Breve Histria da FotografiaFotografia - Histria da Fotografia
Escrito por Filipe Salles Seg, 22 de Setembro de 2008 09:56 muito
difcil precisar as datas e etapas dos processos que levaram criao
da Fotografia, pois muitos deles so experincias conhecidas pelo
homem desde a Antigidade, e acrescenta-se a isso um conjunto de
cientistas em diversas pocas e lugares que aos poucos foram
descobrindo as partes deste intrincado quebra-cabeas, que somente
no final do sc. XIX foi inteiramente montado. Entretanto, possvel
apontar alguns destes fatos e descobertas como sendo relevantes
para a inveno da fotografia. Os fundamentos daquilo que veio a se
chamar fotografia vieram de dois princpios bsicos, j conhecidos do
homem h muito tempo, mas que tiveram que esperar muito tempo para
se manifestar satisfatoriamente em conjunto, que so: a cmara escura
e a existncia de materiais fotossensveis. A Cmara Escura
Cmara obscura
A cmara escura nada mais que uma caixa preta totalmente vedada
da luz com um pequeno orifcio ou uma objetiva em um dos seus lados.
Apontada para algum objeto, a luz refletida deste projeta-se para
dentro da caixa e a imagem dele se forma na parede oposta do
orifcio. Se, na parede oposta, ao invs de uma superfcie opaca, for
colocada uma translcida, como um vidro despolido, a imagem formada
ser visvel do lado de fora da cmara, ainda que invertida.
Isso permite a viso de qualquer paisagem ou objeto atravs do
orifcio que, dependendo do tamanho e da distncia focal, projetava
uma imagem maior ou menor. A cmara escura uma dessas invenes que no
se sabe a origem. Descries de quartos fechados com orifcios que
projetam imagens em seu interior existem desde a Renascena, e suas
referncias indicam desde a Grcia Antiga, mas h ainda referncias
deste conhecimento entre os chineses, rabes, assrios e babilnios. H
muita controvrsia sobre o conhecimento e utilizao das cmaras
escuras na antigidade justamente por sabermos que impossvel a
projeo dessas imagens a partir de pequenos orifcios em um quarto
grande, em que poderia caber um homem, uma vez que o orifcio, para
formar uma imagem, deve ser muito pequeno, e a quantidade de luz no
suficiente para projetar uma imagem de grandes propores. Centenas
de ilustraes de tratados renascentistas fazem aluso a este tipo de
cmara, que, longe de ser apenas uma caixa, tinham as dimenses de
uma sala, onde artistas se posicionavam em seu interior, podendo
assim se utilizar da projeo para tomar moldes de desenho. Portanto,
provvel que os homens da renascena no tenham testado uma cmara
destas propores. Tambm no se sabe exatamente a que obras os
renascentistas se referem quanto citao de usos da cmara na
antigidade, uma vez que no h registros diretos; e nem ao menos se
sabe que uso os antigos poderiam fazer de semelhante aparelho, uma
vez que no havia estudo de perspectiva e nem conhecimento de
materiais fotossensveis.
Acima, dois exemplos que ilustram registros do uso da cmara
escura como um grande quarto em que poderia caber um homem. A da
esquerda uma ilustrao da Renascena, e a segunda, do sc.XVIII
Entretanto, apesar das origens escusas, na Renascena seu uso
parecia estar muito bem disseminado. Poderamos estabelecer uma
cronologia mais ou menos assim de obras que citam a utilizao da
Cmara escura: 1521- Monge Papnutio da Cesare Cesariano-"Commetaires
de Virtruve" 1521- Francesco Maurolico da Messina - "Photismi de
lumine et umbra ad perspectivam et radiorum incidentiam facientes"
- editado em 1611 (fazendo referncia a um primeiro estudo de 1521)
1544 - Gemma Frisius (Renerius) - relata o uso de uma cmera escura
na observao de um eclipse em Louvain na Blgica. 1553- Giovanni
Battista Della Porta - "Magia Naturalis" Considerado em muitos
compndios de cinema e fotografia como o inventor da Cmara Escura.
Entretanto, h vrias ressalvas sobre isso, entre elas as referncias
mais antigas, e entre outras, algumas indicaes dadas por Della
Porta que no so verdadeiras. 1568- Daniello Barbaro - Nos d uma
verso melhor da cmara escura de grandes propores, descrevendo o uso
num quarto escuro apenas colocando uma folha de papel prxima ao
orifcio com a lente, projetando assim uma imagem. (Neste caso, o
uso do quarto escuro possvel). 1646 - Athanasius Kirscher
(Athanasio) - "estranha e mirabolante figura, misto de cientista e
mistificador, realizou uma gigantesca obra abrangendo o Egito
Antigo, a China, a Astronomia, e vrios outros assuntos" (segundo
Mario Guidi, pp. 21-22), publicando um estudo sobre a Cmara escura
num tratado chamado 'Ars Magna Lucis et Umbrae', em que tambm h
referncias precisas sobre cmaras escuras, grandes e pequenas, bem
como lanternas mgicas.
De qualquer forma, a cmara escura foi largamente usada durante
toda a Renascena e grande parte dos sculos XVII e XVIII para o
estudo da perspectiva na pintura, s que j munida de avanos
tecnolgicos tpicos da cincia renascentista, como lentes e espelhos
para reverter a imagem. A cmara escura s no podia estabilizar a
imagem obtida.
