-
pla concepo do mundo, do homem e deDeus, ou se os modernos, com
sua estreitafixao pelo conhecimento tecnolgico eSU::l aberrante
valorizao dos instintos.
E, no caso dos encantamentos, nunca seriademais lembrar o poder
da palavra, princi-palmente quando pronunciada com a cor-reta
entonao e no momento adequado;nunca demais lembrar o poder criador
doverbo, tantas vezes referido nas sagradas es-crituras dos mais
distintos povos; e nuncademais lembrar que, no Egito, a cincia e
areligio estavam intimamente relacionadas,e que os mdicos eram
tambm sacerdotesque no se pretendiam autores dos encanta-mentos,
preparaes medicamentosas e ou-tras tcnicas curativas: eles apenas
osaprendiam nas chamadas "Casas da Vida",os templos-universidades
legados pelo deusThot, o mensageiro dos deuses, encarre-gado de
proteger a humanidade, a quemalude o papiro de Ebers: Eu sa de
Heliopoliscom os Grandes dos templos, os que possuemproteo, os
senhores da eternidade... Euperteno a R. Ele disse: "serei eu quem
prote-ger o doente de seus inimigos. Thot ser o seuguia, o que far
falar as escrituras e autordasfrmulas: dar habilidade aos sbios e
aosmdicos-mgicos, seus discpulos, para curarda doena aqueles que
Deus deseja manter vi-vos".
Isto poder parecer absurdo somentepara aqueles que se aferram s
suas convic-es materialistas porque tm medo de selanar ao estudo do
desconhecido. Mas noassim para os que acreditam, ou
melhor,constatam dia a dia a existncia de leis natu-rais
inexplicveis para o homem comum, eque acreditam tambm que, em
outras po-cas, em outras culturas, o conhecimentodessas leis
naturais deu ensejo ao surgi-mento de uma verdadeira medicina
sa-grada, de uma verdadeira cincia sagrada:sagrada no sentido de
possibilitar aharrno-nia entre o interno e o externo, entre o
mi-crocosmos e o macrocosmos, entre .0 Ho-mem e o Universo.Nesse
sentido, tudo no Egito era sagrado.
Talvez nenhuma civilizao tenha buscadotanto essa harmonia.
Talvez nenhuma civili-zao tenha mostrado tanto ao ser humanoa sua
prpria grandeza, indicando-lhe, aomesmo tempo, a adequada dimenso,
ojusto limite de sua atuao dentro do vastouniverso de Deus.
Bibliografia Claudine Brelet-Rueff - As Medicinas Tradicionais
Sagradas:Edies 70. Lisboa, 1978.A. de Almeida Prado - As Doenas
Atravs dos Sculos. Editor"Anhembi, So Paulo, 1961.
Zitdo Traiano
ASSIMDEUS FALOUAOS HOMENS
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- Mario Ferreira dos Santos -
J haviam despertado as trevas para os la-dos do nascente.
E despertei porque abri os olhos para aluz da manh.o silncio
dominava todas as coisas como
se elas permanecessem ainda adormecidas.Na paz do campo, deveria
ferir os meus
ouvidos a clarinada de um galho, e umcanto de pssaros no me
surpreenderia.
Surpreendia-me o silncio; silncio queme penetrava e me pesava
nas plpebras.
Acordei quando soaram as trombetas doSenhor. Uma brisa suave
embalava todas ascoisas e mansamente acariciava o meucorpo porque
despertei sem sobressaltos.
Eu tambm ressuscitava, e vi.E vi que o verde dos campos era
mais
aveludado. No cu, um azul muito lavado,longnquo, matizado de um
leve cor de rosa,permitia aos meus olhos penetrarem distn-cias sem
fim.No era mais uma cpula empoeirada de
THOT 17
-
luz, e tudo me parecia estranho; porque erato difano, to
profundo, que no haviamais distncias para os meus olhos.
