ECONOMIA INTERNACIONAL – BNDES/TEORIA E EXERCÍCIOS Profa. Julia Olzog Profa. Julia Olzog www.pontodosconcursos.com.br Página 1 AULA DEMONSTRATIVA Olá alunos, Este curso irá cobrir a matéria Economia Internacional para o cargo de Economista do BNDES. Vamos lá: Meu nome é Julia Olzog, sou economista com especialização em Comércio Exterior e Mestrado em Organismos Internacionais. Também sou bacharel em Direito e fiz um curso sobre os aspectos práticos e legais da Organização Mundial do Comércio – OMC em Genebra, na Suíça. Sou servidora pública federal e trabalho com análise de comércio exterior. Aqui vou abordar temas das quais tenho bastante experiência prática e teórica, trazendo para vocês uma abordagem completa das matérias do edital com destaque para os tópicos de maior relevância que são frequentemente cobrados pelas principais bancas de concursos. Serão 13 aulas de Economia Internacional. As aulas serão semanais, divididas segundo os tópicos relacionados no último edital de 2011, assim fica mais fácil de acompanhar. Importante: o cronograma poderá ser antecipado e o conteúdo ajustado, conforme o próximo edital! A proposta de cronograma é a seguinte: Aula 01 10/08 Aula 02 17/08 Aula 03 24/08 Aula 04 31/08 Aula 05 07/09 Aula 06 14/09 Aula 07 21/09 Aula 08 28/09 Aula 09 05/10 Aula 10 12/10 Aula 11 19/10 Aula 12 26/10 Aula 13 06/11
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AULA DEMONSTRATIVA
Olá alunos,
Este curso irá cobrir a matéria Economia Internacional para o cargo de
Economista do BNDES.
Vamos lá: Meu nome é Julia Olzog, sou economista com especialização
em Comércio Exterior e Mestrado em Organismos Internacionais. Também sou
bacharel em Direito e fiz um curso sobre os aspectos práticos e legais da
Organização Mundial do Comércio – OMC em Genebra, na Suíça. Sou servidora
pública federal e trabalho com análise de comércio exterior.
Aqui vou abordar temas das quais tenho bastante experiência prática e
teórica, trazendo para vocês uma abordagem completa das matérias do edital
com destaque para os tópicos de maior relevância que são frequentemente
cobrados pelas principais bancas de concursos.
Serão 13 aulas de Economia Internacional. As aulas serão semanais,
divididas segundo os tópicos relacionados no último edital de 2011, assim fica
mais fácil de acompanhar. Importante: o cronograma poderá ser antecipado e
o conteúdo ajustado, conforme o próximo edital!
A proposta de cronograma é a seguinte:
Aula 0110/08
Aula 0217/08
Aula 0324/08
Aula 0431/08
Aula 0507/09
Aula 0614/09
Aula 0721/09
Aula 0828/09
Aula 0905/10
Aula 1012/10
Aula 1119/10
Aula 1226/10
Aula 1306/11
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Cronograma 2012:
IV - ECONOMIA INTERNACIONAL
Aula 00Teorias do comércio internacional: vantagens absolutas e vantagens comparativas; o modelo ricardiano de vantagens comparativas.
Aula 01
O modelo de Heckscher-Ohlin; o teorema da equalização dos preços dos fatores; comércio e distribuição de renda: o teorema de Stolper-Samuelson; modelo de concorrência monopolística, diferenciação de produtos e comércio intra-industrial. Vantagens comparativas dinâmicas.
Aula 02
Argumentos para livre-comércio, argumentos para proteção, política comercial e instrumentos da política comercial: tarifas de importação, cotas, subsídios à produção, subsídios à exportação e financiamento às exportações nas modalidades crédito ao exportador (supplier's credit) e crédito ao importador (buyer's credit).
Aula 03Multinacionais e investimento estrangeiro direto: teoria e experiência internacional.
