2:6 e sua famosa declarao de
que "nenhuma profecia da Escritura provm de particular elucidao"
(2Pe 1:20). Estas passagens enfatizam e afirmam a "totalidade
unificada da Escritura."66
c. "Escritura" nos Escritos de Paulo. O uso cristo primitivo do
termo"Escritura" para referir-se a totalidade e unidade do AT,
tambm apoiado por vrias passagens do apstolo Paulo.
A designao "sagradas letras" (hiera grammata) em 2 Timteo 3:15
que Timteo havia conhecido desde a infncia "refere-se ao Antigo
Testamento como um todo."67 Esta uma maneira na qual toda a Bblia
daqueles que viveram antes dos tempos do NT [era referida] (ver
tambm 2Tm 3:16).
Paulo escreve em Glatas 3:8, "Ora, tendo a Escritura previsto
que Deus justificaria pela f os gentios, preanunciou o
evangelho..." (ARA). A "Escritura" aqui personificada para
representar o prprio Deus. Esta assim chamada hipstase da Escritura
mostra que a "Escritura" considerada em sua "unidade essencial
como
/o declarao da vontade divina."
d. "Escritura" no Livro de Atos. "Escritura" em Atos 1:16 o "que
o EspritoSanto proferiu anteriormente pela boca de Davi" (v.17
NASB). Em Atos 8 tambm encontramos o relato de que a "passagem da
Escritura" (v. 32) que o eunuco etope estava lendo vinha de Isaas
53:7-8. A distino aqui que o termo "passagem" usado quando uma
parte da totalidade da "Escritura" lida. A prpria "Escritura" a to
tal idade da B bl ia.
O quadro consistente apresentado no NT que o AT "Escritura," a
"Palavra de Deus" produzida pelos "profetas" que falaram atravs do
Esprito Santo. Os "profetas" a registraram (x 17:14; 24:4; Dt 31:9;
Js 24:26; lRs 2:3; Ed 3:2; Jr 30:2; cf. Rm 15:15; ICo 4:14; 2Co
2:3; IPe 5:12; 2Pe 3:1; Uo 1:4, 2:12, 26; Jd 3; etc.). Jesus Cristo
e os apstolos aceitaram-na como "Escritura" inspirada e
autoritativa..-
Inspirao: O Testemunho do NT sobre Si Mesmo. |0 que o NT diz a
respeito de si mesmo? Aplica ele tais designaes como "Escritura" e
"palavra de Deus" a si prprio?
1. Escritura(s). Un^breve considerao de 1 Timteo 5:18
apropriada. "Poisa Escritura declara: 'No amordaces o boi quando
pisa o gro' e ainda "O trabalhador digno do seu salrio" (ARA). A
primeira citao deriva de
w , W . Schrenk, "graplie os Holy Scripture," 1:755. " S c h r e
n k , " g r i m n a in NT Usage," Theological Dictionury of the New
Testament ( 1964) , 1:765. 6 l iSchrenk, " g r a p h e as Holy
Escripture," 1:754.
-
64 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)
Deuteronmio 25:4 e considerada como "Escritura." A segunda citao
consiste em um dito de Jesus registrado em Lucas 10:7: "O
trabalhador digno de seu salrio" (cf. Mateus 10:10). O prprio
dito de Jesus coberto pela frmula introdutria para a citao da
Escritura, "a Escritura diz."
Jr Tem sido sugerido que Paulo se refere ao Evangelho cannico de
Lucas como Escritura. No podemos estar totalmente certos a respeito
disso, mas o fraseado afirma que pelo menos um dito de Jesus (ou
uma coleo de seus ditos como um Evangelho), tinha o status de
"Escritura" quando Paulo escreveu 1 Timteo.69 " impressionante que
Paulo ponha esta citao ao p da letra do Evangelho de Lucas no mesmo
nvel que o AT e chama ambas as citaes de 'Escritura'."70
~~tr cO segundo exemplo vem do livro de Atos. A pregao das
Boas-Novas por Filipe designada como sendo "a palavra de Deus"
(Atos 8:12-14). A proclamao do evangelho repetidamente descrita
como "a palavra de Deus." - V' O terceiro exemplo deriva de Pedro.
A referncia s "demais Escrituras" em 2
Pedro 3:16 - dentro do argumento concernente s cartas de Paulo
"nas quais h certas coisas difceis de entender" (ARA) - indica que
o uso petrino de "Escrituras" aqui "pe os escritos de Paulo no nvel
das outras Escrituras inspiradas."71
Evidentemente o Corpus Paulino de cartas so aqui considerados
como pertencendo s "demais Escrituras."72 tEsta_maneira. de se
referir s cartas de Paulo como "Escrituras" juntamente com o AT
indica que elas haviam sido reconhecidas como estando no mesmo
nvel. Ambos eram visto como sendo de origem divina e autoritativos.
Uma vez que as "Escrituras" incluem as cartas de Paulo, pode ser
sugerido querelas tm (assim como as demais "Escrituras")
canonicidade intrnseca.
-Elas so to cannicas como as Escrituras do AT. O quarto exemplo
deriva de Paulo? O apstolo Paulo faz referncia ao
"mistrio de Cristo," o qualfrardado a conhecer em pocas
passadas, e que "agora foi revelado aos seus santos apstolos e
profetas, no Esprito" (Efsios 3:5, ARA). Esta passagem d evidncia
de que a pregao e escritura apostlicas so originados no Esprito no
sentido de que revelao pelo Esprito Santo da mesma maneira que as
mensagens dos "profetas" eram revelao na era do AT. Isto est em
harmonia com a reivindicao de Paulo de que "o evangelho por mim
anunciado... recebi... Mediante revelao de Jesus Cristo" (G1
1:11-12, ARA).