Por que, por que era to diferente omundo? que j haviam soado as
trombetas do
Senhor.E de todos os horizontes um rumor veio
at mim. Eram vozes que entoavam hinos.E cercavam-me milhes e
milhes de se-
res como eu, e todos volviam 'os olhos paraaquela voz luminosa
que atravessava todasas distncias e' nos aproximava do
infinito.
Nunca poderei descrever o que senti anteaquela imensa luz que
escurecia a luz dosol. Senti invadir-me um frio agradvel queno me
enregelava.
E havia cores inditas para os meus olhos.E ouvi um som
maravilhoso, ante o qual, oque valeriam os sons harmoniosos de
umnobre violino?
E no me sobressaltei, quando aquela luzimensa falou:
- Homem, chegou o tempo dos tempos,e ests nos umbrais da
Eternidade. Eu sou aEternidade ...Ante o Senhor, eu deveria ter
cado de
joelhos. Deveria, humilde, elevar at ele osbraos, e pedir-lhe
piedade.
Eu estava ali para ser julgado, pois soarao Juzo Final.
Mas o Senhor tornou a falar:- Homem, no deves temer a
Eternidade.
No quero de ti o gesto de quem pede.Nunca de teus lbios deveriam
ter sado aspalavras que pedem, nem os lamentos dosqueixosos da
vida.
Se, em vez de pedir, tivesses tomado davida o que precisavas, no
'estarias agoratremendo na minha presena.
O meu interrogatrio ser breve e rpidaa minha sentena. Em ti eu
julgarei todos osteus semelhantes.
Por que no acreditaste na minha ver-dade?
No acreditaste por ser simpres e clara!Sempre temeste a
simplicidade, e a minhaverdade era a simplicidade ...
No sentiste a suavidade do vero percor-rer a tua pele? No
sentiste em tua alma asfolhas secas que caem no outono? No
sen-tiste nas 'tuas carnes os frios do inverno?
No reverdeceste com o mundo nas pro-messas da primavera?Tinhas,
na alma, todas as almas do
mundo. Se tudo isso tivesses compreendido,terias vencido a
morte! E por que no ocompreendeste?
- Senhor ...- No precisas responder. Eu sei a tua re-
sposta. Ouve-me: Disseste um dia que osfenmenos no mundo se
processava de
acordo com as leis 'da natureza. E estavascom a verdade. E por
que no concordasteque havia uma tica na natureza, cujos fe-nmenos
observam a regularidade de cer-tas leis? " . Por que criaste uma
tica quenegava a natureza? Ouve! Os poderososchamaram bons aos
poderosos; os humil-des, aos-humildes; os 'corajosos, aos
corajo-sos; e os fracos, aos fracos. Todos os teussemelhantes se
consideravam bons. E porque no foram bons?
Quando impotente, inventaste a compla-cncia; quando te
abaixavas, 'cheio de te-mor, chamaste humildade; quando te
su-jeitavas ao forte, a quem temias, chamavasobedincia; como no
podias venc-Io, fala-vas em 'perdo.
Por que usaste do meu nome para justifi-car as tuas
fraquezas?
S por temeres os fortes aceitaste o amorao prximo.
Quo poucas vezes conheceste o amor,porque ele muitaves vezes era
'feito demedo. Mas outros nomes deste aos teus sen-timentos,
mascarando-os, para que os pode-rosos no compreendessem o teu
dio.
Fizeste do mundo um crcere, e inven-taste filosofias de
carcereiro.
No disseste muitas vezes que a vida nomerecia ser vivida?
E por que? Porque te acovardavas ante aexistncia.
Por que criaste uma moral de vencido?Por que, em vez de
construres o teumundo, viveste a imaginar outros que julga-vas
melhores?
