Uma breve viagem à história da Filosofia e da Psicologia
FENOMENOLOGIA
Do grego phainomenon phaino – fazer brilhar phôs – luz que faz aparecer
Logo, phainomenon é aquilo que é possível ser posto a luz.
Por definição: fenomenologia é o estudo do fenômeno.
Mas o que é “fenômeno”?
Fenomenologia é método!
Método de descrição a partir da experiência, com a finalidade de compreender o fenômeno como ele se apresenta à consciência.
EXISTÊNCIADo latim Ex sístere
Ex – o que não é mais, movimento, não permanência;
Sístere – o que dá estabilidade, permanência, o que nos dá proteção, é familiar.
A existência humana é movimento entre ex e sístere.
Abrange tudo o que se passa na vida.
Antiguidade: tudo explicado e compreendido a partir dos Deuses;
Visão mitológica: determinista e trágico, os homens não tem controle sobre seu próprio destino. A determinação cabe aos Deuses!
Mito – impulsionado por mistério que envolvia a vida, o mundo e a realidade como um todo. O homem precisava estruturar a si mesmo e seu próprio mundo, jogado na existência de fenômenos que não poderia compreender.
A partir do séc. VII a.C. iniciou-se uma “virada cultural”, onde se configurou a libertação dos Deuses e dos mitos para um nascer de uma nova forma de pensar.
Os gregos uniram conhecimentos sobre matemática, astronomia, agricultura e medicina e as deram formas e consistências teóricas.
Grande amadurecimento.
Explicações míticas eram insuficientes...
De onde todas essas coisas surgiram?
Como explicar algo que é diferente do homem?
O que originou o mundo conhecido?
Nesse clima, nasce a filosofia...
Nascimento da filosofia Meados do séc. VI a.C.
Reflexões acerca da natureza.
Não recorre à mitos;
Pela primeira vez na história conhecida, o homem passa a tentar ter domínio sobre si mesmo e sobre o mundo.
Seu pensamento sai dos Deuses e direciona-se para a matéria, materialidade das coisas do mundo.
O pensamento tenta se libertar do mito ou do pensamento mítico dominante na época e o próprio homem pode pensar em si como autor da própria vida.
A filosofia se constituiu em suas vertentes:
1. Especulativa – compreender e explicar o mundo em que vive;
2. Prática – compreender a si mesmo, sua natureza, seu lugar no mundo.
Com o desenvolvimento e crescimento da filosofia, abre-se uma terceira:
• Crítica - cujo principal objeto é o pensamento. Compreender e interrogar como o conhecimento era adquirido e em que se baseava esse conhecimento.
Como podemos realmente conhecer algo?
Os primeiros filósofos se preocupavam em questionar sobre a origem do mundo e as coisas do mundo.
Em Mileto - primeira escola com pretensões filosóficas.
O filósofo Tales (624-545 a.C) foi o primeiro a sustentar a necessidade de um princípio material para a origem: a água. “todas as formas de vida partiriam da água e dela precisariam para sobreviver”.
Parmênides – 540-450 a. C. Dizia ter recebido a verdade absoluta através de uma deusa;
O primeiro a se preocupar com o problema do ser. Mundo imutável: “tudo o que existe, sempre existiu”.
Nada pode surgir do nada e não se pode transformar nada em algo diferente do que já é.
Não se pode acreditar nos sentidos, apenas na razão;
A experiência só pode conceber ao homem opiniões; A razão é o único meio para se conhecer a verdade; A razão passou a ser o centro das questões. Inicia-se um debate que será traçado por vários séculos.
Heráclito – 540-476 a. C. Tudo flui; Tudo o que existe, existe em movimento; O mundo está sempre em constante transformação;
“Tudo se transforma e nada dura para sempre”; A permanência das coisas é ilusão; Não podemos entrar no mesmo rio duas vezes… Os sentidos nos dão acesso ao mundo. Sem eles, nada valeria o pensamento, pois somente através deles é que a razão pode ter acesso a verdade.
