UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE ZOOLOGIA PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA ANIMAL BIOLOGIA REPRODUTIVA E ALIMENTAR DE Bubulcus ibis (LINNAEUS, 1758) (CICONIIFORME, ARDEIDAE) E SUA OCORRÊNCIA EM PERNAMBUCO, BRASIL. SAMANTA DELLA BELLA Recife, 2003
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BIOLOGIA REPRODUTIVA E ALIMENTAR Bubulcus ibis (L , 1758 ...€¦ · (Acarina, Ixodidae), aranhas (Aranea) e anfíbios. A sugerida especialidade alimentar de B.ibis encontrada no
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
DEPARTAMENTO DE ZOOLOGIA
PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA ANIMAL
BBIIOOLLOOGGIIAA RREEPPRROODDUUTTIIVVAA EE AALLIIMMEENNTTAARR DDEE BBuubbuullccuuss iibbiiss ((LLIINNNNAAEEUUSS,, 11775588)) ((CCIICCOONNIIIIFFOORRMMEE,,
AARRDDEEIIDDAAEE)) EE SSUUAA OOCCOORRRRÊÊNNCCIIAA EEMM PPEERRNNAAMMBBUUCCOO,, BBRRAASSIILL..
SAMANTA DELLA BELLA
Recife, 2003
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BBIIOOLLOOGGIIAA RREEPPRROODDUUTTIIVVAA EE AALLIIMMEENNTTAARR DDEE BBuubbuullccuuss iibbiiss ((LLIINNNNAAEEUUSS,, 11775588)) ((CCIICCOONNIIIIFFOORRMMEE,, AARRDDEEIIDDAAEE)) EE SSUUAA OOCCOORRRRÊÊNNCCIIAA EEMM PPEERRNNAAMMBBUUCCOO,,
BBRRAASSIILL..
SAMANTA DELLA BELLA
Dissertação apresentada ao Departamento
de Zoologia da Universidade Federal de
Pernambuco como parte dos requisitos
para a obtenção do título de Mestre em
Biologia Animal.
Recife, 2003
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SAMANTA DELLA BELLA
BBIIOOLLOOGGIIAA RREEPPRROODDUUTTIIVVAA EE AALLIIMMEENNTTAARR DDEE BBuubbuullccuuss iibbiiss ((LLIINNNNAAEEUUSS,, 11775588)) ((CCIICCOONNIIIIFFOORRMMEE,, AARRDDEEIIDDAAEE)) EE SSUUAA OOCCOORRRRÊÊNNCCIIAA EEMM PPEERRNNAAMMBBUUCCOO,,
BBRRAASSIILL..
ORIENTADOR: PROF. DR. SEVERINO MENDES DE AZEVEDO JUNIOR
Dissertação apresentada ao Departamento
de Zoologia da Universidade Federal de
Pernambuco como parte dos requisitos
para a obtenção do título de Mestre em
Biologia Animal.
Recife-PE Novembro de 2003
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Bella, Samanta Della
Biologia reprodutiva e alimentar de Bubulcus ibis (Linnaeus, 1758) (Ciconiiforme, Ardeidae) e sua ocorrëncia em Pernambuco, Brasil / Samanta Della Bella. – Recife : O autor, 2003.
145 folhas ; il., fig., tab. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de
Aves – Garça (Bubulcus ibis) – Brasil (PE) – Reprodução, alimentação e ocorrência. 3. Garça-vaqueira – Agreste (PE) e Fernando de Noronha (PE) – Reprodução, alimentação e ocorrência. I. Título.
598.34 CDU (2.ed.) UFPE 598.34 CDU (21.ed.) BC2004-274
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BBIIOOLLOOGGIIAA RREEPPRROODDUUTTIIVVAA EE AALLIIMMEENNTTAARR DDEE BBuubbuullccuuss iibbiiss ((LLIINNNNAAEEUUSS,, 11775588)) ((CCIICCOONNIIIIFFOORRMMEE,, AARRDDEEIIDDAAEE)) EE SSUUAA OOCCOORRRRÊÊNNCCIIAA EEMM PPEERRNNAAMMBBUUCCOO,,
BBRRAASSIILL..
SSAAMMAANNTTAA DDEELLLLAA BBEELLLLAA Dissertação defendida e aprovada pela banca examinadora: Examinadores: _______________________________________ (Prof. Dr. Severino Mendes de Azevedo Junior) ________________________________________ (Profa. Dra. Eduarda Lacerda de Larrazábal) ________________________________________ (Profa. Dra. Miriam Camargo Guarnieri) ________________________________________ (Profa. Dra. Luciana Iannuzzi) Data da aprovação: 07 de novembro de 2003.
Recife
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AAGGRRAADDEECCIIMMEENNTTOOSS
A Universidade Federal de Pernambuco e a CAPES pelo apoio financeiro durante parte
do período do mestrado;
A Universidade Federal Rural de Pernambuco pela viabilização de transporte para as
excursões ao agreste de Pernambuco;
A secretaria do mestrado, Ana e profa. Maria Eduarda Larrazabal pelo apoio e auxílios.
Ao prof. Dr. Severino Mendes de Azevedo-Junior pela oportunidade e apoio.
Ao IBAMA/FN, Marcos Aurélio, Ban, Miriam, e Pedro pela colaboração;
Aos professores e biólogos que auxiliaram na identificação dos conteúdos dos
3. ÁREA DE ESTUDO.....................................................................................................9 3.1 Agreste pernambucano.............................................................................................9
3.2 Arquipélago de Fernando de Noronha....................................................................10
4. MATERIAIS E MÉTODOS......................................................................................12 4.1 Ocorrência de Bubulcus ibis no Nordeste do Brasil...............................................12
4.2 . Biologia reprodutiva de B. ibis no Agreste pernambucano..................................12
4.2.1 Descrição da colônia.....................................................................................12
4.2.2 Outras espécies.............................................................................................13
4.2.3 Número de indivíduos..................................................................................13
4.3.4 Amplitude de nicho.....................................................................................19
4.4 Ocorrência de B. ibis no Arquipélago de Fernando de Noronha...........................20
5. RESULTADOS...........................................................................................................21 5.1. Ocorrência de B. ibis no Agreste pernambucano..................................................21
11
5.1.1. Registro de colônias....................................................................................21
5.1.2. Ocorrência e atividade................................................................................24
5.2. Biologia reprodutiva de B. ibis no Agreste pernambucano..................................26
5.2.1 Descrição da colônia...................................................................................26
5.2.2 Outras espécies............................................................................................37
5.2.3 Número de indivíduos.................................................................................41
5.3.7 Freqüência de ocorrência..............................................................................95
5.3.8 Amplitude de nicho....................................................................................100
5.4. Ocorrência de B. ibis no Arquipélago de Fernando de Noronha.........................101
6. DISCUSSÃO.............................................................................................................104 6.1 Ocorrência de B. ibis no Agreste pernambucano..................................................104
6.2 Biologia reprodutiva de B.ibis no Agreste pernambucano...................................108
6.3 Composição da dieta de B. ibis no Agreste pernambucano..................................121
6.4 Ocorrência de B. ibis no Arquipélago de Fernando de Noronha..........................133
(GASSET et al., 2000; FOGARTY & HETRICK, 1973), aves (FOGARTY & HETRICK, 1973 e
CUNNINGHAM, 1965) e peixes (LOWE-MCCONNEL, 1967).
No Brasil, num exame do conteúdo estomacal realizado por ALVARENGA (1974
apud SICK, 1997), em São Paulo, obteve-se 23 aranhas, 17 gafanhotos, cinco grilos, oito
moscas, uma lagarta e duas pequenas rãs. AZEVEDO-JUNIOR (1997), em Pernambuco,
sugere a preferência por insetos na dieta alimentar de B.ibis, destacando duas espécies
de gafanhotos (Schistocerca pallens e Rhammatocerus sp.).
Essa garça é encontrada freqüentemente associada com grandes mamíferos,
principalmente com o gado bovino (HEATWOLE, 1965). De uma existência
aparentemente comensalista com os ungulados das planícies africanas (comensalismo
obrigatório para RICE, 1956), a garça-vaqueira se adaptou à técnica de capturar presas
atraídas ou espantadas pelo gado pastando (FOGARTY & HETRICK, 1973). Nessa relação
encontra-se uma das principais razões para sua expansão; o crescimento da indústria da
pecuária tornou disponível para as garças-vaqueiras um vasto e novo território, pois
nenhum grande mamífero pastador vivia nos trópicos do Novo Mundo anteriormente
(RICE, 1956).
Freqüentemente assume-se que invertebrados encontrados no corpo do gado,
como moscas e carrapatos, constituem grande parte da dieta da garça-vaqueira sendo
esta a base da associação (HEATWOLE, 1965), originando inclusive o nome de “Tick
bird” (Tick=carrapato, bird=ave) para B. ibis (FOGARTY & HETRICK, 1973). Porém essa
relação não está claramente definida, ou pelo menos não é uma regra geral. HEATWOLE
(1965) conclui que as garças se alimentam de uma grande variedade de invertebrados e
66
18
pequenos vertebrados e que ectoparasitas ou insetos pegos diretamente do corpo do
gado são relativamente pouco importantes no seu orçamento alimentar.
Nos estudos de FOGARTY & HETRICK (1973), 90% dos alimentos identificados
eram insetos comuns de pastos – variedades que parecem ser perturbadas pelo gado.
Sendo que o gado teria um papel importante espantando e movendo os insetos dos quais
as garças então se alimentam, e não como hospedeiros desse alimento. HEATWOLE
(1965) mostrou que as garças associadas com o gado não apenas obtém mais alimento
por unidade de tempo que aquelas se alimentando sozinhas, mas que elas gastam menos
energia fazendo isso. THOMPSON et al. (1982) também mostraram a preferência e os
benefícios das garças-vaqueiras em forragearem juntamente com o gado.
Existem muitos estudos pelo mundo envolvendo o comportamento dos
hospedeiros da garça-vaqueira, itens obtidos em associação com o hospedeiro, e
análises de adaptação e vantagens desta associação. Porém, não existe um claro
consenso sobre o tipo de relação simbiótica, se comensalismo, mutualismo ou
protocooperação, mas a associação traz benefícios para o ótimo forrageamento, no qual
a quantidade de presa obtida e a energia gasta, são maximizadas e a energia ou o tempo
gasto são minimizados (TELFAIR, 1994).
Outro aspecto da alimentação oportunística de B. ibis são as observações de
FEARE (1975) da espécie se alimentando em locais de concentração de lixo e carniça.
Este autor acredita que o comportamento de se alimentar de carniça deva ter se
desenvolvido recentemente, talvez derivado da captura de insetos associados ao lixo.
77
19
22.. OOBBJJEETTIIVVOOSS
22..11 OOBBJJEETTIIVVOOSS GGEERRAAIISS
Objetivou-se no presente estudo prover informações acerca da ocorrência,
biologia reprodutiva e alimentar de Bubulcus ibis no nordeste do Brasil, sobretudo na
região Agreste do Estado de Pernambuco, e no Arquipélago de Fernando de Noronha.
Comparando essas informações ao que é observado em outras regiões, e assim,
fornecendo elementos para a compreensão de sua expansão e estabelecimento em
diversos ambientes, além de impactos potenciais decorrentes dessa ocupação.
22..22 OOBBJJEETTIIVVOOSS EESSPPEECCÍÍFFIICCOOSS
��Avaliar a ocorrência de Bubulcus ibis no Nordeste do Brasil, sobretudo no
Agreste pernambucano;
��Descrever aspectos da Biologia Reprodutiva de Bubulcus ibis no Agreste
pernambucano; e avaliar aspectos desta biologia a partir da comparação com o
descrito para outras regiões;
��Determinar da composição da dieta de Bubulcus ibis no Agreste pernambucano;
e avaliar seus hábitos alimentares a partir de comparações com informações
disponíveis para outras regiões;
��Avaliar da ocorrência de Bubulcus ibis no Arquipélago de Fernando de Noronha.
88
20
33.. ÁÁRREEAA DDEE EESSTTUUDDOO
33..11.. AAGGRREESSTTEE PPEERRNNAAMMBBUUCCAANNOO
O presente estudo foi realizado no Estado de Pernambuco, localizado na porção
Nordeste do Brasil entre os paralelos de 7°15’45’’ e 9°28’18’’ Sul e os meridianos de
34°48’35’’ e 41°19’54’’ Oeste (Figura 2A).
ANDRADE-LIMA (1960 apud SALES et al., 1998) dividiu o estado de Pernambuco
em quatro zonas fitogeográficas: Litoral, Mata, Caatinga e Savana. A zona litorânea
compreende cerca de 20% do estado sendo representada pela mata Atlântica. A zona das
Savanas, constituída por vegetação de Cerrado, apresenta-se em tabuleiros litorâneos e
na Chapada do Araripe. A zona de Caatinga ocupa a maior extensão, com
aproximadamente 85.505 km2 representando 58% da superfície do estado. Esta zona é
caracterizada pelo domínio do clima semi-árido, tendo como cobertura vegetal principal
a vegetação de caatinga. Tomando como base níveis pluviométricos e altitudinais, além
do tipo de solo, ANDRADE-LIMA (op.cit.) dividiu esta zona em duas subzonas: Agreste e
Sertão. Dentro desta zona, especialmente na subzona do Agreste (Figura 2B),
encontram-se formações florestais úmidas, os “brejos de altitude” (SALES et al., 1998).
No geral o Nordeste está constituído principalmente por climas semi-áridos na
sua porção interiorana e por climas superúmido, úmido e semi-úmido, ao longo do
litoral. Em Pernambuco, os valores pluviométricos mostram-se superiores a 1.500mm,
atingindo no município de Barreiras, sul do estado, valores da ordem de 2.464mm. Em
contrapartida, a porção interiorana apresenta em quase 50% de sua extensão 750mm de
precipitação anual, com algumas áreas atingindo 1.000mm. Essa região é
profundamente marcada pela desigualdade na distribuição das chuvas, que se concentra
em apenas três meses consecutivos do ano (SALES et a.l, 1998).
A economia regional nordestina depende, substancialmente, da agropecuária. A
pecuária que constitui o mais importante aspecto da agricultura na região é mais
praticada nas áreas relativamente mais secas, que não são consideradas muito
apropriadas para a produção econômica vegetal (SOBRINHO, 1970).
Nos estudos de AZEVEDO-JUNIOR (1997) os maiores bandos de B. ibis no Estado,
foram registrados na região do Agreste Setentrional e Meridional, onde se observa a
99
21
pecuária bovina, e onde se concentraram os esforços de amostragem do presente
trabalho.
Figura 2. Área de estudo. A. Brasil, destaque para Nordeste, Pernambuco. B. Estado de Pernambuco, destaque para a zona do Agreste. C. Arquipélago de Fernando de Noronha.
Uma colônia reprodutiva localizada no Agreste pernambucano, município de
Brejão, teve sua atividade monitorada mensalmente, de maio de 2002 a abril de 2003,
1122
24
para a obtenção dos dados sobre a biologia reprodutiva e alimentar da garça-vaqueira.
As datas das visitas encontram-se na tabela 1.
Tabela 1. Datas das excursões - ano (primeira linha), dias e mês - realizadas à colônia reprodutiva de Bubulcus ibis no Município de Brejão.
2002 2002 2003 18 a 23 / maio 7 a 12 / setembro 24 a 26 / janeiro 15 a 20 / junho 19 a 26 / outubro 26 a 27 / fevereiro 13 a 19 / julho 16 a 19 / novembro 19 a 21 / março 17 a 22 / agosto 13 a 14 / dezembro 26 a 28 / abril
Para obtenção dos dados sobre a biologia reprodutiva de B. ibis, inicialmente
procedeu-se ao mapeamento da colônia. As árvores, utilizadas para a construção dos
ninhos, foram marcadas com placas plásticas numeradas e amarradas com fios de nylon
ao tronco. Para complementar a descrição da estrutura da colônia, a altura das árvores
foi estimada com auxílio de uma vara metrada e o diâmetro basal das árvores foi
medido com auxílio de uma trena.
4.2.2 OUTRAS ESPÉCIES
Observações sobre a ocorrência de outras espécies na colônia são apresentadas.
Realizou-se o monitoramento da presença de outro ardeídeo (Ardea alba, Garça-branca-
grande) na colônia de Brejão, durante o período das observações, através de contagens
do número de ninhos e filhotes.
4.2.3 NÚMERO DE INDIVÍDUOS
O número de indivíduos na colônia foi estimado em todos os meses de
monitoramento (da mesma forma descrita no item 4.1.) dividindo-se o grupo em blocos
de acordo com o tamanho da colônia (BIBBY et al., 1992). Os valores do número de
indivíduos, de maio a dezembro, representam uma média de seis contagens por mês, três
ao amanhecer, e três ao anoitecer; e de janeiro a março, média de três contagens, uma ao
amanhecer e duas ao anoitecer.
1133
25
4.2.4 NINHOS
Contagens do número de ninhos em cada árvore foram realizadas durante todos
os meses de visita à colônia.
