Editora Shu apresenta BHAGAVAD - GITA O CANTO DO SENHOR SWAMI PARAMANANDA & LIN YUTANG Rio de Janeiro, 2002. O CANTO DO SENHOR (O BHAGAVAD-GITA) INTRODUÇÃO O BHAGAVAD-GITA está para o hinduísmo como o Sermão da Montanha para os ensinamentos cristãos. Já disseram que êle é a "Essência dos Vedas". Um santo indiano declarou: "Todos os Upanishads são as vacas, o próprio Senhor é o Ordenhador, e os que têm a mente purificada são os bebedores do leite, o supremo néctar do Gita".
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Editora Shu apresenta
BHAGAVAD - GITA
O CANTO DO SENHOR
SWAMI PARAMANANDA & LIN YUTANG
Rio de Janeiro, 2002.
O CANTO DO SENHOR (O BHAGAVAD-GITA)
INTRODUÇÃO
O BHAGAVAD-GITA está para o hinduísmo como o Sermão da Montanha
para os ensinamentos cristãos. Já disseram que êle é a "Essência dos Vedas".
Um santo indiano declarou: "Todos os Upanishads são as vacas, o próprio
Senhor é o Ordenhador, e os que têm a mente purificada são os bebedores do
leite, o supremo néctar do Gita".
O Bhagavad-Gita, a princípio, constituía uma seção do Livro Sexto do poema
épico hindu, o Mahabharata. Está lançado em forma de palestra entre o
guerreiro Arjuna e seu cocheiro, que em verdade era o "Senhor Abençoado", o
deus Krishna. Tornara-se inevitável a guerra entre os filhos de Pandu (e
Arjuna era um dêles) e os seus primos Duryodhana e irmãos, filhos do rei
cego Kurus. A batalha estava iminente quando Arjuna se recusou a combater,
pois percebeu que ia matar os próprios parentes. O deus Krishna explicou-lhe
que ninguém podia ser morto, porque as almas dos homens vivem para
sempre. Daí começa a palestra que, estendendo-se por dezoito capítulos,
abrange fase por fase os problemas éticos e religiosos referentes ao Yoga da
ação, à justificação de rituais e sacrifícios, às manifestações de Deus no
mundo físico, e termina com o importante preceito que manda aceitar Krishna
como um refúgio a que devem recorrer, para encontrar paz e salvação, todos
os indivíduos de tôdas as classes. Ao velho rei cego, que não podia observar o
desenvolvi- mento da luta, um grande sábio ofereceu vista, que êle recusou,
pois não sentia desejo de assistir à matança de pessoas do seu sangue. O
grande sábio, então, assegurou a Sanjaya o dom de perceber à distância os
acontecimentos desenrolados no campo de batalha. Assim, sobretudo no início
e no fim do canto, vemos os comentários de Sanjaya sôbre o combate,
enquanto que as perguntas e respostas entre Arjuna e Krishna formam a
substância do corpo principal do livro.
Tôda essa obra respira a atmosfera mental e religiosa hindu, embora alguns
ensinamentos (como o do entusiasmo na ação, que deve ser praticada sem
intenção de lucro egoístico, mas por devoção a Deus, e particularmente o
preceito da negação do materialismo e a vigorosa afirmação védica de que o
espírito se acha por detrás de tôdas as coisas), embora ensinamentos dêste
gênero ofereçam pontos de vista que ou são atuais ou de que se necessita
grandemente no mundo moderno. De qualquer modo, os contrastes são tão
importantes como as semelhanças, e é porque êsse trabalho se impõe,
frisantemente, como o produto mais relevante do espírito religioso hindu, que
a sua influência e posição na Índia tem sido tão grandes. O Dr. E. J. Thomas
chamou-o de "um dos maiores fenômenos religiosos do mundo" e de "o mais
antigo e ainda o maior monumento da religião hindu".
Para mim, o Bhagavad-Gita não encerra o mesmo interêsse que o
Dhammapada budista, porém isto não constitui razão por que êle seja menos
importante perante a nação indiana. O que é de interêsse é notar o progresso
do espírito hindu evidenciando- se desde os Upanishads até o Gita, e a sua
crescente clareza de pensamentos, e como os processos de pensamentos estão
mais próximos dos nossos. O Canto do Senhor foi provavelmente escrito no
século segundo antes da era cristã, embora não se possa determinar uma data
aproximada. E tão importante se tornou no pensamento religioso hindu que
todos os sistemas tiveram que se enquadrar nos seus ensinamentos. No
trabalho existem laivos de panteísmo, de monoteísmo, de teísmo e de deísmo.
O que sucessivos escritores lhe tenham acrescentado importa menos que o fato
de que aquêles ensinamentos foram, e ainda são, aceitos pelo povo hindu
como conjunto definitivo de sabedoria religiosa. Qualquer tentativa dos mais
altos críticos ocidentais no sentido de separar as diferentes correntes de crença
e de "restaurar" o "texto original" está destinada a ser, a um só tempo, louca e
ridícula. Certos eruditos tentaram a tarefa maluca de determinar a sua
composição original. Nunca lhes ocorreu que o mundo podia ser Deus e,
simultaneamente, um Deus pessoal podia existir belíssimas distinções que só
existem nos espíritos acadêmicos. O grande poder do Gita reside no fato de
que êle ensina uma "fé amante" ou devoção (bhakti) a um Deus pessoal,
Krishna. A mensagem final de Krishna é: "Abandona todos os Dharmas, vem
refugiar-te unicamente em mim. Eu te livrarei de todos os pecados; não te
aflijas", (XV1II, 66).
É extremamente importante que um tal testemunho do espírito religioso hindu
não seja traduzido por um estudioso de sânscrito, mas por alguém que se
dedique ao hindu, que se sinta à vontade com o espírito dos seus preceitos, e
que saiba o que significam os vários versos, diretamente e simplesmente, para
o povo indiano.
O Bhagavad-Gita tem merecido carinhosos esforços de muitos tradutores, e
dêle existem traduções excelentes, como o "Canto do Senhor", d'e Lionel D.
Barnett (Temple Classics), com longa introdução e notas copiosas, o "Canto
do Senhor", de E. J. Thomas (Wisdom of the East Series), a conhecida versão
de Annie Besant (Theosophical Press), o "Canto Celestial", de Sir Edwin
Arnold (Trubner), o "Poema do Senhor", de M. M. Chatterji (Houghton),
acompanhado de comentários e notas e referências às Escrituras Cristãs, e a
tradução erudita de Telang nos "Sacred Books of the East". Escolhi,
entretanto, a tradução de Swami Paramananda porque acho que, mais que as
outras, demonstra essa maestria em línguas e essa compreensão da essência do
pensamento cujo resultado é, e devia ser, uma versão madura e efetiva, sem os
emaranhamentos da tradução erudita ou o subreptício parafrasear dos super-
interpretativos. Segundo comentário do editor do livro: "A letra deve ser
iluminada pelo espírito; e ninguém pode ler a tradução sem se sentir
convencido de que a cabeça, o coração e a vida cooperaram nela". Isto não é
para lisonjear. Conservei as notas de Swami Paramananda.
Lin Yutang, 1941.
Texto.
O CANTO DO SENHOR ABENÇOADO
SRIMAD-BHAGAVAD-GITA
Swani Paramananda
CAPITULO I
Dhritarashtra perguntou:
1. Ó Sanjaya, reunidos na sagrada planície de Kurukshetra, e desejosos de
lutar, que devem fazer meu povo e os Pandavas?
