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PREVENO CLNICA DE DOENAS CARDIOVASCULARES, CEREBROVASCULARES E RENAIS1
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CADERNOS DEATENO BSICA
MINISTRIO DA SADE
PREVENO CLNICA DE DOENACARDIOVASCULAR,
CEREBROVASCULAR E RENAL
CRNICA
Cadernos de Ateno Bsica - n. 14
Braslia - DF2006
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CADERNOS DEATENO BSICA
MINISTRIO DA SADESecretaria de Ateno Sade
Departamento de Ateno Bsica
PREVENO CLNICA DE DOENACARDIOVASCULAR,
CEREBROVASCULAR E RENAL
CRNICA
Cadernos de Ateno Bsica - n. 14Srie A. Normas e Manuais Tcnicos
Braslia - DF2006
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Ficha Catalogrfica_________________________________________________________________________________________________________________________________
Brasil. Ministrio da Sade. Secretaria de Ateno Sade. Departamento de Ateno Bsica.
Preveno clnica de doenas cardiovasculares, cerebrovasculares e renais / Ministrio da Sade, Secretaria de Ateno Sade,Departamento de Ateno Bsica. - Braslia : Ministrio da Sade, 2006.56 p. - (Cadernos de Ateno Bsica; 14) (Srie A. Normas e Manuais Tcnicos)
ISBN 85-334-1197-9
1. Doenas cardiovasculares. 2. Transtornos cerebrovasculares. 3. Sade pblica. 4. SUS (BR) I. Ttulo. II. Srie.
NLM QZ 17__________________________________________________________________________________________________________________________________Catalogao na fonte - Coordenao-Geral de Documentao e Informao - Editora MS - OS 2006/0637
Ttulos para indexao:Em ingls: Clinical Prevention of Cardiovascular, Cerebrovascular and Renal DiseasesEm espanhol: Prevencin Clnica de Enfermedades Cardiovasculares, Cerebrovasculares y Renales
2006 Ministrio da SadeTodos os direitos reservados. permitida a reproduo parcial ou totaldesta obra, desde que citada a fonte e que no seja para venda ouqualquer fim comercial.A responsabilidade pelos direitos autorais de textos e imagens desta obra de responsabilidade da rea tcnica.A coleo institucional do Ministrio da Sade pode ser acessada nantegra na Biblioteca Virtual em Sade do Ministrio da Sade: http://www.saude.gov.br/bvs
Cadernos de Ateno Bsica n. 14Srie A. Normas e Manuais Tcnicos
Tiragem: 1. edio - 2006 - 15.000 exemplares
Elaborao, distribuio e informaes:MINISTRIO DA SADESecretaria de Ateno SadeDepartamento de Ateno BsicaEsplanada dos Ministrios, bloco G, 6. andar, sala 63470058-900, Braslia - DFTels.: (61) 3315-3302 / 3225-6388Fax.: (61) 3225-6388Homepage: www.saude.gov.br/dab
Superviso geral:Luis Fernando Rolim Sampaio
Coordenao tcnica:Antonio Dercy Silveira Filho
Equipe de formulao/MS:Antnio Luiz Pinho RibeiroCarisi Anne PolanczykCarlos Armando Lopes do NascimentoJos Luiz Dos Santos NogueiraRosa Sampaio Vila Nova de Carvalho
Equipe tcnica:Adelaide Borges Costa de Oliveira - DAB/MSAna Cristina Santana de Arajo - DAB/MSAntnio Luiz Pinho Ribeiro - DAE/MSCarisi Anne Polanczyk - DAE/MSCarlos Armando Lopes do Nascimento - DAE/MSJos Luiz Dos Santos Nogueira - DAE/MSMaria das Mercs Aquino Arajo - DAB/MSMicheline Marie Milward de Azevedo Meiners - DAB/MS
Snia Maria Dantas de Souza - DAB/MSReviso tcnica:Bruce Bartholow Duncan - UFRGSCarisi Anne Polanczyk - DAE/MSErno Harzheim - UFRGSFlvio Danni Fuchs - UFRGSMaria Ins Schmidt - UFRGS
Equipe de apoio administrativo:Alexandre Hauser Gonalves - DAB/MSIsabel Constana P. M. de Andrade - DAB/MSMarcio Carapeba Jnior - DAB/MS
Colaboradores:Alexandre Jos Mont'Alverne Silva - CONASEMSAmncio Paulino de Carvalho - DAE/MSAna Mrcia Messeder S. Fernandes - DAF/MSAntnio Luiz Brasileiro - INCL/MSAugusto Pimazoni Netto - Consultor Mdico/ SPCarmem de Simone - DAB/MSDbora Malta - CGDANT/MSDenizar Vianna Arajo - INCL/MSDillian Adelaine da Silva Goulart - DAB/MS
Dirceu Brs Aparecido Barbano - DAF/MSEdson Aguilar Perez - SMS/So Bernardo do Campo - SPLenildo de Moura - CGDANT/MSMrio Maia Bracco - CELAFISCNewton Srgio Lopes Lemos - DAB/MSRegina Maria Aquino Xavier - INCL/MSRenata F. Cachapuz - ANS/MSRubens Wagner Bressanim - DAB/MSVictor Matsudo - CELAFISCS
Sociedades cientficas:Jos Pricles Steves - SBCAugusto D Marco Martins - SBC/DFlvaro Avezum - FUNCOR/SBCHlio Pena Guimares - FUNCOR/SBCMarcos Antnio Tambasci - SBDAdriana Costa Forti - SBD
Robson Augusto Souza dos Santos - SBHPedro Alejandro Gordan - SBNPatrcia Ferreira Abreu - SBNJos Nery Praxedes - SBNMariza Helena Csar Coral - SBEMSrgio Alberto Cunha Vncio - SBEMMaria Ins Padula Anderson - SBMFCHamilton Lima Wagner - SBMFCFadlo Fraige Filho - FENAD
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II. Introduo
III. Risco Global - Conceito
IV. Risco Cardiovascular - ClassificaoEstratificao de riscoFluxograma de classificao de risco vascularAvaliao clnico-laboratorialEscore de risco globalEscore Framingham Revisado para HomensEscore Framingham Revisado para Mulheres
V. Risco de Doena Renal Crnica - Conceito e Classificao
VI. Intervenes preventivas1. Preveno no-farmacolgica1.1 Alimentao saudvel1.2 Controle de peso1.3 lcool1.4 Atividade Fsica1.5 Tabagismo2. Preveno farmacolgica2.1 Anti-hipertensivos2.2 Aspirina2.3 Hipolipemiantes
2.4 Frmacos hipoglicemiantes2.5 Vacinao contra-influenza2.6 Terapia de Reposio hormonal3. Abordagem integrada das intervenes
VII. Intervenes preventivas renais
VIII. Atribuies e competncias da equipe de sade
IX. Critrios de encaminhamentos para referncia e contra-referncia
X. Bibliografia
10
14
16161818202122
23
2626262930313336363738
40404040
44
47
51
53
SUMRIO
I. Apresentao 08
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8CADERNOS DE ATENO BSICA
I. APRESENTAO
Ao longo dos dois ltimos
sculos, a revoluo tecno-
lgica e industrial, com con-
seqncias econmicas e sociais, re-
sultaram em uma mudana drstica
do perfil de morbimortalidade da
populao com grande predomniodas doenas e mortes devidas s do-
enas crnicas no transmissveis
(DCNT), dentre elas o cncer e as do-
enas cardiovasculares.A carga eco-
nmica das DCNT produz elevados
custos para os sistemas de sade e da
previdncia social devido mortali-
dade e invalidez precoces, e, sobre-
tudo para a sociedade, famlias e aspessoas portadoras dessas doenas.
A doena cardiovascular representa
hoje no Brasil a maior causa de mor-
tes; o nmero estimado de portado-
res de Diabetes e de Hipertenso
de 23.000.000; cerca de 1.700.000
pessoas tm doena renal crnica
(DRC), sendo o diabetes e a hiperten-
so arterial responsveis por 62,1%
do diagnstico primrio dos subme-
tidos dilise.
Essas taxas tendem a crescer nos pr-
ximos anos, no s pelo crescimento
e envelhecimento da populao,
mas, sobretudo, pela persistncia de
hbitos inadequados de alimentao
e atividade fsica, alm do tabagismo.
