Fundamentos de Redação e Produção de Textos para a Polícia Federal Aula 01 – Introdução à produção de textos para concursos PROFESSOR FERNANDO GAMA - @fgamajr http://tiny.cc/red2012pf 1 Pessoal, É um prazer estar com vocês em mais um curso online para concursos, dessa vez, para o concurso da Polícia Federal. O edital fala que o candidato deverá elaborar uma peça descritiva, narrativa ou dissertativa, que valerá 13 pontos. O meu objetivo é fazer você ganhar esses 13 pontos de modo fácil, simples e seguro. Quero que você vire agente da PF ainda em 2012 e continue a est udar apenas quando quiser, não por obrigação de passar. Para quem não me conhece ainda, meu nome é Fernando e trabalho no TCU já há 5 anos. Antes havia trabalhado com Fiscal de Tributos de Mato Grosso e como Analista do TCDF. Fui também Gestor Governamental e bancário. Aprovado em 1 o lugar no concurso da Receita em 2005, acabei não assumindo o cargo em razão de ter sido convocado para o TCU.
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marcarem “xis” em provas. Em todo o nosso tempo na escola, fomos orientados a
aprender que devemos marcar “xis” em alguns lugares para sermos aprovados e
passarmos de ano. Algumas pessoas conseguem desenvolver um raciocínio muitoapurado e viram exímias marcadoras de “xis” e acham que sabem muito, ainda por
cima. Outros têm dificuldade de marcar “xis”, mas o fato é que a vida escolar é
marcada por um modelo, a meu ver, ultrapassado: as pessoas marcam “xis”, mas
não sabem exatamente o que estão fazendo...
A aula expositiva, o professor centralizador do poder e do discurso em sala
de aula, os alunos, em forma passiva, esperando que o conhecimento venha sem
muito esforço e a exigência do “xis” em quase tudo. Acredito que o “xis” é um
grande problema para a formação dos nossos alunos. Talvez seja um resquício
dos modelos de produção em massa, típicas do capitalismo pós-revolução
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industrial. Queremos produzir alunos “em massa”, mas como isso exige trabalho,
discussão, tempo e dinheiro, é melhor produzir “marcadores de ‘xis’”.
De repente, crescemos, o mundo muda e alguém muito iluminado resolve a
começar exigir a elaboração de textos em vestibulares. Nós, alunos marcadores de
‘xis’, somos obrigados, de uma hora para outra, a termos capacidade de
argumentação, de discussão, devemos ter conhecimento de vários assuntos.
Eu tenho certeza que a grande maioria de nós teve o primeiro contato com a
produção de textos de verdade quando fez o vestibular. Fez uma redação meia-
boca, passou, ficou feliz e achou que nunca mais ia ter que enfrentar o drama denovo. Acontece que a má notícia vem agora. Provavelmente você passou no
vestibular, não em razão de ser um exímio escritor, mas porque naquela época da
vida os seus colegas eram tão imaturos quanto você e escreveram ainda mais
abobrinhas. Assim, a banca, em determinado momento, viu que tinha que
aproveitar alguns e você foi um dos que escreveu menos pior.
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mude caso seja muito necessário ou por questão de estilo. Uma oração tem a
seguinte estrutura:
SUJEITO VERBO PREDICADO
E pronto! Quando você começa a criar orações longas demais, você começa
a ter problemas na articulação dessa estrutura. Além disso, você começa a ter
problemas de pontuação, concordância, regência entre outros, já que uma oração
em que os termos que devam, por exemplo, concordar entre si estão distantes, o
erro é mais comum.
Quer ver um exemplo? Vamos analisar a frase abaixo:
A distinção ou a discriminação racial, além de ser altamente prejudicial à formação
de uma unidade nacional, onde todos possam ter condições e direitos iguais, é
considerado crime inafiançável pela Carta Maior.
Você leitor, percebeu alguma coisa de estranho na frase acima? Algum erro, falha,
descuido? Não? Tem certeza? Que tal ler de novo?
Vou dar uma dica!
A distinção ou a discriminação racial, além de ser altamente prejudicial à
formação de uma unidade nacional, onde todos possam ter condições e direitos
iguais, é considerado crime inafiançável pela Carta Maior.
O leitor percebeu que o sujeito “a distinção ou a discriminação racial” deveria estar concordando com o verbo “ser” e o predicado “considerado”? Sim, porque na
verdade, a frase, em sua ordem natural, seria escrita da seguinte maneira:
A distinção ou a discriminação racial é considerado crime inafiançável pela
Carta Maior, além de ser altamente prejudicial à formação de uma unidade
nacional, onde todos possam ter condições e direitos iguais.