Sanjaya respondeu:
2. O Príncipe Duryodhana, tendo visto as fôrças Pandavas em formação de
batalha, chegou-se ao seu professor (Drona) e disse estas palavras:
3. Olha estas poderosas hostes dos filhos de Pandava, dispostas pelo filho de
Drupada, o discípulo dotado.
4-6. Aqui estão heróis, possantes arqueiros. que na batalha se igualam a
Bhima e Arjuna - os grandes guerreiros, e a Yuyudhana, Virata e Drupada; o
valente Drishtaketu, Chekitana e o Rei de Kashi; Purujit, Kunti-Bhoja e
Shaibya, os maiores dos homens; o poderoso Yudhamanyu e o bravo
Uttamaujas; o filho de Subhadra e os filhos de Draupadi, todos êles
esplêndidos guerreiros em erros.
7. Ó melhor das duas vêzes nascidos(1), ouve também sôbre aquêles que mais
se têm distinguido entre nós, os comandantes do meu exército; vou nomeá-los
para ficares informado.
8. Tu próprio, e Bishma e Karna, e Kripa, o feroz na batalha, Aswatthama,
Vlkarna, Jayadratha.
9. Também existem muitos heróis hábeis no combate armados com muitas
espécies de armas, e resolvidos a dar a vida por minha causa.
10. Mas êste nosso exército, embora comandado por Bhishma parece
insuficiente; entretanto, o exército dêles, comandado por Bhima parece
suficiente.
11. Portanto, todos vós, estacionados nos vossos respectivos lugares nas
divisões do exército, deveis apoiar Bishma, que está só.
12. O poderoso e mais velho dos Kuros (Bhishma) , o grão-senhor, para
acalmá-lo (a Duryodhana) emitiu um forte rugido de leão e soprou o búzio.
13. Então (acompanhando Bhishma) de súbito soaram búzios, timbales,
tambores, trombetas e trompas. O estrondo foi tremendo.
14. Então Madhava (Krishna) e Pandava (Arjuna) pararam o seu grande carro
de guerra, atrelado a dois cavalos brancos, e também sopraram os seus divinos
búzios.
15. Hrishikesha (Krishna)(2) soprou o Panchajanka; e Dhananjaya(3) (Arjuna)
, Devadarras (4) (Deus-dado); e Virkodara(5) (Bhima), autor de terríveis
feitos, soprou o seu grande búzio Paundra.
16. O Rei Yudhishthira, filho de Kunti, soprou o búzio chamado Anantavijaya
(vitória infindável). Nakula e Sahadeva sopraram os seus Sughosha e
Manipushpaka.
17. O Rei de Kashi, o grande arqueiro, o poderoso guerreiro Shivhandi,
Dhrishtadyumna, Virata e o herói inconquistado, Satyati .
18. (O Rei) Drupada e os filhos de Draupadi e o poderosamente armado filho
de Subhadra, cada qual soprou o seu próprio búzio, ó Senhor da Terra!
19. Esse tremendo ressoar, enchendo a terra e o céu de som, abalou os
corações dos partidários de Dhritarashtra.
20. Então, ó Senhor da Terra!, vendo o exército de Dhritarashtra em ordem de
batalha e sacando de armas na iminência de iniciar a luta, o filho de Pandu
(Arjuna) ergueu o arco e falou para Krishna as seguintes palavras:
Arjuna disse:
21-23. Ó Achyuta (imutável, Krishna), coloca o meu carro entre os exércitos
desejosos de batalha, para que eu possa ver com quem devo lutar ao irromper
desta guerra, pois pretendo saber ais os que aqui se reuniram para lutar no
desejo de ser agradáveis ao mal-intencionado filho de Dhritarashtra, formando
ao seu lado.
Sanjaya disse:
24-25. Ó Rei! Assim solicitado por Gudakesha(6) (Arjuna), Krishna, tendo
colocado o carro de guerra entre os dois exércitos, frente a Bhishma, Drona e
todos os governantes da terra, assim falou: ó filho de Pritha (Arjuna) , vê tôdas
as forças kuru congregadas.
26. Então Partha (Arjuna)! viu já ali, em ambos os exércitos formados, avós,
sogros, tios, irmãos e primos, os seus próprios filhos e seus filhos e netos,
camaradas, professôres e amigos.
27. Então êle, o filho de Kunti (Arjuna), vendo todos os parentes formados nas
fileiras, assim falou, tristemente, acabrunhado por funda compaixão:
Arjuna disse:
28. ó Krishna, ao ver êstes meus parentes reunidos aqui, desejosos de lutar, os
meus membros cedem, e arde-me a bôca.
29. Meu corpo tirita, arrepiam-se-me os cabelos, meu Gandiva (arco)
escorrega-me das mãos, minha pele se abrasa.
30. ó Keshava (Khrishna, o matador de Keshi) , não sou capaz de me manter,
os meus pensamentos redemoinham, e vejo maus presságios.
31. ó Krishna, não enxergo nenhum bem em chacinar meu próprio povo nesta
contenda. Não aspiro a vitória, nem a reino, nem, a prazeres.
32-34. Mestres, tios, filhos e netos, avós, sogros, além de outros parentes, que
inspiravam o desejo de império, alegria e prazeres, êles próprios ali estão em
ordem de batalha renunciando a vida e fortuna. Que valem pois reino, alegria
e mesmo a existência, Ó' Govinda (Krishna)?
35. A êstes guerreiros não quero eu matar, embora por êle seja morto, nem
pelo domínio dos três mundos, quanto mais por causa desta terra, ó matador
de Madhu.
36. ó Janardana (o que dá prosperidade e salvação, Krishna),. que prazer pode
advir para nós do assassínio dos filhos de Dhritarashastra? Só o pecado se
apossará de nós por termos massacradro êstes malfeitores.
37. Portanto não devemos matar êstes filhos de Dhritarashtra, nossos parentes;
porque, como podemos nós, ó Madhava (Krishna), ganhar felicidade
destruindo os nossos próprios parentes?
38. Embora êstes (meus inimigos), espíritos dominados pela ambição, não
vejam mal na extinção de famílias, nem pecado em hostilizar amigos.
39. Mas, ó Janardana, por quê não recuarmos dêste pecado, enxergando
claramente o mal em destruição de família?
40. Com a destruição de uma família perecem os imemoriais ritos religiosos
dessa família. Destruída a espiritualidade, tôda essa família é prêsa do êrro.
41. ó Krishna, com a predominância do êrro as mulheres dessa família tornam-
se corruptas; e, corruptas as mulheres, surge a mistura de castas.
42. Essa mistura de castas leva os destruidores da família ao inferno, o mesmo
acontecendo à própria família; porque os seus ancestrais tombam, despojados
das oferendas de bolos de arroz e água (7).
43. Os imemoriais ritos religiosos de família e casta são destruídos por êstes
atos maus dos assassinos da família.
44. ó Janardana, ouvimos dizer que, para tais homens, cujos ritos religiosos
domésticos foram destruídos, a morada no inferno é inevitável.
45. Ai! em que grande pecado resolvemos incorrer, preparando-nos para
chacinar os nossos parentes, ao impulso da ambição de reinado e de prazeres.