J o o , o_Revelador, fornece um quinto exemplo. Ele mantm "Eu
estava no Esprito" (Ap 1:10) quando lhe foi dado "a palavra de
Deus, e o testemunho de
f'yIsto admit ido por Rainer Riesner, "Anstze zur Kanonbi ldung
im N e u e n Testament ," Der Kanon der Bibel, ed.Gerhard ivfaier
(Giessen: Brunnen Verlag, 1990), 157, o qual sugere q u e c o m
esta e x c e o a des ignao "Escritura" para os l ivros do NT
encontrada de outra maneira apenas na metade do segundo scu lo d.C.
( 2 C l e m 2:4). '"Simon Kistemaker, "The Canon of the N e w
Testament ," Journal of lhe Evanglica! Theological Sociely 20/1 ( 1
9 7 7 ) , 8 . 71F. D. Nichol , ed. , "2 Peter," Seventh-day
Adventist Bible Commentary (Washington DC: R e v i e w and Herald,
1957) , 7:618", Karl Hermann Schelkle , Die Petrusbief. Der
Judasbrief "Hthk 13/2" (Freiburg im Breisgau: Herder, 1980) , 2 3 6
- 2 3 8 . 7 2 Bruce, The Canon of Scripture, 125.
A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 65
Jesus, e todas as coisas que ele viu" (1:2). Na concluso do
livro de Apocalipse h a repetida nfase nas "palavras da
profecia deste livro" (Ap 22:10, 18, 19). "As palavras da
profecia deste livro" so a prpria "palavra de Deus'* (Apocalipse
1:2).
Nossa reviso das principais declaraes usando o termo
"Escritura(s)" e "Palavra de Deus" no NT revela que estas designaes
so extensivas a ponto de incluir os escritos do NT.-.F. F.
Bruce:nota perceptivamente "Quando os escritos do Novo Testamento
foram posteriormente includos com o Antigo Testamento como parte de
'toda a Escritura' [2Tm 3:15-15], foi natural concluir que eles
tambm eram 'inspirados por Deus'."7 3 Esta concluso parece slida. A
Palavra de Deus constituda tanto pelo Antigo como pelo Novo
Testamentos "inspirada por Deus."
-+ autoritativa no porque seres humanos lhe conferiram
autoridade. Autoridade no lhe atribuda pela comunidade.
autoritativa porque a Escritura se originou atravs do Esprito Santo
por meio da inspirao e foi registrada por profetas e apstolos
inspirados.
2. "Toda a Escritura." Agora podemos retornar expresso "toda
Escritura"na famosa passagem de 2 Timteo 3:16, "Toda a Escritura
Inspirada por Deus til para o ensino, para a repreenso, para a
correo, para a educao na justia" (ARA).
A frase "toda Escritura" a traduo mais amplamente usada da
palavra grega original pasa graphe que Paulo escreveu.74
Uma verso inglesa traduz, "cada escritura" (ARV) e tradues
dinmicas recentes trazem "cada escritura inspirada"(NEB, REB).
A ltima traduo "cada Escritura inspirada," no parece refletir
fielmente o que Paulo escreveu. Esta traduo duvidosa do ponto de
vista sinttico.75 O gramtico grego C. F. D. Moule escreveu que a
traduo "cada escritura inspirada" " muito improvvel... (e] muito
mais provvel [a frase] significa o todo da escritura ()
inspirado."76
Que diferena faria dizer "toda a Escritura" ou "cada Escritura"?
James Barr nota que "se o significado 'cada escritura', ento a
palavra 'escritura' no designa a totalidade da Bblia; antes, uma
palavra para cada passagem individual ou sentena."77 Em outras
palavras, a traduo "cada escritura" refere-se
73Ibid., 2 6 5 . " A s s i m a KJV, N A S B , TEV, N1V, N R S V
. 7 3 A questo sinttica se relaciona c o m a p o s i o do adjetivo
theopneustos, "God-breathed." dito q u e a s entena tem o adjet ivo
na pos io atributiva, "Escritura inspirada." Isto seria um paralelo
de frases c o m o "sagradas letras" no vs. 15. A traduo mais
amplamente usada, "toda a Escritura inspirada por Deus ," leva o
adjet ivo na pos io predicativa. A pos io predicativa parece a mais
natural. por esta razo q u e um erudito tal c o m o James Barr
"recusa tomar uma dec i so def in ida entre estas duas poss ibi l
idades" (Beyond Fundamentalism: Biblica! Foundations for
Evangelical Christianity [Philadelphia: Westminster , 1984] ,
1.
1('C. F. D. M o u l e , An Idiom-Book of New Testament Greek, 2
ed. (Cambridge: Cambridge Univers i ty Press, 1960) , 95 . 77Barr,
Beyond Fundamentalism, 1.
-
66 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)
distributivamente a cada passagem individual na Escritura.
Significa "cada passagem da Escritura"78 em um sentido distributivo
e no "Escritura" como uma unidade totalmente completa. O sentido
distributivo significa que quando algum olha as vrias partes da
Bblia em qualquer que seja a passagem considerada, ela inspirada
por Deus.
Ao contrrio, se Paulo quer dar a entender "toda Escritura,"
usando esta expresso em um sentido no distributivo, coletivo, ento
"toda a Escritura" refere-se Bblia em sua totalidade.
A probabilidade de que Paulo esteja usando pasa graphe em um
sentido coletivo de "toda Escritura" alta, porque este o uso normal
do termo no NT e nas cartas de Paulo. A idia de que haja uma
passagem da Escritura que no seja inspirada por Deus no o ponto de
vista de Paulo ou qualquer outro escritor bblico.79 A Escritura no
o resultado do impulso, razo, pesquisa ou pesquisa do homem, mas de
ser "soprada inspirada] por Deus" ( theopneustos).
