Linfadenopatia Febril Prof. Alexandre V. Schwarzbold Universidade Federal de Santa Maria Curso de Medicina Disciplina de Doenças Infecciosas
Linfadenopatia Febril
Prof. Alexandre V. Schwarzbold
Universidade Federal de Santa Maria
Curso de Medicina
Disciplina de Doenças Infecciosas
Anatomia e Estrutura
• O sistema linfático se divide em:
– Rede capilar
– Vasos coletores
– Linfonodos
– Órgãos linfóides (primários e secundários)
Introdução
• A linfadenopatia representa aumento dos gânglios
linfáticos.
• Linfonodos: estruturas ovóides, pequenas e
encapsuladas localizadas no caminho dos vasos
linfáticos.
• Servem de microambiente ótimo para interação linfócito-antígeno
• São estruturas com circulação constante e duas funções básicas:
– Filtro
– Ativação imune
Como descrever um linfonodo
palpável? • Localização: por exemplo - supraclavicular, inguinal,
occipital.
• Tamanho: estimar em centímetros. Até 1cm (mesmo palpável) – raramente maligno.
• Consistência: elástica, fibroelástica, pétrea. Mais endurecidos – maior chance de malignidade.
• Mobilidade: a imobilidade deve-se à aderência a planos profundos, achado freqüente mente associado a neoplasia maligna.
• Dor: indica crescimento rápido com distensão capsular. Assim, as causas infecciosas e inflamatórias são as mais associadas a um linfonodo doloroso.
• Presença de fístula cutânea: adenite tuberculosa (escrófula), paracoccidioidomicose, doença da arranhadura do gato.
• Tempo de evolução: aguda (dias), subaguda (semanas), crônica (meses).
• O maior desafio é diferenciar entre causas
infecciosas e neoplásicas
• As primeiras são as mais freqüentes e as
últimas as mais temíveis
• 80% são benignas (jovens) devido
principalmente a hiperplasia reativa
Linfadenopatia Febril
Quais as linfadenopatias
suspeitas? • Idade
– Guarda relação com a incidência de
infecções respiratórias e gastrintestinais com
pico de desenvolvimento durante a
puberdade
– Abaixo dos 30 anos 80% benignidade e
acima dos 50 anos apenas 40%
• Tamanho
– Linfonodos normais palpáveis <1cm, porém
os inguinais medem 0,5-2cm
– Palpados em regiões que não cervical, axilar,
submandibular ou inguinal
– Linfonodos >3 cm sugerem malignidade
Quais as linfadenopatias
suspeitas?
• Características físicas do linfonodo
– Os linfonodos da hiperplasia reativa aguda
são lisos, macios, sensíveis,assimetricamente
aumentados, mas podem se tornar fundidos,
eritematosos ou flutuar e romper
– Os linfonodos carcinomatosos são
irregulares, duros, indolores, fixos,
coalescentes (no Linfoma são elástico-firmes)
e podem necrosar e drenar material
espontaneamente
Quais as linfadenopatias
suspeitas?
• Localização
– Normalmente uma linfadenopatia localizada
deve-se a um dano no local por ela drenado.
– Linfonodos abdominais >1,5cm em cortes de
CT ou RMN raramente possuem causas
inflamatórias.
– Linfonodos mediastinais >1cm devem ser
amplamente investigados.
Quais as linfadenopatias
suspeitas?
• Contexto clínico
– Sinais e sintomas associados
– Sintomas B (Linfoma, Tuberculose)
– Dados profissionais, viagens recentes,
contato com animais, hábitos alimentares e
sexuais
Quais as linfadenopatias
suspeitas?
• Comportamento
– Linfonodos inflamatórios têm surgimento
brusco e velocidade de crescimento maior
– A medida que o tempo passa tornam-se mais
prováveis as doenças granulomatosas e
neoplásicas
– Disseminação progressiva para cadeias
contíguas sugere Doença de Hodgkin
Quais as linfadenopatias
suspeitas?
Diagnóstico
• As linfadenopatias que requerem pronta
consideração diagnóstica são:
– Mais de duas semanas de duração
– Linfadenopatias muito grandes
– Linfadenopatias com características
patológicas
– Localização em sítios incomuns
Diagnóstico
Diagnóstico
Trata-se realmente de uma
linfadenomegalia?
