AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM NUMA PERSPECTIVA SISTÊMICO-FUNCIONAL Sara Regina Scotta Cabral (ULBRA, campus de Cachoeira do Sul) [email protected]RESUMO: Ape sa r de ! ri os li ng "i stas tere m se oc up ado do tema #$u n% &es da lin gua gem ' (B" hle r, aobs on, *or ris , Bri ton e outros ), interessa a est e art igo a concep%+o de linguagem de allida- (//0), para 1uem ela constitui um sistema s2ciossemi2tico, atra3s do 1ual o homem constr2i sua e4peri5ncia. 6ste estudioso tem das $un%&es da linguagem uma is+o tripartite, deriadas da con$igura%+o conte4tual, 1ue ocorrem simultaneamente: a ideacional, a interpessoal e a te4tual. 6ste trabalho tem por ob7etio identi$icar tais $un%&es em tr5s pe1uenos te4tos publicados na 8a9eta de Alagoas no dia de maio de ;<<0, ocasi+o em 1ue o pa=s $erilhaa de coment!rios sobre a reportagem de Larr- Rohter, do 7ornal >he ?eo r>imes, acerca dos h!bitos et=licos do presidente do Brasil. procedimento para o e4ame do corpusobedeceu a duas etapas: na primeira, $oi delineada, de modo mais geral, a con$igura%+o conte4tual de cada um dos te4tosna segunda, $oram identi$icadas as tr5s $un%&es da linguagem relatias D con$igura%+o conte4tual bem como as marcas ling"=sticas re$erentes a cada uma delas, atra3s da an!lisada indiidual das ora%&es. s resultados apontam para a preal5ncia, na $un%+o ideacional, dos processos materiais, na $un%+o interpessoal para o uso de proposi%&es na modalidade epist5mica e, na $un%+o te4tual, para os >emas t2picos, caracter=sticos do o$erecimento de in$orma%+o. Eelo e4posto, concluiFse 1ue, com o uso de processos materiais, de proposi%&es em 1ue a in$orma%+o 3 o$erecida e de >emas t2picos, Cl!udio umberto, nos tr5s te4tos, pretende in$ormar seus leitores sobre os acontecimentos peri$3ricos do caso Larr- Rohter, mas n+o dei4a de, como cabe a um autor de coluna pol=tica, implicitamente opinar sobre os acontecimentos do momento. PALAVRAS-CHAVE : gram!tic a sist5micoF$u nc ional, $u n% &es da li ng ua ge m, con$igura%+o conte4tual. INTRODUÇÃO G!rios autores 7! se ocuparam em discutir as $un%&es da linguagem: *alinosi, B"hler, aobson, Briton e *orris e allida-. Hentre eles, tr5s se sobressaem: s+o as correntes de B"hler, de aobson e de allida-. Ea ra B"hler (/ 0), a lin gua ge m 3 usada pa ra tr5 s $in alida des espec=$icas: e4pressar o pensamento do $alante, dirigirFse ao ouinte e representar o mundo. S+o respectiamente as $un%&es e4pressia, conatia e representatia, orientadas para as tr5s pessoas do discurso enolidas em um eento comunicatio: o $alante ($un%+o e4p ressi a), o ouint e (co nat i a ) e o mun do cir cun dan te (re pre sentati a ). Su a classi$ica%+o $oi adotada pela 6scola de Eraga e, mais tarde, Roman aobson (/I<) ampli ou esse nJm ero par a seis, ac res cen tan do as $un %&e s $!tica, me tal ing "=stica e
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8/15/2019 Bases da linguística sistêmico-funcional.