Fotossensibilidade: os haletos de Prata A outra ponta da
entrincada corrente que desembocou na fotografia diz respeito aos
materiais fotossensveis. Fotossensibilidade um fenmeno que quer
dizer, literalmente, 'sensibilidade luz'. A bem da verdade, toda a
matria existente fotossensvel, ou seja, toda ela se modifica com a
luz, como um tecido que desbota no sol, ou mesmo a tinta de uma
parede que vai aos poucos perdendo a cor, mas algumas demoram
milhares de anos para se alterarem, enquanto outras apenas alguns
segundos j lhes so suficientes. Ora, para a reproduo de uma imagem,
de nada adiantaria um material de pouca fotossensibilidade, de
maneira que todos os cientistas ou curiosos que procuraram de
alguma maneira a imagem fotogrfica comearam pesquisando sobre o
material que j h muito era conhecido e considerado o mais propcio
para tal: os sais de prata. A prpria alquimia renascentista j
registra as propriedades fotossensveis da prata, sendo referenciada
em 1566 por Georg Fabricius, o que indica que o conhecimento destas
propriedades devia ainda ser anterior ao sc.XVI. Os haletos, ou
sais de prata, modificam-se rapidamente com a ao da luz,
enegrecendo-se na mesma proporo em que recebem luz. E outros
registros, sucessivamente em 1727, 1763, 1777 e 1800, nos relatam
experincias de imagens obtidas a partir de papis embebidos em
solues de sais de prata. A maior parte dessas experincias era feita
como uma cpia por contato, ou seja, algum objeto era colocado sobre
o papel sensibilizado, e assim se obtinha uma imagem ou silhueta
daquele objeto. Mas, ainda antes de 1800, um certo Wedgwood, na
Inglaterra, chegou a utilizar a cmara escura para obter, com
sucesso, essas imagens. Ento, por que a fotografia j no foi
inventada nesta poca, precisando esperar mais 40 anos? que, aps ser
feita a impresso de uma imagem no papel de sais de prata, esta
imagem no se mantinha estvel, pelo simples motivo que a prata
continuava fotossensvel. Em palavras simples, a prata reage luz
ficando mais negra medida que recebe maior quantidade de luz. Ento,
se gravamos uma imagem com os gros de prata, como faremos para
olhar o resultado? fcil, s vlos na luz. Mas vendo a imagem na luz,
a prata continuava a ser sensibilizada, enegrecendo gradativamente
a imagem obtida. Este foi o principal problema que os pioneiros da
fotografia enfrentaram, a busca de um mtodo eficiente de
estabilizar a prata, impedindo-a de se sensibilizar aps o registro
da imagem. Os pioneiros da fotografia Nicphore Nipce Eis ento que
adentra ao cenrio da histria o sr. Nicphore Nipce, nascido em
Chlon-sur-sane,
Frana, em 1765. Apesar de ter seguido carreira militar, ele e
seu irmo Claude se interessavam por pesquisas como cientistas
amadores, e, apesar de diletantes, eram empenhados e chegaram a
inventar, por volta de 1815, um motor a exploso. Mas a busca pelo
registro visual era um fascnio pessoal de Nicphore, que estudou
diversas tcnicas reprogrficas, e tendo com isso feito importantes
melhorias no processo de litografia. Mas procurava, assim como
outros, uma possibilidade de utilizar a imagem da cmara escura, uma
vez que os demais processos s permitiam reproduo de originais
opacos ou transparentes, e no imagens projetadas da natureza real.
A primeira tentativa de Nipce foi feita com o betume da judia, uma
espcie de verniz utilizado na tcnica de gua forte, que possui a
propriedade de secar rapidamente quando exposto luz. Esse betume
possui um solvente, leo de lavanda, e que no consegue dissolv-lo
depois deste ter estado em contato com a luz, o que permitia que as
partes no expostas pudessem ser removidas, formando assim uma
imagem rudimentar. Nipce procurou de muitas formas utilizar chapas
metlicas emulsionadas com esse betume para imprimir imagens na
cmara obscura, mas a quantidade de luz que entrava por ela era
muito pouca, considerando a provvel sensibilidade do betume, da
ordem de 0,0012 ISO, e o tempo de exposio provavelmente
ultrapassava 12 horas (Nipce registra 8, mas deveria ser mais). Com
isso, alm da modificao das sombras, pelo movimento da Terra em
relao ao Sol, que deixava a imagem irregular e confusa, o solvente
tambm evaporava e a chapa ficava inteiramente seca.