– Deve-se diferenciar linfonodo de aumento de
parótidas, cistos, hemangiomas, abscessos,
lipomas e outros tumores.
Diagnóstico
Quais são as características do linfonodo e
do paciente?
• Semiologia:
– Tamanho, localização, características físicas,
comportamento, idade e contexto clínico
Diagnóstico
Diagnóstico
• Existem “pistas” epidemiológicas
características?
– Contato com gatos (Bartonella henselae)
– Ingestão de alimentos malcozidos
– Exposição a pássaros
– Ferimentos sujos
Diagnóstico
Diagnóstico
• Quais são os exames a se utilizar?
– Hemograma e Radiograma de tórax
– Bioquímica, culturais, sorologias e exames de
imagem
– PPD – teste tuberculínico
– Biópsia
Diagnóstico
Diagnóstico
Quando proceder a biópsia do linfonodo?
• Tamanho: maior que 2 cm
• Localização supraclavicular e escalênica
• Persistência por mais de 4 a 6 semanas sem dx.
• Aumento persistente de gânglios cervicais com sorologias negativas
• Crescimento progressivo
• Aderência a planos profundos
Diagnóstico
Linfadenopatias em
Doenças Infecciosas
• Mononucleose Infecciosa (Vírus Epstein-
Barr - EBV)
– Sintomática em 10% das crianças e 50% dos
adultos
– Cervicais posteriores são mais comuns
– Simétrica, móvel, indolor, associada a dor de
garganta, febre e linfocitose atípica
• Síndrome Mononucleose-like
– Toxoplasma, CMV, HIV, HSV 1, 6 e 7,
Adenovírus, Influenza, T cruzi, Bartonellas
• Herpes Simples (tipos 1 e 2)
– Erupção vesiculosa acompanhada de
adenopatia localizada (cervical ou inguinal) e
febre
Linfadenopatias em
Doenças Infecciosas
• Varicela-Zoster (VZV)
– Varicela: linfadenite sugere infecção
piogênica secundária
– Zoster: erupção vesiculosa limitada a um
dermátomo com linfadenopatia localizada
Linfadenopatias em
Doenças Infecciosas
• Rubéola (Rubivírus)
– Pós-natal: exantema, febre e linfadenopatia
dolorosa (retroauricular e cervical posterior)
– Congênita: adenopatia generalizada é
incomum
– Pós vacinação: adenopatia, febre e artralgia
Linfadenopatias em
Doenças Infecciosas
• Síndrome Retroviral Aguda (HIV)
– Adenopatia axilar, cervical e occipital surgem
na maioria dos paciente na segunda semana
• Linfadenopatia Generalizada Persistente
(HIV)
– Gânglios >1cm em >2 cadeias com >3 meses
de evolução sem outros sinais ou sintomas
Linfadenopatias em
Doenças Infecciosas
Linfadenopatias em
Doenças Infecciosas
• Citomegalovirose (CMV)
– Mononucleose-like
• Dengue (Flavivírus)
– Adenopatia cervical em 50% dos casos
podendo ser generalizada
Linfadenopatias em
Doenças Infecciosas
• Toxoplasmose (T. gondii)
– Aguda: Mononucleose-like com predomínio
de cadeias cervical posterior e retroauricular
bilateralmente. Geralmente indolor
– Crônica: sempre assintomática
Linfadenopatias em
Doenças Infecciosas
• Tripanossomíase (T. cruzi)
– Sinal de Romaña: edema palpebral,
unilateral com comprometimento linfonodal
– Chagoma de inoculação: Complexo cutâneo
linfonodal, pode acometer qualquer linfonodo
satélite
– Forma aguda grave: sintomas inespecíficos
como febre, rash, linfadenopatia generalizada
Linfadenopatias em
Doenças Infecciosas
• Leishmaniose (Leishmania)
– Linfadenopatia é incomum no calazar mas
pode estar presente na forma cutânea
próximas ao local de inoculação
• Esquistossomose (S. mansoni)
– Febre de Katayama: pneumonite, febre,
hepatoesplenomegalia e linfadenomegalia
generalizada associada a eosinofilia
Paracoccidioidomicose
• Doença sistêmica de caráter crônico ou
subagudo, causada pelo fungo Paracoccidioides
brasiliensis ;
• P. brasiliensis habita solos úmidos com clima
temperado;
• Rara em crianças, predomina em homens entre
30 a 60 anos;
• Infecção por inalação;
• Formas juvenil e crônica;
Paracoccidioidomicose
• Complexo primário: pneumonite com progressão para linfonodos regionais
• Forma aguda ou juvenil: linfadenopatia com fistulização cervical, inguinal ou axilar.