46. Na verdade, melhor teria sido para mim que os filhos de Dhritarashtra,
armas em punho, me assassinassem na batalha, inerme e desarmado.
Sanjaya disse:
47. Assim falando no centro do campo de batalha, Arjuna deixou-se cair no
banco do seu carro de guerra, atirando para um lado: o seu arco e as flechas, a
alma afogada em tristeza.
Aqui termina o Primeiro Capítulo chamado “A tristeza de Arjuna”
CAPÍTULO II
Sanjaya disse:
1. A êle (Arjuna), cuja alma estava acabrunhada de dor e de tristeza, e que
tinha os olhos turvos de lágrimas, Madhusudana (Krishna) falou com estas
palavras:
o Senhor Abençoado disse:
2. ó Arjuna, de onde vem sôbre ti neste momento crítico esta depressão
indigna de um Ariano, ignominiosa, e contrária à conquista do céu?
3. ó filho de Pritha, não condescendas com a efeminação, ela não te é
benéfica. Tange para longe esta disposição de fraqueza, ó terror dos teus
inimigos!
Arjuna disse;
4. ó destruidor de inimigos e matador de Madhu (Krishna) como posso lutar
com estas setas em batalha contra Bishma e Drona, que são dignos de ser
adorados (por mim) ?
5. Antes viver nesta vida mendigando do que trucidar êstes senhores de
grandes almas; matando-os, todos os nossos gozos de riquezas e desejos, ainda
neste mundo, ficarão manchados de sangue.
6. Na verdade, não sei qual das duas é melhor para nós; nós os dominarmos ou
êles nos dominarem. Porque êstes legítimos filhos de Dhritarashtra estão
diante de nós, e depois de os chacinar não devemos cuidar mais em viver.
7. Com a alma esmagada de pena e desânimo e o espírito confuso sôbre o
dever, eu Te imploro (ó Krishna), dize-me com certeza o que será bom para
mim. Sou Teu discípulo, instruí-me, a mim que em Ti me refugiei.
8. Porque não vejo o que possa afastar esta mágoa que estiola os meus
sentidos, ainda quando eu tenha a obter incontrastável domínio sôbre a terra e
o govêrno dos deuses.
Sanjaya disse;
9. Gudakesha (Arjuna), o vencedor dos seus inimigos, tendo assim falado ao
Senhor dos sentidos (Krishna), disse: "Eu não lutarei. ó Govinda !" E quedou
silencioso.
10. Ó descendente de Rei Bharata, Hrishikesha (Krishna), como sorridente,
falou estas palavras para êle (Arjuna) que assim estava tomado de tristeza
entre os dois exércitos.
O Senhor Abençoado disse:
11. Tu tens estado lamentando quem não deveria ser lamentado e, todavia,
disseste (parece) palavras de sabedoria; mas a lamentação verdadeiramente
sábia não é para o morto nem para o vivo.
12. Não é verdade que eu tenha existido antes, nem tu, nem todas as coisas.
Não é verdade que todos nós tenhamos de deixar e existir daqui por diante.
13. Como neste corpo a alma encarnada passa através da infância, da
juventude e da velhice, assim também ela vai de. um corpo para outro;
portanto, o sábio nunca se engana no que diz respeito a ela (a alma).
14. ó filho de Kunti, as sensações de calor, frio, prazer, dor são produzidas
pelo contacto dos sentidos com os objetos-sentidos: Têm princípio e fim, são
transitórios. Portanto, ó Bharata, suporta-as (bravamente).
15. ó poderoso, entre os homens está apto a ganhar a imortalidade aquêle que
é sereno e não se aflige com essas sensações, porém é o mesmo no prazer e na
dor.
16. Não há existência para o irreal e o real jamais pode ser-inexistente. Os
Videntes de Verdade sabem onde ambos terminam.
17. Conhecem que é indestrutível Aquêle que em tudo penetra. Ninguém pode
jamais destruir êste Imutável.
18. Estes corpos são perecíveis. Mas os que moram nestes corpos são eternos,
indestrutíveis e impenetráveis. Luta, pois, ó descendente de Bharata!
19. Aquele que considera êste (o Eu) um assassino ou aquêle que supõe que
êste (o Eu) é assassinado não conhece a Verdade. Porque ele não mata, nem
ele é morto.
20. Este (o Eu) não nasce, nem morre, nem depois de ter- sido descamba no
não-ser. Este (o Eu) não nasce, é eterno, imutável, antigo. Jamais é destruído,
nem mesmo quando o corpo o é.
21. ó filho de Pritha, como pode matar, ou causar a matança de outrem, aquêle
que sabe que êste (o Eu) é indescritível, eterno, inascido e imutável?
22. Assim como o homem despe as roupas velhas e veste outras novas, assim
também a alma, despindo os corpos gastos, entra em outros que são novos.
23. Espada não pode perfurá-lo (o Eu), fogo não pode queimá-lo, água não
pode molhá-lo e o ar não pode secá-lo.
24. Ele não pode ser perfurado, nem queimado, nem molhado, nem enxugado.
Ele é eterno, onipresente, imutável, permanente, perpétuo .
25. Dizem que ele (o Eu) está acima da percepção, acima do pensamento, é
inalterável; portanto, sabendo que ele assim é, tu não te deverias entristecer.
26. Mas, ainda que penses que ele (o Eu) é sujeito ao nascimento e morte
constantes, ainda assim, Ó poderosamente armado, tu não te deverias
entristecer.
27. Para aquêle que nasceu a morte é certa, e para o morto o nascimento é
certo. Portanto, não te entristeças ante o inevitável.
28. Ó Bharata, todas as criaturas são invisíveis no princípio, manifestas na
etapa média, novamente invisíveis no fim. Que há nisto para tristeza?
29. Alguns olham para ele (o Eu) com espanto, alguns falam dele com
espanto, alguns ouvem falar dele com espanto, e ainda alguns, mesmo depois
de ouvirem falar dele, não o conhecem.
30. O morador do corpo de qualquer um é sempre indestrutível: portanto, ó
Bharata, tu não deverias lamentar criatura alguma.
31. Mesmo encarando este assunto do ponto de vista do teu Dharma(1), tu não
deverias hesitar, porque nada há mais elevado para um Khsatrya (guerreiro) do
que uma guerra justa.
32. Ó filho de Pritha, em verdade são afortunados os guerreiros aos quais vem,
sem ser buscada, como um portão aberto para o céu, uma guerra assim.
33. Mas se não tomares parte nesta guerra justa, faltando então ao teu próprio
dever e a tua própria honra, incorrerás em pecado.
34. O povo falará sempre mal de ti; para o que é estimado, a desonra é ainda
pior do que a morte.
35. Estes grandes guerreiros em carros pensarão que fugiste à batalha através
do mêdo. E te considerarão levianamente aquêles que já te prestaram altas
honras.
36. Os teus inimigos dirão de ti coisas indizivelmente ignominiosas e negarão
o teu valor. Que pode ser mais penoso do que isto?
37. Se tombares na batalha, obterás o céu; se conquistares, gozarás a terra.
Assim, pois, ó filho de Kunti, levanta-te e dispõe-te a lutar.
38. Olhando por um mesmo prisma prazer e dor, ganho ou perda, vitória ou
derrota, trava a tua batalha. Assim o pecado não te manchará.