Alguns ninhos foram identificados com placas plásticas, visando auxiliar o
monitoramento do ciclo reprodutivo, sendo aferido em cada visita o número de ovos e
filhotes presentes. Desses ninhos foram obtidas medidas da altura, tamanho
(comprimento x largura x altura) e distância aos ninhos mais próximos, com auxílio de
uma trena. Foram escolhidos ninhos de diversas alturas tanto nas árvores com base
submersa na água do açude como aquelas localizadas na margem seca.
Nos ninhos com o conteúdo visível, foram feitas observações quanto ao número
de ovos e número de filhotes por ninho. Os ovos encontrados nos ninhos acessados (ver
item 4.2.6), assim como os encontrados caídos no chão da colônia (intactos, sem
rachaduras), durante os diversos meses de coleta foram medidos (comprimento x largura
e peso), com auxílio de um paquímetro (±0.01mm) e uma balança Pezola 300g
(±0.05g).
Os ovos intactos encontrados no chão da colônia foram coletados e depositados
na coleção de aves do Laboratório de Ornitologia de Universidade Federal de
Pernambuco.
Dados comparativos foram obtidos com base na literatura.
4.2.5 NÚMERO DE OVOS, NINHEGOS, JUVENIS E ADULTOS
Cada árvore da colônia teve o número de ovos, ninhegos, juvenis e adultos
chocando contabilizado durante os meses de coleta de dados.
Filhotes foram considerados “ninhegos” quando não saem do ninho, e “juvenis”,
quando já podem se deslocar pelas copas das árvores e voar, ainda apresentando
coloração preta do bico e pernas.
Esses números são muito imprecisos, já que muitos ninhos devido à localização
e posição do observador não tinham seu conteúdo visualizado, principalmente quando
com ovos e ninhegos. Além disso, a presença do observador na colônia fazia com que
juvenis se afastassem, se deslocassem para outros ninhos ou que adultos chocando se
1144
26
levantassem. Porém, ainda assim, esses dados representam padrões gerais da colônia e
são apresentados juntamente com observações pertinentes.
4.2.6 FILHOTES
Os ninhos foram acessados com o auxílio de uma escada (3m), cuidadosamente
apoiada ao tronco principal da
árvore, e os ninhegos (filhotes
em idade que não se movem do
ninho) capturados. Para os
ninhos localizados em árvores
com a base submersa foi
utilizado o mesmo procedimento,
com o uso adicional de um
macacão de borracha, para evitar
o contato do pesquisador com a
água/lodo do açude.
Os filhotes foram marcados com anilhas fornecidas pelo CEMAVE (Centro de
Pesquisas para a Conservação das Aves Silvestres/IBAMA/MMA) (Figura 3), pesados,
com o auxílio de uma balança Pezola 300g (±0.05) e medidos (tarso, cúlmem total e
narina-ponta) com auxílio de paquímetro (±0.01mm). Após as medidas e marcação, os
ninhegos foram recolocados em seus respectivos ninhos. As anilhas poderão ser
recuperadas e futuramente fornecer informações sobre o paradeiro destes filhotes.
Visando avaliar o desenvolvimento dos filhotes de B. ibis, 35 filhotes de
diversas idades, capturados entre julho e setembro, foram medidos com intervalos de 2
ou 3 dias. Com base nas diferenças das medidas apresentadas nesse intervalo, foi
calculada a relação de tempo pelo crescimento (�T/dL). A partir desta relação foi
construído um gráfico relacionando �T/dL com o comprimento inicial da medida e
traçada uma curva que melhor representasse a distribuição destes pontos, obtendo-se
uma equação (equação 1) de primeiro grau (y = ax+b, onde y = �T /dL e x = tamanho
inicial). A equação de segundo grau (equação 2) primitiva desta obtida de primeiro grau
(y=(a/2)x2+bx+c) descreveria o crescimento dos filhotes ao longo do tempo, onde y
Figura 3. Figura ilustrando a marcação (indicada pela seta) realizada em filhotes. Exemplar de B. ibis anilhado na colônia de Brejão em agosto de 2002.
1155
27
seria a idade e x o tamanho, faltando para isto apenas determinar o valor da constante c,
que aparece por substituição dos valores de x e y (tamanho e idade) conhecidos.
A partir do tamanho das medidas de cúlmem foi estimada a idade dos filhotes
segundo as relações encontradas por KOPIJ (1997), onde filhotes com um a sete dias
(uma semana) de vida teriam entre 16 e 25mm de comprimento de cúlmem; com 8-14
dias (duas semanas), comprimento de 26-33mm; de 15-21 dias (três semanas), 34-37
mm; e mais de 21 dias de idade, com medidas maiores que 38mm de cúlmem.
Não foram obtidos os trabalhos de Ricklefs & White (1975: A method for
constructing nestling growth curves from brief visits to seabird colonies.) e Ricklefs
(1957: A graphical method of fitting equations to growth curves) que desenvolveram
método para construção de curvas de crescimento e ajuste, ficando para futuros
trabalhos comparações e aplicações com estes métodos já conhecidos. TELFAIR (1994)
afirma que o ganho de peso e o crescimento do cúlmem encaixam-se bem em equação
logística, mas a descrição dessa equação, assim como a sua aplicação encontra-se numa
tese de doutorado no Texas que não foi acessada, ficando também para futuras
comparações.
4.2.7 MOVIMENTO COM GRAVETOS
Nos meses em que as garças apresentaram o comportamento de retorno à colônia
carregando gravetos para a construção dos ninhos, o número de indivíduos envolvidos e
o horário desta atividade foram registrados.
4.2.8 MOVIMENTO DE RETORNO
Mais um parâmetro da dinâmica desta colônia foi avaliado pelo movimento de
retorno dos indivíduos vindos da área de forrageamento para pernoite na colônia.
Durante todos os meses de monitoramento realizou-se a contagem do número de
indivíduos, indivíduos por grupo, direção de origem, e horário dos bandos de garça-
vaqueira que retornam para pernoite na colônia. A direção de origem dos grupos foi
obtida com o auxílio de uma bússola. Para cobrir todo o campo de visão, houve a
necessidade de dois observadores posicionados em direções opostas. As médias
apresentadas referem-se a contagens realizadas durante três dias consecutivos.
As colônias reprodutivas registradas para o Nordeste estão relacionadas na tabela
2. Foram avistadas três colônias reprodutivas e uma colônia de pernoite de B. ibis, além
de vestígios da ocorrência de um sítio de reprodução no Agreste pernambucano. Todas
apresentaram aspecto geral semelhante (Figura 4), construídas nas margens de açudes,
sobre galhos da Jurema Piptadenia obliqua (Pers) Maclar (Leguminosae) e da
Algarobeira Prosopsis juliflora (SW) DC (Leguminosae).
Figura 4. Aspecto geral de uma colônia reprodutiva de B. ibis construída nas margens de um açude sobre galhos de Jurema (Piptadenia obliqua).
Duas colônias reprodutivas foram localizadas em julho de 2000, uma delas no
município de Ameixas (08°06’25’’S e 35°46’40’’W) e outra em São Bento do Una
(08°29’07’’S e 36°21’23’’W), com aproximadamente 1.500 e 10.000 indivíduos adultos
(reprodutivos e não reprodutivos), respectivamente. Essas localidades foram novamente
visitadas em maio de 2002, quando as colônias haviam se dissolvido. Em Ameixas, o
açude estava com cerca de 30% do volume de água observado anteriormente, e em São
Bento do Una a maioria das árvores haviam sido cortadas.
2211
33
O terceiro ninhal foi avistado em novembro de 2001, no município de Brejão
(09°00’37’’S e 36°31’01’’W) com cerca de 12.000 indivíduos, sendo observados ninhos
com ovos e filhotes.
Em janeiro de 2003 foi localizada uma colônia de pernoite no município de
Pombos (08°08’29’’S e 35°23’45’’W), com cerca de 250 garças-vaqueiras. Alguns
destes indivíduos apresentavam plumagem de reprodução, porém foram encontrados
apenas dois ninhos abandonados, caídos no chão. No mesmo período foram observados
vestígios de ninho de B. ibis em uma fazenda no município de Altinho (08°29’23’’S e
36°03’34’’W), apesar de não ter sido avistado nenhum indivíduo. Relatos de moradores
da localidade sugerem a ocorrência de reprodução da garça-vaqueira nos anos
anteriores. Os municípios onde foram localizadas as colônias estão representados na
figura 5.
Tabela 2. Registros de colônias reprodutivas no Nordeste do Brasil. São apresentados para cada registro: o município; o estado; a data; o número de indivíduos de B.ibis; o número de outros ardeídeos quando presentes; o período onde foi observada reprodução; e o autor do respectivo registro.
Município Estado Data do Registro
Número de B. ibis
Número de outros ardeídeos
Período de reprodução
Referência
Serrinha BA Outubro 1996
1500 -
400 Nycticorax nycticorax
-
Outubro a Novembro/1996
Junho a
Agosto/1997
Lima et. al., 1997
Lima et. al.,
1998
Quijingue BA Agosto 1996
250 ninhos - Agosto a Outubro
Souza & Freitas, 1997
Patos PB Fevereiro 1995
1500 3000 Ardea alba 500 Egretta
thula
Ano todo? Nascimento, 1999
Brejo do Cruz
PB Abril 1996
500 30 Ardea alba 80 Egretta thula
Abril/1997 e 1998
Nascimento, 1999
Cajá PB Agosto
1997 14000 5 Ardea alba Março e
Agosto/1997 Nascimento,
1999
Ameixas PE Julho 2000
10000 - Julho/2000 Presente estudo
São Bento do Una
PE Julho 2000
1500 - Julho/2000 Presente estudo
Brejão PE Novembro 2001
12000 78 Ardea alba Ano todo Presente estudo
2222
34
1.2. Ocorrência e atividade
Durante os percursos pelas estradas do Agreste pernambucano (Figura 7) foram avistados 1724 indivíduos de B. ibis em 49.3 horas de observação (tabela II). Nos meses de junho, agosto, setembro e novembro de 2002 a ocorrência de chuvas durante as viagens impossibilitou a observação.
Do total de B. ibis observadas, 48.5% ocorreram em uma única excursão, em maio de 2002 (tabela II). O valor obtido do desvio padrão mostrou uma assimetria em relação à média de indivíduos avistados por quilômetro (M=6.6, S=7.7), nos diferentes meses e trajetos.
O trajeto B (figura 5D), percorrido em diversos meses (tabela II), apresentou uma média de 5.7 (S = 3.00) indivíduos avistados por quilômetro. Este mesmo trajeto soma 35.8% do total de indivíduos observados.
Os maiores bandos, registrados durante estes percursos, ocorreram na região centro-oeste do Agreste, nos municípios de São Caetano, Cachoeirinha, São Bento do Una e Lagedo. A outra localidade com ocorrência de grupos com mais de 50 indivíduos foi município de Pombos, de posição mais setentrional, limite entre o Agreste e a zona da mata de Pernambuco (Figura 7).
Do total de aves, observadas nas margens das estradas, 67,5% estava em atividade de forrageamento, 31,9% estavam em repouso e apenas 0,6% em atividade de vôo. Das garças avistadas forrageando 69,5% encontrava-se associada com o gado bovino, 7,4% associava-se a eqüinos. E entre as aves que estavam em repouso, 37,7% encontravam-se aglomeradas com o gado também descansando e 42.6% estavam próximas a açudes ou brejos (Tabela III). Em todos os meses de observação foram registradas garças com plumagem de reprodução
Figura 5. A. Estado de Pernambuco, em destaque o Agreste. B. Locais de ocorrência de B. ibis no Agreste de Pernambuco, com a representação dos trajetos percorridos e municípios onde foram avistados bandos de B. ibis(grupos grandes, de 50 indivíduos a 150 indivíduos; grupos médios, de 15 a 50 indivíduos e grupos pequenos, com menos de 15 indivíduos). Os municípios onde foram localizadas colônias de reprodução ou pernoite de B. ibisestão representados pelos símbolos vazados (de acordo com o tamanho dos bandos avistados nas respectivas margens das estradas).
PERNAMBUCO PIAUÍ
PARAÍBA
ALAGOAS
CEARÁ
Oceano Atlântico
Sertão Agreste Mata
- 8°
- 9°
- 38°
- 36°
- 40°
0 100 km
A
BAHIA
50
4
1
5
3 2
6 7
8
9
10
11
12 13
14
15
16
17
18 19
20
30
29
28
26
27
25
21
22 24
23
- 36°°°° - 37°°°°
- 9°°°°
AGRESTE
LEGENDA Trajeto Estrada Cidades � � PE095 1/2/3 ♦♦♦
� � �
BR232 BR232 PE180 PE193
4/5 6
A
� � � BR423 PE218
7/8/9/10 11
BR232 12/13/14
♦♦♦ BR232 4/5
B
� � � BR423 PE218
7/8/9/10 11
= = = � �
PE090 PE095
1/15/16 2/3
♦♦♦ BR232 4/5
C
� � � BR423 PE218
7/8/9/10 11
� � � PE218 17 D
+ + +
BR424 18/19/20
BR232 12/13/14 E � � � PE103
PE109 PE120 PE149 BR104 PE177
21/22 23 24 25/26 28/29/30
F � � ♦♦♦ � � �
PE095 BR232 BR423 PE218
1/2/3 4/5 7/8/9/10 11
G
= = = � � � � �
PE090 PE095 BR104 PE170 PE158 PE177
1/15/16 2/3 4/23/25 27 28/29/30
Municípios com grupos maiores que 50 indivíduos
Municípios com grupos de 15 a 50 indivíduos
Municípios com grupos menores do que 15 indivíduos
Cachoeirinha (7) Jupi (9) Lagedo (8) São Caetano (5)
Bom Jardim (15) Bonito (22) Camocim de São Félix (21)
Correntes (20) Gravatá (13) R. Almas(3) IIrraattaammaa ((1188)) Jurema (27)
Panelas (25) Quipapá (26) São João (30) Surubim (16) Terezinha (17)
Pombos (12) São Bento do Una (6)
Brejão (11)
Altinho (24) Ameixas (2)
B
2233
35
55..11..22.. OOCCOORRRRÊÊNNCCIIAA EE AATTIIVVIIDDAADDEE
Durante os percursos pelas estradas do Agreste pernambucano (Figura 5) foram
avistados 1.724 indivíduos de B. ibis, dos quais 48,5% ocorreram em uma única
excursão, em maio de 2002 (Tabela 3).
O valor obtido do desvio padrão mostrou uma assimetria em relação à média de
indivíduos avistados por quilômetro (M=6,6, S=7,7), nos diferentes meses e trajetos. O
trajeto B (Figura 5B), percorrido em diversos meses (Tabela 3), apresentou uma média
de 5,7 (desvio padrão: S = 3,0) indivíduos avistados por quilômetro. Este mesmo trajeto
soma 35,8% do total de indivíduos observados.
Trajeto D (Km)
T (h)
N°°°° B.ibis
% B. ibis
Ind/10km
Maio/2002/A
284
7,7
837
48,5
29,5
Julho/2002/B
214 4,0 194 11,3 9,1
Outubro/2002/B
214 4,0 66 3,8 3,1
Dezembro/2002/C
260 5,8 126 7,3 4,8
Janeiro/2003/B
214 3,0 114 6,6 5,3
Janeiro/2003/D
105 3,5 57 3,3 5,4
Janeiro/2003/E
226 4,3 77 4,5 3,4
Fevereiro/2003/B
214 4,0 185 10,7 8,6
Março/2003/F
213 5,0 2 0,1 0,1
Abril/2003/B
214 3,0 58 3,4 2,7
Abril/2003/G
301 5,0 8 0,5 0,3
Total 2459 49,3 1724 100 M = 6,6 S = 7,7
Tabela 3. Relação das excursões realizadas e resultados obtidos. (Trajeto):mês/ano/código do percurso realizado, esses percursos estão explicitados na figura 5C; (D): distância percorrida, em quilômetros; (T): tempo de observação, em horas; (N°°°° B.ibis): número de indivíduos de B. ibis avistados; (% B.ibis): número de garças-vaqueiras observadas em cada trajeto em relação ao total observado, expresso em porcentagem; (Ind/10km): número garças-vaqueiras avistadas em relação à quilometragem percorrida, expresso em número de indivíduos a cada dez quilômetros. Total de quilômetros percorridos, horas de observação e indivíduos avistados. Média(M) e desvio padrão (S) do número de indivíduos avistados em relação à quilometragem percorrida.
2244
36
Os maiores bandos, registrados durante estes percursos, ocorreram na região
Centro-oeste do Agreste, nos municípios de São Caetano, Cachoeirinha, São Bento do
Una e Lagedo. A outra localidade com ocorrência de grupos com mais de 50 indivíduos
foi o município de Pombos, de posição mais setentrional, limite entre o Agreste e a zona
da mata de Pernambuco (Figura 5).
A maioria das aves avistadas nas margens das estradas estava em atividade de
forrageamento. Destas, 69,5% encontrava-se associada com o gado bovino. Entre as
aves que estavam em repouso, 37,7% encontravam-se aglomeradas com bovinos
também descansando e 42,6% estavam próximas a açudes ou brejos. Apenas 0,6% das
aves observadas estavam em atividade de vôo (Tabela 4). Em todos os meses de
observação foram registradas garças com plumagem de reprodução.
