Universidade Metodista de Piracicaba Faculdade de Ciências Exatas e da Natureza Willis Vieira dos Santos Oliveira Biodiversidade, Declínio Populacional e Conservação de Anfíbios Anuros no Brasil Piracicaba 2014
Dec 05, 2015
Universidade Metodista de Piracicaba
Faculdade de Ciências Exatas e da Natureza
Willis Vieira dos Santos Oliveira
Biodiversidade, Declínio Populacional e Conservação de
Anfíbios Anuros no Brasil
Piracicaba
2014
Biodiversidade, Declínio Populacional e Conservação de
Anfíbios Anuros no Brasil
Projeto de Pesquisa apresentado na 12ª Mostra
Acadêmica da Universidade Metodista de
Piracicaba vinculado à disciplina Núcleo de
Práticas Pedagógicas lll do Curso de Ciências
Biológicas.
Orientador(a): Margarete de Fátima Costa
Piracicaba
Outubro de 2014
RESUMO
Os anfíbios são vertebrados divididos em três ordens, Caudata ou Urodela
(salamandras), Gymnophiona (cobras-cegas e cecílias) e os Anuros (sapos, rãs,
pererecas e jias), sendo este último o mais popular e abundante na natureza, podendo
ser encontrado em todos os biomas do país. Possuem ciclo de vida bifásico, onde a
fase larval é aquática e a pós-metamórfica, terrestre. São, em sua maioria, predadores
de invertebrados, como insetos, enquanto que ao mesmo tempo servem de alimento
para vários grupos animais, como répteis, aves, mamíferos e até invertebrados. Ações
como a poluição, agrotóxicos, desmatamento e destruição de banhados têm se
constituído ações humanas que estão reduzindo a quantidade de anfíbios e, até
mesmo, em certas regiões, extinções. A biomassa da anurofauna numa área ainda
não destruída pelo homem é superior que a dos répteis, aves e mamíferos que ali
vivem, e assim, o extermínio desses animais pode trazer consequências graves para
a natureza. Existem vários registros de declínios de anfíbios no país, a maioria sendo
associados a perda do habitat, enquanto que em outras regiões do mundo as
extinções por patógenos, efeito dos pesticidas, mudanças climáticas e comércio ilegal,
são fatores investigados como possíveis causadores desse desaparecimento. O Brasil
detém da quantia de 988 espécies de Anuros, entretanto esse número deve ser
relacionado aos registros de declínios e extinções para que se possa compreender
sua situação atual. A International Union for Conservation of Nature mostra que o país
consta com 33 espécies ameaçadas de extinção, enquanto que o Livro Vermelho da
Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, traz 17 espécies. Por isso devem receber
atenção maior e haver o aumento de estudos relativos às melhores formas de manejo
e estratégias de conservação. Assim sendo, o presente trabalho investiga a
importância do conhecimento sobre a biodiversidade de anuros no Brasil e os métodos
utilizados para sua conservação referente ao recente declínio populacional percebido
e registrado na literatura, abordando, de forma breve, os aspectos ecológicos, os
agentes causadores dos declínios e propor, através do que já se conhece,
remediações e prevenções aos declínios.
Palavras-chave: Biodiversidade; Declínio Populacional; Conservação; Anfíbios
Anuros.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 4
2. OBJETIVO ......................................................................................................................... 6
2.1. Objetivo Geral .................................................................................................... 6
2.2. Objetivos Específicos ........................................................................................ 6
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA .......................................................................................... 7
3.1. Dados Gerais e Importância .............................................................................. 7
3.2. Biodiversidade e Declínio Populacional ............................................................. 8
3.3. Efeitos do declínio para a população humana brasileira e mundial ................. 10
3.4. Conservação ................................................................................................... 12
4. MATERIAL E MÉTODOS ............................................................................................. 13
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 14
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................... 15
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1. INTRODUÇÃO
Os anfíbios são divididos em três ordens, Caudata ou Urodela (salamandras),
Gymnophiona (cobras-cegas e cecílias) e os Anuros (sapos, rãs, pererecas e jias),
sendo este último o responsável pela popularidade dos anfíbios no Brasil, e possui
alguns representantes famosos como o robusto sapo-cururu (Rhinella marina, R.
schneideri e R. icterica), a delicada perereca-do-banheiro (Scinax fuscovarius e S.
ruber) — com aparecimento comum em residências — e a rã-pimenta (Leptodactylus
labyrinthicus), anfíbio conhecido por liberar uma substância em sua defesa quando
incomodada, que causa irritação nos olhos e nariz, o que não impede que sua carne
seja comercializada, apreciada e difundida em território nacional (BERNARDE, 2012).