RESUMO: Apesar de !rios ling"istas terem se ocupado do tema #$un%&es dalinguagem' (B"hler, aobson, *orris, Briton e outros), interessa a este artigo aconcep%+o de linguagem de allida- (//0), para 1uem ela constitui um sistemas2ciossemi2tico, atra3s do 1ual o homem constr2i sua e4peri5ncia. 6ste estudioso temdas $un%&es da linguagem uma is+o tripartite, deriadas da con$igura%+o conte4tual,1ue ocorrem simultaneamente: a ideacional, a interpessoal e a te4tual. 6ste trabalho tem
por ob7etio identi$icar tais $un%&es em tr5s pe1uenos te4tos publicados na 8a9eta de
Alagoas no dia de maio de ;<<0, ocasi+o em 1ue o pa=s $erilhaa de coment!riossobre a reportagem de Larr- Rohter, do 7ornal >he ?e or >imes, acerca dos h!bitoset=licos do presidente do Brasil. procedimento para o e4ame do corpus obedeceu aduas etapas: na primeira, $oi delineada, de modo mais geral, a con$igura%+o conte4tualde cada um dos te4tos na segunda, $oram identi$icadas as tr5s $un%&es da linguagemrelatias D con$igura%+o conte4tual bem como as marcas ling"=sticas re$erentes a cadauma delas, atra3s da an!lisada indiidual das ora%&es. s resultados apontam para a
preal5ncia, na $un%+o ideacional, dos processos materiais, na $un%+o interpessoal parao uso de proposi%&es na modalidade epist5mica e, na $un%+o te4tual, para os >emast2picos, caracter=sticos do o$erecimento de in$orma%+o. Eelo e4posto, concluiFse 1ue,com o uso de processos materiais, de proposi%&es em 1ue a in$orma%+o 3 o$erecida e de>emas t2picos, Cl!udio umberto, nos tr5s te4tos, pretende in$ormar seus leitores sobreos acontecimentos peri$3ricos do caso Larr- Rohter, mas n+o dei4a de, como cabe a umautor de coluna pol=tica, implicitamente opinar sobre os acontecimentos do momento.PALAVRAS-CHAVE: gram!tica sist5micoF$uncional, $un%&es da linguagem,con$igura%+o conte4tual.
INTRODUÇÃO
G!rios autores 7! se ocuparam em discutir as $un%&es da linguagem: *alinosi,
B"hler, aobson, Briton e *orris e allida-. Hentre eles, tr5s se sobressaem: s+o ascorrentes de B"hler, de aobson e de allida-.
Eara B"hler (/0), a linguagem 3 usada para tr5s $inalidades espec=$icas:
e4pressar o pensamento do $alante, dirigirFse ao ouinte e representar o mundo. S+o
respectiamente as $un%&es e4pressia, conatia e representatia, orientadas para as tr5s
pessoas do discurso enolidas em um eento comunicatio: o $alante ($un%+o
e4pressia), o ouinte (conatia) e o mundo circundante (representatia). Sua
classi$ica%+o $oi adotada pela 6scola de Eraga e, mais tarde, Roman aobson (/I<)ampliou esse nJmero para seis, acrescentando as $un%&es $!tica, metaling"=stica e
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po3tica. As tr5s primeiras mantieram rela%+o com as $un%&es de B"hler. 6m acr3scimo,
a $!tica di9 respeito ao canal de comunica%+o utili9ado, a metaling"=stica tem a er com
o c2digo e a Jltima, a po3tica, 3 orientada para a mensagem propriamente dita.
allida- (/K/b) 5 $un%+o como sinnimo de uso. Eara ele, tr5s s+o as $un%&es
M 1ue acontecem concomitantemente F para as 1uais a linguagem 3 utili9ada: representar
o mundo, ser um instrumento de intera%+o e organi9ar a in$orma%+o. ?essa perspectia
(sist5micoF$uncional), as $un%&es denominamFse respectiamente ideacional,
interpessoal e te4tual.
ob7etio deste artigo 3 discorrer sobre as tr5s $un%&es hallida-anas e
especi$icar os elementos gramaticais 1ue contribuem para a reali9a%+o de cada uma
delas, o 1ue ser! e4empli$icado atra3s da an!lise de tr5s pe1uenos te4tos retirados de
uma coluna de opini+o pol=tica publicada no 7ornal 8a9eta de Alagoas, em de maio
de ;<<0. A metodologia a ser utili9ada consistir! em duas etapas: na primeira, ser!
delineada, de modo mais geral, a con$igura%+o conte4tual dos te4tos selecionados e, na
segunda etapa, ser+o identi$icadas as tr5s $un%&es da linguagem relatias a cada um dos
te4tos bem como as marcas ling"=sticas 1ue comproem tais resultados.
6ste artigo est! organi9ado da seguinte maneira: apresenta inicialmente a
orienta%+o sist5micoF$uncional no 1ue se re$ere Ds tr5s $un%&es da linguagem e a cada
uma em particular.Logo ap2s, e4p&e a metodologia a ser utili9ada no tratamento do
corpus, reali9a a an!lise propriamente dita e, por $im, apresenta os elementos
conclusios resultantes da pr!tica, tendoFse em ista os pressupostos apresentados neste
estudo. A se%+o #Ane4os' cont3m, para $ins ilustratios, a e4plicita%+o da an!lise
indiidual de cada ora%+o.