Tabela 4. Atividades realizadas pelas garças observadas, durante os percursos pelas estradas do Agreste pernambucano, expressas em porcentagem de ocorrência: 1. Forrageamento, quando caminham procurando por alimento. 2. Repouso, quando empoleiradas, ou paradas. 3. Vôo. As garças, que estavam em atividade de forrageamento e repouso, foram distribuídas em três categorias de acordo com a presença ou não de gado ou alagados próximos.
Atividade
Ocorrência (%)
Atividade
Ocorrência (%)
1. Forrageamento 67,5 1A. Forrageando com o gado bovino 69,5 1B. Forrageando com eqüinos 7,4 1C. Forrageando sem pastadores 23,1 2. Repouso 31,9 2A. Repousando próximo ao gado 37,7 2B. Repousando próximo de açudes 42,6 2C. Repousando sem gado ou água 29,7 3. Vôo 0,6
O monitoramento da atividade reprodutiva foi realizado na colônia de garça-
vaqueira localizada na Vila de Santa Rita, Município de Brejão (09°00’37’’S e
36°31’01’’W), Agreste pernambucano.
Este ninhal se estabeleceu nas margens de um açude, construído próximo de uma
pequena estrada de terra. Segundo informações dos proprietários do açude, as garças já
ocupavam a área há aproximadamente quatro anos (desde 1998), ininterruptamente,
iniciando a ocupação um ano depois da construção do açude.
A figura 6 mostra um desenho esquemático desta área. Os ninhos foram
confeccionados sobre galhos de uma vegetação homogênea e monoespecífica
constituída de Juremas (Piptadenia obliqua) concentradas na margem Sudeste (C1 –
Figura 6 e 7) e Leste (C2-Figura 6 e 9) do açude. Um agrupamento de capim e pequenos
troncos de Jurema, na margem sul servia de local para pernoite e chegou a ser usado
para a construção de alguns ninhos (D1-figura 6 e 8). Nas margens Oeste e Sul, plantas
flutuantes (aguapé e taboa), foram utilizadas para pernoite nos meses com maior
número de aves na colônia (D2 e D3-figura 6).
Figura 6. Desenho esquemático do açude onde estava situada a colônia estudada, localizado em uma Fazenda na Vila de Santa Rita, Município de Brejão. C1 e C2.Localização das árvores utilizadas pelas garças para a construção de ninhos. D1, D2 e D3. Locais utilizados pelas garças apenas para pernoite.
2266
C1
C2
D1
D3 AÇUDE
ESTRADA
N
38
Figura 7. Árvores utilizadas para a construção de ninhos por B. ibis, da área denominada C1 da colônia de Brejão.
Figura 8. Área D1 da colônia de Brejão utilizada como dormitório pelas garças-vaqueiras.
Figura 9. Árvores utilizadas para a construção de ninhos por B. ibis, da área denominada C2 da colônia de Brejão.
2277
39
O diâmetro basal médio de 70 árvores localizadas na margem seca da colônia
(área C2) foi de 51,51cm com desvio padrão de 14,03 cm.
A altura de média de 16 árvores emersas (área C2) foi de 5,47±1.56m, de 10
árvores com a base submersa (área C2) foi de 3,59 ± 1,12 m e de sete árvores com a
base submersa em água (área C1) foi de 2,88 ± 0,35. No total a altura das árvores variou
de 1,6 a 8,0 m de altura com média de 4,72 e desvio padrão de 1,67 m.
As árvores utilizadas para pernoite e construção dos ninhos na área C2 foram
mapeadas para auxiliar no monitoramento:
Árvores com base submersa (C2)
As árvores com a base submersa na água do açude apresentaram grandes
concentrações de ninhos de garça-vaqueira, e o mapeamento destas 47 árvores está
indicado na figura 10.
Durante os períodos de coleta de dados, os meses de maio a agosto
apresentaram-se como chuvosos. A partir daí as chuvas diminuíram, ocorrendo com
baixa freqüência até o mês de abril. Em outubro a diminuição das chuvas já se notava
pelo aspecto seco da vegetação. As figuras 11 e 12 indicam a diminuição no nível de
água do açude durante o ano de monitoramento da colônia de Brejão. Esta variação
esteve relacionada ao regime de chuvas, além do desvio da água do açude para a
irrigação de plantações da fazenda. Com isso, mais da metade das árvores, inicialmente
com a base submersa no açude, ficaram em solo seco.
Em outubro o lago começou a ser coberto por aguapé, que chegou a ocupar toda
a extensão da superfície do lago em dezembro. Em março duas árvores foram tombadas
(A13 e A34), e em abril outras 21 árvores inicialmente com a base submersa na água
foram derrubadas. Restaram apenas 24 árvores das 47 existentes inicialmente, sendo 16
destas com a base na água e 8 em solo seco (Figura 12).
Figura 10. Posição das árvores com a base submersa na água da margem do açude da colônia de Brejão (C2), utilizadas para a construção dos ninhos de B. ibis, no início do monitoramento (junho de 2002). O zero do eixo das ordenadas indica a margem do açude.
Figura 11. Posição das árvores submersas da colônia de Brejão no mês de dezembro de 2002, indicando, pelo deslocamento do eixo da abscissa, que o nível da água do açude desceu aproximadamente 5 m em relação ao nível no início do monitoramento.
Figura 12. Posição das árvores ainda remanescentes no mês de abril de 2003, que no início do monitoramento possuíam a base submersa na água do açude da colônia de Brejão. Mostrando que o nível da água do açude desceu aproximadamente oito metros em relação ao nível inicial, indicado pelo deslocamento do eixo da abscissa.
Figura 13. Posição das árvores na margem seca do açude da colônia de Brejão, utilizadas para a construção de ninhos de B.ibis, no início do monitoramento (junho de 2002). O zero do eixo das ordenadas indica a margem do açude.
Figura 15. Posição das árvores utilizadas para a construção de ninhos de B.ibis, que não foram derrubadas até o mês de abril de 2003, na margem seca do açude da colônia de Brejão.
3344
86
86
Árvores com base emersa (C2)
A margem seca do açude apresentou um número de árvores, disponíveis como
substrato para construção de ninhos, superior ao número de árvores submersas na água,
alcançando, em setembro de 2002, um total de 114 árvores ocupadas com ninhos de B. ibis.
O mapeamento destas árvores encontra-se na figura 13. Em julho de 2002 foram
contadas 28 árvores derrubadas em torno da colônia e mais três árvores que continham
ninhos (T1, T2 e T3).
Em agosto, novas 44 árvores foram ocupadas pelos ninhos de B.ibis, além das
que já eram utilizadas no início do monitoramento (Figura 14). Inicialmente só eram
encontrados ninhos em árvores distantes até 14 m da margem do açude, e em agosto as
garças passaram a utilizar árvores até 32 m distantes da margem.
Em setembro de 2002 foi observado novo incremento na ocupação de árvores
utilizadas para a construção de ninhos (Figura 15), com o uso adicional de oito árvores
ainda mais distantes da margem do açude (entre 32 e 38 metros de distância da margem
do açude).
Em outubro houve a
derrubada de uma árvore
utilizada para a nidificação
das garças (T66), e outras
árvores encontravam-se
feridas, com marcas de
machado, e galhos
derrubados. Essas árvores
derrubadas eram cortadas
e transportadas para
venda (Figura 16).
Em dezembro, outras seis árvores com ninhos abandonados foram tombadas
(T5, T8, T30, T79, T110 e T113). Em janeiro, mais oito árvores com vestígios de
ninhos foram derrubadas (T6, T39, T106, T107, T108, T109, T111, T112), sendo que
seis destas, as mais distantes da margem, deram lugar a uma plantação de melancias.
Figura 16. Árvores utilizadas para construção de ninhos das garças vaqueiras da colônia de Brejão, transformadas em toras para venda.
3355
87
87
Ainda em janeiro foi ativada uma bomba para levar água do açude para a
plantação de melancias. Neste mesmo mês foram encontrados vestígios de fogueira na
área correspondente a C2, além da presença de um trator na área da colônia (Figura 17).
Em fevereiro notou-se a derrubada de outras duas árvores com ninho (T22 e
T75) e em março, mais duas árvores deixaram de compor a colônia (T12 e T32). Neste
mês a atividade reprodutiva foi retomada, porém apenas nas árvores com base
submersa.
Na última visita realizada a colônia, em abril de 2003, constatou-se que mais 21
T49A, T50, T51, T53, T54, T55, T56, T57, T62, T80 e T105) (Figuras 17 e 18). No
total, durante o período de monitoramento, foram derrubadas 71 árvores da área da
colônia, sendo que destas 43 eram utilizadas para a construção de ninhos.
Figura 17. Presença de trator na colônia reprodutiva de Brejão, auxiliando na derrubada de uma árvore com a base submersa, anteriormente utilizada como substrato para os ninhos de B.ibis.
Figura 18. Árvore marcada para monitoramento, utilizada para construção de ninhos das garças-vaqueiras da colônia de Brejão, derrubada.
3366
88
88
55..22..22 OOUUTTRRAASS EESSPPÉÉCCIIEESS
A colônia reprodutiva de Brejão
foi a única colônia mista encontrada no
Agreste. Em maio de 2002 avistou-se o
primeiro casal de garça-branca-grande,
Ardea alba (Ardeidae), construindo ninho
junto com as garças-vaqueiras (Figura 19).
O número de casais de A. alba foi
aumentando até agosto, quando
apresentaram 39 ninhos. Todos os filhotes
desta espécie deixaram seus ninhos em
novembro de 2002, e até abril de 2003 não
ocorreu mais atividade reprodutiva de A.
alba na colônia de Brejão (Figura 20).
Os ninhos de A. alba (Figura 21) foram confeccionados apenas nos galhos mais
altos de árvores com a base submersa nas águas do açude, enquanto B. ibis, além destas,
também nidificaram em árvores até 38m distantes da margem do açude, em solo seco.
Figura 20. VariaçFigura 20. Variação do número de ninhos e filhotes de Ardea alba, garça-branca-grande, na colônia de Brejão no período de maio de 2002 e abril de 2003.
Figura 19. A seta indica o primeiro casal avistado de A. alba, garça-branca-grande, construindo ninho na colônia reprodutiva localizada no município de Brejão. Maio de 2002.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
M J J A S O N D J F M AMeses
Núm
ero
de n
inho
s e
filho
tes
de A
. alb
a
ninhos
filhotes
3377
89
89
Figura 21. Localização dos ninhos de A. alba na colônia reprodutiva de Brejão. Outubro de 2002. A. Adulto de A. albapousando próximo a seu ninho. B. Setas indicam adultos e jovens de A. albapróximos ou no ninho. C. Jovens (seta curta) e adultos (setas longas) de A. alba no ninho na copa de uma árvore.
C
A
A. alba apresentou um período reprodutivo mais definido que B. ibis. Sua
atividade reprodutiva estendeu-se por seis meses na colônia de Brejão. Porém, o tempo
gasto para a reprodução por casal esteve entre três a quatro meses, já que, como
mostrado na figura 20, os últimos ninhos de A. alba foram construídos em agosto, e em
novembro a maioria dos filhotes já tinha abandonado o ninho. Diferente de B.ibis,
terminado o período reprodutivo essa garça não continuou freqüentando o local para
pernoite. Indivíduos isolados foram avistados na colônia em dezembro, janeiro e março.
3388
90
90
Nenhuma interferência sobre a dinâmica dos casais de B.ibis ocorreu devido a
presença de A. alba na colônia. Apenas poucas interações agonísticas foram observadas
quando B. ibis se aproximavam muito do ninho de A. alba (e vice-versa),
comportamento também apresentado entre os casais de B. ibis, que com o afastamento
do intruso logo cessava.
Além de A. alba, nidificaram juntamente com B.ibis na colônia de Brejão,
passeriformes e gruiformes.
Em todos os meses foi observada a presença de Certhiaxis cinnamomea
(Garrancheira, Furnaridae), na colônia. Em março construíram ninhos nas árvores A5 e
T45, em outubro foi observado um ninho na A45, e em abril um casal ocupava a A5.
Ninhos de Fluvicola nengeta (Lavadeira, Tyranidae), também foram registrados
na colônia (C2 e D1 e D2), sendo que para o revestimento interno do ninho foram
utilizadas penas de garças encontradas na área da colônia (Figura 22).
Em abril, seis ninhos que
foram construídos e ocupados por
garças no início do monitoramento,
foram transformados em ninhos de
F. nengeta, Tyrannus
melancholicus (Suiriri, Tyranidae)
e C. cinnamomea. Um ninho de T.
melancholicus foi observado em
C1 em março. Casais de
Arundinicola leucocephala
(Viuvinha, Tyranidae) também
construíram ninhos neste ambiente,
porém não nas árvores utilizadas
pelas garças.
Em outubro foi observado um indivíduo de Gallinula chloropus (Frango-d’água-
comum, Rallidae) ocupando um ninho de garça encostado na água, na árvore A32.
Outras aves comuns no açude foram: Amazonetta brasiliensis (Pé-vermelho,
Figura 22. Ninho de lavadeira, Fluvicola nengeta, Tyranidae, construído na Árvore T53 da colônia de Brejão. Outubro de 2002.
2cm
3399
91
91
Jacanidae), Latteralus melanophaius (Pinto-d’água-comum, Rallidae) e Butorides
striatus (Socozinho, Ardeidae), os dois últimos em menor número e freqüência.
PREDAÇÃO
Indivíduos de Catarthes aura (Urubu-de-cabeça-vermelha, Cathartidae) foram
avistados em todos os meses rondando a colônia, com maiores aproximações registradas
em outubro e novembro. Em novembro um vôo rasante aos ninhos da colônia fez com
que as garças presentes voassem. O Falconidae Caracara plancus (Caracará) foi visto
com freqüência na área, porém nenhuma aproximação foi registrada.
A única avistagem do Sagui-de-tufo-branco (Callithrix jaccus, Callithrichidae)
nas árvores da colônia, ocorreu no mês de setembro. Este poderia ser um potencial
predador de filhotes recém eclodidos ou ovos, em ninhos desprotegidos, porém além da
algazarra nenhuma predação foi observada.
Pegadas de mamífero foram registradas em março de 2002 (Figura 23) na
margem do açude ocupada pela colônia, entretanto não foi possível a identificação.
A presença de penas espalhadas próximas a carcaças de ninhegos e juvenis, nos
meses de setembro e outubro sugere a presença de predadores na colônia, não sendo
este, porém, identificado.
Figura 23. Pegadas de mamífero não identificado nas margens do açúde da colônia de Brejão. Março de 2003.
10cm
4400
92
92
55..22..33 NNÚÚMMEERROO DDEE IINNDDIIVVÍÍDDUUOOSS
O número de indivíduos de B. ibis presentes na colônia em todos os meses de
monitoramento encontram-se representados na figura 24. Este número representa
indivíduos reprodutivos e não reprodutivos utilizando a colônia para pernoite.
Iniciado o monitoramento, em maio de 2002, a colônia possuía cerca de 6.000
indivíduos, atingindo aproximadamente 11.000 em setembro e decrescendo até cerca de
500 garças em abril de 2003. A partir de julho de 2002 a colônia começou a sofrer
interferência antrópica, com a presença de trator e derrubada das árvores utilizadas pelas
garças nas margens do açude (ver item 5.2.1).
A diminuição de ninhos não foi acompanhada pelo número de indivíduos
freqüentando a colônia, nos meses de julho e setembro, que continuou crescendo. Em
agosto houve aumento no número de ninhos e no número de indivíduos, mas somente
em outubro o número de indivíduos começou a sofrer decréscimo, acompanhando a
diminuição no número de ninhos. Em novembro a colônia não apresentou mais
atividade reprodutiva, consistindo apenas de ninhos inativos e com pronunciada
diminuição dos indivíduos que retornavam para pernoite (Figura 24).
Garças-vaqueiras com plumagem reprodutiva foram avistadas o ano todo na
colônia, assim como indivíduos sem plumagem de reprodução. Pelo número de ninhos
multiplicado por dois obteve-se o número de indivíduos reproduzindo na colônia. A
diferença entre o número total e o número de indivíduos ocupando ninhos foi de cerca
de 3.400 a 6.800 indivíduos não-reprodutivos de maio a outubro, ou seja, de 40 a 75%
das garças presentes na colônia não estavam com ninhos. Os maiores valores
encontram-se em julho e outubro (cerca de 70 e 75% dos indivíduos não-reproduzindo),
quando houveram abruptas diminuições no número de ninhos, o que não significa que
os animais reprodutivos tenham abandonado a colônia, ou que tenham chegado novas
aves, já que estes números foram calculados a partir do número de ninhos. Em
novembro, dezembro e janeiro a interrupção da atividade reprodutiva é acompanhada
pela diminuição do número de indivíduos, com a totalidade dos indivíduos presentes na
colônia como não-reprodutivos. De fevereiro a abril tem-se cerca de 80 a 90% dos
indivíduos não-reprodutivos (cerca de 900 a 1400 indivíduos), ou seja, não ocupando
ninhos (Figura 24).