No Brasil, os anuros não são apenas os anfíbios mais conhecidos, mas também
os mais abundantes na natureza, e podem ser encontrados em todos os biomas do
país mais facilmente por sua característica vocalização — principalmente dos machos
durante a atividade reprodutiva (chamado de canto de corte), seguido por outras
motivações. Os cantos são classificados em: de anuncio, de encontro, de agonia, de
interações agonísticas, de reciprocidade, agressivo e sexual preventivo.
Predominantemente noturnos, exceto algumas espécies de hábitos diurnos, são, em
sua maioria, predadores de invertebrados, como insetos, enquanto que ao mesmo
tempo servem de alimento para vários grupos animais. Em relação à forma de vida,
podem ser de natureza aquática, terrícolas, fossoriais e arborícolas (BERNARDE,
2012).
Estes sapos, rãs e pererecas são animais de extrema importância para o
equilíbrio da natureza, e são numerosos, uma vez que controlam as populações de
insetos e de outros animais invertebrados e também servem de comida para muitas
espécies de répteis, aves, mamíferos e até alguns invertebrados. Ações como a
poluição, agrotóxicos, desmatamento e destruição de banhados têm se constituído
ações humanas que estão reduzindo a quantidade de anfíbios e, até mesmo, em
certas regiões, extinções. A biomassa da anurofauna numa área ainda não destruída
pelo homem é superior que a dos répteis, aves e mamíferos que ali vivem, e assim, o
extermínio desses animais pode trazer consequências graves para a natureza,
afetando os humanos de forma direta (JUNIOR; WOEHL, 2008; TOLEDO et al., 2010).
5
Existem vários registros de declínios de anfíbios no país, a maioria sendo
associados a perda do habitat, interação entre espécies, flutuações populacionais, ou
amostragens insuficientes. Outros fatores, como extinção por patógenos, efeito dos
pesticidas, mudanças climáticas e comércio ilegal, necessitam de investimentos para
estudos de campo a curto e longo prazo, pois são fatores investigados em outras
partes do mundo como possíveis causadores ou aceleradores do desaparecimento
de anfíbios (ETEROVICK et al., 2005; KELLER; BORTOLINI; COPATTI, 2011;
SILVANO; SEGALLA, 2005). Segundo a última lista de anfíbios da Sociedade
Brasileira de Herpetologia (SEGALLA et al., 2014), o Brasil detém da quantia de 1026
espécies de anfíbios, sendo destas 33 do grupo dos Gymnophionas, 1 do grupo
Caudata e 988 dos Anuros. Isso demonstra a enorme diversidade de anfíbios,
principalmente de Anuros, encontrada nos biomas do país. Esse número, entretanto,
deve ser relacionado aos registros de declínios e extinções para que se possa
compreender a situação atual da fauna anfíbia. A International Union for Conservation
of Nature apresentou um catálogo (IUCN, 2013) em que o Brasil consta com 33
espécies ameaçadas de extinção e o Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade disponibiliza um banco de dados1 onde são possíveis buscas diretas
das espécies. Bancos como este que serviram como base para o Livro Vermelho da
Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (HADDAD, 2008), cujo capítulo dedicado aos
anfíbios, baseado na lista de 2005 da IUCN, traz 17 espécies categorizadas em
“Quase Ameaçadas” (NT), “Vulneráveis” (VU), “Em Perigo” (EN), “Criticamente em
Perigo” (CR), “Extintas” (EX). Essa lista revela ainda que todas as espécies de anfíbios
classificados em NT, VU, EN, CR e EX pertenciam à Ordem Anura (op. cit.).
Este trabalho visa levantar membros da Ordem Anura, por possuir grande
diversidade, ocupar todos os biomas em território nacional, apresentar
comportamentos variados em relação ao modo de vida, interações, características
morfológicas, aparente sensibilidade às mudanças ambientais, entre outros. Por tudo
isso devem receber atenção maior, devendo ser colocado em prática métodos
eficazes que possibilitem, posteriormente, melhores formas de manejo e estratégias
de conservação.
