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INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA IBRATI SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA SOBRATI MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA RAFFA PIRES REBELO ARAÚJO AVALIAÇÃO DA DOR EM UNIDADES DE TERAPIA INTENSIVA NEONATAL
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Avaliação da Dor em UTINibrati.org/sei/docs/tese_928.docx · Web viewTratado de Fisiologia Médica. Rio de Janeiro. Saunders, 2006. KOPELLMAN, B. Distúrbios respiratórios no período

Apr 17, 2018

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Avaliao da Dor em UTIN

INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA IBRATI

SOCIEDADE BRASILEIRA DE TERAPIA INTENSIVA SOBRATI

MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA

RAFFA PIRES REBELO ARAJO

AVALIAO DA DOR EM UNIDADES DE

TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

TERESINA - PI

2016

RAFFA PIRES REBELO ARAJO

AVALIAO DA DOR EM UNIDADES DE

TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Terapia Intensiva, do Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva, servindo como um dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em Terapia Intensiva.

Orientador: Prof. Dr. Edilson Gomes de Oliveira

TERESINA PI

2016

RAFFA PIRES REBELO ARAJO

AVALIAO DA DOR EM UNIDADES DE

TERAPIA INTENSIVA NEONATAL

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Terapia Intensiva, do Instituto Brasileiro de Terapia Intensiva, servindo como um dos requisitos para obteno do ttulo de Mestre em Terapia Intensiva.

Orientador: Prof. Dr. Edilson Gomes de Oliveira

Aprovada em 25 de Junho de 2016

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Edilson Gomes de Oliveira

Instituto Brasileiro em Terapia Intensiva IBRATI

Presidente (Orientador)

Prof. Dr. Douglas Ferrari

Instituto Brasileiro em Terapia Intensiva IBRATI

Examinador

Prof. Dr. Marttem Costa de Santana

Membro Externo - Universidade Federal do Piau UFPI

Examinador

Prof. M.a Vicena Maria Azevedo de Carvalho Gomes

Instituto Brasileiro em Terapia Intensiva IBRATI

Examinadora

AGRADECIMENTOS

Meus agradecimentos a Deus, sem Ele seria impossvel realizar esse trabalho. Aos meus pais, pelo amor, incentivo apoio incondicional. Instituio pelo ambiente criativo amigvel proporcionado. Ao meu orientador, pelo empenho dedicado elaborao deste trabalho. A todos que direta u indiretamente fizeram parte d minha formao, mu Muito Obrigado.

RESUMO

A Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) considerada um ambiente estressante onde exige a necessidade de procedimentos dolorosos para garantir a sobrevivncia do paciente. A dor no recm-nascido vem sendo causa de estudos, no qual se faz necessrio uma abordagem que visa mtodos disponveis precisos de como avaliar esse quinto sinal vital. O estudo foi elaborado atravs de uma pesquisa bibliogrfica, utilizando referncias tericas que abordam o assunto. Conclui-se que deve sistematizar uma ampla e adequada avaliao da dor como parte da rotina de servio, levando em considerao toda a constelao de aspectos que afetam a resposta do RN, reduzindo dvidas em relao ao correto diagnstico.

Palavras-chave: Avaliao; Dor; Neonatal.

ABSTRACT

The Neonatal Intensive Care Unit (NICU) is considered a stressful environment which requires the need for painful procedures to ensure the survival of the patient. Pain in the newborn has been because of studies, in which an approach to accurate methods available to evaluate this fifth vital sign is necessary. The study was prepared by a literature search, using theoretical references that address the issue. It is concluded that should systematize a comprehensive and adequate assessment of pain as part of the service routine, taking into account the whole constellation of issues affecting the NB response, reducing questions about the correct diagnosis.

Keywords: Rating; Pain; Neonatal.

SUMRIO

1 INTRODUO

2 REFERENCIAL TERICO

3 METODOLOGIA

4 ANLISE E DISCUSSO DOS RESULTADOS

5 CONSIDERAES FINAIS

6 REFERNCIAS

1. INTRODUO

A dor considerada por Guyton e Hall (2006), e entendida por diversos autores como um mecanismo de resposta a um estmulo nocivo, sendo desencadeada a partir de estruturas especializadas do sistema nervoso crebroespinal e autnomo. Machado (2006) explica que esta condio torna-se necessria para o funcionamento normal do organismo, por informar a localizao e a intensidade do nocivo nos tecidos. Leo e Chaves (2007) acrescentam que a dor est sempre associada a uma experincia sensorial e emocional desagradvel.