O Ministrio da Sade vm adotan-
do vrias estratgias e aes para re-
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duzir o nus das doenas cardiovas-
culares na populao brasileira como
as medidas anti-tabgicas, as polti-
cas de alimentao e nutrio e de
promoo da sade com nfase na
escola e, ainda, as aes de ateno
hipertenso e ao diabetes com ga-
rantia de medicamentos bsicos na
rede pblica e, aliado a isso, a
capacitao de profissionais. A cam-
panha do Pratique Sade um bom
exemplo como estratgia de massapara a disseminao da informao
e sensibilizao da populao para
a adoo de hbitos saudveis de vida.
importante registrar que a adoo
da estratgia Sade da Famlia como
poltica prioritria de ateno bsica,
por sua conformao e processo detrabalho, compreende as condies
mais favorveis de acesso s medidas
multissetoriais e integrais que a abor-
dagem das doenas crnicas no
transmissveis (DCNT) exige.
Esse protocolo uma proposio do
Departamento de Ateno Bsica/Departamento de Ateno Especi-
alizada da Secretaria de Ateno
Sade, sendo a primeira iniciativa bra-
sileira de ao estruturada e de base
populacional para a preveno pri-
mria e secundria das doenas
cardiovasculares (DCV) e renal crni-
ca em larga escala. Foi rigorosamen-
te baseado nas evidncias cientficas
atuais e teve a contribuio efetiva de
profissionais de reconhecido saber e
das sociedades cientificas da rea.
Deve ser implementado na rede p-
blica de sade, sobretudo, nas cerca
de 25 mil Equipes Sade da Famlia
hoje existentes no Brasil. Isso exige umesforo conjunto dos gestores pbli-
cos federal, estaduais e municipais,
sociedades cientficas, instituies de
ensino, profissionais de sade e soci-
edade em geral para o completo xi-
to na preveno e controle das do-
enas cardiovasculares e renais do
nosso pas.
Jos Gomes Temporo
Secretrio de Ateno Sade
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10CADERNOS DE ATENO BSICA
II. INTRODUO
As doenas circulatrias so
responsveis por impacto
expressivo na mortalidade
da populao brasileira, correspon-
dendo a 32% dos bitos em 2002, o
equivalente a 267.496 mortes. As
doenas do aparelho circulatrio
compreendem um espectro amplo
de sndromes clnicas, mas tm nas
doenas relacionadas aterosclerose
a sua principal contribuio,
manifesta por doena arterial
coronariana, doena cerebro-
vascular e de vasos perifricos,
incluindo patologias da aorta, dos
rins e de membros, com expressiva
morbidade e impacto na qualidade
de vida e produtividade da
populao adulta. Em adio s
doenas com comprometimento
vascular, as doenas renais crnicas
tm tambm um nus importante na
sade da populao, sendo estimado
que 1.628.025 indivduos sejam
portadores de doena renal crnica
(DRC) no Brasil, e 65.121 esto em
dilise.
So inmeros os fatos que podem
estar relacionados com a importncia
cada vez maior destas doenas. Parte
pode ser devida ao envelhecimento
da populao, sobrevida das
doenas infecciosas, incorporao de
novas tecnologias com diagnstico
mais precoce das doenas e reduo
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de letalidade, mas uma parcela
importante pode ser atribuda ao
controle inadequado, e por vezes em
ascenso, dos fatores associados ao
desenvolvimento destas doenas.
Os principais fatores de risco esto
descritos no Quadro 1. A presena de
9 destes fatores explica quase 90%
do risco atribuvel de doena na
populao ao redor do mundo. Vale
ressaltar que muitos desses fatores de
risco so responsveis tambm pelas
doenas renais, sendo que a
hipertenso arterial sistmica (HAS)
e o diabete melito (DM) respondem
por 50% dos casos de DRC terminal.
Dos fatores potencialmente
controlveis, HAS e DM, so crticosdo ponto de vista de sade pblica.
No Brasil, dados do Plano de
Reorganizao da Ateno
Hipertenso Arterial e ao Diabete
Melitus de 2001 apontaram para
uma prevalncia destes fatores na
populao brasileira acima de 40
anos de idade de 36% e 10%,respectivamente. Estima-se que mais
de 15 milhes de brasileiros tm HAS,
sendo aproximadamente 12.410.753
usurios do SUS. Mais de um 1/3
Quadro 1. Fatores de risco para doena cardio-
vascular.
Histria familiar de DAC prematura (familiar
1. grau sexo masculino 55 anos
Tabagismo
Hipercolesterolemia (LDL-c elevado)
Hipertenso arterial sistmica
Diabete melito
Obesidade ( IMC > 30 kg/m)
Gordura abdominal
Sedentarismo
Dieta pobre em frutas e vegetais
Estresse psico-social
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12CADERNOS DE ATENO BSICA
desconhecem a doena e menos de
1/3 dos hipertensos com diagnstico
apresentam nveis adequados de
presso arterial com tratamento
proposto. Em relao ao diabete
melito, dos 3.643.855 estimados
como usurios do SUS, quase metade
desconhecia este diagnstico e
apenas 2/3 destes indivduos esto
em acompanhamento nas unidades
de ateno bsica.
H consenso sobre a importncia da
adoo de estratgias de ateno
integral, cada vez mais precoces ao
longo do ciclo de vida, focadas na
preveno do aparecimento de HAS
e DM e suas complicaes. Esto bem
estabelecidas as aes de sade que
devem ser implementadas para um
efetivo controle desses fatores de
risco visando preveno da doena
e de seus agravos. O principal desafio
traduzir em aes concretas de
cuidado integral a indivduos e
comunidades o conhecimento
cientfico e os avanos tecnolgicos
hoje disponveis e coloc-los no
mbito populacional ao alcance de
um maior nmero possvel de
indivduos.
Com um espectro amplo de terapias
preventivas de benefcio comprova-
do hoje existentes e com uma
capacidade crescente de se
identificar as pessoas com maior risco
de doenas, a escolha deve obedecer
a critrios racionais de eficcia e
eficincia, no sendo possvel e nem
conveniente prescrever "tudo para
todos", levando-se em conta o risco
de efeitos indesejveis e a
necessidade de otimizar os recursos
para cuidados de sade.
Para maximizar benefcios e
minimizar riscos e custos, preciso
organizar estratgias especficas para
diferentes perfis de risco, levando em
conta a complexidade e a
disponibilidade das intervenes.
Felizmente, h muito que pode serfeito na preveno cardiovascular de
menor custo e maior eficincia. A
diversidade de opes preventivas
reitera a necessidade de uma escolha
racional, levando em conta o risco
absoluto global, as preferncias e os
recursos do paciente. A velocidade
de mudanas nessa rea requerateno continuada para as
novidades, tanto nos esquemas de
classificao de risco quanto nas
intervenes.
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Este Manual tem como objetivo
nortear planos de ao de cuidado
integral, com foco na preveno
destas doenas, sistematizando as
condutas atuais recomendadas com
base em evidncias cientficas para a
identificao e manejo de indivduos
sem doena manifesta e em risco de
desenvolverem doenas cardacas
aterosclerticas, cerebrovas culares e
renais, aqui denominadas conjunta-
mente de doenas cardiovasculares,se no especificadas. parte da
Poltica Nacional de Ateno Integral
a HAS e DM, seus fatores de risco e
suas complicaes e dirigido aos
profissionais da rede pblica do
Sistema nico de Sade, visando
reduzir o impacto destes agravos na
populao brasileira. A identificao,manejo e respectivas condutas
preventivas em indivduos com
doena manifesta so importantes,
mas sero abordados nos Manuais
especficos de cada doena.
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14CADERNOS DE ATENO BSICA
III. RISCO GLOBAL - Conceito
Mais importante do que
diagnosticar no
indivduo uma patologia
isoladamente, seja diabetes,
hipertenso ou a presena de
dislipidemia, avali-lo em termos deseu risco cardiovascular,
cerebrovascular e renal global.
A preveno baseada no conceito de
risco cardiovascular global significa
que os esforos para a preveno de
novos eventos cardiovasculares sero
orientados, no de maneiraindependente pelos riscos da
elevao de fatores isolados como a
presso arterial ou o colesterol, mas
pelo resultado da soma dos riscos
imposta pela presena de mltiplos
fatores, estimado pelo risco absoluto
global de cada indivduo.