Assim, uma nica imagem sobreviveu dessas experincias, muito
provavelmente por ter sido tirada de sua janela, que permitia a
entrada de luz em condies de temperatura mais amenas, fazendo o
solvente no se evaporar. Essa 'fotografia', de 1826 ou 27,
atualmente considerada historicamente a primeira, mas o prprio
Nipce no considerava esta uma experincia bem-sucedida, porque a
imagem original um grande borro, impossvel de ser copiada, e cujos
contornos s podem ser vistos quando olhados em certo ngulo e com
luz adequada. A reproduo que hoje temos foi feita e retocada com
tcnica modernas na dcada de 1950. Apesar das controvrsias, esta
imagem de Nipce considerada a primeira fotografia. Nipce
entretanto, com todas estas experincias, acabou desenvolvendo uma
forma de reproduo por contato utilizando o betuma da Judia, a que
ele chamou 'Heliografia', ou 'escrita do sol'. Louis Daguerre Foi
atravs da divulgao de suas Heliografias que Nipce acabou conhecendo
outro personagem histrico: Louis Jacques Mand Daguerre. Ambos
utilizavam os servios de um personagem em comum, fabricante de
lentes, e que lhes ps em contato. Daguerre tambm trabalhava com uma
cmara escura, mas que utilizava para pintura, e no se sabe bem como
se interessou pelas pesquisas na rea do que viria a ser a
fotografia, uma vez que no h registros de experincias feitas por
ele neste campo antes de conhecer Nipce. De todo modo, Daguerre
ficou entusiasmado com a possibilidade de desenvolver uma tcnica de
reproduo visual eficiente e props uma sociedade com Nipce. Este
hesitou durante muito tempo, mas Daguerre conseguiu convenc-lo e
firmaram sociedade em 1829. A sociedade entre Daguerre e Nipce
tinha por objetivo o aprimoramento das tcnicas at ento
desenvolvidas, mas ambos trabalhavam em sentidos opostos, uma vez
que Nipce tinha em mente uma imagem capaz de ser copiada,
reproduzida, e Daguerre, como era pintor, procurava simplesmente
uma imagem satisfatria. Nada conseguiram em conjunto, e 4 anos aps
a sociedade, Nipce faleceu, em 1833. Daguerre continuou as
experincias de Nipce e as aperfeioou, mas no sem grandes
dificuldades. Primeiro, utilizou como base chapas metlicas de prata
ou cobre, que j haviam sido testadas por Nipce com bons resultados.
Entretanto, todas as experincias de Nipce tinham por objetivo a
obteno de uma matriz para ser reproduzida, e Daguerre, que no tinha
inteno de descobrir um sistema litogrfico mais avanado, teve que
deixar de lado todo o avano nesta rea j feito por Nipce com o
betume da Judia, e experimentou trabalhar com sais de prata, como
outros faziam na busca da imagem fotogrfica.
O problema dos compostos de sais de prata que, apesar da rapidez
com que apreendiam uma imagem, esta era muito rudimentar e o
problema da fixao ainda no estava resolvido. Eis que, a certa
altura, Daguerre conseguiu resolver este impasse, e ele prprio
conta que foi atravs de um acaso: estando exausto e decepcionado
por no conseguir obter resultados satisfatrios, jogou uma de suas
chapas num armrio e esqueceu-se dela. Alguns dias mais tarde,
procura de alguns qumicos, abriu o armrio e deparou-se com ela; s
que havia uma imagem impressa nela, que antes no estava l. Procurou
a razo disso e desconfiou que havia sido por causa do mercrio de um
termmetro que havia se quebrado. Fez alguns testes e o resultado
foi o daguerretipo.
Daguerre em um de seus daguerretipos Finalmente, havia sido
contornado o problema da nitidez e da fixao. O processo era
bastante simples. Uma chapa metlica era tratada com vapores de
iodo, que se tornavam iodeto de prata (um haleto de prata) quando
impregnados na chapa, tornando-a fotossensvel. Essa chapa era
colocada numa cmara escura, sem contato com a luz, e feita uma
exposio que variava de 20 a 30 minutos mais ou menos. Aps a
exposio, era necessrio fazer o iodeto de prata se converter em
prata metlica, para a imagem se tornar visvel, e eis que entrava o
mercrio, cujo vapor foi o primeiro sistema de revelao fotogrfica
anunciado comercialmente. Este era um dos trunfos da daguerretipo:
como sua imagem era convertida em prata metlica, esta ficava muito
mais ntida que a imagem do haleto comum, e sua definio e riqueza de
detalhes eram impressionantes. Depois, para afinal, fixar a imagem,
Daguerre nos informa que utilizava nada menos que cloreto de sdio,
ou sal de cozinha. Daguerre produziu um pequeno daguerretipo nessas
condies em 1837, e em 7 de janeiro de 1839, anunciada a descoberta
do processo na Academia de Cincias de Paris.
O daguerretipo tinha algumas implicaes caractersticas: primeiro,
sua imagem era tanto negativa como positiva. Na verdade, a imagem
formada diretamente era negativa, pois a prata fica mais preta
quanto mais luz recebe, s que a superfcie de impresso era metlica,
e dependendo do ngulo de viso e da incidncia da luz, ela se tornava
positiva. Alm disso, era uma imagem espelhada, ou seja, como a
imagem na cmera se formava ao contrrio e no havia cpia, ela
mantinha-se invertida.
Esta a imagem que Daguerre considerava seu primeiro daguerretipo
bem-sucedido. E era uma imagem nica, sem possibilidade de cpia, por
estar gravada numa superfcie opaca. Alguns viam tais caractersticas
como limitadoras, outros como naturais, mas o fato que o
daguerretipo tinha uma qualidade impressionante de imagem,
extremamente ntida e com detalhes que por vezes nem a olho nu se
conseguia distinguir. O sucesso patente.