1 ICMbio – Lista de espécies ameaçadas. Disponível em: [http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/fauna-brasileira/lista-de-especies.html]. Acesso em 27 Maio de 2014.
6
2. OBJETIVO
2.1. Objetivo Geral
O presente trabalho busca investigar a importância do conhecimento sobre a
biodiversidade de anuros no Brasil e os métodos utilizados para sua conservação
referente ao recente declínio populacional percebido e registrado na literatura.
2.2. Objetivos Específicos
Entender a importância da biodiversidade de anuros no Brasil para sua
conservação;
Mostrar de maneira simples a importância da anurofauna para o meio
ambiente e às populações humanas;
Apontar os principais agentes causadores de declínios populacionais;
Propor, através do que já se conhece, remediações e prevenções aos
declínios.
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3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1. Dados Gerais e Importância
Devido a certas características fisiológicas (como pele permeável) e ecológicas
(ciclo de vida bifásico) os anfíbios se tornam organismos fortemente dependentes da
água, sobretudo na fase larval. Apresentam forte sensibilidade às alterações nos
parâmetros físico-químicos da água e na estrutura da vegetação nas vizinhanças dos
corpos d’água, tendo como exemplos de intervenções humanas que causam danos
às populações de anuros o uso de pesticidas em culturas próximas às cabeceiras dos
rios ou na construção de pequenas barragens e açudes para a agricultura e pecuária.
Quanto à fragmentação das florestas, ela também pode afetar indiretamente as
populações de anfíbios devido às alterações na qualidade das bordas das matas,
promovendo mudanças na exposição aos ventos e ao sol que por conseguinte podem
levar a uma diminuição da umidade e maior exposição aos raios ultravioleta-B (UV-
B). Tal sensibilidade se deve principalmente por sua pele permeável e exposta, por
ocuparem os habitats aquáticos e terrestres e por apresentarem ovos sem casca
(podendo haver maior absorção de substâncias presentes no meio), tornando os
anfíbios indicadores sensíveis a diversos estresses ambientais (BLAUSTEIN, 1994;
SILVANO et al., 2003; TOLEDO, 2009).
São considerados um grupo de grande importância ecológica, tanto por sua
grande diversidade, quanto por corresponderem a um grupo de interface entre a água
e a terra e por apresentarem ciclo de vida bifásico (Toledo (2009) refere-se como
“trifásico” no caso de espécies que possuem também a fase dos ovos), na qual a fase
larval é aquática e fase pós-metamórfica, é terrestre, cada uma com sua ecologia
particular. Na fase larval, conhecidos como girinos, podem-se observar diferentes
tipos de dietas dentro das várias espécies: herbívoras (algas), detritívoras, filtradoras,
onívoras ou carnívoras. Na fase pós-metamórfica, os anfíbios se tornam excelentes
predadores, capturando presas nos ambientes aquáticos e terrestres, principalmente
invertebrados, mas havendo registros de predações de pequenos vertebrados como
mamíferos, répteis, aves, outros anfíbios (DUELLMAN; TRUEB, 1994, pp. 229, 246)
e até vegetais (ver Silva e Britto-Pereira (2006) sobre Xenohyla truncata, espécie
reconhecida como frugívora). Também servem de alimento a uma imensa gama de
8
animais, desde invertebrados até peixes, répteis, aves, mamíferos e mesmo algumas
espécies de anfíbios (BERNARDE, 2012; CALDWELL; VITT, 2009, p. 297; HADDAD,
2008, p. 287).
Segundo Silvano et al. (2003), os anfibios são ainda organismos de baixa
mobilidade, o que faz deles modelos ideais para estudo sobre os efeitos da
fragmentação de florestas e, para Toledo (2009), características como alto grau de
filopatria e facilidade de encontro, captura e recaptura fortalecem a indicação desse
grupo de animais para obtenção de dados sobre áreas de interesse.