Sócrates – 470-399 a. C. Filosofia voltada ao homem, seu lugar no
mundo, questionando também moral, ética e política;
Não deixou nenhum escrito;
Especular a natureza não traz nenhum benefício para a humanidade;
Todo homem deveria dedicar-se a árdua tarefa de conhecer a si mesmo;
Consciência de assumir a própria ignorância;
Sócrates – 470-399 a. C. Cria o método dialógico:1. Assumir que nada sabe sobre determinado assunto;
2. Indagações sobre as teses apresentadas;3. Questionamentos que os levavam a formulas, elaborar suas próprias ideias.
A arte da “maiêutica” – dar a luz aos pensamentos e verdades das quais eram portadores, esculpindo assim, sua própria vida, cujo objetivo principal era libertar os homens de pseudoverdades.
Platão 428-347 a.C Retoma as discussões dos antigos filósofos a os
pensamentos de que tudo flui, e de que nada muda;
Queria conhecer a verdade;
Faz uma separação real do físico e do metafísico;
1. Físico – o que pode ser tocado, visto, fluía no mundo;
2. Metafísico - tudo o que não pertence a este mundo, imutável. Assim ele separa o físico da razão;
Mundo das aparências X mundo das ideias
Como tudo no mundo dos sentidos é perecível, morre, desaparece, não se pode conhecer verdadeiramente algo que se transforma;
Como chegar a essência das coisas? Pelo mundo das ideias…
Tudo o que existe no mundo das aparências tem a sua fonte e sua forma no mundo das ideias;
Mito da caverna.
Aristóteles - 384 - 322 a.C Discorda de Platão: há apenas um mundo –
aquele que vivemos.
O que está além da nossa experiência sensível, não pode ser nada para nós.
As ideias são inúteis porque não contribuem em nada para a compreensão da realidade.
Não existe o mundo das ideias. O que existe é o mundo sensível, concreto aos indivíduos.
Todo ser tem uma forma que atribui a ele características e peculiaridades que fazem com que se diferencie de outras formas, de outros seres.
Seres da mesma espécie = mesma forma, mesma maneira de ser.
Todo ser deve ser pensado como sendo constituído de substância e acidente:
1. Substância: material que o compõe. Sem a qual não seria o que é.
2. Acidente: aquilo que pode modificar as formas, os cheiros, estados, mas nunca a substância.
Dessa forma, Aristóteles pretende explicar ao mesmo tempo a permanência e a mudança das coisas...
A natureza pode ser dividida em 2 grupos principais:
1. Coisas inanimadas – só se transformam sob ação de agentes externos;
2. Criaturas vivas – possuem dentro de si uma potencialidade de transformação.
As coisas se apresentam como ato:Característica de permanência das coisas. (árvore é árvore)
E potência:Aquilo que pode vir a ser. (semente x árvore).
Movimento
Do que o homem precisa para viver uma boa vida?
Primeira forma de felicidade – Vida de prazeres e de satisfações.
Segunda forma – viver como cidadão livre e responsável.
Terceira forma – viver como pesquisador e filósofo.
É através da integração, equilíbrio e moderação que é possível tornar-se pessoas felizes ou harmônicas.
O fim da Antiguidade e o período de trevas da filosofia... Nada de novo foi acrescentado após Sócrates, Platão e Aristóteles.
No séc. I a.C, o estudo da filosofia ficou caracterizado pelo ensino dos conteúdos nas escolas fundadas pelo Império Romano.
Era uma explicação dos textos dos 3 filósofos e não havia abertura para discussão.
Nascimento de Jesus – nova doutrina de salvação e de vida.
Seus ensinamentos e suas palavras foram passadas adiante por seus discípulos, transformando em uma nova filosofia de vida.
No início da Idade Média, o cristianismo já estava difundido e reconhecida como religião principal, a visão de mundo predominante naquela época. Todo conhecimento estava em poder da Igreja.
A religião domina o pensamento e a liberdade conquistada pela filosofia parecia perder o sentido.
Renascimento e Idade Moderna Em meados da segunda metade do séc. XIV, o cristianismo começa a perder sua força.