39. Assim te anunciei a sabedoria da Auto-realização. Ouve-me agora, ó filho
de Pritha, a respeito de Yoga, cujo conhecimento te livrará das peias do
Karma (causa e efeito) .
40. Neste (o Yoga) não há nem desperdício de esforço nem possibilidade de
resultados maus. Mesmo uma pequena prática disto (Yoga) liberta-nos do
pavor.
41. Ó filho de Kuru, neste (no Yoga) o espírito bem determinado é único
direto; mas os propósitos do espírito irresoluto são vários e infindáveis.
42. Ó filho de Pritha, aquêles que se deliciam com a linguagem florida dos
ignorantes e se satisfazem com a simples letra dos Vedas (Escrituras) dizendo:
"Não há mais nada";
43. E aquêles que estão cheios de desejos de auto-satisfação, olhando o céu(2)
como o seu mais alto objetivo, e se emaranham em muitos ritos complicados
de Escritura só para, nas suas futuras encarnações, merecer gozo e poder como
recompensa aos seus feitos;
44. Aquêles cujo discernimento é arrebatado pelo amor do poder e do gôzo e
que assim de então em diante a êles aderem profundamente ficam na
impossibilidade de convicção firme (no propósito) ou consciência de Deus.
45. Os Vedas jogam com os três Gunas. Ó Arjuna, livra-te dêstes três
Gunas(3); livra-te dos pares de opostos (frio e calor, prazer e dor); sempre
firme, sê livre das (idéias de) aquisição, conservação, auto-possessão.
46. Para o Brahamana, o conhecedor da Verdade, todos os Vedas estão tão
fora do mais pequeno uso quanto um pequeno tanque de água o está na época
de uma inundação, quando a água está por toda parte(4).
47. Tens o direito de trabalhar sozinho, mas não o tens sôbre os frutos do teu
trabalho. Não te deixes levar pelos frutos da ação, nem te entregues à inação.
CAPÍTULO III
Arjuna disse:
1. ó Janardana, ó Keshava (Krishna), se para o teu espírito (o caminho da)
sabedoria é superior ao (caminho) da ação, porque estás me engajando nesta
terrível ação?
2. Com estas palavras(1) que parecem contraditórias estás conturbando o meu
entendimento; dize-me, pois, com certeza, com qual delas poderei atingir o
mais alto.
O Senhor Abençoado disse:
3. ó sem-pecado, neste mundo é duplo o caminho que já descrevi. O caminho
da sabedoria é para os meditativos, e o caminho do trabalho é para os ativos.
4. Um homem não alcança a liberdade pela ação deixando de executar a ação,
nem atinge a perfeição simplesmente com o abandonar a ação.
5. Ninguém pode jamais descansar por um instante sem executar ação, porque
todos são impelidos pelas Gunas (qualidades) filhas de Prakriti (Natureza) a
um agir incessante. Aquêle que, restringindo os órgãos de ação, se queda com
pensamentos de objetos do sentido na mente, é um que se ilude a si próprio, e
é chamado um hipócrita.
7. Mas, ó Arjuna, aquêle que, controlando os sentidos com a mente, segue
desprendido o caminho da ação com os seus orgãos de ação, é apreciado o
8. Executa, portanto, ações justas e obrigatórias, porque a ação é superior à
inação. Sem trabalho, até a manutenção desnuda do teu corpo seria
impossível.
9. Este mundo está ligado por ações, exceto quando elas são praticadas por
causa de Yajna(2). Assim, pois, ó filho de Kunti, pratica a ação com
desprendimento.
10. No principio o Senhor das criaturas, tendo criado a humanidade,
juntamente com Yajna, disse: “Por elas (Yajna) prosperaremos e obteremos
todos os resultados desejados, como Kamadhuk”(3).
11. “Por elas (Yajna) seremos agradáveis aos Devas (os brilhantes) e os
Devas, por seu turno, nos agradarão. Assim, agradando-nos mutuamente,
obteremos o mais alto bem”.
12. Os Devas, cativados pelas Yajna, esparzirão sôbre todos vós todos os
objetos do vosso desejo. Aquêle que goza dos objetos dados pelos Devas, sem
aos Devas oferecê-los, é em verdade um ladrão.
13. Os justos, comendo as sobras de Yajna (sacrifício) , tornam-se isentos de
todo pecado; mas os injustos, que cozinham para si mesmos, cometem pecado.
14. As criaturas surgem da comida; a comida é produzida. pela chuva; a chuva
chega como resultado de Yajna; e Yajna é: fruto de Karma (ação) .
15. Sabe que Karma surge dos Vedas e os Vedas do Imperecível. Por
consequência, a Verdade onipresente (Brahman) é sempre alicerçada em
Yajna (sacrifício).
16. Aquêle que aqui (na terra) não segue a roda que assim vai girando, vive
em pecado e sensualidade; ó Partha, vive em vão.
17. Ao homem que se devota ao Eu, está satisfeito com o Eu e contente apenas
com o Eu, em favor dêsse homem nada se pode fazer.
18. Para êle, nada existe neste mundo a ganhar por ação ou a perder por
inação; nem êle necessita de depender de qualquer ser para qualquer objetivo.
19. Portanto, desprendido, cumpre incessantemente os teus deveres (o trabalho
que deve ser executado); pois através do exercício da ação, desprendida, o
homem atinge o mais alto.
20. Na verdade, só pelo trabalho, Janaka(4) e outros (grandes espíritos)
atingiram a perfeição. Assim; precisamente do ponto de vista do beneficio à
humanidade, deves exercer a ação:
21. Os homens inferiores só fazem aquilo que o homem superior faz. Seja qual
for o exemplo que o homem superior dê, o povo (as massas) o seguem.
22. ó Partha, nada há para que Eu faça; nada há nos três mundos alcançados
ou por alcançar por Mim, e todavia eu continuo em ação.
23. Porque se eu não trabalhasse sem cessar, ó Partha, os homens seguiriam o
meu caminho (exemplo) passo-à-passo.
24. Se eu não trabalhasse sem cessar, êstes mundos pereceriam(5). Eu causaria
confusão de castas(6), e também a destruição de todos os seres.
25. Ó descendente de Bharata, assim como o ignorante (que é apegado aos
resultados) trabalha, assim também (com o mesmo fervor) o sábio deveria
agir, isento de apêgo, desejoso de ajudar a humanidade.
26. Não se deve abalar o entendimento do ignorante que se apega à ação; o
homem de saber pelo exercício firme de ações, deve engajar (o ignorante) em
toda boa ação.
27. Todas as ações são praticadas pelos Gunas, nascidos de Prakriti (natureza).
O que tem o entendimento iludido pelo egoísmo apenas pensa: "Eu sou o
autor."
28. Mas, ó poderosamente.armado, o Vidente da Verdade, compreendendo as
divisões de Guna e Karma (virtudes, sentidos e ações), e sabendo que só os
sentidos perseguem os objetos sensuais, não ficará iludido nêles.
29. Um homem de perfeita sabedoria não deveria inquietar a gente de
conhecimento reduzido e imperfeito, que se ilude com as qualidades nascidas
da Natureza e é apegada à função dos Gunas (sentidos).
30. Subordinando toda ação a Mim e fixando o espírito no Eu, isento de
esperança(7) e de egoísmo(8), e livre da febre (de pesar), luta, ó Arjuna.
31. Os que praticam constantemente êstes Meus ensinamentos, com
verdadeira fé e devoção e coração resoluto, também êles estão livres (das
grilhões) da ação.