3.2. Biodiversidade e Declínio Populacional
De acordo com a última lista de anfíbios da Sociedade Brasileira de
Herpetologia atualizada em 2014, pela quantia de 988 espécies de anfíbios, sendo
destas 33 do grupo dos Gymnophionas, 1 do grupo Caudata e 913 dos Anuros
(SEGALLA et al., 2014). Em relação a Classe Amphibia, o Brasil é campeão em
número de espécies, apresentando enorme diversidade de anfíbios, principalmente
de Anuros, encontrada em todos os biomas do país (IUCN, 2013; MACHADO, 2008;
SILVANO; SEGALLA, 2005). A International Union for Conservation of Nature (IUCN,
2013) também catalogou 33 espécies ameaçadas de extinção no Brasil, enquanto que
o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (HADDAD, 2008), cujo
capítulo dedicado aos anfíbios, baseado na lista de 2005 da IUCN, traz 17 espécies
categorizadas em “Quase Ameaçadas” (NT), “Vulneráveis” (VU), “Em Perigo” (EN),
“Criticamente em Perigo” (CR) e “Extintas” (EX). Todas pertencentes à ordem Anura.
Estes números, entretanto, não representam o número total da biodiversidade
e de espécies ameaçadas, e isso se deve principalmente pelo número insuficiente de
profissionais atuantes no Brasil e, segundo Machado (2008), mesmo quando ocorrem
trabalhos que chegam a ser apresentados em congressos nacionais, muitos destes
não chegam a ser publicados e consequentemente não recebem a devida atenção
(SABINO; PRADO, 2006).
Segundo Stuart et al. (2004), em comparação aos mamíferos e as aves, os
anfíbios são os mais ameaçados e estão declinando mais rapidamente. O Brasil
9
também possui vários registros de declínios de anfíbios, com associação à perda do
habitat, interação entre espécies, flutuações populacionais, ou amostragens
insuficientes. Toda via, quando se trata de declínio por patógenos, efeito dos
pesticidas, mudanças climáticas e comércio ilegal, existe a necessidade de
investimentos para estudos de campo a curto e longo prazo, pois são fatores
investigados em outras partes do mundo como possíveis causadores ou aceleradores
do desaparecimento de anfíbios. É de consenso entre os pesquisadores que (obs.
pess.), no Brasil, os declínios se devem principalmente pela destruição dos habitats,
no qual o desmatamento é motivado pelo avanço da fronteira agrícola, pela mineração
e pelos projetos de infraestrutura e urbanização (ETEROVICK et al., 2005; KELLER;
BORTOLINI; COPATTI, 2011; SILVANO; SEGALLA, 2005).
Apesar dos poucos estudos, para Silvano e Segalla (2005):
No entanto, os pesticidas vêm sendo utilizados indiscriminadamente nas
lavouras por todo o país; as mudanças climáticas são visíveis em algumas
regiões; e, apesar do pouco que está publicado, existem registros de
populações livres de espécies exóticas (p. ex., Rana catesbeiana),
principalmente nas regiões Sudeste e Sul do Brasil, que podem estar
afetando as populações nativas de anfíbios (...). E, apesar de comprovado,
não existem dados quantitativos sobre o comércio de espécies nativas de
anfíbios no Brasil.
O Brasil, em toda sua extensão geográfica, abriga seis biomas (Amazônia,
Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal), no qual a Mata Atlântica é o
campeão em relatos de declínio de anfíbios (ETEROVICK et al., 2005) devido
principalmente ao desmatamento, que reduziu a floresta original para
aproximadamente 27%, que se encontra ainda dividida em milhares de fragmentos —
essa porcentagem chega a 8% quando sua conservação é colocada à prova e
comparada com a mata original (CAMPANILI; SCHÄFFER, 2010). Ainda assim é
importante notar que a Mata Atlântica é um hotspot2 e detêm da maioria das espécies
de anfíbios — e com alto endemismo — entre os biomas brasileiros, como pode ser
visto na Tabela 1 (MAFFEI; UBAID, 2014; TOLEDO; BATISTA, 2012). Como
comparativo, a Amazônia, maior bioma brasileiro, o Ministério do Meio Ambiente
(ROMA, 2007) compartilha a informação de que ainda restam cerca de 87,54% de sua
cobertura original, enquanto que a World Wide Fund for Nature – Brasil (WWF-
2 Termo cunhado em 1988 pelo ambientalista britânico Norman Myers. Hoje o termo é usado para definir uma área que: “1) Deve conter, pelo menos, 1.500 espécies de plantas vasculares (> 0,5% do total do planeta) como endêmicas; 2) Deve ter perdido pelo menos 70% do seu habitat original.”.
