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1 Caderno de Esgotamento e Drenagem Urbana Daniel Costa dos Santos Professor de Hidráulica e Saneamento DHS/UFPR Curitiba, 2017
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Nov 07, 2018

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Caderno de Esgotamento e Drenagem Urbana

Daniel Costa dos Santos Professor de Hidráulica e Saneamento

DHS/UFPR

Curitiba, 2017

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Capítulo I

Sistema de Drenagem Urbana

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I Introdução

Em áreas urbanas são comuns as enchentes e a poluição difusa, problemas estes que

afetam seriamente a saúde pública e o meio ambiente. As causas destes problemas são

várias, cabendo destaque a dinâmica de ocupação do solo, a redução do tempo de

concentração, que aumenta a vazão de pico podendo causar enchentes à jusante, e a

ineficiência dos sistemas de drenagem. Assim, a realidade pós-ocupação de uma bacia

pode diferir em muito de sua realidade pré-ocupação, em termos da sua capacidade de

drenagem de águas pluviais, principalmente se o tipo de ocupação for delineado por

acentuada impermeabilização.

De maneira a lidar com estes problemas, o objetivo da infraestrutura de drenagem

urbana historicamente focou o escoamento rápido das águas pluviais para os fundos de

vale, evitando assim empoçamentos e enchentes nas áreas urbanas. Em termos técnicos,

o objetivo desta abordagem tradicional de concepção de sistemas de drenagem urbana

foi reduzir ainda mais o tempo de concentração da água na bacia hidrográfica

(considerar que o tempo de concentração já fora reduzido em função da

impermeabilização decorrente do processo de ocupação do solo) pelo aumento da

velocidade do escoamento superficial. E tal aumento foi propiciado tanto pela

microdrenagem quanto pela macrodrenagem, conceitos estes a serem abordados na

sequência.

No entanto, tal filosofia de redução do tempo de concentração, a qual balizadora das

concepções dos sistemas de drenagem, apresentou problemas associados como a

elevação das vazões, em especial aquelas respectivas às chuvas intensas, o aumento da

erosão, dentre outros. Percebeu-se, portanto, que a revisão desta abordagem tradicional

fazia-se necessária no sentido de, pelo contrário, aumentar o tempo de concentração.

Dado este princípio, para o planejamento adequado para a ocupação do solo assumiram

importância condicionantes como a manutenção de regiões ribeirinhas não urbanizadas,

o controle e redução da poluição difusa, além da redução do risco de enchentes, do

processo de erosão e do processo de assoreamento.

II Tipologia

As intervenções de drenagem urbana podem seguir a abordagem tradicional e, ou, a

abordagem da sustentabilidade. Não obstante, quanto a abrangência física, tais

intervenções ocorrem nas fontes, pela microdrenagem e pela macrodrenagem. As fontes

são basicamente os lotes cujo tipo de ocupação define o tipo de sistema de drenagem a

ser concebida. A microdrenagem abrange unidades desde os coletores prediais de águas

pluviais e sarjetas até bueiros (bocas de lobo) e galerias. Já a macrodrenagem enfoca os

fundos de vale, os cursos urbanos de água e reservatórios naturais e artificiais.

1.Tipologia sob a abordagem tradicional

Nas fontes as ações de drenagem ocorrem nos lotes onde, pela abordagem tradicional,

prevê-se a instalação de sistemas drenagem de águas pluviais tanto para prédios quanto

para estacionamentos, dependendo do tipo de ocupação do lote. A microdrenagem é

composta por rede primária urbana, sarjetas, bocas de lobo e galerias enquanto a

macrodrenagem atende tais sistemas de microdrenagem. A Figura a seguir ilustra o

detalhe de uma rede de microdrenagem.

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Figura: Detalhe de uma Rede de Microdrenagem

Observação: BL: boca de lobo; CL: caixa de ligação; PV: poço de visita

2 Tipologia sob a abordagem da sustentabilidade

A abordagem embasada na premissa da sustentabilidade objetiva o retardo do

escoamento superficial de maneira a aumentar o tempo de concentração e de reduzir a

vazão de enchente. Para tanto, medidas que controle na entrada da água pluvial nas

galerias, que aumentem a infiltração e que promovam a detenção e retenção em

reservatórios, o retardo do escoamento nos rios e córregos e a derivação de escoamentos

podem propiciar o aumento do tempo de concentração.

III Abordagem Tradicional: Microdrenagem Clássica

A seguir são apresentados aspectos importantes para a concepção, projeto e

dimensionamento de uma rede de microdrenagem.

1 Fatores Hidrológicos

1.1 Período de Retorno (T):

O período de retorno T é um parâmetro utilizado para a definição das intensidades

pluviométricas de projeto. Valores de referência usuais são apresentados na Tabela a

seguir conforme magnitude da obra e tipo de ocupação da área.

Tabela: Períodos de Retorno para diferentes ocupações da área Tipo de obra Tipo de ocupação da área T (anos)

Residencial 2

Comercial 5

Microdrenagem Áreas c/ edifícios de serv. ao público 5

Aeroportos 2 – 5

Áreas comerciais e artérias de tráfego 5 – 10

Macrodrenagem Áreas comerciais e residenciais 50 – 100

Áreas de importância específica 500

Fonte: adaptado de Azevedo Netto, 1998.

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1.2 Tempo de concentração (tc)

O tempo de concentração é o tempo de percurso de um determinado volume de água

precipitado desde o ponto mais distante da bacia hidrográfica até a seção de drenagem

sob estudo.

1.3 Intensidade Pluviométrica

Intensidade pluviométrica é a relação entre a altura da lâmina pluviométrica e o tempo

de formação desta lâmina. Consta de um parâmetro que depende das condições locais e

é função também do período de retorno.

2 Coeficiente de Escoamento Superficial (C)

O Coeficiente de Escoamento Superficial C representa o percentual do volume que

escoa superficialmente em relação aquele precipitado. O equacionamento é o seguinte:

C = Ves / Vtp,

sendo Ves o volume que escoa superficialmente e o Vtp o volume total precipitado.

Para a estimativa de C para uma área composta por sub-áreas com diferentes perfis de

ocupação é utilizada a média ponderada conforme segue:

onde n corresponde as sub-áreas.

3 Elementos de Captação e Transporte

3.1 Sarjetas

Sarjetas são canais formados por faixas da via pública e o meio-fio, de seções

triangulares, os quais normalmente dimensionados por meio da determinação de sua

capacidade hidráulica (máxima vazão de escoamento) a fim de ser comparada com a

vazão de drenagem de projeto. Tal comparação permite dimensionar tanto as sarjetas

quanto as bocas de lobo. A capacidade das sarjetas pode ser estimada pela fórmula de

Manning, com n = 0,016 (concreto rústico):

Ao adaptar a equação de Manning para a seção triangular da sarjeta, conforme Figura a

seguir,

A

CnAnC

2/13/2 IRn

AQ H

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Figura: Sarjeta Triangular

tem-se:

Qo= 375. I 1 /2

. (z/n). yo8/3

sendo,

Qo: capacidade de uma sarjeta em l/s;

yo: altura máxima de água na guia,

z : inverso da declividade transversal,

I : inclinação longitudinal da sarjeta (do greide da rua),

n : coeficiente de rugosidade de Manning,

Observar que z = yo /wo, sendo wo - largura máxima do espelho d'água.

Para Qo em m³/s e yo em m a equação de Manning assume a forma:

Qo= 0,375. I 1 /2

. (z/n). yo8/3

De maneira a ajustar a capacidade das sarjetas às condições reais de escoamento que

incluem obstruções causadas por resíduos retidos no gradeamento da boca de lobo,

recomenda-se a adoção dos fatores de redução conforme tabela a seguir:

Tabela: Fatores de redução de escoamento das sarjetas

Declividade da sarjeta - % Fator de redução

0,4 0,50

1-3 0,50

5,0 0,50

6,0 0,40

8,0 0,27

10 0,20

Fonte: adaptado de Azevedo Netto, 1998.

Cumpre observar que geralmente as guias têm 0,15m de altura e se admite um

enchimento máximo variando de 0,10 a 0,13m. Considerando o valor de 0,13 m para a

lâmina e a declividade transversal da via pública de 3%, valor usual para ruas de 10m

de largura, tem-se:

A = 0,280 m² ; P = 4,302 e RH = 0,065m

Isto posto, decorre que a capacidade da sarjeta depende apenas da declividade

longitudinal da rua.

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3.2 Bocas de Lobo

Bocas de lobo são elementos instalados na sarjeta para drenar águas das chuvas quando

a capacidade desta é ultrapassada. Quanto a tipologia, a boca de lobo pode ser de

sarjeta ou mista, esta última quando a sarjeta é combinada com a guia. Para a boca de

lobo de sarjeta, na equação acima L é considerado o próprio perímetro P da área livre

do orifício, em metros. Já para a boca de lobo mista sua capacidade é a somatória das

vazões estimadas tanto para a guia quanto para a sarjeta. Não obstante, como previsto

para a estimativa da capacidade da sarjeta, para a boca de lobo igualmente são

introduzidos os fatores de redução conforme tabela a seguir.

Neste sentido, para efeito de dimensionamento, a boca de lobo é admitida como um

vertedor de parede espessa cuja equação para estimar sua capacidade é a seguinte:

sendo:

L: comprimento da abertura (m)

H: altura da água nas proximidades (m) – 0,13m no caso padrão de sarjetas

Tabela: Fatores de redução do escoamento para bocas de lobo Localização

das sarjetas

Tipo de boca de lobo Percentual permitido sobre o

valor teórico

de guia 80

Ponto Baixo com grelha 50

combinada 65

de guia 80

Ponto grelha longitudinal 60

Intermediário grelha transversal ou longitudinal com barras

transversais

60

combinada 110% dos valores indicados

para a grelha correspondente

Fonte: adaptado de Azevedo Netto, 1998.

3.3 Tubos de Ligação (TL)

Tubos de ligação são conexões entre as bocas de lobo e os poços de visita ou as caixas

de ligação.

3.4 Poços de Visita (PV)

Os poços de visita são conexões que permitem o acesso às galerias para fins de inspeção

e desobstrução das mesmas. Para tanto, são normalmente localizadas nos encontros de

condutos assim como nas mudanças de seção, de declividade e de direção.

3.5 Galerias

As galerias são tubulações coletivas que drenam águas oriundas dos sistemas prediais

de águas pluviais e das bocas de lobo. Para a estimativa da capacidade de uma galeria as

vazões a serem drenadas devem ser estimadas e, tratando-se de microdrenagem, o

método racional pode ser utilizado.

2371,1 HLQ

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Q = C . I . A

A estimativa de C para cada trecho da galeria é dada pela seguinte equação:

A intensidade pluviométrica I é função do tempo de concentração e do período de

retorno. O tempo de concentração tc é considerado igual a duração da chuva t. Portanto

para dimensionar o primeiro trecho da galeria o tc é o mesmo da área à montante do

inicio da mesma. Para os trechos sequentes o tc será a soma dos tc dos trechos anteriores

com tempo de percurso tp do trecho anterior, conforme formulação que segue:

tc = tc (anterior) + tp

sendo:

tp = L/v

L = comprimento do trecho anterior

v = velocidade real de escoamento do trecho anterior

Estimada a vazão por trecho, para o dimensionamento do diâmetro têm-se as seguintes

equações a partir da equação de Manning:

D = 1,511 (n.Q.I-1/2

)3/8

(para lâmina = 0,9D);

D = 1,511 (n.Q.I-1/2

)3/8

(para seção plena).

sendo,

Q: vazão a ser drenada;

I:declividade do trecho da galeria

Não obstante, para dimensionar as galerias, os seguintes critérios que devem ser

considerados conforme Azevedo Netto, (1998):

diâmetro mínimo das seções circulares: sugerido 300 mm;

dimensão mínima na seções retangulares: sugerido altura de 0,50 m;

o dimensionamento das seções circulares deve ser à seção plena ou y = 0,95 D;

o dimensionamento das seções retangulares deve prever a altura mínima livre de

0,10 H (H = altura);

velocidade mínima: sugerido 0,75 m/s;

velocidade máxima: sugerido 5,0 m/s;

declividade econômica é considerada a declividade do terreno;

An

CnAnC

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IV Abordagem da Sustentabilidade: Drenagem Sustentável

A drenagem sustentável busca atender as demandas relacionadas às questões sociais,

ambientais e econômicas. Para tanto, medidas de controle, ou compensatórias, podem

ser concebidas as quais buscam corrigir, reverter ou prever problemas relacionados às

enchentes e à poluição difusa dos cursos hídricos, problemas estes consequência da

ocupação e impermeabilização do solo, assim como problemas relacionados à saúde

pública e salubridade ambiental. Diante deste contexto, tais medidas podem ser

estruturais ou não estruturais, conforme discorrido na sequência.

1 Medidas Estruturais

As medidas estruturais configuram-se basicamente por obras e são classificadas em

vários tipos quanto ao princípio, à localização e à abrangência.

Quanto ao princípio, as obras podem ser convencionais ou não convencionais. As

convencionais preveem o rápido afastamento das águas pluviais pela implantação de

galerias e canais, tamponamento de córregos, ajustes de traçado, aumento das

declividades, etc. As obras não convencionais objetivam o retardo do escoamento por

intervenções como o controle de entrada, o aumento da infiltração, a detenção e, ou,

retenção em reservatórios, o retardo do escoamento nos rios e córregos, a derivação de

escoamentos e os diques.

Com relação à localização, as medidas podem ser na fonte, nas vias de circulação e à

jusante. Na fonte as obras, com o objetivo de retardar o escoamento para a rede de

drenagem, ocorrem nos lotes, sejam nas áreas edificadas ou não edificadas. Nas vias

públicas de circulação o propósito é retardar o escoamento para o corpo receptor cujas

medidas podem ocorrer em calçadas, vias de tráfego, parques, dentre outros elementos

da infraestrutura instalada. As obras à jusante, que igualmente objetivam o retardo do

escoamento para o corpo receptor, podem ser reservatórios instalados tanto em série

quanto em paralelo.

Referente à abrangência, as medidas podem ser intensivas ou extensivas. As medidas

intensivas são localizadas podendo ser de aceleração do escoamento como a canalização

de cursos d’água, de retardamento do escoamento via implantação de reservatórios e

recuperação de calhas naturais e de desvio do escoamento pela execução de tuneis de

derivação e canais de desvio. As medidas extensivas são distribuídas como, por

exemplo, a execução de pequenos reservatórios distribuídos pela bacia, a recomposição

da cobertura vegetal e o controle da erosão.

A partir desta tipologia geral é possível engendrar uma tipologia mais técnica e

específica que possibilite a caracterização das medidas estruturais não convencionais,

estas de grande interesse dadas as demandas da sustentabilidade ambiental. Desta forma

tais medidas podem ser classificadas em medidas de controle de entrada, de infiltração,

de detenção e de retenção.

As medidas estruturais não convencionais de controle de entrada objetivam amortecer a

vazão de entrada nas galerias das águas oriundas dos lotes. Assim, são possíveis

medidas como coberturas verdes, reservatórios de detenção, reservatórios de

armazenamento, etc.

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Já as medidas estruturais não convencionais de infiltração podem ocorrer nos lotes por

meio de poços, irrigação de jardins, etc, enquanto nas vias públicas tais medidas

poderão ser pela implantação de áreas de infiltração, valas de infiltração, lagoas de

infiltração, bacias de percolação e pavimentos porosos.

As medidas estruturais não convencionais de detenção e retenção podem ocorrer na

fonte via reservatórios domiciliares, reservatórios em quadras de esporte (secos) e

praças (lagos) para a melhoria da qualidade da água, ou à jusante via bacias de detenção

para o controle de cheias (seco) e bacias de retenção de usos múltiplos para controle de

cheias (ocupação permanente), além da melhoria da qualidade da água.

2 Medidas Não Estruturais

As medidas não estruturais abrangem diversas iniciativas que incluem programas,

normatização e regulamentação pela legislação. Desta forma, diversas medidas são

possíveis como a educação ambiental visando o controle da poluição difusa e da erosão,

a regulamentação do uso e ocupação do solo, o seguro-enchente, a previsão de

enchentes, os sistemas de alerta, entre outras possibilidades.

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Capítulo II

Sistema de Esgotamento Sanitário

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I Introdução

O Sistema de Esgotamento Sanitário basicamente é composto pela coleta, tratamento e

disposição final do esgoto sanitário. Dessa forma, o sistema pode ser o Unitário, no qual

escoam tanto o esgoto sanitário quanto águas pluviais, ou o Separador Absoluto, onde o

Sistema de Esgoto Sanitário é totalmente separado do Sistema de Drenagem Urbana.

Em função de uma série de questões técnicas e de segurança sanitária, a norma

brasileira recomenda o sistema separador absoluto. O sistema separador absoluto, o

mesmo é composto por rede coletora, estação de tratamento de esgotos e disposição

final. Segundo Alem Sobrinho, Tsutiya, 1999, o sistema separador absoluto é

basicamente utilizado no Brasil, pois basicamente apresenta as seguintes vantagens:

apresenta menos custo quando comparado ao sistema unitário;

proporciona maior flexibilidade na execução por etapas, quando comparado a

execução do sistema unitário;

reduz o custo para drenagem das águas fluviais em função das mesmas não

requerem tratamento e, portanto, poderem ser lançadas em cursos hídricos mais

próximos;

não requer, necessariamente, a pavimentação das vias públicas, condição essa

importante para o bom funcionamento do sistema unitário;

é reduzida a extensão de tubulações de grandes diâmetros, uma vez que não faz-

se necessário a construção de falésias em todas as ruas, como seria no caso do

sistema unitário.

