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Marshall Govindan (tambm conhecido como Satchidananda) discpulo
de Babaji Nagaraj, o famoso mestre do Himalaia, que resgatou,
sistematizou e transmitiu a Kriya Yoga, e tambm de seu discpulo j
falecido, Iogue S.A.A. Ramaiah. Govindan pratica Kriya Yoga
intensamente desde 1969, incluindo 5 anos na ndia.
Desde 1980, ele tem estado envolvido na pesquisa e publicao dos
textos dos Yoga Siddhas. autor do bestseller Babaji e os 18
Siddhas: a Tradio da Kriya Yoga (j publicado em 15 lnguas,
inclusive o portugus); de Os Kriya Yoga Sutras de Patnjali e os
Siddhas (tambm publicado em portugus), e de The Wisdom of Jesus and
the Yoga Siddhas; entre outros livros. Foi tambm o editor da
primeira traduo internacional em ingls do Tirumandiram (um clssico
em Yoga e Tantra).
Desde 2000, ele patrocina e dirige uma equipe de sete
pesquisadores eruditos no Tmil Nadu, Sul da ndia, em um projeto de
pesquisa em grande escala para a preservao, transcrio, traduo e
publicao da totalidade da literatura relacionada ao Yoga dos 18
Siddhas. J foram produzidas seis publicaes a partir deste projeto,
incluindo o Tirumandiram em 2010.
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Entrevista: Siddhantha, Advaita e Yoga
com M. G. Satchidananda
direitos autorais 2014
Contedo Pergunta: Por que decidiu conceder esta entrevista? Qual
o seu objetivo?
.............................................................. 3
Pergunta: Qual a relao entre Siddhantha, Advaita e Yoga?
...................................................................................
3 Pregunta: O que Siddhantha?
......................................................................................................................................
3 Pergunta: Por que o Siddhantha
novo?....................................................................................................................
6 Pergunta: O que o Siddhantha nos diz sobre a alma e sua relao com
o corpo? ....................................................... 8
Pergunta: Qual a concepo de Deus dos Siddhas?
....................................................................................................
9 Pergunta: Qual o objetivo do Siddhantha?
................................................................................................................
10 Pergunta: Como a libertao em relao aos grilhes da alma e aos
modos da natureza realizada, de acordo com o Siddhantha?
........................................................................................................................................................
11 Pergunta: Qual a causa do sofrimento humano e como super-lo?
.........................................................................
12 Pergunta: Qual a diferena de monismo ou no-dualismo (advaita) e
dualismo (dvaita) e pluralismo (tesmo)? .. 13 Pergunta: Por que
essas distines so importantes?
..................................................................................................
13 Pergunta: O que Maya e por que o Siddhantha considerado um tesmo
monista? ............................................. 15 Pergunta:
O que a iluminao e como ela se relaciona com esta discusso?
........................................................... 17
Pergunta: Por que voc disse no incio desta entrevista que o
Siddhantha comea onde o Advaita termina? ........ 18 Pergunta: Por
que os Siddhas no se consideram especiais e pouco ou nada falam de
suas vidas pessoais? .......... 20 Pergunta: Qual o siginificado
dos siddhis ou poderes milagrosos dos iogues?
....................................................... 21
Pergunta: Qual a relao entre a Kriya Yoga de Bbaji e o Siddhantha?
.............................................................. 22
Pergunta: O caminho quntuplo da Kriya Yoga de Bbaji me faz lembrar
dos vrios tipos de Yoga recomendados por Sri Krishna na Bhagavad
Gita, de acordo com natureza ou carter essencial (svabhava) do
indivduo:
.......................................................................................................................................................................
23 Pergunta: Se as prticas dos Siddhas so to benficas, por que elas
so mantidas em segredo? Por que so ensinadas apenas durante
iniciaes?..........................................................................................................................
24 Pergunta: Qual o valor do corpo humano para o desenvolvimento
espiritual? ......................................................
25 Pergunta: O que o neoadvaita e por que ele controvertido?
..................................................................................
26 Pergunta: Por que importante entender o Siddhantha, o Advaita e
o Yoga? .........................................................
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Pergunta: Por que decidiu conceder esta entrevista? Qual o seu
objetivo?
Satchidananda: Para conhecer a verdade e evitar o sofrimento,
preciso colocar-se algumas questes fundamentais, tais como: Deus
existe? Se existe, como posso conhec-lo? Tenho uma alma? Por que
nasci? Qual o propsito da minha vida? Por que h sofrimento no
mundo? O objetivo desta entrevista ajudar o leitor a melhorar sua
compreenso destas questes, na perspectiva das tradies que me
informaram em meu caminho espiritual. A maioria dos aspirantes
ocidentais no tem conhecimento dessas tradies espirituais, nem dos
seus requisitos. Palavras (independentemente do seu nmero) no
revelam a verdade, mas podem sinaliz-la e fornecer dela um
vislumbre. No entanto, preciso ir alm das palavras. no silncio que
a verdade pode ser compreendida. E esta a abordagem de todas as
tradies espirituais. O esprito no tem forma, por isso no pode ser
capturado em palavras. S em silncio. Mas no se deve cometer o erro
de muitos aspirantes espirituais ocidentais. Hoje em dia, os
aspirantes tm tanta pressa para se tornarem iluminados que ignoram
ou dispensam estas perguntas. Espiritualidade no significa ser-se
anti-intelectual. Tambm no significa que a pessoa s tenha que
encontrar a tcnica mais eficiente, o melhor professor, ou fugir do
mundo.
Pergunta: Qual a relao entre Siddhantha, Advaita e Yoga?
Satchidananda: O meu professor, o iogue Ramaiah, costumava dizer
que o Siddhantha comea onde o Advaita termina. E acrescentava que a
Kriya Yoga de Bbaji a destilao prtica do Siddhantha. Mas, antes de
responder a esta pergunta, ser necessrio discutir cada um dos
conceitos separadamente.
Pregunta: O que Siddhantha?
Satchidananda: A palavra Siddhantha refere-se essncia dos
ensinamentos de um conjunto de iogues indianos adeptos do Tantra,
conhecidos como Siddhas, ou mestres perfeitos. Os Siddhas atingiram
um certo grau de perfeio ou de poderes divinos conhecidos como
siddhis. Os Siddhas, tambem encontrados no contexto do budismo
tibetano, eram msticos que enfatizavam a prtica de Kundalini Yoga
para realizar a sua divindade potencial em todos os cinco planos da
existncia. Eles condenavam a religio institucionalizada com a sua
nfase na adorao de dolos, o ritualismo, o sistema de castas e a
dependncia em relao s Escrituras. O que eles ensinavam era o
resultado de sua prpria experincia, que , segundo eles, a fonte
mais confivel de conhecimento e sabedoria. Para adquirir esse tipo
de conhecimento e sabedoria precisamos nos voltar para dentro, para
as dimenses sutis da vida, usando para isso as tcnicas do yoga e da
meditao. A maioria de suas obras literrias foi escrita h 800-1600
anos, e outras podem ter sido escritas no sculo II d.C. O sufixo
anta significa fim ltimo. Siddhanta constitui, portanto, a meta
final, a concluso ou a consecuo dos objetivos dos Siddhas, os
mestres perfeitos. A palavra tambm pode ser lida como uma contrao
dos termos citta e anta, referindo-se, neste caso, ao fim da
faculdade de pensar. Por conseguinte, este seria o estado atingido
quando a conscincia vai alm do pensamento.
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Os Siddhas existiram por toda a ndia e at mesmo no Tibete, mas a
tradio a que pertencemos, e cujos os escritos temos estudado,
traduzido e publicado desde a dcada de 1960, do sul da ndia, e
conhecida como Kriya Yoga Siddhantha Tmil. Os escritos dos Siddhas
tmeis foram realizados na forma de poemas, na lngua vernacular do
povo, em vez de o serem no tradicional idioma snscrito, que era
conhecido apenas pela casta sacerdotal dos brmanes. Em nenhuma
parte dos seus escritos pode-se ler os Siddhas cantarem louvores a
qualquer divindade. Teologicamente, seus ensinamentos podem ser
classificados como tesmo monista. Mas os Siddhas no tentam nas suas
escrituras criar um sistema filosfico ou uma religio. Eles procuram
oferecer ensinamentos prticos, particularmente relacionados com a
prtica de Kundalini Yoga, ajudando-nos a receber a Verdade
diretamente, e a perceber o que se deve evitar no caminho
espiritual. Filiao sectria no tem importncia para os Siddhas. Eles
se sentem vontade entre pessoas de todas as crenas. A sua abordagem
em direo Verdade , primeiro, experimenta-la em Samadhi, a comunho
mstica de absoro cognitiva; e, em seguida, render-se gradual e
completamente Experincia, at que esta se torne o estado permanente
de conscincia do aspirante. A abordagem dos Siddhas no inclui
tentativas de construo de sistemas filosficos ou de crenas
religiosas. Os poemas dos Siddhas no mostram nenhum vestgio de
opinies compartilhadas ou de pensamento coletivo. Bem ao contrrio,
a sua perspectiva a de uma filosofia aberta, em que todas as
expresses da Verdade so valorizadas. Seus poemas e canes no pregam
qualquer doutrina; apenas sugerem uma direo por meio da qual o
aspirante espiritual pode ter a experincia pessoal, direta,
intuitiva e profunda da Verdade Divina. Os Siddhas, no entanto,
usaram uma linguagem forte, projetada para chocar as pessoas de
moralidade convencional e tendncia egosta. Empregaram o idioma
comum do povo, ao invs do snscrito elitista. Exortaram seus
ouvintes ou leitores a se rebelarem contra os pretensiosos, as
crenas e prticas ortodoxas vazias, incluindo a adorao nos templos e
os rituais, o sistema de castas, e a petio na forma de oraes.
Ensinaram que, uma vez que o ego se renda completamente, a
experincia pessoal toma o lugar das Escrituras, tornando-se a
autoridade suprema, expresso da prpria Verdade. O Siddha um
livre-pensador e revolucionrio que recusa a se deixar levar por
qualquer dogma, escritura ou ritual. O Siddha um radical, no
verdadeiro sentido do termo, pois ele prprio j foi raiz das
coisas.
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Siddhas Tmeis, Kriya Yoga Ashram,
Kanadukathan, Tmil Nadu, ndia
Os 18 Siddhas Tmeis (Saraswati Mahal Museum, Tanjore, Tmil Nadu,
ndia)
Siddha Tirumular, autor do Tirumandiram (Pintura de teto do
Templo de Chidambaram, Tmil Nadu, ndia)
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Pergunta: Por que o Siddhantha novo?