10
BRASIL, 2013) atenta para uma perda de 17% de sua cobertura apenas no último
meio século.
Estes dois exemplos demonstram não somente a preocupação em relação a
anurofauna, como também evidenciam o risco de declínio capaz de acometer
diferentes organismos presentes nos biomas do país.
Tabela 1. Biomas brasileiros, área projetada, número de espécies anuros que ocorre
no bioma, e ordem de classificação da riqueza (considerando o número total de
espécies por bioma ou estado).
Bioma Área (km²) Número de
espécies
Classificação de
riqueza
Amazônia 4,196,943 318 2
Mata Atlântica 1,110,182 518 1
Caatinga 844,453 124 4
Cerrado 2,036,448 271 3
Pampas 176,496 75 5
Pantanal 150,355 68 6
Fonte: Adaptado e traduzido de Toledo e Batista (2012).
Além da diversidade de espécies, a biomassa da anurofauna numa área ainda
não destruída pelo homem é, muitas vezes, superior que a dos répteis, aves e
mamíferos que ali vivem, e assim, o extermínio desses animais pode trazer
consequências graves para a natureza, afetando os humanos de forma direta
(JUNIOR; WOEHL, 2008; TOLEDO et al., 2010).
3.3. Efeitos do declínio para a população humana brasileira e mundial
De forma massiva, os insetos correspondem ao principal alimento dos anfíbios
e a remoção desses animais de um ambiente ocasionará desequilíbrio ecológico,
causando surtos de pragas agrícolas que trará, como reflexo, prejuízos quantitativos
e qualitativos na agricultura. Também acarretará um aumento da poluição ambiental,
devido a necessidade de intensificar o uso de inseticidas (LEWINSOHN, 2006;
TOLEDO et al., 2010). Inúmeros fármacos potenciais para benefício da humanidade
11
que poderiam ser obtidos através das substancias que compõe as glândulas cutâneas
(que servem para defesa contra predadores, contra microrganismos e doenças, ou
mesmo para permitir trocas gasosas eficientes), podem ser perdidos (exemplo: A
dermorfina, potente analgésico extraído da perereca Phyllomedusa bicolor e utilizado
para tratamento de doenças como Mal de Parkinson, AIDS, câncer, depressão e
outras doenças (AMAZONLINK.ORG, 2003; LEWINSOHN, 2006)) (CAMARGO, 2005;
PUKALA et al., 2006; TOLEDO et al., 2010). Em 2006, Pukala et al. reuniram em seu
extenso trabalho as investigações e descobertas de vários pesquisadores sobre as
toxinas presentes nas secreções dos anfíbios, apresentando, por exemplo, peptídeos
com ações biológicas diversas: antibacterianas, antivirais, antifúngicas, além de
peptídeos anticancerígenos e neuropeptídios. Já Dornelles, Marques e Renner (2011)
dedicaram sua revisão à catalogar diferentes toxinas presentes nos anuros e a
aplicabilidade farmacológica e biotecnológica de suas substâncias (Tabela 2).
Tabela 2. Anuros de interesse farmacológico e ações biológicas de suas toxinas.
Família Dendrobatidae Bufonidae Hylidae Pipidae Ranidae
Gênero
Epipedobates
Dendrobates
Phyllobates
Chanus Phyllomedusa Xenopus Rana
Toxinas:
Ação
biológica
Analgésico
Cardiotóxico
Miotóxico
Neurotóxico
Alucinógeno
Antimicrobiano
Cardiotóxico
Hemolítico
Neurotóxico
Analgésico
Antibiótico
Cicatrizante
Antibiótico
Hemolítico Antimicrobiano
Fonte: Adaptado de Dornelles, Marques e Renner (2011).
Ainda, o desaparecimento dos girinos em ambientes aquáticos, pode acarretar
na eutrofização3 dos rios e reservatórios de água, já que grande parte dessas larvas
alimentam-se de algas, podendo prejudicar o abastecimento de água potável,
encarecendo o valor do seu tratamento para o consumo das populações brasileiras
(TOLEDO et al., 2010).