- Senhor, tu s absoluto e podes com-preender o porqu da minha
fraqueza ...- por isso que te falo. E ouve: detesta
os que conduzem e os que seguem. misterque inspires a ti mesmo a
grande emoocapaz de inspirar os outros. E uma traio ati mesmo
quereres conduzir o teu prprioeu. Deves conquistar-te pela tua
prpriafascinao.
Afirma-te pela natureza. E, se assim o fi-zeres, os teus olhos
vero 'melhor, e ouviroos teus ouvidos alm dos teus ouvidos.
Procura na natureza as regras para a tuavida. no destruas a ti
'prprio ao te enca-deares nas algemas que criaste.
Chegaste agora aos umbrais da Eterni-dade.
Ouve!:Foi o teu medo que criou a imagem que
de mim fizeste.Os teus filsofos descreveram-me como
um monstro de sabedoria; os 'teus ascetas,como um infinito de
ascetismo; os teus poe-tas, como o mais lrico dos poetas, os
teusfracos, como o externo da complacncia.
Em mim espelhaste sempre as tuas ausn-
11
18 THOT
-
'que a tua era a minha imagem. Querias fa-zer de mim um
impotente ao afirmar que euno podia fazer o mal nem o nada, como
seno fosse o mal e o nada obras da impotn-cia e no do poder
absoluto. Unilateral sem-pre em 'tuas concepes, nunca te foi
poss-vel compreender os matizes dos meus 'atri-butos.No precisavas
ser um deus para
entend-los. Tu, relativo e condicionado,querias ser a imagem do.
abs.oluto e d? i~fi-nito. Desejavas, assim, iludir ,a tua
h!l1lt~-o, insinuando a ti mesmo, as tuas mtui-es, tua razo, para
que se voltasse con-tra ti contra tua condicionalidade, 'que erasum
deus mas desterrado. Criaste a lenda dePigmalio para atirar sobre a
divindade a in-fmia de uma dvida.
Tu me ofendeste com a imagem que demim criaste. Foste sempre a
medida de to-das as tuas coisas.
Mas h em teu orgulho algumas coisa deherico, quando, nesse
orgulho, existe umdesejo de me alcanar.
Admiro sempre aqueles que buscamelevar-se de seu ponto de
partida. Mas sem-pre desprezei aqueles que estabelecem umestreito
ponto de chegada.
Deves, homem, criar para ti um ponto departida e nunca um ponto
de chegada.
Faze de mim um ponto de chegada e fazede ti um ponto de partida.
como homem,busca superar-te. Aqueles que te envenena-ram com a
loucura de 'atingir os fins, comose os fins existissem antes de
mim,tornaram-te difcil a descoberta do cami-nho. Avana alm de ti
mesmo. a tua felici-dade no apenas.o bem-estar, mas emsempre te
aproximares de mim. e em cad.ainstante do tempo, em cada uma das
tuas VI-trias, sentirs a felicidade da tua con-quista.
Como queres achar-me, se tu ainda nemte encontraste?
Eu te ensino o novo caminho: eu sou adefinitividade sem fim.
Buscar-me o teucaminho. eu estou em cada uma de tuasconquistas, e
em cada uma das tuas vitrias,e estou contigo em cada uma das tuas
supe-raes. .
Em cada instante que venceres a umesmo em cada momento que
deres' umpasso frente, estaras mais prximo demim.Estarei ao teu
lado quando amares, para
que a tua afeio seja 'mais profunda; esta-rei ao teu lado quando
chorares, para que atua dor no te desesperes. Tu me ters aoteu lado
em cada uma das tuas vitrias, por-que eu sou a tua vitria.
Busca-te que me achars.Ouve o meu novo sermo da Montanha:
cias desejadas.No entanto, na vida com que animei o teu
corpo, .estava escrito o 'meu caminho. Sele poderia levar-te at
mim.
Mas outros caminhos preferiste buscar.Procuraste engrandecer a
tua pequenez, e aatribuste a mim. E porque era mesquinha atua
interpretao, acusaste-me dos teus er-ros e procuraste
destruir-me.