Cmera utilizada por Daguerre
Quase que imediatamente, a notcia se espalha pelo mundo. A
repercusso imensa junto ao pblico, e de uma hora para outra,
diversos outros pesquisadores aparecem no cenrio pblico,
reivindicando o invento para si. No que fossem mal-intencionados
com histrias falsas e datas adulteradas, mas havia um grande
interesse comercial envolvido, e o fato que realmente muita gente,
ao mesmo tempo e em vrias partes do mundo, buscavam a 'imagem
fotogrfica', sem que eles se conhecessem. Quando Daguerre anunciou
sua descoberta, ele ganhou uma corrida em que no se conhecia o
nmero de participantes. Mas 3 deles merecem destaque:
William Talbot e Frederick Herschel Na Inglaterra, William Fox
Talbot trabalhava tambm desde 1833 num processo similar para obteno
de imagens. Suas dificuldades foram as mesmas da maioria dos
proponentes descoberta: no conseguiu achar um meio eficaz de fixar
as imagens e utilizava como base papel impregnado com emulso de
sais de prata. O que conseguiu de mais prximo foram impresses
diretas, por contato sobre papel, e que ele denominou Caltipo. Mas
Talbot experimentou tambm colocar o papel diretamente na cmara
escura, e obteve resultados satisfatrios, pouco antes de Daguerre.
Estipulase que Talbot nada tenha dito em relao sua descoberta por
no ter conseguido, como Daguerre, uma maneira eficiente de fixar a
prata sensibilizada. Apesar de tambm ter usado sal de cozinha, a
fixao numa soluo de salmoura funcionava com uma chapa de metal, mas
no com uma folha de papel, que se desmancharia depois de certo
tempo. Talbot, assim como Nipce, tambm queria desenvolver uma
maneira de copiar estas imagens, razo pela qual manteve-se nas
experincias com papel. Mas Talbot, que alm de tudo era matemtico e
botnico, tinha em seu crculo de amigos alguns cientistas da Royal
Society de Londres, entre eles um certo John William Frederick
Herschel. Filho do famoso astrnomo que descobriu o planeta Urano,
Herschel tambm se interessou pela corrida obteno do que seria a
imagem fotogrfica, quando tomou conhecimento do anncio de Daguerre
em janeiro de 1839. Herschel queria, na verdade, um mtodo para
'fotografar' as imagens da abbada celeste obtidas por um grande
telescpio que ele prprio construiu, num interesse astronmico cuja
ambio era o de registrar todos os corpos visveis no cu. Herschel
conhecia, atravs de Talbot, as dificuldades que envolviam os
pioneiros da fotografia, e sabendo que Daguerre havia conseguido
resultados satisfatrios, resolveu pesquisar ele prprio, mtodos que
pudessem resolver tais problemas. Ele e Talbot trocaram diversas
experincias e informaes durante algumas semanas, pois Herschel
tinha conhecimentos muito mais profundos de qumica, e lembrou-se de
algumas experincias feitas alguns anos antes.
William Fox Talbot
Nestas tentativas, s pressas, Herschel foi o responsvel pelo
sbito avano da fotografia em termos tcnicos. Um avano que, se fosse
calculado no ritmo com que ela havia andado at ento, seria algo
como 5 anos em 1 ms. Herschel, em suas experincias, testou diversos
sais de prata, tais como cloreto, nitrato, carbonato e acetato,
concluindo que o nitrato era o mais sensvel (at hoje uma boa parte
do material sensvel fotogrfico baseado em nitrato de prata). Quanto
fixao, lembrou-se que tinha testado, por volta de 10 anos antes, o
hipossulfito de sdio (hoje chamado tiossulfato) para interromper a
ao da luz sobre a prata. Retomando as experincias com o mesmo
material, agora j com novas tcnicas e perspectivas, teve a seguinte
concluso: 'Resultado perfeito. O papel exposto luz, pela metade,
embebido com hipossulfito de sdio e em seguida lavado com gua. Aps
secagem, o papel novamente exposto luz. A metade escura permanece
escura, e a metade clara permanece clara.' Finalmente, estava
resolvido o problema da fixao fotogrfica. Mas o captulo Talbot
ainda no terminou. Tendo descoberto um mtodo eficiente de fixar as
imagens, patenteou o caltipo em 1841, talvez numa tentativa de
brigar com a patente de Daguerre, no apenas do ponto de vista
comercial, mas at pela primazia do invento. Herschel, entretanto,
desaconselhou Talbot a promover qualquer tipo de iniciativa jurdica
ou comercial contra Daguerre, uma vez que teve oportunidade de ver
os daguerretipos antes de Talbot, e sua impresso foi a seguinte:
'comparadas com essas obras de arte de Daguerre, o senhor Talbot no
produz seno coisas vagas e desfocadas'.
Sem dvida, considerando o sistema de ambos, a cpia em papel
tinha grandes desvantagens do ponto de vista da nitidez e definio,
uma vez que o processo de Daguerre era direto, e o de Talbot exigia
copiagem em material translcido, o papel, que implicava numa
qualidade muito inferior. Mas convm lembrar que seu processo era o
que hoje chamamos de imagens evidentes, ou seja, uma imagem que j
se formava na medida em que ia sendo exposta. Isso significa que a
imagem no ficava latente, ou seja, o controle do tempo de exposio
era feito na prpria observao da imagem. Quando esta adquiria uma
densidade desejvel, o fotgrafo interrompia sua exposio e tratava de
fixar a imagem. claro que este mtodo tornava a fotografia
extremamente lenta em termos de tempo de exposio, por vezes questo
de horas, o que sem dvida contribua, no caso de retratos, para no
representar nenhum tipo de concorrncia ao daguerretipo. Talbot ento
descobriu uma frmula para obter imagens negativas latentes no
caltipo, ou seja, precisava, assim como o daguerretipo, de revelao.
