Existia uma pequena boneca de sal que sempre perguntava: - Quem sou ? De onde vim ? Para onde vou ? A cada pergunta, sempre obtinha a mesma resposta: - Vieste do mar. És feita de sal. Como nunca conhecera o mar, pois morava distante dele, teve a curiosidade de saber o que ele era. Começou a busca incessante em direção às suas origens. Perguntando a todos que encontrava onde ficava o mar, foi aos poucos se aproximando dele. De repente, inspirando profundamente, sentiu um odor igual ao seu pairando no ar. Imediatamente concluiu que se era feita de sal e no mar tinha sal, ela estava próxima do seu objetivo. Continuou a sua jornada em direção ao cheiro que cada vez ficava mais forte até que finalmente avistou o mar. Diante de tão exuberante maravilha, exclamou: - Como é grande o mar ! Como é lindo o mar ! Após momentos de êxtase verificou que não podia ficar ali, parada apenas observando a maravilha que despontava sob seu olhar. Caminhou em direção a ele, cada vez mais extasiada diante de tamanha grandeza, até que, chegando à praia, sentou-se sobre as alvas areias e lá ficou, meditando sobre o vai-e-vem das marés, o quebrar das ondas, o bailado das gaivotas sobre as águas crespas pela brisa quente, bem como o cair do Sol por detrás da imensidão verde, de um lado, e o nascer da Lua, de outro. Melancólica quando as estrelas salpicaram de raios multicoloridos a massa branca das espumas das ondas, passou a se perguntar se o mar era somente aquilo que se descortinava diante de seus olhos. - Só isto é o mar ? Gostaria de conhecer mais, sentir, tocar, aprender a controlá-lo ! Absorvida em seus próprios pensamentos, foi dando seus primeiros passos em direção a água, até tocar no mar pela primeira vez. - Como o mar é refrescante, envolvente ! Continuou a caminhar de encontro às ondas, não percebendo que seus pés começavam a se dissolver, já que era uma boneca de sal. Sempre extasiada, prosseguiu. - Isto é o MAR ! Agora começo a compreendê-lo ! Já com a água na altura do pescoço, e não percebendo que continuava a se dissolver misturando-se com as águas, verificou: - O mar é imenso ! Como transmite paz ! Se também sou feita de sal e o sal vem do mar, eu sou igual ao mar. Agora começo a entender o que é o mar. Quando a água atingiu a altura dos olhos, quase que explodindo num misto de alegria e perplexidade, a boneca pensou: - Agora eu compreendo a natureza do mar. Eu sou o mar ! - Preciso voltar e contar a todos o que vi, pois agora eu sei quem sou e de onde vim. Boneca de Sal Que a paz inunde seu ser... serenamente, Que a paz inunde seu ser... serenamente, Serena