Aula 04Multilateralismo e acordos multilaterais de comércio: GATT, GATS e TRIPS. O papel da Organização Mundial do Comércio (OMC). Políticas de defesa comercial: salvaguardas, antidumping e medidas compensatórias.
Aula 05Integração regional e experiências de integração regional no pós-guerra: União Europeia, NAFTA e MERCOSUL.
Aula 06O balanço de pagamentos. Paridade coberta e a descoberto da taxa de juros. Paridade do poder de compra e a taxa de câmbio real.
Aula 07O modelo keynesiano de determinação da renda e o multiplicador do comércio exterior. Modelos de ajuste do balanço de pagamentos no modelo keynesiano com regime de câmbio fixo e ausência ou presença de fluxos de capitais.
Aula 08Enfoque das elasticidades e a curva em J. Modelos de ajuste do balanço de pagamentos com câmbio flutuante e diferentes graus de abertura ao fluxo de capitais.
Aula 09O modelo IS-LM-BP em diferentes regimes de câmbio e graus de mobilidade do capital.
Aula 10O modelo de Mundell-Fleming e os dilemas da política macroeconômica (a “trindade impossível”).
Aula 11Sistema monetário internacional: padrão-ouro, Bretton-Woods, pós-Bretton Woods e perspectivas. O papel do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial (BIRD).
Aula 12Áreas monetárias ótimas: conceitos, a experiência da União Europeia e problemas na preservação do euro.
Aula 13Modelos de ataque especulativo e crises financeiras domésticas e globais. A crise econômica global de 2008: diagnóstico e políticas para sua superação
Nesta aula inaugural vou abordar as Teorias do comércio
internacional: vantagens absolutas e vantagens comparativas; o
modelo ricardiano de vantagens comparativas.
Além da teoria, as aulas trazem exercícios comentados sobre os assuntos
abordados que ajudarão melhor na fixação e compreensão da matéria. Na
parte de exercícios sempre tem um comentário importante, um complemento
da matéria que não foi dado na parte teórica, uma dica, enfim, todo o material
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foi preparado para ajudar ao máximo no entendimento e fixação do
conteúdo!!!
Na verdade, eu preparei o meu material da forma como eu, se fosse
aluna, gostaria de estudar! Passei num concurso em 2002, e quando eu
buscava um material o que eu procurava:
1. Um material que cobrisse todo o edital
2. Com um bom conteúdo e explicações fáceis de entender
3. Que tivesse bastante exercícios para tentar resolver, com os comentários
das questões para perceber onde estão os erros e acertos
Acho que dessa forma, tentando fazer os exercícios e vendo a explicação,
o aluno tem a chance de fixar melhor o conteúdo, pois você está diante de
uma questão prática, de como realmente o assunto cai na prova!!
Outra coisa que acho importante não é apenas responder a questão e
apontar qual é o item certo, mas sim comentar os demais itens da questão
(sempre que possível) para que o aluno tenha uma visão geral da matéria e
perceba as pegadinhas da banca.
Mas, gente, a matéria é muito extensa, e vocês sabem que sempre
escapa uma coisinha aqui e ali, então tentem também buscar informações na
internet sobre assuntos que vocês julguem importantes. Mais informação,
nunca é demais!
Então, preparei tudo pensando em vocês, futuros economistas do
BNDES!! Sei que vocês conseguem!! Basta um pouco de dedicação, força de
vontade e muito estudo. O salário e os benefícios do Banco são excelentes,
então vale a pena se dedicar a isso! E eu sei que você, ALUNO DO PONTO vai
chegar lá e nós vamos comemorar juntos!
Vamos começar, então?
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AULA DEMONSTRATIVA
Aula 00
Teorias do comércio internacional: vantagens absolutas e vantagens
comparativas; o modelo ricardiano de vantagens comparativas.
1. Teorias do comércio internacional
A teoria do comércio internacional surgiu da necessidade de explicação
das trocas internacionais. Remonta aos autores clássicos liberais (com
destaque para Adam Smith e David Ricardo) o desenvolvimento de uma
análise suscetível de generalização a qualquer país, ou seja, uma teoria do
comércio internacional de validade universal.