O recm-nascido (RN) prematuro em funo da sua imaturidade anatmica e fisiolgica necessita de uma assistncia que possibilite a sua sobrevivncia, desse modo tem crescido a indicao da Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) como um ambiente que pode promover o acompanhamento e intervenes necessrias ao desenvolvimento do recm-nascido prematuro (RNPT). Apesar dos avanos tecnolgicos esse no um ambiente confortvel para o RN prematuro apresentando grande disparidade com relao ao propiciado pelo ambiente intra-uterino, pois possui caractersticas e procedimentos que se tornam estressantes e dolorosos durante a internao (CRESCNCIO et al., 2009).

Dentre estes fatores, tem sido crescente o enfoque da literatura sobre a dor no perodo neonatal, pois apesar de no ser capaz de referir dor por meio de relatos verbais prprios, podem responder dor por meio de respostas fisiolgicas e comportamentais. Assim, nas ltimas dcadas aumentou a preocupao entre os profissionais de sade sobre a avaliao e a interveno como forma para aliviar e sensibilizar a possibilidade de dor no recm-nascido. Acreditava-se que o recm-nascido era incapaz de sentir dor, ao afirmar que a estrutura e a funo do sistema nervoso so imaturos ao nascimento. Porm sabe-se na atualidade que o recm-nascido possui maturidade neurolgica para experimentar sensaes dolorosas (BRASIL, 2005).

Os lactentes, em especial os recm-nascidos, no verbalizam a dor que sentem. A avaliao da dor necessariamente indireta e deve ser inferida a partir das alteraes dos parmetros comportamentais e fisiolgicos. Portanto, para uma possvel atuao teraputica diante de situaes dolorosas, no basta saber que o recm-nascido tem maneiras de exprimir dor, preciso dispor de instrumentos que "decodifiquem" a linguagem da dor e de acordo com essa necessidade foram desenvolvidas escalas multidimensionais que consideram a presena ou no de dor, assim como diferenciam estmulos dolorosos de no dolorosos (SILVA et al., 2007).

Kopellman (2008) destaca os procedimentos aversivos frequentes, excesso de manuseio, distrbios de repouso, medicaes orais nocivas, barulho e iluminao intensa como fontes de estresse, podendo afetar a morbidade. A dor tambm representa uma das principais causas de estresse presente na UTIN, sendo geralmente desencadeadas pelos procedimentos, pelos tubos, sondas, agravado pela perda do contato com o tero materno.

Ainda, existe a dificuldade de caracterizar as alteraes fisiolgicas e comporta-mentais decorrentes do estresse produzidos pelo ambiente hospitalar das respostas apresentadas diante de um estmulo doloroso.

Para Guimares (2008), o neonato com dor emite sinais, que podem ser identificados por meio de alteraes comportamentais e fisiolgicas, como: choro, rigidez muscular, expresso facial, alteraes no sono, na alimentao, na freqncia cardaca, na freqncia respiratria, na saturao de oxignio, na presso arterial e no quadro clnico como um todo. A exposio repetida dor no perodo neonatal pode inclusive aumentar a vulnerabilidade ao estresse e a ansiedade na idade adulta.

A dificuldade para reconhecer e avaliar a dor no indivduo pr-verbal constitui um dos maiores obstculos para o seu tratamento adequado nas unidades de terapia intensiva. A falta de conhecimento a respeito das escalas existentes utilizadas para avaliar a dor contribui para essa realidade. Atualmente no existe nenhum mtodo que seja aceito universalmente como forma de avaliar a dor em recm-nascido, o que dificulta ainda mais o conhecimento do assunto.

A finalidade de conhecer a aplicabilidade de meios para avaliao de dor despertou o interesse e a importncia em realizar este trabalho. Alm disso, quanto maior for o interesse dos profissionais de sade e, com isso o aprofundamento da temtica, menor sero as agresses sofridas pelo recm-nascido durante a sua permanncia nas internaes em UTIN.