32. Mas os que julgam errada a minha pregação e não a seguem, êsses auto-
iludidos, despojados de todo conhecimento e discriminação, sabem que estão
arruinados.
33. Até um homem sábio age conforme a sua, natureza; os seres seguem a
natureza: que pode fazer a coerção?
34. O apêgo e a aversão dos sentidos são fundados em objeto dos sentidos;
que ninguém caia sob a influência do apêgo e da à versão. Eles são os
inimigos.
35. O nosso dever, ainda que destitui do de mérito, é melhor do que o dever
alheio, bem cumprido. É melhor a morte, no cumprimento do nosso próprio
dever; o dever alheio é cheio de perigo.
Arjuna disse:
36. Mas, ó Descendente de Vrishni (Krishna) , impelido por que poder o
homem comete pecado contra a sua vontade, como se fosse constrangido pela
força?
O Senhor Abençoado disse:
37. É o desejo, é a cólera, nascida de Rajo-Guna (espécie de paixão); conhece-
a como o inimigo nêste mundo(9).
38. Assim o fogo é envolto pela fumaça, assim como um espelho o é pelo pó,
um embrião pelo útero, assim está êste (o Eu) envolto por aquêle.
39. ó filho de Kunti, a sabedoria é envolta por êste insaciável fogo de desejo, o
inimigo tenaz do sábio.
40. Dizem que a sua sede são os sentidos, o espírito e o intelecto; através dêles
o desejo ilude o ser encarnado envolvendo-lhe a sabedoria.
41. Portanto, ó poderosíssimo da raça Bharata, subjugando em primeiro lugar
os sentidos, mata-o (desejo), o pecador, o destruidor da sabedoria e do
Conhecimento Próprio.
42. Dizem que os sentidos são superiores (ao corpo), que o espírito é superior
aos sentidos e o intelecto é superior ao espírito; e que o superior ao intelecto é
ele (Atman, o Eu) .
43. Ó poderosamente-armado, conhecendo-o assim, ao que é superior ao
intelecto, e subjugando o eu pelo Eu, destrói o inimigo em forma de desejo,
difícil de vencer-se.
Aqui termina o Terceiro Capitulo, chamado Karma-Yoga, ou O Caminho do
Trabalho".
CAPITULO IV
O Senhor Abençoado disse:
1. Expus êste imperecível Yoga a Vivasvan, e Vivasvan o expôs a Manu, e
Manu o ensinou a Ikshvaku.
2. Assim, trazido para baixo numa sucessão regular, os sábios reais o
conheceram. Durante longo tempo êste Yoga ficou perdido neste mundo, ó
Parantapa (Arjuna).
3. este mesmo velho Yoga foi (novamente) hoje revelado a ti por Mim, porque
és meu devoto e meu amigo. este é o supremo segredo.
Arjuna disse:
4. O teu nascimento foi depois, o nascimento de Vivasvan foi antes do teu.
Como, pois, hei de eu saber que revelaste isto no principio?
O Senhor Abençoado disse:
5. Ó Arjuna, tanto vós como eu temos passado por muitos nascimentos. Eu os
conheço a todos, porém tu não os conheces, ó Parantapa.
6. Embora eu seja não-nato e de natureza imutável, e embora eu seja o Senhor
de todos os seres, ainda assim, governando a minha Prakriti (Natureza) e pelo
meu próprio Maya, assumo a condição de ser.
7. Ó Bharata, sempre que há declinio de virtude e predominância de vicio,
encarno-me.
8. Para a proteção do bom e destruição dos malfeitores e para o
restabelecimento de Dharma (virtude e religião) sou nascido de era em era.
9. Aquêle que assim compreende verdadeiramente meu Divino Nascimento e
minha ação, ó Arjuna; não nasce mais ao deixar o seu corpo, porém Me
alcança e penetra em Mim.
10. Livres de apêgo, de mêdo e de cólera, absorvidos por Mim e em Mim
tendo refúgio, purificados pelo fogo da sabedoria, muitos têm atingido o Meu
Ser.
11. Seja qual for a maneira por que os homens Me adorem, da mesma maneira
Eu satisfaço os seus desejos. Ó Partha, de toda maneira os homens seguem os
Meus passos.
12. Os que desejam sucesso neste mundo adoram os deuses, pois no mundo
humano o êxito é rapidamente alcançado por meio de ações.
13. A casta quádrupla(1) foi por mim criada de acordo com Guna e Karma
(qualidades e ações). Embora eu seja o autor (disto) conhece-me como o-que-
não-faz e o imutável.
14. As ações não Me poluem, nem tenho qualquer desejo pelos frutos da ação.
Aquêle que assim Me sabe, não está ligado pela ação.
15. Sabendo disto, os antigos pesquisadores executavam ação depois da
libertação. Portanto, executa-a também tu, como fizeram os antigos nos
tempos idos.
16. Até os homens sábios ficam perturbados quando consideram o que é ação
e o que é inação. Portanto, ensinar-te-ei esta ação, cujo conhecimento te
tornará isento de todo mal.
17. Porque, verdadeiramente, a natureza da boa ação deve ser compreendida,
como também a da ação má e a da inação. A natureza de Karma (ação) é, com
efeito, muito difícil de ser compreendida.
18. O que vê inação na ação e ação na inação, é inteligente entre os homens; é
um homem de sabedoria firmada e um verdadeiro executor de todas as
ações.(2)
19. Os sábios chamam sábio àquele cujos empreendimentos estão isentos de
desejo de resultados e de planos, cujas ações são queimadas pelo fogo da
sabedoria.
20. Tendo abandonado o apêgo aos frutos, sempre satisfeito e não dependendo
de ninguém, embora engajado na ação êle nada faz.
21. Sendo isento de ambição, como o Eu controlado, e abandonando todo o
sentido de posse (propriedade), êle fica livre da tentação do pecado pela
simples execução de ação corporal.
22. Contente com tudo quanto venha sem esforço, não incomodado pelos
pares de opostos (prazer e dor, calor e frio) livre de inveja, mantendo o
espírito inalterável ante o êxito e o fracasso, ainda que agindo (êle) não está
sujeito.
23. Aquêle cujo apêgo se foi, que está libertado, cuja alma está bem firmada
na sabedoria, que trabalha somente por sacrifício, todo o seu Karma se funde.
24. Brahman (a Verdade absoluta) é a oferenda, Brahman é a oblação, o fogo
do sacrifício é (outra forma de) Brahman e por Brahman é consumado O
sacrifício. Assim, praticando ações com a consciência de Brahman, êle
alcança Brahman sozinho.
25. Alguns Yogis oferecem sacrifícios aos Devas, enquanto outros consumam
o sacrifício no fogo de Brahman oferecendo o ser pelo ser, apenas.
26. Alguns oferecem o sentido do ouvido e outros sentidos como uma oblação
no fogo de govêrno; outros, ainda, oferecem som e outros objetos dos sentidos
no fogo dos sentidos.
27. Outros oferecem todas as ações dos sentidos e funções das forças vitais
como oblação no fogo do autodomínio, iluminados pela sabedoria.
28. Alguns oferecem riquezas como sacrifício; alguns, austeridade e Yoga
como sacrifício; outros, ainda, de rígidos votos e autodomínio, oferecem
estudo das Escrituras e sabedoria como sacrifício.