Vou expor-te a imagem que tu, de mim,uma dia fizeste. Segundo a
tua interpreta-o, eu percorri sozinho a imensidade do in-finito,
atravs do infinito do tempo. Nin-gum me acompanhava nessa
peregrinaoeterna. Sozinho, buscava atravs da imensi-do de mim
mesmo, e da minha obra.
O teu aplauso chegava at mim tonfimo como se areias do deserto
'aplaudis-sem a arquitetura de tuas cidades. Sabesacaso o que sofre
um 'ser que no recebe oaplauso de algum que a ele se assemelhe?E
tu, homem, tu que te queixas da tua infeli-cidade, podes encontrar
o aplauso dos teussemelhantes.
Vives ombreando com teus pares. para atua vida, para chorar as
'tuas lgrimas, pararir contigo as tuas alegrias, para
sofrer,compartilhando a tua dor, tens a compa-nheira que eu te
dei.
E eu, eternamente sozinho por entre aimensido de mim mesmo,
estou s na mi-nha glria.No h para mim montanhas que atraves-
sar, rios que vadear, sombras 'que iluminar,mistrios que
decifrar.No preciso conhecer a fruio das des-
cobertas, o sacrifcio agridoce dos que per-dem as noites no
estudo .ern busca do co-nhecimento, porque 'sou Deus, e conheotudo,
e as trevas, para mim, so luz; as mon-tanhas 'so rugas do meu
caminho, e os rios,veios mesquinhos que nada significam.
Tu proclamas o meu poder absoluto. Tu odeclaras por teus sbios e
'pelos teus filso-fos, e, no entanto, queres fazer-me limitadona
minha 'grandeza.Nunca compreendeste o meu amor,
como se apenas pudesse amar um ser 'infinitocomo eu. Querias que
eu permanecesseeternamente na contemplao de mimmesmo, e a
embriagar-me da minha prpriacontemplao e no amor do meu prprioamor.
E que te afastavas de mim com o co-rao, e pensavas que era eu que
me afasta-vas de ti.
Quando criaste regimes autocrticos, medescreveste como um
autocrata; quandoconstruste regimes democrticos, fizeste-me um Deus
bondoso; quando guerreiro eodiento, fizeste-me um Deus odiento
eguerreiro. construste a minha imagem tuaimagem, assim como outras
vezes julgaste
THOT 19
-
1 - Um dia, os homens ho de amar nova-mente o Sol. H homens que
o odeiam,porque lhes anuncia o trabalho fatigante.
A noite, para eles, tem um gosto de liber-tao! Terrvel espetculo
o de um mundoassim!
Quando os homens voltarem aos seus la-res com o peito
alevantado, o rosto mode-lado por um sorriso, ho de amar nova-mente
o Sol ...
2 - No me afirmam, os que me afirmamem palavras; nem me negam os
que em pa-lavras me negam.
Negam-me os que negam-me em atos,embora me afirmem em
palavras.
Eu sou aquele pai que se ofende quandoos filhos o renegam pelos
atos.
3 - Tornaste o amor pecaminoso. Dei-teo amor, para que ele te
embelezasse a vida.Dei-te o cu nas menores coisas e tu o
des-prezaste, porque ele vinha nas menores coi-sas. Dei-te o amor,
junto tua carne e juntoao teu esprito, para que suavizasse os
teusinstintos. tu o chamaste pecaminoso. Fi-zeste de mim um monstro
assexual, paraclamar contra a misria do teu sexo.Emverdade, eu te
digo: o amor dos sexos tam-bm divino, quando une os homens almde si
mesmos. O amor 'ergue-os e os unealm do tempo. Nega-se a si prprio,
e negaa mim, aquele que nega o sexo.Em verdade te digo: s as almas
superio-
res sabem amar, e bem-aventurados os queamam porque eles
conhecero o reino doscus!