3 Aumento excessivo de algas devido ao excesso de nutrientes.
12
3.4. Conservação
Nota-se que tanto mamíferos como aves recebem maior atenção e,
consequentemente, vêm-se em um número bastante superior de artigos quando
postos em comparação aos anfíbios. Não é difícil entender a atenção por esses
animais, quando os mesmos são tão carismáticos e, portanto, mais estudados e
protegidos. Portanto, segundo Brito (2008), é necessário abordagens criativas que
mostrem o valor de populações de anfíbios saudáveis para a sociedade, além de
transformar algumas espécies em carismáticas. Brito ainda conclui que ao transformar
anfíbios em animais carismáticos, através da mídia, financiamentos poderiam vir
através de várias fontes e, em suas palavras: “Talvez isso ajudaria a diminuir essa
lacuna entre estudos sobre anfíbios, pássaros e mamíferos”4 (2008, tradução minha).
Devido ao declínio acelerado de várias espécies de anfíbios, faz-se necessário
expandir os programas de pesquisa e desenvolvimento de políticas efetivas capazes
de aumentar os esforços para a conservação desses animais, sobre tudo em regiões
onde os dados sobre diversidade, abundância e distribuição das espécies são
deficientes e entre as espécies classificadas como Deficientes em Dados (DD), além
de propostas de novas unidades de conservação ou corredores de biodiversidade
(HADDAD, 2008, p. 288; YOUNG et al., 2001). Young et al. (2004, pp. 41–45) também
destacam a importância da proteção integral de habitats, da necessidade de políticas
públicas e proteção legal, incluindo outras medidas como a criação em cativeiro,
educação ambiental, pesquisas sobre doenças infecciosas e inventários.
4 “Maybe this would help diminish this gap between amphibians and birds and mammals studies.”.
13
4. MATERIAL E MÉTODOS
O desenvolver da pesquisa ocorreu com o auxílio de livros, artigos e sites, os
quais se demonstraram fundamentais para o enriquecimento da compreensão dos
temas e palavras chave “declínio populacional”, “biodiversidade” e “conservação” em
relação aos anfíbios anuros do Brasil. Esse levantamento bibliográfico ocorreu com o
auxílio do Portal CAPES (http://www.capes.gov.br/), Scielo (http://scielo.br/),
AmphibiaWeb (http://www.amphibiaweb.org/index.html) e do Google Acadêmico
(http://scholar.google.com.br/) e em seu site de busca.
Referente aos dados que determinam a quantidade estimada de espécies
existentes e ameaçadas, foram obtidos através dos endereços digitais de órgãos
nacionais como o ICMbio (http://www.icmbio.gov.br/portal/) e IBAMA
(http://www.ibama.gov.br) — ambos vinculados ao Ministério do Meio Ambiente — e
da SBH (http://www.sbherpetologia.org.br). Também a internacional IUCN
(http://www.iucn.org).
A pesquisa teve o critério de selecionar artigos e livros publicados entre 2000 e
2014, ano atual desta revisão. As exceções (publicações e livros anteriores a 2000)
se devem à importância dos mesmos. Artigos em língua inglesa são a maioria, embora
publicações nacionais tenham sido inquestionavelmente importantes para a
elaboração do trabalho.
14
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante da revisão bibliográfica, é notável que a biodiversidade dos anfíbios
anuros é rica, sobre tudo em território brasileiro e nos seus vários biomas. Em
contrapartida, sobre aspectos de desenvolvimento humano que não age sobre
parâmetros de conscientização ambiental, evidencia-se também um preocupante
declínio das populações anfíbias. Essas duas informações — rica biodiversidade e
declínio populacional — revelam a necessidade de um maior número de pesquisas e
publicações que se refiram tanto a descoberta de possíveis novas espécies, como a
condição atual das já conhecidas, levando-se em conta sua ecologia e fisiologia. Essa
é, como se nota, a essência que possibilita trabalhar com a conservação dos biomas,
tendo em vista a ligação estrita que estes animais possuem com o meio onde vivem,
que se refere tanto ao seu lugar na cadeia trófica, como também à sua capacidade
natural como bioindicadores.
O declínio destes animais pode causar sérios desequilíbrios ecológicos e
poderá afetar diretamente a população humana brasileira, sobretudo no que diz
respeito à agricultura e produção de fármacos. Por isso as pesquisas e implementação
de políticas conservacionistas se fazem essenciais para a manutenção da anurofauna.
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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