Iniciou-se um movimento humanista, que se esforçava para modificar o padrão de estudos tradicionais das universidades controladas pela Igreja.
Propõe-se uma mudança total dos homens perante o mundo e a própria vida. É o início do renascimento, proporcionando a compreensão de mundo em um espírito de liberdade.
A idade moderna surge influenciada diretamente pelo renascimento. A tentativa de libertar-se do controle da religião acarreta uma separação do pensamento e da compreensão do homem.
A alma só pode ser entendida e explicada pela religião.
A filosofia dá origem a novas ciências que admitem a existência da alma, mas considera essa assunto fora de seu alcance.
O pensamento se separa: 1. o mundo (as coisas objetivas e as ciências
naturais);2. o homem (sua subjetividade e o nascimento das
ciências humanas, com domínio da religião - alma e fé).
Nessa época, surgem duas orientações metodológicas que se tornam as principais vertentes para o pensamento moderno:
1. Racionalismo – A razão é que permite o acesso ao conhecimento verdadeiro.
2. Empirismo – Só se pode ter acesso verdadeiro ao conhecimento através dos sentidos.
Não há negação recíproca entre ambas, apenas importância a aspectos distintos.
René Descartes (1596-1650) e o racionalismo Matemático e primeiro filósofo moderno.
Estava em busca de um sistema filosófico, que encontrasse respostas para todas as questões filosóficas importantes.
Toda e qualquer atividade de compreensão do mundo exige uma intensa capacidade de elaboração intelectual em que se exclui a necessidade de qualquer experiência. Isso só seria possível com a matemática.
Apesar da sua solidez e perfeito encadeamento das ideias e elementos, a matemática é limitada, pois não pode ensinar nada sobre os problemas da vida... Mas a filosofia...
Desconsidera totalmente a experiência sensorial, pois pode ser enganoso, duvidoso.
Assim, podemos duvidar e de fato duvidamos de tudo, mas a única coisa da qual não podemos duvidar é de nosso pensamento. “Se duvido das coisas é porque penso, se penso é porque existo”. Não há outra experiência válida a não ser a de pensar, a única maneira de superar a dúvida.
“Tudo o que recebi, até presentemente, como o mais verdadeiro e seguro, aprendi-o dos sentidos ou pelos sentidos: ora, experimentei algumas vezes que esses sentidos eram enganosos, e é de prudência nunca confiar em quem já nos enganou uma vez.”
DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 3ª ed., 1983,p. 85,86
Postula então duas formas de existência, distintas de realidade:
1. Pensamento – alma (res cogitans)2. Matéria – corpo (res extensa)
Homem é um ser dual, pois existe enquanto ser pensante, tendo uma alma, como também tem um corpo, ocupando seu lugar no espaço.
“Sou uma coisa que pensa, isto é, que duvida, que afirma, que nega, que conhece poucas coisas, que ignora muitas, que ama, que odeia, que quer e não quer, que também imagina e que sente” .
DESCARTES, R. Meditações Metafísicas. São Paulo: Abril Cultural, 3ª ed., 1983, p. 99.
Georg Wilhelm Friedrich Hegel –
1770 - 1831 Acreditava que a única forma de conhecer o mundo era através da história. Assim, o pensamento mudava a cada geração.
Impossível separar a filosofia ou qualquer forma de conhecimento do contexto histórico.
A razão não é somente uma, imutável, ela também acompanha progressivamente a mudança da história – espírito do mundo.
Assim, todo conhecimento novo, formulado em um contexto, surge com base em outros formulados anteriormente.
Hegel acreditava que haviam forças maiores que as individuais, maiores que o próprio homem, que ele chamou de forças objetivas.
Essas forças eram a família e o Estado. O indivíduo nasce pertencente a uma sociedade, em um determinado contexto histórico com a cultura própria daquele lugar. O Estado representa a ideia; é a substância da qual os cidadãos não são senão acidente. Esta concepção da história do direito conduz à negação da liberdade individual.