Sob o enfoque preventivo, quanto
maior o risco, maior o potencial
benefcio de uma interveno
teraputica ou preventiva. O
benefcio de uma terapia na
preveno de desfechos no
desejveis pode ser expresso em
termos relativos (p. ex., pela reduo
relativa de risco com o uso de
determinado frmaco), ou emtermos absolutos que levam em
conta o risco individual ou a
probabilidade de um indivduo de
ter eventos em um perodo de tempo
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PREVENO CLNICA DE DOENAS CARDIOVASCULARES, CEREBROVASCULARES E RENAIS15
(p. ex., 2% de mortalidade em 3
anos). Embora tradicionalmente
terapias com redues relativas de
morbimortalidade sejam atrativas, o
uso racional de intervenes,
levando em considerao equidade
no sistema de sade, deve incorporar
estimativa absoluta de risco.
Por meio desta estimativa possvel
otimizar o uso de intervenes
implemantadas de acordo com o
risco cardiovascular global de cada
indivduo, uma vez que o grau de
benefcio preventivo obtido
depende da magnitude desse risco.
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histria clnica (principalmente, em
relao a manifestaes vasculares,
sintomas de diabetes), presso
arterial, circunferncia abdominal,
peso e altura (ndice de massa
corporal), e um exame clnico
focalizado em manifestaes de
aterosclerose.
Indivduos mais jovens (homens com
menos de 45 anos e mulheres com
menos de 55 anos), sem manifestao
de doena ou sintomas e sem
nenhum dos fatores intermedirios
descritos no Quadro 2 so
caracterizados como sendo de BAIXO
RISCO (Figura 1). Estes indivduos no
se beneficiam de exames
complementares, entrentanto,
devem ser encorajados a manteremum perfil de vida saudvel.
Homens com idade superior a 45
anos e mulheres com mais de 55 anos
requerem exames laboratoriais para
estimar mais precisamente o risco
cardiovascular. Indivduos mais
jovens que j apresentam um oumais fatores de risco devem passar
para a avaliao clnico-laboratorial
subseqente. Pacientes identificados
nessa avaliao clnica como de alto
Quadro 2. Avaliao clnica: Achados no
exame clnico indicativos de alto risco ou da
necessidade de exames laboratoriais.
Indicadores de alto risco
Infarto do miocrdio prvio
Acidente vascular cerebral ou ataque
isqumico transitrio prvio
Doena aneurismtica de aorta
Doena vascular perifrica
Insuficincia cardaca congestiva de etiologia
isqumica
Angina de peito
Doena renal crnica
Indicadores intermedirios de risco
Idade > 45 anos homens, > 55 anos mulheres
Manifestaes de aterosclerose:
Sopros arteriais carotdeos
Diminuio ou ausncia de pulsos
perifricos
Histria familiar de infarto agudo do
miocrdio, morte sbita ou acidente vascular
cerebral em familiares de 1o. grau ocorrido
antes dos 50 anosDiagnstico prvio de diabete melito,
tolerncia glicose diminuda, glicemia de
jejum alterada, diabete gestacional.
Diagnstico prvio de dislipidemia
Diagnstico prvio de sndrome do ovrio
policstico
Tabagismo
Obesidade (IMC >30 kg/m2) ou obesidade
central (cintura medida na crista ilaca: > 88cm em mulheres; > 102 cm em homens)
Hipertenso (>140/90 mmHg) ou histria de
pr-eclampsia
Historia de doena renal na famlia (para risco
de insuficincia renal)
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Figura 1. Fluxograma de classificao de risco
cardiovascular.risco tambm devem ser avaliados do
ponto de vista laboratorial para
orientao teraputica, embora j
sejam candidatos a intervenes de
alta intensidade ou mais agressivas,
conforme descrito adiante.
Avaliao Clnico-Laboratorial
O risco cardiovascular de pacientes
com os fatores clnicos no grupo
intermedirio bastante hete-
rogneo. Para estimar maisprecisamente esse risco pode-se usar
escores de predio. Infelizmente, at
o momento nenhum dos instrumentos
disponveis para a estratificao de
risco foi desenvolvido ou adaptado
para o contexto brasileiro. Embora
no exista consenso no escore a ser
utilizado para estimativa de riscoglobal, recomenda-se aplicar o modelo
de Framingham, utilizado no Manual
de Capacitao dos Profissionais de
Sade da Rede Bsica, revisto em 2005.
A partir deste instrumento, os
indivduos so classificados em risco
de desenvolver um eventocardiovascular maior (ECV), definido
por infarto do miocrdio ou morte
por causa cardiovascular, conforme
Quadro 3.
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1Frmula de Friedwald para estimativa de LDL-colesterol [vlida para nveis de triglicerdeos < 400 mg/dL]
LDL = colesterol total - (HDL + triglicerdeos/5).
Quadro 3. Classificao de risco global, segundo
Escore de Framingham.
Categoria Evento cardiovascular maior (ECV)
Baixo 20%/ 10 anos
Essa determinao de risco exige a
obteno de pelo menos 2 exames
complementares: glicemia de jejum e
colesterol total. A determinao do
perfil lipdico completo, com dosagem
de triglicerdeos, HDL-C e estimativa de
LDL-C1 torna a predio um pouco
mais precisa para a maioria dos
pacientes. Havendo disponibilidade
desses exames, em pacientes com
fatores que sugerem risco mais
elevado recomendado o perfilcompleto, embora o risco possa ser
estimado de modo adequado sem
estes dados.
Para pacientes com HAS ou DM,
solicita-se ainda creatinina, exame de
urina tipo I e eletrocardiograma (ver
Manual de Hipertenso Arterial e
Diabete Melito para SUS). Naqueles
com diabete ainda deve ser
solicitado teste Hemoglobina glicada
(A1c) e microalbuminria, se
ausncia de proteinria no exame de
urina. A presena de qualquer uma
das condies abaixo tambm indica
alto risco:
nefropatia (proteinria >300mg/
dia ou 200mg protena/g Cr urinria
ou Cr>1,5 mg/dl para homens e 1,3
mg/dl para mulheres OU albuminria
> 30mg/24 horas ou 30mg/gr Cr
urinria)
hipertrofia de ventrculo esquerdo
ao eletrocardiograma ou
ecocardiograma
Em pacientes com glicemia de jejum
> 100 mg/dL e < 126 mg/dL, com risco
calculado pelo escore de
Framingham moderado (entre 10 e20% em 10 anos), recomenda-se
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20CADERNOS DE ATENO BSICA
rastreamento de diabete por teste
de tolerncia glicose (TTG 75 gr).
Nestes casos, a identificao de DM
muda a classificao para grupo de
alto risco. importante ressaltar que
embora a maioria dos pacientes com
diabete se enquadre na categoria de
alto risco, nem todos so assim
classificados. A avaliao e manejo
destes casos est detalhada nos
Manuais especficos.
Escores de Risco Global
As principais variveis relacionadas
com risco so: presso arterial sistlica,
tabagismo, colesterol total, HDL-C,
LDL-C, intolerncia a glicose, ndice
de massa corporal e idade. Na sua
maioria ou em combinao elas so
incorporadas em escores preditivos
globais, como o Escore de Risco de
Framingham.
O clculo do Escore de Framingham
est descrito nas Figuras 2 e 3 para
homens e mulheres, respectiva-
mente. Inicialmente so coletadas
informaes sobre idade, LDL-C, HDL-
C, presso arterial, diabete e
tabagismo [ETAPA 1]. A partir da
soma dos pontos de cada fator
[ETAPA 2] estimado o risco
cardiovascular em 10 anos [ETAPA 3].
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Figura 2. Escore de Framingham Revisado para Homens
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Figura 3. Escore de Framingham Revisado para Mulheres
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PREVENO CLNICA DE DOENAS CARDIOVASCULARES, CEREBROVASCULARES E RENAIS23
V. RISCO DE DOENA RENALCRNICA - DRC
Adoena renal crnica
consiste em leso, perda
progressiva e irreversvel
da funo dos rins. Os principais
grupos de risco para o
desenvolvimento desta patologia
so diabete mellitus, hipertenso
arterial e histria familiar . Alm
destes, outros fatores esto
relacionados perda de funo
renal, como glomerulopatias, doena
renal policstica, doenas auto-
imunes, infeces sistmicas,
infeces urinrias de repetio,
litase urinria, uropatias obstrutivase neoplasias.