No entanto, no caso da utilização do sistema único, a rede coletora deve ser

dimensionada para receber um esgoto com características diferentes daquelas

normalmente previstas para o dimensionamento do sistema separador, além de ser

necessário ainda atender critérios específicos para diâmetros mínimos, declividades

mínimas, lâminas máximas e mínimas de escoamento, velocidades de início e final de

plano, tensão trativa, etc. Tais critérios serão apresentados na sequência.

II Caracterização do Esgoto

1 Caracterização Quantitativa do Esgoto

1.1 Vazão de Projeto

A vazão de projeto varia com a região, as atividades, os hábitos, as condições sociais e

econômicas, a disponibilidade de água, entre outras variáveis. Basicamente, é composta

por esgoto doméstico, água de infiltração e contribuições singulares como indústrias,

espaços públicos, etc. Faz-se necessário estimar a vazão de início e de final de plano,

conforme equações a seguir:

Qi = QDi + QIi + QSi para início de plano;

Qf = QDf + QIf + QSf para final de plano,

Sendo,

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Q: vazão total;

QD: vazão de esgoto doméstico;

QI: vazão de infiltração;

QS: vazão de contribuição singular;

i: indica início de plano;

f: indica final de plano.

Para o dimensionamento do dimensionamento do sistema de esgotamento sanitário,

devem ser conhecidas as vazões de início (QDi) e de final (QDf) de plano.

1.2 Vazão de Esgoto Doméstico (QD)

As variáveis pertinentes para definir a vazão de projeto são população, contribuição per

capita, coeficiente de retorno esgoto/água e coeficiente variação de vazão. A população

precisa ser definida para o início e para o final de plano. Para o final de plano, os

métodos de previsão populacional que podem ser utilizados são o aritmético,

geométrico e regressão. A contribuição Per Capita (qc) é função do consumo efetivo de

água per capita (qe) e do coeficiente de retorno. Com relação ao Coeficiente de Retorno

(C), sua expressão básica é a seguinte:

C = volume de esgoto coletado pela rede

volume de água abastecida

Normalmente, seus valores variam entre 0,6 e 0,9. Não obstante, na falta de valores

obtidos em campo, a NBR 9649 recomenda o valor de 0,8. Já os Coeficientes de

Variação de Vazão devem ser considerados pois a vazão de esgoto doméstico varia com

a hora do dia, época do ano, temperatura e precipitação atmosférica. Portanto,

coeficientes de variação de vazão devem ser considerados, quais sejam:

k1 : coeficiente de máxima vazão diária

k1=maior vazão diária verificada no ano

vazão média diária anual

k2: coeficiente de máxima vazão horária

k2= maior vazão observada num dia

vazão média horária do mesmo dia

k3 : coeficiente de mínima vazão diária

k3= menor vazão diária verificada no ano

vazão média diária anual

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A NBR 9649 apresenta os valores k1 = 1,2 ; k2 = 1,5 e k3 = 0,5. Desta maneira, as

equações básicas são as seguintes:

QDimed = Pi . qe . Ci / 86400

QDimax = K2 . Pi . qe . Ci / 86400

QDfméd = Pf . qe . Cf / 86400

QDf max = K1 .K2 .Pf . qe . Cf / 86400

Com essas vazões, é possível a determinação de coeficientes para o dimensionamento

das redes coletoras, quais sejam o coeficiente de contribuição linear TL = QD / L e o

coeficiente de contribuição por área TA = QD / A. No cálculo dessas taxas, considerar

condições de início e fim de plano.

1.3 Vazão de Água de Infiltração (QI)

A água de infiltração na rede coletora tem origem no lençol freático e, ou, na

precipitação pluviométrica. Os pontos de infiltração da água do lençol freático na rede

são as juntas, as paredes dos condutos, os poços de visita, os tubos de inspeção e

limpeza, os terminais de limpeza, as caixas de passagem, as estações elevatórias, etc. No

entanto, o acesso das águas pluviais á rede pode ser acidental ou clandestino. De

maneira a estimar a vazão de água de infiltração na rede coletora, utiliza-se o parâmetro

Taxa de Infiltração, o qual é função do material da rede, do tipo de solo, do nível do

lençol freático, da qualidade de execução, do tipo de junta, entre outras variáveis. Dados

usuais sobre taxas de infiltração são os seguintes:

. acima do lençol freático: TI = 0,02 l / s km

. abaixo do lençol freático: TI = 0,10 l / s km

A NBR 9649 recomenda a faixa de 0,05 a 1,0l / s km. As vazões são as seguintes:

QIi = TIi .Li;

Qif = TIf . Lf ,

sendo,

TI: Taxa de infiltração; L: Comprimento da Rede; i: início de plano; f: final de plano.

1.4 Vazões de Contribuições Singulares (QS)

A vazão das contribuições singulares deve ser medida, ou estimada, caso a caso. Além

disso, o regime de variação da mesma também necessita ser conhecido, pois consta de

um dado importante para o dimensionamento da rede coletora. No caso específico das

indústrias, estudos preliminares fazem-se importantes no intuito de definir, além da

vazão e seu regime de variação, a necessidade, ou não, de prévio tratamento do esgoto

na própria planta industrial antes de ser lançado à rede coletora coletiva.

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Observar que o esgoto industrial necessita de pré-tratamento quando são nocivos à

saúde, quando interferem no sistema de tratamento coletivo de esgoto, quando obstruem

tubulações e equipamentos, quando podem agredir as tubulações, assim como quando

estão à temperaturas elevadas.

1.5 Determinação da Vazão de Projeto

A vazão projeto pode ser determinada através de estimativas em função das

contribuições médias de esgoto, dos coeficientes de variação, das taxas de infiltração

das contribuições singulares, além das condições do início fim do plano. Não obstante, a

vazão de projeto pode ser determinada com a utilização de hidrogramas que medem

vazões e registram as variações temporais das mesmas.

As respectivas equações são as seguintes:

Qimed = (Pi . qe . Ci / 86400) + TIi . Li + CSi

Qimax = (K2 .Pi . qe . Ci / 86400) + TIi . Li + CSi

Qf med = (Pf .qe .Cf / 86400) + TIf .Lf + CSf

Qf max = (K1 .K2 .Pf .qe .Cf / 86400) + TIf .Lf + CSf

2 Caracterização Qualitativa do Esgoto

O esgoto é caracterizado por suas características físicas, químicas e microbiológicas.

Tais características estão apresentadas na sequência.

2.1 Características físicas

Como características físicas, destaca-se a matéria sólida, a temperatura, o odor, a cor e a

turbidez. O esgoto contém aproximadamente 0.08% de matéria sólida e 99,92% de

água. A temperatura é um parâmetro importantíssimo, pois rege uma série de reações

bioquímicas que ocorrem no tratamento do esgoto. A cor e turbidez igualmente são

características importantes, uma vez que estão relacionadas às concentrações de sólidos

dissolvidos e suspensos, respectivamente. A matéria sólida classifica-se conforme

segue.

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Figura: Série de Sólidos

Fonte: http://www.c2o.pro.br/analise_agua/a1833.html

2.2 Características químicas

2.2.1 Natureza dos Compostos Químicos

O esgoto é composto de matéria orgânica e inorgânica. Os compostos orgânicos são

uma combinação de carbono, hidrogênio e nitrogênio, assim distribuídos:

Compostos de proteínas (40 a 60%): produzem nitrogênio e contém carbono,

hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo, enxofre e ferro.

Carboidratos (25 a 50%): contém carbono, hidrogênio e oxigênio (açúcares,

amido, celulose, fibra de madeira).

Gordura e óleos (10%).

Surfactantes: moléculas orgânicas formadoras de espuma.

Fenóis: compostos orgânicos causadores de gosto à água, os quais são

oriundos dos despejos industriais.

Pesticida: toxicidade

Quanto aos compostos inorgânicos, encontram-se na forma de areia e minerais

dissolvidos.

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2.2.2 Parâmetros Químicos

2.2.2.1 DBO

É a quantidade de oxigênio utilizada por uma população mista de microrganismos

durante a oxidação aeróbia da matéria orgânica contida no esgoto. A Curva de DBO x

Tempo, tem-se a seguinte formulação:

)101.( ktt LDBO

Essa formulação é ilustrada na seguinte ilustração.

Figura: DBO em função do tempo em dias (eixo das abcissas)

A DBO carbonácea ocorre em função da seguinte reação:

Matéria Orgânica + O2 CO2 + H2O + Matéria Orgânica Dissolvida + Nutrientes

Próximo ao 10º dia se desenvolvem bactérias nitrificantes responsáveis pela nitrificação

a qual é um processo de oxidação da N-NH3 ao N-NO3. Ocorre em duas etapas:

1º: 2 NH3 + 3 O2 (nitrossomas) 2 NO2- + 2 H

+ + 2 H2O

2º: 2 NO2- + O2 (nitrobacter) 2 NO3

-

Portanto, o consumo de OD ocorre tanto pela oxidação da matéria orgânica carbonácea

quanto pela nitrificação. Observar ainda que a DBO mede o consumo de OD,

exclusivamente dos microrganismos, para a oxidação da matéria orgânica

biodegradável, além do eventual consumo pela nitrificação.

2.2.2.2 DQO

A DQO mede o consumo de oxigênio durante a oxidação química da matéria orgânica,

esta tanto biodegradável quanto não biodegradável, assim como de alguns compostos

inorgânicos também. O oxidante utilizado na tese de DQO é o dicromato de potássio

(K2 Cr2 O7). Uma vez que a oxidação é exclusivamente química, ou seja, não havendo

nitrificação, logo a DQO é relativa tão somente a M.O carbonácea. A relação DQO /

DBO pode ser de 1,7 a 2,4 para esgoto bruto e em torno de 3,0 para esgoto tratado.

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Observar que o esgoto tratado apresenta menor concentração de M.O. biodegradável,

pois parcela substancial da mesma é removida no tratamento. Isto explica a maior

relação DQO/DBO para o mesmo quando comparada àquela referente ao esgoto bruto.

2.2.2.3 Nitrogênio

O nitrogênio apresenta-se na atmosfera, esse seu reservatório natural, em grande parte

na forma molecular (gasosa – N2) e em parcela menos expressiva como amônia, NH3.

Por meio de descargas atmosféricas e pela ação de alguns microrganismos fixadores,

como bactérias e algas, o mesmo é extraído da atmosfera. Não obstante, alguns

microrganismos também absorvem o nitrogênio nas formas de amônia e de nitrato, os

quais são imobilizados nas células na forma de nitrogênio orgânico. Outra atuação dos

microrganismos é na desnitrificação, processo no qual do nitrato (NO3-) é utilizado o

oxigênio (O2) para a oxidação da MO e, então, é liberada o N2 para a atmosfera. A

desnitrificação ocorre na fase anóxica, a qual é aquela onde não há OD, mas há NO3 e

MO para ser oxidada.

No ciclo do nitrogênio, além da ação dos microrganismos já comentada, há também a

ação das plantas e dos animais. As plantas absorvem o nitrogênio na forma inorgânica

[amoniacal (NH4+) ou nitrato (NO

-3)], ou na forma orgânica [uréia (NH4)

2CO], o qual é

imobilizado na forma orgânica. Quanto aos animais, já absorvem o nitrogênio

imobilizado (orgânico) em plantas e outros animais. No entanto, nos dejetos destes

animais é liberado também o nitrogênio orgânico o qual é transformado em nitrogênio

amoniacal pelos microrganismos decompositores. O nitrogênio amoniacal então é

nitrificado a NO-3, forma esta disponível a microrganismos e plantas.

Essas formas de nitrogênio podem indicar alguns cenários ambientais, conforme segue:

Nitrogênio Orgânico: compõe proteínas animais e vegetais, indica poluição

recente.

Nitrogênio Amoniacal: forma inorgânica de N, resultado da atuação dos

decompositores heterótrofos sobre o nitrogênio orgânico.

Nitrito: (NO2-) Resultado da oxidação de amônia (NH3).

Nitrato (NO3-) Resultado da oxidação do nitrito.

2.2.2.4 Fósforo

Usualmente, as formas de interesse ambiental são os ortofosfatos, polifosfatos e fósforo

orgânico.

2.3 Características Biológicas

Os principais são bactérias, fungos, protozoários, vírus, algas e grupos de plantas e de

animais. A atuação das bactérias é na decomposição, enquanto a atuação das algas é nas

lagoas de estabilização, via oxidação aeróbia e redução fotossintética. Não obstante,

ocorre em algumas situações o florescimento de algas em mananciais hídricos devido ao

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aporte nos mesmos de esgoto com elevadas concentrações de nutrientes. Como

indicadores de poluição, são medidas as concentrações as bactérias do grupo coliformes.

3 Características Quanti-Qualitativas

Constam de parâmetros que associam características quantitativas e qualitativas do

esgoto. É o caso da Carga Orgânica (CDBO; CSS), da População Equivalente (Pe) e da

População Hidráulica Equivalente (PHE). A Carga Orgânica é um parâmetro utilizado

para projetar processos de tratamento de esgoto. É apresentado em DBO ou SS.

População Equivalente é o número de habitantes que produzem uma carga orgânica

igual ao esgoto de uma determinada indústria, enquanto que a População Hidráulica

Equivalente é o número de habitantes que produzem uma vazão igual a de uma

determinada indústria.

As respectivas formulações matemáticas constam a seguir:

dia

L1000

L

mg

dia

m

L

mgC

3

DBO dia.1000

Kg

dia

g

dia

L1000mgCDBO

1000

QDBO)dia/Kg(C

)dia/m()L/mg(

DBO

3

)dia.hab/g(

)dia/kg(DBO

)hab(54

CPe

)dia.hab/m(

)dia/m(

)hab(HE

3

3

2.0

QP

Isolando a DBO:

DBO (mg/L) = 1000 . CDBO / Q ; CDBO : kg DBO / dia ; Q : m3 / dia,

Observar que a DBO do esgoto bruto, assim como a vazão, contém as parcelas de

esgoto doméstico, do esgoto industrial e da infiltração. Logo, a CDBOe a Q são dadas

pelas seguintes equações, respectivamente:

CDBO = CDBO/ED + CDBO/I + CDBO/CS

Q = QED + QIA + QIB

Outro parâmetro importante é a População Equivalente, PE, que apresenta a seguinte

equação:

PE = CDBO/CS / CDBO/Pessoa

III Rede de Coleta

1 Componentes e Tipologia

A rede coletora é um conjunto de canalizações que coleta e conduz os esgotos

sanitários. É composta por tubulações e acessórios, quais sejam:

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a) Tubulações: Coletor Secundário, Coletor Tronco, Interceptor e Emissário;

b) Acessórios: Usualmente são os seguintes: Sifões Invertidos, Poços de Visita

(P.V.), Terminal de Limpeza (TL) e Terminal de Inspeção e Limpeza (TIL).

A rede coletora pode ser classificada quanto à macroestrutura e quanto a microestrutura.

Quanto à macroestrutura, tem-se:

a) Perpendicular: coletores tronco independentes e perpendiculares ao curso da

água, com ou sem interceptor;

b) Leque: para terrenos acidentados;

c) Distrital e Radial: necessita recalque, como em cidades planas.

Quanto a microestrutura, divide-se em redes simples ou dupla, onde na rede simples a

tubulação é lançada sob a via de tráfego, enquanto na rede dupla é lançada uma

tubulação sob cada passeio. A figura a seguir ilustra uma rede coletora de esgoto.

Fonte: http://www.skyscrapercity.com/showthread.php?t=589794

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2 Dimensionamento

2.1 Requisitos Hidráulicos e Sanitários

Para o dimensionamento de uma rede coletora é importante atender requisitos

hidráulicos e sanitários. Nesse contexto, é importante destacar:

As tubulações devem ter a capacidade de conduzir vazões máximas e mínimas;

As tubulações são dimensionadas para que o regime de escoamento seja livre em

coletores e interceptores e forçado em sifões invertidos e linhas de recalque. Nos

emissários, o escoamento pode ser livre ou forçado;

Deve ser garantida a autolimpeza das tubulações. Para tanto, no

dimensionamento, podem ser adotados dois critérios para verificação, quais

sejam, o Critério da Velocidade e o Critério da Tensão Trativa. O Critério da

Velocidade estabelece uma velocidade mínima de transporte da matéria sólida,

sendo que essa velocidade deve ser tal que garanta que a lâmina mínima seja

sempre atendida. A Tensão Trativa é a tensão tangencial exercida sobre a parede

do tubo pelo líquido escoando, onde o valor crítico da mesma, denominado

Tensão Trativa Crítica, é aquele valor mínimo capaz de iniciar o movimento das

partículas depositadas nas tubulações. Para ambos critérios, é fundamental haver

uma declividade mínima na tubulação;

O atendimento da declividade mínima da tubulação, propiciando assim a

autolimpeza nas tubulações, é importante também para evitar ou minimizar a

geração de sulfeto de hidrogênio (H2S) na mesma. Isso pode ocorrer, pois a

matéria orgânica ao estagnar-se no fundo da tubulação pode entrar em

decomposição anaeróbia, condição essa geradora de H2S.