2. REFERENCIAL TERICO

A Unidade Neonatal o setor hospitalar destinado assistncia multidisciplinar aos recm-nascidos de risco, onde os mesmos so mantidos sob intensa vigilncia desde o nascimento em beros de UTI ou incubadoras a fim de mant-los em ambiente trmico ideal e por vezes com altos nveis de oxignio (BASSETTO et al., 2008).

Muitos aspectos do meio ambiente e dos cuidados da UTIN podem causar dor e desconforto para o neonato. A maioria dos procedimentos ocorre nos bebs de menor idade gestacional e na primeira semana de vida, com uma mdia de 53 a 63 procedimentos invasivos por beb, podendo chegar a um extremo de 488 procedimentos em um neonato nascido em 23 semanas e pesando 560g (MARGOTTO, 2010).

Entre os principais fatores dolorosos que o RN submetido, destacam-se a entubao endotraqueal eletiva, colocao de cateter central, mltiplas punes arteriais ou venosas, os procedimentos cirrgicos de qualquer porte, tocotraumatismos, e uso da ventilao pulmonar mecnica (ALMEIDA; BERNARDES, 2005).

A assistncia prestada ao RN teve grande marco nos ltimos anos, podemos citar o desenvolvimento do surfactante exgeno, deteco da maturidade fetal atravs da anlise do lquido amnitico, o uso do corticide para induo da maturao pulmonar, alm dos avanos na assistncia ventilatria (LOPES; LOPES, 2009).

Guinsburg (2007), ainda pontua que paralelamente a sofisticao dos recursos teraputicos, ocorre tambm com a exigncia de procedimento dolorosos para garantir a sobrevivncia do neonato, ou seja, a sobrevivncia ao perodo neonatal tem um custo para o paciente que inclui a dor.

A Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) tem como foco manter as funes hemodinmicas, necessrias a manuteno da vida, assim aliadas a recursos materiais e humanos oferece ao RNPT observao constante e assistncia contnua permitindo melhores taxas de sobrevivncia.

necessrio que alm das condies fisiolgica tambm estejam atentos nas funes motoras, comportamentais e sensoriais para que ocorra uma adaptao do RN ao meio ambiente. De modo, que no apresente futuras sequelas fsicas e emocionais (ALMEIDA; BERNARDES, 2005).

Apesar dos benefcios, a UTIN tambm considerada um ambiente estressante, para os pais diante do sentimento de esperana e medo, para a equipe de profissionais pela exigncia de eficincia e atualizao dos conhecimentos. Enquanto para o RN os fatores estressantes so acentuados pela condio de prematuridade, pois o ambiente sensorial diferente em quase todos os aspectos do ambiente intra-uterino.

No se pode esquecer a importncia da adoo de medidas relacionadas com a avaliao e o tratamento da dor, traduzindo-se um conjunto de iniciativas que visam produo de cuidados de sade que conciliam a melhor tecnologia possvel com a promoo de um acolhimento holstico e respeito tico pelo neonato (SOUTO, 2010).

A idia de que o neonato no sente dor foi por muito tempo defendido pelos profissionais de sade que lidam com este paciente. Essa idia que se baseava na ausncia de memria para dor e na imaturidade do sistema nervoso central, foi sendo derrubada por tericos como Anand e Carr, que afirmam sobre a descoberta de receptores nociceptivos: os mecanoceptores, moderadamente mielinizados e os polimodais, no mielinizados (ROCHA et al., 2010).

De acordo com Prestes et al. (2005), negar a existncia do processo doloroso no RN pode prejudicar a sua avaliao e a interveno, no contexto da UTIN, principalmente devido a sua caracterstica subjetiva e a necessidade de expresso verbal, o que no cuidado ao RNPT torna-se um dos obstculos para o tratamento, j que o mesmo no capaz de express-la desta forma. Assim, essencial a implementao das escalas de avaliao da dor em recm-nascidos, como uma ferramenta clnica de baixo custo e de alto impacto na identificao deste fenmeno.

O uso da analgesia em procedimentos potencialmente dolorosos ainda pouco frequente. H necessidade de aperfeioar a formao dos profissionais de sade para diminuir a distncia entre os conhecimentos existentes a respeito do manejo da dor no perodo neonatal e a prtica clnica.