1. LINGUAGEM E GRAMÁTICA FUNCIONAL
Segundo Bloor N Bloor (//O, p. 0), Pa comunica%+o 3 um dos processosinteratios em 1ue os sentidos s+o negociadosQ. *uitas das escolhas ling"=sticas
$eitas pelo $alanteescritor s+o inconscientes, pois se sabe 1ue, ao usar a linguagem no
cotidiano, ele n+o p!ra para re$letir sobre categorias gramaticais. 6ntretanto, as $ormas
ling"=sticas utili9adas re$letem o 1ue de melhor e4pressa os sentidos 1ue pretende
atribuir ao 1ue est! $alandoescreendo. EodeFse, assim, di9er 1ue as $ormas ling"=sticas
1ue utili9a constituem uma aalia%+o do mundo e da situa%+o 1ue iencia.
Segundo allida-, o homem constr2i a realidade atra3s de processos semi2ticosdiersos, dos 1uais o principal 3 a linguagem. Assim, linguagem, para este autor (/K/a,
;
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p. ), 3 um aspecto e um recurso de $undamental importncia na constru%+o da
e4peri5ncia humana. Eortanto, estudar linguagem signi$ica e4plorar alguns dos
processos mais importantes e di$undidos uniersalmente. 6ssa is+o construtia da
realidade Passume 1ue o uso da linguagem n+o somente espelha a estrutura social, mas
tamb3m a constr2i e a mant3m: assim, sempre 1ue algu3m se PapropriaQ da linguagem
ao dirigirFse a um outro socialmente superior, ambos os participantes est+o mostrando a
condi%+o de seu status e simultaneamente re$or%ando o sistema social hier!r1uicoQ
(>hompson N Collins, ;<<, p. T).
allida- constr2i uma teoria ling"=stica de base semntica 1ue permite a
inestiga%+o dos pap3is 1ue e4ercem os termos selecionados pelo emissor no processo
de constru%+o da realidade, se7a em situa%&es de representa%+o do mundo ou de troca
com o interlocutor. Ha= se percebe n+o s2 o car!ter semi2tico da linguagem, mas
tamb3m o social, uma e9 1ue, pertencendo D cultura humana e constituindo um sistema
de sentidos, di9 respeito Ds rela%&es entre l=ngua e estrutura social e considera a1uela
como $orma de intera%+o com o outro e com o mundo. Eortanto, essa teoria 5 a
linguagem como um sistema sociossemi2tico e parte das rela%&es entre a l=ngua e a
estrutura social para descreer usos e ariedades.
Ao relacionar linguagem, te4to e conte4to, allida- (/K/a, p. <) considera
te4to como Puma instncia da linguagem 1ue est! e4ercendo algum papel em um
conte4to de situa%+oQ. s sentidos do te4to s+o e4pressos em palaras e estruturas,
$ormando uma unidade de sentido. Assim, o te4to 3 uma entidade semntica 1ue, mais
1ue elementos ling"=sticos, constitui um processo e um produto. um processo na
medida em 1ue representa um moimento em dire%+o a escolhas cont=nuas de
signi$icado, e um produto por1ue pode ser retomado pelo interlocutor ou mesmo pelo
locutor, este7am eles pr24imos ou distantes do te4to. te4to, isto como possibilidade
de troca de sentidos, permite a intera%+o entre os participantes do eento. Assim, na perspectia $uncional, o te4to 3 uma instncia de sentidos produ9idos em um conte4to
particular.
>odo te4to tem um te4to 1ue o precede na ida real M 3 o conte4to. conte4to
inclui a situa%+o em 1ue o te4to ocorre e o meio erbal em 1ue a intera%+o se
desenole. *alinosi, apud allida- (/K/a, p. O) distingue conte4to de situa%+o e
conte4to de cultura. conte4to de situa%+o compreende o ambiente em 1ue o te4to 3
produ9ido. ! o conte4to de cultura abrange toda a hist2ria cultural do coletio, numa perspectia s2cioFhist2rica, 1ue determina a nature9a do c2digo. Como uma l=ngua se
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s+o utili9ados: erbal, comportamental e e4istencial. 6m gram!tica $uncional, cada tipo
de processo enole di$erentes tipos de participantes.
Gale ressaltar 1ue a is+o tr=plice dos processos repousa, na erdade, na
distin%+o gramatical das classes de palaras em erbos, nomes, ad3rbios e outras
categorias. He antem+o, podeFse a$irmar 1ue os (i) sintagmas erbais, (ii) nominais e
(iii) aderbiais correspondem a (i) processos, (ii) participantes e (iii) circunstncias.