As teorias clássicas do comércio internacional (como as teorias
vantagens absolutas e vantagens comparativas) foram antecedidas pelo
Mercantilismo. O Mercantilismo é o nome dado a um conjunto de políticas
econômicas predominantes na Idade Moderna na Europa, entre os séculos XV
e XVIII, que preconizava o desenvolvimento econômico por meio do
enriquecimento das nações, graças, fundamentalmente, ao comércio exterior.
Os mercantilistas preocupavam-se com a acumulação de metais
monetários – ouro e prata – que associavam à ideia de riqueza do país. Uma
vez que a oferta de ouro era relativamente fixa, acreditavam que um país
poderia aumentar o seu estoque de metais monetários à custa dos demais, ou
seja, na concepção deste modelo, o comércio internacional tinha ganhos de
soma zero – um país ganha à custa do outro – por isso adotavam politica
comercial protecionista.
As principais características do mercantilismo eram: intervencionismo
estatal, protecionismo alfandegário para diminuir as importações, medidas de
apoio às exportações, fortalecimento do mercado interno, estímulo a práticas
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monopolistas. A ideia central era obter uma balança comercial favorável, ou
seja, exportar mais do que importar a qualquer custo, para que a entrada de
ouro e prata fosse superior à saída. Para os mercantilistas o excedente
comercial estava acima de tudo, pois através do excedente comercial as
nações obteriam o acúmulo de metais preciosos necessário ao seu
enriquecimento. Outra forma de obtenção de metais preciosos e outros bens
valiosos muito usada pelos mercantilistas, vinha da exploração das riquezas
coloniais.
É com o advento do liberalismo econômico que se começa a desenvolver
a teoria do comércio internacional, que vamos ver em seguida.
Mas, antes de prosseguirmos, convém mencionar um termo usado
modernamente como referência ao mercantilismo: é o Neomercantilismo.
Esse termo é usado para descrever um regime de política econômica que
incentiva as exportações, desencoraja as importações, controla o movimento
de capitais e centraliza as decisões monetárias nas mãos de uma autoridade
central. O objetivo das políticas neomercantilistas é aumentar o nível das
divisas mantidas pelo governo, permitindo uma política monetária e uma
política fiscal mais eficaz.
1.1. Teorias Clássicas
A teoria clássica segue, em termos temporais, a teoria Mercantilista. A
Escola Clássica do Pensamento Econômico tenta ver as vantagens da
existência do Comércio Internacional a partir da resposta a três questões
fundamentais:
- Explicitação da divisão de trabalho inerente às novas trocas comerciais;
- Vantagens para os dois países das trocas comerciais e;
- Cálculo das novas razões de trocas, isto é, o preço internacional das trocas
comerciais.
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As duas principais teorias clássicas são as teorias das vantagens
absolutas e a das vantagens comparativas.
1.2. Teoria das Vantagens Absolutas
Adam Smith é o primeiro teórico do pensamento clássico. Em 1776,
Smith publica a sua obra-prima “A riqueza das Nações”, onde constata que a
fonte da riqueza das nações é o trabalho. Desta forma, o valor de troca de
uma mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho contido nela.
Para ele, a falha dos mercantilistas foi não perceber que uma troca
poderia beneficiar as duas partes envolvidas, pois uma economia só manterá
transações espontâneas com outra se perceber que conseguirá obter
vantagens nesse intercâmbio. Ao contrário, Adam Smith considera que o
comércio internacional tem ganhos positivos para os países intervenientes na
troca.
Smith demonstra as vantagens da livre troca, ao observar que a abertura
ao exterior conduz a um ganho importante para os países no intercâmbio
comercial e, portanto, também para a economia mundial - originando o
aumento global da riqueza.