Satchidananda: Tirumular, provavelmente o mais velho dos Siddhas
tmeis, afirma em sua obra Tirumandiram, escrita no sculo V d.C.,
estar revelando uma nova yoga (nava yoga), que trar a transformao
completa da condio humana, incluindo o corpo fsico. Os Siddhas que
viveram mais tarde referem-se a essa nova yoga como Kundalini Yoga.
Durante o primeiro milnio da era crist, os Siddhas inventaram a
Kundalini Yoga, considerando-a um poderoso meio de autorrealizao.
Era um produto de seus esforos experimentais para encontrar formas
mais eficazes para conhecer a verdade das coisas que se pudesse
acrescentar aos caminhos fortemente intelectuais, ritualsticos,
devocionais ou ascticos, e para transformar a natureza humana.
O Siddhantha continua novo hoje porque o Tirumandiram e outros
escritos dos 18 Siddhas tmeis eram desconhecidos fora do contexto
da lngua tmil, falada no sul da ndia e no Sri Lanka, at que essas
obras fossem pela primeira vez traduzidas por ns. Tais obras foram
ignoradas ou mal interpretadas pelos eruditos e especialistas por
causa de sua deliberadamente obscura linguagem crepuscular. Os
Siddhas condenaram os pandits e sacerdotes brmanes ortodoxos,
incorrendo na ira dos membros dessas comunidades, que os viam como
mgicos ou algo pior. Consequentemente, os seus manuscritos no foram
preservados nos repositrios institucionais tradicionais, como os
templos e as bibliotecas, mas apenas por famlias de mdicos, os
Siddha Vaidhyas, que mantiveram as obras secretamente, e aplicavam
os seus ensinamentos apenas para fins medicinais.
Por causa da ignorncia generalizada em relao aos seus
ensinamentos e da associao popular dos Siddhas com mgicos pela
comunidade ortodoxa, at h bem pouco tempo essas obras no tinham
sido levadas em considerao em vrios crculos da sociedade indiana.
Posso recordar vividamente a resposta sarcstica e emocional de um
famoso professor de Vedanta, um swami renomado e membro da
comunidade brmane, cuja lngua materna era o tmil, quando, em 1986,
lhe perguntei a sua opinio sobre os escritos dos Siddhas tmeis.
Tambm me lembro da resposta tpica de muitas pessoas no norte da
ndia, quando eu mencionei que o nosso guru era Bbaji Nagaraj. Se
tivessem lido o livro Autobiografia de um iogue, perguntavam: Ele
ainda est vivo?. Se no tivessem lido e ns mencionssemos que ele
tinha varios sculos de vida, diziam algo como: Ele deve ter muito
mau carma por ser obrigado a permanecer neste mundo de sofrimento
por tanto tempo.
Mesmo os lderes de outras linhagens da tradio da Kriya Yoga tm
sido incapazes de apreciar o novo no que diz respeito a Bbaji e aos
Siddhas. Sri Yukteswar disse com relao a Bbaji: Ele est alm da
minha compreenso. Isto , seu estado no poderia caber dentro do
paradigma do Vedanta, no qual Sri Yukteswar foi educado. Yogananda
e outros s poderiam conceb-lo como um Avatar, uma encarnao do
prprio Deus, ou como Cristo, mas Bbaji nunca referiu a si mesmo
nesses termos. Yogananda na sua autobiografia menciona, na primeira
pgina do captulo em que apresenta Bbaji ao leitor, que, como o
Siddha Agastyar, Bbaji vive h milhares de anos. Yogananda no captou
quo prximos esses dois Siddhas realmente eram, e que, tal como
Agastyar, Bbaji tambm foi um ser humano que se tornou Siddha, e no
um Deus que se tornou Avatar. Avatares so extremamente raros. Eles
no so encontrados dentro da tradio Shaiva, mas apenas na tradio
Vaishnava (com dez avatares sucessivos, incluindo
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Rama e Krishna). Todas essas afirmaes refletem as perspectivas
limitadas dos filosfos do Vedanta, do Samkhya, cristos ou
vaishnavas. Sri Aurobindo um dos poucos sbios dos tempos modernos
que poderia apreciar o que os Siddhas foram, inclusive Tirumular,
Bbaji e Ramalinga.
Capa de nossa publicao da Autobiografia de um Iogue, de
Paramahansa Yogananda, mostrando Sri Yukteswar, Bbaji, Lahiri
Mahasaya e Yogananada
Siddha Agastyar
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Sri Aurobindo (1872-1950)
Pergunta: O que o Siddhantha nos diz sobre a alma e sua relao
com o corpo?
Satchidananda: Qualquer metafsica tem que lidar com trs
conceitos: Deus (pati), alma (pasu) e mundo (psam) e a inter-relao
entre eles. Est claro que o corpo faz parte do mundo. O Siddhantha,
conforme foi elaborado na literatura tmil do sul da ndia, ensina
que, por emanao de si mesmo, Shiva, isto , Deus, criou tudo o
mundo, todas as almas e todas as coisas do mundo e que cada alma
est destinada, em ltima instncia, a se fundir em unio advitica com
Deus, tal como um rio se funde com o mar, ou uma onda retorna ao
oceano.
Shiva, ou Deus, criou e est constantemente criando, preservando
e reabsorvendo todas as coisas que emanam de si mesmo: a alma
individual do homem, todos os mundos e seus contedos. Ele o
princpio e o fim, o autor da existncia. Ele , ao mesmo tempo, a
causa material e eficiente, e, portanto, seu ato de manifestao pode
ser comparado s centelhas emitidas por uma fogueira ou aos frutos
que surgem de uma rvore. A alma individual , em essncia,
Sat-Chit-Ananda, que significa: existncia, conscincia e
bem-aventurana ou felicidade incondicionais. Essa essncia da alma
no diferente de Deus. No uma coisa, no um objeto. A alma individual
a observadora, no o observado. o sujeito. A alma um ser
resplandecente, um corpo de luz, anandamayakosha. criada, evolui
como um ser aparentemente separado e, finalmente, se funde em unio
indiferenciada com Deus, formando a unidade que pode ser chamada de
identidade.
Mas o Siddhanta monista tambm ensina que a alma , de forma
temporria, diferente de Deus. Essa diferena existe devido
individualidade da alma, e no sua essncia. O corpo da alma,
anandamayakosha, composto de pura luz, criado e limitado. A alma no
onipotente ou onipresente na sua concepo. Pelo contrrio, ela
limitada e individual, mas no imperfeita. isso que permite a
evoluo. E esse o propsito por trs dos ciclos de nascimento e morte
(samsara): levar o corpo da alma individual maturidade. As vrias
faculdades da mente,
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percepo, discriminao, que no so a alma, mas cercam a alma, so
ainda mais limitadas do que o corpo da alma. Por isso seria uma
insensatez equiparar essas faculdades com Deus. Depois de muitos
nascimentos e evoluo, que resultam da existncia terrena, o corpo da
alma funde-se com Deus. Essa fuso chamada vishvagrasa. Depois dessa
fuso, a alma no pode dizer: Eu sou Shiva, pois no h um eu para
fazer esta reivindicao. H apenas Shiva.
O mundo e a alma so, na verdade, formas variadas de Shiva. No
entanto Shiva transcende sua criao e no limitado por ela. Alm
disso, o mundo e a alma no podem existir independentemente de
Shiva, fato que deixa claro que eles so manifestaes e no entidades
eternas. Quando mundo e alma so reabsorvidos no Divino, isto , no
momento da Mahpralaya o fim de um ciclo criacional csmico , os trs
malas (anava, karma e maya) so removidos por meio da Graa Divina. A
alma deixa de existir como ente individual, perdendo a sua separao
por meio da unio e realizao em Shiva. Aps Mahpralaya, s existe
Shiva. E tal situao manter-se- at que Shiva recomece um novo ciclo
csmico.
Pergunta: Qual a concepo de Deus dos Siddhas?
Satchidananda: Eles se referiam a Deus como ivam, sem quaisquer
limitaes ou atributos. ivam gramatical e filosoficamente uma
concepo impessoal. Os Siddhas mantm que o nome ideal para o ivam
Tat (Isso), Parparam (Realidade ltima ou Alm do Alm),
Sat-Chit-Ananda (Ser-Conscincia-Beatitude irrestritos). ivam no um
Deus pessoal. uma prtica, uma porta de entrada. conscincia ou
percepo fundamentais. A obteno da Conscincia de iva ou
iva-Conscincia chamada de Mukti ou Libertao. certo que Tirumular
referiu-se ao aspecto religioso de Deus, mas ele acreditava em uma
Suprema Abstrao ou Unidade Absoluta. Sua expresso para isso era
Tai-Ua- Kevalam (Tirumandiram, Mandiram 2450). Um estudo mais
aprofundado do conceito de ivam mostra que existem dois caminhos no
pensamento indiano: um testa, com um relacionamento pessoal ou
devocional com Deus, baseado na Bhakti Yoga; e outro tntrico ou
absolutista, baseado na Kundalini e Jna Yoga. O mtodo da Bhakti
pluralista, conforme refletiu-se na escola do aiva Siddhnta. O
mtodo absolutista monista, conforme refletiu-se no
Tirumandiram.
Seus poemas referiram-se s cinco aes csmicas de ivam como sua
dana bem-aventurada, realizada por meio de sua akti ou poder,
devido ao seu amor pelas almas:
1. Criao de modo a proporcionar s almas os meios para crescerem
em sabedoria e, em ltima instncia, perceberem sua unidade na
diversidade;
2. Conservao como as almas se enredam na ignorncia, na iluso e
no karma, elas so protegidas e sustentadas por vrios meios, para
sua edificao;
3. Dissoluo quando as almas so removidas da encarnao neste
mundo, elas obtm um alvio temporrio de seu sofrimento, durante o
qual se preparam para a prxima encarnao;
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4. Obscurecimento o poder que esconde a unidade da alma com
ivam, e que, de fato, obriga a alma a procurar a sabedoria, a
verdade alm da iluso mental e do vu de Maya;
5. Graa a remoo dos trs grilhes ou manchas da alma, a ignorncia,
a iluso e o karma.
Na verdade, a graa e o amor de ivam so concedidos em todas as
cinco aes csmicas, ajudando cada alma a crescer em maturidade e
conduzindo-a libertao. Por meio dos ciclos csmicos de involuo e
evoluo, essa dana continua ao longo dos ons. O objetivo final da
dana continua sendo um mistrio at que a alma seja libertada e se
rena com o secreto Eu, ivam. Pergunta: Qual o objetivo do
Siddhantha?