Hesse modo, processo, participante e circunstncia s+o categorais semnticas 1ue
e4plicam, na maioria dos casos, como os $enmenos do mundo real s+o representados
em estruturas ling"=sticas.
s processos materiais, ou processos de P$a9erQ, enolem uma gama de a%&es e
de acontecimentos do mundo real. Caracteri9amFse por serem concretos: re$eremFse ao
mundo $=sico, 1ue pode ser percebido pelos sentidos humanos e 1ue pode moimentarF
se no espa%o. Constituem oc!bulos 1ue e4empli$icam processos materiais: #entar',
#morrer', #1uebrar', #construir', #assar', #moimentarFse' e outros.
s processos materiais apresentam, no m=nimo, um participante M 3 o Ator. A
gram!tica cl!ssica denominaa esse termo #su7eito l2gico'. Eode haer tamb3m a *eta
M o participante atingido pela a%+o M e, algumas e9es, o Bene$ici!rio, M o participante
1ue 3 bene$iciado pela a%+o. Zmbito ( Range na terminologia de allida-) 3 Pa
entidade 1ue e4iste independentemente do processo, mas 1ue indica o dom=nio no 1ual
o processo ocorreQ (//0, p. 0I). Bene$ici!rio e Zmbito s+o participantes nem sempre
presentes na ora%+o. 6n1uanto o Bene$ici!rio corresponde, em ora%&es a$irmatias em
o9 atia, ao ob7eto indireto, na o9 passia 3 $re1"entemente o su7eito gramatical da
ora%+o.
Zmbito 3 muito comum em casos de desle4icali9a%+o erbal, ou se7a, casos
em 1ue o erbo se apresenta a9io de sentido. S+o e4emplos, em portugu5s, de
ocorr5ncias dos erbos #$a9er', #dar' e #ter', como em #$a9er uma prociss+o', #dar umcorte', #ter um encontro'. allida- denomina esses erbos de erbos #dorminhocos'. A
nominali9a%+o 1ue a= emerge, em muitos casos em l=ngua $alada, constitui di$eren%as de
registro, embora o sentido se7a o mesmo. Semanticamente, o papel e4ercido pelos
participantes #uma prociss+o', #um corte' e #um encontro' di$erem do papel e4ercido
pela *eta do processo, constituindo o seu Zmbito.
Alguns processos M os mentais F enolem $enmenos melhor descritos como
estados de nimo e eentos psicol2gicos (processos de percep%+o, de cogni%+o e dea$ei%+o). ?ormalmente s+o constru=dos atra3s de erbos como #pensar', #gostar',
/
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#sentir', #er', #1uerer', #ouir', #gostar' e outros. Uma di$eren%a entre o processo
material e o processo mental 3 1ue, no primeiro, todo participante 3 um ser F da
realidade ou da imagina%+o humana. ?o segundo, o mental, tomam parte os $atos,
constru=dos como participantes por pro7e%+o, ou se7a, por discurso citado ou relatado, ou
por id3ias. s $atos podem ser istos, sentidos ou pensados, mas n+o podem #$a9er',
#e4ecutar' alguma coisa, como no processo material.
s processos mentais s+o e4perienciados pelo Su7eito do processo e participante
consciente M o 64perienciador (Bittencourt, ;<<, p. K e KT). *eta$oricamente esse
papel pode ser e4ercido por entidades inanimadas. A1uele 1ue 3 atingido pelo processo
3 denominado Venmeno M complemento do processo. 64perienciador pode ser
1ual1uer entidade criada pela consci5ncia humana: um ser, um ob7eto, uma institui%+o,
uma substncia. Venmeno, representado pelo conteJdo do sentido, re$ereFse ao 1ue 3
sentido, pensado ou isto. Como categorias de percep%+o, t5mFse os erbos #er',
#ouir', #cheirar' de cogni%+o, #pensar', #saber', #crer', #compreender' e de a$ei%+o,
#gostar', #odiar', #amedrontar' e outros.
Eor outro lado, os processos 1ue representam as categorias de (i) atribui%+o e (ii)
identi$ica%+o s+o denominados relacionais. Eertencem aos processos de #ser' e lembram
o conceito gramatical de c2pula. S+o tipicamente reali9ados atra3s do erbo #ser' ou
de 1ual1uer outro similar F #parecer', #tornarFse', #$icar', #andar' M e ainda os erbos
#ter', #possuir' e #pertencer'. ?as ora%&es relacionais, h! duas entidades de #ser': x 3
isto como sendo y, e entre elas opera o sistema gramatical com tr5s tipos de rela%+o,
em 1ue emergem tr5s subcategorias: (a) a rela%+o 3 intensia, pois x 3 y (b) a rela%+o 3
circunstancial, pois x est! #com,em,de,entre' y (c) a rela%+o 3 possessia, em 1ue x tem
-. 6m 1ual1uer um dos tr5s tipos de rela%+o, dois di$erentes modos relacionais podem
acontecer: (i) atributio e (ii) identi$icador. A principal di$eren%a entre atribui%+o e
identi$ica%+o 3 a di$eren%a entre (i) membros de uma classe e (ii) simboli9a%+o. ?o modo atributio (i), interpretaFse x como sendo um membro da classe de - F
3 o 1ue allida- denomina Eortador. Atributo de x 3 ser -.?o modo identi$icador (ii),
por outro lado, o processo erbal 3 reers=el, pois x 3 identi$icado por y, 7! 1ue y sere
para de$inir a identidade de x, 1ue n+o 3 membro da classe de y. s participantes, nesse
tipo de processo, passam a ser o Wdenti$icado e o Wdenti$icador, denominados por
allida- respectiamente Token e Value, 1ue englobam di$erentes tipos de abstra%+o.