Nos trechos da rede coletora onde é previsto o escoamento livre, deve ser

garantido que a lâmina máxima seja atendida de maneira a propiciar um espaço

para o escoamento dos gases e para evitar trechos sob escoamento forçado;

A velocidade máxima deve ser obedecida a fim de não causar abrasão nos tubos.

2.2 Equações Básicas e Critérios de Dimensionamento

2.2.1 Vazões de Projeto para Rede Coletora

É importante definir a vazão de início e de final de plano, conforme equações

apresentadas no Item 1.5. As vazões máximas de início de plano são importantes para

definir a capacidade de autolimpeza das tubulações. As vazões médias de final de plano

são determinantes para avaliar a capacidade de autodepuração do corpo hídrico receptor

e para definir e dimensionar o sistema de tratamento de esgoto. A vazão máxima de

final de plano é importante para definir os diâmetros dos trechos da rede coletora.

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2.2.2 Taxas de Contribuição

As equações são as seguintes:

Cálculo de Taxa de Contribuição Linear Inicial (TLi): TLi = (QDi / Li) + Ti

Cálculo de Taxa de Contribuição Linear Final (TLf): TLf = (QDf / Lf) + Tf

Podem ser estimadas também as Taxas de Contribuição por Área, tanto inicial quanto

final.

2.2.3 Vazões de Projeto para Trechos de Tubulação

Devem ser estimadas as vazões de montante, de jusante e de contribuição, conforme

equações seguintes.

a) Vazão de Montante: QMi = somatório das vazões iniciais de montante

QMf = somatório das vazões finais de montante

b) Vazão de Contribuição no Trecho: inicial: QTi = TLi . Lt

final: QTf = TLf . Lt

sendo Lt o comprimento do trecho.

c) Vazão de Jusante: inicial: QJi = QMi + QTi

final: QJf = QMf + QTf

Considerar que, conforme norma, o a vazão mínima deve ser de 1,5 l/s em cada trecho

de tubulação da rede.

2.2.4 Determinação da Declividade I de Assentamento da Tubulação:

Calcular a declividade mínima da tubulação e a declividade do terreno. Para Imin, tem-

se Imin = 0,0055.(Qimax)-0,47

, onde Qimax é em L/s e I é em m/m. A maior entre as

duas declividades calculadas será a declividade I de projeto. Cabe destacar que tal

equação foi construída em função da equação de Manning, a qual V = (RH2/3

. I1/2

) / n.

Não obstante, deve ser estimada igualmente a declividade do terreno e, após compará-la

com a declividade mínima da tubulação, será definida a declividade definitiva de

assentamento.

2.2.5 Determinação do Diâmetro:

Determinar o diâmetro para Qfmax , Y/D = 0,75 e n = 0,013 , conforme norma. Logo,

para D tem-se D = [0,0463. (Qfmax/ I0,5

)]0,375

, sendo Qf em m3/s e D em m. Observar

que a relação (y/D) máximo 0,75 deve ser atendida para garantir o escoamento livre

nos trechos pertinentes. Destaca-se também que o diâmetro mínimo deve ser de 100

mm, conforme norma específica.

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2.2.6 Determinação dos Raios Hidráulicos Inicial (RHi) e Final (RHf):

Valores determinados conforme aplicação da equação de Manning. O Rhi é importante

para definir a Tensão Trativa Crítica. Os parâmetros e valores da Eq. de Manning são

apresentados em tabela em anexo. No entanto, a tabela auxiliar para determinação do

raio hidráulico, em função de Y/D, consta a seguir:

Tabela: Relação entre Raio Hidráulico e Lâmina do Escoamento

Y/D = RH/D Y/D = RH/D

0,025 0,016 0,550 0,265

0,050 0,033 0,600 0,278

0,075 0,048 0,650 0,288

0,100 0,064 0,700 0,297

0,125 0,079 0,750 0,302

0,150 0,093 0,775 0,304

0,175 0,107 0,800 0,304

0,200 0,121 0,825 0,304

0,225 0,134 0,850 0,304

0,250 0,147 0,875 0,301

0,300 0,171 0,900 0,299

0,350 0,194 0,925 0,294

0,400 0,215 0,950 0,287

0,450 0,234 0,975 0,277

0,500 0,250 1,000 0,250

2.2.7 Determinação das Velocidades Inicial (Vi) e Final (Vf):

Valores determinados conforme aplicação da equação de Manning. Observar que pelo

Critério da Velocidade para autolimpeza das tubulações, recomenda-se V 0,6 m/s e

(y/D) mínimo 0, 2, valores a serem observados no início do plano. Já a velocidade

máxima, que ocorrerá no final do plano, deve ser inferior a 5,0 m/s para evitar o efeito

de abrasão sobre os tubos.

2.2.8 Determinação da Tensão Trativa:

É dada pela equação i = . RH. I, onde i em kgf / m2, = 1000 kgf / m

3, RH em m e I

em m/m. Conforme já comentado, o raio hidráulico considerado é o raio hidráulico

inicial pois é nas condições de início de plano que interessa avaliar a condição de

autolimpeza. A recomendação é garantir τc 0,10 kgf / m2

para coletores e τc 0,15

kgf/m2

para interceptores.

2.2.9 Velocidade Crítica:

A equação é Vc = 6 (g . RH)0,5

, onde se Vf > Vc, logo Yf / D = 0,5. A entrada de ar no

meio líquido tende aumentar a altura da lâmina de água na tubulação. Passa a ocorrer

uma oscilação entre o regime livre e a força de o que pode danificar o tudo. Logo,

quando Vf Vc, momento a partir de qual há entrada de ar na tubulação, é importante

propiciar (y/D) 0,5 de maneira a garantir a ventilação de tudo.

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Conforme em Sobrinho, Tsutya, o número de Boussinesq é que melhor representa o

fenômeno de entrada de ar no meio líquido. Sua formulação é a seguinte:

B = Vc / (g . RH )0,5

Quando B = 6,0 , inicia-se o processo de mistura ar líquido. Logo,

Vc = 6 (g . RH )0,5

onde,Vc: velocidade crítica, m/s;g = 9,81 m/s2;RH = m.

Observar que neste caso a velocidade do escoamento V é igual a Vc. No entanto, para

B > 6,0 , V > Vc.

3 Diretrizes para Concepção da Rede Coletora de Esgoto

As fases para concepção e projeto de uma rede coletora de esgoto são a caracterização

de fatores intervenientes, o diagnóstico sistema existente, a definição dos parâmetros de

projeto, a definição de alternativas e pré – dimensionamento das mesmas, a definição da

alternativa mais atrativa, considerando custo benefício e impactos e o estabelecimento

das diretrizes gerais do projeto. Não obstante, as seguintes diretrizes podem ser

consideradas para definir o melhor traçado do sistema de esgoto:

- Estudo da população a ser atendida;

- Separar pontos de grandes contribuições singulares (indústrias, hospitais, etc.);

- Prever as vazões;

- Fazer um traçado preliminar, observando a topografia;

- Traçado da rede de coletores de esgoto na via pública:

. Profundidades máximas dos coletores: Passeio: de 2,0 a 2,5 m, dependendo

do tipo de solo; Via de Tráfego e nos terços: de 3,0 a 4,0 m.

. Profundidades mínimas dos coletores de esgoto na via pública: Passeio:

recobrimento superior a 0,90 m; Via de Tráfego: recobrimento superior a 0,65

m.

- Encaminhar a localização da tubulação na via, onde há dois tipos de redes, a Rede

Dupla e a Rede Simples. A rede dupla é ilustrada na figura a seguir.

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Sua utilização é recomendada na ocorrência de pelo menos um dos seguintes casos:

Vias Públicas com tráfego intenso;

Vias Públicas com largura entre os alinhamentos dos lotes igual ou superior a 14 m

para ruas asfaltadas, ou 18 m para ruas de terra;

Vias com interferências que impossibilitem o assentamento de coletores nas vias de

tráfego, ou que constituam empecilho à execução das ligações prediais. Nesses

casos, a tubulação poderá ser assentada no passeio, desde que a sua largura seja de

preferência superior a 2,0 m e a profundidade do coletor não exceda a 2,0 m ou a 2,5

m, dependendo do tipo de solo, e que não existam interferências que dificultem a

obra. Caso não sejam possíveis estas soluções, pode-se lançar a rede na via de

tráfego, próxima à sarjeta.

Quanto à rede simples, pode ser utilizada caso não ocorra nenhuma das observações

citadas acima, os coletores poderão ser lançados no eixo ou no terço da via de tráfego.

Observar figura a seguir.

TIL ou PV - Via de Tráfego

TIL - Passeio

TIL - Ligação Condominial TIL ou PV Via

Tráfego

TIL

Passeio

TIL

Ligação Domiciliar

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Edifício

Edifício Edifício

Edifício

Edifício

Edifício

Edifício

Edifício

Edifício

Edifício

Edifício

Edifício

Rede de Esgoto

Alinhamento Predial

Calçada

Rede de Água

TIL (Terminal de Inspeção e Limpeza)

Conexão Cruzeta

A configuração das posições das tubulações de água e esgoto no leito carroçável é

apresentada na figura a seguir. Cabe observar que a rede coletora de esgoto deve ficar

abaixo da rede de distribuição de água a fim de evitar contaminação da água nesta

última quando houver vazamentos na primeira.

O lançamento das canalizações em valas rasas requer alguns procedimentos no sentido

de protegê-las da atuação de esforços excessivos causados pelas atividades seja sobre o

leito carroçável, seja sobre o passeio.

Rede de Esgoto

90

cm

Rede de Água

80

cm Coletor Predial

Passeio

Caixa de Inspeção

Caixa de Inspeção

Alinhamento Predial

1/3 da distância da

via de tráfego

TIL - Ligação Domiciliar

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Outro fator a ser ilustrado refere-se as conexões utilizadas nas redes coletoras, como os

poços de visita. Na figura seguinte, são apresentados esquemas demonstrando poços de

visita com configuração típica e poços com configuração onde é instalado um tubo de

queda.

Poço de visita típico Poço de visita com tubo de queda

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IV Capacidade Suporte dos Corpos Hídricos

IV.1 Autodepuração de Cursos Hídricos

Equilíbrio natural entre os fenômenos de desoxigenação e reaeração em um recurso

hídrico, a medida que a matéria orgânica estabiliza-se ao longo do tempo. A

decomposição pode ser aeróbia e anaeróbia, enquanto a reaeração é física ou via

fotossíntese. A formulação do processo, em condições aeróbias, pode ser pelo modelo

Streeter-Phelps, conforme o seguinte equacionamento:

t.k

o

t.kt.k

12

o1 221 10D)1010(kk

LkD

D: déficit de O.D no tempo t (mg/L);

K1: coeficiente de desoxigenação (dia –1

) com valores de:

0.08 a 0.10 para esgoto tratado;

0.20 a 0.30 para esgoto bruto.

K2: coeficiente de reaeração (dia –1

) com valores de:

0.09 para escoamento lento;

1.3 para escoamento rápido.

t: tempo após lançamento do esgoto (dia).

Do: Valores de saturação de OD (mg/L), que variam com a temperatura. Observar

tabela abaixo.

Temperatura (oC)

p/água

10 15 20 25

O.D sat (mg/L) 11.3 10.2 9.2 8.4

V Generalidades sobre Tratamento de Esgoto

1 Princípios Sobre o Tratamento de Esgoto

Os sistemas de tratamento de esgoto têm por função basicamente a remoção de matéria

orgânica, nutrientes e microrganismos patogênicos de maneira a promover a proteção

ambiental e a saúde pública, respectivamente. Neste sentido o tratamento pode ser de

natureza física, química e biológica. Considerando que esse texto prioriza a abordagem

do tratamento do esgoto doméstico, serão destacados conceitos sobre a biologia do

tratamento do esgoto.

1.1 Princípios Relacionados à Física do Tratamento do Esgoto

Os processos físicos objetivam, através de processos de interceptação (grades) e de

processos de sedimentação (caixas de areia, decantadores, fossas sépticas, etc.), a

remoção dos sólidos grosseiros e sedimentáveis, respectivamente.

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1.2 Princípios Relacionados à Biologia do Tratamento do Esgoto

Os processos biológicos, conjuntamente com os processos físicos, são os mais utilizados

no Brasil para o tratamento de esgoto doméstico. Basicamente dividem-se em processos

aeróbios, cujo agente oxidante é o oxigênio dissolvido, e em anaeróbios onde os agentes

oxidantes são nitratos, sulfatos e dióxido de carbono. São exemplos representativos o

sistema de lodo ativado, a lagoa de estabilização, o reator anaeróbio, o filtro biológico e

a própria fossa séptica, já citada. Existem ainda os processos biológicos facultativos

onde, em uma mesma unidade, desenvolvem-se simultaneamente os processos aeróbios

e anaeróbios.

1.2.1 Sobre a Atuação dos Microrganismos

Classificação e Estrutura Celular

Os microrganismos classificam-se em monera / protista, onde a diferenciação celular

inexiste, e vegetal / animal, onde a diferenciação celular elevada, contendo células,

tecidos, órgãos e aparelhos. A estrutura das células é apresentada na ilustração a seguir.

Matéria e Energia Utilizadas

Necessidades do ser vivo são crescimento, locomoção, reprodução e, para tanto, são

necessários energia, carbono e nutrientes pelo mesmo. As fontes de energia a luminosa

e a química, enquanto as fontes de carbono são o CO2 e a matéria orgânica. Assim, os

microrganismos podem ser autótrofos e heterótrofos. Os microrganismos autótrofos

utilizam gás carbônico (CO2), água, nutrientes e energia luminosa, retidas na clorofila,

para a síntese, por meio da fotossíntese, de novas células. Neste sentido, os

microrganismos autótrofos são considerados “acumuladores de energia”.

Já os microrganismos heterótrofos utilizam a matéria orgânica para obter a energia para

síntese de novas células. Especificamente, esta energia é obtida pela oxidação da

glicose. São considerados consumidores de energia. O metabolismo dos

microrganismos é função da atuação das enzimas que catalizam reações químicas, onde

as endoenzimas são enzimas intracelulares e as exoenzimas são enzimas extracelulares.

Nesse processo, na remoção de matéria orgânica do esgoto ocorre uma assimilação de

energia nas células, sendo que as formas de geração são a respiração (desassimilação

oxidativa) e a fermentação (desassimilação fermentativa). Na oxidação a matéria

orgânica ou inorgânica, a qual é doadora de elétrons, é reduzida pelo agente oxidante

(O2, NO3-, SO4

2-, CO2), que é aceptor de elétron.

Os aceptores preferenciais, os quais liberam mais energia são O2, NO3-, SO4

2-, CO2.

Quanto à respiração, os organismos classificam-se em aeróbios estritos, que utilizam

oxigênio, os facultativos que utilizam oxigênio e depois o nitrato e os anaeróbios que

utilizam o sulfato e o dióxido de carbono. As formas preferenciais são:

1o Aeróbia / O2;

2oAnóxica / NO3

- (desnitrificação) ;

3o Anaeróbia / SO4

2- (dessulfatação) ;

4o Anaeróbia / CO2 (metanogênese) .

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No caso da metanogênese, têm-se os tipos hidrogenotrófica, onde o metano produzido a

partir do H+, e a acetotrófica, onde o metano produzido a partir do C orgânico na forma

de acetato (ácido acético). O conjunto de reações acima citado apresenta as seguintes

formulações:

Aeróbia: C6H12O6 + 6O2>6C02 + 6H2O

Desnitrificação (Condições Anóxicas): 2NO3- -N + 2H

+ > N2 + 2,5O2 + H20

Dessulfatação (Condições Anaeróbias): CH3COOH + SO42-

+ 2H+

> H2S + 2H2O +2CO2

Metanogênese Hidrogenotrófica (Condições Anaeróbias): 4H2 + CO2 > CH4 + 2H2O

Metanogênese Acetotrófica (Condições Anaeróbias): CH3C00H > CH4 + CO2

Neste contexto, observar que a produção de lodo é maior nas reações aeróbias pois estas

liberam mais energia, implicando em maior velocidade na reprodução do

microrganismos e conseqüente maior velocidade (maiores taxas) na estabilização da

matéria orgânica. O substrato menos oxidado (mais reduzido) tem mais energia. Logo, o

mesmo dispõe de mais elétrons para doar.

1.2.2 Sobre a Tipologia dos Microrganismos

Basicamente são as bactérias, as algas, os protozoários, os rotíferos e os fungos. As

bactérias são organismos unicelulares e os principais estabilizadores da matéria

orgânica. Podem ser heterotróficas ou autotróficas e atuam nos processos aeróbios,

anaeróbios e facultativos. As bactérias heterotróficas usam matéria orgânica como fonte

de energia e carbono e são classificadas em função do uso do oxigênio, a saber:

Aeróbias: O.D (livre)

Matéria Orgânica+ O.D (LIVRE) CO2 + H2O + Energia

Anaeróbias: ausência de O.D, usam oxigênio ligado a outros compostos.