Vale a pena ressaltar que indepen-
dente do diagnstico etiolgico da
DRC, a presena de dislipidemia,
obesidade e tabagismo acelera a
progresso da doena.
O diagnstico da DRC baseia-se na
identificao de grupos de risco,presena de alteraes de sedimento
urinrio (microalbuminria, pro-
teinria, hematria e leucocitria) e
na reduo da filtrao glomerular
avaliado pelo clearance de creatina.
Todo paciente pertencente ao
chamado grupo de risco, mesmo queassintomtico deve ser avaliado
anualmente com exame de urina
(fita reagente ou urina tipo 1),
creatinina srica e depurao
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24CADERNOS DE ATENO BSICA
Quadro 4. Classificao estgio da DRC
Estgio Funo renal Clcr
(ml/min/1,73m)
0 Grupo de risco:
sem leso renal
funo normal. > 90
1 Leso renal (mi-
croalbuminria,pro-
teinria), funo
preservada, com
fatores de risco > 90
2 Leso renal com
insuficincia renal
leve 60-89
3 Leso renal com
insuficincia renal
moderada 30-59
4 Leso renal com
insuficincia renal
severa 15-29
5 Leso renal com
insuficincia renal
terminal ou
dialtica < 15
estimada de creatinina e microalbu-
minria. A microalbuminria
especialmente til em pacientes com
diabetes, hipertenso e com histria
familiar de DRC sem proteinria
detectada no exame de urina.
O uso isolado da creatinina para
avaliao da funo renal no deve
ser utilizado, pois somente alcanar
valores acima do normal aps perda
de 50-60% da funo renal.
Existem diferentes frmulas que
podem ser empregadas para estimar
o clearance da creatinina (Clcr) a
partir da creatinina srica. A equao
mais simplificada e conhecida a
Equao de Cockcroft-Gault:
De acordo com o clearance de
creatinina, os indivduos podem ser
classificados em 6 estgios, que
orientaro medidas preventivas e
encaminhamento para especialista
(Quadro 4).
Ccr ml/in = (140-idade) * peso * (0,85, se mulher)
72 * Cr srica (mg/dl)
8/14/2019 Caderno de Ateno Bsica - Corao Cerebro Rim
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PREVENO CLNICA DE DOENAS CARDIOVASCULARES, CEREBROVASCULARES E RENAIS25
Avaliao da progresso da doena
renal
A filtrao glomerular, estimada pela
depurao de creatinina, deve ser
realizada pelo menos uma vez ao
ano nos pacientes de risco no estgio
0 e 1 e semestralmente no estgio 2
da DRC.
A avaliao trimestral recomen-
dada para todos os pacientes no
estgio 3, para aqueles com declnio
rpido da filtrao glomerular (acima
de 4ml/min/1,73m/ano), nos casos
onde houve intervenes para
reduzir a progresso ou exposio a
fatores de risco para perda da
funo aguda e quando se detecta
fatores de risco para progresso maisrpida. As aes recomendadas para
reduo de risco esto descritas
adiante.
Os pacientes nos estgios 4 e 5
apresentam um risco maior de
deteriorao da funo renal e
devem OBRIGATORIAMENTE serencaminhados ao nefrologista.
8/14/2019 Caderno de Ateno Bsica - Corao Cerebro Rim
24/56
26CADERNOS DE ATENO BSICA
VI. INTERVENESPREVENTIVAS
Aproposta de Estratgia
Global para a Promoo da
Alimentao Saudvel,
Atividade Fsica e Sade da
Organizao Mundial da Sade
sugere a formulao e implemen-
tao de linhas de ao efetivas para
reduzir substancialmente as doenas
em todo o mundo por meio de
medidas preventivas. Existem
inmeras intervenes protetoras
vasculares e renais de benefcio
comprovado. Entre elas destacam-se
adoo de hbitos alimentares
adequados e saudveis, cessao do
tabagismo, prtica de atividade fsica
regular, controle da presso arterial,
manejo das dislipidemias, manejo do
diabete com controle da glicemia e
uso profiltico de alguns frmacos.
1. PREVENO NO-FARMACOLGICA
1.1 Alimentao Saudvel
Um dos pilares da preveno
cardiovascular so hbitos de vida
saudveis, incluindo alimentao
saudvel, cujas diretrizes so
estabelecidas pela Poltica Nacional
e Alimentao e Nutrio (PNAN) e
pelo Guia Alimentar para a
Populao Brasileira e corroboram as
8/14/2019 Caderno de Ateno Bsica - Corao Cerebro Rim
25/56
PREVENO CLNICA DE DOENAS CARDIOVASCULARES, CEREBROVASCULARES E RENAIS27
recomendaes da Organizao
Mundial da Sade, no mbito da
Estratgia Global de Promoo da
Alimentao Saudvel, Atividade
Fsica e Sade. Basicamente, definem
que a energia total deve ser
distribuda nos macronutrientes de
gorduras, carboidratos e protenas,
sendo o consumo de colesterol total
inferior a 300mg/dia e de sdio < 2,0
gr de 2 a 4 gr(equivalente a 5 gramas
de cloreto de sdio).
Carboidratos totais: 55% a 75%
do valor energtico total (VET).
Desse total, 45% a 65% devem ser
provenientes de carboidratos
complexos e fibras e menos de
10% de acares livres (ousimples) como acar de mesa,
refrigerantes e sucos artificiais,
doces e guloseimas em geral.
Gorduras: 15% a 30% do VET da
alimentao. As gorduras (ou
lipdios) incluem uma mistura desubstncias com alta
concentrao de energia (leos e
gorduras), que compem
alimentos de origem vegetal e
animal. So componentes
importantes da alimentao
humana, contudo o consumo
excessivo de gorduras saturadas
est relacionado a vrias doenas
crnicas no-transmissveis
(doenas cardiovasculares,
diabetes, obesidade, acidentes
cerebrovasculares e cncer). A
gordura saturada no deve
ultrapassar 10% do VET e as
gorduras trans no devem passarde 2g/dia (1% do VET).
Protenas: 10% a 15% do VET. So
componentes dos alimentos de
origem vegetal e animal que
fornecem os aminocidos,
substncias importantes eenvolvidas em praticamente
todas as funes bioqumicas e
fisiolgicas do organismo
humano. As fontes alimentares
mais importantes so as carnes em
geral, os ovos e as leguminosas
(feijes).
Recomendaes prticas para a
populao encontram-se descritas
no Quadro 5. Alm destas, algumas
estratgias dietticas especifica-
8/14/2019 Caderno de Ateno Bsica - Corao Cerebro Rim
26/56
28CADERNOS DE ATENO BSICA
mente orientadas para a preveno
das doenas cardiovasculares so
apresentadas a seguir.
Quadro 5. Orientaes de Dieta
Saudvel
SAL
Restringir a menos 5 gramas de
cloreto de sdio (1 colher de ch) por
dia
Reduzir sal e temperos prontos na
cozinha, evitar comidas industriali-
zadas e lanches rpidos.
AUCAR
Limitar a ingesto de acar livre,acar de mesa, refrigerantes e sucos
artificiais, doces e guloseimas em
geral.
FRUTAS, LEGUMES e VERDURAS
5 pores (400-500gr) de frutas,
legumes e verduras por dia
1 poro = 1 laranja, ma, banana
ou 3 colheres de vegetais cozidos
CEREAIS
Aumentar consumo de cereais
integrais e leguminosas (feijes,
ervilha, lentilha, gro de bico)
GORDURA
Reduzir o consumo de carnes
gordurosas, embutidos, leite e
derivados integrais. Preferir leos
vegetais como soja, canola, oliva (01
colher (sopa/dia)
Retirar a gordura aparente de
carnes, pele de frango e couro de
peixe antes do preparo.
PEIXE
Incentivar o consumo de peixes;
comer pelo menos 03 vezes por
semana.