Satchidananda: De acordo com os siddhas ou almas realizadas, o
objetivo final da vida a entrega total. Isso inclui a realizao de
Vettivel, o Vasto Espao Luminoso, a Conscincia Csmica, e uma
transformao progressiva de nossa natureza humana em todas as
dimenses, formando o Corpo Divino, ou Divya Deha [leia artigo sobre
o conceito de Vettivel na edio do outono de 2014 do Jornal da Kriya
Yoga de Bbaji]. Os siddhas tmeis consideravam ambos, o esforo do
indivduo e a Graa Divina, como importantes fatores no caminho da
libertao. Esse esforo, a aspirao, representado pelo tringulo que
aponta para cima. Enquanto que a Graa Divina representada pelo
tringulo que aponta para baixo. A combinao e interseo desses dois
tringulos forma a base do yantra (objeto geomtrico de concentrao)
mais importante da Tradio Siddha tmil, representando a integrao dos
nveis material e espiritual da existncia. Os siddhas insistem no
valor do Tantra Yoga como meio para atingir a liberdade e a
imortalidade da alma durante a presente vida terrena, em vez de
esperar pelo Paraiso. Libertao, moka (em snscrito) ou vidu (em
tmil), um estado mstico que Tirumular chama de Samdhi Iguico. No
interior do Samadhi Iguico, h espao infinito; No interior do
Samadhi Iguico, h luz infinita; No interior do Samadhi Iguico, h
energia onipotente Samadhi Iguico aquilo que os siddhas amam.
(mandiram 1490)
No a liberdade ou a libertao do ciclo das encarnaes, mas a
liberdade ou libertao dos malas, isto , das trs manchas ou grilhes
que prendem a alma humana, limitando as qualidades inerentes de Sat
Chit Ananda:
1. Anava: a ignorncia da verdadeira identidade, e,
consequentemente, o egosmo; 2. Karma: as consequncias de aes,
palavras e pensamentos passados; 3. Maya: a iluso e os seus agentes
(o conhecimento parcial, o poder parcial, os desejos, o
tempo e o destino).
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tambm libertao em relao aos gunas, os modos ou constituintes da
natureza:
1. Rajas: o princpio do dinamismo, que estimulante, mvel, ativo;
2. Tamas: o princpio da inrcia, que pesado, preguioso, fatigante,
duvidoso, confuso; 3. Sattva: o princpio do equilbrio e lucidez,
que calmo, iluminador, sbio,
conhecedor.
Pergunta: Como a libertao em relao aos grilhes da alma e aos
modos da natureza realizada, de acordo com o Siddhantha?
Satchidananda: Os Siddhas prescreveram a ao direta para
purificar as manchas e libertar o Eu dos grilhes. Isso inclui todos
os elementos da Kundalini Yoga, com nfase em poderosos exerccios
respiratrios, mantras e abertura dos centros psicoenergticos, os
chakras, bem como elementos do Yoga Clssico, com nfase no cultivo
do desapego, o deixar ir dos apegos e averses. Conhecido como
Caminho ctuplo, o Yoga Clssico inclui normas de comportamento
social (yamas), observncias de autodisciplina (niyamas), sanas,
pranayamas, controle dos sentidos (pratyahara), concentrao
(dharana), meditao (dhyana) e absoro cognitiva (samadhi). J a
Kundalini Yoga baseada no reconhecimento de que a conscincia segue
a energia e a energia segue a conscincia. Controlando-se uma,
controla-se tambm a outra. Assim, por exemplo, se sua mente est to
dispersa na ansiedade que impede a meditao, voc deve praticar
primeiro posturas e exerccios respiratrios para acalmar e controlar
a mente. Deixando ir desejos ou medos, tambm se remove bloqueios
energticos nos nadis (canais de energia) e chakras (centros
psicoenergticos). A meditao enfraquece as mculas do egosmo, e seu
cortejo de desejos e medos, assim como as mculas do karma e da
iluso. Porm elas so completamente eliminadas apenas pelo retorno
reiterado Fonte, no estado de conscincia conhecido como samadhi, em
que se realiza a identidade com aquilo que est alm dos nomes e
formas. Servio desinteressado, ou Karma Yoga, tambm prescrito como
meio de superar o egosmo e anular as consequncias das aes passadas,
o karma.
A natureza humana sempre objeto do jogo dos trs gunas, e a
inrcia tamsica bem como as paixes rajsicas constantemente ameaam a
personalidade sattvica. Mesmo a mente de um sbio pode ser desviada
pelos sentidos e pelos samskaras ou hbitos a eles associados. A
perfeita segurana s pode ser encontrada quando a pessoa se
estabelece em algo mais elevado do que as qualidades sattvicas de
calma e compreenso: no Eu espiritual, que est alm da Natureza em
seus trs modos. Ao contrrio das personalidades tamsica e rajsica,
cuja liberdade caracterizada pela indiferena e solitrio isolamento
em relao aos outros, a pessoa espiritualmente autorrealizada
encontra o Divino no apenas em si mesma, mas em todos os entes. Sua
igualdade integra conhecimento, ao e amor, e os caminhos iguicos de
jana, karma e bhakti. Havendo realizado sua unidade com tudo na
dimenso espiritual, sua igualdade cheia de simpatia. Ela v a todos
como si mesma e no procura a salvao solitria. Ela at mesmo assume o
sofrimento dos outros, e trabalha por sua liberao, sem estar
sujeita ao seu sofrimento. Desejando compartilhar
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sua alegria com todos, tal alma liberta encarna o ensinamento
dos siddhas relativo a arrupadai, mostrar o caminho para os outros:
aquilo que se deve fazer e aquilo que se deve evitar. O siddha, ou
sbio perfeito, est sempre engajado em fazer o bem a todas as
criaturas e faz disso sua ocupao e deleite (Gita, V.25). O iogue
perfeito no uma pessoa solitria, refletindo sobre o Eu em uma
isolada torre de marfim. Ele um polivalente trabalhador universal
pelo bem do mundo, por Deus no mundo. Por que tal iogue perfeito um
bhakta, um amante do Divino, ele v o Divino em todos. Ele tambm um
karma iogue porque suas aes no o afastam da bem-aventurana da unio.
Como tal, ele v que tudo procede do Um e todas as suas aes so
dirigidas para o Um.
Pergunta: Qual a causa do sofrimento humano e como super-lo?
Satchidananda: Nos Yoga Sutras, o siddha Patnjali descreve os
cinco kleshas ou causas do sofrimento:
1. Ignorncia sobre nossa verdadeira identidade, enquanto alma,
enquanto Sat-Chit-Ananda (Ser-Conscincia-Beatitude), vendo o
impermanente como permanente, o doloroso como prazeroso, o No-Ser
como Ser;
2. Egosmo, nascido da ignorncia, ou o hbito de se identificar
com aquilo que no se : o complexo corpo-mente, suas sensaes,
sentimentos e pensamentos;
3. Apego, ou agarrar-se ao que prazeroso; 4. Averso, ou
agarrar-se ao sofrimento, ao medo, quilo com que se antipatiza; 5.
Apego vida, ou medo da morte.
Patnjali nos ensina que essas causas do sofrimento podem ser
desenraizadas, em sua forma sutil, quando rastreadas de volta at a
origem, pelo retorno repetido aos vrios estgios de Samadhi. E podem
ser destrudas, em sua forma ativa, por meio da meditao.
Ele nos diz que a prtica da Kriya Yoga tem o objetivo de
enfraquecer essas causas do sofrimento e cultivar a absoro
cognitiva (Samadhi ou Autorrealizao) (Yoga Sutras, II.2).
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Siddha Patnjali (Pintura de teto do
Templo de Chidambaram, Tmil Nadu, ndia)
Pergunta: Qual a diferena de monismo ou no-dualismo (advaita) e
dualismo (dvaita) e pluralismo (tesmo)?
Satchidananda: O Dicionrio Webster define monismo como a
doutrina de que existe apenas um princpio ou substncia ltima, de
que a realidade um todo orgnico sem partes independentes. Isso o
oposto do dualismo: a teoria de que o mundo composto de dois
elementos irredutveis (matria e esprito) ... ou a doutrina de que h
dois princpios mutuamente antagnicos no universo, o bem e o mal. O
pluralismo definido com a teoria de que a realidade composta por
uma multiplicidade de seres, substncias ou princpios ltimos.
Pergunta: Por que essas distines so importantes?
Satchidananda: So distines sutis que parecem no se relacionar
com nossas experincias religiosas cotidianas. Ento, somos
inclinados a recus-las, como se dissessem respeito apenas a
filsofos, telogos, swamis ou satgurus. Todavia, elas so o
verdadeiro ncleo da religio e no podem ser vistas como triviais.
Elas afetam a todos, pois definem distintas percepes acerca da
natureza da alma (e, portanto, de ns mesmos), do mundo e de Deus.
Elas oferecem diferentes objetivos espirituais: fundir-se
plenamente e para sempre com Ele (um estado que transcende at mesmo
o estado de bem-aventurana) ou permanecer eternamente separado de
Deus (mesmo que essa separao possa ser vista positivamente como uma
bem-aventurana sem fim). Uma viso, o monismo, unidade na
identidade, por meio da qual a alma encarnada, jiva, e se torna
Deus (Shiva). A outra viso, pluralismo, unidade na dualidade, dois
em um, na qual a alma desfruta da proximidade com Deus, mas
permanece sempre individual, ou trs em um, porque a terceira
entidade, o mundo, ou pasha, jamais se funde, mesmo parcialmente,
com Deus.
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Alm disso, dependendo de que perspectiva se adote, a viso do
mundo muda. O no-dualista (advaitim) v o mundo como irreal,
ilusrio, e consequentemente desimportante. Evita envolver-se com os
assuntos do mundo, que so descartados como ilusrios. No h Deus. No
h alma. No testa nem atesta. monista, significando que existe
apenas Um. Existe apenas uma Realidade, referida com Brahman, um
impessoal Isso. O objetivo moksha, libertao da iluso (Maya), que
nos impede de perceber que h apenas Um. Para alm do despertar da
iluso de Maya, alcana-se a contnua conscincia dessa realidade
no-dual. Os meios prescritos englobam a autoinvestigao ou
autorrecordao. Isso pode envolver a contemplao de frases com Quem
sou Eu?, ou Eu sou Isso, ou Eu sou Brahman, ou o estudo das
Upanishads, os comentrios vednticos dos Vedas. Podem tambm envolver
a expresso de votos formais de renncia em uma ordem monstica, como
a Dasami, a ordem dos swamis fundada pelo maior expoente do
advaita, Adi Shankara, no sculo IX.