Assim, a identificao, avaliao e interveno no processo doloroso precisam ser uma constante e um desafio a ser superado pela equipe de profissionais envolvidos no cuidado ao RN em cuidados intensivos. Porm, apesar dos progressos, nota-se que ainda escassa a literatura nacional sobre o tema e tambm h poucos trabalhos relacionados dor do recm-nascido.

3. METODOLOGIA

A anlise foi realizada atravs de pesquisa em livros, artigos de revistas nacionais, monografias, teses, dissertaes e produes cientficas publicadas no perodo de 2005 a 2014, em peridicos indexados na base de dados Scielo, Lilacs publicados em portugus utilizando os descritores: Avaliao de Dor; Recm-Nascido; UTI Neonatal.

De acordo com Gil (2008), a pesquisa exploratria consiste na busca de maior familiaridade com o tema discutido, aperfeioando as informaes existentes. Segundo Cervo e Bervian (2006), esse tipo de pesquisa procura explicar um problema atravs de referncias tericas publicadas, objetivando um maior conhecimento sobre o tema abordado.

O mtodo de abordagem utilizado na pesquisa foi o dedutivo, que se partindo de teorias e leis gerais, pode-se chegar previso ou determinao de fenmenos particulares (ANDRADE, 2009).

Por se tratar de reviso de literatura e no oferecer riscos, no se fez necessrio submeter o projeto avaliao de Comit de tica em Pesquisa com Seres Humanos, conforme determina a Resoluo n. 466/2012 do Ministrio da Sade que regulamenta a participao do ser humano em pesquisa cientifica.

4. ANLISE E DISCUSSO DOS RESULTADOS

A percepo da dor uma qualidade inerente vida, no entanto, a capacidade para a percepo de uma condio dolorosa no depende de uma experincia anterior, pois assim como o tato, o olfato, a viso e a audio, a dor uma sensao primria prpria, e todas essas sensaes so essenciais para o crescimento e o desenvolvimento do indivduo (SOUSA et al., 2007).

Os estudos realizados sobre o mecanismo da dor permitiram compreender a recepo, transmisso e reconhecimento da dor, compreendidos pela ativao dos aferentes nociceptivos localizado no organismo, e que so estimulados por fatores trmicos (termoceptores), mecnicos (mecanoceptores) e qumicos (quimioceptores) intensos, esclarecendo que as condues dolorosas at os centros cerebrais superiores so feitas atravs das vias ascendentes espinotalmica, espinorreticular e espinotectal.

Assim, estudos como os realizados por Melzack e Wall (2005), citado por vrios autores pela importncia na descoberta de recursos teraputicos para o tratamento da dor, desenvolveu a Teoria da Comporta, que segundo Machado (2006) e Tortora (2006), fundamenta-se no equilbrio entre os estmulos excitatrios e inibitrios com relao transmisso dolorosa, explicando que as penetraes dos impulsos dolorosos so inibidas pelas clulas nervosas que constitui a substncia gelatinosa da substncia cinzenta bloqueando a transmisso da dor.

A Agncia Americana de Pesquisa e Qualidade em Sade Pblica e a Sociedade Americana de Dor a descrevem como o quinto sinal vital, e como tal, deve ser avaliado to automaticamente quanto os outros sinais vitais do paciente, quais sejam: temperatura, pulso, respirao e presso arterial.

Os autores esto de acordo ao classificar a dor quanto durao, em aguda e crnica. Caracterizando que a diferena entre elas de acordo com o prolongamento do processo doloroso. Na dor aguda os episdios so breves e com tendncia a repeties, enquanto a dor crnica apresenta estabilizao do quadro doloroso, sem tendncia regresso espontnea e persiste mesmo aps ter cessado o estmulo doloroso, por isto se compara a um fenmeno de memorizao.

No entanto, Gold e Laugier (2006) indicam que alm do mecanismo da fisiopatologia e dos efeitos, a dor crnica difere muito da dor aguda pelo componente racional. A dor aguda produz reaes imediatas que alertam o indivduo, enquanto na dor crnica os reflexos imediatos desaparecem e surgem alteraes emocionais.