4411
93
93
O número de ninhos de A.alba foi plotado na figura 24 com a finalidade de
comparar os ciclos das duas espécies. Além do número de A. alba ser muito reduzido
frente a B.ibis, sua presença na colônia ocorreu apenas de maio a novembro. O número
máximo de ninhos de A. alba coincide com o número máximo de ninhos de B.ibis. A
diminuição sofrida pelos ninhos de B.ibis em julho, não ocorreu com A. alba, porém se
for considerado que há uma tendência linear no aumento dos ninhos desta espécie de
maio para agosto, o mês de julho então estaria apresentando uma diminuição nesse
crescimento.
Figura 24. Número de indivíduos (reprodutivos e não-reprodutivos), indivíduos reprodutivos (ind. rep), indivíduos não reprodutivos (Ind. Não-rep) e ninhos de Bubulcus ibis, além do número de ninhos de Ardea alba na colônia de Brejão, ao longo dos meses do ano. Os valores do número de indivíduos, de maio a dezembro, representam uma média de seis contagens por mês, três ao amanhecer, e três ao anoitecer, e de janeiro a março, média de três contagens, uma ao amanhecer e duas ao anoitecer. O desvio padrão destas médias é apresentado pelas barras verticais.
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
10000
11000
12000
M J J A S O N D J F M Ameses
Núm
ero
de N
inho
s e
Indi
vídu
os d
e B
. ibi
s
0
20
40
60
80
100
120
Núm
ero de ninhos de A. alba
Ninhos de B. ibis
Indivíduos de B.ibis
ind rep. B.ibis
Ind. Não-rep. B. ibis
Ninhos de A. alba
4422
94
94
55..22..44 NNIINNHHOOSS
O número de ninhos na colônia, em todos os meses de observação, está
representado na tabela 5. A tabela 6 mostra a relação do número de ninhos por árvore ao
longo do ano, onde se pode notar que a concentração de ninhos é, na maioria dos meses,
superior nas árvores com a base submersa na água. Nos meses de junho e setembro essa
relação fica semelhante entre as duas categorias de substrato para ninho.
Já haviam 813 ninhos sendo utilizados por casais no primeiro mês de
monitoramento. No mês de junho ocorreu um aumento no número de ninhos, tanto nas
árvores com a base submersa quanto nas da margem seca do açude. Em julho este
número decresce, principalmente nas árvores emersas (Figura 25 e 26). Neste mês
ocorreu o corte das árvores do entorno da colônia. Em agosto foi retomado o
crescimento da colônia em termos de número de ninhos, que se manteve até outubro.
Em novembro houve a interrupção da atividade reprodutiva, não sendo observado
nenhum ninho ativo (Figura 27A) até o mês de janeiro, quando foi avistada uma única
garça atendendo um ninho, com dois ovos. Em fevereiro, foram novamente ocupados 83
ninhos (Figura 27B), sendo acompanhada a reprodução até abril do mesmo ano. Neste
último mês os ninhos ainda continham jovens, e concentravam-se em 3 árvores com a
base submersa na água (C2) e no aglomerado da área C1 (Figura 28C).
Ninhos ativos inativos Meses Nágua Nterra C1D1 Total Nágua Nterra Total Maio 538 240 35 813 - - - Junho 883 1170 90 2143 - - - Julho 854 298 103 1255 - - -- Agosto 896 1711 130 2737 - - - Setembro 743 1754 110 2607 - - - Outubro 346 710 42 1098 - - - Novembro - - - - 263 466 729 Dezembro - - - - 187 379 566 Janeiro 1 - - - 145 333 478 Fevereiro 53 - 30 83 66 277 343 Março 62 - 55 117 62 248 310 Abril 71 - 32 103 vestígios
Tabela 5. Número de ninhos ativos e inativos na colônia de Brejão ao longo dos meses de observação. Nágua: ninhos localizados nas árvores com a base submersa na água, na área C2. Nterra: ninhos localizados nas árvores da margem seca do açude, na área C2. C1D1: ninhos localizados nas áreas C1 e D1 da colônia (todos em árvores com base submersa).
4433
95
95
0
200
400
600
800
1000
1200
1400
1600
1800
2000
M J J A S O N D J F M AMeses
Núm
ero
de n
inho
s
NáguaNterraC1D1
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
M J J A S O N D J F M Ameses
núm
ero
de n
inho
s
ativos
inativos
Figura 26. Número total de ninhos ativos e abandonados (inativos) na colônia ao longo dos meses de observação.
Tabela 6. Número de ninhos por árvore, nos diferentes meses de amostragem. A. Número de ninhos em relação ao número total de árvores com a base submersa na água do açude. T.Número total de ninhos em relação ao número de árvores localizadas na margem seca do açude nas áreas C1 e D1 do açude.
Figura 25. Representação do número de ninhos ativos ao longo do ano nos diferentes locais da colônia: Nágua: ninhos localizados nas árvores com a base submersa na água. Nterra: ninhos construídos nas árvores localizadas na margem seca do açude. C1D1: ninhos localizados nas áreas C1 e D1 do açude.
Ninhos/Árvore Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr 11,45 18,79 18,17 19,06 15,81 7,36 - - 1,00 1,13 1,38 2,96 A
T 3,69 18,00 4,81 16,14 15,39 6,28 - - - - - -
4444
96
96
Figura 27. Aspectos sobre a nidificação da garça-vaqueira na Colônia de Brejão nos meses de novembro de 2002, fevereiro e abril de 2003. A.Ausência de casais nidificando na colônia em novembro de 2002, os poucos pontos brancos são juvenis. B. Adultos chocando nos ninhos re-ocupados em fevereiro de 2003 na A5 da área C2 da colônia. C. Jovens e ninhos remanescentes na área C1 da colônia, em abril de 2003.
B
A
C
4455
97
97
A figura 28 apresenta o número de ninhos que foram marcados e seu conteúdo
(ovos e ninhegos) ao longo dos meses de observação. Em julho foram marcados 30
ninhos que somados contavam com 14 ovos e 47 ninhegos. Em agosto, dos 30 ninhos
marcados seis já haviam sido abandonados e neste mês procedeu-se a marcação de
outros 24 ninhos. O número de ninhos ativos foi decrescendo ao longo dos meses.
O mês que apresentou maior número de ovos nestes ninhos foi agosto e,
setembro apresentou o maior número de ninhegos. Em julho e setembro tem-se número
elevado de ninhegos, sendo que apenas dois ninhos marcados em julho apresentaram
ninhegos em setembro. O restante dos filhotes foi de ninhos marcados em agosto.
Apesar de setembro ter apresentado 25 ovos nos ninhos marcados, apenas sete filhotes
foram encontrados em outubro. A partir de novembro, alguns ninhos permaneceram
intactos, porém vazios.
0
10
20
30
40
50
60
J A S O N D J F MMeses
Núm
ero
de n
inho
s, o
vos
e fil
hote
s
ninhosovosninhegos
Figura 28. Número de ninhos marcados na colônia de Brejão e seu conteúdo (ovos e ninhegos) de julho de 2002 a março de 2003.
Houve elevada deserção ou abandono nesses ninhos. Dos 48 ninhos marcados
em agosto, restaram apenas 22 em outubro.
Oito ninhos foram utilizados para mais de uma postura, se do mesmo casal ou de
casais diferentes, não foi possível detectar. Apenas dois deles apresentaram intervalo de
dois meses entre uma postura e outra, os outros seis tiveram intervalo de apenas um
mês. Um desses ninhos foi observado com ovo durante três meses seguidos.
O tamanho médio dos ninhos (tabela 7) mostra que o diâmetro maior e o menor
são muito similares, resultando num formato circular (Figura 29). A medida da
4466
98
98
espessura dos ninhos foi de aproximadamente metade do diâmetro. A altura dos ninhos
marcados variou de 0,4 a 4,5 m com uma média de 2,08 m e desvio padrão de 0,78 m
(Figura 30). Os ninhos mais próximos estiveram em média a 35,4 cm de distância um
do outro, 53,5 cm distantes do segundo ninho mais próximo e 65,5 cm distantes do
terceiro ninho mais próximo, sendo que este último número sofreu a maior variação.
Comparando os resultados obtidos com o de outros autores (Tabela 8), tem-se
dois aspectos relevantes, a distância entre os ninhos da colônia de Brejão apresentou-se
menor que as obtidas em outros estudos, e tiveram a maior amplitude das alturas dos
ninhos.
Tabela 7. Média (M) e desvio padrão (D) das medidas de 30 ninhos marcados: comprimento ou diâmetro (D1), largura ou diâmetro perpendicular ao D1 (D2) e espessura do ninho e distância até o primeiro ninho mais próximo (N1), ao segundo ninho mais próximo (N2) e ao terceiro ninho mais próximo (N3).
Figura 29. Aspecto de um ninho (contendo dois ovos) de Bubulcus ibis fotografado na colônia de Brejão.
30cm
4477
99
99
Tabela 8. Comparação das medidas obtidas para os ninhos no presente estudo com outros realizados em outras localidades. A primeira linha apresenta o nome dos autores e ano da publicação dos trabalhos, seguido pelo local onde o estudo foi desenvolvido. A terceira linha apresenta o número de ninhos analisados (n). São apresentados média e desvio do diâmetro, espessura, distância ao ninho mais próximo (N1), em centímetros. Média e desvio da altura (H) e altura máxima e mínima dos ninhos observados (Hmin/max), em metros. Autor, data Local N
Figura 30. Fotos representando a variada distribuição de ninhos de B. ibs na colônia de Brejão. A. Ninhos construídos nas árvores com a base submersa na água do açude. B. Ninhos construídos em uma árvore localizada na margem seca do açude.
A B
4488
100
100
O tamanho da postura e o
número de filhotes por casal de
B. ibis nesta colônia foram
obtidos pela contagem do
número de ovos e filhotes nos
ninhos (Figura 31) nos diversos
meses de monitoramento.
A figura 32 mostra
proporção relativa de ninhos
encontrados com um, dois, três e
quatro ovos, sendo que 47% dos ninhos analisados possuíam dois ovos. A média para o
conteúdo destes 75 ninhos foi de 2,28 ovos por ninho com um desvio padrão de 0,78. A
figura 32B mostra a proporção entre o número de ninhegos por ninho, onde 52% dos
ninhos amostrados possuíam dois filhotes e o restante estava igualmente dividido entre
ninhos com um ou três filhotes. O número médio de filhotes por ninho foi de 2,00 com
o desvio de 0,69 (n=105 ninhos).
Os ovos de B. ibis apresentam a casca lisa, com coloração verde clara e a tabela
9 mostra os valores médios obtidos para o tamanho (comprimento, largura) e peso
destes, que apresentaram baixa variação (desvio padrão).
Tabela 9. Média (M) e desvio padrão (D) das medidas de 97 ovos da colônia de Brejão: comprimento, largura e peso.
Ovos (n=97)
Comprimento (mm)
Largura (mm)
Peso (g)
M 45,38 32,72 27,40 D 3,30 1,62 3,73
ninhegos/ninho
24%
52%
24%
1
2
3
ovos/ninho1%
15%
37%
47%
1
2
3
5
Figura 31. Prole de B. ibis. Fotografia de um ninho com dois filhotes e um ovo de garça-vaqueira.
Figura 32. A Proporção da ocorrência de ninhos com um, dois, três ou quatro ovos, de um total de 75 ninhos analisados. B. Proporção da ocorrência de ninhos com um, dois ou três filhotes, de um total de 105 ninhos analisados.
4499
101
101
A tabela 10 compara dados de tamanho de ovo e número de ovos por ninho
obtidos com os padrões encontrados em diversas localidades, mostrando que as médias
de tamanho dos ovos (comprimento e largura) apresentaram pouca variação (de 43 a 47
cm comprimento e de 31 a 34 cm de largura). O peso dos ovos apresentou maior
variação entre os diversos estudos (22-34 g). Dentre esses intervalos de variação
(comprimento, largura e peso dos ovos) os dados obtidos no presente estudo insere-se
com valores medianos. O número de ovos por ninho no presente estudo mostrou-se
pequeno em relação aos de outras localidades, sendo maior apenas do que o número
obtido nas Guianas por LOWE-MCCONNEL (1976).
Tabela 10. Comparação entre o tamanho (comprimento e largura), peso dos ovos e o número de ovos por ninho em diversos locais. A primeira coluna relaciona o nome dos autores e ano das publicações dos dados relacionados. A segunda coluna relaciona o local onde foram efetuadas as coleta. N. número amostrado. Local n Comprimento
Presente estudo, 2003 Pernambuco 75 45,4±3,3 32,7±1,6 27,4±3,7 2,3±0,8
5500
102
102
55..22..55 NNÚÚMMEERROO DDEE OOVVOOSS,, NNIINNHHEEGGOOSS,, JJUUVVEENNIISS EE AADDUULLTTOOSS
O número de ovos, ninhegos, juvenis e adultos chocando presentes na colônia de
Brejão, ao longo dos meses de observação, está representado na figura 33. No mês de
junho um elevado número de ovos foi visualizado nos ninhos, além de haver 278 ovos
derrubados no chão da colônia, juntamente com 20 carcaças de ninhegos. Neste mês
também ocorreu o maior número de garças trazendo gravetos para o ninho (ver item
4.2.7).
0
50
100
150
200
250
300
350
400
M J J A S O NMeses
Núm
ero
de o
vos,
nin
hego
s, ju
veni
s e
adul
tos Ovos
ninhegosJuvenisAdultos chocando
Figura 33. Gráfico representando as contagens do número de ovos, ninhegos, juvenis e adultos chocando ocupando as árvores da colônia de Brejão no período de maio de 2002 a abril de 2003.
Em julho e agosto foram avistados muitos juvenis forrageando no chão da
colônia. Em agosto foi novamente encontrado um grande número de ovos nos ninhos, e
com elevado número de ninhegos contados no mês seguinte (Figura 33).
Em setembro, além do elevado número de ninhegos contados nos ninhos, foram
encontrados muitos filhotes (e penas) caídos no chão, mortos. Porém diferente do mês
de junho, apenas um ovo foi visto no chão. Neste mês também foi observada uma ave
adulta com plumagem de reprodução bicando um ninhego morto no chão da colônia.
Em outubro a colônia ficou estranhamente silenciosa, apresentando supremacia
de filhotes médios e grandes, principalmente de A. alba (Figura 21, item 5.2.2). Foram
contados 110 juvenis forrageando no chão da colônia (Figura 34A), alguns com o bico
já ficando amarelo e um indivíduo foi observado com uma carcaça de filhote no bico
(Figura 34B). Havia 214 carcaças de filhotes no chão da colônia. Em algumas ocasiões
5511
103
103
Figura 34. Juvenis de B. ibis fotografados no mês de outubro na colônia de Brejão. A. Grupo de juvenis forrageando no chão da colônia. B. Juvenil com um filhote de B. ibis morto no bico.
os filhotes andando pelos galhos das árvores, por vezes caíam, e quando sobreviviam as
quedas não eram mais capazes de subir ao ninho, acabando por morrer de fome.
A presença de tantas carcaças associada às fezes e à falta de chuvas causaram
um odor forte de amônia e a presença de muitas moscas na colônia. Algumas carcaças
mostravam sinais de predação, com partes e penas espalhadas. Ainda no mês de outubro
foi observado que quando um adulto chegava na colônia para alimentar seus filhotes, os
jovens dos ninhos vizinhos, invadiam o ninho para roubar o alimento, causando um
tumulto que por vezes fazia com que o alimento caísse no chão (ou o ninhego), o qual
era rapidamente devorado pelos juvenis forrageando nas proximidades da colônia. Os
pais eram tão incomodados pelos filhotes implorando por alimento, que atacavam ou se
retiravam.
Em novembro a atividade reprodutiva foi totalmente interrompida, nenhum
ninho estava sendo utilizado por casais (ver Figura 27A do item 5.2.4). A colônia ficou
ainda mais silenciosa durante o dia, com poucos juvenis de B. ibis e A. alba,
perambulando. O chão da colônia estava cheio de penas e branco de fezes. No fim da
tarde ainda chegavam garças para pernoite com plumagem reprodutiva, o que também
foi observado em dezembro, janeiro e fevereiro, apesar da ausência de reprodução.
5522
104
104
De acordo com a figura 33, de forma geral, os ovos de junho poderiam ter se
tornado ninhegos em julho, e juvenis em agosto, quando se iniciou outra fase de
postura. Os ovos contados em agosto resultariam no elevado número de ninhegos em
setembro (padrão também observado na figura 28, do item 5.2.4) e no número de
juvenis presentes em outubro. Com isso têm-se novas gerações de B. ibis a cada dois
meses, com a sobreposição da fase de juvenis de uma geração com os ovos da próxima.
5533
105
105
55..22..66 FFIILLHHOOTTEESS
Os cálculos para estimativa do crescimento dos filhotes foram efetuados para
todas as medidas obtidas (tarso, cúlmem, narina-ponta e peso), porém as retas (equação
1) apresentaram um R2 muito baixo, significando que os pontos estavam muito
distantes, ou seja, que tal reta não estaria representando adequadamente esta
distribuição. O peso, por exemplo, varia muito se o animal foi recentemente
alimentado ou não, assim foram encontrados indivíduos com valores de peso menores,
três dias depois da primeira pesagem. Outras equações, não obtidas neste trabalho
podem ser capazes de adequar estas medidas ao crescimento dos filhotes.