modo Wdenti$icador di$ere do Atributio pelo $ato de o grupo nominal Wdenti$cador ter como nJcleo um substantio comum, determinado por artigo de$inido ou 1ual1uer outro
<
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! ainda outro participante M o Alo (Target na nomenclatura de allida-, //0,
p. 0). Alo 3 a entidade 1ue 3 atingida pelo processo de di9er. um participante
peri$3rico 1ue n+o ocorre em discurso citado ou discurso relatado, apenas
incidentalmente. S+o e4emplos de erbos 1ue aceitam Alo: PdescreerQ, Pba7ularQ,
PinsultarQ, PcaluniarQ, Pe4plicarQ, Pre9arQ, PcondenarQ, PcastigarQ, PculparQ e outros.
! inJmeros casos em 1ue o conteJdo do di9er 3 representado por uma ora%+o
separada sintaticamente da1uela 1ue porta o erbo de elocu%+o: constitui, nesses casos,
o discurso citado ou o discurso relatado, 1ue allida- (//0, p. <K) denomina
pro7e%+o. s erbos de elocu%+o Pdi9erQ e P$alarQ constituem erbos neutros. >odaia,
um grande nJmero de erbos pode ser empregado para indicar esse tipo de processo.
Algumas e9es, podem apresentar $or%a ilocucion!ria e reali9ar atos de $ala. Alguns
e4emplos s+o PprometerQ, PconsiderarQ, PordenarQ, PinsistirQ, PaconselharQ, PgarantirQ e
outros.
s processos comportamentais, segundo allida- (//0, p. /), s+o processos
tipicamente humanos, $isiol2gicos e psicol2gicos. ?em todas as $ronteiras est+o bem
delimitadas em rela%+o aos processos comportamentais. pr2prio allida- os 5 comcaracter=sticas parcialmente materiais e parcialmente mentais. Segundo a$irmam Bloor
N Bloor (//O, p. ;O), os processos comportamentais constituem uma #!rea cin9enta'
entre os dois processos mencionados.
Jnico participante, A1uele 1ue se Comporta, 3 um ser consciente, como o
64perienciador, mas o processo se assemelha a #$a9er', n+o a #sentir'. Eodem ser
considerados processos comportamentais os erbos 1ue e4pressam (i) a $orma do
comportamento (obserar, $itar, ouir, er), (ii) os processos de comportamento(tagarelar, resmungar), (iii) os processos $isiol2gicos 1ue e4pressam estados de
;
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consci5ncia (chorar, rir, sorrir, choramingar), (i) os processos $isiol2gicos como
#transpirar', #tossir', #desmaiar', #boce7ar', #dormir' e () as posturas corporais e os
entretenimentos, tais como #dan%ar', #cantar', #sentar' e outros.
s processos e4istenciais di$erem dos relacionais por1ue, na ora%+o e4istencial,
h! somente um participante: o 64istente. S+o tamb3m processos de ser, mas n+o contam
com o segundo elemento para estabelecer atributos ou identidades. $re1"ente, nesses
casos, a presen%a de circunstncias de lugar acompanhando o processo. >amb3m os
erbos #e4istir', 'ressurgir', #ocorrer', #acontecer', #seguir', #emergir' e4ercem o mesmo
papel.
2.2 A )#$% !)(rp(''%a+
Atribuir $un%+o interpessoal D linguagem 3 darFse conta do #$a9er com a
linguagem', ou se7a, do papel 1ue as palaras e4ercem em um eento comunicatio. A
linguagem, nesta perspectia, 3 ista como a%+o, em 1ue os sentidos promoem a
intera%+o social e os pap3is dos $alantes s+o determinados por condi%&es particulares,
se7am elas sociais, econmicas, pro$issionais ou outras. A an!lise das trocas ling"=sticas
d! conta, assim, do tipo de proposi%+o ou proposta 1ue est! ocorrendo, das atitudes e
7ulgamentos encapsulados na camada erbal e dos tra%os ret2ricos 1ue a constituem
como um ato simb2lico interpessoal (allida-, /K/, p. 0O).