Para usufruir dos benefícios do livre comércio, os países deveriam se
especializar de acordo com as suas vantagens absolutas: cada país deve
especializar-se nos produtos em que tem vantagens absolutas em termos de
custos (ou produtividade), ou seja, em que o número de horas de trabalho
requerido para a sua produção é menor. E se o número de horas trabalhadas
é menor, isso significa também um menor custo de produção. Os custos
diferem-se entre as nações por causa da produtividade do trabalho. Então, um
país possui vantagem absoluta quando produz com: menor custo de produção,
maior eficiência, maior produtividade, menos horas de trabalho para produzir
determinado bem.
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O excedente de produção (aquilo que excede a capacidade de consumo
interno) deveria ser objeto de trocas comerciais com outros países. As ideias
de Adam Smith deram fundamento à divisão internacional da produção.
A vantagem absoluta poderia advir de recursos naturais (solo, clima,
matérias primas), recursos humanos (mão de obra) ou capital. Isso permite o
pensamento que alguns países possuem maior vantagem em determinados
tipos de indústria do que em outras, de tal forma que tais indústrias devem ser
estimuladas de modo que a vantagem absoluta seja utilizada. No caso do
Brasil, país com amplas reservas minerais de ferro, a indústria siderúrgica é
uma candidata natural à posição de indústria com vantagem absoluta, de
modo que, em princípio, as fontes mais acessíveis de matéria prima fariam
dela uma competidora mais eficiente no mercado internacional.
A teoria das vantagens absolutas pode ser facilmente compreendida com
base num exemplo numérico. Considere dois bens - camisa e sapato -
produzidos por dois países X e Y:
Número de horas para produção de mercadorias
País Para produzir uma camisa
Para produção de um sapato
X 10 40Y 15 25
Horas Necessárias
A partir da tabela, observa-se que o país X tem vantagem absoluta na
produção de camisas e o país Y, na produção de sapatos. Ou seja, cada um
gasta respectivamente menos horas para produzir o bem em que se
especializaram.
Na verdade, isso equivale a dizer que X produz camisas com menor custo
(maior eficiência) ou, dito de outro modo, a produtividade de X em camisas é
maior. Por isso, diz-se que X tem uma vantagem absoluta em camisas, pelo
que deve especializar-se completamente na sua produção. Por sua vez o país Y
é absolutamente mais eficiente para produzir sapatos devendo, então
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especializar-se completamente na sua produção. Assim, os países irão se
especializar nos produtos em que são mais eficientes e exportar seu
excedente de produção: o que não for consumido no mercado interno será
ofertado no mercado externo.
Deste modo, ambas as partes saem ganhando com o comércio. Os países
irão concentrar seus recursos nos bens que produzem mais eficientemente (a
um custo menor) e irão adquirir os produtos em que não produzem de forma
eficiente a preços menores no mercado internacional.
Isso aplicado a todos os países resultaria no aumento da produção e da
riqueza das nações, fazendo com que as mesmas atingissem um nível ótimo de
bem estar, já que o mundo teria se transformado em um único mercado, com
os bens sendo negociados a preços mínimos e com melhor qualidade,
independentemente do país onde fossem produzidos.
Adam Smith era um defensor do livre comércio e seu principal objetivo
ao propor a livre troca, era a abertura dos mercados internacionais aos
produtos industriais ingleses. Desse modo, a Inglaterra deixaria de estar
limitada ao seu mercado doméstico - que era pequeno para absorver toda sua
produção - e teria espaço para avançar na sua industrialização escoando
(exportando) a sua produção para o mundo.
Sendo um modelo de livre comércio, o Estado deveria abster-se de
intervir na economia, deixando que os mercados se autorregulassem1. Apenas
interviria para impedir a existência de monopólios, ou em atividades que não
despertem interesse da iniciativa privada.