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Não use o senso comum. Não se indigne. Quando alguém pede para você fazer
uma redação cujo tema é a pobreza no Brasil, você não precisa xingar os políticos,
falar que o prefeito é ladrão, que a culpa é dos Estados Unidos. Você não está alipara resolver os problemas do mundo nem para se indignar. Basta você escrever o
que é pertinente em relação ao tema, o mais friamente possível.
Se possível, sem qualquer tipo de emoção. O que se quer é um texto objetivo,
limpo, transparente. Isso não quer dizer que você não possa se posicionar a
respeito de determinado assunto. Às vezes, isso até é necessário, quando a banca
solicita a sua opinião sobre o tema. Mas, em regra geral, não é necessário falar
mal de toda a casta de políticos, juízes, dos portugueses que colonizaram o Brasil
para discutir a pobreza do país. Seja objetivo, imparcial, claro, objetivo e conciso.
Não descuide da letra. Quem trabalha, sabe que ao final do dia, estamos
cansados, sem paciência para muita coisa. Imagina se o chefe chega com um
relatório de 20 páginas para a gente ler. Chato, né? Você provavelmente vai ler
com má vontade e não vai ter a ideia legal do que o texto quer passar. E se o
texto, além disso, estiver com letras miúdas ou com falhas de impressão. Você vai
jogar aquilo no canto para ler para o dia seguinte. Agora, imagine-se na situação
da banca, corrigindo milhares de prova.
Chega a sua, o professor está cansado e você escreve meia dúzia de garranchos
incompreensíveis a olho nu. Ele vai, com boa vontade tenta ler, mas como ele é
humano vai acabar por falar: “Ah, vou dar qualquer nota para esse aluno aqui
porque eu ainda tenho 1000 provas para ler hoje”. Pronto, e você dançou.
Não cometa erros de gramática, sintaxe, ortografia. Claro, o texto elaborado em
uma prova de concurso exige que você observe toda a norma culta para escrita, o
que quer dizer que o texto não pode conter erros de gramática, sintaxe e
ortografia. No entanto, tenho reparado que cada vez mais as bancas têm atribuído
um peso menor a parte gramatical. Isso não quer dizer que você possa sair
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II – Planejando um bom texto
Para quem está começando a entrar no mundo da produção de textos para
concurso, é preciso conhecer uma verdade: textos, assim como dinheiro, não
caem do céu. A segunda verdade é que você não é médium.
Você é um aluno tentando aprovação em um concurso. Portanto, não
adianta dar uma de Chico Xavier na hora da prova que não vai funcionar. O texto
não vai vir de outro mundo e parar escrito, bonitinho, na sua prova, para você ser
aprovado.
Para um texto ou qualquer outra coisa na vida dar certo é preciso
planejamento. Você não pode contar com a sorte de estar inspirado no dia, de
baixar o espírito do escritor na sua cabeça, nem de o examinador estar de bom
humor. É preciso se planejar para que tudo dê certo, independente das condições
adversas.
E como se planeja um bom texto?
Em primeiro lugar, eu gostaria de dizer que eu sou contra a tese de muitosprofessores de letras e redação de que é preciso ler muito e escrever muito para
aprender a redigir bons textos. Escrever mil vezes besteiras e coisas erradas, a
meu ver, não vai acrescentar em nada. Talvez você ganhe um patrocínio da BIC,
fique com calos nos dedos, mas a tese da repetição para mim não agrega muito. É
claro que quem já escreve bem, acaba melhorando com o tempo, pois incorpora
novas técnicas, mais vocabulário e acaba conhecendo sobre mais assuntos. Mas,
repetir por repetir não acrescenta muito.
Em segundo lugar, para escrever bem é preciso entender para quem você
está escrevendo o texto. O seu destinatário, o seu receptor é quem manda. Ele é
o rei. Ele é o centro das atenções. Ele é igual o freguês da loja. Geralmente é o
examinador da banca. Portanto, não tente enganá-lo, fazê-lo de trouxa ou
consumir o tempo dele com abobrinhas. Escreva o que foi pedido. Não invente,
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III – Tipos de texto mais comuns em concurso
Há vários tipos de texto que podem ser produzidos. Os textos podem ser
narrativos, descritivos e dissertativos. Em concursos em geral, temos que
elaborar textos dissertativos. Há quem diga que os textos dissertativos são
meramente expositivos de uma situação: é quando a banca pergunta algo e você
tem que responder de modo objetivo, relatando, expondo a situação.