A evidncia considerada acima parece indicar que o NT, bem como o
AT antes dele, claramente dado por meio do Esprito Santo. E a
palavra do "Filho" (Hb 1:1,2) ou "o mandamento do Senhor" ( ICo
14:37, NASB). O NT se origina da mesma maneira que o AT. Segue-se
que a inspirao dos escritos do NT d-lhe status cannico da mesma
maneira que os escritos do AT tm inerente status cannico.
O Fechamento do Cnon do AT: Um Novo Consenso
Investigaes recentes sobre o fechamento do cnon do AT tm
consistentemente apontado para um fechamento nos tempos
pr-cristos.80 Este um significativo afastamento do pensamento
crtico amplamente aceito que dominou durante aproximadamente 100
anos. Isto abre um novo captulo em nossa compreenso da origem e
desenvolvimento do cnon do AT. Estes estudos indicam que o consenso
crtico dos sculos dezenove e vinte a respeito da canonizao
enfraquecido pelos estudos dentro e fora do campo da erudio crtica,
e at necessita ser substitudo.
Devido a restries de espao, mencionaremos seis grandes
autoridades. Quatro pertencem a tradio crtica da erudio, como suas
opinies sobre o livro de Daniel mostraro.
Sid Z. Leman. Em 1976 Sid Z. Leiman publicou sua alentada
dissertao que investiga o espettro completo da evidncia rabnica
para a canonizao da Bblia
7 l iSChrerik, "grapho" 1:754. 7 "0 argumento pelo qual Paulo
util izou literatura no cannica tem sido um assunto de d i scusso
por cerca de 2 5 0 anos. U m a reviso exce lente e equilibrada
deste assunto fornecida por E. Early Ell is , PauTs Use of the Old
Testament (Grand Rapids, Ml: Baker B o o k House , 1991), 3 4 - 3 7
; 7 6 - 8 4 . X,,A data de f echamento de ca. 2 0 0 a.C. apoiada
por 1. H. Eybers, " S o m e Remarks about the Canon of the Old
Testament ," Theologica Evanglica (Univ . of South Africa) 8 (1975)
, 111; P. Schafer, "Die S o g e n n a n t e S y n o d e von
Jamnia," Judaica 31 (1975) , 116.
A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 67
Hebraica. Ele continua a sustentar um processo de trs partes
para a canonizao. Ele mantm que o texto da Escritura inequvoco
acerca da canonizao da "Lei." Leidman conclui, "A canonizao do
Cdigo da Aliana, o Declogo, Deuteronmio, e talvez a Tor inteira
assumida como tendo ocorrido durante o tempo de vida de Moiss."Sl
Isto implica que a histria do processo de canonizao no comeou
simplesmente no tempo de Josias por volta de 622/1 a.C. quando o
livro de Deuternomio foi descoberto no Templo (2Rs 22:2; 2 Cr
34).
Na viso dos rabis, os Profetas (Nebi'im), Leiman mostra, foram
canonizados entre 500 e 450 a.C. Os Escritos (ou Hagigrafa), a
terceira parte do Cnon Judaico, foram canonizados por volta de 200
a.C., ou antes. Mas desde que o livro de Daniel afirmado pelos
eruditos liberais como no tendo sido completado at 164 a.C., de
acordo com a hiptese de autoria macabia, Leiman afirma que a
canonizao final do Escritos ocorreu durante a crise macabia. " uma
suposio justa," ele escreve," que a forma atual de Daniel foi
canonizada pelos Macabeus cerca de 164 a.C. luz desta
probabilidade, e luz de 2 Macabeus 2:14-15, ns sugerimos de que os
Hagigrafa foram canonizados e fechados sob a gide de Judas Macabeu
um pouco antes da morte de Antoco Epifnio IV (164/163 a.C.)."82
S. Talmon. Shemaryahu Talmon publicou em 1987 um importante
ensaio, "Holy Writings and Canonical Books in Jewish Perspective -
Considerations Concerning lhe Formation of the Entity 'Scripture'
in Judaism."83 Ele defende um desenvolvimento do Cnon Hebraico em
trs estgios.84 A Bblia foi escrita durante um perodo de
aproximadamente 1000 anos, "entre cerca de 1200 e 200 a.C."8'1
A "Tor," a qual entendida como derivada de Moiss, foi promulgada
por tais reis como Josaf (2Cr 17:7-9), Ezequias (2Cr 31:12), Josias
(2Rs 22:8ss; 2Cr 34:16ss.) e tais personalidades nacionais como
Esdras e Neemias (Ne 8:2-8).86
E evidente que a "santidade" da Tor deve ser igualada com sua
"composio sob inspirao divina."87
O conjunto dos Profetas e dos Salmos so igualmente atribudos
"inspirao divina." s s Desta maneira a estes escritos foi conferida
"santidade" que os inclui entre os "Escritos Sagrados."89 A
literatura histrica e de sabedoria tambm manifesta
s l S i d Z. Le iman, The Canonization of Hebrew Scripture. The
Talmudic and Midrashic Evidence ( H a m d e n , CT: A l m o n d ,
1976) , 20 . Este v o l u m e a verso publicada de sua dissertao
referida na prxima nota. " L e i m a n , The Talmudic and Midraslic
Evidence for the Canonization of the Hebrew Scripture ( P h D
dissertation, University of Pennsylvania , 1970) , 48. " P u b l i
c a d o em a l e m o em Mitte der Schrift?, eds. M Klopfenste in et
al. ( B e m : Peter Lang, 1987), 4 5 -79 . "ibid., 4 5 - 4 9 .
"Ibid., 5 0 - 5 2 . ""Ibid., 5 7 . "Ibid., 58 . mlbid. mlbid.