No entanto, embora a proposição de Smith seja válida como uma das
explicações para o comércio entre nações, ela não é suficiente para
compreender a realidade atual do comércio internacional. Uma das críticas ao
modelo refere-se ao fato de a teoria das Vantagens Absolutas ter sido
formulada com base na teoria do valor trabalho, no qual os custos e preços
das mercadorias seriam definidos principalmente por conta das horas
necessárias para se realizar a produção. Na verdade, outros fatores entram na
1 Adam Smith pregava, assim, a existência da “mão invisível” do mercado.
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composição de custos de um produto, como a disponibilidade de matéria-prima
e de capital. Outra crítica é que, pelo modelo de Smith, países que não
possuem vantagem absoluta em nenhum bem (ineficiência absoluta), não
poderiam participar do comércio global ofertando seus produtos, o que não é
verdade na prática.
Esta limitação foi discutida por David Ricardo, que aprimorou a teoria das
vantagens absolutas, propondo a teoria das Vantagens Comparativas. Como
veremos de seguida, Ricardo mostrou que ainda que um país apresente maior
eficiência na produção de todos os bens (ou não apresente maior eficiência na
produção de nenhum bem), poderá haver vantagens com a livre troca para os
países intervenientes no comércio externo.
1.3. Teoria das Vantagens Comparativas: o modelo ricardiano de
vantagens comparativas
David Ricardo (1817) tentou mostrar que mesmo quando um país fosse
absolutamente menos eficiente a produzir todos os bens, continuaria a
participar no comércio internacional ao produzir e exportar os bens que
produzisse de forma relativamente mais eficiente. Assim, o modelo
Ricardiano é referido como o modelo das Vantagens Comparativas ou Relativas
ou ainda Teoria dos Custos Comparados.
Para ele, o livre comércio pode ser mutuamente benéfico, pois o
comércio internacional não é um jogo de soma zero (como pensavam os
mercantilistas), onde os ganhos de um país equivalem às perdas do outro. Na
verdade, todos podem se beneficiar com o comércio internacional, na medida
em que ele permite que os países se especializem na produção e exportação
das mercadorias que conseguem produzir, comparativamente, de forma mais
eficiente.
Isso quer dizer que mesmo que um país X fosse mais eficiente na
produção de dois produtos, ainda assim valeria a pena comercializar com o
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exterior (país Y), devendo o país X se especializar na produção do bem em que
fosse mais eficiente. Por outro lado, o país Y, menos eficiente na produção dos
dois produtos, deveria se especializar na fabricação daquele em que fosse
menos ineficiente.
Um exemplo: se o Brasil for relativamente mais produtivo na produção
de minérios do que na produção de computadores e na China ocorrer o
contrário, seria mais interessante que o Brasil utilizasse todos os seus recursos
para produzir minérios e utilizasse o dinheiro obtido com a exportação de
minérios para comprar computadores da China. Com a abertura comercial, as
pessoas que trabalhavam fabricando computadores de forma ineficiente
passariam a trabalhar na produção de minérios. Desta forma, o comércio
internacional faz com que os países fiquem mais ricos e que as pessoas
possam consumir produtos mais baratos do mundo todo.
Dessa forma, o modelo de Ricardo prevê uma direção para o comércio
exterior: os países exportarão os bens nos quais têm maior produtividade
relativa do trabalho (têm vantagem comparativa na sua produção) e
importarão os bens nos quais apresentam menor produtividade relativa do
trabalho (não têm vantagem comparativa na sua produção). Ou seja, cada
país deveria dedicar-se ou especializar-se nos produtos em que seus custos
comparativos fossem menores. As tecnologias são diferentes entre os países,
ou seja, as técnicas de produção diferem entre países.
Vamos ver o exemplo usado por Ricardo para explicar sua teoria:
Número de horas para produção de mercadorias
País Para produzir 1
unidade de tecidoPara produzir 1 unidade vinho
Portugal 90 80Inglaterra 100 120
Horas Necessárias
A partir do exemplo acima, pode-se notar que Portugal tem vantagem
absoluta na produção de tecidos e vinhos em relação à Inglaterra, pois
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necessita de menos horas que a Inglaterra, para produzir ambas as
mercadorias. Então, no contexto da teoria das vantagens absolutas, o
comércio entre os dois países seria nulo, uma vez que Portugal é
absolutamente mais eficiente na produção de ambos os bens, não havendo da
sua parte qualquer interesse na troca.