Evolução rápida, perda de peso, linfadenomegalia, manifestações digestivas, hepatoesplenomegalia, envolvimento osteoarticular e lesões cutâneas;
• Forma crônica: lesões cutâneas ou pulmonares. Forma linfonodular compromete cervicais e submandibulares.
Ocorre em 90% dos casos, progressão lenta, manifestações pulmonares, febre, perda de peso.
• Diagnóstico: biópsia;.
Linfadenopatias em
Doenças Infecciosas
• Sífilis (T. Pallidum)
– Primária: bubão sifilítico, indolor, endurecida
e sem flogose
– Secundária: micropoliadenopatia
generalizada, com comprometimento
sistêmico característico
Linfadenopatias em
Doenças Infecciosas
• Linfogranuloma venéreo (C. trachomatis)
– Massa inguinal de linfonodos com vários
pontos de drenagem com ranhura central
(ligamento de Poupart)
• Cancro Mole (H. ducreyi)
– Adenopatia bilateral freqüentemente fistuliza
por orifício único. Concomitante a úlcera
genital dolorosa
Linfadenopatias em
Doenças Infecciosas
• Tuberculose (M. tuberculosis)
– Complexo primário cutâneo:lesão tuberculo-
ulcerada com adenopatia regional.
– Ganglionar: localização típica é cervical
(escrófula) e é tipicamente elástica e indolor
podendo fistulizar.
– Miliar: considerar no paciente com
linfadenopatia generalizada. Excluir
malignidade
Linfadenopatias em
Doenças Infecciosas
• Doença da arranhadura do gato
(Bartonella henselae)
– Surge lentamente em 1-2 semanas após
arranhadura ou mordedura de um gato
– Distal ao linfonodo acometido
– Em 50% dos casos a linfadenopatia é em
membros superiores
Linfadenopatias em
Doenças Infecciosas
• Brucelose (Brucella)
– Adenopatia em cerca de 30% dos casos
– Deve-se buscar dados epidemiológicos
compatíveis e quadro sistêmico febril
Linfomas Hodgkin
• Doença do sistema linfóide com aumento progressivo dos linfonodos e considerada unicêntrica na origem;
• Predomina no sexo masculino e entre 10 a 15 anos (rara em < 3 anos);
• Associado a infecção prévia por Epstein-Barr;
• Quadro clínico: linfadenomegalia cervical ou supraclavicular de crescimento lento, indolor, sem sinais infecciosos de vias respiratórias altas, com febre, perda de peso e suodorese noturna.
Linfomas Hodgkin
• Acometimento abdominal, de mediastino ou de
retroperitônio: sintomas gastrintestinais,
esplenomegalia, tosse, dispnéia, disfagia,
sintomas urinários.
• Diagnóstico: análise histopatológica (presença
obrigatória de células de Reed-Sternberg);
• Tratamento: radioterapia (padrão-ouro) e
quimioterapia.
Caso Clínico 1
• Menina de 16 a. vem a consulta por febre,
mal-estar e linfadenopatia cervical anterior
e posterior há 1 semana;
• Previamente hígida
• Calendário vacinal em dia.
Caso Clínico 1
• Solicitadas sorologias
– Mononucleose
– Toxoplasmose
– Citomegalovirose
– HIV
• Todas negativas
Caso Clínico 1
• Prescritos analgésico e AINE
– Sem melhora após 2 semanas de
vigilância
– Procedimento indicado .....
Caso Clínico 2
• Menina de 7anos, com edema atrás da
orelha esquerda há 2 sem.
• Nenhum sintoma sistêmico
Caso Clínico 2
• Linfonodo retro-
auricular doloroso,
eritematoso, medindo
2x2cm
• Sem outros linfonodos
palpáveis
Caso Clínico 2
• Não teve melhora após um curso de 7d de
Clavulin®
• Referiu contato frequente com gatos e
história de ter sido arranhada há 3 sem
• Melhorou após drenagem e um curso de
Azitromicina por 7d