-
68 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)
inspirao.90
Entidades familiares expandidas juntamente com comunidades
religiosas e nacionais receberam estes tipos de literatura
inspirada em leitura e uso, contribuindo para sua atribuio como
literatura autoritativa e cannica.91
Talmon conclui que o cnon das Escrituras Hebraicas foi
completado na fase inicial do perodo helenstico na metade do
segundo sculo a.C.92
Evidentemente, Talmon concorda com Leiman sobre o fechamento do
cnon e assinala que as discusses rabnicas posteriores em Jmnia tm
fora hagdica e no halquica [legal]. A discusso em Jmnia tem apenas
valor escolstico e no est relacionada com o fechamento do cnon. O
cnon j estava fechado no tempo em que estas discusses
ocorreram.93
David N. Freedman. David Noel Freedman, um erudito de primeira
linha de reputao internacional, que chamado "um dos ltimos dos
grandes generalistas da Bblia,"94 argumentou em um provocativo
ensaio publicado em 1976 (independente das concluses de Leiman) -
que a Lei e os Profetas Anteriores (os livros histricos do AT)
formavam uma unidade literria que havia recebido status cannico por
volta de 550 a.C.
Uma "segunda edio" do cnon, que incluiu os Profetas Posteriores,
isto , os livros profticos do AT, apareceu aceca de 500 a.C. Os
Hagigrafa (Escritos) foram acrescentados posteriormente. Uma vez
que o livro de Daniel datado em sua suposta edio final de 165 a.C.
o cnon aparentemente foi fechado neste tempo.
Em 1993 Freedman explicou que Esdras e Neemias canonizaram "toda
a Bblia"95 em sua forma final, "toda exceto Daniel."96 Ele vai
elaborar isto em uma futura monografia.
Roger Beckwith. Roger Beckwith, preletor na Universidade de
Oxford, escreveu o mais alentado volume sobre o cnon do AT escrito
neste sculo. Beckwith est em essencial harmonia com Leiman quanto
ao fechamento do cnon. Beckwith sugere que Judas Macabeu finalmente
agrupou as escrituras em 164 a.C., e nessa poca os livros de Ester
e Daniel foram includos no cnon.97 Assim, o cnon do AT foi fechado
por volta de 164 a.C.98 Beckwith sustenta, contudo, que as outras
partes do cnon foram reconhecidas como cannicas em poca bem mais
remota.
Meredith G. Kline. Meredith G. Kline, seguindo as novas
descobertas sobre tratados do antigo Oriente Prximo, argumenta que
h uma inquebrantvel
"Ibid., 5 9 . 91 Ibid., 6 0 - 6 9 . 92Ibid., 7 5 . 1)3Ibid., 79
."wHershel Shanks em sua introduo a David Noe l Freedman em Bible
Review 9 /6 ( D e c e m b e r 1993) , 28 . ''"'David Noe l
Freedman, "Canon of the Old Testament ," Interpreteis Bible
Dictionary. Siipplementary Volume (Nashvi l l e , Abingdon , 1976),
130-136 . '"'Freedman, " H o w the Hebrew B ib l e and the
Christian Old Testament Differ ," Bible Review 9 /6 ( D e c e m b e
r 1993) , 28 -39 , esp. 39 . '"Beckwith, The Old Testament Canon of
the New Testament Church, 3 1 2 . nIbid., 4 0 6 .
A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 69
continuidade cannica da poca de Moiss at o fim da composio dos
livros do AT. Ele argumenta em favor da origem divina dos livros
bblicos fundamentado na inspirao divina que garante autoridade e
uma fiel tramisso do texto como a Palavra de Deus.99 Ele afirma, "A
origem do cnon do Antigo Testamento coincidiu com a fundao do reino
de Israel pelo concerto do Sinai."100 O prprio concerto feito por
Deus no Sinai o qual "formalmente estabeleceu a teocracia israelita
foi em si mesmo o comeo do ncleo da total estrutura pactuai de
escritos que constituem o cnon do Antigo Testamento."10 '
Para Kline a reivindicao do Novo Testamento "quanto a sua
primria autoria divina" significa que ele deve ser entendido como a
palavra do ressurreto Senhor do novo concerto..."102 "E ento os
autores humanos dos livros do Novo Testamento, autorizados por seu
Senhor a falar sua palavra, sero vistos funcionando como seus
'ministros do novo concerto' (Cf. 2Co 3:6)."103 Ele conclui,
"Porque a Bblia o velho e novo concertos e porque o cnon inerente
em concertos do tipo bblico, canonicidade inerente na prpria forma
e identidade da Escritura como o Antigo Testamento e o Novo
Testamento."104
Assim, para Kline, o cnon est enraizado e fundamentado na
Escritura como a Palavra pactuai de Deus; no est fundamentado em
qualquer agente(s) normativo externo que atribui canonicidade aos
livros bblicos a partir de fora.
Robert I. Vasholz103. Uma voz complementar de kline Robert I.
Vasholz com seu volume, The Old Testament Cnon in the Old Testament
Church (1990).106
Ele aponta para a "coerncia interna para a canonicidade do
Antigo Testamento." Vasholz desenvolve "a posio de que a
racionalidade para aceitar escritos
como autoritativos, i.e. cannicos, reside na observao de
testemunhas oculares contemporneas de algum tipo de manifestao de
aprovao divina aos autores da escritura."108 Assim, Vasholz faz uma
distino entre a natureza inerente da canonicidade a qual dita
residir no Antigo Testamento como "palavra do Senhor" e a aceitao
desta canonicidade pela comunidade.