Mas a análise de Ricardo mostra que a Inglaterra tem menor
desvantagem competitiva em relação a tecidos do que a vinhos (precisa de
menos horas para produzir 1 unidade de tecido do que para produzir 1 unidade
de vinho). Assim, conviria à Inglaterra dedicar-se à produção de tecidos e
deixar a produção de vinhos para Portugal, porque, de acordo com Ricardo,
especializar-se na produção de uma mercadoria seria mais vantajoso do que
dividir o capital existente para a produção das duas mercadorias. Vale lembrar
que não se trata da eficiência do país, mas da eficiência na produção de
determinados bens.
Todavia, os benefícios da especialização e do comércio podem ser melhor
observados ao se comparar a situação sem (economia fechada) e com
comércio internacional (economia aberta).
Sem comércio internacional, na Inglaterra são necessárias 100 horas de
trabalho para a produção de 1 unidade de tecido e 120 horas para a produção
de 1 unidade de vinho. Desse modo, uma unidade de vinho deve custar 1,2
unidade de tecido (120/ 100). Por outro lado, em Portugal, essa unidade de
vinho custará 0,88 unidade de tecido (80/90).
Se houver comércio entre os países, a Inglaterra poderá importar 1
unidade de vinho por um preço inferior a 1,2 unidade de tecido, e Portugal
poderá comprar mais que 0,88 unidade de tecido vendendo seu vinho.
País Tecido VinhoPortugal 1,125 0,88Inglaterra 0,83 1,2
Custos relativos
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Assim, por exemplo, se a relação de troca entre o vinho e o tecido for de
1 para 1, ambos os países sairão beneficiados. A Inglaterra em autarquia
(economia fechada) gasta 120 horas de trabalho para obter 1 unidade de
vinho; com o comércio com Portugal, poderá utilizar apenas 100 horas de
trabalho, produzir 1 unidade de tecido e trocá-la por 1 unidade de vinho,
poupando, portanto, 20 horas de trabalho, que poderiam ser utilizadas
produzindo mais tecidos (obtendo, assim, um maior nível de consumo).
O mesmo raciocínio vale para Portugal: em vez de gastar 90 horas
produzindo 1 unidade de tecido, poderia usar apenas 80 produzindo 1 unidade
de vinho e troca-la no mercado internacional por 1 unidade de tecido, também
economizando 10 horas de trabalho. Desse modo, a Inglaterra deverá se
especializar na produção de tecidos, exportando-os e importando vinho de
Portugal, que se especializou em tal produção e passou a importar tecidos.
Conclui-se, portanto, que dada uma certa quantidade de recursos
(fatores de produção2), um país poderá obter ganhos através do comércio
internacional, produzindo aqueles bens que gerarem comparativamente mais
vantagens relativas.
No modelo ricardiano, os custos de produção estão baseados unicamente
na produtividade do trabalho. Assim, os países se especializarão e exportarão
na produção de bens que o seu trabalho produz de forma relativamente
eficiente (ou seja, utiliza menos recursos) e importarão bens que seu trabalho
produz de forma comparativamente ineficiente.
O comércio entre as nações, livre de entraves governamentais,
aumentaria a riqueza de todos. A imposição de barreiras poderia prejudicar a
alocação ótima dos recursos de produção, e possivelmente geraria um custo
muito grande para o país, por manter uma indústria ineficiente funcionando.
O modelo de Ricardo é o que melhor explica as trocas internacionais e é
utilizado até hoje. Mas, também sofre algumas críticas: assim como a teoria de
Smith, estipulava que as relações de valor entre dois bens eram determinadas
pelas quantidades de trabalho incorporadas na produção de cada bem. Ou
2 Recursos ou fatores de produção são trabalho (mão de obra, horas trabalhadas), terra, capital, matéria prima, energia
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seja, esta pré condição ignorava o papel das matérias-primas e dos
investimentos como fatores de produção, analisando apenas a força de
trabalho. Também não leva em conta a distribuição de renda gerada pelo
comércio, não considera os ganhos de escala como uma explicação ao
comércio internacional e não considera a evolução das estruturas da oferta e
da demanda.