Matéria Orgânica+ NO-3 CO2 + N2 + Energia

Matéria Orgânica+ SO-4 CO2 + H2S + Energia

Matéria Orgânica Ácidos Orgânicos + CO2 + H2O + Energia

CH4 + CO2 + Energia

As bactérias Autotróficas usam matéria inorgânica como fonte de e CO2 como fonte de

carbono. A classificação é a seguinte:

Da nitrificação: Oxidam NH3 em primeiro NO-2 e em segundo NO

-3.

Do enxofre:

H2S + Oxigênio H2 SO4 +Energia

Matéria Orgânica + SO-4 CO2 + H2S + Energia

Matéria Orgânica Ácidos Orgânicos + CO2 + H2O + Energia

CH4 + CO2 + Energia

Do ferro:

Fe ++

(ferroso) + Oxigênio Fe +++

(férrico) +Energia

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Fe +++

em solução aquosa Fe (OH)3 + Energia: Assimilado pelas bactérias

e posteriormente liberado.

As algas utilizam CO2 na fotossíntese e para sobrevivência e reprodução e liberam O2.

A energia é solar, porém, na falta de luz, o O2 é usado para degradar o nutriente

armazenado, visando a produção de energia. Cabe ainda destacar que as mesmas são

atuantes nas lagoas facultativas e produzem oxigênio livre via fotossíntese.

Os protozoários são organismos unicelulares que se alimentam de algas, bactérias e

outros microrganismos. Alguns são patogênicos e atuam nos processos aeróbios e

facultativos. Já os rotíferos alimentam-se de bactérias e matéria orgânica a presença dos

mesmos no efluente indica eficiência do tratamento. Já os fungos sobrevivem em baixo

ph e são filamentosos e, assim, dificultam decantabilidade do lodo.

1.2.3 Crescimento dos Microrganismos

O crescimento dos microrganismos pode ser disperso, onde há formação de flocos que

ficam suspensos na água, e aderido, onde há fixação sobre um meio suporte, formando

biofilme.

No crescimento disperso, há formação de flocos, onde o floco consta de composto

aglutinado numa estrutura. A composição do mesmo é matéria orgânica, material inerte

e microrganismos, havendo gradiente de OD no interior do floco. Este formado, a

matéria orgânica suspensa é removida via sedimentação. No crescimento aderido, há

formação de biofilme onde há a fixação de microrganismos em suporte sólido ou

suspenso. Assim, ocorre que o biofilme viabiliza retenção de elevada concentração de

biomassa por considerável período de tempo. Os estágios de formação do biofilme são

os seguintes:

Espessura Fina: Superfície do suporte não totalmente coberta

Espessura Intermediária: Espessura constante da camada ativa

Espessura Elevada:

- crescimento e decaimento bacteriano ocorrendo simultaneamente;

- desalojamento de partes do biofilme;

- entupimento do biofiltro.

Para engendrar um comparativo entre o crescimento disperso e aderido, é importante

considerar variáveis como o TDH, tempo de detenção hidráulica, e o Tgc, tempo de

geração celular. Assim,

a) Sistema Disperso: para crescimento microbiano, Tdh > Tgc , de maneira a

assegurar o crescimento das células dentro do reator.

b) Sistema com Biofilme:

Tdh pode ser menor que Tgc, pois as células ficam aderidas no suporte,

implicando em menor volume do reator;

fixação das células no suporte reduz necessidade de posterior clarificação;

taxa de remoção de substrato pode ser maior que para o sistema disperso;

para biofilme de espessura elevada, há limitações para a difusão da MO no

mesmo.

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A fim de exemplificação, entre os sistemas dispersos cabe citar as Lagoas de

Estabilização e os Lodos Ativados, enquanto entre os aderidos cita-se o Filtro

Biológico, Biodisco, Biofiltro Aerado, Filtro Anaeróbio, Disposição no Solo, entre

outros.

1.3 Aspectos Relacionados à Química do Tratamento do Esgoto

Os processos químicos, de larga aplicação no tratamento dos efluentes industriais, são

importantes tanto nos fenômenos de coagulação e floculação para posterior decantação

dos sólidos não decantáveis, quanto nos fenômenos de desinfecção do esgoto.

VI Sistemas de Tratamento de Esgoto

1 Considerações Sobre o Tratamento

1.1 Efluentes Domésticos

Conforme já comentado, os sistemas de tratamento de esgoto têm por função

basicamente a remoção de matéria orgânica, nutrientes e microrganismos patogênicos, e

podem ser de natureza física, química e biológica. Não obstante, em função da

eficiência destes processos de tratamento, os mesmos são também classificados em

preliminar, primário, secundário e terciário, configurando assim níveis de tratamento.

Nos níveis preliminar e primário, predominam os processos físicos, enquanto no nível

secundário predominam os processos biológicos. No nível terciário, por sua vez,

ocorrem fenômenos químicos e biológicos, predominantemente.

Sobre alguns destes sistemas no entanto, são pertinentes algumas observações. Os

sistemas de lodos ativados usuais classificam-se em convencionais, por aeração

prolongada e de fluxo intermitente. São sistemas de grande eficiência na remoção de

matéria orgânica, porém para tanto, faz-se necessário considerável consumo de energia.

Os reatores anaeróbios no entanto são menos eficientes na remoção de matéria orgânica

que os sistemas de lodos ativados, mas além destes reatores não consumirem energia,

geram a mesma em forma de biogás.

Cabe citar os tipos tanque séptico, UASB, modelos estes usuais no Brasil. Outro tipo de

sistema bastante usado no brasil, principalmente na região nordeste em função do clima

apropriado, é a lagoa de estabilização. Existem diversas variantes como a lagoa

facultativa, a lagoa anaeróbia, a lagoa aeróbia, lagoa aerada, e a lagoa de maturação

(polimento). Diversas combinações entre as mesmas são possíveis, configurando

portanto sistemas conjugados.

1.2 Efluentes Industriais

1.2.1 Estudos Preliminares para Concepção do Sistema de Tratamento

Inicialmente, algumas variáveis quantitativas e qualitativas devem ser definidas. As

quantitativas são a vazão, a população equivalente (Pe) e a população hidráulica

equivalente (Phe). As variáveis qualitativas são várias, onde a natureza do despejo

definirá aquelas a serem identificadas. Em geral, são importantes a DBO, DQO, óleos e

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graxas, pH, sólidos totais, suspensos e dissolvidos, nutrientes, metais pesados, entre

outras.

A vazão é específica para cada indústria, assim como sua variação ao longo do tempo.

A população equivalente é o número de habitantes que produzem uma carga orgânica

igual ao esgoto de uma determinada indústria. A população hidráulica equivalente, por

sua vez, é o número de habitantes que produzem uma vazão igual a de uma determinada

indústria. Quanto a caracterização qualitativa do esgoto industrial, para fins de

ilustração, é apresentada uma caracterização genérica do mesmo na tabela a seguir, na

qual constam também valores de variáveis usuais em esgoto sanitário, para fins de

comparação.

Tabela: Algumas Características do Esgoto Doméstico e Industrial Parâmetros Esgoto

Doméstico

Esgoto Industrial

Laticínios Abat. de Bovinos

Sólidos Totais (mg/L) 800 1600 3300

DBO (mg/L) 200 1000 1400

NTotal (mg/L) 35 50 150

Fósforo Total(mg/L) 10 12 16

Observar o quanto é alta a DBO do esgoto de laticínios e abatedouros de bovinos

quando comparados ao esgoto doméstico. São características fundamentais na

concepção do tratamento do esgoto industrial. Ou do sistema público de tratamento de

esgoto, que recebe uma composição de esgoto doméstico e industrial. A concentração

da matéria orgânica, entre outras variáveis não menos importantes, definem se há

necessidade ou não de pré-tratamento de esgoto na própria indústria. Os efluentes

industriais necessitam de pré-tratamento também quando o esgoto é nocivo à saúde,

interfere no sistema de tratamento, obstrui e agride tubulações e equipamentos e estão a

temperaturas elevadas. São questões importantíssimas a serem observadas antes do

lançamento do esgoto na rede pública de esgotamento sanitário.

1.2.2 Processos de Tratamento de Efluentes Industriais

Os efluentes industriais apresentam características muito específicas em função da

natureza do processo industrial. Neste sentido, processo de tratamento deve ser

concebido e projetado caso a caso. No entanto, é possível sintetizar princípios gerais

para o tratamento dos efluentes industriais. Os métodos de tratamento de efluentes

industriais classificam-se em físicos, químicos e biológicos. Os tratamentos físicos são

importantes para remoção de sólidos em geral, óleos e gorduras. Os sólidos grosseiros

são retidos pelo gradeamento, enquanto os sólidos finos são retidos por peneiras. A

areia é retida me caixas de areia ou desarenadores.

No tanque retentor, a seção transversal de escoamento aumenta enquanto a velocidade e

a turbulência do mesmo diminuem. Nestas condições, os sólidos mais densos que o

líquido decantam e os menos densos ascendem. No entanto, neste processo de ascensão,

os sólidos de maior dimensão ascendem mais rapidamente que aqueles de menor

dimensão. A taxa de aplicação, que é a própria velocidade mínima (Vmín) de ascensão,

é dada pela seguinte equação:

Vmín = Q / As,

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sendo Q a vazão do líquido e As é a superfície livre.

Para a remoção dos sólidos mais densos que os líquidos tem-se a decantação e a

flotação. Na decantação, os sólidos sedimentáveis tendem a se separem do líquido. Na

flotação, o ar comprimido é insuflado e, consequentemente, dissolvido no líquido. O ar

dissolve-se na água a 20oC na concentração de 75 mg/l, quando sob à pressão absoluta

de 4,0 Kg / cm2. No entanto, sob pressão atmosférica, para a mesma temperatura, o ar

dissolve-se na água à concentração de 20 mg/l. Neste sentido, quando esta água saturada

de ar é submetida à pressão atmosférica, 55,00 mg/l de ar se transfere para a atmosfera e

carreia as partículas mais densas que a água.

O tratamento químico é empregado para remoção de substâncias coloidais e dissolvidas,

entre as quais cabe destacar as causadoras de cor e turbidez, e os metais pesados. A

coagulação e floculação são importantes nesse processo. O tratamento químico é

importante também para a neutralização dos despejos industriais. Considerando que os

corpos hídricos receptores devam ser mantidos em faixas adequadas e pH, se o efluente

a ser tratado estiver acidificado, logo precisará ser neutralizado por uma base. Por

exemplo, é possível utilizar soda cáustica para neutralizar o ácido sulfúrico que acidifica

o efluente. Quando, no entanto, o efluente estiver alcalinizado, será necessário

neutralizá-lo com o uso de um ácido. O próprio ácido sulfúrico pode ser utilizado como

neutralizador de uma base.

Porém, no processo de neutralização, sais são formados. No caso de adição de soda

cáustica para neutralizar o ácido sulfúrico, já comentado, é gerado o sulfato de sódio

solúvel. Isto posto, faz-se importante destacar que para a remoção de sais pode ser

utilizada a osmose reversa. Neste processo o caminho natural imposto pela pressão

osmótica é revertido. No caminho natural na osmose os sais contidos em uma solução,

em menor concentração, deslocam-se através de um corpo semipermeável para uma

solução de maior concentração. Este deslocamento, portanto, ocorre sob pressão

osmótica. Não obstante, na osmose reversa a pressão osmótica é superada por uma

pressão aplicada ao sistema, onde o líquido é forçado a deslocar-se pela membrana

semipermeável da solução mais concentrada para a solução menos concentrada. Neste

processo são removidos sais, assim como contaminantes orgânicos, íons, vírus,

bactérias e colóides.

Os tratamentos biológicos são importantíssimos também para o tratamento dos efluentes

industriais. Para efluentes com considerável demanda bioquímica de oxigênio, quando é

o caso, por exemplo, de efluentes de laticínios e abatedouros de bovinos, conforme já

apresentado, a lagoa anaeróbia é muito apropriada e útil para a remoção de uma parcela

considerável de matéria orgânica. Já as lagoas de maturação igualmente são de grande

aplicação, tanto na remoção de patógenos quanto na remoção de nutrientes.

2 Apresentação dos Sistemas de Tratamento de Esgoto

2.1 Tratamento Preliminar

Consta de gradeamento grosseiro e fino, caixa de areia e medidor de vazão. Desta

maneira, o tratamento preliminar objetiva proteger sistemas de recalque, sistemas de

tratamento e corpo receptor. A remoção de sólidos grosseiros ocorre pela instalação de

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grades e trituradores. A remoção de areia é importante para evitar abrasividade e

obstruções no sistema, além de facilitar o escoamento do lodo.

Os tipos usuais são a caixa de areia e o desarenador. A remoção de gorduras e sólidos

flutuantes é para evitar a obstrução dos coletores, aderências nas peças, sobrecarga das

unidades de tratamento. Os tipos usuais são as caixas de gordura domiciliares, tanques

aerados, disposição de remoção em decantadores. E o medidor de vazão é

importantíssimo para o monitoramento da ETE. Tal medidor pode ser uma calha

Parshall, por exemplo.

2.2 Tratamento Primário

O tratamento primário objetiva a sedimentação e digestão de matéria sedimentável,

além da retenção de óleos e graxas. O material sedimentável forma um lodo o qual deve

ser digerido e estabilizado. Após isso, o mesmo deve ser disposto em leitos de secagem,

lagoas de lodo, filtro prensa, filtro a vácuo e centrífuga. Os óleos e graxas retidas

formam um sobrenadante conhecido como escuma, e deve ser removida do tanque

periodicamente.

2.2.1 Fossas Sépticas e Tratamentos Complementares

2.2.2.1 Fossas Sépticas

As fossas sépticas são dispositivos de tratamento de esgoto cuja finalidade básica é a

remoção de matéria orgânica. Trata-se de um sistema bastante difundido no Brasil dada

sua simplicidade construtiva, fator este facilitador para sua utilização em domicílios e

comunidades de pequeno porte que não estejam cobertas por sistemas públicos de

tratamento de esgoto.

Trata-se de uma unidade (prismática ou circular) de escoamento horizontal e contínuo e,

quanto ao seu funcionamento, basicamente atuam os processos físicos de decantação,

dos sólidos em suspensão, e de flotação de óleos e graxas, além dos processos

biológicos de estabilização anaeróbia da matéria orgânica. Quanto a função dos tanques

sépticos, os seguintes pontos são importantes como a proteção dos corpos hídricos e dos

solos, o controle da proliferação de insetos, a promoção da saúde pública, etc. Assim, o

uso do sistema de tanque séptico somente é indicado para:

Área desprovida de rede pública coletora de esgoto;

Alternativa de tratamento de esgoto em áreas providas de rede coletora local.

Retenção prévia dos sólidos sedimentáveis, quando da utilização de rede

coletora com diâmetro e/ou declividade reduzidos para transporte de efluente

livre de sólidos sedimentáveis.

Os tipos de tanques são a câmara única, as câmaras em série e as câmaras sobrepostas.

Quanto a forma, podem ser prismáticas e circulares. A geometria dos tanques

prismáticos, com relação as medidas internas mínimas por exemplo, a norma vigente

estabelece que a relação comprimento / largura (C/L) a ser adotada nos projetos esteja

na faixa de 2,0 à 4,0. Para tanques circulares no entanto, deve ser observado a relação D

2.H , sendo D o diâmetro e H a altura do tanque. Recomenda ainda profundidades

máximas (Hmáx) e mínimas (Hmin) em função do volume útil, quais sejam:

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Para Vu < 6,0 m³ Hmáx = 2,20 m ; Hmín = 1,20 m

Para 6,0 m³ < Vu < 10,0 m³ Hmáx = 2,50 m ; Hmín = 1,50 m

Para Vu > 10,0 m³ Hmáx = 2,80 m ; Hmín = 1,80 m

A eficiência do sistema e a definição da Disposição do efluente são outros pontos

importantes para a aplicação dessa tecnologia. Segundo JORDÃO, PESSOA (1975),

experiências indicaram valores de eficiência na faixa de 35 a 60% na remoção de DBO,

e aproximadamente 60% na remoção de sólidos em suspensão. Sperling et al (1996), no

entanto, apresentam valores de eficiência de remoção de 30 a 40% de remoção de

matéria orgânica, 60 a 70% na remoção de sólidos em suspensão e 30 a 40% de

remoção de patogênicos. A bibliografia é consensual no fato que tal eficiência é

moderada no referente a remoção da matéria orgânica e fraca na remoção de patógenos.

Tais evidências são esclarecedoras indicando a necessidade de tratamento adicional do

efluente da fossa séptica, tanto para potencializar a remoção de matéria orgânica, quanto

a remoção de patogênicos. Para tanto existem diversas alternativas como filtro

anaeróbio, vala de infiltração, vala de filtração, disposição controlada no solo, assim

como aquelas específicas à desinfecção como a cloração, ultravioleta, ozônio, entre

outros. Tais alternativas serão apresentadas na sequência.