Neste contexto, de investigao sobre os mecanismos da dor, surgiu a divergncia sobre o mecanismo da dor no recm-nascido e a partir de vrios estudos realizados pode-se afirmar o fato de que desde o nascimento, inclusive prematuro, o RN apresenta elementos neuroanatmicos necessrios percepo e a transmisso da dor, estando presentes a partir da 20 semana gestacional.

Assim, alm de afirmar a presena dos elementos do mecanismo da dor no recm-nascido, Figueir (2000) acrescenta o fato de que as vias responsveis pela inibio e modulao da dor no esto totalmente desenvolvidos ao nascimento, mas que continuam se desenvolvendo no perodo ps-natal, seja no neonato prematuro ou a termo, pressupondo-se que o dficit provocado pelo nascimento prematuro torna a dor mais intensa no RN prematuro.

O aparecimento das fibras sensitivas observado numa sequncia relatada em conformidade pela literatura que durante a 6 semana gestacional ocorre o aumento das fibras sensitivas, na 7 semana surgem os receptores cutneos na regio perioral do feto espalhando-se a partir da 11 semana gestacional pela face, regio palmar e plantar, na 15 semana distribui-se para o tronco e regies proximais dos membros inferiores e superiores, atingindo toda a superfcie corprea e mucosa na 20 semana (FIGUEIR, 2000).

Entretanto, durante a assistncia prestada ao RNPT na UTIN merece ateno identificao, a preveno e o tratamento da dor, considerando que o tempo de internao geralmente prolongado, sendo submetidos a procedimentos dolorosos, particularmente na primeira semana de vida provocando maior instabilidade.

Ademais, as modificaes fisiolgicas e comportamentais so elementos importantes para a avaliao da dor no perodo neonatal, observadas antes e depois do estmulo doloroso.

Do ponto de vista fisiolgico, o estmulo doloroso desencadeia taquicardia, aumento da presso, em especial da sistlica, variao da presso intracraniana, taquipnia ou apnia, hipoxemia, liberao de mediadores inflamatrios e de hormnios do stress, particularmente as catecolaminas e o cortisol. Em termos comportamentais apresenta resposta motora de retirada da regio afetada em relao ao estmulo doloroso, com mmica facial especfica da dor e choro caracterstico (FIGUEIR, 2000).

Portanto, os profissionais de sade devem ser capazes de ter uma observao criteriosa para identificar a ocorrncia de sinais de presena de dor no RN na UTIN, considerando a incapacidade de verbalizar a dor. Dentre as medidas fisiolgicas, as mais utilizadas e citadas na literatura para avaliao da dor so a frequncia cardaca, frequncia respiratria, presso arterial, enquanto a avaliao comportamental destaca-se a resposta motora, mmica facial e o choro.

Leo e Chaves (2007) ressaltam que os parmetros comportamentais so mais especficos para a avaliao da dor no RN quando comparados s alteraes fisiolgicas, pontuando que as alteraes fisiolgicas so medidas objetivas, porm pouco especficas quando utilizadas isoladamente para o reconhecimento da dor neonatal, podendo estar relacionadas gravidade da patologia e ao estado clnico do paciente que necessita de cuidados intensivos, por isso no devem ser utilizados como nicos indicativos de dor.

H necessidade de sistematizar a avaliao da dor para que o profissional possa reforar a importncia de seu controle, fundamentar a prtica, registrar informaes e realizar a educao continuada da equipe. A busca do controle da dor exige que os profissionais tenham interesse em tentar vrias intervenes para conseguir os resultados esperados.

Nas ltimas dcadas tem-se observado grandes avanos na elaborao de instrumentos de medida de dor, porm ainda carecem de aperfeioamento para que atendam s necessidades da sociedade. Embasado nas alteraes comportamentais, vrias escalas foram criadas e validadas. Para Nicolau et al. (2008), essas escalas constituem um instrumento de fcil aplicabilidade, contudo, pela falta de objetividade elas dependem da interpretao subjetiva do observador acerca dos comportamentos avaliados.

A deteco da dor na UTIN pode ser feita atravs de escalas unidimensionais (utilizam apenas alteraes comportamentais); e as multidimensionais (associam alteraes comportamentais e fisiolgicas) especific-las para esse fim, e so instrumentos que facilitam a interao e comunicao entre os membros da equipe de sade, permitindo avaliar a evoluo de cada paciente. A eficcia do tratamento e o seu seguimento dependem de uma avaliao e mensurao da dor confivel e vlida (SOUSA et al., 2007).