29. Outros, ainda, oferecem como sacrifício, na entrada, o fôlego que vai sair
e, na saída, o fôlego que vai entrar, parando os cursos dos fôlegos que vão sair
e vão entrar; assim praticam constantemente Pranayana(3). Enquanto outros,
regulando a alimentação, oferecem as forças vitais como sacrifício no próprio
Prana.
30-31. Todos os conhecedores de sacrifício, queimando os seus pecados
(impurezas) pela realização do sacrifício e bebendo néctar do que resta do
sacrifício, vão para a eterna Brahman (a Verdade absoluta). Ó, melhor dos
Kurus (Arjuna), se nem mesmo êste mundo é para o que não realiza sacrifício,
muito, muito menos o é o outro (mundo).
32. Todos êstes vários sacrifícios são expostos nos Vedas (a revelação de
Brahman ou Verdade absoluta). Sabe que todos êles são nascidos da ação;
assim sabendo, serás livre.
33. Ó Parantapa (Arjuna), sabedoria-sacrifício é muito superior a sacrifício
feito com objetos materiais. Todo o reino da ação, ó Partha, termina em
sabedoria.
34. Aprende isto pela reverência, pela pesquisa e pelo ser- viço humilde.
Aquêles homens de saber, que apreenderam o sentido da Verdade, te
ensinarão a suprema sabedoria.
35. Conhecendo-a, ó Pandava, não cairás novamente assim em êrro (ilusão) e
através dela verás todos os seres em (teu) Eu e também em Mim.
36. Ainda que sejas o mais pecador dos pecadores, atravessarás (o oceano do
pecado) na barca da sabedoria.
37. Assim como o fogo ateado reduz a lenha a cinzas, ó Arjuna, assim o fogo
da sabedoria reduz todas as ações (Karma) a cinzas.
38. Com efeito, nada purifica neste mundo como a sabedoria. Em tempo, o
que é aperfeiçoado pelo Yoga a encontra por si mesmo dentro de si mesmo.
39. O homem de (inflexível) fé, que dominou os seus sentidos, alcança a
sabedoria. Tendo ganho sabedoria, atinge imediatamente a paz suprema.
40. O ignorante, o falto de fé, o de espírito hesitante, perecem.. Neste mundo,
nem no seguinte, há qualquer felicidade para o eu que duvida.
41. Ó Dhananjaya, as ações não vinculam aquêle que renunciou à ação pelo
Yoga e cortou a dúvida no meio pela sabedoria e o dono de si mesmo.
42. Portanto, cortando pelo meio com a espada da sabedoria esta dúvida do
Eu, filha da ignorância jazendo no coração, refugia-te em Yoga e ergue-te, ó
Bharata !
Aqui termina o Quarto Capitulo, chamado "Jnana-Yoga, ou Caminho da
Sabedoria"
CAPÍTULO V
Arjuna disse:
1 . Ó Krishna, tu louvas a renúncia à ação e depois novamente a Yoga
(exercício da ação); dize-me com certeza qual dos dois é melhor.
O Senhor Abençoado disse:
2. Renúncia (à ação) e exercício da ação, ambos conduzem à libertação. Mas,
dos dois, o exercício da ação é superior à renúncia à ação.
3. Conhece-o como perpétuo renunciante (Sannyasi) que não tem anseio nem
aversão, ó poderosamente-armado; sendo livre dos pares de opostos (frio e
calor, prazer e dor, etc.), êle é facilmente libertado de qualquer liame.
4. Somente as crianças (os ignorantes) dizem, não os homens sábios, que
sabedoria e Yoga são diferentes. O que está verdadeiramente firmado num
obtém os frutos do outro.
5. esse lugar que é alcançado pelos Jnanis (homens sábios) tambem é atingido
pelos Karma Yogins (homens de ação). Aquêle que considera uma só coisa
sabedoria e exercício da ação, é um verdadeiro Vidente.
6. Ó poderosamente-armado, é difícil alcançar-se renúncia à ação sem exerci
cio de ação. O homem sábio, sendo devotado a Yoga (ação), em breve atinge
Brahman (a Verdade absoluta) .
7. O que é devotado a Yoga, de espírito purificado, auto-dominado e senhor
dos sentidos, entendo o seu Eu como o Eu de todos os seres; ainda que aja,
não fica manchado.
8-9. O conhecedor da Verdade que se possui a si mesmo pensaria: "Eu não
faço absolutamente nada, ainda que veja, ouça, sinta pelo tato, sinta pelo
olfato, coma, ande, durma, respire, deixe de seguir e contenha, abra e feche os
olhos, firmemente convencido de que só os sentidos se movem por entre
objetos dos sentidos”.
10. O que pratica ações, ofertando-as a Brahman e abandonando todo apêgo,
não é poluído pelo pecado, assim como uma flor de lótus não o é pela água(1).
11. Os Karma Yogins, só para auto-purificação, praticam ações com o corpo,
com o espírito, até com os sentidos, abandonando todo apêgo.
12. O de espírito firme, desprezando o apêgo por todos os frutos da ação,
obtém paz, filha da constância. O hesitante (volúvel) , apegado aos resultados
através do desejo, está sempre subjugado (pela ação).
13. Pela renúncia a todas as ações mediante o discerni- mento mental, aquêle
que se domina descansa feliz na cidade dos nove portões (o corpo), nem
agindo (êle próprio) nem fazendo (a outrem) agir.
14. O Senhor não criou para o mundo nem a agência (sentido do "Eu"), nem
ações, nem união com o fruto da ação. É a natureza que conduz à ação.
15. O Senhor onipresente não partilha nem dos bem nem dos mal feitos de
ninguém. A sabedoria está sobrepujada pela ignorância, e por isto os mortais
estão ludibriados.
16. Mas, como o sol, aqueles cuja ignorância foi destruída pelo conhecimento
de si mesmos, pelo seu conhecimento do Eu, iluminam o Supremo.
17. Aquêles cujo coração e cujo espírito estão absorvidos naquele (o
Supremo), que são firmemente devotados e Aquele e que olham Aquêle como
a sua meta mais alta, não regredirão nunca mais, porque os seus pecados
(impurezas) foram lavados pela sabedoria.
18. O sábio olha com igual olhar(2) para um Brahmana dotado de saber e
humildade, para uma vaca, um elefante, um cão, um Pariah (comedor de cão).
19. Mesmo aqui (neste mundo) a existência (vida terrena) por aquêles cujo
espírito descansa em igualdade, pois Brahman é sem imperfeição e igual.
Portanto, êles moram em Brahman.
20. O de espírito firme, esclarecido conhecedor de Brahman, sendo bem
firmado em Brahman, nem se rejubila em receber o agradavel nem se
entristece em receber o desagradável.
21. Aquêle cujo coração é desapegado aos contactos exteriores (dos sentidos)
avalia a ventura que reside no Eu; unido a Brahman pela meditação, alcança a
felicidade eterna.
22. Os prazeres que nascem do contacto (com objetos dos sentidos) são
sempre geradores de desdita. Ó filho de Kunti, neles o sábio não procura
prazer.
23. Aquêle que pode deter o impulso de lascivia e de cólera ainda aqui (nesta
vida), antes de estar separado do corpo, é firme e verdadeiramente um homem
feliz.
24. O que tem a alegria. dentro de si, o prazer dentro de si, e a luz dentro de si,
tal Yogi, por ser bem firmado em Brahman, atinge a liberdade absoluta.