Enfim, uma questão, já abordada, deve ser ressaltada: a fossa séptica, para os fins que se

propõe, é um sistema útil na remoção parcial da matéria orgânica, mas pouco eficaz na

remoção de microrganismos patogênicos, fato este que sugere a contínua busca de

soluções mais resolutivas que garantam a proteção ambiental e segurança sanitária.

Dentre as variáveis para o projeto e dimensionamento, é fato que as mesmas são várias,

entre as quais cabe citar a contribuição per capita diária de esgoto (C), a contribuição

per capita de lodo fresco, o número de contribuintes (N), o tempo de detenção (Td), a

taxa de acumulação de lodo digerido, a área horizontal (A) e o volume útil (Vu).

A norma pertinente é a NBR 7229 “Projeto, Construção e Operação de Sistemas de

Tanques Sépticos”, onde a metodologia de dimensionamento e recomendações diversas

são apresentadas. A contribuição C é função do número de pessoas por residência e dos

valores de contribuição per capita por tipologia de residência. O Período de Detenção

dos Despejos (Td), outro preceito importante da norma em questão. Esta se refere ao

tempo de detenção, estabelecendo que, para uma faixa de contribuição diária de 1.500 L

à 9.000 L, o Td varia inversamente proporcional de 1,00 dia à 0,5 dia. Para o

dimensionamento, a NBR 7229 apresenta a seguinte rotina:

a) Número total de pessoas ou habitantes na edificação:

b) Contribuição de despejos (C): Tabela 1 NBR 7229.

c) Contribuição diária total (C’):

C’ = C x no de pessoas ou habitantes na edificação.

d) Período de detenção (T): Tabela 2 NBR 7229.

e) Taxa de acumulação de lodo digerido (k): Tabela 3 NBR 7229.

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f) Contribuição de lodo fresco (Lf): TABELA 1 NBR 7229.

g) Volume útil do tanque séptico: V = 1000 + N.(C.T+ K.Lf)

Esse volume é o volume útil do tanque, respectivo ao volume de ocupado pelo esgoto

que está sendo tratado. O volume “seco”, aquele que não está em contato com o tanque,

deve ser somado ao útil para se obter o volume total.

Na execução, deve ser observado:

Para o afastamento mínimo das fontes de água recomenda-se 20,00 metros;

A localização da fossa deve facilitar a conexão do coletor predial ao futuro

coletor público;

Deve haver facilidade de acesso para viabilizar a limpeza do tanque séptico.

E, para a Operação, deve-se observar que a remoção do lodo digerido deve obedecer ao

previsto em projeto e que a disposição do mesmo deve ser em aterro sanitário, na ETE

ou na rede coletora de esgoto.

2.2.2.1 Disposição dos Efluentes das Fossas Sépticas

Sumidouro

Consta de um poço para infiltração do esgoto no solo. O dimensionamento é função do

Coeficiente de Infiltração (Cinf). Na sequência observar os seguintes itens:

a. Requisito Básico:

Cinf 40 l / m2.dia, condição esperada em solos com argila arenosa e, ou, siltosa.

b. Dados de Projeto

Área de Infiltração: considerar a área vertical (abaixo da tubulação de entrada) acrescida

da superfície do fundo.

Diâmetro interno mínimo = 0,30 m.

Distância mínima do fundo do sumidouro e o nível máximo do lençol freático: 1,50m.

Distância mínima do Sumidouro aos poços de água: 20,0 m.

c. Equações

A área de absorção do esgoto (A) é a seguinte:

A = ПR2 + 2ПR . H = Q / TAS,

sendo R, H e Q o raio, a altura útil e a vazão afluente do sumidouro, respectivamente.

O volume do sumidouro (V) é o seguinte:

V = ПR2 . H

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Valas de Infiltração

São valas através das quais o esgoto se infiltra no solo.

a. Requisito básico:

40 L / m2.dia > Cinf > 20 L / m

2.dia, faixa esperada em solos com argila medianamente

compacta à argila pouco siltosa ou arenosa.

b. Dados de Projeto:

Número mínimo de valas: 2 unidades

Distância mínima do fundo da vala e o nível máximo do lençol freático: 1,50m.

Distância mínima entre a vala de infiltração e os poços de água: 20,0 m

Declividade da Tubulação: 1:300 a 1:500

Espaçamento entre valas 1,0 m

Largura mínima: 0,50m

Altura: 0,50 a 1,00m

Comprimento máximo de cada vala: 30m

c. Equações

Com base no critério de dimensionamento considerando a área de infiltração, tem-se:

A = Q / Cinf ; C = A / L ,

sendo C o comprimento e L a largura útil da vala. Considerar a área lateral (abaixo da

tubulação de entrada) acrescida da área do fundo da vala.

Valas de Filtração

Valas destinadas a filtrar os efluentes antes de serem lançados em águas superficiais.

a. Requisito Básico:

Neste caso deve ser observada a Taxa de Aplicação (TA), conforme NBR 13969. A

mesma pode ser estimada pela equação

A = Q / TA ; C = A / L ,

sendo TA a taxa de aplicação, C o comprimento e L a largura útil da vala. Considerar a

área lateral (abaixo da tubulação de entrada) acrescida da área do fundo da vala.

b. Dados de Projeto

Constituição: tubulação distribuidora superior, meio filtrante e tubulação receptora

inferior.

Dimensões limites:

. Altura: 1,2 H 1,5 m; Largura: L 0,5 m;

. Comprimento máximo por vala: 25,0 m;

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Declividade da Tubulação: 1:300 a 1:500

Diâmetro mínimo da tubulação: min. = 100 mm;

Distância mínima entre vala de filtração e poço de água : 20,0 m.

Distância entre valas: 1,0 m

c. Valores da Taxa de Aplicação TA

Valores para TA são apresentados na tabela a seguir:

Tabela: Valores de Taxas de Aplicação

TA ( l/m2. dia ) Condições Fonte

< 100 Oriundo do TS NBR 13969 / 1997

de 82 a 200 Oriundo do TS FILHO, et al, 2001,apud EPA

40 Oriundo do TS FILHO, et al, 2001,apud EPA

200 Oriundo de SA FILHO, et al, 2001,apud EPA

< 50 Oriundo do TS para T <10oC FILHO, et al, 2001,apud EPA

< 100 Oriundo de SA para T <10oC FILHO, et al, 2001,apud EPA

6,00 m / pessoa Oriundo do TS ou RA. FILHO, et al, 2001,apud EPA

Filtros Anaeróbios

a. Apresentação

Os filtros anaeróbios usualmente são utilizados como unidades de pós-tratamento de

esgoto. Consta de um tanque (cilíndrico ou retangular) que contém uma camada de leito

filtrante, o qual é o meio suporte que pode ser composto por pedras, peças plásticas, etc.

Sobre este leito o esgoto é aplicado, de maneira a percolar pelo mesmo. Neste efeito de

percolação estabelece-se uma camada microbiana aderida sobre o meio suporte, a qual

será responsável pela estabilização do substrato. Nestes filtros, o fluxo é ascendente e

trabalha sob regime hidráulico afogado. A carga volumétrica de DBO usualmente

aplicada é alta, de maneira a garantir as condições anaeróbias e conseqüente redução de

volume.

b. Dados de Projeto

Forma: cilíndrica ou prismática;

Altura do leito filtrante (H1): A NBR 7229 apresenta o valor de 1,20 m. No entanto,

GONÇALVES et al, 2001, apresenta uma faixa de 0,8 a 3,0 m.

Altura do fundo falso (H2): A NBR 7229 apresenta o valor de 0,30 m.

Distância entre a superfície superior do leito filtrante e a canaleta de saída do

efluente (H3): A NBR 7229 apresenta o valor de 0,30 m.

Profundidade útil do filtro (H):H = H1 + H2 + H3. A NBR 7229 apresenta o valor de

1,80 m;

Dimensões limites:

diâmetro: (d) 0,95 m; comprimento (L) 0,85 m; d 3h; L 3h;Vútil 1250 litros.

c. Dimensionamento

O equacionamento básico é o seguinte: TCNV ...6,1

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sendo,

V: volume do filtro; N: número de contribuintes; C: contribuição por contribuinte

T: tempo de detenção

Os valores desses parâmetros são aqueles apresentados na NBR 7229, os quais já

citados no dimensionamento da fossa séptica.

2.2.2 Lagoas de Estabilização: Lagoa Anaeróbia

As lagoas de estabilização são lagoas naturais ou artificiais, com a finalidade de tratar

esgotos sanitários. Quanto à tipologia existem, numa classificação geral, as lagoas

anaeróbias, facultativas, aeróbias e aeradas. As lagoas anaeróbias são utilizadas como

tratamento primário, enquanto as demais são consideradas tratamento secundário. As

lagoas anaeróbias são aquelas onde a estabilização da matéria orgânica ocorre através da

atuação conjunta de bactérias acidogênicas e bactérias metanogênicas, sendo estas

últimas estritamente anaeróbias.

O fato de usualmente serem lagoas relativamente profundas (4 a 5 m) e de pequena área,

associado ao fato de serem projetadas para trabalharem sob grandes cargas volumétricas

de DBO, propicia que a estabilização da matéria orgânica seja estritamente anaeróbia.

São lagoas de considerável aplicabilidade na operação de pré-tratamento pois reduzem,

normalmente, 50 a 60% de DBO de esgoto afluente, condição esta que viabiliza a

redução das dimensões dos sistemas de tratamento posteriores. O fator porém que

eventualmente se estabelece é a liberação de maus odores. Tal ocorrência deve ser

considerada, principalmente quando na locação deste tipo de lagoa.

2.3 Tratamento Secundário

O tratamento secundário é um processo onde a principal função é a remoção da matéria

orgânica suspensa. Existem processos anaeróbios, facultativos e aeróbios. Entre os

anaeróbios, destacam-se os Reatores Anaeróbios de Fluxo Ascendente e os Filtros

Anaeróbios, estes já apresentados como tratamento complementar das fossas sépticas.

Como facultativos, destaca-se a lagoa facultativa, e como aeróbios destacam-se os lodos

ativados e a filtração biológica.

2.3.1 Reatores Anaeróbios de Fluxo Ascendente

Os reatores anaeróbios de fluxo ascendente são também conhecidos como reatores de

manta de lodo. Sua configuração consta basicamente de um tanque (retangular ou

cilíndrico), onde o esgoto bruto entra pela sua base (fundo) e sai pelo topo,

caracterizando o fluxo ascendente. No fundo forma-se uma camada denominada leito de

lodo. Esta camada é constituída por sólidos totais em grande concentração, estes

compostos por biomassa e substrato, entre outros componentes. Sobreposta ao leito de

lodo desenvolve-se outra camada de sólidos totais, estes em menores concentrações

(mais dispersos) e com menores velocidades de sedimentação. Esta camada é

denominada manta de lodo, na qual também há remoção de substrato, ainda que com

eficiência inferior àquela propiciada pelo leito de lodo. Os gases formados pela digestão

anaeróbia também apresentam um fluxo ascendente, os quais serão convenientemente

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41

separados das fases sólida e líquida no separador trifásico que é construído na parte

superior do tanque.

Tais características de funcionamento investem os reatores de manta de lodo de

qualidades atrativas como, por exemplo, a necessidade de pequenas áreas, custos de

construção e operação relativamente baixos, a reduzida produção de lodo, o consumo

nulo de energia, a aprazível remoção de matéria orgânica (aproximadamente 70% de

DBO), entre outras. Isto posto, cumpre salientar que estas qualidades, apesar de fatores

negativos possíveis como a exalação de odores desagradáveis, tem possibilitado a

aplicação dos reatores anaeróbios de fluxo ascendente.

Vide figura a seguir.

A existência do separador trifásico possibilita o retorno de lado, tanto com substância

quanto com biomassa, o que confere ao UASB a capacidade de elevados tempos de

residência celular (idade do lado), tempos estes bem superiores ao TDH. Esta relação,

TRC >> TDH, caracteriza os sistemas anaeróbicos de alta taxa. Outro fator a ser

destacado é que os reatores UASB propiciam excelente contato entre a biomassa e

substrato! Isto porque há considerável mistura biomassa esgoto ocasionada tanto pelo

fluxo ascendente quanto pelo gás ascendente. Os reatores UASB para o tratamento de

esgotos domésticos são usados no Brasil com freqüência. O processo anaeróbio através

de reatores de manta de lodo apresenta inúmeras vantagens em relação aos processos

aeróbios convencionais, tais como:

Sistema compacto, com baixa demanda de área;

Baixo custo de implantação e operação;

Baixa produção de lodo;

Baixo consumo de energia;

Satisfatória eficiência de remoção de DBO/DQO, da ordem de 65 a 75%;

Possibilidade de rápido reinício, mesmo após longas paralisações;

Elevada concentração de lodo excedente; e

Boa desidratabilidade do lodo.

No entanto, os reatores manta de lodo possuem algumas desvantagens, tais como:

Possibilidade de emanação de maus odores;

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Baixa capacidade do sistema em tolerar cargas tóxicas;

Elevado intervalo de tempo necessário para a partida do sistema; e

Necessidade de uma etapa de pós-tratamento.

Quanto aos princípios do processo dos reatores de manta de lodo, cabe destacar:

No início de operação do sistema:

o Colocar quantidades suficientes de lodo anaeróbio;

o Iniciar a alimentação em baixa taxa;

o Aumentar a taxa de alimentação progressivamente, conforme o sucesso

da resposta do sistema;

Alguns meses após o início do sistema:

o O leito do lodo encontra-se bastante concentrado (4 a 10%, ou seja, em

torno de 40.000 a 100.000 mg ST/l) junto ao fundo do reator;

o Lodo muito denso e com excelentes características de sedimentação;

o Pode ocorrer desenvolvimento de grânulos (diâmetros de 1 a 5 mm);

Acima do leito de lodo

o Desenvolve-se uma zona de crescimento bacteriano mais disperso,

denominada manta de lodo. Sólidos deslocam-se com velocidades baixas

e a concentração de lodo varia entre 1,5 e 3%.

Sistema auto-misturado

o Misturado através do movimento ascendente das bolhas de biogás e do

fluxo de esgotos através do reator.

Sistema de remoção do substrato

o Ocorre através de todo o leito e manta de lodo.

Sistema trifásico para separação dos gases

o Situa-se na parte superior do reator;

o Manutenção do lodo anaeróbio dentro do reator;

o Possibilita operação com elevados tempos de retenção de sólidos; e

o Permite a retenção e o retorno do lodo.

o

As figuras a seguir ilustram o reator em maiores detalhes.

Corte esquemático de um reator

tipo RALF. Fonte: SANEPAR

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2.3.2 Lagoas de Estabilização: Facultativas, Aeróbias e Aeradas

Conforme anteriormente comentado, as lagoas de estabilização são lagoas naturais ou

artificiais, com a finalidade de tratar esgotos sanitários, onde as lagoas facultativas,

aeróbias e aeradas são consideradas tratamento secundário. Quanto as lagoas

facultativas, é importante destacar que as mesmas contém ambos processos (aeróbios e

anaeróbios) de digestão de matéria orgânica. A matéria orgânica suspensa decantável

(matéria orgânica particulada) ao decantar forma no fundo de lagoa uma camada de

lodo sob condições anaeróbias. Neste, o substrato é, portanto, estabilizado

anaerobiamente pelas bactérias pertinentes, sendo convertido em gás carbônico, água,

gás metano, entre outros.

Já a matéria orgânica suspensa não decantável, composta por matéria orgânica

dissolvida e matéria orgânica finamente particulada, permanecem dispersas na massa

líquida e são decompostos pelas bactérias facultativas, as quais sobrevivem seja na

ausência, seja na presença do oxigênio. O oxigênio é presente durante o dia quando as

algas, através da fotossíntese viabilizada pela energia solar e pelo consumo de gás

carbônico produzido pelas bactérias, produz oxigênio. No entanto, a noite, na escassez

ou ausência de oxigênio dissolvido, as bactérias facultativas sobreviverão, conforme já

comentado.

Nas lagoas aeróbias e aeradas por outro lado, a estabilização da matéria orgânica ocorre

através da atuação das bactérias aeróbias. No entanto, nas lagoas aeróbias o oxigênio

dissolvido é produzido pelas algas, através da fotossíntese, enquanto nas lagoas aeradas

o oxigênio é injetado mecanicamente. Cabe ainda salientar que as lagoas aeróbias

usualmente são rasas e de grande área, pois a energia solar deve ser absorvida em

grande quantidade e atuar ao longo de toda coluna líquida. Já as lagoas aeradas terão

suas dimensões definidas em função da eficiência requerida, de maneira a especificar os

dispositivos mecânicos injetores de ar.

2.3.3 Sistemas de Lodos Ativados

O sistema de Lodos Ativados é um sistema onde a principal função é a remoção da

matéria orgânica suspensa, o que o caracteriza como um tratamento secundário. O

Tratamento Secundário ocorre no reator de lodos ativados onde atuam flocos de

bactérias aeróbias para estabilizar a matéria orgânica suspensa. No sistema

convencional, o tempo de contato de aproximadamente entre 2 a 6 horas, enquanto que

na aeração prolongada, onde grande concentração de lodo ativado em contato com

pequena carga orgânica, o tempo de contato é de aproximadamente entre 8 a 24 horas.