Esse mtodo consistia em sensibilizar as folhas de papel
inicialmente com nitrato de prata, e posteriormente com iodeto de
potssio, formando o iodeto de prata. O iodeto era altamente sensvel
luz, o que reduzia drasticamente o tempo de exposio, de horas para
poucos minutos, e revelados numa soluo de cido glico e nitrato de
prata. Depois, fixados com o tiossulfato de sdio e eram obtidas
imagens negativas em pouco tempo. Mas, para fazer cpias por
contato, Talbot ainda se utilizava do sistema de imagem evidente,
com papis sensibilizados com cloreto de prata, o que era mais
vantajoso pois era possvel controlar a intensidade dos tons de cpia
pela observao. Esse sistema permitiu que a fotografia em papel aos
poucos tomasse lugar do daguerretipo na corrida pela melhor imagem,
mas ainda faltava o principal: melhorar a imagem. Hercules Florence
Cabe ainda o parnteses sobre mais uma importante figura, isolada e
annima, na descoberta da fotografia, o terceiro personagem de
destaque nessa histria. Entre os anos 1824 e 1879, viveu no Brasil
- mais precisamente na Vila de So Carlos, hoje Campinas - o
desenhista e tipgrafo francs Hercules Florence, e que at h pouco
tempo era famoso apenas por ter feito parte da expedio do Baro
Langsdorff pelo interior do Brasil. Recentemente, atravs de
pesquisas do Foto-Cine Clube Bandeirante, e publicadas como estudo
por Boris Kossoy, uma no menos interessante faceta de Florence veio
tona: inventor da fotografia. Consta que Florence procurava uma
maneira de reproduzir tipos grficos, tendo enormes dificuldades, na
poca, de fazer publicar manuscritos de sua autoria. Haviam poucas
tipografias disponveis e todas pertenciam a um mesmo dono, o que
monopolizava a produo impressa. Antes de pensar em montar sua
prpria tipografia, Florence resolveu investigar os efeitos de
materiais fotossensveis. Tomando conhecimento dos efeitos do
nitrato de prata, Florence desenvolveu um processo rudimentar de
fixao de imagens em papel sensvel, primeiramente atravs de cloreto
de ouro, cujo agente fixador deveria ser amnia. Na falta desta
substncia, Florence utilizou nada menos que a prpria urina para
estabilizar as imagens, e obteve resultados satisfatrios em 1833.
Depois, passou a utilizar outras substncias, mais baratas que o sal
de ouro, entre eles o nitrato de prata, que chegou a utilizar at
mesmo com uma cmera escura. Mais tarde, desenvolveu com base nesses
resultados, um mtodo de impresso em papel a partir de originais
desenhados em vidro, obtendo cpias por contato de tima
qualidade.
Em seus dirios e anotaes, constam importantes descobertas feitas
isoladamente, e que em muito se pareciam com as que Daguerre,
Talbot e Herschel fizeram na Europa. As dificuldades que ele
enfrentou, tendo que construir sua prpria cmara escura de maneira
rudimentar, e a busca pelos prprios mtodos, com quase nenhum
auxlio, fazem de sua descoberta um grande mrito. Florence chegou a
um mtodo de fixao de imagens por contato em papel que lhe renderam
timos resultados, dos quais ainda sobrevivem encomendas de
trabalhos, como seus rtulos de farmcia e um diploma manico. Apesar
de Florence no ter dado nenhum nome especfico a seu processo pela
cmara escura, seu sistema de impresso por contato em negativo foi
chamado de Fotografia, por ele e por um colaborador, o boticrio
Joaquim Corra de Mello. Segundo consta, foi a primeira vez que se
utilizou o termo e ao que tudo indica, cabe a ele o mrito da
nomenclatura. Hercules Florence
Repercusso da Fotografia Mas voltando Frana de Daguerre, no
podemos deixar de frisar as qualidades excepcionais de imagem
quanto nitidez que obtinha com seu processo, mas que tambm no
estava isento de todos os inconvenientes. O primeiro ainda era o
tempo de exposio que, embora tivesse diminudo radicalmente,
permitindo agora o registro de pessoas e no mais s de paisagens,
ainda necessitava de pelo menos dois ou trs minutos de imobilidade
total, obrigando seus modelos a exercitar rigidez muscular ou
sentarem-se em cadeiras com apoio para o pescoo. O segundo, e
talvez o pior dos problemas do daguerretipo, era sua total
incapacidade de reproduo mltipla. Um daguerretipo era apenas uma
placa de cobre emulsionada que, uma vez revelada, tornava-se visvel
num meio opaco, ou seja, no havia meios de copi-la. Na verdade, tal
limitao foi explorada comercialmente por Daguerre como uma maneira
elitizada de registro alternativo, tal como a pintura - que a
princpio, tambm nica. Assim, famlias abastadas poderiam ser
registradas de maneira muito mais fiel que a pintura, sem perder o
estigma de obra nica. Daguerre no parecia interessado em aperfeioar
sua descoberta, limitando-se a manter um pblico para a
daguerreotipia, sem qualquer alterao, falecendo num retiro em 1851
sem incluir nenhum dos avanos tecnolgicos conquistados at ento,
mantendo o daguerretipo como pea de museu. Em compensao, at 1860, a
calotipia se desenvolveu muito em termos tecnolgicos, mas por uma
questo de direitos autorais, esses processos precisaram sofrer
mudanas para poderem ser explorados pelos fotgrafos
interessados.