Pontos em comum entre as 2 teorias (vantagens absolutas e
comparativas):
(i) existe um único fator de produção, o trabalho;
(ii) a produtividade do trabalho nos vários países é diferente;
(iii) os custos de produção são constantes; i.e., o número de horas de trabalho
por unidade de produto não se altera com a quantidade produzida, nem com o
tempo;
(iv) o trabalho é perfeitamente móvel entre indústrias de um mesmo país, mas
imóvel entre países;
(v) existe pleno emprego;
(vi) existem rendimentos constantes de escala;
(vii) no livre comércio não há quaisquer impedimentos ao comércio (ausência
de tarifas e custos de transporte nulos);
(viii) os mercados são de concorrência perfeita.
E as diferenças? A diferença básica entre as teorias de Smith e Ricardo é
que pela primeira (vantagens absolutas), o comércio internacional não seria
proveitoso para dois países se um deles fosse mais eficiente que o outro na
produção de todos os bens e pela segunda (vantagens comparativas) mesmo
que um país seja mais eficiente na produção de todos os bens, o comércio
internacional ainda assim seria benéfico. Mas a palavra-chave mesmo é
absoluto x comparativo ou relativo!! Sempre que cair uma questão ligando
a teoria de Ricardo com a palavra absoluto(a) está errado!
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Vamos ver um exemplo? Essa questão caiu na última prova do MDIC/
Analista de Comércio Exterior (ESAF) de 2012!! “De acordo com o modelo de
David Ricardo, o padrão de especialização produtiva de um país e, por
consequência, a composição de sua pauta exportadora está diretamente
relacionada à(s)
d) vantagens absolutas derivadas das diferenças na remuneração da mão de
obra. Errado!! 2 erros: a palavra 'absolutas' (certo é comparativas ou
relativas) e remuneração da mão de obra (é produtividade da mão de
obra/trabalho). Essa questão está resolvida na parte de exercícios.
Ganhos de comércio
Vimos no modelo de Ricardo que os países devem se especializar na
produção dos bens em que possuem maior vantagem na produção na
comparação com outros países. Na verdade, isso quer dizer o seguinte: as
vantagens comparativas não se baseiam apenas na eficiência de um país
(como pensava Smith), mas sim na ineficiência deste na produção de um bem.
Por isso a eficiência é relativa.
Mas, como se determinam os ganhos de comércio entre países que se
especializaram? Vamos dar um exemplo:
Antes da especialização, a produção da economia como um todo era de
80 mil unidades de vinho e 40 mil unidades de tecido, totalizando 120 mil
unidades. Apos a especialização, a produção de vinhos aumentou para 90 mil
(os 1000 trabalhadores em Portugal que faziam tecidos passam a fazer vinhos,
dobrando a produção) e a produção de tecidos no mundo aumentou para 40
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(os 1000 trabalhadores na Inglaterra que faziam vinhos passam a fazer
tecidos, dobrando a produção) = 130 mil unidades. A especialização foi
benéfica para ambos os países e para o mundo, que ganhou em bem estar
com o aumento da produção.
Mas, nem sempre a especialização será um bom negocio para os países
envolvidos nas trocas. Para saber se haverá vantagem na especialização,
precisamos calcular os ganhos de comércio.
Suponha que uma unidade de vinho custe $1 e uma unidade de tecido
custe $1 (preço relativo Pv/Pt =1). Assim, sem especialização, Portugal fatura
$65 mil e a Inglaterra fatura $55 mil. Com especialização, Portugal passa a
vender $90 mil e a Inglaterra $40 mil. Nesse caso, houve ganho de comércio
apenas para Portugal, que aumentou o faturamento de 65 para 90 mil. Mas,
para a Inglaterra, com o preço de $1 o tecido, a especialização não valeu a
pena, pois seus ganhos diminuíram.