O dualista (dvaitim), por outro lado, reconhece que o mundo real
e distinto da alma ou esprito. O Yoga Clssico, baseado na filosofia
dualista do Samkhya, ensina que para se libertar do sofrimento no
mundo preciso entrar repetidamente em um estado de conscincia
conhecido como Samadhi, ou absoro cognitiva. Nesse estado, a pessoa
se torna consciente daquilo que consciente. Transcende a falsa
identificao egosta com o corpo e os movimentos da mente. Como
resultado, as causas do sofrimento so gradualmente eliminadas. Em
vez da abordagem intelectual do Advaita e do Vedanta, ensina que a
Verdade s pode ser conhecida pelo ingresso no estado de conscincia
do Samadhi, no qual a mente se torna silenciosa. Prescreve uma
Sadhana progressiva, prticas espirituais que preparam o indivduo
para o estado de Samadhi. Esta a abordagem do Yoga Clssico, do
Tantra e de algumas escolas devocionais (bhakti) do Vedanta. A
autorrealizao o objetivo do Yoga Clssico e a perfeio, envolvendo a
transformao da natureza humana, o objetivo do Tantra.
Este baseia-se em uma compreenso dos princpios da Natureza
(tattvas) conforme o Samkhya. E busca permanecer equilibrado em
meio aos constituintes da Natureza (gunas), mantendo-se como
Observador ou Testemunha, ao invs de se identificar com a
personalidade pautada pelo complexo corpo-mente. A experincia
pessoal a autoridade ltima, ao invs das Escrituras. A frase Jiva
est se tornando Shiva resume a abordagem testa monista do
Siddhantha e do Shivasmo da Caxemira. A identidade da alma
individual, Jiva, como Isso, Shiva, a meta final, na perspectiva no
dualista.
A viso pluralista a que encontramos nas religies testas, como os
monotesmos ocidentais (Judasmo, Cristianismo, Islamismo) e as
tradies dualistas do Vedanta (aquelas de Ramanujacharya e
Madhwacharya) e na verso realista pluralista da filosofia Saiva
Siddhantha de Meykandar, prevalente no Sul da ndia. Realista porque
Meykandar ensina que Deus, a alma e o mundo so eternamente
separados. Em todas essas linhagens, a crena em um Deus pessoal
prevalece. O mundo no apenas real, mas tambm mau. A alma precisa
encontrar um caminho para sair do mundo e entrar no cu, onde Deus
ser encontrado. Crena e devoo ao Senhor, Escrituras, rituais,
preces e religio institucional so os meios, com nfase na f. Alm
disso, as religies do Ocidente no incluem a crena na reencarnao e
so geralmente escatolgicas, significando que esperam por um fim
apocalptico do mundo e pelo Juzo Final, no qual as almas justas
sero elevadas ao cu, e as outras almas sero condenadas ao inferno
pela eternidade.
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H diferenas filosficas entre o Monismo e o Pluralismo.
Simplificadamente, a escola monista sustenta que, por emanao de Si
Mesmo, Deus, ao qual se refere como Siva ou Isso, criou tudo o
mundo, todas as coisas do mundo e todas as almas. E que o destino
final de cada alma fundir-se em unio advitica como Isso, assim como
as guas de um rio se fundem com as guas do oceano. A escola
pluralista de Meykandar postula que Deus Siva no criou o mundo ou
as almas, mais que as trs entidades existem eternamente, e que o
destino ltimo da alma no a unio advtica com Deus Siva, mas a
associao no dual com ele, em eterna graa e beatitude, uma unio
comparada do sal dissolvido na gua. Na primeira viso, h manifestao
a partir de Siva no incio e fuso de volta com Siva no fim, e apenas
o Deus Supremo, Siva, eterno e incriado. Na segunda viso, as
diferenas entre os trs, Deus, alma e mundo, so eternamente reais. O
pluralista realista argumenta que, por ser perfeito, Deus no pode
criar almas imperfeitas e um mundo imperfeito com todos os seus
sofrimentos. No h incio para a alma, mas eterna coexistncia da alma
com Siva, do estado kevala, que recua ao tempo absolutamente
primordial, ao estado shuddha, que se estende indefinidamente no
futuro. Na viso monista, Deus Siva tudo, e mesmo este universo
fsico parte Dele, embora Ele o transcenda tambm. Na viso
pluralista, Deus Siva anima e guia a universo, mas este no parte
Dele. A diferena crucial, ento, se existe uma realidade eterna ou
trs, se a alma est eternamente separada ou, em essncia, una com
Siva. Esse debate entre o tesmo monista e o realismo pluralista
apresentado em detalhe no ltimo volume de nossa publicao do
Tirumandiram.
Pergunta: O que Maya e por que o Siddhantha considerado um tesmo
monista? Satchidananda: o Siddhantha, assim como o Yoga Clssico, o
Shivasmo da Caxemira e o Tantra, comea com a perspectiva daquilo
que se experimenta no plano relativo da existncia, no mundo, com
todas as suas limitaes e fontes de sofrimento. Ele no nega o mundo
como irreal ou iluso de Maya. O conceito de Maya possui, inclusive,
conotaes diferentes no Siddhantha em relao ao Vedanta. No
Siddhantha, Maya refere-se iluso subjetiva, enquanto que, no
Vedanta, ela o poder de iluso objetiva, por meio do qual a
Realidade Unitria parece mltipla. Advaita ou no-dualismo comea e
termina na perspectiva de plano absoluto da existncia. Apenas
Brahman existe. Tudo o mais apenas aparentemente real. O Siddhantha
reconhece que, ainda que entendam seus ensinamentos
intelectualmente, apenas poucas pessoas tm o necessrio poder de
concentrao e o carter desapaixonado e virtuoso para seguir o
caminho do Advaita, mantendo sua perspectiva nesse plano absoluto.
Ento, o Siddhantha recomenda um caminho progressivo conhecido como
Sanmarga, que comea na perspectiva do plano relativo e termina na
perspectiva do plano absoluto. Ento, ele principia no tesmo, a
perspectiva da alma encarnada no mundo, e finaliza no monismo, a
perspectiva da unidade na identidade, a contnua conscincia no-dual
Disso. Trata-se, portanto, de um monismo testa, tal como o Shivasmo
da Caxemira, que, provavelmente, se desenvolveu de maneira paralela
ao Siddhantha. O Sanmarga inclui as seguintes quatro fases como
preparatrias para a conscincia no-dual:
1. Charya realizar servios nos santurios ou templos, executando
tarefas tais como limpar, juntar flores para adorao, assistir s
atividades realizadas no Sancta Sanctorum. o caminho do servidor,
que permanece nas imediaes do Senhor.
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2. Kriya aqui, a palavra refere-se adorao ritualstica. A pessoa
se torna a criana de Deus, prxima e ntima do Senhor.
3. Yoga a terceira aproximao, relativa a outras prticas
espirituais, como a Kundalini Yoga e a Ashtanga Yoga. A pessoa se
torna amiga de Deus, e alcana a forma e a insgnia do Senhor,
manifestando suas qualidades e poderes. Estes trs passos so
considerados preliminares.
4. Jana o quarto passo refere-se realizao direta, que resulta na
completa unio com o Senhor. Mas a individualidade no perdida. O
aspecto essencial, comum a Siva e a jiva, a conscincia, Chit. A
primeira sendo a mais elevada e a segunda, aquela que prevalente
nos humanos. Em Yoga Sutras, I.24, Patnjali nos diz quem Siva, o
Senhor ou Ishavara (palavra composta por Isha + svara, isto , Siva
+ o prprio Eu): Ishavara o Eu especial, intocado pela aflio, aes,
frutos das aes ou quaisquer impresses interiores de desejo.
No mais profundo e mais puro nvel de seu ser, Isso o que voc ,
e, para realizar Isso, voc precisa se purificar das causas do
sofrimento (ignorncia, egosmo, apego, averso, apego vida), a
perspectiva egosta de que Eu sou o autor, os hbitos a partir dos
quais o karma formado, e os desejos. Aquilo que inicialmente parece
ser dois, a alma e Deus, passa a ser visto como apenas Um, aps a
realizao. E isso nos lembra da paradoxal exortao de Jesus, que
disse: Ama teus inimigos. De fato, se ama seus inimigos, voc j no
tem inimigos.
Embora esse caminho qudruplo esteja na fundao da cultura
religiosa predominante no Sul da ndia, muito poucas pessoas foram
alm do primeiro ou do segundo estgios. O Sivavakkiyam, assim como
outras obras literrias dos siddhas, adverte o leitor para no ficar
retido em lares transitrios, referindo-se ao que caracteriza os
dois primeiros estgios: adorao nos templos, rituais, religio
organizada, escrituras e casta. Mas a buscar a realizao direta,
jana, por meio da prtica de Kundalini Yoga. Ainda que dualista na
aproximao (com seu relacionamento testa entre a alma e Deus), no
plano relativo da existncia no qual as almas precisam lidar com
ignorncia acerca de sua verdadeira identidade, maya (iluso mental
relativa ao tempo, s paixes etc.), karma e gunas, ele monista no
plano absoluto da realidade. Esse paradoxo pode ser entendido mais
claramente por meio de uma analogia que sublinha a importncia da
perspectiva. Quanto comea a buscar a Deus ou Realidade ou Verdade,
o buscador como a pessoa que caminha rumo a uma montanha. Na
distncia, a montanha, como Deus ou Realidade ou Verdade, parece to
grande que se torna incognoscvel. Isso decorre de uma particular
perspectiva no espao e no tempo. Eventualmente, encontra-se um
caminho, talvez dentre os muitos que permitem subir a montanha.
Esses caminhos so anlogos s vrias religies, filosofias, prticas
espirituais ou mesmo cincias. medida que segue o caminho, a pessoa
se torna mais e mais familiar com ele. Ganha conhecimento acerca
dele. Sua perspectiva muda enquanto sobe. Quando atinge o topo de
montanha, percebe que a perspectiva mudou totalmente. J no h mais
nenhuma diferena entre a pessoa e a montanha. Todavia, nem o
Observador nem o Observado mudaram. O buscador e a montanha
continuam a ser o que sempre foram. Apenas a perspectiva mudou.
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Se, de acordo com o Advaita, apenas Brahman, Isso, real, ento o
que dizer a respeito de Maya? No seria ela tambm irreal? Adi
Sankara, o maior expoente do Advaita, antecipou essa objeo,
declarando que Maya, entendida como iluso objetiva, ou poder por
meio do qual o Um parece ser muitos, inerentemente indeterminada.
Isto est longe de ser uma defesa satisfatria. Considerar Maya como
o Siddhantha o faz, como iluso subjetiva, e real no plano relativo
da existncia, de longe algo mais satisfatrio e til no processo de
se libertar desse poder. Por isso to importante no confundir o
plano relativo da existncia (o mundo e seu atual estado mental) com
o plano absoluto da existncia, no qual tudo visto como Um,
ignorando as condies e consequncias de cada um. Muitas pessoas que
seguem aqueles professores que os crticos denominam neoadvaitistas
ignoram essa distino e consequentemente acreditam que o mero
conhecimento do estado no-dual suficiente e que no h nada a fazer
para realiz-lo e nada a fazer para manter a conscincia dele. Isso
tambm indica por que no h palavra para filosofia em snscrito.