Em meio a vrias escalas de dor descritas, as mais estudadas so o Sistema de Codificao da Atividade Facial - NFCS, a Escala de Avaliao de Dor - NIPS e o Perfil de Dor do Prematuro - PIPP.

Dentre as citadas, a escala NFCS (Neonatal Facial Coding System) ou SCAFN (Sistema de Codificao da Avaliao Facial do Neonato) permite a observao da expresso facial, um mtodo especfico para avaliar a dor em recm-nascido a termo e pr-termo, pois, alm de ser sensvel, no invasiva.

Grunau et al, 1998; Guinsburg, 1999; Johnston & Stevens, 1996, observaram que a referida escala avalia as alteraes dos movimentos faciais frente a um estmulo doloroso levando em considerao a presena ou ausncia dos seguintes movimentos faciais: fronte saliente; olhos espremidos; sulco nasolabial aprofundado; boca esticada; lbios entreabertos; lbios franzidos; lngua tensa e tremor do mento. Para cada movimento facial presente atribudo um (1) ponto, sendo o escore mximo de 8 pontos. Considerando a presena de dor quando a pontuao for superior a 2 dois (Anexo A - Tabela 1).

ANEXO A Sistema de Codificao da Atividade Facial Neonatal (NFCS)

Tabela 1 Escala de avaliao de dor (NFCS) Sistema de Codificao da Atividade Facial Neonatal.

NFSC- Sistema de Codificao da Atividade Facial Neonatal.

Movimento facial

0 ponto

1 ponto

Fronte saliente

Ausente

Presente

Fenda palpebral estreitada

Ausente

Presente

Sulco nasolabial aprofundado

Ausente

Presente

Boca aberta

Ausente

Presente

Boca estirada (horizontal ou vertical )

Ausente

Presente

Lngua tensa

Ausente

Presente

Protruso da lngua

Ausente

Presente

Tremor de queixo

Ausente

Presente

Obs.: Escore mximo: oito pontos. Considera-se a presena de dor quando trs ou mais movimentos faciais aparecerem de maneira consistente durante a avaliao da presena de dor.

Fonte: OLIVEIRA, R. G. BlackBook: Pediatria. 3.ed. Belo Horizonte: Black Book, 2005.

J a escala NIPS (Neonatal Infant Pain Scale), descrita e validada por Lawrence e seus colaboradores, em 1993, baseia-se nas alteraes comportamentais frente ao estmulo doloroso e composta por seis indicadores de dor, dentre estes, cinco indicadores so comportamentais, e um fisiolgico. A mencionada escala avalia a expresso facial, o choro, a movimentao dos braos e pernas, o estado de sono-alerta e o padro respiratrio. Considera-se a presena de dor quando a pontuao superior a trs pontos e til na avaliao da dor em neonatos de qualquer idade gestacional (Anexo B - Tabela 2).

ANEXO B Neonatal Infant Pain Scale (NIPS)

Tabela 2 Escala Neonatal Infant Pain Scale (NIPS)

INDICADOR

DESCRIO

EXPRESSO FACIAL

0- Relaxada

1- Contrada

Face serena, expresso neutra;

Msculos faciais contrados, sobrancelhas e queixo franzidos.

CHORO

0 Ausente

1 Rabugice

2 Choro vigoroso

Sereno, no chora;

Rabugice intermitente;

Gritos altos, agudos ininterruptos que vo aumentando de intensidade.

RESPIRAO

0 Regular

1 Irregular

Padro normal;

Padro irregular, mais rpido que o normal e que impede a respirao.

BRAOS

0 Relaxados

1 Fletidos/ estendidos

Tnus relaxado, movimentos casuais e fortuitos dos braos;

Braos tensos, estendidos e/ou extenso/ flexo rgida e/ou rpida.

PERNAS

0 Relaxados

1 Fletidos

Tnus relaxado, movimentos casuais e fortuitos dos braos;

Pernas tensas, esticadas e/ou extenso/ flexo rgida e/ou rpida.