Parece um instrumento de tortura, mas trata-se de um acessrio
para manter imvel o modelo fotografado
Apesar da dificuldade de reproduzir os parmetros comerciais e
estticos desta poca, tudo indica que as coberturas de patentes que
Daguerre e Talbot impeliram ao mundo da fotografia foi extremamente
prolfico para a evoluo tecnolgica. Afinal, os fotgrafos desta poca,
para evitar o pagamento de altos tributos, precisavam mudar as
frmulas, o que gerou uma grande diversidade de processos
fotogrficos e uma conseqente evoluo comercial que desembocou na
fotografia tal como hoje conhecemos. O processo foi mais ou menos
assim: Chapa de vidro O Daguerretipo mantinha suas limitaes de
reprodutibilidade, enquanto que o caltipo foi estudado com mais
afinco por justamente possibilitar um nmero ilimitado de cpias de
uma nica matriz, ainda que com resultados no muito satisfatrios por
ser uma cpia contato de uma matriz translcida. Muitos fotgrafos
pensaram ento no vidro, nico material transparente disponvel que
possibilitaria a obteno de cpias de qualidade comparvel ao
daguerretipo. A dificuldade residia em fixar a emulso num suporte
de vidro, que no era poroso o suficiente para manter a emulso fixa
na placa. Esse problema foi resolvido em 1848 pelo neto de Nipce,
Claude, que descobriu ser a albumina da clara de ovo um excelente
suporte para a emulso de nitrato de prata, permitindo sua adeso no
vidro de maneira extremamente eficiente. Seu mtodo espalhou-se
rapidamente, pois finalmente, a fotografia negativa-positiva era de
qualidade comparvel ao daguerretipo. Entretanto, um tanto difcil de
se manusear. A chapa ficava pouco sensvel, em decorrncia da
densidade da albumina, demandando novamente um longo tempo de
exposio. Mas, apesar disso, houve uma verdadeira corrida atrs desta
nova tcnica, sendo que uma firma alem de Dresden chegou a utilizar
60.000 ovos por dia para confeco de chapas fotogrficas! Era claro,
portanto, que esse processo no iria manter-se por longo tempo, pois
o custo do ovo chegou a subir mais de 50%, e no haveria demanda
para consumo culinrio e fotogrfico ao mesmo tempo. Mas alguns
passos importante j haviam sido dados em direo fotografia
instantnea de qualidade: Daguerre utilizava em sua cmera uma lente
simples, de tipo menisco convergente, e que no era muito luminosa.
Mas, em 1840, Joseph Max Petzval projetou uma lente de
caractersticas diferentes, mais avanada em termos de clculos ticos,
e possibilitou a construo de uma lente, que hoje equivaleria a uma
abertura de f/3.6, o que era extremamente luminosa para os padres
da poca.
Com a objetiva Petzval, o grande obstculo para a fotografia
instantnea voltava a ser o suporte dos haletos de prata, uma vez
que a chapa de vidro com albumina era muito cara. Chapa seca e
chapa mida Apenas em 1850 foi acrescida uma inveno capaz de ser
utilizada satisfatoriamente como alternativa albumina de ovo: o
coldio. Foi o ingls Frederick Scott Archer quem o desenvolveu, a
partir da dissoluo de algodo-plvora em mistura de lcool e ter. Este
algodo plvora, tambm chamado algodo-coldio, por sua vez uma mistura
de cido sulfrico e ntrico (piroxilina), altamente explosivo, que
veio a ser, posteriormente, a base para o nitrato de celulose das
primeiras pelculas cinematogrficas. O coldio era muito mais barato
de se obter e possua melhores condies de transmisso luminosa, o que
diminuiu novamente os tempos de exposio da fotografia, fazendo de
alguns segundos um tempo suficiente para impresso da chapa.
Um fotgrafo e seu laboratrio mvel
Mas ainda no era o processo definitivo, pois tais chapas
precisavam ser preparadas, expostas e reveladas na mesma hora, pois
que ao secar, a emulso perdia sua capacidade fotossensvel, o que
desencadeava a necessidade do fotgrafo itinerar com todo o seu
equipamento para preparar as chapas onde quer que fosse. O coldio
de Archer era chamado, por essa razo, de coldio mido ou chapa mida.
Fazer fotos externas nesta poca no era tarefa fcil! Levando-se em
considerao que a chapa de vidro, as objetivas mais luminosas e o
coldio mido de Archer trabalhavam em conjunto, os resultados
colhidos eram extremamente satisfatrios e a fotografia, apesar das
dificuldades, tinha j qualidade comparvel ou mesmo superior ao
daguerretipo, ainda possibilitando a cpia em papel a partir de
negativos em vidro. Portanto, durante mais ou menos 20 anos, entre
1850 e 1870, este foi o principal sistema utilizado pela maioria
dos fotgrafos, no obstante as constantes experincias e
aperfeioamentos que aos poucos foram sendo incorporados arte
fotogrfica.