O aspecto de aceitao do que inerentemente cannico reside na
divina manifestao da "aprovao de Deus aos autores" dos quais as
testemunhas so
" M e r e d i t h G. Kline, The Structure of Biblical Authority,
rev. ed. (Grand Rapids, M l : Eerdmans , 1972); idem, "The
Correlation of the Concepts of Canon and Covenant ," New
Perspectives on the Old Testament, ed. J. Barton Payne ( W a c o ,
TX: Word Books , 1970) , 2 6 5 - 2 7 9 . '""Kline, The Structure of
Biblical Authority, 4 3 . mIbid. 102Ibid., 71 . mlbid. mIbid 75 . i
n 5 Robert I. Vashholz , The Old Testament Canon in the Old
Testament Church. The Internai Rationalefor Old Testament
Canonicity. "Ancient near Eastern Texts and Studies, V o l . 7 "
(Lewinston: Edwin Mel lon Press, 1990) . 10(1 Ibid., 2. 107Ibid.,
9. mIbid 2 0 .
-
70 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)
contemporneas. Isto significa que canonicidade fundamentada no
divino tanto com relao (1) origem dos livros como derivados de Deus
como (2) no "reconhecimento" por parte da comunidade contempornea a
qual Deus concede indicaes confirmatrias e sobrenaturais.
No caso de Moiss, que produziu o Pentatuco, h ampla evidncia
para a "aprovao" divina de Moiss como autor.109 Os israelitas foram
testemunhas oculares do que Deus fez e realizou atravs de
Moiss.
Como o quadro com os profetas e escritores dos livros bblicos
aps Moiss? Vasholz nota que "o Antigo Testamento endossa a predio
cumprida como a marca principal de canonicidade,..."110 Deus
cumpria predies de curto prazo para "reassegurar aos ouvintes que
Deus realizaria o que Ele havia prometido [nas profecias de longo
prazo e nas outras palavras dos escritores de livros
bblicos]."111
J O papel de predies cumpridas era funcionar "como prova de que
o profeta era genuno, e a sociedade do Antigo Testamento os
compreendesse desta maneira."112
Estes cumprimentos faziam com que "a obra ou obras do profeta...
fosse respeitada e conservada. Quando o profeta e seus
contemporneos tivessem sado de cena no haveria maneira de ser
confirmado o profeta. O profeta se autenticava por predies de curto
prazo e milagres diante de sua audincia."113
Os livros de 1-2 Samuel e 1-2 Reis contm numerosos relatos de
predies de curto prazo com seus respectivos cumprimentos.114 Este
esquema profecia/cumprimento revela a auto-autenticadora
racionalidade "para determinar canonicidade."""^ 15 A situao com
relao a 1-2 Crnicas similar quela de 1-2 Samuel e 1-2 Reis. Vasholz
conclui que "h no Antigo Testamento um registro de profetas
escritores cuja autoridade havia sido publicamente atestada cada um
em sua prpria gerao para escrever a histria dos reis de Israel, e
estes mesmos profetas foram contemporneos dos reis acerca dos quais
escreveram."116
As predies dos livros profticos tais como Isaas, Jeremias e
assim por diante funcionavam na mesma base de auto-autenticao."7 "A
predio era o ponto crucial da questo da canonicidade exatamente
como devia ser e como uma avalanche de dados mostrados pelo Antigo
Testamento."118 O ponto que Vasholz quer enfatizar que o AT no
apenas prov o critrio interno para canonicidade em termos de sua
origem como a "palavra do Senhor", mas tambm prov o critrio
mIhid., 2 0 - 3 3 mIbid 47 . " W 112Ibid., 49. mlbid. " 4 l S m
2 :34 = 4 :11 ; 15:1-2 = 15:7-8; 30:7-8 = 30 :17 -20 ; 2 S m 3:18 =
5 :17 -21-8 :1 ; 7 : 1 2 - 1 3 = 2 R s 2:24; 2 S m 1 2 : 1 1 - 1 2
= 12:21-22; 1 2 : 1 4 = 12:18. Para 1-2 Reis ver IRs 11:31-39 c 1 4
: 2 = 12:15-17; l R s 13:3 = 13:5; 1 Rs 13:8, 17, 22 = 13:26; IRs
14:7-13 = 17:18; 16:2-4 = 16:11-12, e muitos outros e x e m p l o s
. " ' V a s h o l z , 54 . U(,!bid., 57 . 118. Ibid., 67 . 111
Ibid., 5 8 - 6 8 . mIbid 67 .
A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 71
interno de aceitao e reconhecimento pela comunidade. Nessa base,
o produto escrito dos profetas foi reconhecido tanto como
autoritativo quanto cannico.
Estes eruditos manifestam essencial concordncia em relao ao
fechamento do cnon do AT muito antes de comear o perodo do NT.
Leiman, Talmon, e de algumas outras perspectivas Kline e Vasholz,
sustentam que a idia de cnon derivada da qualidade inerente da
inspirao dos livros da Bblia. Beckwith no se ope a isto mas tem uma
preocupao diferente. As varias comunidades nas quais os livros do
AT funcionam como cannicos ou os reconhecem como sendo assim
(Kline, Vasholz) ou atribuem em seu uso destes livros autoridade a
eles (Leiman, Talmon). Pode ser apropriado concluir que as
respectivas comunidades, primariamente contemporneas dos escritores
inspirados da Bblia, vieram a reconhecer a inerente qualidade
destes escritos com base em seu carter inspirado.