Xuando as ora%&es t5m status de troca, o principal sistema a ser analisado 3 o
*H, recurso atra3s do 1ual os participantes do eento organi9am suas
mani$esta%&es oraisescritas, enolendo uma s3rie de estrat3gias gramaticais a $im de
atingirem seus ob7etios comunicatios. As op%&es b!sicas de *H constituemFse em
ora%&es indicatias (interrogatias e declaratias) e ora%&es imperatias. As
interrogatias podem reali9arFse atra3s de perguntas XUF ou de 1uest&es 1ue suscitam
respostas do tipo simn+o. ! as declaratias podem ser e4clamatias e n+oFe4clamatias.
Segundo allida- (/K/, p. IKFI/), a linguagem, nos eentos comunicatios,
e4erce pap3is, 1uais se7am os de #dar' ou #solicitar', dependentes da nature9a da
#negocia%+o' 1ue est! ocorrendo. Eara o autor, podeFse dar eou solicitar in$orma%+o
eou bens e seri%os. Xuando se d! in$orma%+o, $a9Fse uma declara%+o e 1uando se d!
um bem e seri%o, $a9Fse uma o$erta. Eor outro lado, 1uando se solicita uma in$orma%+o,
$a9Fse uma pergunta e 1uando s+o solicitados bens e seri%os, $a9Fse um comando. Aomesmo tempo, allida- prop&e 1ue as trocas entre os interlocutores, 1uando constituem
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$re1"5ncia (usualmente, Ds e9es, nunca, sempre, raramente) e elementos
metadiscursios.
Um outro recurso gramatical 1ue eidencia a $un%+o interpessoal da linguagem 3
a polaridade, 1ue pode ser de$inida como Pa escolha entre positio e negatioQ
(allida-, /K/, p. KK). ?ormalmente a polaridade situaFse no mbito da $orma erbal,
ao se usarem senten%as a$irmatias ou negatias.
6ntretanto, nem todas as possibilidades 1ue a linguagem o$erece para 1ue
algu3m mani$este suas opini&es situamFse somente nos dois p2los, o positio e o
negatio. poss=el 1ue a opini+o se situe em n=eis intermedi!rios, desde o menos
negatio at3 o menos positio. 6sses graus intermedi!rios, 1ue situam a $ala humana
entre um p2lo positio e outro negatio, s+o conhecidos como modalidade. A
modalidade 3 um recurso gramatical utili9ado para e4pressar signi$icados relacionados
ao 7ulgamento do $alante em graus de positiidade ou de negatiidade. Eara tanto, usamF
se modali9adores e ad3rbios.
A no%+o de modalidade est! relacionada D distin%+o entre proposi%&es
(in$orma%&es) e propostas (bens e seri%os). Xuanto Ds proposi%&es, h! dois tipos de
possibilidades intermedi!rias: (i) graus de probabilidade (ii) graus de usualidade.
Ambos podem ser e4pressos em termos de erbos modais ou de ad7untos modais.
s graus de probabilidade s+o tr5s: possibilidade, probabilidade e certe9a.
Reali9amFse com $ormas erbais do tipo #pode3 poss=el', #dee3 pro!el', #dee3
certo'. ! os graus de usualidade reali9amFse com ad7untos modais ou sintagmas
aderbiais do tipo #usualmente', #Ds e9es', #sempre', #3 costume'. untas, a
probabilidade e a usualidade constituem o 1ue allida- (/K/, p. K/) denomina
modali9a%+o. Eertencem D categoria da modalidade epist5mica.
Xuanto Ds propostas, relatias a bens e seri%os (o$ertas e comandos), allida-
(idem) prop&e o termo modula%+o. ?a modula%+o, tamb3m h! graus intermedi!rios 1uese situam entre os p2los positio e negatio. Se comando, h! graus de obriga%+o:
#permitido', #aceit!el' e #necess!rio' se o$erta, h! graus de inclina%+o: #inclinado',
#dese7oso'. #determinado'. >anto a categoria obriga%+o 1uanto a categoria inclina%+o
podem reali9arFse gramaticalmente atra3s de um erbo modali9ador, de uma e4pans+o
do predicador ou por um ad7etio. A modula%+o pertence D categoria da modali9a%+o
dentica.
2.: A )#$% (7a+
O
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SabeFse 1ue a organi9a%+o >emaFRema (>FR) constitui modo particular de
organi9a%+o da ora%+o, em n=el local, e do te4to, em n=el global. Atra3s da
obsera%+o da organi9a%+o oracional e global e do mapeamento da constitui%+o >FR das
ora%&es, podeFse obserar um dos muitos recursos 1ue s+o utili9ados nos te4tos com
istas a persuadir o leitor.