Cartaz de propaganda das recm-lanadas chapas secas
Foi um mdico ingls, Richard Maddox, que, em 1871, experimentou
ao invs de coldio, uma suspenso de nitrato de prata em gelatina de
secagem rpida. A gelatina, de origem animal, no s conservava a
emulso fotogrfica para uso aps a secagem como tambm aumentava
drasticamente a sensibilidade dos haletos de prata, tornando a
fotografia, finalmente, instantnea. Era um processo extremamente
barato (pois gelatina pode ser obtida de restos de ossos e
cartilagens animais) e, ao substituir o coldio, ficou conhecida
como chapa seca.
George Eastman O ltimo captulo relevante do desenvolvimento e
aperfeioamento dos processos fotogrficos deu-se, novamente com um
ingls, chamado George Eastman, um bancrio que aos 23 anos de idade
adquiriu uma cmera fotogrfica e apaixonou-se pela atividade, ainda
no rudimentar processo de chapa mida. Aborrecido com o lento e
trabalhoso processo de preparar as chapas e us-las imediatamente,
Eastman leu um artigo sobre a emulso gelatinosa e interessou-se por
ela, a ponto de comear a fabric-la em srie. Mas, no dado por
satisfeito, ainda achava complicado o processo de estocagem das
chapas de vidro - alm de pesadas, quebravam com facilidade -, e
imaginou que poderia tornar a fotografia muito mais prtica e
eficiente se encontrasse uma maneira de abreviar o processo
todo.
Aliando a tecnologia da emulso com brometo de prata (mais
propcia para fazer negativos, e, consequentemente, cpias) com a
rapidez de sensibilidade j existente na suspenso com gelatina e a
transparncia do vidro, Eastman substituiu esta ltima por uma base
flexvel, igualmente transparente, de nitrocelulose, e emulsionou o
primeiro filme em rolo da histria. Podendo ento enrolar o filme,
poderia obter vrias chapas em um nico rolo, e construiu uma pequena
cmara para utilizar o filme em rolo, que ele chamou de "Cmara
KODAK". Lanada comercialmente em 1888, reza a lenda que o nome veio
de uma onomatopia, o barulho que a cmara fazia ao disparar o
obturador, e o sucesso do invento tornou todos os processos
anteriores completamente obsoletos, relegados apenas a fotgrafos
artesos.
A cmera KODAK
Eastman projetou uma cmara pequena e leve, cuja lente era capaz
de focalizar tudo a partir de 2.5m de distncia, e, seguidas as
indicaes de luminosidade mnimas, era s apertar o boto. Depois de
terminado o rolo, o fotgrafo s precisaria mandar a cmara para o
laboratrio de Eastman, que receberia seu negativo, cpias positivas
em papel e a cmara com um novo rolo de 100 poses. Seu slogan era
"Voc aperta o boto, ns fazemos o resto." Uma verdadeira revoluo,
que fez da Kodak uma gigantesca empresa, pioneira em todos os
demais avanos tcnicos que a fotografia adquiriu at hoje.
Fotos tpicas das primeiras cmeras Kodak, que caracterizavam-se
por seu formato de janela redondo O sculo XX Na entrada do ano de
1900, a fotografia j tinha todos os quesitos necessrios para o
registro de imagens com altssima qualidade de exposio e reproduo,
tanto que o cinema, cuja base fotogrfica, s seria possvel
tecnologicamente nestas condies, sendo concretizado por Edison e os
irmos Lumire. Mas na fotografia esttica, os principalis avanos
foram de ordem mecnica, na construo de lentes cada vez mais
precisas e ntidas, e cmeras portteis de diversos formatos e
tamanhos. A Eastman lanou, por exemplo, em 1900, a cmera Brownie,
que custava apenas 1 dlar, e que trasformou radicalmente a
fotografia em uma arte popular, legando outras empresas a
supremacia por uma qualidade tcnica profissional. Neste quesito,
dois fabricantes de lentes se destacaram no mercado pela excelncia
da construo ptica, a Carl Zeiss e a Schneider, ambas alems, e que
contriburam largamente para o aumento da capacidade luminosa e
qualidade da imagem formada.
Da mesma forma, foram explorados diversos tipos de formatos,
pois os negativos de Eastman eram muito
pequenos, propcios apenas a amadores. Fotgrafos profissionais
ainda precisavam de chapas de negativo, mas agora confeccionados em
material flexvel e no mais em vidro. Os formatos em chapa foram
explorados sob diversos tamanhos por diversos fabricantes de
cmeras, mas havia sempre uma limitao comercial, da qual dependia a
sobrevivncia do formato. Assim, os fabricantes de cmeras lanavam
produtos que exigiam determinados formatos, e sob encomenda deste
fabricante, chapas de negativo eram confeccionadas, geralmente pela
prpria Kodak. O custo disso era relativamente alto, e se a cmera no
emplacasse comercialmente, o formato era fadado a morrer, como
acontece at hoje em certos formatos de vdeo, como o Betamax (que
sucumbiu ao VHS) e o Laser Disc (que morreu com a entrada do DVD).