Uma concluso adicional se apresenta: a inspirao dos escritos
bblicos era a qualidade norteadora da canonicidade. O cnon que
inclui todos os trinta e nove livros do AT estava em existncia por
volta de 400_a.C.119quando os ltimos livros foram escritos pelos
ltimos autores inspirados.120
Esdras, um escriba profissional bem como sacerdote, ho quem
canonizou os livros do AT embora tenha desempenhado importante
papel juntamente com Neemias para afirmar e popularizar a Escritura
canonizada entre os exilados. "Esdras tinha posto seu corao para
estudar (darash) a lei do SENHOR, e para pratic-la e ensin-la" (Ed
7:10, NASB). Mais tarde Esdras trouxe "a Lei" ao povo e leu-a para
eles (Ne 8:2-8).
Aqueles que sustentam uma hiptese macabia para o livro de
Daniel121
sugerem uma data no final do segundo sculo a.C. para o
fechamento do cnon do AT em cerca de 164 a.C. Contudo, se o livro
de Daniel datado no sexto sculo com base interna, c no h razo para
dat-lo em poca posterior a essa,122 ento o fechamento do cnon do AT
pode ser datado por volta de 400 a.C. quando o ltimo dos livros foi
escrito.
O conceito de um "cnon crescente",123 isto , um cnon que
ampliado, no significa que a comunidade israelita por si mesma
simplesmente adicionou livros ao seu cnon das Escrituras. Antes a
medida em que os autores inspirados dos livros bblicos terminaram
seus produtos, estes escritos inspirados aumentaram o conjunto
" , ;J. W. Wenham, Christ and tlie Bible (London: Tyndale, 1972)
, 134, afirma, "No h razo para duvidar de q u e o cnon do Ant igo
Tes tamento substancialmente o cnon de Esdras, ass im c o m o o
cnon do Pentateuco substancialmente o cnon de Moiss ." l 2 n A af
irmao, "Depois da morte dos lt imos profetas - Ageu , Zacarias e
Malaquias - a inspirao (divina ou proftica) foi removida de
Israel"(b. San 1 la; Tos Sot ed. Zuckerrnandel 3 1 8 , 2 1 - 2 3 ;
b. So t 4 8 b ; Y o m 9a) c o m o citado por Ta lmon, "Heil iges
Schriftum," 74 , pode ser revelador nesta conexo . l 2 l E s t e o
caso em Leiman, Freedman, e Beckwith . O lt imo tambm inclui a
aceitao de Ester naquele tempo. l 2 2 Ver Gerhard Hasel,
"Establishing the Date for the Book of Daniel ," Symposium on
Daniel, ed. Frank B. Holbrook. "Daniel and Revelat ion Commit t ee
Series, Vol . 2." (Washington, DC: Biblical Research Institute,
1986), 84 -164 . l 2 3 Esla expresso usada por Warfie ld, The
Inspiration and Authority of the Bible, 4 1 2 .
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72 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)
de livros cannicos na base de sua canonicidade interna e
inerente baseada na inspirao. 4- Finalmente, ento, a canonicidade
no baseada em decises humanas
tomadas por vrias comunidades, mas na inspirao divina. Para os
livros bblicos,124 inspirao implica em canonicidade.1211 Por causa
da inspirao o cnon bblico auto-autenticado, auto-validado, e
auto-estabelecido. Isto significa que a origem do cnon do AT, e
podemos respectivamente acrescentar o cnon do NT onde os mesmos
princpios esto em operao, no a mesma coisa que o seu reconhecimento
pelas respectivas comunidades de f.
Estas observaes sobre a natureza inerente da canonicidade revela
que uma distino necessita ser feita entre a origem do cnon e seu
reconhecimento pela comunidade religiosa. A existncia do cnon
fundamentada e dada atravs de inspirados agentes humanos que
escreveram os livros bblicosT Quando um livro bblico completado sob
inspirao, ele cannico e "aumenta" o cnon da Santa Escritura que
comeou com os escritos de Moiss (Pentatuco) e finalizou com a
produo sob inspirao do ltimo livro do NT. A subseqente atividade da
comunidade religiosa aquela de reconhecer o que inerentemente
cannico. A comunidade religiosa no confere canonicidade Escritura;
ela reconhece a
O Fechamento do Cnon do NT
Inspirao e o Cnon. Como o caso para o AT, a origem da canonizao
encontrada nos prprios escritos do NT. A inspirao divina mais uma
vez a chave no processo.
Hebreus 1:1 revela que no passado "Deus falou a nossos
antepassados em muitas e vrias maneiras pelos profetas,... (NSRV).
Os "profetas" inspirados produziram Escritura inspirada chamada AT
(2 Pedro 3:15-16). Com Jesus Cristo uma nova era irrompe na
histria. "Mas nestes ltimos dias Ele nos falou pelo seu Filho"
(Hebreus 1:2, NIV). Este texto mantm que com o falar do Filho a
Revelao divina atingiu sua plena exposio.
Parece que com Jesus Cristo, e aqueles que so autorizados por
Ele para falar em Seu nome, a revelao bblica alcanou seu clmax e
objetivo. Em Lucas 10:16 Jesus diz aos setenta discpulos que Ele
enviava, "Quem vos der ouvidos ouve-me a mim, e, que vos rejeitar a
mim me rejeita, quem, porm, me rejeitar, rejeita aquele
'^Edward Young , "The Canon of the Old Testament ," Revelalion
and the Bible, ed. Carl F. Henry (Grand Rapids, M l : Baker, 1958)
, 162, e screve q u e "pode ser assegurado conf iantemente que as
passagens invocadas para apoiar a idia de que Esdras 'canonizou'
qualquer poro das Escrituras do Ant igo Tes tamento no produzem o
resultado desejado. N e m Esdras nem N e e m i a s nem os h o m e n
s da Grande S i n a g o g a nem o conc l io de Jmnia 'canonizaram'
o Ant igo Tes tamento ou parte dele ." ~ 5 Uma conc luso similar
tirada por Y o u n g , 162: "Toda a ev idnc ia apoia a pos io de
que os l ivros do
Ant igo Testamento , sendo de inspirao divina, eram
consequentemente autoritativos, e foram reconhec idos c o m o tais
d e s d e o t empo em que apareceram pela primeira vez ."