ESTADO DE

CONSCINCIA

0 Dorme/ calmo

1 Acordado/ agitado

A dormir, tranquila e calmamente ou acordado e sossegado;

Acordado ou alerta inquieto e agitado.

Fonte: OLIVEIRA, R. G. BlackBook: Pediatria. 3.ed. Belo Horizonte: Black Book, 2005.

Trata-se de uma escala vlida, pois se baseia nas alteraes comportamentais frente ao estmulo doloroso amplamente descrito na literatura. A escala NIPS tem se mostrado til para a avaliao de dor em neonatos a termo e prematuros, conseguindo diferenciar os estmulos dolorosos dos no dolorosos.

O PIPP (Premature Infant Pain Profile) outra escala sugerida por Stevens (1999), para a avaliao da dor no recm-nascido e foi desenvolvida especialmente para avaliar a dor aguda em neonatos pr-termo e a termo e consta da avaliao do estado de alerta, variao da frequncia cardaca, saturao de oxignio e trs parmetros de mmica facial: testa franzida, olhos espremidos e sulco nasolabial aprofundado. Se a pontuao for at seis pontos indica ausncia ou dor mnima, pontuao maior que doze pontos esta relacionada a dor moderada a intensa. O PPIP reflete acuradamente diferenas entre estmulos dolorosos e no dolorosos, em toda faixa etria neonatal. Esta escala valoriza o recm- nascido pr-termo levando em conta que ele pode expressar menos dor do que realmente est sentindo (Anexo C - Tabela 3).

ANEXO C Premature Infant Pain Profile (PIPP)

Tabela 3 Escala Premature Infant Pain Profile (PIPP)

Indicador

0

1

2

3

Idade gestacional

(em semanas)

36

32 35 e 6 dias

28 31 e 6 dias

< 28

Observar RN 15 segundos e registrar a frequncia cardaca e saturao de oxignio

Estado de alerta

Olhos abertos

Movimentos faciais

Olhos abertos

Sem mmica facial

Olhos fechados

Movimentos faciais

Olhos fechados

Sem mmica facial

Observar o RN 30 segundos

Frequncia cardaca mxima

0-4 bpm

5-14 bpm

15-24 bpm

25 bpm

Saturao de oxignio mnima

0-2,4%

2,5-4,9%

5,0-7,4%

7,5%

Testa franzida

Ausente

(0 a 9% do tempo)

Mnimo (10 a 39% do tempo

Moderado (40 a 69% do tempo)

Mximo (70% do tempo)

Olhos cerrados

Ausente (0 a 9% do tempo)

Mnimo (10 a 39% do tempo

Moderado (40 a 69% do tempo)

Mximo (70% do tempo)

Aprofundamento do sulco nasolabial

Ausente (0 a 9% do tempo)

Mnimo (10 a 39% do tempo

Moderado (40 a 69% do tempo)

Mximo (70% do tempo)

Fonte: OLIVEIRA, R. G. BlackBook: Pediatria. 3.ed. Belo Horizonte: Black Book, 2005.

4. CONSIDERAES FINAIS

Pelo exposto, pode-se constatar no que diz respeito avaliao da dor no RN, que hoje essa populao se encontra vulnervel e sujeita a danos, frente ausncia de avaliao sistematizada da sua dor. Contudo, a introduo de ferramentas de avaliao nas UTIN representa, assim, uma necessidade para a assistncia. A observao dos parmetros fisiolgicos e comportamentais como fonte de apreciao o mtodo mais utilizado, pois no existe registro na literatura analisada sobre escalas validadas como norma e rotina no setor neonatal.

Existe uma atual ateno para melhores mtodos de medio e avaliao da dor, servindo para aumentar a sensibilidade dos profissionais em relao natureza dos estmulos dolorosos. O interessante seria uma padronizao dessa forma de medio, no mnimo entre os profissionais atuantes em uma mesma unidade de terapia intensiva neonatal.

Por tudo que j foi dito, seria importante um treinamento formal desses profissionais de sade que atuam diretamente com o recm-nascido, para que sejam implantadas rotinas em relao ao cuidado da dor, levando-se em considerao a qualidade da assistncia prestada pela equipe interdisciplinar nas UTIN.

REFERNCIAS

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