Todavia, existem seis escolas filosficas maiores, conhecidas como
darshans: Vaisheshika, Nyaya, Samkhya, Mimamsa, Vedanta e Yoga
Pergunta: O que a iluminao e como ela se relaciona com esta
discusso? Satchidananda: O termo iluminao uma palavra ocidental
que, at dcadas recentes, no era utilizada por nenhuma das tradies
advaitas, exceto pelo budismo, que a empregava para descrever o
ltimo estado de liberdade existencial atingido por Buddha,
conhecido como Nirvana. Eu no me lembro de t-lo visto na literatura
advaita tradicional (Vedanta, Shankara, Ramana Maharshi) ou no Yoga
Clssico ou nos tantras hindustas. Tenho a impresso de que entrou em
voga com professores ocidentais recentes, rotulados como
neoadvaitistas. Suspeito de que muito do recente debate entre esses
chamados neoadvaitistas acerca do que a iluminao ou mesmo de uma
fase ps-iluminao diz respeito purificao das manifestaes residuais
do egosmo: orgulho, raiva, medo, preguia e luxria. Isso parece
ocorrer precisamente porque o Ocidente carece no apenas da
experincia, mas tambm da terminologia para descrever os vrios graus
de iluminao. Meu prprio professor, quando perguntado sobre o
assunto, sendo um iogue e um estudioso tmil, mas no um intelectual,
encaminhava seus estudantes aos escritos dos siddhas (que, na poca,
ainda no haviam sido, em sua grande maioria, traduzidos) ou aos de
Sri Aurobindo. O termo mais prximo a iluminao que encontrei na
literatura tmil do Sul da ndia Vettivel, que se refere ao vasto
espao luminoso da conscincia, o bem-aventurado estado de samadhi,
conscincia transcendental, conscincia do prprio ser. um lugar onde
os pensamentos cessam, um por um, at que a conscincia exista apenas
como uma imensido vazia. Designa a ausncia de subjetividade e
objetividade. Designa a emancipao em relao ao tempo. um eterno
agora. Um lugar que transcende o passado, o presente e o futuro. Um
estado no acessvel percepo sensorial, um estado sem marcas
distintivas, um cu imaculado. Vettivel a verdadeira liberdade.
Assim o descreveu o Siddha Paambati: Sem forma, sem mculas,
fulgurante, onipresente,
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Beatfico, indescritvel, e a luz interior dos que o conheceram, O
Um, dividindo-se em Brahma, Vishnu e Siva, Ele como a coluna de luz
que traz a libertao. Que os ps da Divindade nos protejam (Siddha
Paambati, Aforismos de Sabedoria 28, 1, em The Yoga of the 18
Siddhas: An Anthology, pginas 475, 476). Embora nenhum conjunto de
palavras possa captur-lo, podemos realiz-lo por meio da conduo do
guru e da prtica da Kundalini Yoga, tal como prescrita pelos
Siddhas, incluindo os seguintes elementos: o aprendizado direto aos
ps do guru, e despertar a energia no chakra muladhara e direcion-la
mentalmente para cima, atravs dos outros cinco chakras, at que ela
alcance o sahasrara.
Iogue S.A. A. Ramaiah (1923-2006)
Pergunta: Por que voc disse no incio desta entrevista que o
Siddhantha comea onde o Advaita termina? Satchidananda: O iogue
Ramaiah respondeu a essa questo suscintamente quando descreveu o
objetivo do Siddhantha como sendo a entrega total. Embora o
advaitim possa abrir mo da perspectiva do ego em prol da
perspectiva da alma no plano espiritual da existncia, os Siddhas
entenderam que a perfeio no possvel em um corpo fsico sujeito
doena, em um corpo
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vital cheio de desejos e emoes, em um corpo mental neurtico.
Eles entenderam que a iluminao ou entrega total ou libertao no pode
ser limitada ao plano espiritual da existncia. Visualizaram e
compreenderam o potencial evolucionrio da humanidade, e, na
vanguarda dessa perfeio, desenvolveram os meios para realizar o
progressivo processo de purificao (shuddhi), envolvendo a entrega
da perspectiva do ego e da falsa identificao em todos os planos da
existncia:
1. No corpo espiritual, anandamayakosha, o indivduo alcana
Sat-Chit-Ananda, Shiva-Shakti ou a Autorrealizao, e se torna um
santo, em ntima comunho com o Divino. A perspectiva egosta ordinria
do santo substituda, ao menos em parte, pela conscincia da Presena
do Divino. E ele se identifica com o Observador ou a Testemunha.
Mas o mental, o vital e o fsico no so transformados, nem se tornam
um apoio para a entrega. Se a entrega ou a comunho do mstico
limitada ao plano espiritual da realidade, ele pode continuar preso
necessidade de fazer distines filosficas ou teolgicas, at que
comece a entregar seu ego tambm no plano intelectual. Alm disso, a
maioria dos santos no permanece no plano fsico tempo suficiente
para completar o processo de entrega, por vrias razes, que vo da
sade fsica aspirao por evadir-se deste mundo de sofrimento.
2. No corpo intelectual, vijanamayakosha, o silncio reina, o
pensamento largamente cessa, e o indivduo desenvolve jana siddhi, a
habilidade de conhecer as coisas intuitivamente, por identidade, e
comunicar esse conhecimento com facilidade. Ele se torna um sbio,
guiado primariamente pela sabedoria intuitiva, e abre mo do orgulho
de saber, mas permanece distrado pelas naturezas mental, vital e
fsica. O ego perdura, at que a entrega alcance todos os planos da
existncia. H sempre o risco de uma queda, e desejo, averso e apego
vida ainda podem criar sofrimento. Santo Agostinho afirmou: Senhor,
ajuda-me a entregar, mas no ainda. Isto , parte de nossa natureza
humana inferior, em particular o plano mental, sede da fantasia, e
o plano vital, sede das emoes e dos desejos, resiste transformao
que a entrega acarreta.
3. No corpo mental, manomayakosha, o indivduo desenvolve siddhis
associados aos sentidos sutis, a comear pela clarividncia,
clariaudincia e a clarissencincia. Ele pode desenvolver os dons da
profecia, de curar doenas ou de conhecer o passado dos outros por
meio do insight intuitivo. Pode tambm entrar em profundos estados
de comunho com o passado, o futuro ou qualquer aspecto de um objeto
sobre o qual se concentre. Ele se torna um Siddha, abrindo mo do
orgulho pessoal e da busca por novas experincias, mas pode
experimentar emoes perturbadoras e desejos no corpo vital, ainda no
entregue.
4. No corpo vital, pranamayakosha, no qual entrega todos os
desejos e emoes, e muda sua fidelidade, do ego para aquilo que Sri
Aurobindo chamou de ser psquico, o indivduo torna-se um Mahasiddha.
Manifesta, ento, outros siddhis extraordinrios, que envolvem a
prpria natureza. Isso pode incluir a materializao de objetos, a
levitao, a invisibilidade, a realizao de todos os desejos. Embora,
segundo seus prprios relatos, eles tenham vivido principalmente na
ndia, Tibete, China e Sudeste da sia, os Mahasiddhas viajaram por
todo o mundo. Mas, ainda neste caso, o processo no se completou,
pois o corpo fsico no se entregou descida da conscincia suprema at
o nvel celular.
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5. No corpo fsico, annamayakosha, que se transforma em um corpo
divino, divya deha, brilhando com a luz da imortalidade, o processo
finalmente se completa. Rarssimos Siddhas foram capazes de entregar
seus egos no plano fsico, de modo que as prprias clulas do corpo
abandonassem a conscincia limitada de seus objetivos metablicos
ordinrios para se integrarem plenamente Suprema Conscincia. Os
corpos desses grandes Siddhas, emanando a luz da conscincia,
tornaram-se, ento, invulnerveis doena e morte. At os iogues mais
srios tiveram dificuldade para conceber tal transformao, apegados
que estavam ao velho paradigma da oposio entre esprito/conscincia
versus corpo/mundo. Aqueles que atingiram esse estado de realizao
tornaram-se, ento, um Bbaji ou um Boganathar ou um Agastyar. Se
eventualmente deixaram o plano fsico no foi por que as foras da
natureza fsica os tenha obrigado a isso. Nos escritos dos Siddhas
encontramos muitas descries desse nvel de transformao divina.
Pergunta: Por que os Siddhas no se consideram especiais e pouco
ou nada falam de suas vidas pessoais? Satchidananda: O Siddha
Patnjali afirma que, at que os velhos hbitos de se identificar com
o corpo e a mente sejam completamente desenraizados, pelo repetido
retorno fonte da conscincia, o ego ser capaz de iludir at mesmo os
santos ou Siddhas. Eles podem, por exemplo, usar seus poderes para
atrair a ateno pblica. Porm, uma vez que a entrega ocorra at mesmo
no nvel fsico, o ego banido para sempre. A pessoa torna-se,
literalmente, nada especial, porque se identifica apenas com Isso,
que tudo permeia: a pura conscincia. Certos Siddhas alcanaram, ao
longo dos tempos, tal estado. E estes no enfatizaram ou atriburam
importncia s suas pessoas, seus poderes, suas biografias ou suas
atividades, porque tudo isso no era deles. Esses seres iluminados
eram instrumentos da Fora e da Luz Divinas e toda ao ou repouso que
se manifestava por meio deles deviam-se ao Poder Divino. No por
acaso, ento, que saibamos to pouco sobre esses Siddhas, o que
fizeram ou detalhes de suas vidas pessoais, mas conheamos seus
sbios ensinamentos. Foi a sabedoria que eles alcanaram e nos
deixaram como um legado. Foi essa conscincia, essa sabedoria, essa
experincia da Realidade ltima que consideraram da maior importncia,
porque lhes mostrou o caminho de volta ao Reino dos Cus.