A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 73
que me enviou." (ARA). Jesus Cristo identifica-se a Si prprio
com Seus discpulos. Apostolicidade e o Cnon. Apostolicidade como um
critrio de canonicidade,
se compreendida corretamente, tem certo grau de importncia.
Apostolicidade significa "apostlico," respectivamente, a inspirada
origem dos livros do NT. " Apostolicidade no significa que cada
livro isolado do NT seja necessariamente escrito por um apstolo.
Mas significa_qiie_o NT _e_s.crito_p_or.um "apstolo" inspirado ou
um discpulo direto e inspirado, de um apstolo, uma testemunha
ocular. "Aqui podemos pensar em Marcos e Lucas, cuja apostolicidade
era derivada por associao de Pedro e Paulo, respectivamente."127
Judas e Tiago, como irmos de Jesus, so considerados como tendo
estatura apostlica. A carta aos Hebreus era
128 considerada como tendo sido escrita pelo apstolo Paulo.
"
melhor-entender por apostolicidade que todos os autores dos
escritos do NT eram apstolos, ou um de seus associados imediatos,
que eram guiados pelo Esprito Santo e escreveram sob inspirao.129
Se apostolicidade significa escrito sob inspirao pelos apstolos de
Jesus Cristo ou seus companheiros imediatos associados com eles,
ento "apostolicidade implica ao mesmo tempo inspirao.''
. 'Baseado nestas consideraes o cnon do NT estava fechado cerca
de 100 d.C., onde quer que o ltimo escrito apostlico se tenha
completado.
Recepo/Reconhecimento do Cnon. As listas subseqentes de livros
do NT tais como encontradas no assim chamado Fragmento do Cnon
Muratrio131 e em outras listas de livros do NT132, no dizem nada a
respeito da canonizao do NT, somente sobre recepo ou
reconhecimento. O erudito catlico romano Hans von Campenhausen tem
afirmado incisivamente "o cnon do ponto de vista de seu contedo -
se afirmou sozinho."133 na entidade auto-estabelecida e
auto-validada.
O erudito luterano continental do Novo Testamento e historiador
da Igreja, Kurt Al and, afirma que "a igreja estabelecida como tal
no criou o cnon, mas
l2 f tH. K. Ohl ig , Die Theologische Begriindung des
Neuetestamentlichen Kanons in der alten Kirche (Darmstadt:
Wissenschaf t l i che Buchgese l l schaf t , 1972), 5 7 - 1 5 6 . 1
2 7 Gamble , The New Testament Canon, 68 . I2XB. F. Westcott , The
Epistle to the Hebrews (reprint; Grand Rapids, MI: Eerdmans, 1974),
l x i i i - l x v , para a ev idnc ia que era disputada em Roma. l
2 vGerhard Maier, Biblisclie Hermeneutik 2 ed. (Wupperlal: R.
Brockhaus, 1991), 134. mIbid. m G e o f f r y Mark Hahneman, The
Muratorian Fragment and the Development of the Canon (Oxford:
Clarendon, 1992) argumenta, c o m o o faz Sundberg ("Canon
Muratori: A Fourth Century List," Harvard Theological Review 66
[1973] , 1 -41) antes dele, que o Fragmento Muratrio datado do
quarto s c u l o e no do segundo. Esta datao tardia ho s igni f
icante uma vez que a idia de canonic idade no est estreitamente l
igada c o m as listas de livros cannicos c o m o indicando o
processo de canonic idade . Para uma op in io contrria sobre a
datao tardia, ver E. Ferguson, "Canon Muratori: Date and
Provenance," Studia Patrstica 18/2 (1982) . 6 7 7 - 6 8 3 . 1 3 2A
primeira lista que "nomeia" os 27 livros do N o v o Testamento
fornecida por Atansio em sua ass im chamada Carta de Pscoa, datada
de 3 6 7 d.C. Para o texto, ver Bruce, The Canon of Scripture, 2 0
8 - 2 0 9 . '"Hans von Campenhausen, Die Entstehung der
Christlichen Bibel (Tbingen, 1972), 3 8 2 n.12.
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74 Revista Teolgica do SALT-IAENE 4:2 (Jul-Dez 2000)
reconheceu , o cnon criado."134 Bruce M. Metzger, um dos mais
proeminentes eruditos do NT nos Estados Unidos, tambm concluiu que
a Igreja "veio a reconhecer, aceitar, e confirmar a qualidade
auto-autenticadora de certos documentos que se impuseram por si
prprios como tais sobre a Igreja.133 A "qualidade
auto-autenticadora" a revelao divina inscriturada na Palavra de
Deus por inspirao. O cnon foi criado por Deus atravs da inspirao e
sua autoridade e canonicidade divina inerente ao fenmeno da
revelao-inspirao.
Cnon e Inspirao Ps-cannica. A revelao Bblica se conclui com
Cristo, a mais plena revelao que Deus j concedeu a humanidade (Hb
1:1,2). Os apstolos e seus associados imediatos tm atestado sua
identidade e significncia sob inspirao em seus escritos. Assim,
segue-se que o NT foi canonizado e fechado quando o ltimo escrito
do NT foi completado, presumivelmente o livro de Apocalipse por
Joo. Nenhum profeta posterior - mesmo sob inspirao - poderia dar
uma revelao maior do que a que foi dada por Cristo. Da, o cnon da
Escritura naturalmente se fecha com o testemunho apostlica a seu
respeito.
A Escritura inspirada cessou com o final do primeiro sculo d.C.,
o cnon est fechado, e nada pode ser acrescentado e nada pode ser
subtrado.