Assim, os grandes formatos, durante todo o perodo que vai de meados
de 1900 at 1930, sofreram constantes modificaes, sendo padronizados
pela influncia comercial em trs principais, as chapas de negativo
8x10 polegadas, a 5x7 polegadas e a 4x5 polegadas. Cartaz de
propaganda da cmera Brownie J nos formatos em rolo, que eram
destinados principalmente ao usurio amador - e mais tarde ao
fotojornalismo - eram mais favorveis aceitao comercial, de maneira
que at a prpria Eastman fabricou um grande nmero de formatos,
identificados por nmeros como 101 (introduzido no mercado em 1901),
116, 117, 120 (introduzido tambm em 1901), 122 (introduzido em 1906
e descontinuado em 1949), 123 (introduzido em 1904), 127 e mais
tarde, 616 e 620 (introduzidos em 1932). A maioria destes formatos
no sobreviveu, sendo que alguns deles ainda so possveis sob
encomenda. Mas a partir da dcada de 20, com a entrada das cmeras de
fabricao japonesa, bem mais baratas, alguns destes formatos
solidificaram-se junto ao pblico, razo pela qual subsistem at hoje,
como o formato 120, que permitia exposies nas propores 6x4,5cm, 6x6
cm, 6x9 e at 6x12. O exemplo mais famoso destas cmeras, e que sem
dvida contribuiu para sua continuidade, a Rolleiflex. Apesar de
diferentes tentativas de fomatos menores, a fbrica alem Leitz lanou
em 1913 um prottipo de uma cmera no formato 35mm, antes apenas
utilizado em pelculas cinematogrficas. A idia de usar 35mm era,
segundo o aspecto comercial, muito mais favorvel uma vez que j eram
fabricadas em larga escala em funo da indstria cinematogrfica.
Tanto que, quase simultaneamente, a fbrica Francesa Jules Richard
lanou (em 1914) a Homeos, a primeira cmera stereo 35mm lanada
comercialmente. Mas o fato desta ser uma cmera stereoscpica, a
limitava em termos de trabalho, e paralelamente a fbrica de Leitz
continuou a aperfeioar um modelo que foi lanado definitivamente em
1924, a lendria Leica. A cmera era extremamente compacta, com
velocidade fixa em 1/40 seg. e de mecnica simples e impecvel. Mas
seu maior trunfo era sua lente: resultado do trabalho de Ernst
Leitz como fabricante de microscpios e telescpios antes de criar
sua prpria firma, e da unio deste com Oskar Barnack, que trabalhava
tambm na fabricao de lentes na Zeiss. Dessa sociedade, o resultado
foi uma cmera amadora com uma qualidade ptica extraordinria, e que
aos poucos foi ganhando mercado, sendo usada largamente no
fotojornalismo. J em 1930, a Leica era to popular que o formato
35mm comeou a ser progressivamente preferido para o uso amador,
estourando como formato aps a Segunda Guerra Mundial.
A lendria cmera Leica
Em oposio excelncia tcnica alem, entre os anos 10-30, surgiu uma
nova potncia na fabricao de lentes e cmeras: os japoneses. J haviam
fabricantes de origem nipnica desde 1890, muitas vezes em
sociedades com firmas alems, mas aps a Primeira Guerra houve um
verdadeiro boom de grandes indstrias, como por exemplo a Nikon
(Nippon Kogaku), formada em 1917, a Olympus e a Asahi Pentax, ambas
de 1919, a Minolta de 1928, a Canon de 1933 e a Fuji, de 1934.
Perspectivas
claro que muita coisa foi acrescida e mudada desde ento,
aperfeioamentos tecnolgicos, processos eficientes e baratos, cmeras
programveis e a fotografia digital, nova revoluo nas artes
fotogrficas. Mas, olhando para o passado, possvel entender que todo
esse esforo, de muitos que marcaram a histria, e muitos outros
annimos, foram extremamente importantes para chegarmos naquilo que
hoje entendemos como fotografia, para entendermos a busca to
fascinante, to intensa, pela apreenso de uma imagem, pela idia da
memria coletiva, pela eternizao de um momento. E a, novamente, nos
deparamos com Plato. No seria toda essa busca a busca pela beleza
da imagem que traduza um estado, um sentimento, uma idia? A
fotografia busca um tempo, que no precisaria ser eternizado se no
estivesse perdido.
BIBLIOGRAFIA DE APOIO: CRAWFORD, William. The Keepers of Light,
Morgan & Morgan, NY, 1 edio, 1979 GUIDI, Mrio De Altamira a
Palo Alto: A Busca pelo Movimento. Tese de Livre-Docncia, ECA-USP,
1991 KOSSOY, Boris.Hercules Florence: A descob erta isolada da
fotografia no Brasil. Duas Cidades, So Paulo, 1980 LANGFORD,
Michael.Fotografia Bsica. Dinalivro/Martins Fontes, 1979. MUELLER,
Conrad & RUDOLPH, Mae.Luz e Viso. In Biblioteca Cientfica Life,
RJ: Livraria Jos Olympio Editora, 1968
Escrito por: Prof. Filipe Salles Colaborao: Rodrigo Whitaker
Diagramao: Laura Del Rey *Filipe Salles fotgrafo, cineasta e
professor universitrio. Seu compositor preferido Mahler e acha que,
no fundo, Plato que tinha razo. Consulte
www.mnemocine.com.br/filipe