Enfatizando a pessoa do professor, mais do que o seu ensinamento,
religies como o cristianismo e o budismo foram formadas. Buddha no
era budista. Jesus no era cristo. Os ensinamentos de Jesus, suas
parbolas, foram substitudos por uma religio sobre sua pessoa,
apesar do fato de que existam to poucos detalhes histricos acerca
de sua vida. Buddha, que era hindusta, buscou substituir o
ritualismo por ensinamentos sobre como evitar o sofrimento. Um
Siddha pode ser chamado a permanecer no mesmo corpo fsico por tempo
indeterminado, ou transmigrar para outro corpo, ou
desmaterializar-se, ou ascender como Jesus o fez, ou ocupar, ao
mesmo tempo, mais de um corpo visvel, em lugares diferentes. H o
exemplo bem documentado de Ramalinga Swamigal, do final do sculo
XIX, cujo corpo no projetava sombra, e no podia ser ferido nem
fotografado, apesar de repetidas tentativas feitas por fotgrafos
peritos, e que desapareceu dramaticamente da Terra em um lampejo de
luz violeta. Desde ento, ocorreram numerosos relatos sobre a
reapario de Ramalinga de tempos em tempos, para atender s
necessidades de seus devotos. Crianas e devotos do Sul da ndia
continuam a cantar os mais de 40 mil poemas e canes que ele
escreveu, exaltando o caminho da Suprema Luz da Graa. H
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tambm o exemplo de Kriya Bbaji, descrito da Autobriografia de um
iogue e em A voz de Bbaji: uma trilogia em Kriya Yoga, e dos
Siddhas Agastyar e Boganathar e de Sri Aurobindo, que deixaram
relatos detalhados sobre seus processos de entrega no nvel do corpo
fsico e obteno de vrias formas de imortalidade. Como Mircea Eliade
afirmou, os Siddhas so aqueles que entenderam a libertao como a
conquista da imortalidade.
Ramalinga Swamigal em Vadalur, Tamil Nadu, ndia
(com permisso de M. Govindan)
Pergunta: Qual o siginificado dos siddhis ou poderes milagrosos
dos iogues?
Satchidananda: Os siddhis so descritos em detalhes no terceiro
captulo dos Yoga-Sutras de Patnjali. So resultados de samyama, ou
comunho, definida por ele como a combinao de concentrao, meditao e
absoro cognitiva (samadhi). Como qualquer coisa, eles tambm podem
se tornar um obstculo, se virarem meio de realizao de algum apego
egosta. No entanto, quando visto na perspectiva de Siddhantha, so
subprodutos do processo de divinizao da natureza humana, em que a
natureza inferior dirigida pelo ego substituda ou se rende a uma
natureza mais elevada, dirigida pelo secreto e mais alto Eu,
Ishvara ou Purushottama. Este processo foi descrito em detalhes nos
escritos dos 18 Siddhas e de Sri Aurobindo e da Me.
Os escritos dos 18 Siddhas Tmeis, particularmente aqueles de
Boganathar e Tirumular, fornecem ricos e inspirados relatos em
primeira pessoa desse processo. Eles tambm descrevem os mtodos de
Kundalini Yoga, especialmente relacionados com a respirao, para
permitir e acelerar o processo.
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Tal processo tambm foi descrito com grandes detalhes por Sri
Aurobindo. No entanto, ele o imaginou como um meio de acelerar a
evoluo da humanidade como um todo, uma vez que o Supramental
tivesse descido em um nmero suficiente de praticantes avanados da
Yoga Integral. Ele resumiu essa Yoga em trs palavras: aspirao,
desapego e entrega. Pergunta: Qual a relao entre a Kriya Yoga de
Bbaji e o Siddhantha? Satchidananada: A Kriya Yoga de Bbaji a
destilao do Siddhanta. um caminho quntuplo que combina o cultivo do
desapego e a meditao do Yoga Clssico, conforme descrito nos Yoga
Sutras de Patnjali, com a Kundalini Yoga dos Siddhas. Este caminho
quntuplo inclui:
Kriya Hatha Yoga: com sanas (posturas fsicas de relaxamento),
bandhas (travas musculares) e mudras (gestos psicofsicos que trazem
sade, paz e o despertar dos principais canais de energia, os nadis,
e dos centros de energia, os chakras). Bbaji selecionou uma srie
particularmente eficaz de 18 posturas, que so ensinadas em estgios
e em pares. Cuida-se do corpo fsico no para si mesmo, mas como um
veculo ou templo do Divino.
Kriya Kundalini Pranayama: uma poderosa tcnica de respirao para
despertar a nossa energia potencial e conscincia e distribu-las aos
sete principais chakras, entre a base da coluna vertebral e o topo
da cabea. Ela desperta as faculdades latentes associadas aos sete
chakras e nos transforma em um dnamo em todos os cinco planos da
existncia.
Kriya Dhyana Yoga: uma srie progressiva de tcnicas de meditao,
para aprender a arte cientfica de dominar a mente, limpar o
subconsciente, desenvolver a concentrao, a clareza mental e a viso,
e despertar as faculdades intelectuais, intuitivas e criativas, e
para nos levar ao estado sem respirao de comunho com Deus, o
Samadhi, e autorrealizao.
Kriya Mantra Yoga: a repetio mental silenciosa de sons sutis
para despertar a intuio, o intelecto e os chakras. O mantra se
torna um substituto para o ego, centrado na tagarelice mental, e
facilita o acmulo de grandes quantidades de energia. O mantra tambm
limpa tendncias subconscientes habituais.
Kriya Bhakti Yoga: o cultivo da aspirao da alma pelo Divino.
Inclui atividades devocionais e servio para despertar o amor
incondicional e a felicidade no corpo espiritual. Pode incluir
cantos devocionais. Gradualmente, todas as atividades da pessoa
ficam embebidas em doura, quando o Amado percebido em todos.
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Pergunta: O caminho quntuplo da Kriya Yoga de Bbaji me faz
lembrar dos vrios tipos de Yoga recomendados por Sri Krishna na
Bhagavad Gita, de acordo com natureza ou carter essencial
(svabhava) do indivduo:
1. Karma yoga para aqueles que se sentem chamados por sua prpria
natureza (svabhava) para servir abnegadamente por meio de suas
aes;
2. Bhakti yoga para aqueles que se sentem chamados por sua
prpria natureza a amar o Senhor, ou amar os outros, ou amar o
Senhor nos outros;
3. Raja yoga para aqueles que se sentem chamados por sua prpria
natureza a buscar a verdade, voltando-se para o interior em
meditao;
4. Jana yoga para aqueles que se sentem chamados por sua prpria
natureza a buscar a verdade mediante o cultivo do autoconhecimento
e da sabedoria.
Como se pode decidir qual desses o melhor caminho para si mesmo?
Satchidananada: Ns podemos ver que h uma lei constante nessa
tipologia, e que cada indivduo age no s de acordo com as leis
comuns do esprito humano, a vontade, a mente, a vida, mas de acordo
com sua natureza prpria ou carter essencial (svabhava), a lei do Eu
Superior, da Alma. A natureza promove o desenvolvimento de cada um
segundo as possibilidades de seu ser potencial. De acordo com o que
somos, de como agimos, e de que aes desenvolvemos, ns nos
trabalhamos. Cada homem ou mulher cumpre diferentes funes ou segue
uma inclinao diferente de acordo com a regra de suas circunstncias
prprias, capacidades, carter, poderes. A Gita enfatiza que a
natureza de cada um deve ser respeitada e realizada, mesmo que de
forma imperfeita, e que isso melhor do que a realizao perfeita da
natureza alheia. A ao deve ser corretamente conduzida, executada a
partir de dentro de si mesmo, em harmonia com a verdade interior, e
no por uma motivao externa, como as expectativas sociais, ou por
impulsos mecnicos, como o medo ou o desejo. Para conhecer a prpria
natureza, necessrio desapego, autoestudo e discernimento. Uma vez
identificada essa natureza, pode-se decidir qual dos caminhos
mencionados melhor ajuda a realizar o potencial que deriva desse
carter essencial, levando autorrealizao. At ento, alguma prtica
regular de todos eles vai criar o equilbrio necessrio para que a
pessoa possa perceber claramente seu svabhava. At ento, a pessoa
tambm pode sentir uma necessidade de seguir um ou mais desses
caminhos ou yogas. Por exemplo, se estiver fisicamente fraca ou
nervosa, ela pode praticar mais de sanas ou pranayamas; se sentir
falta de amor em sua vida, pode ser atrada a praticar mais bhakti
yoga, cultivando o amor e a devoo; se tiver muitas dvidas e
perguntas, mais de jana yoga, com o estudo da literatura da
sabedoria e autorrecordao. Depois da autorrealizao, quando a alma
se torna identificada com o Eu Oculto, Ishvara, ela se torna o
instrumento do Divino, assumindo sua potencial natureza maior. Ele
capaz de alterar o
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seu funcionamento natural, e empreender uma ao divina em
qualquer rea da vida, seja pelo servio, pesquisa, liderana, negcios
ou arte. A pessoa espiritualmente autorrealizada torna-se uma
trabalhadora divina, encontrando o Divino no s em si mesma, mas em
todos os seres. Sua identidade integra conhecimento, amor e ao, e
os caminhos iguicos de jana, bhakti e karma, prescritos na Gita.
Tendo percebido a sua unidade com tudo na dimenso espiritual, sua
igualdade plena de simpatia. Ela v a todos como a si mesma e no est
interessada apenas em sua salvao. Pergunta: Se as prticas dos
Siddhas so to benficas, por que elas so mantidas em segredo? Por
que so ensinadas apenas durante iniciaes?
Satchidananda: A iniciao um ato sagrado, no qual o indivduo tem
a experincia inicial dos meios para alcanar uma verdade. Esses
meios, no caso, so as kriyas ou tcnicas iguicas prticas, e a
verdade um portal para o eterno e infinito Um. Porque essa verdade
est alm do nome e da forma, ela no pode ser comunicada por meio de
palavras ou smbolos. Pode ser experimentada, porm, e, para isso, a
pessoa precisa de um professor, que possa compartilhar com ela sua
prpria experincia dessa verdade. A tcnica torna-se um veculo por
meio do qual o professor compartilha com o praticante os meios para
realizar essa verdade em si mesmo. Por essa razo, muitas dessas
prticas, ou kriyas, no so descritas em detalhes nos escritos dos
Siddhas. Elas so reservadas para o treinamento pessoal junto a um
professor qualificado.
Durante a iniciao, sempre h a transmisso de energia e conscincia
do iniciador para o iniciante, mesmo que o iniciante no esteja
consciente disso. A transmisso pode no ser efetiva se o estudante
estiver cheio de perguntas, dvidas ou distraes. Ento, o iniciador
se esfora para preparar o iniciante de antemo e para controlar o
ambiente de modo que essas perturbaes potenciais sejam minimizadas.
O iniciador assume, de fato, a conscincia do iniciante, e a expande
para alm de suas fronteiras vitais e mentais habituais. Existe uma
espcie de fuso das fronteiras ordinrias vitais e mentais do
iniciador e do iniciante, e isso facilita grandemente o movimento
da conscincia para um plano mais elevado. Ao faz-lo, ele abre o
iniciante para a existncia de sua prpria alma ou Eu Superior, que,
at ento, havia permanecido velado na maioria dos indivduos.