A ora%+o, segundo allida- (//0), d! conta da organi9a%+o local do conte4to
em rela%+o ao conte4to maior em 1ue est! inserida. 6ste conte4to local apresenta um
ponto de partida da in$orma%+o M o >ema. restante da mensagem, ou se7a, o 1ue se
apresenta sobre o >ema, 3 chamado de Rema. Assim, a ora%+o como mensagem
apresenta a estrutura >emaFRema. 6m portugu5s, a posi%+o inicial de uma ora%+o 3
sempre ocupada pelo >ema, 1ue organi9a a in$orma%+o.
A ora%+o pode ser conte4tuali9ada sempre em tr5s perspectias meta$uncionais M
a perspectia te4tual, a interpessoal e a ideacional (ou de t2pico). Conse1"entemente, a
ora%+o, segundo allida- (//0), apresenta est!gios de an!lise, segundo as
meta$un%&es.
>ema P>2picoQ (ou Wdeacional) pode ser reconhecido como o primeiro
elemento da ora%+o 1ue e4pressa algum conteJdo PrepresentacionalQ. Eode ser e4presso
(i) pelo(s) participante(s), (ii) pela circunstncia ou (iii) pelo processo. s recursos
ling"=sticos utili9ados s+o: para (i), sintagmas nominais, para (ii), sintagmas aderbiais
(de tempo, lugar, causa, etc.) e para (iii), sintagmas erbais. Xuando (i), o >ema 3 n+oF
marcado 1uando (ii) ou (iii), di9Fse 1ue a ora%+o possui >ema marcado, o 1ue constitui
um recurso signi$icatio na estrutura%+o global do discurso e na $or%a argumentatia do
te4to.
Gista a ora%+o sob a perspectia interte4tual, e4ercem o papel de >ema, em
portugu5s, os erbos au4iliares, os interrogatios XU (1uem, o 1ue, 1ual, etc.), os
ocatios, as met!$oras interpessoais (P6u gostaria...Q, P6u pediria...Q, P poss=el...Q), bem como os marcadores ret2ricos de alidade e de atitude (Gande [opple, /KO, p.
K). 6sses reelam a presen%a do autoremissor no te4to e orientam o interlocutor no
processo de intera%+o social.
s marcadores de alidade s+o empregados a $im de conencer o leitor em termos
de mais certe9a (P3 precisoQ, PdeeQ, P3 necess!rioQ) ou de menos certe9a (Ptale9Q,
PpareceQ). s de atitude e4pressam a aalia%+o positia ou negatia do autor e
mani$estamFse atra3s de ad3rbios atitudinais (Pe$etiamenteQ, PnaturalmenteQ,
I
8/15/2019 Bases da linguística sistêmico-funcional.
Eara a determina%+o da con$igura%+o conte4tual (CC) de cada um dos te4tos, 3
essencial 1ue se apontem os tr5s elementos constitutios do conte4to: campo, rela%+o e
modo.
6m > o "a/p% di9 respeito a um coment!rio irnico $eito pelo 7ornalista
Cl!udio umberto em rela%+o a adesios de p!raFbrisas para ridiculari9ar o presidente
Lu=s Wn!cio Lula da Sila. A r(+a#$% aponta os participantes do eento comunicatio: de
um lado o 7ornalista, especialista em construir cenas e e4press&es de pro$unda cr=tica
aos pol=ticos e de outro os leitores do 7ornal. A rela%+o 1ue se estabelece entre os dois
interactantes 3 ista como uma rela%+o de distanciamento, em 1ue o autor $a9 um
coment!rio e n+o apela e4plicitamente para o leitor, o 1ual tem como tare$a ler o te4to e,
tale9, tecer algum coment!rio oral ou escrito com seus amigos ou atra3s de cartas do
leitor. ! assimetria nas rela%&es sociais entre os participantes, pois o autor se coloca
como detentor do conhecimento, ignorando o leitor. ! o /%&% apresentaFse como um
pe1ueno te4to escrito, publicado em uma coluna de opini+o pol=tica do 7ornal 8a9eta de
Alagoas, constitu=do de uma pe1uena narratia.
6m #>rapalhada' (>;), o "a/p% di9 respeito a uma opini+o e4pl=cita do
7ornalista em rela%+o D e4puls+o de Larr- Rohter do Brasil. Va9em parte da r(+a#$% o
autor e seus leitores, noamente distanciados pela linguagem, 1ue e4pressa a opini+o do
7ornalista em rela%+o ao acontecimento. Xuanto ao /%&%, >; est! organi9ado em uma
senten%a apenas e tamb3m utili9ou o canal gr!$ico e o meio escrito M a coluna de 7ornal.