LCOOL
Evitar ingesta excessiva de lcool
Homens: No mais que 2 doses por dia
Mulheres: No mais que 1 dose por
dia
8/14/2019 Caderno de Ateno Bsica - Corao Cerebro Rim
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PREVENO CLNICA DE DOENAS CARDIOVASCULARES, CEREBROVASCULARES E RENAIS29
- 1.1.1 Dietas Cardioprotetoras
Alm dessas diretrizes gerais,
algumas intervenes nutricionais
mostraram-se efetivas na reduo deeventos cardiovasculares em
indivduos de alto risco. Dietas
protetoras so baseadas em
alimentos de origem vegetal em
abundncia (frutas, legumes e
verduras, cereais integrais, gros e
leguminosas, nozes e semelhantes),
azeite de oliva e leos vegetais(milho, soja, canola) como a principal
fonte de gordura (com substituio
de manteiga e cremes), carne
vermelha em pouca quantidade e
bebidas alcolicas em quantidades
no mais do que moderadas, de
preferncia com as refeies.
Salienta-se que as dietas so ricas emfibras alimentares e pobres em
alimentos com carboidratos simples
refinados e em alimentos
industrializados. Alm disso, um
elemento importante nessas dietas
o teor mais elevado de cidos graxos
omega 3, ingesto aumentada deste
esta relacionada a reduo de riscocardiovascular. leos vegetais, como
os de canola e de soja, leo de peixes,
especialmente de guas frias e
gordurosos, representam fontes
alimentares ricas nesses nutrientes.
1.1.2. Dietas Hipocolesterolmicas
e Anti-Hipertensivas
Uma dieta rica em fitoesteris
(substncias vegetais presentes nos
gros comestveis como sementes,
soja, cereais, especialmente milho,
legumes, frutos secos), protena de
soja, fibras solveis e amndoas
capaz de reduzir nveis de colesteroltotal e sua frao LDL-C em
magnitude similar quela obtida
com estatinas. A dieta ideal para
paciente com hipertenso --
caracterizada por ser pobre em sal,
rica em potssio e com grande
quantidade de frutas, legumes,
verduras e produtos lcteos, reduziu
os nveis pressricos e as taxas de
hipertenso em magnitude
comparvel quela obtida com o
emprego de alguns frmacos anti-
hipertensivos. Para maiores detalhes,
ver o Manual de Hipertenso
Arterial Sistmica.
1.2. Controle do peso
Existe uma clara associao entre
peso e risco cardiovascular. Em
8/14/2019 Caderno de Ateno Bsica - Corao Cerebro Rim
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30CADERNOS DE ATENO BSICA
indivduos acima do peso ideal, a
reduo de peso reduz o risco
cardiovascular e a incidncia de
diabete melito. Alm disso, o
tratamento da obesidade a curto e
mdio prazo reduz os nveis de
glicemia, presso arterial e melhora
o perfil lipdico. O diagnstico de
obesidade feito a partir do ndice
de massa corporal (IMC = peso/
altura), sendo o ponto de corte > 30
kg/m. Indivduos com IMC entre 25
e 29,9 kg/m so considerados pr-
obesos e se associados com
obesidade central (cintura >88
mulheres e >102 para homens) ou
outros fatores de risco, devem ter
interveno e serem acompanhados.
O tratamento inicial do indivduo
obeso ou pr-obeso, mas com outrosfatores de risco visa promover perdas
de 5 a 10% do peso inicial em at seis
meses de tratamento, com
manuteno do novo peso em longo
prazo. Espera-se uma perda mdia
de peso de 0,5 a 1kg/semana. O
tratamento inicial pode ser feito com
orientao de uma dieta com dficitde 500 a 1000 kcal/dia (valor
energtico total 1000 a 1800 kcal/
dia), associado com atividade fsica
regular. O aumento da atividade
fsica deve ser gradual, 10 min/3x/
semana at 30-60 minutos
diariamente. Orientaes especficas
sobre reduo de peso encontram-
se no Manual de Obesidade doMinistrio da Sade.
importante salientar que alm da
dieta e da atividade fsica, o manejo
da obesidade envolve abordagem
comportamental, que deve focar a
motivao, condies para seguir o
tratamento, apoio familiar,
tentativas e insucessos prvios,
tempo disponvel e obstculos para
as mudanas no estilo de vida.
Para indivduos que atingiram o peso
ideal ou esto neste nvel
importante enfatizar a necessidade
de manuteno deste alvo, por meio
da ingesta energtica adequada eatividade fsica regular. O paciente
obeso que perdeu peso deve ser
alertado de que, para manter o seu
novo peso necessrio comer menos
e/ou exercitar-se mais do que fazia
antes do emagrecimento, para
manter o novo peso alcanado.
1.3. lcool
A ingesto leve a moderada de
bebidas alcolicas, equivalente a
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PREVENO CLNICA DE DOENAS CARDIOVASCULARES, CEREBROVASCULARES E RENAIS31
duas doses para homens e uma dose
para mulheres (dose = 1/2 uma
cerveja, ou 1 clice de vinho ou 1/2
drinque de destilado por dia) pode
estar associada com menor
incidncia de doena cardiovascular.
Vale lembrar, entretanto, que a
ingesto excessiva de lcool um
importante fator de risco para morbi-
mortalidade em todo o mundo, alm
de ser fator de risco para acidente
vascular cerebral, fibrilao atrial einsuficincia cardaca, de forma que
o consumo de lcool no deve ser
estimulado de forma generalizada.
Para pacientes que optem por
manter ingesto regular de lcool, os
profissionais de sade devem
recomendar a restrio para
quantidades menos deletrias(Quadro 5).
1.4. Atividade Fsica
A prtica de atividade fsica
regularmente promove efeito
p r o t e t o r p a r a a d o e n a
cardiovascular. A recomendao da
atividade fsica como ferramenta de
promoo de sade e preveno de
doenas baseia-se em parmetros de
freqncia, durao, intensidade e
modo de realizao. Portanto, a
atividade fsica deve ser realizada por
pelo menos 30 minutos, de
intensidade moderada, na maior
parte dos dias da semana (5) de
forma contnua ou acumulada.
Realizando-se desta forma, obtm-se
os benefcios desejados saude e a
preveno de doenas e agravos no
transmissveis, com a reduo do risco
de eventos cardio-circulatrios,como infarto e acidente vascular
cerebral.
A orientao ao paciente deve ser
clara e objetiva. As pessoas devem
incorporar a atividade fsica nas
atividades rotineiras como caminhar,
subir escadas, realizar atividades
domsticas dentro e fora de casa,optar sempre que possvel pelo
transporte ativo nas funes dirias,
que envolvam pelo menos 150
minutos/semana (equivalente a pelo
menos 30 minutos realizados em 5
dias por semana). O efeito da
atividade de intensidade moderada
realizada de forma acumulada o
mesmo daquela realizada de
maneira contnua, isto , os trinta
minutos podem ser realizados em
8/14/2019 Caderno de Ateno Bsica - Corao Cerebro Rim
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32CADERNOS DE ATENO BSICA
uma nica sesso ou em duas sesses
de 15 minutos (p.ex. manh e tarde)
ou ainda, em trs sesses de dez
minutos (p.ex. manh, tarde e noite).
Dessa maneira, atenua-se ou
elimina-se a principal barreira
aquisio do hbito da realizao da
atividade fsica devido a falta de
tempo (Figura 4).
De forma prtica, atividade fsica
moderada aquela que pode ser
realizada mantendo-se a conversao.Por exemplo, uma caminhada com o
passo acelerado, com a percepo
do aumento da freqncia cardaca
e da freqncia respiratria, sem
impedir a possibilidade de dilogo
com outra pessoa. Em outras
palavras, a atividade no deve ser
fatigante, pois a ela deixaria de sermoderada e passaria a ser intensa.
Para prtica de atividades
moderadas no h necessidade
d a r e a l i z a o d e a v a l i a o
cardiorrespiratria de esforo para
indivduos iniciarem um programa
de atividades fsicas incorporado s
atividades do dia- a- dia. A avaliao
mdica e de esforo em indivduos
assintomticos deve se restringir
apenas a pacientes com escore de
Framingham alto ou aqueles que
desejem desenvolver programas de
exerccios estruturados ou atividades
desportivas que exijam nveis de
atividade fsica de alta intensidade.
Em relao a crianas e adolescentes
em idade escolar recomenda-se que
devam estar envolvidos em
atividades fsicas de intensidade
moderada e vigorosa de 60 minutos
ou mais diariamente, que sejam
apropriadas ao estgio decrescimento e desenvolvimento,
variadas e que propiciem prazer.