Apenas os resultados obtidos para a medida de tarso são apresentados, pois entre
todas as variáveis aferidas esta se mostrou mais adequada. A figura 35 representa a
distribuição dos pontos e a reta obtida a partir da relação da diferença de idade por
diferença de tamanho (�T/dL) e do comprimento inicial (Li - equação 1). A tabela 11
mostra os valores utilizados para a construção da equação 2, que relaciona a idade em
função do tamanho do tarso (Figura 36). Para o cálculo de c, utilizou-se o valor do
menor filhote (Figura 37) medido, que sabidamente havia nascido naquele dia, já que o
ninho avistado no dia anterior continha apenas ovos.
Figura 35. Gráfico apresentando a relação tempo de crescimento (�T / dL = intervalo de tempo dividido pela diferença de tamanho) entre os diferentes tamanhos iniciais dos filhotes medidos (Li). E a reta traçada que melhor descreveria a distribuição destes pontos (equação 1) com seu respectivo R2.
Figura 36. Gráfico representando a equação obtida para descrever a idade do filhote em função do tamanho do tarso (equação).
Tabela 11. Funções obtidas a partir das diferenças das medidas de tarso em intervalos de dois ou três dias. Y1: equação 1, função linear que melhor descreveu a relação entre o comprimento inicial e o tempo pela diferença de tamanho apresentada. a: coeficiente angular da função Y1, utilizada na construção da função Y2 (a/2 = equação 2). b: coeficiente linear obtido da função Y1 utilizado para a construção da função Y2. x: tamanho do tarso de um indivíduo com um dia de idade, em milímetros. y: idade do filhote que apresentou a medida x do tarso. c: constante calculada pela substituição dos valores x e y em Y2. Y2: equação 2, que descreve a idade em função do tamanho do filhote.
Y1= 0,0067X1+ 0,3565 (equação 1) a B tarso idade c x (mm) y (dia)
0,00667 0,03565 9,2 1 -2,56
Y2=0,00335 X22 + 0,3565 X2 - 2,56 (equação 2)
A fim de verificar se a equação obtida
estaria descrevendo adequadamente a idade em
função do tamanho dos indivíduos, foram
substituídos os valores conhecidos de tamanho de
26 filhotes medidos a intervalos de três dias,
utilizados na confecção da equação 1, mostrando
que a equação representa de forma adequada a
diferença de idade entre as medidas aplicadas, já que
a média dos resultados obtidos pela função Y2 foi
igual ao intervalo conhecido de 3 dias (Tabela 12).
Assim temos uma equação de segundo grau
descrevendo o crescimento dos filhotes (Figura
36). Os filhotes com mais de 23 dias de idade já
estão aptos a se movimentar pelos galhos,
escapando da captura. A partir de observações de
indivíduos marcados, com cerca de 30 dias de
idade eles são capazes de voar e iniciam sua fase
de vida fora do ninho, começando o aprendizado
de procurar do próprio alimento. Nesta fase ainda
atacam os pais quando retornam a colônia, em
busca de alimento, que por sua vez rebatem com
fortes bicadas.
Y2= 0.03355 X2+0.3565-2.56
0
5
10
15
20
25
30
35
40
9 14 19 24 29 34 39 44 49 54 59 64
Tamanho de tarso (mm)
Idad
e (d
ias)
5555
107
107
�
�
Tabela 12. Eficiência da equação Y2. As medidas de tarso obtidas a intervalos de tempo conhecidos de três dias, utilizadas na confecção das equações para descrever o crescimento, foram substituídas na função para avaliação de sua eficiência. Li. Tamanho inicial do tarso, em milímetros. Lf. Tamanho do tarso do mesmo indivíduo, três dias depois da obtenção da medida Li. Y2. valores de idade obtidos substituindo Li e Lf na equação 2 construída para descrever a idade em função do tamanho do filhote, Y2=0,00335 X2
2 + 0,03565 X2 - 2,85. [Y2(x=Lf) - Y2 (x=Li)]: intervalo de tempo (�T) entre as idades calculadas a partir da equação Y2. M. média do intervalo de tempo calculado com base na equações Y2 . D. desvio padrão da média do intervalo de tempo.
Tarso (Y2=0,00335 X22 + 0,3565 X2 - 2,56)
Ninhegos Li Lf Y2 (x=Li) Y2 (x=Lf) [Y2(x=Lf) - Y2 (x=Li)] (mm) (mm) (idade em dias) (idade em dias) �T
Figura 37. Ninhego de Bubulcus ibis com cerca de um dia de idade, no seu ninho da colônia reprodutiva de Brejão.
5566
108
108
Com os valores de cúlmem dos mesmos 26 filhotes, cujas medidas de tarso estão
representadas na tabela 12, foi calculada a idade dos filhotes (em semanas) utilizando as
relações de medias de Kopij (1997). A tabela 13 apresenta os resultados obtidos e
compara com os valores obtidos a partir dos cálculos efetuados com o tarso (dos
mesmos filhotes). Cerca de 70% das idades calculadas pelos dois métodos coincidiram
(37 medidas). Excetuando-se a segunda medida do filhote 22, todas as outras idades
comparadas, que não coincidiram (14 medidas), apresentaram valores menores de idade
do que o obtido pelos cálculos utilizados a partir das medidas de tarso.
Tabela 13. Comparação da idade encontrada pela equação obtida no presente estudo a partir das medidas de tarso e a relação encontrada por Kopji (1997) entre o tamanho de Cúlmem e idade. Ninhegos: amostrados cujas medidas foram utilizadas nos cálculos das medidas de tarso. Cúlmem1: medida do cúlmem em milímetros dos ninhegos cujas medidas de tarso foram utilizadas na confecção da equação 2. Cúlmem2: Medida do cúlmem, 3 dias depois da medida cúlmem1, para o mesmo ninhego. semanas/cúlmem: idade em semanas calculada a partir da relação de Kopij (1997) com o tamanho do cúlmem. semana/tarso: idade calculada a partir da relação obtida no presente estudo a partir das medidas de tarso. Em negrito estão os valores que não coincidiram entre os métodos.
Figura 40. Proporção do número de indivíduos contados a cada quinze minutos chegando para pernoitar na colônia, nos meses de março a agosto correspondendo aos meses de outono e inverno.
Figura 41. Proporção do número de indivíduos contados a cada quinze minutos chegando para pernoitar na colônia, nos meses de setembro a fevereiro que correspondem à primavera e verão.
Quando retornavam dos locais de forrageamento para pernoitar na colônia, B.
ibis chegavam isoladamente ou em bandos de diversos tamanhos. O número de
indivíduos por grupo foi contado ao longo dos meses de estudo, e a proporção entre
essas categorias está representada nas figuras 42 e 43.
Mais de 60% dos grupos que chegavam na colônia foram constituídos de um a
dez indivíduos e cerca de 16% tinham de 11 a 20 indivíduos. Aproximadamente 10%
dos grupos continham de 21 a 30 indivíduos. As outras categorias, que variaram entre
31 e 200 indivíduos por grupo, somadas, perfizeram um pouco mais do que 10% de
participação no número total de grupos (figura 42).
Quando analisamos a contribuição em número de indivíduos das diferentes
categorias de bandos (figura 43), os grupos contendo de um a 30 indivíduos são os que
tiveram maior representatividade, sendo que cada uma destas três categorias contribuiu
com cerca de 20% dos indivíduos que chegaram na colônia. Os grupos maiores que 30
indivíduos têm sua representatividade aumentada na figura 43 (em relação à figura 42),
pois apesar de terem menor freqüência de ocorrência, trazem um número superior de
indivíduos.
0
0,2
0,4
0,6
0,8
0-10 11-20g 21-30 31-40 41-50 51-60 61-70 71-200Categorias de grupos (número de indivíduos)
Núm
ero
de g
rupo
s/To
tal
Figura 42. Média do número de grupos por categoria de tamanho entre os meses de amostragem, dividida pelo número total de grupos.
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0-10 11-20g 21-30 31-40 41-50 51-60 61-70 71-200Categorias de grupos (número de indivíduos)
Pro
porç
ão d
o nú
mer
o de
in
diví
duos
/ gru
po
Figura 43. Média do número de indivíduos por categoria de tamanho de grupo entre os diversos meses de amostragem, dividido pela somatória do número de indivíduos em todas as categorias.
6611
113
113
A direção de origem, dos grupos de garças que retornavam à colônia no fim da
tarde, também foi registrada em todos os meses de monitoramento, e a proporção obtida
do número de indivíduos chegando entre as quatro principais direções, está representada
na figura 44.
A maior parte dos grupos de indivíduos vinha da direção Leste/Sudeste de junho
até novembro quando começaram a decrescer. Contrariamente os grupos com origem
Nordeste eram numericamente pouco representativos do total de grupos chegando à
colônia em junho e foram aumentando sua representatividade ao longo dos meses até
março.
Os grupos vindos do Oeste apresentaram uma diferença na representatividade ao
longo dos meses menor que os de outras direções, ainda assim apresentaram pequenas
oscilações: sendo mais numerosos em maio, decrescendo até setembro, crescendo até
novembro, descrendo novamente até fevereiro, e finalmente crescendo até abril, onde
representaram a direção de origem mais numerosa.
Do Sul vieram poucos grupos em relação às outras direções, sendo mais
numerosos no começo do monitoramento, e decrescendo ao longo dos meses. As
direções Leste e Nordeste parecem inversamente proporcionais, quanto menos grupos
começam a chegar de Leste mais grupos passam a chegar de Nordeste.
Figura 44. Proporção do número de indivíduos entre quatro direções, chegando a colônia no fim de tarde. O desvio representa a diferença de proporção obtida em três dias de contagem, em cada mês.
Foram identificados 3.529 itens alimentares em 157 regurgitos de filhotes da
colônia reprodutiva de Brejão, coletados entre maio e outubro de 2002. O volume médio
foi de 5,8 ± 1,7 ml, com uma média de 22,4 ± 14,7 itens por regurgito (Tabela 14).
Diferentes quantidades de regurgito foram coletadas em cada mês como mostra a figura
46A, onde junho e setembro foram os meses com maior número de regurgitos, e agosto
foi o menos representativo, com apenas 10 regurgitos.
Em relação ao número de itens, outubro contribuiu com 29% do total, apesar de
ser apenas 13% do total de regurgitos coletados e 20% do volume total. O mês de julho
também teve uma participação maior em termos do número de itens por regurgito frente
ao número de regurgitos (Figura 45).
Além dos regurgitos foram coletados dois anfíbios (Leptodactylidae,
Leptodactylus ocellatus) encontrados em ninhos e uma cobra (Serpente, Colubridae,
adulto de Liophis lineatus), que jovens tentavam engolir, no chão da colônia. Estes itens
apresentaram volume elevado (23,0; 19,5 e 30,0 ml, respectivamente), e não foram
incluídos nas análises.
Tabela 14. Regurgitos coletados durante o período de estudo: R: número total de regurgitos coletados em cada mês; NT: número total de itens obtidos no mês; M(N/R): média do número de itens por regurgito obtidos em cada mês; D(N/R): Desvio padrão da média do número de itens por regurgito obtidos em cada mês; VT: Volume total dos regurgitos obtidos no mês; M(V/R): média do volume de cada regurgito por mês; D(V/R): Desvio padrão do volume dos regurgitos coletados no mês; MT: média e desvio no número de itens e volume dos regurgitos coletados em todos os meses; Total: total de itens encontrados e volume total dos regurgitos coletados.
R NT M(N/R) D(N/R) VT M(V/R) D(V/R) Maio 16 165 10,70 2,26 88,5 5,91 2,13 Julho 43 594 11,70 6,88 222,57 4,96 2,13 Julho 29 729 23,67 12,87 171,72 6,67 2,30 Agosto 10 117 15,08 11,39 23,95 3,80 4,71 Setembro 38 870 22,89 15,50 194,33 5,11 2,94 Outubro 21 1.054 50,19 44,44 180,46 8,59 5,44 MT 22,37 14.69 5,84 1,66 Total 157 3.529 881,53
6633
115
115
A figura 46A representa graficamente a média do número de itens por regurgito
(Tabela 14) nos diferentes meses de coleta. Nota-se que outubro teve um número muito
elevado de itens (relativo ao número de regurgitos) em relação aos outros meses.
Outubro também apresentou a maior variação no número de itens por regurgito. Quatro
dos 21 regurgitos de outubro foram responsáveis por 48% do número total de itens
obtido para este mês e 30% do seu volume, dois deles eram compostos basicamente por
carrapatos (Acari), um por larvas de mosca (Diptera), e o último teve elevado número
de gafanhotos (Orthoptera) e baratas (Blattariae).
A figura 46B mostra uma oscilação menor no volume, quando comparada à
variação no número de itens. Considerando o desvio padrão apresentado por estas
médias verifica-se que as amostras não são tão heterogêneas ao longo dos meses. Ainda
vale notar que o desvio apresentado para o mês de agosto foi maior que a média do
volume dos regurgitos. Isso ocorreu devido a um único regurgito, que apresentou um
volume de 10,85 ml, sendo mais do que o dobro do valor obtido para os outros nove
regurgitos deste mês.
Figura 45. Proporções relativas das amostras de regurgito obtida dos filhotes de B. ibis no período de maio a outubro de 2002, na colônia de Brejão. A. Quantidade relativa de regurgitos (R) coletados por mês. B. Número (N) total de itens encontrados por mês nos regurgitos analisados. C. Volume (V) total dos regurgitos obtidos em cada mês.
R
JL18%
AG6%
JN28%
MA10%
OU13%
ST25%
V MA10%
JN26%
JL19%
AG3%
ST22%
OU20%
N MA5% JN
17%
JL21%
AG3%
ST25%
OU29%
A B C
Figura 46. A. Média e desvio padrão do número de itens por regurgito ao longo dos meses de coleta. B. Média e desvio padrão do volume dos itens por regurgito ao longo dos meses de coleta
A tabela 15 mostra o número de indivíduos e o volume de cada grupo de presas.
Dividindo-se o número de itens obtidos pelo número de regurgitos analisados, cada
regurgito apresentou onze ortopteróides, três aranhas, três carrapatos, mais três
invertebrados e a cada dois regurgitos seria encontrado um vertebrado. Em termos de
volume, os Orthoptera teriam maior contribuição, seguidos pelos vertebrados.
Tabela 15. Principais grupos (Filo, Classe e Ordem) de presas identificadas e fragmentos (NI: não identificados) nos regurgitos coletados de filhotes, nos meses de maio a outubro de 2002, na colônia reprodutiva de B.ibis em Brejão, agreste pernambucano. NT. Número total de indivíduos de cada grupo de presa. VT. Volume total dos indivíduos obtidos nos 157 regurgitos. NT/RT. Freqüência relativa da abundância por regurgito: numero total de indivíduos de cada grupo dividido pelo número de regurgitos analisados. VT/RT. Freqüência relativa do volume por regurgito: volume de cada grupo em relação ao número total de regurgitos analisados.
Cerca de 20% do volume total foram de fragmentos decompostos, não passíveis
de identificação, além de material vegetal e mineral. Os Orthoptera constituíram 53% do
total dos itens identificados, correspondendo a 46% do volume total. Cerca de 16,3%
dos itens eram carrapatos (Acarina, Ixodidae), que contribuíram com 3,1% do volume
total. Aranhas (Aranea) constituíram 14,6% dos itens, correspondendo a 4,6% do
volume total. Outros invertebrados (Mandibulata, Insecta), divididos em 11 ordens,
somaram 13,4% dos itens e 6,0% do volume total. Os vertebrados foram cerca de 2,8%
do total de itens identificados, contribuindo com 20,4% do volume total (Figura 47).
O desvio padrão da média do número de indivíduos e do volume nos diferentes
meses de coleta (Tabela 16 e 17) mostrou que a representatividade de cada grupo varia
ao longo dos meses. Orthoptera variou de 67% do número de itens (Tabela 16) a 42% e
de 37% a 62% do volume total dos regurgitos (Tabela 17). Sua representatividade por
regurgito, também se mostra variável ao longo dos meses, sendo mais elevada em julho
e outubro (Figuras 48 e 49).
O mês de agosto apresentou elevadas proporções de Orthoptera e Acarina, com
apenas 4,3% de aranhas, apresentando baixas freqüências dos itens por regurgito frente
aos outros meses (Figuras 48 e 49).
O número de carrapatos (Acarina) foi mais elevado nos últimos três meses de
coleta em relação aos primeiros, e sua representatividade nos regurgitos se mostrou
crescente ao longo dos meses (Figuras 48 e 49). Já o volume relativo dos vertebrados
pareceu decrescer de maio até outubro.
O desvio padrão das médias dos diferentes grupos ao longo dos meses foi mais
acentuado para o número de indivíduos do que para o volume relativo, ou seja, o
volume sofreu menor variação.
N / N T
Aranea14,59%
Acarina16,35%
Outros Insecta13,40%
Vertebrata
2,81%
Orthoptera
52,85%
V / V T
Aranea4,66%
Acarina3,16%
Outros Insecta6,00%
Vertebrata
20,39%
NI19,87% Orthopter
a45,91%
Figura 47. Proporção dos indivíduos identificados em cada grupo de presa. A. Freqüência relativa por abundância: número de indivíduos de cada grupo em relação ao número total de indivíduos. B. Freqüência relativa por volume: volume dos indivíduos de cada grupo em relação ao volume dos regurgitos. NI: conteúdo não identificado.