Elevando a conscincia do iniciante, este tem pelo menos os
vislumbres iniciais de sua conscincia potencial e poder. Isso o que
se entende pela ascenso da Kundalini do discpulo. E, na maioria das
vezes, no algo realizado de maneira dramtica em uma sesso
inaugural, mas ao longo de um perodo, dependendo da diligncia do
estudante em pr em prtica o que aprendeu.
Para a iniciao ser efetiva, duas coisas so essncias: a preparao
do estudante ou iniciante e a presena de um iniciador que tenha
realizado seu prprio Eu. Embora muitos buscadores espirituais
enfatizem esse ltimo aspecto, e busquem um guru perfeito, poucos se
ocupam de sua prpria preparao. Isso talvez seja uma falha da
natureza humana, buscar algum que faa por ns. Isto , que nos d a
autorrealizao e a realizao divina.
Embora o guru ou professor possa coloc-lo no caminho certo, o
buscador deve, ele mesmo, comprometer-se em seguir essa direo. E,
ainda que o buscador possa estar intelectualmente
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-
comprometido com isso, muito frequentemente a natureza humana o
faz derivar para a distrao, a dvida ou o desejo. Ento, mesmo que
encontre o professor perfeito, se o buscador no tiver cultivado
qualidades como f, sinceridade, pacincia e perseverana, a iniciao
pode se tornar to ftil quanto espalhar sementes sobre um piso de
concreto. Por essa razo, tradicionalmente, a iniciao restrita
apenas queles que se prepararam, s vezes com anos de antecedncia.
Embora a primeira iniciao possa ser disponibilizada para um grande
nmero de aspirantes qualificados, somente aqueles que cultivaram as
qualidades descritas do discpulo, esto aptos a receber as iniciaes
superiores. H uma essencial e sagrada transmisso de conscincia e
energia entre o iniciador e o iniciante que empodera as tcnicas.
por isso que as tradies iniciticas lograram transmitir a experincia
direta da verdade de uma gerao gerao seguinte com tanta eficincia.
Sua fora reside no poder e na conscincia daqueles que executaram
essas prticas intensamente e, assim, realizaram sua verdade. O
professor tambm permanece uma fonte de inspirao e conduo para o
estudante. Por todas essas razes, as tcnicas so mantidas em
segredo, reservadas para o contexto de uma iniciao pessoal por meio
de um professor qualificado.
Pergunta: Qual o valor do corpo humano para o desenvolvimento
espiritual?
Satchidananda: Os Siddhas referem-se s trs grandes bnos na vida.
Primeiro, ter nascido com um ser humano, o que extremamente raro.
Apenas quando encarnada no plano fsico a alma pode crescer em
sabedoria e purificar-se das manchas ou grilhes. Segundo, encontrar
o caminho espiritual, o que tambm muito raro, com todas as distraes
dos cinco sentidos e a confuso da mente e do intelecto. Terceiro,
encontrar o preceptor espiritual, o guru, cujos ensinamentos e
exemplos guiam a alma rumo libertao. Uma vez encontrado, o
progresso em direo ao objetivo pode se tornar rpido se a pessoa
mantm seu corpo fsico saudvel e se aplica nas disciplinas
espirituais e ensinamentos prescritos por seu guru e tradio. Os
Siddhas viram o corpo como o templo de Deus, e, por isso, fizeram
todos os esforos para mant-lo saudvel e para estender sua vida, de
forma a ganhar tempo suficiente para completar o processo de
entrega completa ao Divino, que era seu objetivo final. Como
mestres tntricos, eles buscaram transformar para aperfeioar sua
natureza humana. A perfeio entenderam no podia ser limitada ao
plano espiritual. A iluminao, em um corpo fsico doente, em um corpo
vital cheio de desejos, em um corpo mental neurtico, no era
perfeio.
Reconhecendo que o corpo fsico era ignorante de seu potencial,
e, por isso, sujeito ao decaimento metablico e doena, e utilizando
os memorveis poderes mencionados anteriormente, os Siddhas
empreenderam um estudo sistemtico da natureza e de seus elementos,
a partir do qual se tornaram habilitados a desenvolver um sistema
de medicina altamente avanado, conhecido como medicina siddha, com
muitos remdios efetivos nicos, que at hoje praticado no Sul da
ndia. Redigiram muitos tratados mdicos sobre a longevidade que,
atualmente, constituem o fundamento de um dos quatro sistemas de
medicina reconhecidos pelo governo da ndia.
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Reconhecendo que estavam em uma corrida contra o tempo, para
completar a transformao do corpo fsico antes de sua morte, tambm
desenvolveram uma frmula mineral e vegetal nica, conhecida como
kaya kalpa, para estender a vida. Mas acreditavam que apenas a
respirao iogue, kundalini pranayama, poderia completar finalmente
esse processo.
O Siddha Tirumular ofereceu um vislumbre desse entendimento da
longevidade em sua definio de medicina:
Medicina o que cura as desordens do corpo; Medicina o que cura
as desordens da mente; Medicina o que previne as doenas; Medicina o
que propicia a imortalidade.
Os Siddhas descobriram por que o corpo envelhece e desenvolveram
passos para prevenir o envelhecimento. Eles, por exemplo,
descobriram que o perodo de vida de todos os animais inversamente
proporcional frequncia de sua respirao. Isto , que, quanto mais
lenta a respirao, maior a durao da vida. Reciprocamente, quanto
mais rpida a respirao, menor o perodo de vida. Animais como a
tartaruga marinha, a baleia, o golfinho e o papagaio, que respiram
poucas vezes por minuto, vivem por longos perodos, s vezes mais
tempo que os humanos. Ao passo que animais como o co e o rato, que
respiram cinco vezes mais rpido do que os humanos, tm, com regra,
vidas muito mais curtas do que a nossa. Os Siddhas sugeriram que se
pudermos respirar mais lentamente ou menos vezes por minuto,
poderemos viver por cem anos. quando a respirao se torna agitada ou
habitualmente muito rpida que nosso perodo de vida reduzido.
Pergunta: O que o neoadvaita e por que ele controvertido?
Satchidananda: O moderno movimento Advaita dividiu-se em duas
faces: uma permaneceu comprometida com uma articulao mais
tradicional do Advaita Vedanta; a outra afastou-se de maneira
significativa desse sistema espiritual tradicional. Ao longo dos
ltimos 15 anos, a faco Traditional Modern Advaita (TMA) lanou e
sustentou uma ampla crtica contra os professores e ensinamentos da
Non-Traditional Modern Advaita (NTMA). Essa ciso parecida, de vrias
maneiras, com o que ocorreu, durante os ltimos 20 anos, entre os
ensinamentos tradicionais do Yoga e aqueles que esto ensinando Yoga
prioritariamente como um empreendimento empresarial. Existem
atualmente mais de 200 autoproclamados professores da NTMA, segundo
um artigo recente. O professor Philip Lucas escreveu um excelente
artigo, intitulado Not So Fast, Awakened Ones: Neo-Advaitin Gurus
and their Detractors, no The Mountain Path, o jornal do Ramana
Maharshi Ashram, Volume 49, no 1, Janeiro-Maro de 2012,
republicado, em verso expandida, no jornal acadmico Nova Religio.
The Journal of Alternative and Emergent Religions, volume 17, no 3,
Fevereiro de 2014, pginas 6-37, publicado pela University of
California Press, e disponvel em
http://www.jstor.org/stable/10.1525/nr.2014.17.3.6. Eu recomendo
enfaticamente esse artigo, pois ele relevante para todos os
estudantes de Kriya Yoga, que podem estar se perguntando se as
ofertas do NTMA no seriam uma alternativa efetiva sadhana da Kriya
Yoga de Bbaji. Ele igualmente instrutivo para qualquer buscador da
no-dualidade, monismo ou Verdade.
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Eu gostaria de, primeiramente, sumarizar as cinco principais
crticas feitas pela Traditional Modern Advaita contra os
professores e ensinamentos do neoadvaitismo, de acordo com o
professor Lucas, e de compartilhar meus comentrios com vocs. A
primeira envolve a alegao de que os professores neoadvaitas
rejeitam a necessidade da sadhana ou do esforo espiritual no
processo de autorrealizao. A segunda, de que ignoram a necessidade
do desenvolvimento moral e do cultivo de virtudes como pr-requisito
para a autntica realizao espiritual. A terceira, de que o
neoadvaitismo no possui o conhecimento dos textos, da lngua e das
tradies associadas ao Advaita. Consequentemente, muitos desses
professores comearam a ensinar pouco tempo depois de sua primeira
"experincia" de despertar, sem estarem estabelecidos no estado de
sahajasamadhi (a contnua conscincia no-dual) necessria para um
ensino efetivo. A quarta refere-se ao formato de satsanga usado
pelos professores neoadvaitas e a prontido de seus participantes.
Os crticos afirmam que esses professores s esto preocupados com
empoderamento espiritual, autoajuda e pertencimento ao grupo, e
oferecem experincias de "iluminao instantnea" em vez de assistncia
continuada na tarefa de purificao do ego. A quinta diz que os
professores neoadvaitas no fazem distino entre os planos absoluto e
relativo da existncia. Consequentemente, do pouco ou nenhum suporte
para uma vida comprometida com a disciplina espiritual, o
desenvolvimento nas dimenses fsica, emocional, mental e
intelectual, e o engajamento na sociedade. Todo o seu foco reside
no estado final da realizao espiritual. Isso d pessoa a iluso de
estar liberta ou desengajada da vida ordinria. Em suma, os
professores neoadvaitas removeram os requerimentos essenciais da
abordagem do Advaita em relao libertao, dizem os crticos, e os
substituram por um tipo de pseudo-espiritualidade, que no efetivo e
pode ser prejudicial. Seu artigo tambm discute o modelo econmico da
religio e o fenmeno de adaptao da religio quando ela se desloca de
uma cultura a outra. Eu, pessoalmente, ouvi vrios professores e
estudantes de Advaita afirmarem que no precisam mais de sadhana,
que no preciso praticar yoga, porque eles j esto iluminados ou por
alguma outra razo. A segunda crtica refere-se a algo que lembra a
tendncia de professores e estudantes de Yoga do Ocidente ignorarem
o primeiro passo do Yoga, os yamas, ou restries sociais: no
praticar violncia, no mentir, castidade, no roubar, no cobiar. A
terceira refere-se a ignorar um dos componentes do segundo passo do
Yoga, o niyama do autoestudo, que envolve o estudo dos textos de
sabedoria que servem como espelhos para o Eu verdadeiro. A quarta
refere-se a algo similar simplificao dos demais passos da Clssica
Yoga ctupla e sua substituio, no Ocidente, apenas por sanas,
voltadas para a boa condio fsica, perda de peso ou manejo do
estresse, preocupaes mundanas caractersticas da cultura ocidental.