Agora, suponha que uma unidade de vinho custe $1 e uma unidade de
tecido custe $2 (preço relativo Pv/Pt =0,5). Sem especialização: Portugal
fatura $85 mil e a Inglaterra fatura $75 mil. Com especialização, Portugal
passa a vender $90 mil e a Inglaterra $80 mil. A esse preço ($1 vinho e $2
tecido) a especialização foi vantajosa para ambos os países.
Agora, 1 unidade de vinho custa $1 e 1 unidade de tecido custa $3
(preço relativo Pv/Pt = 0,33). Sem especialização: Portugal fatura $105 mil e a
Inglaterra fatura $95 mil. Com especialização, Portugal passa a vender $90 mil
e a Inglaterra $120 mil. A esse preço ($1 vinho e $3 tecido) a especialização
foi vantajosa apenas para a Inglaterra.
Com isso, percebemos que a repartição dos ganhos do comércio é
determinada pelos preços relativos dos bens no mercado internacional.
1.4. Custo de Oportunidade
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Como o modelo das vantagens comparativas leva em conta apenas o
fator trabalho como determinante do custo de produção, isso acaba sendo um
limite à explicação do comércio internacional.
Nos anos 30, Gottfried Haberler impediu que a teoria das vantagens
comparativas fosse rejeitada, libertando-a da hipótese restritiva da teoria do
valor trabalho. Para tal releu a teoria das vantagens comparativas de David
Ricardo à luz da sua teoria dos custos de oportunidade, isto é, em vez do custo
do trabalho, o conceito de custo utilizado é o de custo de oportunidade dos
bens. Isso permite considerar todos os fatores de produção e não apenas o
fator trabalho.
Custo de oportunidade decorre quando a especialização na produção de
determinado bem leva à renúncia na produção de outro bem, ou seja, a maior
quantidade produzida de um produto corresponde a menor quantidade
produzida de outro.
A vantagem comparativa reflete o custo de oportunidade relativa, isto é,
a relação entre as quantidades de um determinado bem que dois países
precisam deixar de produzir para focar sua produção em outro bem.
Haberler desenvolveu a teoria dos custos de oportunidade utilizando a
curva de possibilidades de produção ou de substituição de produtos - o custo
de produção de um dado bem é igual a quantidade que se deixa de produzir de
outro bem em função da utilização de fatores para produzir o primeiro bem.
Suponha:
Curva de possibilidades de produção (CPP) de Portugal
Vinho
Tecido
ECONOMIA INTERNACIONAL – BNDES/TEORIA E EXERCÍCIOS Profa. Julia Olzog
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Considere a CPP representada acima, de um produtor em Portugal que
pode escolher entre produzir apenas vinho, apenas tecido ou ainda uma
combinação dos dois bens. Se ele se dedicar apenas à produção de vinho,
consegue produzir 100 unidades (ponto A). Caso opte por produzir apenas
tecido, consegue produzir 80 unidades (ponto E). As demais combinações
estão representadas por todos os demais pontos existentes ao longo da reta
traçada (pontos B, C e D).
Se o produtor se encontrasse na situação do ponto A, produzindo
exclusivamente vinho, e caminhasse para o ponto B, pode-se observar que
ocorreria o seguinte:
- A produção de vinho diminuiria de 100 unidades para 75 unidades; e
- A produção de tecido aumentaria de 0 unidades para 20 unidades.
Dessa maneira, pode-se dizer que o produtor abriu mão de produzir 25
unidades de vinho (redução de 100 para 75) para passar a produzir 20
unidades a mais de tecido (aumento de 0 para 20).
Essas combinações de produção mostram o conceito por trás do custo de
oportunidade: o quanto se perde da produção da mercadoria X ao se aumentar