A aeração prolongada elimina decantador primário e elimina digestão anaeróbia, pois o

lodo efluente sai bem estabilizado. Uma comparação entre lodo ativado x aeração

prolongada segue na Tabela a seguir:

Tabela: Comparação entre o Sistema Convencional e a Aeração Prolongada Parâmetro Lodo ativado Aeração Prol.

Tempo contato (h) 2 - 6 8 - 24

Eliminação de kg DBO/dia .kg lodo 0,2 - 1,0 0,05 - 0,1

Concentração de lodo (g/l) 1,5 - 4,0 12,0

Volume tanque (m3/kg DBO eliminada p/dia) 1,6 - 3,3 2,0 - 4,0

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2.3.4 Filtros Biológicos

Consta de um leito percolador por onde o esgoto escoa no sentido descendente. Nesse

leito desenvolve-se uma película biológica na qual o esgoto é estabilizado. O meio

filtrante pode ser composto por pedras onde a altura do mesmo pode variar de 0,90 a 3,0

m para o leito de pedras, sendo usual 1,80 m. O meio filtrante pode ser composto

também por peças plásticas, onde o qual pode atingir até 12,00 m, segundo

NUVOLARI (2003).

Quanto à Taxa de Aplicação Hidráulica (TAH), a mesma pode ser baixa, média ou alta.

Os filtros de baixa taxa apresentam TAH de 1,0 a 4,0 m3/m

2.dia, os de média taxa

apresentam TAH de 4,0 a 10,0 m3/m

2.dia, enquanto aqueles de alta taxa apresentam

valores de 10 a 60 m3/m

2.dia. Outro parâmetro importante é a Carga Orgânica

Volumétrica (COV), a qual é a relação entre a carga orgânica e a vazão. A faixa

recomendada para COV de DBO é 0,6 a 1,8 kg DBO/m3.dia, onde o usual é 1,2 kg

DBO/m3.dia. Considerar que usualmente o filtro biológico, enquanto tratamento

secundário aeróbio, produz considerável quantidade de lodo, o que requer, portanto, um

decantador secundário conectado ao mesmo.

2.4 Tratamento Terciário

O tratamento terciário objetiva a desinfecção, a remoção de nutrientes e a remoção de

complexos orgânicos. Destacam-se as lagoas de maturação, a disposição no solo e a

desinfecção por oxidantes químicos.

2.4.1 Lagoas de Maturação

Para as lagoas de maturação, o grande objetivo das lagoas é a remoção de patogênicos,

caracterizando esta alternativa como uma solução para desinfecção. Fatores como a

radiação solar, o pH e o oxigênio dissolvido elevados, em lagoas rasas, são muito

importantes na remoção de patogênicos.

Todavia, o tempo de detenção também é um fator importante na eficiência de remoção

dos patogênicos e, em lagoas rasas, para um dado volume, grandes tempos de detenção

(usuais nos projetos de lagoas de maturação) conduzirão à grandes áreas, as quais nem

sempre são disponíveis. Para o tempo de detenção, por exemplo, MARA (1996)

recomenda o mínimo de 3 dias a fim de evitar curto circuito e perda de algas.

Para a profundidade é recomendada a faixa de 0,8 a 1,5 m, no intuito de melhor

aproveitar a ação bactericida da radiação ultravioleta natural e também, através da

fotossíntese, elevar o pH. Logo, faz-se necessário uma otimização desta relação tempo

de detenção x profundidade, de maneira a contemplar da forma mais adequada possível

o binômio eficiência x custo.

Outras variáveis de dimensionamento devem ainda ser citadas, como a relação

comprimento / largura, o coeficiente de dispersão, o coeficiente de decaimento

bacteriano, a carga de coliforme, entre outras. Quanto a eficiência das lagoas de

maturação, são esperadas remoções de coliformes na ordem de 99,9 a 99,99%, de

maneira a atender, por exemplo, requisitos para irrigação irrestrita, conforme a OMS, e

requisitos para manutenção do corpo receptor na Classe 02, conforme Resolução 376 do

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CONAMA. Todavia, a remoção adicional de matéria orgânica é muito pequena,

segundo GASI (1988). Sintetizando, portanto, a lagoa de maturação tem expressiva

atuação na remoção de patogênicos, mas inexpressiva na remoção de matéria orgânica,

tornando-a específica para a desinfecção.

2.4.2 Disposição do Esgoto Doméstico no Solo

Neste sistema, o esgoto é filtrado e estabilizado. O terreno geralmente é recoberto por

vegetação (grama) e constituído por uma série de rampas uniformes. A função da

vegetação é a proteção do solo e criar uma camada suporte para os microrganismos. O

escoamento é laminar e intermitente, e há a evapotranspiração influenciando no balanço

de massa. Os solos favoráveis são aqueles com baixa permeabilidade e solos argilosos

com profundidade de 0,3 a 0,6 m. O sistema de disposição superficial no solo apresenta

vantagens como proporcionar tratamento secundário avançado, com uma operação

relativamente simples e barata, além de produzir uma cobertura vegetal que poderá ser

reaproveitada ou utilizada comercialmente.

No entanto tal sistema apresenta desvantagens pois as taxas de aplicação podem ser

restritas pelo tipo de crescimento da cultura e, além disso, faz-se necessária a

desinfecção do efluente antes der sua descarga em um curso de água. Observar que este

sistema pode ser utilizado como tratamento primário e secundário e é apropriado para

comunidades rurais e indústrias sazonais, que geram resíduos orgânicos (indústrias

cítricas e usinas de açúcar e álcool).

Com relação a critérios e parâmetros de projeto, cabe destacar que o comprimento da

rampa pode variar de 30 a 60 m. Para a declividade do terreno recomenda-se entre 1 e

12%; não recomenda-se declividade inferior a 1,0 % pois pode formar poças do líquido

e, consequentemente, a proliferação de moscas. Quanto ao período de aplicação, sua

operação é intermitente, com período de aplicação entre 8 e 12 h/dia, seguindo de um

período seco, na faixa de 16 a 4 h/dia. Tem-se que ciclos de operação de 4 dias de

aplicação e de 2 dias secos, evitam a propagação de insetos. Não obstante, algumas

questões adicionais merecem destaque:

Quanto ao escoamento:

Laminar;

Intermitente;

Ocorre evaporação durante o percurso; e

Direciona-se ao Canal Coletor.

Características favoráveis de solo:

Terrenos de Baixa Permeabilidade

Solos argilosos com profundidade de 0,3 a 0,6 m

Quanto a Aplicação do Sistema de Escoamento Superficial:

Como tratamento primário e secundário;

Apropriado para comunidades rurais e indústrias sazonais, que geram

resíduos orgânicos (indústrias cítricas e usinas de açúcar e álcool);

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Quanto a Taxa de Aplicação: É o principal parâmetro para o dimensionamento do

sistema. É definida como o volume aplicado ao módulo de tratamento, dividido pelo

período de aplicação, em horas.

- Para esgoto primário varia entre 0,2 e 0,4 m3

- Para esgoto secundário tem-se a taxa de 0,6 m3/h.m

Referente ao Armazenamento: É necessária a construção de um tanque de estocagem

com agitador, para o armazenamento do efluente nos dias em que não há aplicação.

Referente a Distribuição do Efluente:

Irrigação por aspersão: Uso na redução da erosão sendo,

- Aspersores de baixa pressão, os sólidos podem causar o entupimento no

bico dos aspersores;

- Aspersores de alta pressão, abrange áreas maiores, recomenda-se

rampas com maior comprimento.

Irrigação por sulcos: Baixo custo inicial; Economia em mão de obra;

Uso em terrenos planos.

Irrigação por inundação: Inundação de áreas divididas; Baixo custo

inicial; Economia em mão-de-obra.

Infiltração e percolação: Para solos permeáveis; Proteção do lençol

freático; Terrenos planos.

Escoamento superficial: Para solos moderadamente inclinados; Solos

pouco permeáveis.

Relativo aos Canais de Coleta: Devem ser projetados com capacidade e declividade

suficientes para comportar o efluente que chega até a base da rampa

Quanto a Seleção da Vegetação: Gramíneas perenes e tolerantes à água são as que

melhor se adaptam ao sistema. Suas principais funções são Proteção contra erosão;

Redistribuição do fluxo; Suporte para os microrganismos; Remoção de nutrientes.

Relativo ao Monitoramento: Deve-se monitorar constantemente a vazão; as taxas

aplicadas; o período e freqüência de aplicação do esgoto; a qualidade do afluente; a

água subterrânea, caso haja infiltração. Observar ilustrações na sequência.

Esquema de um sistema de escoamento superficial

Infiltração Tanque de

Armazenamento

Agitador

Aplicação

Cano Perfurado

Evapotranspiração

Escoamento

Efluente

L B

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3 Concepção dos Sistemas Conjugados

Os sistemas conjugados são importantes para atender especificidades do tratamento do

esgoto. O sistema preliminar tem a função de remover matéria sólida de maiores

dimensões, conforme já comentado. O sistema primário é importante para a remoção da

matéria orgânica sedimentável, além de óleos e graxas. Como exemplo, cabe citar a

lagoa anaeróbia e o tanque séptico. O sistema secundário é importante para remover a

matéria orgânica suspensa, em especial a dissolvida. Reatores de lodos ativados

exemplifica bem essa tecnologia.

E o tratamento terciário é importante no controle de nutrientes no efluente, assim como

para a desinfecção. São os casos da Lagoa com Plantas e Lagoa de Maturação,

respectivamente. Essa breve síntese busca contextualizar a importância da adequada

conjugação dos sistemas para atender o requerido para um dado cenário. Portanto, na

seqüência, alguns destes sistemas são apresentados.

3.1.1 Sistema Australiano

O sistema australiano é composto por uma lagoa anaeróbia seguida de uma lagoa

facultativa. A função da lagoa anaeróbia é reduzir parcela da matéria orgânica afluente

na lagoa facultativa, possibilitando portanto reduzir a área necessária para esta última.

Tal redução é tal que, para igual carga de DBO, o sistema australiano ocupa apenas 2/3

da área necessária à lagoa facultativa. Todavia, cumpre ressaltas o inconveniente deste

sistema, qual seja a presença de odores desagradáveis oriundos da lagoa anaeróbia,

conforme já comentado.

3.1.2 Reatores Anaeróbios de Fluxo Ascendente – Lagoa Facultativa

O reator anaeróbio de fluxo ascendente e a lagoa facultativa dispostos em série

compõem uma configuração de grande aplicação em alguns estados brasileiros, como o

Paraná, por exemplo. Semelhantemente ao sistema australiano, há uma significativa

redução de área necessária, quando comparado ao sistema de lagoa facultativa única. Há

também vantagens referentes a reduzida produção de lodo e nulo consumo de energia.

3.1.3 Reatores Anaeróbios de Fluxo Ascendente – Filtro Anaeróbio

Consta de reator anaeróbio de fluxo ascendente e filtro anaeróbio dispostos em série,

compondo uma combinação de processos anaeróbios que favorecem a economia de

custos energéticos e operacionais.

3.2 Abordagem Comparativa dos Sistemas Conjugados

O Quadro 01 apresenta uma comparação entre os sistemas em questão, através da

apresentação de dados usuais das principais variáveis.

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Quadro 01: Abordagem Comparativa Através das Variáveis Principais

Sistema Área Requerida

(m²/habitante)

Eficiência na

Remoção de DBO

(%)

Eficiência na

Remoção de

coliformes (log)

Custo de

Implantação

(R$/habitante)

Lagoa Facultativa

2,0 – 4,0 75 – 85 1 - 2 40 – 80

Lagoa Anaeróbia +

Lagoa Facultativa

(Sistema Australiano)

1,5 – 3,0 75 – 85 1 - 2 30 – 75

Reator Anaeróbio de

Fluxo Ascendente +

Filtro Anaeróbio

0,05 – 0,15 75 – 87 1 - 2 45 – 70

Reator Anaeróbio de

Fluxo Ascendente +

Lagoa Aerada

Facultativa

0,15 – 0,30 75 – 85 1 - 2 40 - 90

SPERLING,M. Introdução à Qualidade das Águas e ao Tratamento de Esgotos, pg. 340,Volume 01, 3ª Edição,

2005,DESA-UFMG

Já o Quadro 02 apresenta outras variáveis sob o aspecto qualitativo.

Quadro 02: Abordagem Comparativa Sob Aspectos Qualitativos

Características

Lagoa

Facultativa

Lagoa Anaeróbia +

Lagoa Facultativa

(Sistema

Australiano)

Reator Anaeróbio de

Fluxo Ascendente +

Filtro Anaeróbio

Reator Anaeróbio de

Fluxo Ascendente +

Lagoa Facultativa

Custo de operação e

manutenção muito pequeno muito pequeno pequeno pequeno

Necessidade de mão-de-

obra para operação

eventual,

Não

especializada

eventual,

não especializada

constante,

não especializada

constante,

não especializada

Potencial de

reaproveitamento de

subprodutos

sim

(irrigação com

efluente)

sim

(irrigação com

efluente)

sim

(biogás)

sim

(irrigação com

efluente)

Remoção de nutrientes pode remover

algum pode remover algum não remove pode remover algum

Simplicidade, operação e

manutenção

mais

adequado

mais

adequado adequado Adequado

Menor

Possibilidade

de Problemas

Ambientais

Maus

Odores favorável

menos

favorável

favorável

Favorável

Insetos e

Vermes

menos

favorável

menos

favorável favorável Favorável

Fonte: Material do PROSAB/FINEP

4 Definição do Sistema de Tratamento de Esgoto

Objetiva este item o desenvolvimento de uma reflexão no intuito de selecionar a

alternativa de tratamento de esgoto mais adequada para cada extrato populacional sob

estudo. Neste sentido, as principais variáveis de decisão admitidas neste processo de

escolha são o custo total, englobando a implantação e o projeto, as eficiências de

remoção de DBO e coliformes, além da área requerida.

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No entanto, outras variáveis, ainda que menos impactantes no processo decisório

também serão consideradas, quais sejam, a qualidade da mão-de-obra necessária, o

potencial de reuso dos efluentes, a remoção de nutrientes, a simplicidade operacional, a

geração de odores desagradáveis, o proliferação de insetos e vermes, e o custo (expresso

qualitativamente) de operação e manutenção.

Portanto, com base em um Estudo de Caso que enfocou pequenos municípios, foi

elaborado o Quadro 03, o qual apresenta para cada alternativa as áreas requeridas e os

custos em função da população, incluindo o custo do sistema de desinfecção (cloração)

do efluente.

Quadro 03: Áreas Requeridas e Custos dos Sistemas*

Sistema População

(por hab.)

Área

Requerida

(ha²/

hab.)

Custo do

Projeto

(R$)

Custo de

Implantação

(R$)

Custo de

Desinfecção

(R$)

Custo

Total

(R$)

Lagoa

Facultativa

5.000 1,75 10.000,00 420.000,00 126.000,00 556.000,00

10.000 3,50 20.000,00 840.000,00 252.000,00 1112.000,00

15.000 5,25 30.000,00 1260.000,00 378.000,00 1668.000,00

20.000 7,00 40.000,00 1680.000,00 504.000,00 2224.000,00

Lagoa Anaeróbia

+ Lagoa

Facultativa

(Sistema

Australiano)

5.000 0,87 10.000,00 330.000,00 99.000,00 439.000,00

10.000 1,74 20.000,00 660.000,00 198.000,00 878.000,00

15.000 2,61 30.000,00 990.000,00 297.000,00 1317.000,00

20.000 3,48 40.000,00 1320.000,00 396.000,00 1756.000,00

Reator

Anaeróbio

de Fluxo

Ascendente +

Filtro Anaeróbio

5.000 0,88 10.000,00 330.000,00 99.000,00 439.000,00

10.000 1,76 20.000,00 660.000,00 198.000,00 878.000,00

15.000 2,64 30.000,00 990.000,00 297.000,00 1317.000,00

20.000 3,52 40.000,00 1320.000,00 396.000,00 1756.000,00

Reator

Anaeróbio de

Fluxo

Ascendente +

Lagoa

Facultativa

5.000 0,075 10.000,00 300.000,00 90.000,00 400.000,00

10.000 0,15 20.000,00 600.000,00 180.000,00 800.000,00

15.000 0,23 30.000,00 900.000,00 270.000,00 1200.000,00

20.000 0,30 40.000,00 1200.000,00 360.000,00 1600.000,00

* Quadro Elaborado com Base em Dados da Literatura para Sistemas Conjugados

Isto posto, para o Estudo de Caso em questão, observa-se que o sistema combinado

Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente - Filtro Anaeróbio pode apresentar-se como o

mais atrativo, entre todas as alternativas, para todos extratos populacionais, em termos

econômicos, de área e de eficiência de remoção de DBO. No entanto, tal sistema não

remove satisfatoriamente os patógenos e os nutrientes. A manutenção deve ser

constante, e pode ocorrer a geração significativa de odores desagradáveis.

Já o Sistema Australiano e o Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente – Lagoa

Facultativa apresentam praticamente os mesmos custos e áreas requeridas. Quanto as

eficiências, o sistema Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente – Lagoa Facultativa tende

a superar o sistema australiano na remoção de DBO, enquanto na remoção de

coliformes, a situação inverte-se, isto é, o sistema australiano apresenta-se mais

eficiente.