4 - Observa os teus semelhantes. Somais' desembaraados para
amaldioar doque para agradecer. Quando amaldioam,as frases saem
rpidas, vivas, fluentes.
Mas as palavras so difceis, torcem asmos, e humildes, como
vencidos, baixama cabea, sorriem temerosos, entre a tris-teza e a
alegria, quando agradecem, reve-lando uma terrvel luta interior
...
5 - J disse um dos teus:"No o amor ao prximo que salva os
nufragos, e sim a coragem!"
Que adiantaria o amor ao prximo dequem no pode tornar efetivo
esse amor?Deves cultivar a coragem ante a dor, a cora-gem ante o
sofrimento, a coragem ante aalegria, a coragem ante o prazer, a
cora-gem, altiva e nobre, em cada um dos teusmomentos.. S depois
aprenders a amar o teu pr-
ximo.S os corajosos sabem dar. No conhe-
cem o sofrimento surdo de sua benevoln-cia; pois o covarde,
quando d, procede portemor do castigo divino ou por temor dosoutros
homens, ou por astcia, no intuito dereceber uma paga maior que a
ddiva. O co-rajoso dar sem temores.
E, em verdade te digo, bem-aventurados,os corajosos, porque
deles ser o reino doscus!6 - Cuida-te daqueles que olham a vida
com um olhar de sono. Tu sempre dormirsbem quando fores tu
mesmo. Quando nega-
20 THOT
-
res a ti mesmo, teu sono interrogar-te-. Astuas angstias sero
livres e no uivaro natua alma. Mas para' libert-Ias, no taparsos
ouvidos a fim de no ouvi-Ias, nem delasfugirs para fugires presena
que te des-gosta.
Deves levantar-te com um sorriso, por-que todo acordar uma
ressurreio.
Bem-aventurados os que sorriem, porquedeles ser o reino dos cus!
.
7 - Se na hora da fortuna esqueces osteus amigos, como queres
que se lembremde ti na hora da amargura?
8 - Aquele que deseja a felicidade sem oesforo, como o que atira
fora a noz por-que dura a casca ...9 - A me ama o filho porque
sofre para lhedar a vida e para conserv-Ia. Tudo quandofacilmente
obtens, tens perdido. As dores,as lgrimas, as dificuldades foram a
medidade valor de todas as tuas coisas.
10 - Virtuoso no o que faz o bem por-que teme o castigo;
virtuoso no o quepratica o bem porque ser premiado; vir-tuoso no o
que realiza o bem porque notem propenso para o mal. Virtuoso O
te-naz, o forte, o que vence, o que exe-cuta a sua vontade, o que
dirige os seusimpulsos, o que estabelece um ideal, e obusca.
o delicado para com os fracos, ener-gico para com os covardes,
humilde paracom as crianas, digno para consigo pr-prio.
11 - Homem, um dia cansaste de crer.Tantas foram as mentiras
daqueles que fala-ram em meu nome, que fechaste os ouvidosa todas
as vozes que anunciavam um "almde ti mesmo".
Mas quando sofres um desejo de um im-possvel; quando no
consegues vencer a di-ficuldade que pensaste superar, quandouma
insatisfao te oprime o peito e te ar-ranca um suspiro, podes
conformar-te coma tua morte. Podes ter um sorriso estico
eindiferente. Mas dentro de ti uma voz cla-mar, e precisars
amorda-Ia. E por quenesses momentos no interrogas a ti pr-prio, se
existe em ti ou no, o que clamacontra a falta, o que pede para
vencer astuas derrotas?
No ouviste essa voz?Sou eu, em ti, que falo, e por que no me
queres ouvir?12 - Como encontrars o sobrenatural se
tu nem sequer soubeste encontrar a natu-reza?
13 - Quantos atos de bondade deixariasde realizar se no tivessem
testemunhas?