Vimos acima que os "profetas" do AT e os "apstolos" (e seus
associados imediatos) no NT so os escritores que produziram a
Escritura sob inspirao. Um dado dos "profetas/apstolos" como
escritores inspirados que o que quer que seja escrito depois de seu
tempo no pode se tornar Escritura. Como um corolrio disto, qualquer
pessoa inspirada posteriormente que fala ou escreva dever ser
julgada na base do cnon da Escritura inspirada, e estar em harmonia
com a "lei e o testemunho"(Is 8:20), estar em harmonia com a
Escritura, e ser reconhecida como inspirada, mas sempre sujeito
Escritura. *
Concluso
A Inspirao divina prov o critrio interno de canonicidade
auto-autenticador e auto-validador. Bruce Metzger notou
incisivamente que "o cnon est completo quando os livros que por
princpio lhe pertencem esto escritos." 13\No momento em que os
livros inspirados so escritos, eles so cannicos. Canonicidade no
algo atribudo Bblia quer falemos do AT ou do NT. Canonicidade
inerente e intrnseca aos prprios livros da Bblia. O reconhecimento
de que a Escritura inspirada tem status cannico no o que a faz
cannica. A Bblia cannica antes que a canonicidade seja reconhecida
por qualquer comunidade de f.
A distino entre escritos cannicos e escritos eclesisticos
posteriores no
I VIK. Aland "Das Problem des neutestamentl ichen Kanons," Neiie
Zeitsclirt fiir Systematische Theologie 4 ( 1 9 6 2 ) , 147. l 1 ;
,Bruce M. Metzger , The Canon of lhe New Testament: Its Origin
Development, and Significance (Oxford: Clarendon Press, 1987), 2 8
7 . mlbid.
A Inspirao Divina e o Cnon da Bblia 75
baseada em decises arbitrrias. Tem razes teolgicas. Deus gue est
operando na criao dos escritos bblicos pela inspirao
proftica/apostlica e Sua providncia. iPortanto, Deus que os fez
cannicos^ tambm Deus que fez com que estes escritos fossem
reconhecidos pelo que eles so, baseados em sua inerente natureza
inspirada.
Pode-se concluir com segurana que "a Igreja no criou o cnon, mas
veio a reconhecer, aceitar, e confirmar a auto-autenticadora
qualidade de certos documentos que se impuseram por si mesmos como
tais sobre a Igreja. Se este fato obscurecido, entra-se em conflito
muito srio no com o dogma, mas com a histria."137
Mesmo se uns poucos pais da igreja clamassem algum tipo de
inspirao para seus escritos, o que seria melhor designado de
iluminao pelo Esprito Santo, sua reivindicao reconhece a anterior,
fundamental e definitiva inspirao proftica/apostlica das Escrituras
e sua autoridade cannica.138 A autoridade divina, inerente da
Bblia, enraizada em sua origem divina atravs da inspirao, faz dela
a contnua norma cannica para a f e a vida da igreja.
Os livros bblicos se tornaram "cannicos porque ningum pde
impedi-los de assim se tornarem."139 Portanto, "o cnon -
compreendido na base de seu contedo -se imps por si mesmo."140
Assim, a Bblia no o produto da igreja.141
"Definitivamente, ento, a canonicidade se baseou no em decises
humanas mas na inspirao divina: a autoridade intrnseca reconhecida
precede a canonicidade."142
Podemos dizer que a autoridade intrnseca, dada atravs de
inspirao divina, tanto implica como produz canonicidade. Atravs do
processo de inspirao Deus intencionou fazer os escritos da Bblia
cannicos e autoritativos em si mesmos. O reconhecimento do cnon um
ato secundrio, certamente supervisionado pelo Esprito Santo, mas no
um ato determinativo para a natureza cannica dos escritos
bblicos.vA prpria canonicidade primria. Em si mesma, antes de tudo
e .singularmente fundamentada na inspirao proftica (para o AT) e
apostlica (para o NT) da Escritura como a "Palavra de Deus" em
forma humana para todos os tempos e lugares. A Canonizao um
processo inerente, divinamente determinado e enraizado na inspirao.
A variedade de tentativas para explicar a canonizao como um mero
processo humano, atribuindo autoridade aos escritos bblicos, ao
dar-lhes um status que eles no possuam anteriormente, ou atribuindo
aos escritos bblicos uma qualidade superior na base de decises de
comunidades religiosas, no se
nilbid. l , s Tertul iano declara, "O que ns m e s m o s s o m o
s , isto tambm as Escrituras so desde o princpio" (On Prescr. 38 )
. A prioridade das "Escrituras" o padro para o que posteriormente.
'"'''William Barclay, The Making of the Bible (London, 1961), 7 8 ,
falando do N o v o Testamento . '""'Von Campenhausen , Die
Entstehung der Christlichen Bibel, 3 8 2 n. 12. '""D. B. Knox,
"Problems of the Canon," The Refonned Theological Review 36 (1977)
, 11: "Nenhuma dec i so de igreja ou conc l io , nem crescente
aceitao da comunidade , pode conferir canonic idade a um livro. O
Que o Crist ianismo fez foi reconhecer a canonicidade." '"^Ronald Y
o u n g b l o o d , "The Process: H o w We Got to Our Bible ,"
Chrisrtianity Today 3 2 / 2 (Feb.5 , 1988), 26.
R i h h n t e a U n i v e r s i t r i a
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7 6 R e v i s t a T e o l g i c a d o SALT-IAENE 4 :2 ( J u l -
D e z 2000)
coaduna com a evidncia contida nos prprios escritos bblicos. A
canonicidade est fundamentada nos prprios escritos bblicos com sua
origem na inspirao divina.