Se for essa a sua interpretação, teríamos quer criar uma nova categoria, a
dos textos argumentativos. Nos textos argumentativos, existe uma intenção da
pessoa que redige o texto de convencer o leitor de alguma coisa. Esse tipo detexto também é comum em concursos, quando a banca pede para o candidato se
posicionar sobre determinado assunto. Já que ele tem que se posicionar, ele tem
que explicar o motivo, certo? E para justificar o motivo, é preciso argumentar .
Exemplos:
(CESPE/ANATEL/2009) Considerando que o texto acima tem caráter unicamente
motivador, redija um texto dissertativo acerca do seguinte tema.
O SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO EM QUESTÃO
Ao elaborar seu texto, aborde, necessariamente, os seguintes aspectos:
penitenciárias: fábrica de crime ou caminho para a recuperação;
crime: a decisão de punir ou vingar
reinserção social do presidiário: o grande desafio.
Embora a banca tenha pedido para que o candidato elaborasse um tema
dissertativo, ela orienta o candidato a se posicionar sobre diversos assuntos:
“penitenciárias: fábrica de crime ou caminho para a recuperação”, “crime: a
decisão de punir ou vingar”, “reinserção social do presidiário: o grande desafio”.
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É claro que ela (a banca) não quer que você apenas conte a história da
carochinha, mas sim, ela quer saber seu real conhecimento sobre esses assuntos
polêmicos. Então, você vai ter que argumentar. Trata-se, portanto, de solicitaçãopara a realização de um texto argumentativo. Assim, para fins de concurso, não faz
sentido a distinção que alguns autores fazem de que o texto dissertativo é apenas
expositivo e não argumentativo. Pelo menos para uma das bancas mais
conhecidas, o CESPE, isso não faz sentido.
E quando vamos encontrar uma discursiva expositiva?
Quando a banca faz uma pergunta fechada sobre determinado tema. Nessecaso, os argumentos que você colocará não são seus, oriundos da sua opinião,
mas de fatos, de questões já amplamente discutidas. Não está sendo pedida a sua
opinião sobre o caso, mas o conhecimento seu sobre determinado assunto.
Para que servem as classificações da receita e da despesa pública? Quais são as
classificações existentes hoje em dia? Quais as alterações recentes na
classificação da receita e da despesa e porque elas foram feitas?
Assim, ninguém quer saber a sua opinião, mas o que você sabe sobre esse
assunto.
E qual a importância de fazer essa distinção. É muito simples: você precisa
saber que texto vai escrever ANTES de começar a escrever. E isso, fazemos na
fase de planejamento. Se você não souber que tipo de texto vai escrever, para
quem vai escrever, seu planejamento estará comprometido. Embora os dois tipos
de texto tenham início, meio e fim (como tudo na vida), o desenvolvimento de cada
um deles é diferente.
No texto argumentativo, você expõe uma tese ou hipótese que é o seu ponto
de partida – sua ideia central. Depois, você vai construir as ideias secundárias que
são os seus argumentos. E por fim, vai concluir com base nos argumentos se a
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Vamos colocar agora o texto corrido para ficar melhor de ler:
Texto expositivo: O orçamento público no Brasil é impositivo ou autorizativo?
Embora objeto de grandes controvérsias recentes, principalmente depois do
advento da Constituição de 1998, o STF já se posicionou firmemente sobre a
natureza jurídica do orçamento público, indicando que no Brasil vige o modelo
autorizativo de orçamento.
Diferentemente do modelo impositivo, em que todas as despesas consignadas na
lei do orçamento público são executadas, no modelo autorizativo o orçamento é
visto como mera condição necessária para a realização da despesa, não havendo
obrigatoriedade da execução integral da peça orçamentária.
Isso ocorre porque o STF entendeu que o orçamento público é um ato
administrativo travestido de lei formal, não contendo todas as características
intrínsecas desse tipo de norma, entre elas, a obrigatoriedade de sua execução.
Além disso, o STF entendeu que o modelo que opta pela execução integral da lei
de orçamento impede o Poder Executivo de fazer ajustes e de administrar oorçamento em vigor, retirando-lhe competências previstas na Carta Magna, razão
pela qual tal prática seria inconstitucional.
Texto argumentativo: Elabore um tema dissertativo em que seja abordada a
natureza jurídica do orçamento público
A natureza jurídica do orçamento público sempre foi objeto de vários debates no
meio jurídico e acadêmico nacional, já que lacunas na legislação não permitiamuma interpretação segura se em nosso país segue-se o modelo autorizativo ou
impositivo de orçamento público.
No modelo impositivo, o orçamento é visto como lei e como tal deve ser cumprida
em sua integralidade, a exemplo das leis penais e tributárias. Essa tese dá força
ao Poder Legislativo que vê a peça aprovada ser efetivamente cumprida pelo