14 - Rebelam-se contra as regras os queno podem cumpri-Ias. A
virtude s grande quando difcil.
15 - No conduzas e no sers condu-
zido.Deves temer at conduzir a ti prprio.
Perde-te em tua prpria floresta para que teaches. E empreende
tua busca como quemfaz uma conquista.
Bem-aventurados os que conquistam a simesmos, porque deles ser o
reino dos cus.
16 - O que recebe, louva sempre o desin-teresse de quem d.
Os que nada pedem vida, os que no sequeixam da vida, os que no
se cansam debuscar, tm sempre um gesto desdenhosoquando acham,
quando obtm, quando so-frem.
Chamaste de verdadeiro tudo quanto tefoi til, tudo quanto
correspondeu aos teusdesejos. Ao vento que saculeja a rvore eatira
ao cho a fruta madura, para que tu aapanhes sem esforo, chamaste de
bom ...
No precisarei dizer mais para mostrarquo mesquinho o teu
conceito do verda-deiro, do bom, do til?
17 - Se o mundo no for cada dia dife-rente que tens a morte
dentro de ti.
Bem-aventurados os que trazem dentrode si a vida, porque deles
ser o reino doscus!. 18 - A virtude dos pessegueiros so os
pssegos. A virtude dos mares o seremimensos; dos tigres, a
crueldade; a astcia, adas raposas. S tu julgaste que a virtude
noconsistia em ser instintivamente humano!
Em verdade te digo:Bem-aventurados os que no se negam,
porque deles ser o reino dos cus!19 - Quo infeliz terias sido,
se um dia eu
te tirasse o esquecimento!20 - Chamaste grandes aos que no
pe-
cam por temor do castigo, da conscinciaou do remorso. Como
chamarias quelesque no pecam porque no querem?
Bem-aventurados os que no pecam por-que no querem, porque deles
ser o reinodos cus!
21 - A r no acredita num mais alm doshorizontes ...
Por que tu no vais acreditar num maisalm dos teus
horizontes?
22 - Tu agradeces vida quando te fazemum bem? Ento por que te
queixas da vidaquando te fazem um mal?
23 - Que seria de ti se no houvesse osque amam o perigo? Quem
atravessaria osmares, as terras desconhecidas, quem galga-ria os
cumes das montanhas? Quem se apro-fundaria nas entranhas da terra?
Quem de-vassaria os espaos e quem penetraria nasselvas do
conhecimento em busca de novasverdades?
Quem se entregaria ao af das descober-tas, no silncio impregnado
de mistrio doslaboratrios, se no houvesse os que amamo perigo?
THOT 21
-
Em verdade te digo:Bem-aventurados os que amam o perigo,
porque deles ser o reino dos cus!24 - Benditos os miserveis que
guardam
para si as suas misrias.25 - Um olhar de eternidade, homem,
o
de que careces para a altivez de teus olhos!26 - A bondade
manifesta-se no impre-
visto da generosidade.S podem dar os que tm. E quem tem
mais do que si prprio. Deves por isso, amaro "alm de ti mesmo",
para poderes conhe-cer a 'felicidade de quem d.
Em verdade te digo:Bem-aventurados os que vo alm de si
mesmos, por que deles ser o reino doscus!
27 - No tenho virtudes, porque souquem sou.
Virtuoso s quem vence os seus defei-tos, e eu no os tenho. fcil
ser bomquando a bondade agradvel, e eu no ad-miro os justos que no
podem ser injustos.
Quero-te como s, mas vencedor de timesmo, porque em verdade te
digo:
Bem-aventurados os vencedores, porquedeles ser o reino dos
cus!