! em >, o "a/p% se apresenta como uma in$orma%+o, agora comentada, acerca
de declara%+o do presidente nacional da rdem dos Adogados do Brasil. A r(+a#$%
estabeleceFse noamente entre autor e leitor, mais uma e9 indicando a assimetria dos
pap3is desempenhados pelos participantes do eento comunicatio. /%&%
constitui a organi9a%+o te4tual em $orma de not=cia escrita para ser lida e de cita%+o da
$ala de uma personagem atra3s de discurso direto.
;.2 S(,)&a (apa> )#(' &a +!),a,(/
primeiro te4to tem na )#$% !&(a"!%)a+ participantes como #o Sindilegis', #o
adesio de p!raFbrisas' e #o Brasil'. s processos materiais (#distribuiu', #beber',
#diri7a') prealecem e h! a presen%a de um processo mental (#decidiu'). ?a )#$%
!)(rp(''%a+, o participante Cl!udio umberto comportaFse como a1uele 1ue d! a
in$orma%+o ao leitor, a 1ual pode ser aceita ou n+o. ! o uso do modo indicatio, dosub7untio e do imperatio. ?a )#$% (7a+, o >ema t2pico est! e4presso por #o
/
8/15/2019 Bases da linguística sistêmico-funcional.
Sindicato dos Seridores do Legislatio, o Sindilegis' e o Rema organi9aFse de modo a
comproar o >ema ao apresentar uma $ala de em discurso direto.
te4to ; M #>rapalhada' (>;) M apresenta na )#$% !&(a"!%)a+ participantes
como #trucul5ncia', #solidariedade', #a decis+o', #7ornalista do ?>, #l=deres
goernistas', #um mani$esto de apoio ao presidente Lula' e #oposi%+o'. Erealecem os
processos materiais (#enceu', #e4pulsar', #articulaam', #assinado'), mesclados a um
mental (#$oi tomada'). A circunstncia presente indica temporalidade (#no e4ato instante
em 1ue...'). ! a )#$% !)(rp(''%a+ concreti9aFse em senten%as declaratias e uso do
modo indicatio (#enceu', #articulaam') ao o$erecer o autor uma in$orma%+o ao leitor,
e a )#$% (7a+ apresentaFse como um te4to opinatio, em 1ue o >ema comporta a
opini+o do autor e o Rema a 7usti$icatia dessa opini+o.
> M #8olpe na liberdade' M tem, como )#$% !&(a"!%)a+, a tare$a de noticiar ao
leitor o 7ulgamento de um determinado participante (#Roberto Busato') acerca da
e4puls+o de Larr- Rohter do Brasil. ! a presen%a de dois processos relacionais
(#estee', #$oi') e o Atributo circunstancial de lugar (#entre as pessoas mais indignadas
com a e4puls+o do rep2rter do ?>'), al3m das circunstncias de lugar (#no Ea=s') e de
tempo (#desde a censura imposta pelos militares'). A )#$% !)(rp(''%a+ apresentaFse
atra3s do modo indicatio (#estee', #$oi') e do aaliatio utili9ado por Roberto Busato
(#o pior golpe') em 1ue Cl!udio umberto o$erece uma in$orma%+o a seu leitor. A
)#$% (7a+ priilegia como >ema o participante presidente da AB e como Rema
sua declara%+o a respeito da atitude do presidente brasileiro.
CONCLUSÃO
Ap2s a an!lise dos te4tos, podeFse concluir 1ue, com rela%+o D $un%+o
ideacional, ocorreu a preal5ncia dos processos materiais, atra3s dos 1uais o autor do
te4to $a9 pe1uenos relatos aos leitores sobre acontecimentos dos bastidores da pol=ticarelacionados ao epis2dio Larr- Rohter. Ao utili9ar tamb3m dois processos relacionais e
um mental, o autor busca a atribuir alores de erdade D sua narra%+o.
Xuanto D $un%+o interpessoal, percebeFse em todos os te4tos 1ue o autor se
coloca como algu3m 1ue det3m o conhecimento e tenta pass!Flo ao leitor de uma $orma
pitoresca e, de certa maneira, com um tom de #$o$oca'. Wsso 3 comproado atra3s do
uso de proposi%&es no modo indicatio e da modalidade epist5mica.
?a $un%+o te4tual, prealecem os >emas t2picos, caracter=sticos do o$erecimentode in$orma%+o M ponto de partida da mensagem. As aalia%&es, 1uando presentes, s+o
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