25. Os Rishis (Videntes da Verdade), que se dominam, e que estão lavados de
suas impurezas, e cujas dúvidas estão destruídas, e que se ocupam em fazer o
bem a todos os seres, alcançam a libertação suprema.
26. Para os Sannyasins, que são isentos da luxúria e de cólera, que possuem
corações bem dominados e o Eu bem compreendido, para êles a liberdade
absoluta existe, aqui e depois daqui.
27-28. Isolando-se do contacto externo com os objetos dos sentidos, os olhos
fixos entre as sobrancelhas(3), e tornando iguais as correntes de Prana (entrada
do ar) e Apana (saída do ar) nas narinas, o homem que medita, havendo
dominado os sentidos, o espírito e o intelecto, estando isento de desejo, de
mêdo e de cólera, e considerando a liberdade a sua finalidade suprema, está
livre para sempre.
29. Reconhecendo em Mim o que recebe e o que distribui Yajna (sacrifício) e
austeridade, o Senhor Supremo do Universo e o AInigo de todos os seres, o
que medita alcança a paz.
Aqui termina o Quinto Capítulo, chamado "Sannyasa-Yoga, ou O Caminho da
Renúncia"
CAPÍTULO VI
O Senhor Abençoado disse:
1. Aquêle que cumpre o seu dever sem depender dos frutos da ação, é um
Sannyasi (um verdadeiro renunciante), e um Yogi (um verdadeiro
trabalhador), mas aquele que não possui chama de sacrifício a ação.
2. Ó Pandava, sabe que o que é chamado Sannyasa (renúncia) é também Yoga
(real desempenho de ação), pois ninguém se pode tornar um Yogi sem deixar
de fantasiar sôbre os frutos da ação.
3. Para o meditativo empenhado em alcançar Yoga, diz-se que a ação constitui
os meios; para o mesmo homem, quando êle já alcançou Yoga, diz-se que a
inação constitui os meios.
4. Aquele que não é apegado aos objetos dos sentidos e às ações, e abandonou
todas as fantasias sôbre os frutos da ação, é considerado como tendo atingido
Yoga.
5. Que um homem se erga pelo seu Eu, que êle nunca se abaixe; porque só êle
é amigo de si mesmo e só: êle é inimigo de si mesmo.
6. O que se conquistou pelo Eu, é amigo de si mesmo; mas aquele cujo Eu não
está conquistado, tem nesse Eu um adversário que age como um inimigo
externo.
7. O Supremo Eu do que possui espírito sereno e se domina está sempre isento
das perturbações do calor e do frio, do prazer e da dor, tão bem na honra como
na desonra.
8. O que se satisfaz com saber e visão direta da Verdade, o que dominou os
sentidos e está sempre isento de perturbação, e para quem um punhado de
terra, uma pedra e ouro são a mesma coisa, é Yogi e chamado Yukta (um
santo de sólida sabedoria).
9. É estimado aquêle que com igual olhar olha bem intencionado, amigos,
inimigos, neutros, um mediador, o odiento, os parentes, o direito e o iníquo.
10. Um Yogi(1) deve praticar constantemente concentração do coração, ficar
em reclusão sozinho submetendo o corpo e o espírito e se tornando isento de
aspiração ou posse (sentido de propriedade).
11. Tendo estabelecido sua sede firmemente num lugar limpo, nem muito alto
nem muito baixo, com uma roupa, pele e erva Kusha, colocada uma sobre a
outra;
12. Sentando-se ali, dirigindo o espírito num rumo único e subjugando as
atividades do espírito e dos sentidos, deixa que êle pratique Yoga para se
purificar.
13. Deixa que êle mantenha o corpo, a cabeça e o pescoço erectos e imóveis,
fixando o olhar na ponta do nariz, não olhando em torno.(2)
14. De coração sereno e sem temor, sempre firme no voto de Brahmacharya(3)
e controlando o espírito, deixa que êle ali fique firmemente absorvido em
pensamentos em Mim, a Mim considerando o seu objetivo supremo.
15. Assim, sempre se conservando firme, o Yogi de espírito dominado alcança
paz eterna e liberdade, que moram em Mim.
16. Mas, ó Arjuna, (a prática do) Yoga não é para o que come em excesso ou
não come coisa alguma, nem para o que dorme em excesso ou permanece
acordado (em excesso).
17. Para o que é moderado em comer e recrear-se, moderado nos seus esforços
de trabalho, moderado no sono e na vigília (a sua prática de) Yoga se torna
uma força destruidora de toda infelicidade.
18. Quando o espírito, completamente dominado, descansa no Eu somente,
,livre de ambição por todos os objetos do desejo, então se diz que o homem é
um Yukta (firmemente estabelecido no conhecimento do Eu) .
19. Uma lâmpada colocada em lugar onde não venta, não vacila. A mesma
comparação é usada para definir o Yogi de espírito dominado, praticando a
união com o Eu.
20. Em tal estado, quando o espírito está completamente dominado pela
prática do Yoga e alcançou a serenidade, em tal estado, vendo o Eu pelo eu,
êle está satisfeito no Eu isolado.
21. Em tal estado, transcendendo dos sentidos, êle (o Yogi) sente essa infinita
ventura que é experimentada pela com- preensão purificada; disto sabendo e
nisto firmado, nunca decai do seu verdadeiro estado (de conhecimento do seu
Eu);
22. Depois de cuja obtenção nenhum outro ganho parece maior; estando nêle
estabelecido, o Yogi não sucumbe nem a grande tristeza.
23. Conhece este (estado) de separação do contacto com a dor como Yoga.
Este Yoga deve ser praticado com perseverança e coração forte.
24. Abandonando sem reservas todos os desejos nascidos das fantasias
mentais e refreando completamente pelo espírito todo o grupo de sentidos de
várias direções.
25. Com a compreensão ajudada pela firmeza e o espírito estabelecido no Eu,
deixa que êle (assim) atinja gradualmente a tranqüilidade; deixa que êle não
pense em nada mais.
26. Por onde quer que o espírito inquieto e volúvel possa vaguear, deixa que
êle o arranque de lá e o traga ao controle do Eu somente.
27. A um Yogi cujas paixões estão amainadas e cujo espirito esta
perfeitamente tranqüilo, e que se tornou um com Brahman, livrando-se de
todas as impurezas, a um Yogi assim vem a felicidade suprema.
28. Assim conservando o espírito constantemente firme, o Yogi, cujas
impurezas são banidas, facilmente atinge a ventura infinita, nascida do
contacto com Brahman.
29. Aquêle cujo coração está. firmemente empenhado em Yoga, olha para toda
parte com os olhos da igualdade, vendo o Eu em todos os seres e todos os
seres no Eu.
30. Para o que Me vê em tudo e em tudo Me vê, Eu não desapareço, nem êle
desaparece para Mim.
31. O Yogi que estando estabelecido em unidade adora-me como existindo em
todos os seres, o Yogi assim, como quer que more, mora em Mim.
32. Ó Arjuna, o Yogi que encara o prazer e a dor em toda parte como os
encara quando êles lhe são aplicados, é um Yogi altamente considerado.
Arjuna disse:
33. Ó Destruidor de Mandhu (Krishna), não vejo para êste Yoga por Ti
proclamado possibilidade de existência duradoura. devido à inquietação do
espírito.