Deve-se estimular a prtica de
atividades fsicas fora do horrio
escolar em um contexto ldico e
desestimular o hbito de assistir TV,
video-game e uso computadores
como forma de lazer. Na escola,incentivar o fortalecimento das aulas
de educao fsica como estratgia
de aumento do gasto energtico. A
no ser em situaes especficas de
agravos sade, nunca se deve
afastar essas crianas e adolescentes
das aulas de educao fsica. As
crianas e adolescentes com
sobrepeso devem ser estimuladas a
se integrar aos grupos de prtica de
atividade fsica fortalecendo-se
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PREVENO CLNICA DE DOENAS CARDIOVASCULARES, CEREBROVASCULARES E RENAIS33
vnculos sociais e afetivos.
RECOMENDAO
DE ATIVIDADE FSICAContnua OU
acumulada
Maioria dosdias da
semana
Pelo menos 30
minutos/dia
Moderada
Figura 4. Orientaes chaves para prtica de
atividade fsica.
1.5. Tabagismo
A recomendao para abandono
do tabagismo deve ser universal,
sendo particularmente til na
preveno de doena cardiovascular,
cerebro-vascular e renal. Diversasintervenes farmacolgicas e no
farmacolgicas, inclusive o simples
aconselhamento de parar de fumar,
possuem benefcio comprovado
para efetivo abandono do
tabagismo. A farmacoterapia
melhora, de maneira clinicamente
importante, a cessao do hbito de
fumar. Para o sucesso do tratamento,
entretanto, fundamental que opaciente esteja disposto a parar de
fumar. No Quadro 6 esta descrita a
abordagem inicial de qualquer
indivduo fumante.
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34CADERNOS DE ATENO BSICA
Quadro 6. Abordagem do indivduo que tabagista
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PREVENO CLNICA DE DOENAS CARDIOVASCULARES, CEREBROVASCULARES E RENAIS35
importante salientar que o apoio
farmaco-terpico tem um papel bem
definido no processo de cessao de
fumar, que minimizar os sintomas
da sndrome de abstinncia quando
estes representam uma importante
dificuldade para o fumante deixar de
fumar. Algumas medicaes tm
eficcia comprovada em auxiliar o
fumante a deixar de fumar. Os
medicamentos nicotnicos, tambm
chamados de Terapia de Reposiode Nicotina (TRN), se apresentam nas
formas de adesivo e goma de
mascar. Os medicamentos no-
nicotnicos so os antidepressivos
bupropiona e nortriptilina, e o anti-
hipertensivo clonidina. A TRN
(adesivo e goma de mascar) e a
bupropiona so consideradosmedicamentos de 1 linha, e devem
ser utilizados preferencialmente. A
nortriptilina e a clonidina so
medicamentos de 2 linha, e s
devem ser utilizados aps insucesso
das medicaes de 1 linha.
1.5.1. Farmacoterapia
Segundo orientao do INCA -
Ministrio da Sade (www.inca.gov.br/
tabagismo), a prescrio de apoio
medicamentoso, deve seguir os
critrios abaixo:1. fumantes, que fumam 20 ou mais
cigarros por dia;
2. fumantes que fumam o 1 cigarro
at 30 minutos aps acordar e
fumam no mnimo 10 cigarros por
dia;
3. fumantes muito dependentes
(com escore do teste de Fagerstrm
>5, ou avaliao individual do
profissional);
4. fumantes que j tentaram parar de
fumar anteriormente apenas com a
abordagem cognitivo-comporta-
mental, mas no obtiveram xito,
devido a sintomas da sndrome de
abstinncia;
5. sem contra-indicaes clnicas.
Em geral, a monoterapia suficiente
para a maioria dos pacientes, sendo
recomendada para pacientes maisdependentes (> 20 cigarros/dia) a
posologia descrita no Quadro 7.
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36CADERNOS DE ATENO BSICA
2. PREVENO FARMACOLGICA
2.1. Anti-Hipertensivos
A hipertenso arterial sistmica
fator de risco cardiovascular de alta
prevalncia no Brasil. Est bem
documentado que o risco pode ser
controlado pela da reduo dos
nveis pressrios, e de terapia
farmacolgica especfica.
Dos frmacos disponveis o que se
mostrou mais efetivo na preveno
de desfechos cardiovasculares foi o
diurtico tiazdico em doses baixas.
Os tiazdicos mostraram-se eficazes
em um amplo espectro de pacientes
hipertensos e, em conjunto com
inibidores da enzima conversora deangiotensina (iECA), at em
pacientes ps-acidente vascular
cerebral e com nveis de presso
arterial considerados normais. Os -
bloqueadores reduzem o risco para
mortalidade coronariana e total bem
como para re-infarto, quando
administrados para pacientes cominfarto prvio.
Em decorrncia desse benefcio
comprovado, do custo relativamente
Quadro 7. Farmacoterapia anti-
tabagica.
Goma de mascar de nicotina (2-4mg):
utilizar goma de mascar com o
seguinte esquema:
semana 1 a 4:
1 tablete a cada 1 a 2 horas
semana 5 a 8:
1 tablete a cada 2 a 4 horas
semana 19 a 12:
1 tablete a cada 4 a 8 horas
Adesivo de nicotina:
semana 1 a 4:
adesivo de 21 mg a cada 24 horas
semana 5 a 8:adesivo de 14 mg a cada 24 horas
semana 9 a 12:
adesivo de 7 mg a cada 24 horas
Bupropiona
1 comprimido de 150 mg pela
manh por 3 dias,
1 comprimido de 150 mg pela
manh e outro comprimido de 150
mg, 8 horas aps, a partir do 4 dia
at completar 12 semanas
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PREVENO CLNICA DE DOENAS CARDIOVASCULARES, CEREBROVASCULARES E RENAIS37
baixo de genricos anti-hipertensivos
e da taxa pequena de efeitos
adversos na maioria dos pacientes,
esses medicamentos formam a linha
de frente para o manejo farmaco-
lgico do risco cardiovascular.
Recomenda-se iniciar com diurtico
tiazdico (hidroclorotiazida), na dose
de 12,5mg a 25mg ao dia, pela
manh. No havendo controle s
com diurtico, deve ser introduzido
Bloqueadores (propranolol) ou iECA(captopril, enalapril) como terapia
adicional. Estas seqncias, diurtico
baixa dose mais beta-bloqueador ou
iECA, so convenientes para a
maioria dos indivduos, incluindo
aqueles portadores de co-
morbidades.
recomendado para que todo
paciente com Hipertenso Arterial
Sistmica atinja controle dos nveis
pressricos de
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38CADERNOS DE ATENO BSICA
2.3. Hipolipemiantes
Os frmacos hipolipemiantes
estatinas so efetivas em reduzir os
nveis sricos de colesterol eespecialmente os eventos vasculares
maiores e mortalidade total.
Atualmente, as estatinas fazem parte
do arsenal teraputico e preventivo
para pacientes com alto risco
cardiovascular, mesmo para aqueles
com alteraes pouco significativas
do perfil lipdico. A recomendao
atual para uso de estatinas na
preveno primria depende do risco
global, sendo menos relevante o
nvel de colesterol-LDL. Quanto
maior o risco, maior o benefcio
clnico e mais custo-efetivo o
tratamento.
Todos indivduos com nveis elevadosde colesterol LDL-c, independente do
risco global devem ser orientados
para adoo de medidas no-
farmacolgicas, com dieta pobre em
colesterol e atividade fsica.
Indivduos de alto risco com doena
cardiovascular, especialmente com
manifestaes de doenaaterosclertica como cardiopatia
isqumica, doena cerebrovascular,
devem ser considerados para terapia
com estatinas independente dos
nveis de colesterol basal. Da mesma
forma aqueles sem doena
manifesta, mas com risco pelo escore
de Framingham superior a 20% em
10 anos tambm devem serconsiderados para terapia com
estatina.
A estatina de referncia a
sinvastatina, sendo preconizada dose
nica de 40 mg/dia, administrada a
noite. Diversas estatinas esto
disponveis, sendo aceito um efeito
semelhante entre os frmacos da
classe, desde que respeitada a
equipotncia da dose, conforme
Quadro 8.
Quadro 8. Equivalncia de doses das
estatinas.