Enganam-se que servem os que sacrifi-cam a vida para me servir;
enganam-seque me amam, os que odeiam os outrospara amar-me;
enganam-se que me honram,os que buscam a solido para me
encontra-rem ...Nunca pedi desses servidores, pois no
seria Deus se deles carecesse.Eu sou a Eternidade. Volta para
junto de
teus semelhantes e repete-lhes estas pala-vras que traduzi na
imperfeio da tua ln-gua: "Quiseste um mundo melhor do queaquele que
te dei. Dizes saber como deveriaser esse mundo; proclamaste at que
feitopor ti, ele seria melhor.
Se sabes construir a felicidade, por queno a constris?, No
conheces acaso as leis do teumundo? No dominaste as distncias?
Noacorrentaste o raio e tornaste inofensivo otrovo? No soubeste
arrancar do seio daterra o alimento para os teus? No cons-truste
cidades imensas de cimento e deao? No tiraste do mago da terra a
foraque te poupa o esforo? No aumentaste nodecorrer de sculos o teu
poder mil vezesmais? Por que no realizas o teu mundo?Por que no
fazes a tua Terra Prometida emvez do "meu vale de lgrimas"? No te
con-sideras inteligente, poderoso, forte? Poismostra a tua fora, o
teu poder, a tua inteli-gncia. pelo menor esforo que desejas que
eu,
como um dos teus mgicos, transforme ascoisas num golpe de
mgica.
Queres ter tua mo o fruto que no co-
lheste. No, homem! Conquista por ti pr-prio o mundo que desejas.
Dar-lhe-s de-pois, quanto mais lgrimas e mais dor ele teexigir,
mais valor pelo que te custou! Nodestruirei' a minha obra tornando
a ti,poeira de uma poeira, maior do que mere-ces. Dei-te a
inteligncia para poderes ven-cer em tua luta. Que fizeste dela? Por
queno a usaste para o bem? Cansaste agora deusufruir o teu poder, e
como temes os maisfortes do que tu, pedes-me que os torneiguais a
ti.
Se eu fizesse o mundo como desejas,sentir-te-ias mais infeliz do
que s hoje, por-que te cansarias logo da tua felicidade. Dizeainda
aos teus semelhantes estas minhas l-timas palavras:
Homem, voltars a ser tu mesmo, e im-prescritivelmente vivers a
tua vida. E con-tinuars comendo o po com o suor do teurosto. O
imensamente grande e o imensa-mente pequeno da tua vida tornars a
viv-los.
Cada sofrimento e cada alegria tua hode encher de lgrimas outra
vez os teusolhos e fazer sofrer o teu peito e ho de ou-tra vez
desabrochar o sorriso do teu rosto eaprofundar a tua respirao. E,
assim, im-prescritivelmente ... E ters outra vez o solque admirars
e adorars, porque ele carre-gar de frutos maduros as rvores que
plan-tares, e de calor o teu corpo que tremernas noites frias.
Outra vez a lua h de empa-lidecer nas noites escuras e sugerir a
eclo-so dos teus sentimentos e dos teus afetos.Outra vez ouvirs o
ritmo das horas quepassam, marcando o teu tempo. E admira-rs os
campos soltos, as manhs claras,cheias de luz e de vozes de pssaros,
e tersas sugestes misteriosas que se esconderonas sombras das
noites sem luz, outravez ...
Homem, vive e compreende o teu des-tino. E vers, ento, que, mais
uma vez, hde desabrochar no teu rosto o sorriso daalegria que
procuraras, e h de doer menoso teu peito.
Ouve: que o sofrimento no seja para sempre a tua preocupao.
mister que o vejasem funo da tua alegria. No rir nunca oteu rosto
antes que se tenha um dia retor-cido pela dor.
S poders gozar a felicidade da incer-teza quando compreenderes
ser a dor a an-tecmara da alegria. Ama a contradio detua vida,
porque ela afirma. No modeles atua existncia na estreiteza dos
sonhos datua fantasia nem da tua realidade.
Nega os fatalismos para afirmar o teuquerer. Lembra-te que h
destinos que seforjam, como tu forjas as tuas espadas. Ca-reces da
conscincia de tua fora e no te-mas us-Ia. S assim te elevars acima
de ti.