34. Ó Krishna, o espírito é inquieto, turbulento, forte e insubmisso; creio que
subjugá-lo é tão difícil como dominar o vento.
O Senhor Abençoado disse:
35. Sem dúvida, ó poderosamente-armado, o espírito é in- quieto e de difícil
controle; mas, ó filho de Kunti, através da prática e da renúncia êle pode ser
submetido.
36. O Yoga é difícil de atingir para aquêle que tem o seu indisciplinado: tal a
minha convicção; mas aquêle que se domina pode atingi-lo seguindo os meios
próprios.
Arjuna disse:
37. Ó Krishna, aquêle que, ainda que possuído de fé, falha em contrôle, e cujo
espírito vagueia por longe de Yoga, que fim encontra êle, deixando de
alcançar a perfeição?
38. Ó poderosamente-armado (Krishna), êle não parece como uma nuvem
rôta, cai do de ambos (daqui e depois daqui). confuso no caminho de Brahman
(Verdade) ?
39. Ó Krishna, Tu deves desfazer esta minha dúvida, porque ninguém senão
Tu é capaz de destruir esta dúvida.
O Senhor Abençoado disse:
40. Ó Partha, não há destruição para êle nem aqui nem depois daqui, porque o
benfazejo (devoto), ó Amado, jamais chega a um mau fim.
41. O que decai do Yoga, depois de ter atingido as regiões dos justos e morado
lá por tempo ilimitado, reencarna-se na casa do puro e próspero.
42. Ou então nasce na família de sábios Yogis; mas tal nascimento é de muito
rara obtenção neste mundo.
43. Ó descendente de Kuru, lá (naquela encarnação) êle ganha o conhecimento
adquirido na encarnação anterior, e luta ainda mais (ardentemente) do que
antes pela perfeição.
44. Ele é irresistivelmente guiado pela prática anterior (de Yoga). Até o
pesquisador de Yoga vai além da carta-Brahman(4).
45. Mas o Yogi, lutando com perseverança, purificado de todo pecado,
aperfeiçoado através de muitos nascimentos, alcança a meta suprema.
46. O Yogi é superior ao asceta, e superior aos que alcançaram a sabedoria por
meio de livros; êle é também superior aos que desempenham ação (de acôrdo
com as Escrituras). Portanto, ó Arjuna, sê um Yogi.
47. E, entre todos os Yogis para Mim o mais alto é aquêle que, com o seu eu
mais recôndito absorvido em Mim, Me adora com (inflexível) fé.
Aqui termina o Capitulo Sexto, chamado "Dhyana-Yoga, ou O Caminho da
meditação"
CAPÍTULO VII
O Bem-aventurado Senhor disse:
1. Ó Partha, praticando o Yoga, com teu espírito em Mim fixo e procurando
refúgio em Mim, ouvirás verdadeiramente de que modo tu hás de me conhecer
sem duvidar.
2. Revelar-te-ei sem reservas êsse conhecimento (teoria) e sabedoria (prática)
e tendo-o obtido sentirás que nada mais aqui (neste mundo) ficará por saber.
3. No meio de milhares de seres humanos dificilmente se encontra um que se
esforce em busca da perfeição; e no meio (de milhares de) homens sinceros
que se esforçam pela perfeição dificilmente um Me conhece de verdade.
4. São oito os elementos em que está dividida minha Prakriti (Natureza): terra,
água, fogo, ar, éter, espírito, intelecto e egoísmo.
5. Essa Prakriti é inferior; mas diferente dela, sabe, ó poderosamente armado,
que minha Prakriti superior, na forma de ciência-de-vida, serve de apoio a êste
universo.
6. Sabe que todos os seres são gerados dessas duas (prakritis). Eu sou a origem
e também a dissolução do universo inteiro.
7. Ó Dhananjava (Arjuna) , não há nada (existente) superior a mim. Tal como
pérolas num fio, todo êste (universo) está enfiado em Mim.
8. Ó filho de Kunti, eu sou o sabor das águas e o brilho do sol e da lua, eu sou
Om(1) em todos os Vedas, sou som em Akasha (éter), sou consciência da
humanidade.
9. Eu sou o perfume sagrado da terra e o esplendor do fogo; eu sou a vida de
todos os seres e a austeridade dos ascetas.
10. Conhece-Me, ó Partha, como o gérmen eterno de todos os seres. Eu sou o
intelecto do inteligente e a valentia dos poderosos.
11. Ó poderoso da raça Bharata, do forte sou a força, despida de desejo e
apêgo; eu sou (também) desejo em todos os seres, sem oposição a Dharma
(dever espiritual) .
12. Sejam quais forem as condições pertencentes aos estados de Sattwa
(predicado de bondade) , Rajas (paixão), Tamas (ignorância, inércia)
reconhece-as todas como procedentes de Mim. Não estou neles porém êles
estão em Mim.
13. Iludidos por êsses estados, compostos dos três Gunas (predicados), êste
mundo inteiro não Me conhece, a Mim que estou além dêsses predicados e sou
imutável.
14. De fato êste meu divino Maya (mistério que engana) composto de Gunas,
é difícil de transpor; só aquêles que em Mim se refugiam, transpõem êste
Maya.
15. Os iludidos, os malfeitores, os homens mais ínfimos, privados de
compreensão por Maya e seguindo tendências demoníacas, êsses não
conseguem atingir-me.
16. Ó Príncipe da raça Bharata, ó Arjuna, quatro espécies de homens virtuosos
Me adoram: os mortificados, os que pro-. curam o saber, os que procuram a
prosperidade material e os sábios.
17. Entre êsses, o sábio, sempre firme, devotado ao único (a Mim), é o que
sobrepuja pois sou supremamente caro ao sábio e êle Me é caro.
18. Todos êles são nobres, mas considero o sábio como meu próprio Eu; pois,
com alma sempre firme, pôs seus olhos só em Mim como sua meta suprema.
19. No fim de vários nascimentos, o homem sábio entra em Mim vendo que
tudo isto está (preenchido por) um único Eu. Um homem de alma tão grande é
muito difícil de encontrar.
20. Aquêles cujo discernimento é perturbado por diversos desejos, adoram
outras deidades ao observar vários outros ritos (com a esperança de obter
prazer, poder, etc.) sendo impelidos pela sua própria natureza.
21. Qualquer devoto que procure adorar qualquer (Divina) forma com fé, eu
faço com que sua fé não vacile.
22. Possuindo essa fé, êle se empenha na adoração (dessa deidade); e daí
obtém os resultados ambicionados, que são concedidos só por Mim.
23. Mas o fruto (adquirido) por êsses homens de compreensão curta é pequeno
e de pouca duração. Os adoradores dos Devas (dos que brilham) procuram
Devas; porém os meus crentes vêem a Mim.
24. Os ignorantes, não conhecendo meu estado Eterno, Imutável e Supremo,
consideram-Me como a vinda sem manifestação para a revelação.
25. Eu não sou revelado a todos, sendo oculto por Yoga-Maya(2). esse mundo
iludido não Me conhece, a Mim, o Não-nascido e o Imutável.
26. Ó Arjuna, eu conheço o passado, o presente e o futuro de todos os seres,
mas ninguém Me conhece.
27. Ó Bharata, terror de teus inimigos, todos os seres ao nascerem caem na
ilusão, causada por adversários aos pares, Burgindo do desejo e da aversão.