Estatina Dose Dose
equivalente mxima
a 40 mg/dia
Sinvastatina
Lovastatina 80 mg 80 mg
Fluvastatina 80 mg 80 mg
Pravastatina 40 mg 80 mg
Atorvastatina 10 mg 80 mg
Rosuvastatina 10 mg 40 mg
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PREVENO CLNICA DE DOENAS CARDIOVASCULARES, CEREBROVASCULARES E RENAIS39
de CK. Os fibratos, cido nicotnico e
ciclosporina aumentam o risco de
rabdomilise. A presena de dor
muscular ou aumento de CK superior
a 10 vezes o valor normal deve
orientar suspenso do tratamento.
Indivduos com nveis de
triglicerdeos elevados (>200mg/dl)
tambm apresentam risco elevado
para complicaes vasculares, sendo
mais importante em portadores de
diabetes. Em todos os casos devemser afastadas causas secundrias
(diabete descontrolada, hipotireoi-
dismo e ingesta abusiva de lcool) e
instituda dieta especfica. Indivduos
devem ser orientados a ingesto
pobre de aucares, amido, carboidra-
tos e lcool.
Em indivduos sem diabetes, a terapiacom frmacos como medida para
reduo eventos cardiovascu-lares
controversa, entretanto, nveis
>500mg/dl apresentam risco de
pancreatite aguda e trombose e
devem receber terapia farmaco-lgica
especfica, com fibratos ou cido
nicotnico, se no respon-derem adieta. O manejo da hipertriglice-
ridemia est detalhado nos
Protocolos do Ministrio da Sade
para Medicamentos Excepcionais.
Os efeitos adversos incluem miosite
e aumento das transaminas
hepticas. Por causa destes efeitos, as
transaminases (TGO e TGP) devem ser
monitoradas antes do incio do
tratamento e aps 6-12 semanas do
inicio do tratamento e repetidas
pelo menos em uma ocasio em 3-6
meses ou quando h incremento da
dose. Doena heptica ativa ou
crnica com elevao basal de
transaminases antes do inicio dotratamento contra-indicao para
o uso de estatinas. Alm disso,
pacientes que apresentarem
elevaes superiores a 3 vezes os
valores normais de referncia, devem
ter a dose da medicao reduzida ou
suspensa.
A elevao de CK (creatinoquinase)acompanhada ou no de dores
musculares pouco freqente, de
modo que a sua dosagem de rotina
no est indicada no acompa-
nhamento dos pacientes em uso de
estatinas. Entretanto, pacientes com
suspeita clnica (dores musculares e/
ou articulares difusas, tipo fadiga e
presso) ou com uso de frmacos que
aumentam a incidncia de miopatia
devem ser avaliados com dosagem
8/14/2019 Caderno de Ateno Bsica - Corao Cerebro Rim
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40CADERNOS DE ATENO BSICA
2.4. Vacinao Contra Influenza
Existe uma associao clinicamente
importante entre influenza e doena
aterotrombtica, sugerindo que avacinao contra esse agente
infeccioso poderia exercer efeito
protetor importante contra
desfechos relevantes (p. ex. de
mortalidade e taxa de hospitalizao
por causas cardiovasculares). O
Ministrio da Sade recomenda que
indivduos com idade superior ouigual a 60 anos bem como indivduos
com doena cardiovascular sejam
vacinados. Ainda no est definido
se essa recomendao deve ser
estendida tambm como uma forma
de preveno de eventos cardio-
vasculares em indivduos < 60 anos
sem doena cardiovascular e com
perfil de risco cardiovascular
moderado ou alto.
2.5. Terapia Hormonal com
Estrgenos
Atualmente, reconhecido que aterapia hormonal com estrgenos
est associada a um aumento na
incidncia de eventos isqumicos
cardiovasculares bem como de
tromboembolismo venoso e de
neoplasia ginecolgica. Dessa forma,
no momento, no existe indicaopara o uso de qualquer forma ou
dosagem de terapia hormonal com
estrgenos e progesterona como
medida de preveno cardiovascular.
3. ABORDAGEM INTEGRADA DAS
INTERVENES
O Quadro 9 resume uma abordagem
integrada das intervenes baseadas
na estratificao de risco global.
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PREVENO CLNICA DE DOENAS CARDIOVASCULARES, CEREBROVASCULARES E RENAIS41
Quadro 9. Intervenes recomen-
dadas em preveno cardiovascular
de acordo com a classificao de risco
global.
Baixa
Mdia
Alta
Interveno*
Aconselhamento quanto a :
Fumo
Nutrio: Alimentao saudvel
Manuteno de peso/cintura
Atividade fsicanfase em medidas no farmacolgicas e diurtico de baixadose para hipertenso, estgio 1, quando presente
Vacinao anual contra influenza em adultos > 60 anos
Adicionar:
Intensificao de conselhos sobre estilo de vida
Nutrio
Dieta com caractersticas cardio-protetorasConsiderar farmacoterapia contra tabagismo
Considerar programa estruturado de atividade fsica
Aspirina em baixa dose
Adicionar:
Intensificao de alvos de tratamento para hipertenso
Estatinas
Beta-bloqueadores para pacientes ps-infarto, anginaIECA para pacientes diabticos e com DRC
Intensidade
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Aes de Intensidade Baixa
As intervenes de baixa intensidade
incluem aconselhamento quanto
realizao de atividade fsica regular
de intensidade moderada a intensa,por no mnimo 30 minutos, na maiorparte dos dias; orientaes gerais
sobre dieta saudvel; abandono do
tabagismo; e manuteno de peso e
cintura nas faixas consideradas
saudveis.
Indivduos hipertensos, mas de baixo
risco global devem ter seus nveis
pressricos tratados, sempre quepossvel, a partir de medidas no
farmacolgicas. Quando est
indicada farmacoterapia, deve-sefavorecer o uso de um diurtico
tiazdico.
Adultos com idade maior do que 60
anos devem receber vacinao anual
contra influenza.
Aes de Intensidade Moderada
Intervenes de intensidade
moderada iniciam com a intensi-
ficao de hbitos de vida saudveis.Recomendaes nutricionais incluem
uma dieta com caractersticas
nutricionais cardioprotetoras; o uso
de lcool em moderao e junto s
refeies; e um estmulo ao aumento
nas quantias ingeridas de fitosteris,
gros e feijes.
Intervenes farmacolgicas desti-
nadas cessao do tabagismo
devem ser consideradas, caso o
simples aconselhamento do mdico
no tenha sido efetivo. O uso de
antiplaquetrios (aspirina, se
possvel) est indicado, especial-
mente naqueles com risco maior ecom um ntido interesse em prevenir
doena.
Aes de Intensidade Alta
Alm das intervenes de intensi-
dade moderada, as intervenes de
alta intensidade incluem o uso de
frmacos como estatinas e inibidores
da ECA. O uso de beta-bloqueadores
indicado em pacientes ps-infarto
do miocrdio, bem como insuficincia
cardaca, tais doenas so abordadas
nos Manuais especficos. O manejo da
HAS deve ser intensificado em
pacientes que apresentam diabete
melito, evidncia de proteinria e
perda de funo renal.
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A vacinao anual contra a
influenza, por ser uma medida
pontual, de baixo custo (especialmente
quando feita em formato de
campanha) e com benefcios no-
cardiovasculares adicionais,
indicado em pacientes menores de
60 anos com doenas cardacas.
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Para o indivduo com diabete
recomendado um controle rigorosoda glicemia, com valores alvo deglicemia de jejum entre 80-120mg/dl
e hemoglobina glicada (A1c) < 7%.A presena de microalbuminria comou sem hipertenso deve ser tratadacom um iECA (captopril, enalapril).
Da mesma forma, deve ser realizadoo controle rigoroso da pressoarterial em todos os pacientes. Aintensidade do controle da presso
arterial e os nveis alvo variam deacordo com a presena deproteinria, conforme descrito noQuadro 10.
Quadro 10. Manejo da HipertensoArterial Sistmica
Condio Presso Tratamentoarterial 1a. escolhaideal
Sem
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46CADERNOS DE ATENO BSICA
lembrando que nesses casos a
hidratao realizada com cautela;
Alm destas medidas gerais,
importante ressaltar que pacientescom DRC devem ser encaminhados
precocemente ao nefrologista. As
indicaes para avaliao por um
especialista incluem:
Clearance da creatinina abaixo de
30 ml/min/1,73m - RISCO IMINENTE
- encaminhamento prioritrio
Reduo acelerada do clearance
de creatinina acima de 4 ml/min/ano
Clearance da creatinina abaixo de
60 ml/min/1,73m
Proteinria de qualquer nvel na
ausncia de retinopatia diabtica ou
hipertensiva
Hipertenso arterial de difcil
controle, litase renal, infeco
urinria de repetio (acima de 3
episdios ao ano)
Hiper ou hipopotassemia,
hematria sem causa aparente.