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Não obstante, os custos de operação e manutenção do sistema Reator Anaeróbio de

Fluxo Ascendente – Lagoa Facultativa são superiores àqueles referentes ao sistema

australiano, uma vez que, entre outros fatores, o Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente

– Lagoa Facultativa necessita de manutenção constante, enquanto que o sistema

australiano requer manutenção eventual. Quanto a Lagoa Facultativa, tem-se que os

custos e as áreas requeridas são as maiores encontradas entre todas as alternativas. No

entanto, apresenta a vantagem de apresentar custos reduzidos de operação e manutenção

e de não necessitar mão-de-obra constante.

Enfim, numa breve síntese comparativa entre os sistemas em questão, percebe-se que o

sistema Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente - Filtro Anaeróbio apresenta um maior

espectro atrativo, ainda que não seja tão simples operacionalmente quanto aos demais

sistemas. Ou seja, indica-se aqui o Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente - Filtro

Anaeróbio como a primeira alternativa mais atrativa. Como Segunda alternativa mais

atrativa cabe sugerir tanto o Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente – Lagoa Facultativa

quanto o sistema australiano, com leve tendência de escolha deste último em função das

questões operacionais, conforme já comentado.

O Quadro 04 apresenta uma síntese das estimativas realizadas para o sistema Reator

Anaeróbio de Fluxo Ascendente - Filtro Anaeróbio, o qual então é aqui sugerido como a

alternativa ótima para o município específico do Estudo de Caso. Considerar que outro

município sob enfoque poderia conduzir a outra alternativa ótima.

Quadro 04: Área Requerida e Custo Final da Solução Ótima

População

(habitantes)

Área Requerida

(ha/habitante)

Custo Total

(R$)

5.000 0,88 439.000,00

10.000 1,76 878.000,00

15.000 2,64 1.317.000,00

20.000 3,52 1.756.000,00

No entanto, é extremamente importante salientar que tal processo decisório apresentado

não considera alguns fatores. Por exemplo, não é considerado a economia de escala que

pode tornar os sistemas menores mais onerosos que os sistemas maiores, em termos de

custo por habitante. Ou seja, a variação do custo é admitida linear em relação a variação

da população, hipótese esta que não corresponde a relação esperada, que é a relação não

linear. Outro fator importante é a falta de dados específicos das regiões sob estudo.

Dependendo das condições locais, a ser conhecida no levantamento de dados, o sistema

australiano pode, por exemplo, ser a alternativa mais atrativa.

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51

VII CONSIDERAÇÕES COMPLEMENTARES

O sistema de esgotamento sanitário tem por finalidade coletar o esgoto gerado e

conduzi-lo a um sistema de tratamento de forma que o mesmo seja disposto

adequadamente em um corpo hídrico receptor. Dessa forma o sistema pode ser unitário,

no qual escoam tanto o esgoto sanitário quanto águas pluviais, ou separador absoluto,

sendo o sistema de esgoto sanitário totalmente separado do sistema de drenagem

urbana.

Em função de uma série de questões técnicas, culturais e de segurança sanitária, no

Brasil é utilizado o sistema separador absoluto o qual é composto por rede coletora,

estação de tratamento de esgoto e disposição final.

A rede coletora do sistema separador absoluto tem por função a coleta e a condução do

esgoto gerado nas edificações de forma rápida e segura em termos sanitários e

ambientais. No entanto, para o bom funcionamento da rede coletora alguns cuidados

devem ser tomados durante sua operação, a saber:

. Considerando que o sistema em questão é o separador absoluto, é vedada a

conexão de águas pluviais à rede coletora de esgoto. Deve ser destacado que as redes

coletoras de esgoto são projetadas para escoar apenas esgoto. A conexão de águas

pluviais às redes coletoras de esgoto poderia gerar um volume de escoamento superior a

capacidade de escoamento de tais redes, podendo causar pontos de extravasamento de

esgoto em ruas e calçadas;

. É fundamental instalar caixas de gordura nas edificações cuja finalidade é reter

gordura efluente da pia de cozinha. Sem a retenção da gordura a mesma será conduzida

à rede coletora e esta estará sujeita a entupimentos que poderão também causar

extravasamento de esgoto em ruas e calçadas;

. É importantíssimo entender que a bacia sanitária não é “lixeira”. Isto posto, os

resíduos sólidos não devem ser lançados na bacia sanitária. Tal prática pode causar

entupimentos na própria bacia, nas tubulações de esgoto das edificações assim como nas

tubulações da rede coletora. E, novamente, pontos de extravasamento de esgoto poderão

surgir.

Já o tratamento de esgoto objetiva remover poluentes presentes no esgoto dentre os

quais cabe destacar a matéria orgânica, os nutrientes e os microrganismos patogênicos.

A matéria orgânica deve ser suficientemente removida de maneira a evitar a redução

significativa de oxigênio no corpo hídrico que recebe o esgoto.

Caso a redução de oxigênio seja significativa no corpo hídrico receptor em função do

esgoto estar sendo disposto no mesmo com razoável concentração de matéria orgânica,

poderá haver morte de peixes, geração de maus odores, dentre outros problemas

ambientais.

No caso dos nutrientes, como o fósforo e o nitrogênio, os mesmos devem ser removidos

para evitar a eutrofização nos corpos hídricos receptores, em especial em lagos. A

eutrofização pode causar diversos problemas ambientais os quais podem ser evitados

caso o sistema de tratamento os remova suficientemente.

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A remoção dos microrganismos patogênicos é igualmente importantíssima de forma a

proteger os corpos hídricos receptores. Cabe lembrar que na realidade brasileira não é

incomum haver o lançamento de esgoto e, seguindo o curso do rio, haver na sequência

uma unidade de captação de água para o sistema de abastecimento.

Para o caso em que a distância entre o lançamento e a captação não seja suficiente para

a eliminação natural de poluentes, poderá haver captação de água com concentração de

microrganismos patogênicos de tal magnitude que o tratamento de água potável do

sistema de abastecimento não seja suficiente para removê-los. Assim, é importante já

prever no tratamento de esgoto a remoção destes microrganismos na maior eficiência

possível.

No entanto, em termos práticos, em muitas regiões urbanas brasileiras não há instalação

de redes coletoras de esgoto e, assim, expressiva parcela da população encaminha o

lançamento do esgoto no sistema de drenagem urbana. Tal situação tem sido

preocupante por suas conseqüências negativas importantes, como por exemplo:

. Apesar de haver diluição do esgoto lançado pelas águas pluviais e a decorrente

redução da concentração da matéria orgânica, normalmente significativas

cargas de matéria orgânica são lançadas diretamente nos corpos hídricos

receptores, além de nutrientes e patógenos;

. Considerando ainda que o sistema não foi adequadamente dimensionado e

executado para ser um sistema único, este não consegue suportar certos níveis

de precipitação, o que conduz a alagamentos e, conseqüentemente, expõe a

população a riscos sanitários.

Desta forma, quando não houver rede coletora de esgoto é fundamental a instalação de

um sistema de tratamento de esgoto no próprio lote da edificação. Neste sentido existem

diversas soluções técnicas próprias para remover matéria orgânica, nutrientes e

microrganismos patogênicos.

Uma linha seriada de tratamento, por exemplo, composta por tanque (fossa) séptico,

filtro anaeróbio e wetland pode compor uma boa solução dependendo das condições de

instalação. Ou um tanque séptico, seguido de um poço sumidouro, também pode ser

apropriado. Para a escolha da melhor solução para estes casos, algumas questões devem

ser observadas:

. O tanque séptico é um sistema de tratamento de esgoto o qual é estanque em

relação ao solo, ou seja, não pode haver fuga de esgoto no referido tanque. Portanto, não

há infiltração de esgoto no solo quando oriundo do tanque séptico;

. O poço sumidouro, também conhecido como “fossa negra” é, ao contrário do

tanque séptico, um sistema que propicia a infiltração do esgoto no solo. Em outras

palavras, o poço sumidouro é um sistema totalmente diferente do tanque séptico e esta

confusão conceitual deve ser evitada;

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53

. O sistema tanque séptico seguido de poço sumidouro, dado como exemplo em

parágrafo precedente, pode ser utilizado desde que o terreno seja permeável o suficiente

para garantir uma boa infiltração e que o nível do lençol freático seja distante o bastante

da base do sumidouro para que tal lençol não venha ser contaminado. Caso estas duas

condições não sejam atendidas, o sumidouro não poderá ser utilizado;

. Observações anteriores como a necessidade da instalação da caixa de gordura e

a não utilização da bacia sanitária como “lixeira” igualmente são importantes para os

casos de instalação de tratamento de esgoto no lote.

Enfim todos estes cuidados são extremamente importantes para a proteção dos recursos

hídricos e do solo, cuidados os quais promoverão a salubridade ambiental e a saúde

pública.

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BIBLIOGRAFIA

CHERNICHARO, Carlos Augusto de Lemos (Coordenador). Pós – tratamento de

Efluentes de Reatores Anaeróbios. Belo Horizonte. Projeto PROSAB, 2001.

METCALF & EDDY, Wastewater Enginnering: Treatment, Disposal, Reuse. 3o Ed.,

McGraw-Hill International Editions.1991, 1334p.

NUVOLARI, A. et al. Esgoto Sanitário. FATEC-SP-CEETEPS. São Paulo. 2003.

SPERLING, M. et al. Princípios do Tratamento Biológico de Águas Residuárias.

Lagoas de Estabilização. 3o Volume, DESA / UFMG, Belo Horizonte, 1996.

SPERLING,M. Introdução à Qualidade das Águas e ao Tratamento de Esgotos, pg.

340,Volume 01, 3ª Edição, 2005,DESA-UFMG;

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APÊNDICE:

EXERCÍCIOS SUPORTE

01) Em uma área de 200 ha na cidade de Santa Maria, o talvegue tem 2,7 km de

extensão e sendo o desnível entre as cotas do ponto mais alto e da seção de drenagem

igual a 98 m. Assim, estimar a vazão máxima nesta seção de drenagem para um período

de retorno de 25 anos. Admitir C = 0,30.

1º Pela equação de Califórnia Highways:

2º Para o período de retorno de 25 anos, em Santa Maria (Quadro 18.16, pg. 542,

Manual de Hidráulica, Azevedo Netto) e 30 min de duração resulta:

h =51,00 mm

Observar: (1 = ),

Q = C.I.A = 0,30 × 0,283 × 200 = 16,98 m³/s 17 m³/s

02) Para a estimativa de vazão de enchente, o método racional apresente a seguinte

equação: Q = C.I.A, sendo:

Q = Vazão de enchente (máxima) na seção de drenagem, m³/s

C = Coeficiente de escoamento superficial da BH, %.

I = Intensidade média da precipitação sobre toda área da bacia, m3

/ s.ha

A = Área da bacia, ha

Considerar ainda:

Área da sub-bacia = 2,00 Km2

Área de contribuição da sub-bacia até a galeria crítica = 0,5 Km2

(A)

Vazão de alagamento na galeria crítica: 0,45 m3/s

Comprimento do talvegue = 0,5 km (L)

Diferença entre o ponto mais alto da sub-bacia e a galeria crítica = 10 m (H)

O tempo de concentração tc da bacia pode ser estimado pela seguinte equação:

Tc = 57 (L3/H)

0,385, sendo L em Km e H em m ; Tc = 11 min

Para o tempo de retorno T = 5 anos e admitindo a duração da chuva T igual a Tc (11

min), a altura pluviométrica h é de 10,00 mm. Logo, I = h / T = 10 mm / 11 min = 0,90

mm/min. Considerando a relação 1,0 mm/min = 0,17 m3/s/ha, I é igual: I = 0,15 m

3/s/ha.

Quanto ao valor de C, observar tabela abaixo: C = ∑ Ai .Ci

A

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Nesse caso, no Quadro a seguir se observa:

Quadro: Estimativa do Coeficiente C

Tipo de Superfície A (Km ²) C (%) A.C

Centro da cidade, Comércio

0,1000

90

9,00

Terrenos descampados 0,0125 20 0,25

Habitações uni-familiares urbanas

Habitações uni-familiares suburbanas

0,1375

0,2500

35

25

4,81

6,25

Total: 0,5 Km2

∑ = A.C = 20,31

C = 40,62 %

Dados valores calculados de C, I, A, calcule a vazão Q de enchente para:

Q = 40,62 % . 0,15 m3/s/ha . 50 ha = 3,04 m

3/s

A vazão estimada supera a vazão de alagamento na galeria crítica que é de 0,45m³/s?

Caso supere, qual a intervenção para reduzi-la?

03. Determinar a capacidade hidráulica de uma sarjeta de uma rua com declividade de

0,5%, conforme dados da ilustração a seguir.

Considerando o valor de 0,13 m para a lâmina e a declividade transversal da via pública

de 3%, valor usual para ruas de 10 m de largura, tem-se:

A = 0,280 m² ; P = 4,302 e RH = 0,065m

04. Determinar a capacidade hidráulica na extremidade de jusante de uma sarjeta cuja

área a ser atendida tem 2,0 ha. Demais parâmetros pertinentes são i = 700/(t2/3

) , com "i"

em mm/h e "t" em min, C = 0,40 e tc = 36 min. Para a sarjeta têm-se I = 0,01 m/m, z =

16 e n = 0,016.

Para Q = C.i.A, sendo "i" em l/s.ha, faz-se necessário considerar o fator 2,78 e, assim,

Qo = 0,40 x (700 x 2,78 / 362/3

) x 2,0 = 143 l/s .

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05. Para o exercício 04, verificar a altura da lâmina teórica de água junto à guia.

A vazão máxima teórica Qo (l/s) em uma sarjeta é Qo= 375 . I 1 /2

. (z/n) . yo8/3

onde I é a

declividade longitudinal da rua e "1/z" a declividade transversal da sarjeta.

Logo,

yo= {143 / [ 375 x (16/0,016) x 0,011/2

]}3/8

= 0,12m, que por ser menor que 13cm é

teoricamente aceitável!

Observar que para sarjeta limpa: Qadm = Qo= 375.I1/2

. z/n. yo8/3

= 162,52 l/s

6. No mesmo exemplo verificar a velocidade de escoamento.

Sendo vo = Q/A , onde A = yo.xo/2 = yo.(z.yo)/2 onde vo= 0,143/(0,122.16/2) = 1,24 m/s.

Dimensionamento atende o requisito pois vo é menor que 3,0 m/s.

7. Calcular a capacidade máxima admissível da sarjeta do problema 4.

Qadm = F.Qo= F. 0,375.I1/2

. z/n. yo8/3

;

Sendo yo = 13cm, I = 0,01 m/m, z = 16 e n = 0,016 tem-se, pela Tabela: Fatores de

redução de escoamento das sarjetas, pag. 06, F = 0,50 (função de I).

Para sarjeta limpa:

Qadm = Qo= 0,375.I1/2

. z/n. yo8/3

= 162,52 l/s

Para sarjeta com resíduos sólidos acumulados:

Qadm = Qo= 0,50 x [ 375 x (16/0,016) x 0,011/2

x 0,138/3

] = 0,5 x 162,52 = 81,26 l/s.

08. O esgoto sanitário de uma comunidade residencial corresponde a 400 L/ hab.dia,

contendo uma DBO de 200 mg/L e SS de 240 mg/L. Calcular a contribuição em termos

de gramas de DBO e SS por pessoa, por dia.

dia/g96dia/kg096.01000

4.0240C

dia/g80dia/kg08.01000

4.0200C

dia/m()L/mg(

pessoa/SS

)dia/m()L/mg(

pessoa/DBO

3

3

Sendo, CDBO/pessoa no Brasil = 54g/hab.dia, qual a concentração de DBO respectiva?

09. Um esgoto industrial possui uma vazão total de 24.420 m3/dia, carga de DBO igual

a 21600 kg/dia e carga de SS igual a 13400 kg/dia. Quais as concentrações de DBO e

SS?

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L/mg73,54824420

100013400

Q

1000CSS

L/mg88524420

100021600

Q

1000CDBO

SS

)L/mg(

)dia/m(

)dia/kg(DBO

L/mg3

10. Um matadouro abate cerca de 500.000 kg de bovinos por dia. Após pré-tratamento,

o despejo produzido é descarregado no coletor municipal na vazão de 4500 m3/dia e

com uma DBO de 1300 mg/L. Calcular a carga DBO do despejo por 1000 kg de

bovinos e as Pe e PHE.

C DBO/1000 kg

500.000 kg/dia 4500 m3/dia

1.0 kg/dia x

x = 9 m3/dia

dia/kg7,111000

91300C kg1000/DBO

.hab10833354)1000(

13004500P

1.)hab(E

.hab225002.0

4500P

)dia.hab/m(

)dia/m(

.)hab(H3

3

11. Considere os dados:

Massa processada: 113.000 kg de leite/dia

Q esgoto: 246 m3/dia ; DBO: 1400 mg/L

Logo, calcule CDBO e populações equivalentes.