6666
118
118
Tabela 16. Proporção do número de indivíduos de cada grupo de presa, em relação ao número total de indivíduos obtidos em cada mês de coleta, expresso em porcentagem (N/NT%). Total. Total de indivíduos de cada grupo dividido pelo total de itens encontrados em todos os regurgitos analisados. M. Média da proporção de cada grupo de presas nos diferentes meses. D. Desvio padrão das proporções encontradas para cada grupo de presa durante os meses de estudo. N/NT (%) Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Total M D Orthoptera 67,3 64,5 59,0 65,0 48,3 42,2 52,8 55,8 10,1 Outros Insecta 6,1 4,2 7,7 1,7 10,1 27,7 13,4 10,3 10,3 Aranea 15,2 17,2 22,1 4,3 16,8 7,2 14,6 13,5 7,5 Acarina 3,6 9,3 9,7 28,2 22,3 20,7 16,4 18,0 8,3 Vertebrata 7,9 4,9 1,5 0,9 2,5 2,2 2,8 2,4 1,5 Tabela 17. Proporção do volume dos indivíduos de cada grupo de presa, em relação ao volume total dos indivíduos obtidos em cada mês de coleta, expresso em porcentagem (V/VT%). Total. Volume total de cada grupo dividido pelo soma do volume de todos os regurgitos analisados. M. Média da proporção de cada grupo de presas nos diferentes meses. D. Desvio padrão das proporções encontradas para o volume de cada grupo de presa durante os meses de estudo. V/VT(%) Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Total M D Orthoptera 41,5 37,0 53,2 62,0 49,9 45,7 45,9 48,2 8,9 Outros Insecta 1,0 8,2 3,8 0,4 5,7 8,9 6,0 4,7 3,6 Aranea 1,5 4,7 6,2 3,1 5,7 3,8 4,7 4,2 1,7 Acarina 0,3 1,3 1,6 9,8 5,5 4,8 3,2 3,9 3,6 Vertebrata 28,5 26,7 20,5 16,7 13,9 16,1 20,4 20,4 6,0 Fragmentos (NI) 27.3 22.1 14.6 7.9 19.3 20.7 19.9 18,7 6,7
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
Aranea Acarina Vertebrata Orthoptera Outros Insecta NIPrincipais grupos de presa
Vol
ume
dos
itens
/regu
rgito
(V/R
) (m
l)
M
J
J
A
S
O
Figura 48. Proporção do número de indivíduos de cada grupo em relação ao número total de regurgitos em cada mês de coleta.
6677
119
119
As tabelas 18 e 19 comparam os dados obtidos com outros estudos feitos em
diversas regiões. Com exceção dos estudos nas Ilhas Virgens e na Algéria, a maior
proporção do número de indivíduos e do volume pertenceu a Orthoptera. Na Algéria, os
gafanhotos deram lugar a um maior número de outros invertebrados assim como nas
Ilhas Virgens, onde houve uma quantidade elevada de Lepidoptera, com grande
representatividade deste grupo também em volume. As aranhas tiveram uma
representação elevada no presente estudo, sendo esta proporção observada apenas nas
Ilhas Virgens e em um ano de coleta na Lousiana. Os vertebrados tiveram sua maior
representação nas Ilhas Virgens e na Flórida.
O número de itens por regurgito foi mais elevado para a Algéria, atingindo quase
o dobro do obtido no presente estudo, acompanhando sua menor representatividade de
Orthoptera e alta representatividade por outros invertebrados, que geralmente
apresentam tamanho/volume individual reduzido quando comparado aos outros itens. O
número de itens por regurgito (N/R) é menor do que o número de itens por conteúdo
estomacal (N/C) obtidos de adultos, não sendo estas medidas comparáveis.
Quanto ao volume, destaca-se depois de Orthoptera, a contribuição dos
vertebrados, apesar de não serem tão representativos em número. Este padrão foi
observado em todas as regiões relacionadas exceto nos estudos de FOGARTY & HETRICK
(1973).
Figura 49. Proporção do volume dos indivíduos de cada grupo em relação ao número total de regurgitos coletados em cada mês.
0
5
10
15
20
25
Aranea Acarina Vertebrata Orthoptera Outros InsectaPrincipais grupos de presa
Núm
ero
de ít
ens/
núm
ero
de re
gurg
itos
(N/R
) M
J
J
A
S
O
6688
120
120
Tabela 18. Freqüência relativa de abundância (N/NT) dos principais grupos de presas, e Freqüência relativa de abundância por regurgito (N/R) ou por conteúdo estomacal (N/C) obtidas em diferentes estudos, em diferentes localidades geográficas. A primeira linha contém o nome dos autores e data das publicações; a segunda linha contém o local e a época do ano em que se realizou o estudo; na terceira linha está representado o número amostral (n), acompanhado de uma letra simbolizando se a análise foi feita através de conteúdo estomacal (C) ou regurgitos de ninhegos (R).
Tabela 19. Freqüência relativa de volume (V/VT) dos principais grupos de presas, obtidas em diferentes estudos, em diferentes localidades geográficas. A primeira linha contém o nome dos autores e data das publicações; a segunda linha contém o local e a época do ano em que se realizou o estudo; na terceira linha está representado o número amostral (n), acompanhado de uma letra simbolizando se a análise foi feita através de conteúdo estomacal (C) ou regurgitos de ninhegos (R). V/VT(%) Presente estudo,
2003
Brejão Maio/Out/02
Gasset et al., 2000
lhas Virgens Janeiro
Fogarty & Hetrick, 1973
Florida Verão
Jenni, 1973
Florida Maio-Jullho
Jenni, 1969
Florida Maio/Jullho
n 157R 44C 410C 50R 50R 50R 50R Orthoptera 57,4 21,1 81,7 57,6 64,7 58,8 56,6 Outros invertebrados
Foram encontrados 1.835 Orthoptera nos 157 regurgitos analisados, distribuídos
em 5 famílias, como mostra a tabela 20. Dividindo-se o número total de Orthoptera
pelo número total de regurgitos tem-se aproximadamente 11 ortopteróides por
regurgito, correspondendo a cerca de 2,6 ml (44,8%) do volume do regurgito.
A família Acrididae (gafanhotos) foi a mais numerosa (N/NT=56,30%, Figura
50A), seguida por Tettigonidae (esperanças) e Gryllidae (grilos). Em volume, a família
Gryllidae (V/VT = 37.42%, Figura 50B) teve maior representação seguida por
Acrididae e Tettigonidae.
Ninfas e adultos ocorreram em todas as famílias, porém a distribuição entre os
estágios de vida não fez parte das análises do presente estudo.
Tabela 20. Orthoptera encontrados nos regurgitos distribuídos nas famílias identificadas. N: número de indivíduos encontrado nos regurgitos. V: Volume dos indivíduos identificados. N/R: número total de indivíduos dividido pelo número total de regurgitos. V/R: Volume total dos indivíduos dividido pelo número total de regurgitos.
Figura 50. Gráficos mostrando a proporção entre as famílias de ortopteróides encontradas nos regurgitos analisados. A. Número de exemplares de cada família, dividido pelo número total de ortopteróides. B. Volume dos indivíduos de cada família dividido pelo volume total dos Orthoptera.
N/NT Pyrgomorphidae
0,97%
Fragmentos0,43%
Romaleidae1,55% Tettigonidae
19,57%
Acrididae56,30%
Gryllidae21,18%
V/VT
Gryllidae37,42%
Acrididae34,45%
Tettigonidae17,42%
Romaleidae5,24%
Fragmentos4,86%
Pyrgomorphidae
0,61%
B A
7700
122
122
Observa-se que a média das proporções das famílias de Orthoptera nos
diferentes meses (Tabelas 21 e 22) tem valores diferentes dos obtidos dividindo-se o
número e o volume de cada família pelo total da Ordem (Figura 50). Porém sem alterar
a representatividade total, ou seja, nas duas situações Acrididae, por exemplo, é a maior
representante em termos de número e Gryllidae em volume.
Tabela 21. Proporção do número de indivíduos de cada família encontrados por regurgito (N/R) de cada mês em relação ao número total de Orthoptera, em porcentagem. M. Média do número de indivíduos por regurgito em todos os meses de coleta. D. Desvio padrão da média do número de indivíduos por regurgito nos diferentes meses.
Tabela 22. Proporção do volume dos indivíduos de cada família encontrados por regurgito em relação ao volume total de Orthoptera (V/R) de cada mês, em porcentagem. M. Média da proporção do volume por regurgito das famílias em todos os meses de coleta. D. Desvio padrão da média da proporção do volume por regurgito das famílias em todos os meses de coleta.
A família Tettigonidae teve maior representatividade nos meses de julho,
setembro e outubro, quando se analisa a proporção entre as famílias de Orthoptera
(Tabelas 21 e 22) e também quando se divide o número ou volume de Tettiogonidae
pelo número total de regurgitos do mês (Figura 51).
Comparando-se as figuras 51 e 52, tem-se a representação das diferenças entre
(a) os cálculos através da somatória do número ou volume de indivíduos encontrados
dividida pelo número total de regurgitos por mês e (b) através da média de itens por
regurgito obtido no mês, e seu desvio. Observa-se que o padrão geral não sofre
interferência. Mas no segundo cálculo tem-se a informação adicional do desvio,
mostrando que as amostras têm grande variação interna, ou seja, os regurgitos obtidos
no mesmo mês não apresentam a mesma composição, ou uma grande uniformidade
nesta composição. Lembrando que os meses de agosto, setembro e outubro, por terem
N/R Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro M D Gryllidae 36,08 23,14 25,39 30,38 14,60 20,63 25,04 7,52 Tettigonidae 9,28 7,43 23,98 16,46 28,96 21,54 17,94 8,47 Acrididae 51,55 66,57 47,85 53,16 53,71 55,33 54,70 6,35 Romaleidae 3,09 0,57 2,08 0 1,49 2,04 1,85 0,92 Pyrgomorphidae 0 2,29 0,69 0 1,24 0,45 1,17 0,81
V/R Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro M D Grylidae 63,95 34,2 39,3 53,2 22,8 36,4 41,6 14,6 Tettigonidae 7,37 9,0 24,3 13,6 24,8 22,0 16,9 7,8 Acrididae 21,16 54,8 29,7 33,2 44,5 31,9 35,9 11,9 Romaleidae 7,52 0,9 6,5 0 7,2 9,0 5,2 3,8 Pyrgomorphidae 0 1,1 0,2 0 0,6 0,6 0,4 0,4
7711
123
123
Figura 51. Variação na quantidade de Tettigonidae obtida nos regurgitos ao longo dos meses de coleta. A. Número de indivíduos por regurgito nos diferentes meses (N/R). B. Volume dos indivíduos por regurgito nos diferentes meses de coleta (V/R).
Figura 52. Variação na quantidade de Tettigonidae obtida nos regurgitos ao longo dos meses de coleta. A. Média do número de indivíduos de Tettigonidae por regurgito, por mês M(N/R)). B. Média do volume dos indivíduos de Tettigonidae por regugito, por mês (M(V/R)).
os regurgitos individualizados, apresentam maior desvio padrão quando comparados
com os meses de maio, junho e julho, onde os regurgitos foram agrupados por dia de
coleta (ver item 4.3.3).
Mais um exemplo desta variação está em Gryllidae, que quando analisados
agrupados (Figura 53) e quando se calcula a média (Figura 54), apresentam o mesmo
padrão: maio maior que junho, julho com uma quantidade elevada de grilos, que vai
decrescendo até setembro e se eleva novamente em outubro. Porém, os números
absolutos diferem principalmente nos meses de agosto e julho, onde o agrupamento de
todos os indivíduos encontrados no mês indicou o número de 3,7 grilos por regurgito
em julho, e a média apresentou 6,9 grilos por regurgito com um desvio padrão de 10,4
grilos. Essa diferença ocorreu em razão de no mês de julho, um dos dias de coleta ter
apresentado um número excepcional de grilos (28 grilos em um único regurgito),
enquanto os outros dias de coleta tiveram de um a cinco grilos por regurgito. Quando
somamos o total de indivíduos e dividimos pelo total de regurgitos, essa variação se
0
2
4
6
8
10
M J J A S OMeses
M [N
(Tet
tigon
idae
)/R]
A
0
0,4
0,8
1,2
1,6
2
M J J A S OMeses
M[V
(Tet
tigon
idae
)/R
)
B
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
M J J A S OMeses
V(T
ettig
onid
ae)/
R (
ml)
B
0
1
2
3
4
5
M J J A S OMeses
N(T
ettig
onid
ae)/
R
A
7722
124
124
torna menos aparente, mas como uma aproximação não se mostra menos real, já que
encobriu um regurgito que diferiu muito dos outros.
No mês de agosto ocorreu fato semelhante, um único regurgito, contendo 17
grilos, foi responsável pela média ter sido o dobro da soma dos indivíduos em relação
ao número total de regurgitos (NT/RT = 2,4 e M(N/R) = 4,8 ± 8,1).
A figura 55 mostra o número de indivíduos das famílias Acrididae, Romaleidae,
Pyrgomorphidae e fragmentos encontrados por regurgito nos diferentes meses. A
família Acrididae aumenta sua representatividade de maio até julho, diminuindo em
agosto (lembrando que este mês teve uma pequena amostragem) e voltando a crescer
em setembro, com a maior quantidade em outubro. O volume dos indivíduos segue
padrão semelhante ao número (figura 56).
As outras duas famílias (Romaleidae e Pyrgomorphidae) se mostraram em
menor número não sendo visualizada nenhuma tendência ao longo dos meses de coleta.
Figura 53. Variação na quantidade de Gryllidae obtida nos regurgitos ao longo dos meses de coleta. A. Número de indivíduos por regurgito nos diferentes meses (N/R). B. Volume dos indivíduos por regurgitonos diferentes meses de coleta (V/R).
0
4
8
12
16
20
M J J A S OMeses
M[N
(Gry
llida
e)/R
]
0
1
2
3
4
5
6
M J J A S OMeses
M[V
(Gry
llida
e)/R
] (m
l)
A B
Figura 54. Variação na quantidade de Gryllidae obtida nos regurgitos ao longo dos meses de coleta. A. Média do número de indivíduos de Gryllidae por regurgito por mês (M(N/R)). B. Média do volume dos indivíduos de Gryllidae por regugito, por mês (M(V/R)).
0
1
2
3
4
5
M J J A S OMeses
N(G
rylli
dae)
/R
0
0,4
0,8
1,2
1,6
M J J A S OMesesV
(Gry
llida
e)/R
(m
l)
B A
7733
125
125
Porém, quando se olha para a figura 56, que relaciona o volume de cada família ao
longo dos meses verifica-se que apesar da família Romaleidae ter sido encontrada em
menor número, ela tem uma considerável representatividade em volume.
Figura 55. Número de indivíduos, por regurgito (N/R), pertencentes às famílias Acrididae, Romaleidae e Pyrgomorphidae, além de fragmentos de Orthopteras não identificados ao nível de família, nos diferentes meses de coleta.
Figura 56. Volume dos indivíduos por regurgito (V/R), pertencentes às famílias Acrididae, Romaleidae e Pyrgomorphidae, além de fragmentos de Orthopteras, nos diferentes meses de coleta.
Para os indivíduos das famílias Acrididae, Romaleidae e Pyrgomorphidae foi
possível a identificação até a categoria de subfamília, gênero ou espécie, e os números
encontrados para cada categoria estão representados na tabela 23. A família Acrididae
foi representada por cinco subfamílias e 9 espécies identificadas. A família Romaleidae
foi constituída unicamente por Xileus sp. e a família Pyrgomorphidae representada por
Algete brunneri.
A proporção encontrada para as espécies identificadas encontra-se na figura 57,
em relação ao número, e na figura 58, em relação ao volume. Abracris sp. foi a
principal responsável pela elevada representatividade em número da família Acrididae,
já em volume a contribuição de Gomphocerinae teve papel mais representativo, através
de Rammatocerus sp. e Amblytropidia ferruginosa.
Tabela 23. Número de indivíduos (N) das espécies e subfamílias identificadas, pertencentes às famílias Acrididae, Romaleidae e Pyrgomorphidae, da Ordem Orthoptera. Família Subfamília N Gênero/Espécie N Acrididae Ommatolampinae 551 Abracris dilecta 119 Abracris sp. 432 Gomphocerinae 160 Rammatocerus sp. 48 Amblytropidia ferruginosa 112 Leptysminae 54 Stenopola sp. 40 Cylindrotettix reverae orientalis 6 Sternacris xantoclora 8 Cyrcanthacridinae 5 Schistocerca pallens 5 Acridinae 14 Eutrixalis filata 14 NI 210 NI 210 Fragmentos 56 Fragmentos 56 Romaleidae Romaleinae 29 Xileus sp. 29 Pyrgomorphidae Pyrgomorphidae 18 Algete brunneri 18
7755
127
127
N/NT
5,1%
2,6%
1,6%
39,4%
10,8%
19,1%
0,7%
0,5%
0,5%
1,3%
3,6%10,2% 4,4%
Abracris dilecta
Abracris sp.