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VIII. ATRIBUIES E COMPETNCIASDA EQUIPE DE SADE
Aequipe mnima de Sade
da Famlia constituda por
um mdico, um enfermeiro,
um a dois auxiliares de enfermagem
e quatro a seis agentes comunitrios
de sade, devendo atuar, de forma
integrada e com nveis de
competncia bem estabelecidos, na
abordagem da avaliao de risco
cardiovascular, medidas preventivas
primrias e atendimento a
hipertenso arterial e diabete melito.
Agente Comunitrio de Sade
1) Esclarecer a comunidade sobre os
fatores de risco para as doenas
cardiovasculares, orientando-a sobre
as medidas de preveno.
2) Identificar, na populao em geral
pessoas com fatores de risco para
doena cardiovascular, ou seja: idade
igual ou superior a 40 anos, vida
sedentria, obesidade, hipertenso,
colesterol elevado, mulheres que
tiveram filhos com mais de 4 quilos
ao nascer e pessoas que tm ou
tiveram pais, irmos e/ou outros
parentes diretos com doena
cardiovascular, doena renal ou
diabetes.
3) Encaminhar consulta de
enfermagem os indivduosrastreados como suspeitos de serem
de risco para doena cardiovascular.
4) Encaminhar unidade de sade,
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48CADERNOS DE ATENO BSICA
para avaliao clnica adicional e
exame laboratoriais, as pessoas com
fatores de risco para doena
cardiovascular, renal ou diabete
(Quadro 2).
5) Verificar o comparecimento desses
indivduos s consultas agendadas na
unidade de sade, retorno para
resultado de exames e acompanha-
mento peridico.
6) Perguntar, se o indivduo esta
seguindo as orientaes de dieta,
atividades fsicas, controle de peso,
cessao do hbito de fumar e da
ingesto de bebidas alcolicas, e
naqueles hipertensos e ou diabtico
se est aderindo terapia prescrita.
7) Registrar, em sua ficha de
acompanhamento, o diagnstico dedoenas cardiovasculares ou fatores
de risco importantes, como
tabagismo, obesidade, hipertenso,
diabetes de cada membro da famlia.
Auxiliar de Enfermagem
1) Verificar os nveis da presso
arterial, peso, altura e circunferncia
abdominal, em indivduos da
demanda espontnea da unidade
de sade.
2) Orientar a comunidade sobre a
importncia das mudanas nos
hbitos de vida, ligadas alimentao e prtica de atividade
fsica rotineira.
3) Orientar as pessoas da
comunidade sobre os fatores de risco
cardiovascular, em especial aqueles
ligados hipertenso arterial e
diabetes.
4) Agendar consultas e reconsultas
mdicas e de enfermagem para os
casos indicados.
5) Proceder as anotaes devidas em
ficha clnica.
6) Cuidar dos equipamentos
(tensimetros e glicosmetros) e
solicitar sua manuteno, quando
necessria.
7) Encaminhar as solicitaes de
exames complementares para
servios de referncia.
8) Controlar o estoque demedicamentos e solicitar reposio,
seguindo as orientaes do
enfermeiro da unidade, no caso de
impossibilidade do farmacutico.
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9) Fornecer medicamentos para o
paciente em tratamento, quando da
impossibilidade do farmacutico.
Enfermeiro
1) Capacitar os auxiliares de
enfermagem e os agentes
comunitrios e supervisionar, de
forma permanente, suas atividades;
2) Realizar consulta de enfermagem,
abordando fatores de risco,
tratamento no-medicamentoso,
adeso e possveis intercorrncias ao
tratamento, encaminhando o
indivduo ao mdico, quando
necessrio;
3) Desenvolver atividades educativas
de promoo de sade com todas aspessoas da comunidade;
desenvolver atividades educativas
individuais ou em grupo com os
pacientes hipertensos e diabticos;
4) Estabelecer, junto equipe,
estratgias que possam favorecer a
adeso (grupos com dislipidemia,
tabagistas, obesos, hipertensos e
diabticos);
5) Solicitar, durante a consulta de
enfermagem, os exames mnimos
estabelecidos nos consensos e
definidos como possveis e
necessrios pelo mdico da equipe;
6) Repetir a medicao de indivduoscontrolados e sem intercorrncias;
7) Encaminhar para consultas
mensais, com o mdico da equipe, os
indivduos no-aderentes, de difcil
controle e portadores de leses em
rgos-alvo (crebro, corao, rins,
olhos, vasos, p diabtico, etc.) ou
com co-morbidades;
8) Encaminhar para consultas
trimestrais, com o mdico da equipe,
os indivduos que mesmo
apresentando controle dos nveis
tensionais e do diabetes, sejam
portadores de leses em rgos-alvo
ou co-morbidades;
9) Encaminhar para consultas
semestrais, com o mdico da equipe,
os indivduos controlados e sem
sinais de leses em rgos-alvo e sem
co-morbidades;
Mdico
1) Realizar consulta para
confirmao diagnstica, avaliao
dos fatores de risco, identificao de
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50CADERNOS DE ATENO BSICA
possveis leses em rgos-alvo e
comorbidades, visando estratifi-
cao de risco cardiovascular e renal
global;
2) Solicitar exames complementares,
quando necessrio;
3) Prescrever tratamento no-
medicamentoso;
4) Tomar a deciso teraputica,
definindo o incio do tratamento
medicamentoso;
5) Programar, junto equipe, estratgias
para a educao do paciente;
6) Encaminhar s unidades de
referncia secundria e terciria as
pessoas que apresentam doena
cardiovascular instvel, de incio recente
sem avaliao, hipertenso arterialgrave e refratria ao tratamento, com
leses importantes em rgos-alvo, com
suspeita de causas secundrias e
aqueles que se encontram em estado
de urgncia e emergncia hipertensiva;
7) Encaminhar unidade de
referncia secundria, uma vez aoano, todos os diabticos, para
rastreamento de complicaes
crnicas, quando da impossibilidade
de realiz-lo na unidade bsica;
8) Encaminhar unidade de
referncia secundria os pacientes
diabticos com dificuldade de
controle metablico;
9) Encaminhar unidade de
referncia secundria os casos de
dislipidemia grave que no responde
a terapia no medicamentosa e
farmacolgica inicial;
10) Perseguir, obstinadamente, os
objetivos e metas do tratamento
(nveis pressricos, glicemia pr-
prandial, hemoglobina glicada,
controle dos lipdeos e do peso,
abstinncia do fumo e atividade
fsica regular).
Equipe multiprofissional
A insero de outros profissionais,
especialmente nutricionistas,
assistentes sociais, psiclogos,
odontlogos, professores de
educao fsica, vista como bastante
enriquecedora, destacando-se a
importncia da ao interdisciplinar
para a preveno dos fatores de risco,
do DM e da HA, das doenas cardio,
cerebrovasculares e renais.
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Com a finalidade de garantir
a ateno integral ao
portador de Risco Cardiovas-
cular e renal, faz-se necessria uma
normatizao para acompanha-
mento, mesmo na unidade bsica de
sade. Em algumas situaes, haver
necessidade de uma consulta
especializada em unidades de
referncia secundria ou terciria,
devendo-se, nesses casos, ser
estabelecida uma rede de referncia
e contra-referncia.
Critrios de encaminhamento para
unidades de referncia
Insuficincia cardaca congestiva
(ICC)
Insuficincia renal crnica (IRC)
Angina do peito
Suspeita de HAS e diabetes
secundriosHAS resistente ou grave
HAS e DM em gestantes
HAS e DM em crianas e
adolescentes
Edema agudo de pulmo prvio
Complicaes oculares
Leses vasculares das
extremidades, incluindo o p
diabtico
IX. CRITRIOS DEENCAMINHAMENTOS PARAREFERNCIA ECONTRA-REFERNCIA
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AVE prvio com dficit sensitivo
e ou motor
Infarto agudo do miocrdio
prvio
Diabticos de difcil controle
Diabticos para rastreamento de
complicaes crnicas (se isto no
for possvel na unidade bsica)
Dislipidemia de difcil controle
Doena aneurismtica de aorta
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