Q/1000kg

113.000 kg 246 m3/dia

1000 kg Q/1000 kg

Q/1000 kg = 2.18 m3/dia.kg

C DBO/1000 kg

dia/kg4,3441000

2461400C

)dia/m()L/mg(

DBO

3

344,4 kg/dia 246m3/dia 113.000 kg

C DBO/1000 kg 2.18 m3/dia 1000 kg

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dia/kg048,3000.113

10004.344C kg1000/DBO

.hab6378054.0

4.344P

)dia.hab/kg(

)dia/kg(

.)hab(E

.hab12302.0

246P

)dia.hab/m(

)dia/m(

.)hab(H3

3

12. O esgoto sanitário e industrial de uma comunidade consiste em:

a) Esgoto doméstico de uma população servida de 7500 habitantes e consumo de água

potável per capita de 200 L/dia (c=0.8; K1=1.2; K2=1.5;DBO/hab = 0.054kg/hab.dia);

b) Despejos de uma indústria de processamentos de batatas com vazão de 120 m3/dia e

carga orgânica de 250 kg DBO/dia;

c)Despejo de indústria de laticínio com vazão de 450 m3/dia e DBO de 1000 mg/L.

Estimar a vazão combinada em m3/dia, a DBO em mg/L e a PE.

s/L6.31dia/m2730Q

4501202160Q

450120)8.02.15.12.07500(Q

3

dia/kg11051000

45010002507500054.0CDBO

L/mg76.4042730

10001105DBO

1000

QDBOC

)L/mg(

)dia/m()L/mg(

DBO

3

.hab12963054.0

0.700P

)dia.hab/kg(

)dia/kg(

.)hab(E

13. Considerando que a taxa de contribuição linear engloba as contribuições domésticas

e de infiltração, calcular a taxa de contribuição de infiltração, onde:

extensão da rede coletora = 3000 m; população inicial = 5000 habitantes; coeficiente

de retorno = 0,8 ; consumo de água per capita = 200 L / hab. dia; taxa de contribuição

linear inicial = 4,80 L/s . km ; K2 = 1,5

(Taxa de contribuição de infiltração = 0,17 l/s.km)

14. Considere um trecho de rede coletor onde:

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Vazão Inicial = 0,16 L/s ; Vazão Final = 0,45 L/s ; Escoamento à meia seção: Rh = D /

4 (m); Diâmetro da Tubulação = 100 mm ; Declividade do Terreno = 0,0050 m/m ;

Declividade Mínima do Coletor (Imin) ; Imin = 0,0055 Q -0,47

; Peso Específico da

Água = 1000 kgf / m3 ; Qmin = 1,5 L/s

Verificar as condições de autolimpeza das tubulações através do princípio da tensão

trativa , onde: = . Rh . I (kgf / m2) ; considerar min = 0,1 kgf / m

2.

(Declividade da tubulação = 0,0045 m/m < Declividade do Terreno = 0,0050 m/m;

Logo, Tensão Trativa = 0,125 kgf/m2 ; Ocorre autolimpeza!)

15. Considere um cenário onde a contribuição per capita de esgoto sanitário da

comunidade A é de 250 L/dia e a respectiva DBO é de 300 mg/L. Já a comunidade B

apresenta uma contribuição per capita de 150 L/dia e uma DBO de 250 mg/L. Não

obstante, a indústria A apresenta uma vazão de 200 m3/dia e uma carga de DBO de 300

kg/dia, enquanto a indústria B apresenta uma vazão de 400 m3/dia e uma carga de DBO

de 450 kg/dia. Considerando as populações das comunidades A e B sendo

respectivamente 10.000 e 8.000 habitantes e que os esgotos destas comunidades e das

indústrias unem-se num emissário para serem conduzidos ao tratamento, calcular a

vazão total de esgoto e a DBO da mistura neste emissário.

16. Qual a população equivalente industrial de uma bacia hidrográfica cuja população

residente é de 7500 habitantes e a carga orgânica medida no emissário, pelo qual escoa

os esgotos doméstico e industrial, foi de 510 kg/dia. Considerar a carga orgânica per

capita de 54 g/dia.

17. No Brasil, normalmente dimensiona-se as redes coletoras de esgoto sanitário, seja

qual for o material, considerando-se o coeficiente de Manning na ordem de 0,013. No

entanto, este valor é representativo da rugosidade dos tubos cerâmicos apenas. Se forem

usados tubos de PVC e partindo-se da hipótese que estes apresentam menor rugosidade

quando em operação, quais e como outras variáveis de dimensionamento podem ser

trabalhadas no sentido de obter-se economia no uso da tubulação de PVC em

substituição da tubulação cerâmica?

18. Porque deve ser evitado que grandes aportes de matéria orgânica, contida nos

esgotos sanitários, tenham acesso aos cursos hídricos? Qual o grande problema

ambiental decorrente?

19. Estimar a vazão de esgoto sanitário, para a hora e o dia de maior contribuição, por

meio das estimativas das vazões de infiltração e de esgoto doméstico. Considere que a

população atendida é de 35.000 habitantes, a contribuição máxima per capita é de 300 L

/ hab. dia. A taxa de infiltração é de 1,0 L / s.km e o comprimento dos coletores de 18

km.

(Considerando C = 0,8, K1 = 1,2 e K2 = 1,5, obtém-se o valor de 193,00 L/s para a

vazão solicitada)

20. REMOVIDO!

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21. Uma indústria de laticínios, processando uma média de 113.000 kg de leite por dia,

produz, em média, 246 m3 de despejos industriais por dia, com uma DBO de 1.400 mg /

L. As principais operações são o engarrafamento do leite, o fabrico de sorvete e uma

pequena produção de queijo ricota. Calcular a vazão de esgoto, a DBO por 1000 kg de

leite processado e a população equivalente, onde a contribuição per capita de DBO é de

54 g / pessoa.dia.

22. No fenômeno de Autodepuração em cursos hídricos, alguns mecanismos naturais

importantes estabelecem-se durante o balanço de oxigênio. Cite e descreva

detalhadamente tais mecanismos.

23. Apresente pelo menos 04 soluções para tratar o efluente das fossas sépticas,

comentando quais as condições ambientais a serem consideradas para a utilização de

cada uma destas soluções.

24. Quais as diferenças entre os processos aeróbio e anaeróbio de tratamento de esgoto?

Em quais sistemas de tratamento de esgoto que tais processos podem ser aplicados?

Qual deles pode gerar energia?

25. Considere um trecho de rede coletor onde:

Vazão Inicial = 0,25 L/s ; Vazão Final = 2,00 L/s ;

Escoamento a meia seção: Rh = D / 4 (m); Diâmetro da Tubulação = 100 mm ;

Declividade do Terreno = 0,0030 m/m

Isto posto, verifique as condições de autolimpeza das tubulações por meio do princípio

da tensão trativa.

(Declividade da tubulação = 0,045 m/m > Declividade do Terreno = 0,0030 m/m; Logo,

Tensão Trativa = 0,1125 kgf/m2 ; Ocorre autolimpeza!)

26. Determinar o diâmetro do trecho 1-1 de uma rede coletora, observando os seguintes

dados:

População Inicial : Pi = 2000 hab. ; População Final: Pf = 3500 hab. ; Comprimento

do Trecho: 89 m

Cota de Montante do Terreno = 502,05 m ; Cota de Jusante do Terreno =

498,00 m

Consumo de Água Total Per Capita = 200 L / hab . dia

Consumo de Água Efetivo Per Capita = 160 L / hab . dia

Coeficiente de Retorno = 0,8 ; K1 = 1,2 ; K2 = 1,5

Taxa de Contribuição de Infiltração Inicial : Ti = 0,15 L/s.Km ;

Taxa de Contribuição de Infiltração Final : Tf = 0,10 L/s.Km ;

Extensão Inicial da Rede Coletora : Li = 2877 m ; Extensão Final da Rede

Coletora : Lf = 4050 m

Equações com Resultados Parciais e Final:

a) Taxa de Contribuição Linear Inicial : TLi = ( QDi / Li) + Ti (TLi = 0,0017

L/s/m)

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b) Taxa de Contribuição Linear Final : TLf = ( QDf / Lf) + Tf (Tlf = 0,0024

L/s/m)

c) Declividade I: Itub = 0,0055 Qi -0,47

, onde Qi é em L/s e I é m/m; (Itub = 0,0045

m/m)

d) Diâmetro: D = [ 0,0463 . (Qf / I 0,5

)] 0,375

, sendo Qf em m3/s e D em m.

(D = 0,049 m; D = 50 mm; Pela norma, D = 100 mm neste caso)

27. Qual é a população máxima que pode ser servida por um coletor de esgotos de 200

mm de diâmetro, onde o consumo per capita de água potável é de 200 L / hab. dia e o

coeficiente de retorno é de 0,8. A velocidade do escoamento é de 0,60 m/s e o mesmo

ocorre à seção plena. Considerar ainda K1= 1,2 e K2 = 1,5. (População = 5655

habitantes)

28. A vazão de água pluvial a ser drenada de uma dada área é de 1100 L/s. O diâmetro

da respectiva galeria para drenar esta vazão é de 800 mm, a declividade de 0,015 m/m e

o material em concreto (coeficiente de Manning = 0,016) . Considerando que, conforme

regulamentação local, a lâmina máxima deva ser de 65% do diâmetro ((y/d)máxima =

0,65), questiona-se se esta tubulação tem capacidade para drenar a vazão em questão.

Caso não, considerando o mesmo material e a mesma declividade do tubo, encontre

qual seria o diâmetro mínimo necessário para esta galeria.

(1ª Questão: Qp = 1316 L/s; y/d = 0,65 ; Q/Qp = 0,75641 ; Q = 995,44 L/s < 1100 L/s ,

logo tubulação sem capacidade; 2ª Questão: Q/Qp = 0,75641 ; Qp = 1454,24 L/s ; d =

810 mm )

29. Considere uma cidade com as seguintes características de ocupação de solo:

Sendo A a área de captação, C o coeficiente de runoff e I a intensidade pluviométrica

específica, cujo valor é 0,5 m3/s/ha, estime a vazão de drenagem para esta área. A vazão

estimada supera a vazão limite para que não ocorra enchente, a qual é de 15,00 m³/s?

Caso supere, sem alterar a área de captação, estime o novo valor de C cuja vazão igual a

limite supracitada. E, para obter este novo valor de C, cite duas técnicas que podem ser

aplicadas.

(1ª Questão: C = 0,436 ; Q = 17,44 m3/s ; Q > Q limite ! ; 2ª Questão: C = 0,375 ; 3ª

Questâo:...)

30. Considerar um trecho de uma galeria de drenagem urbana com extensão de 100,00

m, declividade de 0,019 m/m, diâmetro de 300 mm e coeficiente de Manning de 0,016.

Dado que a vazão a ser drenada é de 70,00 l/s, e que o tempo de concentração à

montante deste trecho é de 8,50 min, estime:

a) a velocidade de escoamento da água drenada no trecho;

(Qp = 108,30 L/s ; Q/Qp = 0,6470 ; V/Vp = 1,0663 ; Vp = 1,53 m/s ; V = 1,63 m/s)

Tipo de Superfície A (Km ²) C (%)

Centro Comercial 0,1000 90

Terrenos sem construção 0,0125 15

Habitações urbanas

Habitações suburbanas

0,3375

0,3500

45

30

Atotal: 0,8 Km2

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b) o tempo de concentração à jusante do trecho.

(tempo de escoamento = 1,02 min.; tempo de concentração à jusante = 9,52 min)

31. A vazão de drenagem de projeto estimada em um dado trecho de uma galeria é de

300,00 l/s, o qual tem 500 mm de diâmetro, 0,025 m/m de declividade e 45,00 m de

extensão. O coeficiente de Manning é de 0,016 e a relação y/d (lâmina de escoamento /

diâmetro) máxima prevista é de 0,75, de acordo com a norma municipal. A área a ser

drenada é de 3,5 ha. No entanto, com o passar dos anos, e considerando a precipitação

pluviométrica específica de 180 l/s/ha, a vazão a ser drenada alcançou, na atualidade, a

magnitude de 466,00 l/s em função de alterações na ocupação do solo. Portanto, em

função deste cenário, atenda as seguintes questões:

a) Qual a relação y/d adotada no projeto que limitou a capacidade da tubulação em

300 l/s? Foi obedecido o respectivo valor de 0,75, conforme norma municipal?;

(Qp = 485 l/s ; Q/Qp = 300/485 = 0,6186 ; y/d = 0,57 ; y/d < 0,75 , ok!)

b) Qual o valor de coeficiente de runoff correspondente a capacidade da tubulação

de 300 l/s?

(C = 0,48)

c) Na atualidade qual o valor da relação y/d? Atende o limite de norma?

(1ª Questão: Q/Qp = 0,9608 ; y/d = 0,79 ; 2ª Questão: y/d > 0,75 ; Não ok!)

d) Caso seja alterada a norma municipal e o limite de relação y/d passe para 0,80,

qual o coeficiente máximo de runnof possível para este novo limite?

(y/d = 0,8 ; Q/Qp = 0,9775 ; Q = 474,09 l/s ; C = 0,75)

32. Um trecho de galeria de drenagem urbana tem o comprimento de 92,00 m, a

declividade de 0,025 m/m, o diâmetro de 300 mm e o coeficiente de Manning de 0,013.

A vazão a ser drenada é de 50,00 l/s. Admitindo que a velocidade mínima recomendada

para galerias de drenagem urbana, de maneira a garantir o arraste de sólidos nas

mesmas, seja de 0,75 m/s, pergunta-se se esse critério é atendido.

(Qp = 152,90 l/s ; Q/Qp = 0,3270 ; y/d = 0,40 ; v/vp = 0,9022 ; vp = 2,16 m/s ; v = 1,95

m/s; Atende!)

33. Um trecho de galeria de drenagem tem a extensão de 73,00 m, a declividade de

0,049 m/m, o diâmetro de 300 mm e o coeficiente de Manning de 0,016, esse

correspondente à tubulação de concreto. A estimada de drenagem é de 168,00 l/s. O

previsto por norma municipal é que a relação y/d não ultrapasse a 0,75. Isto posto,

pergunta-se:

a) Este critério técnico do município está sendo atendido?

(Qp = 173,90 l/s ; Q/Qp = 0,7361 ; y/d = 0,80 ; Não atende!)

b) Caso não esteja sendo atendido, uma solução poderia ser a substituição de tal

trecho de galeria por um de igual diâmetro, mas em PVC, cujo coeficiente de

Manning é de 0,011. Pergunta-se, tal substituição seria suficiente para atender o

critério técnico municipal?

(Qp = 253 l/s ; Q/Qp = 0,6640 ; y/d = 0,60; Atende!)

34. Considerando um lote de 800m2

e com 500 m2 de área de captação de águas

pluviais, estimar os volumes de detenção conforme diversos métodos. Após, discutir

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peculiaridades dos métodos que conduzem a resultados diferentes ainda que para a

mesma área.

1º Método: Curitiba (Decreto nº 176 de 2007)

Equacionamento: V = k×I×A onde V: volume do reservatório; K: constante

dimensional (K=0,20); I: intensidade da chuva (I = 0,080 m/h); A: área.

Estimativa: V = 0,2×0,08m/h ×500m2 = V=8,00 m

3 ;

2º Método: Curitiba (Fendrich, R. 2002)

Equacionamento: V=Vr×A onde V: volume do reservatório ; Vr: volume a reservar

(20,5 mm/m2 = 20,5 l/m

2); A: área de captação

Estimativa: V=Vr×A ; V=20,5 l m2×500 m

2 ; V=10.250 L=10,25m

3

3º Método: São Paulo (Lei nº 13.276 de 2002)

Equacionamento: V=0,15×Ai×IP×t onde V: volume do reservatório (m3); Ai: área

impermeabilizada (m2); IP: índice pluviométrico (IP = 0,06 m/h); t: tempo de duração

da chuva (t = 1 hora)

Estimativa: V=0,15×Ai×IP×t ; V=0,15×500 m2×0,06mh×1h; V=4,5m

3

4º Método: Rio de Janeiro (Decreto nº 23.940 de 2004)

Equacionamento: V= k×Ai×h onde V: volume do reservatório (m3); k: coeficiente de

abatimento (K=0,15); Ai: área impermeabilizada (m2); h: altura da chuva

(correspondente a 0,06 m nas Áreas de Planejamento 1, 2 e 4 e a 0,07 m nas Áreas de

Planejamento 3 e 5)

Estimativa: Para as Áreas de Planejamento 1, 2 e 4:V=0,15×500 m2×0,06m ; V=4,5m

3

Para as Áreas de Planejamento 3 e 5:V=0,15×500 m2×0,07m; V=5,25m

3

35. Apontar as diferenças básicas entre o dimensionamento de uma rede coletora de

esgoto e o dimensionamento de uma rede de drenagem de águas pluviais. Pautar as

diferenças por parâmetros como vazão de projeto, diâmetro, declividades, relação y/d e

velocidade de escoamento.

36. A tensão trativa mínima deve ser obedecida para garantir a autolimpeza da

tubulação de esgotamento a fim de evitar obstruções e geração de gases no interior da

mesma. Como ocorre a geração destes gases e por quê?

37. Qual a razão do estabelecimento da vazão mínima de 1,5 l/s para o

dimensionamento das tubulações de esgotamento? Quais as variáveis de

dimensionamento que dependem diretamente desta condição?