Rammatocerus sp.
Amblytropidia ferruginosa
Stenopola sp.
Cylindrotettix reverae orientalis
Sternacris xantoclora
Schistocerca pallens
Eutrixalis filata
NI
Fragmentos
Xileus sp.
Algete brunneri
Figura 57. Freqüência relativa da abundância (N/NT) das espécies identificadas, pertencentes às famílias Acrididae, Romaleidae e Pyrgomorphidae, Ordem Ortopthera, obtidas nos regurgitos analisados.
V/VT
23,9%
8,5%
1,3%
9,5%
10,3%
11,2%
1,0%6,8%
19,3%
3,8%
3,2%
0,8%
0,4%
Abracris dilecta
Abracris sp.
Rammatocerus sp.
Amblytropidia ferruginosa
Stenopola sp.
Cylindrotettix reverae orientalis
Sternacris xantoclora
Schistocerca pallens
Eutrixalis filata
NI
Fragmentos
Xileus sp.
Algete brunneri
Figura 58. Freqüência relativa do volume (V/VT) das espécies identificadas, pertencentes às famílias Acrididae, Romaleidae e Pyrgomorphidae, Ordem Ortopthera, obtidas nos regurgitos analisados.
7766
128
128
55..33..33 AACCAARRIINNAA
Foram encontrados 577 carrapatos (Chelicerata, Acarina) todos pertencentes à
família Ixodidae e a espécie Boophilus microplus. Com exceção de um único indivíduo
macho, todos eram fêmeas teleóginas, com o aparelho bucal intacto.
Em média, foram encontrados três a quatro carrapatos por regurgito, porém o
desvio foi elevado, indicando uma grande variação neste número. Pode-se observar que
enquanto em maio foi encontrado um carrapato em cada dois ou três regurgitos
analisados em outubro tem-se mais que 10 carrapatos por regurgito. Apesar de
numerosos a contribuição em volume é pequena, correspondendo a 27,9 ml (3,2%) do
volume total de todos os regurgitos e a uma média de 0,19 ml (3,3%) por regurgito
(Tabela 24).
Nota-se também, na tabela 24, a quantidade crescente de carrapatos encontrados
por regurgito ao longo dos meses de coleta, tanto em número quanto em volume (como
já foi observado no item 5.3.1).
Tabela 24. Carrapatos encontrados nos meses amostrados. N. número de indivíduos obtidos no mês. V. Volume total dos indivíduos encontrados no mês correspondente. N/R. Número de indivíduos em relação ao número de regurgitos de cada mês. V/R. Volume dos indivíduos de cada mês dividido pelo número de regurgito. Total: do número de carrapatos encontrados na amostragem, do volume dos carrapatos encontrados, do número total de carrapatos encontrados dividido pelo número total de regurgitos da amostra e do volume total dos carrapatos dividido pelo número total de regurgitos. M. média do número de indivíduos e do volume por regurgito por mês. D. Desvio padrão do número de indivíduos e do respectivo volume por mês. Ixodidae Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Total M D N 6 55 71 33 194 218 577 V(ml) 0,25 3 2,8 2,35 10,75 8,75 27,9 N/R 0,38 1,28 2,45 3,30 5,11 10,38 3,68 3,81 3,61 V/R(ml) 0,02 0,07 0,10 0,24 0,28 0,42 0,18 0,19 0,15
7777
129
129
55..33..44 AARRAANNEEAA
Foram encontradas 515 aranhas, pertencentes a oito famílias, nos 157 regurgitos
coletados, constituindo 41,08 ml (4,7%) do volume total analisado (Tabela 25).
Dividindo-se o número total de aranhas encontradas pelo total de regurgitos coletados
têm-se cerca de três aranhas por regurgito, correspondendo a 0,26 ml (4,5%) do volume
do regurgito.
Tabela 25. Aranhas encontradas nos regurgitos distribuídos nas famílias identificadas. N: número de indivíduos encontrados nos regurgitos. V: Volume total dos indivíduos encontrados. N/R: número total dividido pelo número total de regurgitos. V/T: Volume dos indivíduos dividido pelo número total de regurgitos coletados.
As figuras 59 e 60 mostram a proporção das oito famílias de aranhas
identificadas nos regurgitos. A família Lycosidae foi responsável por cerca de 70% do
total de aranhas encontradas tanto em volume como em número de indivíduos. A
segunda família mais numerosa foi Araneidae com aproximadamente 10% do número e
do volume de aranha. A família Oxyopidae, apesar de constituir 7% das aranhas
identificadas contribuiu com apenas 1,3% do volume de aranhas consumido.
Contrariamente, a família Psauridae com 4,6% do número de aranhas obtidas,
contribuiu com 13% do volume total de aranhas nos regurgitos.
Quando se calcula a média das proporções entre as famílias de aranhas ao longo
dos meses (Tabelas 26 e 27) tem-se a família Lycosidae com cerca de 76% da
representatividade tanto em número como em volume, seguida por Araneidae com
apenas 9% do total de aranhas encontradas. A média neste caso aumenta ainda mais a
representatividade de Lycosidae em relação ao total de aranhas (N/NT).
7788
130
130
Figura 59. Proporção do número de indivíduos obtidos por família pertencentes à Ordem Aranea encontrados nos regurgitos coletados.
Figura 60. Proporção do volume dos indivíduos obtidos em cada família, em relação ao volume total dos itens pertencentes à Ordem Aranea encontrados nos regurgitos coletados.
N/NT
Lycosidae70,5%
Fragmentos de aranha1,9%
Araneidae10,7%
Oxyopidae7,0%
Anyphaenidae0,4%
Philodromidae0,2%
Theraphosidae0,2%
Psauridae4,7%
Salticidae0,6%
AranhasNI3,9%
V/VT
Lycosidae69,8%
Fragmentos de aranha
3,0%
Araneidae9,3%
Oxyopidae1,3%
Anyphaenidae0,2%
Theraphosidae0,2%
Psauridae13,3%
Salticidae0,2%
AranhasNI2,6%
7799
131
131
Tabela 26. Proporção do número de indivíduos pertencentes a cada família identificada de Aranea ao longo dos meses de coleta, assim como de aranhas não identificadas (NI) e fragmentos. M. Média da proporção do número de indivíduos de cada família em todos os meses de coleta. D. Desvio padrão da média do número de indivíduos de cada família em todos os meses de coleta. N/R (%) Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro M D Lycosidae 96,00 87,25 74,53 100,00 60,27 43,64 76,95 21,88 Araneidae 4,00 2,94 5,59 - 23,29 15,27 8,52 8,90 Oxyopidae - 4,90 10,56 - 8,90 - 4,06 4,81 Psauridae - 1,96 3,73 - - 31,27 6,16 12,39 Salticidae - - 0,62 - 1,37 - 0,33 0,57 Theraphosidae - - 0,62 - - - 0,10 0,25 Philodromidae - - - - 0,68 - 0,11 0,28 Anyphaenidae - - - - - 1,45 0,24 0,59 AranhasNI - - 2,48 - 3,42 8,36 2,38 3,28 Fragmentos de aranha - 2,94 1,86 - 2,05 - 1,14 1,30
Tabela 27. Proporção do volume dos indivíduos pertencentes a cada família identificada de Aranea ao longo dos meses de coleta, em relação ao total de aranhas de cada mês. M. Média da proporção do volume dos indivíduos de cada família em todos os meses de coleta. D. Desvio padrão da média do volume dos indivíduos de cada família em todos os meses de coleta. V/R (%) Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro M D Lycosidae 84,62 78,37 71,96 100,00 71,72 43,64 75,05 18,61 Araneidae 15,38 2,40 2,80 - 18,25 15,27 9,02 8,11 Oxyopidae - 0,96 1,87 - 2,28 - 0,85 1,03 Psauridae - 15,38 15,89 - - 31,27 10,42 12,77 Salticidae - - 0,00 - 0,46 - 0,08 0,19 Theraphosidae - - 0,93 - - - 0,23 0,39 Philodromidae - - - - 0,00 - 0,00 0,00 Anyphaenidae - - - - - 1,45 0,24 0,59 AranhasNI - - 0,93 - 1,82 8,36 1,85 3,27 Fragmentos de aranha - 2,88 5,61 - 5,02 - 2,25 2,63
As figuras 61 e 62 mostram o número e o volume das famílias identificadas de
aranhas por regurgito nos diferentes meses de coleta. A família Lycosidae teve uma
representação elevada em todos os meses, apresentou um crescimento em número e
volume de maio até julho (mês com o máximo de representatividade), decrescendo até
outubro em volume. O mês de agosto apresentou um número menor de Lycosidae, em
relação aos outros meses, que, entretanto não foi acompanhado pelo volume. Assim, um
número menor de aranhas desta família foi capturado este mês, porém com maior
volume.
A família Araneidae teve sua maior representatividade nos meses de setembro e
de outubro. A família Psauridae ocorreu com maior freqüência nos meses de julho e
outubro. As outras quatro famílias tiveram ocorrência muito baixa em relação às
primeiras em todos os meses.
8800
132
132
Figura 62. Volume dos indivíduos das famílias de Aranea encontrados em relação ao número de regurgitos coletados por mês, além das aranhas que não puderam ser identificadas (NI) e dos fragmentos encontrados.
Figura 61. Número de indivíduos identificados de cada família de Aranea em relação ao número de regurgitos obtidos por mês, além das aranhas que não puderam ser identificadas (NI) e dos fragmentos encontrados.
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0,35
Lyco
sidae
Arane
idae
Oxyop
idae
Psaur
idae
Saltici
dae
Thera
phos
idae
Philod
romida
e
Anyph
aenid
ae
Aranh
asNI
Fragm
entos
de ar
anha
Famílias
Vol
ume
por r
egur
gito
(ml)
MJJASO
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
5,5
Lyco
sidae
Arane
idae
Oxyop
idae
Psaur
idae
Saltici
dae
Thera
phos
idae
Philod
romida
e
Anyph
aenid
ae
Aranh
asNI
Fragm
entos
de ar
anha
Famílias
Núm
ero
de in
diví
duos
por
reg
urgi
to MJJASO
8811
133
133
Fica evidenciado pela tabela 28 que o mês de julho teve uma representatividade
do grupo Aranea bem mais elevada (sete indivíduos por regurgito) que os outros meses
(de 0,5 a 3,8 indivíduos por regurgito). Essa diferença também é representada pelo
volume, porém em menor escala. Em média, de maneira semelhante ao encontrado
dividindo-se o total de aranhas pelo total de regurgitos, têm-se quase três indivíduos por
regurgito com elevado desvio e 0,3 ml (5,2%) por regurgito, correspondendo a aranhas.
Parte das aranhas encontradas foram identificadas até a categoria de espécie.
Dentro da família Araneidae foram identificados indivíduos de Argiope argentata; da
família Psauridae, Thaumasia sp. e Ancylometes rufus. A família Oxiopidae foi
representada por Oxyopes salticus e a família Anyphaenidae, por Teudis sp.
Tabela 28. Número de aranhas por regurgito por mês (N/R) e Volume dos indivíduos de aranha por mês (V/R). M. Média do número e volume dos indivíduos nos meses de coleta. D. Desvio padrão da média do número e volume dos indivíduos nos meses de coleta. Aranea Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro M D N/R 1,56 2,37 7,00 0,50 3,84 1,00 2,71 2,41 V/R (ml) 0,08 0,24 0,47 0,20 0,29 0,33 0,27 0,13
8822
134
134
55..33..55 OOUUTTRROOSS IINNSSEECCTTAA
Além de Orthoptera, outras 11 ordens do Filo Mandibulata, Superclasse
Hexapoda, Classe Insecta, foram identificadas no conteúdo dos regurgitos coletados
(Tabela 29). Dentre estas, as ordens mais representativas foram: Diptera (moscas),
Blattariae (baratas), Mantodea (louva-deus) e Lepidoptera (mariposas).
Tabela 29. Ordens identificadas de Insecta, exceto Orthoptera, encontradoas nos regurgitos analisados, com seus respectivos: N. número de indivíduos presentes nos regurgitos. V. Volume dos indivíduos presentes na amostra. N/R. Número de indivíduos em relação ao número de regurgitos analisados. V/R. Volume dos indivíduos de cada grupo em relação ao número total de regurgitos. NI. Insecta não identificado. Total de “Outros Insecta”. Outros Insecta N V (ml) N/R V/R (ml) Mantodea 66 4,67 0,42 0,03 Phasmida 6 1,90 0,04 0,01 Blattariae 68 11,95 0,43 0,08 Lepidoptera 24 7,52 0,15 0,05 Odonata 5 0,50 0,03 0,00 Hymenoptera 7 0,17 0,04 0,00 Diptera 234 14,33 1,49 0,09 Hemiptera 5 2,90 0,03 0,02 Homoptera 9 3,17 0,06 0,02 Coleoptera 7 1,52 0,04 0,01 Neuroptera 2 1,20 0,01 0,01 NI 40 3,10 0,25 0,02 Total 473 52,92 3,01 0,34
(N/NT)
1,5%
8,5%0,4% 14,0%
1,3%
14,4%
49,5%
1,5%
1,1%
5,1%
1,9%
1,1%
Mantodea
Phasmida
Blattariae
Lepidoptera
Odonata
Hymenoptera
Diptera
Hemiptera
Homoptera
Coleoptera
Neuroptera
Hexapodas NI
Figura 63. A. Representação da proporção do número de indivíduos das diversas ordens de Insecta (exceto os Orthoptera), encontrados nos regurgitos analisados. B. Representação da proporção do volume dos indivíduos das diferentes ordens encontrados nos regurgitos analisados.
(V/VT)
5,5%6,0%
14,2%
0,9%0,3%
27,1%
22,6%
3,6%
8,8%
2,3%5,9%
2,9%
Mantodea
Phasmida
Blattariae
Lepidoptera
Odonata
Hymenoptera
Diptera
Hemiptera
Homoptera
Coleoptera
Neuroptera
Hexapodas NI
A B
8833
135
135
Como apresentado na figura 63, Diptera contribui com quase 50% do número
dos insetos (exceto Orthoptera) encontrados nos regurgitos e foram responsáveis apenas
por 27% do volume destes invertebrados. Por outro lado, os outros dois grupos mais
abundantes, Blattariae e Lepidoptera, tiveram menor contribuição em número (14,4 e
8,5%, respectivamente) frente à representatividade em volume (22,6 e 14,2%,
respectivamente).
Vale notar que dentro das ordens Diptera e Lepidoptera foram encontradas
distinções entre a fase do ciclo de vida (Tabela 30). Lepidoptera tem seus indivíduos
igualmente distribuídos nas duas fases em número, sendo que as lagartas superam em
volume a fase metamorfoseada. Diptera também apresentou um número elevado do
estagio larval frente à fase adulta. Todas estas larvas de Diptera fizeram parte de um
único regurgito, obtido em julho, com poucos adultos e predominância das larvas.
Mesmo retirando-se esse regurgito da amostra de outubro, este ainda foi o mês onde se
obteve o maior número de “Outros Insecta” (Figura 64).
Tabela 30. Número de indivíduos (N), volume (V) e relação com o número total de regurgitos (N/R e V/R) dos representantes das ordens Lepidoptera e Diptera, de acordo com a etapa do ciclo de vida: larval ou adulta.
Figura 64. A. Número de Insecta (excetuando-se os Orthoptera) em relação ao número de regurgitos coletados em cada mês de amostragem. B. Volume de Insecta (excetuando-se os Orthoptera) em relação ao número de regurgitos coletados em cada mês de amostragem. No mês de outubro tem-se duas colunas: em cinza está representada a amostra total com 21 regurgitos, e com linhas diagonais, apenas 20 regurgitos, onde o regurgito contendo apenas Diptera foi retirado da análise.
8844
136
136
A tabela 31 compara os resultados obtidos com outros estudos, em outras
regiões. Com exceção dos estudos de GASSET et al. (2000), onde foram encontradas
quantidades elevadas de Lepidoptera em relação às outras localidades, a freqüência de
abundância deste grupo esteve entre 0,6 (presente estudo) e 1,7%. Nota-se que a
presença relativa em número de larvas e adultos de Lepidoptera manteve-se constante
(aproximadamente 50% de cada fase) nos diferentes estudos, sendo que, evidentemente,
as larvas de Lepidoptera apresentam volume mais expressivo que os adultos.
Larvas de Diptera não foram encontradas na maior parte dos estudos, e mesmo
na colônia de Brejão estes estiveram presentes apenas em um dos regurgitos. A
presença de Diptera esteve entre 4,65 a 16,7% de freqüência de abundância, sendo estes
valores máximos e mínimos pertencentes a estudos da mesma localidade em anos
diferentes (BURNS & CHAPIN 1969). A presença de Blattariae só foi representativa no
presente estudo, sendo encontradas também na Algéria e na Flórida em quantidades
reduzidas. O mesmo se aplica à ordem Mantodea.