A quinta rea de crticas refere-se a algo particular ao Advaita,
porque este quase inteiramente uma abordagem intelectual, com
nenhum meio visvel para distinguir ou verificar quem iluminado.
Consequentemente, um professor presunoso do neoadvaita pode
facilmente mimetizar a fala ou ensinamento de um mestre do Advaita
tradicional, como Ramana Maharshi ou Nisgaradatta Maharaj. Aps ler
o artigo do Professor Lucas em Mountain Path, dois anos atrs, eu
escrevi a ele. E ele me pediu para enviar meus comentrios ao seu
artigo. Aps faz-lo, ele expressou sua concordncia com meus
comentrios. Como um professor de religio na Stetson University, na
Florida, a poucas milhas de onde eu vivo no inverno, ns nos
encontramos para jantar recentemente. Aqui esto os comentrios sobre
seu artigo que eu enviei a ele:
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1. O modelo econmico de religio ajuda a explicar muito dessa
bifurcao, particularmente no Ocidente, onde h um mercado espiritual
para a iluminao fcil e instantnea entre pessoas que passaram a
esperar coisas fceis" e instantneas em todas as esferas. Os humanos
so, por natureza, preguiosos, e, ento, buscam pelo mais fcil e mais
rpido meio possvel, criando efetivamente a demanda por professores
que, por seu turno, iro supri-lhes uma fcil e at instantnea
experincia de iluminao. Apenas participe de meu satsangha ou
participe de meu seminrio de transformao ou leia meu livro, e voc
tambm poder se tornar iluminado so o tipo de campanha publicitria
qual muitos novios iro sucumbir no mercado espiritual. O fato de
que isso possa custar algo, mesmo uma grande quantidade de
dinheiro, apenas reala o valor dessa promessa aos olhos dos
consumidores nefitos. O fato de que eles tenham pouca ou nenhuma
ideia do que a iluminao realmente torna a tarefa desses professores
ainda mais fcil. Mas, quando os vendedores e consumidores nesse
mercado comearem a perceber que sua crena nessa iluminao no resolve
os problemas associados natureza humana, ou mesmo sua crise
existencial, alguns deles, que sinceramente buscam a iluminao, iro
se deslocar para as ofertas maduras da Traditional Modern Advaita.
Muitos outros permanecero satisfeitos com os lampejos fugazes disso
oferecidos nos satsanghas do advaitismo moderno no tradicional, com
suas recompensas emocionais e sociais.
2. Os ocidentais, especialmente os norte-americanos, ignoram
qualquer coisa sobre religio que v alm daquilo que se lembram da
escola dominical. A maioria dos norte-americanos incapaz de
distinguir tesmo, monismo, atesmo, agnosticismo e gnosticismo. E,
porque a Constituio dos Estados Unidos probe a educao religiosa em
escolas pblicas, muitos sequer pensam no assunto ao qual as
religies orientais como o Advaita se referem: o sofrimento
existencial. Ento, eles esto despreparados para sequer consideram
muito do que a TMA requer.
3. A palavra guru perdeu sua aura de respeitabilidade no
Ocidente, desde os escndalos que comprometeram a reputao de quase
todos os gurus hindustas ou budistas que visitaram o Ocidente
durante o ltimo quarto de sculo. Consequentemente, os ocidentais,
com raras excees, dificilmente buscam um guru, ao passo que os
indianos geralmente o fazem. Esse fato, acredito, explica, em
grande medida, a razo da diviso que voc descreveu entre o NTMA e o
TMA. Esse fenmeno ocorreu em escala muito maior no domnio do Yoga.
Os escndalos associados com muitos gurus de Yoga indianos durante
os anos 1960 e 1970 levou sua substituio por aquilo que o Yoga
Journal orgulhosamente chama de American Yoga, que orgulhosamente
antiguru, individualista, comercial, competitiva, teraputica,
atltica, centrada no corpo, no religiosa e fragmentada.
4. Voc pergunta: Quantos elementos do sistema Advaita podem ser
descartados antes que sua eficcia como meio de libertao espiritual
seja definitivamente comprometida? Isso
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realmente coloca a questo: Quem nos tempos modernos se tornou
espiritualmente liberto ou iluminado e o que o distingue dos
outros? Eu diria que bem poucas pessoas de fato o conseguiram. Seu
artigo falha em abordar a questo sobre como possvel julgar se algum
iluminado ou no. Seria muito til fazer no mnimo a distino entre
experincia iluminadoras, tais como so comumente reportadas, e o
estado permanente de iluminao. Embora isso possa estar fora do
escopo do seu artigo, dado que o tema iluminao e o debate sobre
como alcan-la, algum critrio para julgar o que isso e o que isso no
seria til. Na literatura do Yoga Clssico, como nos Yoga Sutras de
Patnjali, e nos Tantras shivastas ou budista, os vrios nveis de
samadhi, autorrealizao ou iluminao so descritos. Abordando esses
pontos, voc poderia comear a responder questo apresentada no incio
desse pargrafo.
Pergunta: Por que importante entender o Siddhantha, o Advaita e
o Yoga?
Satchidananda: Eles so mapas para a libertao espiritual e a
libertao do sofrimento inerente natureza humana. Eles informam a
prtica ou sadhana. No Ocidente, muitas pessoas permanecem
ignorantes acerca de seus ensinamentos, e simplesmente tentam fazer
vrias prticas sem entender seus objetivos e propsitos filosficos.
Ento, quando os ocidentais, se tornam entediados ou insatisfeitos
com uma prtica, eles buscam outra. Eles colecionam tcnicas. como
trocar de um carro e guiar a esmo, sem saber para onde ir. Na ndia,
at recentemente, muitas pessoas educadas conheciam alguns aspectos
das escolas filosficas ou darshans, mas no praticavam as tcnicas
espirituais ou yoga. Prtica, informada pelos ensinamentos
subjacentes, garante o progresso rumo realizao do sankalpa ou
inteno. Entendendo o Siddhantha, o Advaita, o Yoga e outros
caminhos espirituais, pode-se escolher que objetivo se deseja
perseguir e criar a firme inteno de realiza-lo. Mesmo que seu
objetivo seja um no objetivo, mas simplesmente ser, enquanto
estiver no mundo, voc ter que agir, e suas aes precisam estar
informadas pela sabedoria se voc pretende evitar o sofrimento e
evitar causar sofrimento aos outros.
Copyright Marshall Govindan 2014
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Para mais informaes sobre este assunto, leia os seguintes livros
publicados por Bbajis Kriya Yoga and Publications, disponveis em
nossa loja virtual em:
http://www.babajiskriyayoga.net/English/bookstore.htm
1. Tirumandiram, por Tirumular, Edio 2013, 5 volumes 2. Babaji
and the 18 Siddha Kriya Yoga Tradition, 8 edio
(tambm disponvel em portugus) 3. Kriya Yoga Sutras of Patanjali
and the Siddhas, 3 edio
(tambm disponvel em portugus) 4. The Yoga of Boganathar, volumes
1 e 2 5. The Yoga of Tirumular: Essays on the Tirumandiram, 2
edio 6. The Wisdom of Jesus and the Yoga Siddhas 7. The Yoga of
the 18 Siddhas: An Anthology 8. The Poets of the Powers, por Kamil
Zvebil
E: The Alchemical Body: Siddha Traditions in Medieval India, por
David Gordon White, publicado pela University of Chicago Press,
1996 The Practice of the Integral Yoga, por J.K. Mukherjee,
publicado por Sri Aurobindo Ashram Publications Deparment,
Pondicherry, ndia, 605002. 2003
Letters on Yoga, volumes,1, 2 e 3, por Sri Aurobindo, publicado
por Sri Aurobindo Ashram Publications Deparment, Pondicherry, ndia,
605002. The Integral Yoga, por Sri Aurobindo, publicado por Sri
Aurobindo Ashram Publications Deparment, Pondicherry, ndia, 605002.
The Divine Life, por Sri Aurobindo, publicado por Sri Aurobindo
Ashram Publications Deparment, Pondicherry, ndia, 605002. Not So
Fast, Awakened Ones: Neo-Advaitin Gurus and their Detractors, em
The Mountain Path, o jornal do Ramana Maharshi Ashram, Volume 49,
nmero 1 (Janeiro -- Maro 2012) e republicado em vero ampliada em
Nova Religio, The Journal of Alternative and Emergent Religions,
volume 17, nmero 3, Fevereiro 2014, pginas 6-37, publicado por
University of California Press, disponvel em
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Pergunta: Por que decidiu conceder esta entrevista? Qual o seu
objetivo?Pergunta: Qual a relao entre Siddhantha, Advaita e
Yoga?Pregunta: O que Siddhantha?Pergunta: O que o Siddhantha nos
diz sobre a alma e sua relao com o corpo?Pergunta: Qual a concepo
de Deus dos Siddhas?Pergunta: Qual o objetivo do
Siddhantha?Pergunta: Como a libertao em relao aos grilhes da alma e
aos modos da natureza realizada, de acordo com o
Siddhantha?Pergunta: Qual a causa do sofrimento humano e como
super-lo?Pergunta: Qual a diferena de monismo ou no-dualismo
(advaita) e dualismo (dvaita) e pluralismo (tesmo)?Pergunta: Por
que essas distines so importantes?Pergunta: O que Maya e por que o
Siddhantha considerado um tesmo monista?Pergunta: O que a iluminao
e como ela se relaciona com esta discusso?Pergunta: Por que voc
disse no incio desta entrevista que o Siddhantha comea onde o
Advaita termina?Pergunta: Por que os Siddhas no se consideram
especiais e pouco ou nada falam de suas vidas pessoais?Pergunta:
Qual o siginificado dos siddhis ou poderes milagrosos dos
iogues?Pergunta: Qual a relao entre a Kriya Yoga de Bbaji e o
Siddhantha?Pergunta: O caminho quntuplo da Kriya Yoga de Bbaji me
faz lembrar dos vrios tipos de Yoga recomendados por Sri Krishna na
Bhagavad Gita, de acordo com natureza ou carter essencial
(svabhava) do indivduo:Pergunta: Se as prticas dos Siddhas so to
benficas, por que elas so mantidas em segredo? Por que so ensinadas
apenas durante iniciaes?Pergunta: Qual o valor do corpo humano para
o desenvolvimento espiritual?Pergunta: O que o neoadvaita e por que
ele controvertido?Pergunta: Por que importante entender o
Siddhantha, o Advaita e o Yoga?