22 THOT
-
Arisfocnlciae Democracia
Acreditaste no fim, porque viste o fim dascoisas, e elas se
transformam.Acredita na tua eternidade, e j ters com
isso conseguido superar um pouco a tua li-mitao.
Que as minhas palavras te sirvam para ofuturo. Falei-te com a
simplicidade de tualngua, e espero no mais ouvir as tuas quei-xas
que aborrecem os meus celestiais ouvi-dos!
Todas as imagens que de mim criastetomam-se ridculas e
ofensivas. No critica-rei a tua maneira de me conceber. No souo
Deus que exige a cada instante um sacrif-cio, que, a cada momento,
quer os teuspensamentos voltados para mim. No seriaDeus se
carecesse de sacrifcios para poderaplacar a minha ira, nem me
ofendo porprocurares descobrir quem sou. Em cadauma das tuas pocas
ters de mim uma defi-nio, e esta nunca h de te satisfazer. Masouve:
precisamente por isso deves te ale-grar.
Fars de mim tantas imagens quantos osteus instantes, na vida. Em
vez de me defini-res, ensinar-te-ei a maneira de me encontra-res.
Busca-me ... nessa busca que me te-rs a teu lado. Quando me
atingirs? Que teinteressa saber o quando, se mal iniciaste
ajornada? Pe-te a caminho. Realiza a timesmo, sempre alm de ti
mesmo. Com istote aproximars de mim. Eu estarei em todasas pocas,
sempre distante eu serei o teuideal. Em vez de procurares
toransformar-me em ti, homem, transforma-te em mim.
No me definirs mais pelas tuas qualida-des, mas procurars a tua
definio pelosmeus atributos. esse o caminho que in-dico, e que te
levar at mim. Vai!
Mrio Ferreira dos Santos(Extrado do livro "Assim Deus Falou
aos Homens"; Livraria e Editora Logos,So Paulo, 1959)
(dezembro/74)Devido a alternativas semnticas sofridas
no transcurso do tempo, estes vocbulos pa-receram ter
significados opostos. A partici-pao de todos na coisa pblica foi
denomi-nada democracia (embora, como forma degoverno, o nome
correto fosse repblica), e,como tal, se confrontava com a
participa-o de apenas uns poucos, o que se denomi-nava'
aristocracia ou, tambm, oligarquia,termos estes que se usam
indistintamente, oque tampouco correto. A democracia -em linguagem
superficial e convencional -costuma assim representar o contrrio
daaristocracia. Isto porm, requer uma maiorateno, j que por trs de
um falseamentosemntico se esconde sempre um falsea-mento conceptual
e entram em jogo princ-pios fundamentais.
Se por aristocracia entendemos umaclasse social que por sua
linhagemencontra-se investida de numerosos privil-gios, entre eles
o de governar, sendo estes
Jorge L. Garcia Venturini
privilgios hereditrios e inalterveis, noimportando quais sejam
os verdadeiros va-lores ticos ou a efetiva capacidade para
go-vernar, certo que a democracia (e a rep-blica) lhe so contrrias.
Mas ocorre quearistocracia significa tambm e fundamen-talmente "o
governo dos melhores" (ristossignific, em grego, o melhor), e neste
sen-tido a democracia no tem por que opor-se aristocracia - a menos
que se deseje algoque no se deveria desejar, ou seja, o go-verno
dos piores. No obstante, a incria nalinguagem, que nos faz dizer s
vezes o queno queremos dizer, tem-nos levado commuita freqncia a
associar aristocraciacom oligarquia, que no o governo dosmelhores
mas o de uns poucos (e, segundoseu tradicional sentido, o governo
"egosta"desses poucos), fazendo confrontarem-sedemocracia e
aristocracia, no elevado sen-tido deste termo.
E como a linguagem nos condi ciona eTHOT 23