Tabela 31. Freqüências relativas de abundância (N/NT) e volume (V/VT) em porcentagem (%) obtidas para algumas ordens de Insecta em diversos estudos. Primerira linha: nome e ano da publicaçào,; segunda linha: localidade e época da coleta; Terceira linha número amostral (n), onde R, significa amostras de regurgitos de filhotes e C, de conteúdo estomacal. Presente estudo,
Foram encontrados 99 vertebrados nos 157 regurgitos analisados, que
contribuíram com 179,76 ml (20,4%) do volume total, o que equivale à cerca de 1,14 ml
(24,1%) por regurgito (Tabela 32). Em virtude do elevado volume destes indivíduos,
este grupo teve contribuição representativa no conteúdo dos regurgitos, apesar do
número de indivíduos ser pequeno em relação aos outros grupos (e.g. “Outros Insecta”).
Os anfíbios tiveram a maior representação constituindo quase que 80% do
número total de vertebrados, tanto em número quanto em volume. Seguidos pelos
lagartos com cerca de 20% do número e volume de vertebrados obtidos nos regurgitos
(Figura 65). Apenas um mamífero (Rodentia, jovem) foi encontrado e duas serpentes.
Tabela 32. Classe e subordens pertencentes ao subfilo Vertebrata encontrados nos regurgitos analisados. N. número de itens encontrados na amostra; V. volume dos itens encontrados na amostra. N/R. número de indivíduos dividido pelo número total de regurgitos analisados. V/R. Volume dos indivíduos encontrados divididos pelo volume total de regurgitos analisados. Total de vertebrados obtidos nos regurgitos.
Figura 65. A. Proporção do número de indivíduos dos diferentes grupos de vertebrados encontrados na amostragem. B. Proporção do volume dos indivíduos nos diferentes grupos de vertebrados encontrados na amostragem.
N/NT
Amphibia79%
Mammalia2%
Lacertilia18%
Serpentes1%
V/VT
Mammalia2%Lacertilia
21%
Amphibia77%
Serpentes0%
A
8866
35
35
De acordo com os estudos relacionados na tabela 33, entre os grupos dos
vertebrados, os anfíbios são os mais encontrados na dieta de B. ibis, seguidos dos
lagartos, com exceção do trabalho de GASSET et al. (2000), onde os lagartos superam os
anfíbios e no caso de BOUKHEMZA et al. (2000) onde os mamíferos foram mais
abundantes. A presença de peixes foi obtida apenas na África. Poucas aves foram
encontradas na Lousiana (EUA) e Algéria (África). No presente estudo, nenhuma ave
foi encontrada nos regurgitos, porém um juvenil foi visto tentando engolir um ninhego
que se encontrava morto no chão da colônia (ver item 5.2.1). Em relação ao volume
(Tabela 34) segue-se o padrão obtido para a freqüência relativa de abundância.
Tabela 33. Freqüência relativa de abundância (N/NT) dos vertebrados obtidas em diferentes estudos, em diferentes localidades geográficas na dieta da garça-vaqueira. A primeira linha contém o nome dos autores e data das publicações; a segunda linha contém o local e a época do ano em que se realizou o estudo; na terceira linha está representado o número amostral (n), acompanhado de uma letra simbolizando se a análise foi feita através de conteúdo estomacal (C) ou regurgitos de ninhegos (R).
Tabela 34. Freqüência relativa do volume (V/VT) dos vertebrados obtidas em diferentes estudos, em diferentes localidades geográficas, na dieta da garça-vaqueira. A primeira linha contém o nome dos autores e data das publicações; a segunda linha contém o local e a época do ano em que se realizou o estudo; na terceira linha está representado o número amostral (n), acompanhado de uma letra simbolizando se a análise foi feita através de conteúdo estomacal (C) ou regurgitos de ninhegos (R).
Os anfíbios encontrados nos regurgitos foram identificados como pertencentes a
três famílias, sendo a mais numerosa Leptodactylidae. Dividindo-se o número total de
anfíbios pelo número total de regurgitos tem-se que a cada dois regurgitos encontrar-se-
ia um anfíbio, contribuindo com 0,88 ml (15,2%) de cada regurgito (Tabela 35).
Cerca de 18% dos anfíbios encontrados não puderam ser identificados, por
estarem já parcialmente digeridos. À família Leptodactylidae pertenceram os maiores
exemplares, sendo que em volume constituíram cerca de 80% do total de anfíbios, e em
número cerca de de 50% (Figura 66).
Tabela 35. Famílias dos anfíbios obtidos na amostragem. NI. Anfíbios não identificados. N. número de indivíduos de cada grupo. V. Volume dos indivíduos de cada grupo. N/R. Número de indivíduos obtidos na amostragem dividido pelo número de regurgitos analisados. V/R. Volume dos indivíduos obtidos na amostragem dividido pelo número de regurgitos analisados.
Figura 66. A. Proporção do número de indivíduos pertencentes as diferentes famílias de anfíbios. B. Volume relativo de cada família de anfíbio.
8888
37
37
A tabela 36 mostra a variação da participação dos anfíbios nos diferentes meses,
com a média do número e do volume superiores ao calculado pela divisão do número
total de indivíduos pelo número total de regurgitos (tabela 35), e com uma variação
relativamente menor quando comparada a outros grupos (e.g. aranhas).
Tabela 36. Número de indivíduos por regurgito (N/R) e Volume dos indivíduos por regurgito (V/R) do grupo Amphibia nos diferentes meses de coleta. M. média do número e volume de índividuos por mês. D. desvio padrão da média do número e volume de indivíduos por mês.
Maio Junho Julho Setembro Outubro M D N/R 0,69 0,47 0,21 0,47 1,00 0,57 0,30 V/R (ml) 1,54 0,87 1,00 0,60 1,14 1,03 0,35
O maior número de leptodactilídeos ocorreu no mês de maio como mostra a
figura 67 e a tabela 37, tendo este mês também a maior ocorrência de Bufonidae (84%),
sem a presença de Hylidae. Apesar de julho ter a menor ocorrência de leptodactilídeos
em número, esse padrão não foi acompanhado pelo volume (Figura 68 e Tabela 38),
significando que menos indivíduos foram capturados, porém de maior tamanho. A
amostragem do mês de agosto não apresentou nenhum anfíbio, tendo também um menor
número regurgitos amostrado. Os meses de junho e setembro foram os únicos que
apresentaram representantes das três famílias. Em outubro têm-se 80% dos Hylidae
encontrados nos regurgitos (Tabelas 37 e 38), que apresentaram-se em número
semelhante ao dos leptodactilídeos, porém em volume os últimos são mais
representativos (Figuras 67 e 68).
A última linha das tabelas 37 e 38 mostra o número e o volume de cada mês de
coleta em relação à somatória de todos os meses, e, assim como a tabela 36, indicam
que maio e outubro foram os meses que apresentaram maior quantidade de anfíbios,
sendo maio superior em volume e outubro, em número.
Quando em estado de conservação adequado os indivíduos foram identificados
até a categoria de gênero ou espécie. A tabela 39 mostra as espécies encontradas,
pertencentes às três famílias tratadas e sua ocorrência (número e volume, por regurgito).
Os representantes mais numerosos foram: Leptodactylus ocellatus e Physalaemus sp.
(Figura 69) pertencentes à família Leptodactylidae e Hyla oliverai à família Hylidae.
8899
38
38
Figura 67. Número de indivíduos das diferentes famílias de Amphibia encontradas, por regurgito nos diferentes meses de coleta, além de fragmentos e indivíduos não identificados (NI).
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
Leptodactylidae Bufonidae Hylidae NI FragmentosFamílias
Vol
ume
dos
indi
vídu
os p
or re
gurg
ito (m
l)
M
J
J
S
O
0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
0,6
Leptodactylidae Bufonidae Hylidae NI FragmentosFamílias
Núm
ero
de in
diví
duos
/Reg
urgi
to
M
J
J
S
O
Figura 68. Volume dos indivíduos das diferentes famílias de Amphibia encontradas, por regurgito nos diferentes meses de coleta, além de fragmentos e indivíduos não identificados (NI).
9900
39
39
Tabela 39. Espécies identificadas de anfíbios. N. Número de indivíduos encontrados em toda a amostra. V. Volume total dos indivíduos de cada espécie, N/R. número de indivíduos da espécie dividido pelo número total de regurgitos. V/R. Volume dos indivíduos da espécie dividido pelo número total de regurgitos. NI. Indivíduos não identificados. Família Espécie N V N/R V/R Leptodactylidae Leptodactylus ocellatus 16 83,30 0,10 0,53 Physalaemus cuvieri 1 0,30 0,01 0,00 Physalaemus sp. 16 14,15 0,10 0,09 Leptodactylus sp. 3 14,50 0,02 0,09 NI 4 0,45 0,03 0,00 Bufonidae Bufo granulosus 3 8,00 0,02 0,05 Hylidae Hyla sp. 2 0,45 0,01 0,00 Hyla oliverai 9 3,51 0,06 0,02 Philomedusa hypocondrialis 1 1,80 0,01 0,01 NI NI 17 11,05 0,11 0,07 fragmentos 6 1,35 0,04 0,01 Total 78 138,86 0,45 0,88
N/R Maio Junho Julho Setembro Outubro Leptodactylidae 0,33 0,12 0,08 0,20 0,26 Bufonidae 0,84 0,16 0,00 0,00 0,00 Hylidae 0,00 0,04 0,00 0,15 0,81 NI 0,00 0,55 0,18 0,14 0,13 Fragmentos 0,00 0,00 0,19 0,29 0,52 Total 0,24 0,16 0,07 0,17 0,35
V/R Maio Junho Julho Setembro Outubro Leptodactylidae 0,29 0,16 0,20 0,11 0,25 Bufonidae 0,82 0,18 0,00 0,00 0,00 Hylidae 0,00 0,05 0,00 0,58 0,37 NI 0,00 0,37 0,49 0,13 0,02 Fragmentos 0,00 0,00 0,72 0,13 0,15 Total 0,30 0,17 0,19 0,12 0,22
Figura 69. Item identificado nos regurgitos de garça-vaqueira. Anfíbio pertencente a família Leptodactylidae, gênero Phisalaemus sp., camuflado em uma árvore próxima da colônia de Brejão.
Tabela 38. Proporção do volume dos anfíbios das diversas famílias por regurgito de Amphibia entre os meses de coleta.
Tabela 37. Proporção do número de indivíduos das diversas famílias por regurgito de Amphibia entre os meses de coleta.
9911
40
40
RREEPPTTIILLIIAA
Os Reptilia constituiram cerca de 20% dos vertebrados. Como mostra a tabela 40
este grupo foi representado por 18 lagartos (Lacertilia) e duas serpentes (Serpentes). Os
lagartos foram identificados como pertencendo a três famílias sendo a mais
representativa (em número e volume) Scincidae (Figura 70). Os Scincidae pertenceram
todos a uma mesma espécie Mabuya agmostichia. O único Teidae foi identificado como
sendo um exemplar de Ameiva ameiva. Obteve-se apenas um exemplar da família
Anguidae. Duas serpentes foram encontradas no mês de junho, ambas eram exemplares
jovens pertencentes à família Colubridae, espécie Liophis lineatus.
Os lagartos foram observados todos os meses nos regurgitos. O número foi
decrescendo de maio a setembro e em outubro cresceu (Figura 71). Em termos de
volume o padrão não é tão uniforme, sendo que julho, agosto e outubro apresentaram
quantidades mais elevadas que os outros meses e, dentre esses, agosto foi o que teve
maior contribuição (Figura 72). Anguidae e Teidae foram ocasionais, o primeiro
ocorrendo apenas no mês de junho e o segundo em julho.
Tabela 40. Grupos de Reptilia encontrados nos 157 regurgitos obtidos de filhotes, na colônia reprodutiva de Brejão, no período de maio a outubro de 2002. Relaciona-se Subordem, Família e Espécies identificadas ao número obtido (N), volume total dos indivíduos (V), número dividido pelo total de regurgitos (N/R) e volume dos indivíduos dividido pelo número total de regurgitos(V/R).
SubOrdem Família Espécie NT VT NT/RT VT/RT Lacertilia Scincidae Mabuya agmostichia 16 29,40 0,10 0,19 Teidae Ameiva ameiva 1 5,00 0,01 0,03 Anguidae 1 3,00 0,01 0,02 Serpentes Colubridae Liophis lineatus 2 3,30 0,01 0,02 Total 20 40,7 0,13 0,26
Figura 70. A Proporção relativa do número de indivíduos de cada grupo de Squamata. B. Proporção encontrada entre os volumes dos indivíduos pertencentes a cada grupo de Squamata.
N/NT
Scincidae80%
Colubridae
10%Anguidae
5%
Teidae5%
V/VT
Teidae12%
Scincidae73%
Anguidae7%
Colubridae
8%
A B
9922
41
41
0
0,04
0,08
0,12
0,16
Scincidae Teidae AngidaeFamílias
No.
de
indi
vídu
os p
or re
gurg
ito
M
J
J
A
S
O
Figura 71. Número de indivíduos pertencentes às famílias de Lacertilia por regurgito distribuídos ao longo dos meses de amostragem.
0,0
0,1
0,2
0,3
0,4
0,5
Scincidae Teidae AngidaeFamílias
Vol
ume
dos
indi
vídu
os p
or re
gurg
ito (m
l)
M
J
J
A
S
O
A figura 73 mostra que cerca de 56% do número de Scincidae nos regurgitos,
foram representados apenas pela presença de suas caudas, e que animais inteiros
perfizeram 25% do número de M. agmostichia e quase 20% foram animais sem a cauda.
Em termos de volume a maior contribuição se dá através dos indivíduos inteiros.
Figura 72. Volume dos indivíduos das diferentes famílias da subordem Lacertilia obtidos a partir das amostras de regurgito ao longo dos meses.
9933
42
42
N/NT
sem cauda19%
inteiro25%só cauda
56%
V/VT
só cauda22%
inteiro47%
sem cauda31%
A B
Figura 73. Proporção em número (A) e em volume (B) das partes encontradas de Scincideos (Mabuya agmostichia): indivíduos inteiro, completos; indivíduos sem cauda; e indivíduos representados apenas pela presença da cauda nos regurgitos.
Tabela 41. Frequência de ocorrência (FO) nos meses dos diversos grupos (Ordem/ Família) encontrados regurgitos analisados (FO = número de meses em que o grupo foi encontrado/número total de meses amostrados * 100).
Tabela 42. Freqüência de ocorrência (FO) em 36 regurgitos dos diversos grupos (Ordem/Família) encontrados no mês de setembro (FO = número de meses em que o grupo foi encontrado/número total de meses amostrados * 100).
9966
45
45
Tabela 43. Freqüência de ocorrência (FO) em 19 regurgitos dos diversos grupos (Ordem e Família) encontrados no mês de outubro (FO = número de meses em que o grupo foi encontrado/número total de meses amostrados * 100).
Tabela 44. Freqüência de ocorrência (FO) em 55 regurgitos dos diversos grupos (Ordem e Família) encontrados no mês de setembro e outubro (FO = número de meses em que o grupo foi encontrado/número total de meses amostrados * 100).
Tabela 45. Categorias das presas obtidas nos regurgitos de filhotes de B.ibis com seus respectivos números de ocorrência (N) e proporção (Pj) apresentados na amostra coletada e utilizados para o cálculo do Índice de Levins (B) e do Índice de Levins padronizado (Ba).
Tabela 46. Categorias reduzidas de presas obtidas nos regurgitos de filhotes de B.ibis, com seus respectivos números de ocorrência (N) e proporção (Pj) apresentados na amostra coletada e utilizados para o cálculo do Índice de Levins (B) e do Índice de Levins padronizado (Ba).
110000
49
49
Oceano Atlântico
0 1 2 km
32º27’
32º25’
03º50’
03º52’
Figura 74. Arquipélago de Fernando de Noronha. As setas indicam os locais, Ilha Cabeluda (abaixo) e Ilha Sela Ginete (acima), onde foram encontradas colônias de reprodução de B ibis em fevereiro de 2003.
(Trinta-réis-preto) e de um Phaethontidae, Phaethon lepturus (Rabo-de-palha-de-bico-
laranja) cuidavam de ovos e alguns filhotes, e revoavam a cada movimento das garças.
110011
50
50
Tabela 47. Atividades e local de ocorrência dae 462 garças-vaqueiras avistadas durante percursos realizados no Arquipélago de Fernando de Noronha, no período de 4 a 14 de fevereiro de 2003. As atividades estão expressas em porcentagem do total de indivíduos. E os locais onde as garças foram observadas, estão representados em relação ao total de aves em cada atividade, também em porcentagem.
Atividade
% indivíduos
Locais
% indivíduos
Repouso 11,3 Açudes 100,0 Forrageamento 88,7 Aeroporto 68,3 Depósito de resíduos 20,7 Ao lado de bois, cavalos ou cabras 7,8 Habitações humanas 2,7
Ninhais de outras aves
0,5
Figura 75. Colônia mista de B. ibis e Sula sula, na Ilha Cabeluda, Arquipélago de Fernando de Noronha, em Fevereiro de 2003. A. Sula sula guardando seu ninho e logo abaixo um ninho de B. ibis, sem os pais, contendo um ovo. B. Vista geral da colônia onde se pode visualizar indivíduos reprodutivos de B. ibis (a esquerda, setas) e Sula sula (a direita).
A B
110022
51
51
Figura 76. Garças-vaqueiras forrageando nos montes de compostagem. de um depósito de resíduos em Fernando de Noronha, fevereiro de 2003.