Existe algum animal que trabalha?
O ser humano conseguiria viver sem o trabalho?
Todo trabalho é bom?
Todo trabalho é perfeito?
Qual o sentido do meu trabalho: motivação
O trabalho fonte de saúde:
› Qual o sentido do meu trabalho?
› O que crio, transformo e contribuo com ele?
› Qual o reconhecimento do meu trabalho?
Freud: “...a força motivadora de todas as
atividades humanas é um esforço
desenvolvido no sentido de duas metas
confluentes, a de utilidade e a de
obtenção de prazer,...” (O mal estar na
civilização-1930)
O trabalho desprovido de significação, sem
suporte social, não-reconhecido ou que se
constitua em fonte de ameaça à integridade
física e/ou psíquica, pode desencadear
sofrimento psíquico (BRASIL, 2001)
Papel central em nossas vidas
Fonte de angústia e prazer
Constrói a identidade e pode ser fator de
desenvolvimento pessoal
Além de “ganhar a vida”: processo de criação
aprendizagem, autonomia, reconhecimento,
inserção social, capacidade de relacionar-se.
OCUPA QUANTAS HORAS DO DIA????
Lidar com:
Sofrimento humano: físico ou mental
Escuta de relatos de dor, medo, sofrimento
A possibilidade da morte ou a morte em si
Prestar algum tipo de ajuda: sentido do trabalho
Lidar com vítimas de traumas
Escutar histórias perturbadoras
Presenciar situações extremas de luta pela
sobrevivência;
Ficar familiar a situações de injustiça
Atender às necessidades emocionais daqueles
que são normalmente excluídos.
Olhar com o olhar do outro;
Considerar uma perspectiva diferente da sua
Refere-se a um modo peculiar de conhecimento
intuitivo que nós temos acerca dos estados
emocionais de outrem, ou seja, uma ligação, uma
identificação emocional que nós temos com os
outros.
Componente emocional: habilidade de colocar-
se no lugar do outro e compartilhar os estados
psicológicos, emocionais ou sentimentos
pertencentes ao outro. Trata-se de habilidade
que aparece na primeira infância e se desenvolve
progressivamente.
Componente moral: uma força altruísta interna
que leva a preocupar-se com o outro e querer
ajudar, socorrer os semelhantes.
Componente cognitivo: transportar-se para o
lugar do outro e ser capaz não só de entender a
experiência do outro como também de prever
seus pensamentos e comportamentos.
Componente comportamental: ser capaz de
transmitir à vítima a compreensão e a
preocupação empática – uma comunicação
verbal ou não verbal entre cuidador e paciente.
Essencial para o trabalho com humanos
Alguns a consideram como sinônimo de Cuidado
Habilidade que pode ser desenvolvida em termos
profissionais, sendo uma empatia terapêutica e
não só a empatia natural.
“sofrer com”
“Um sentimento de profunda empatia e pesar por
outrem que é acometido por sofrimento ou
infelicidade, que é acompanhado por um forte
desejo de aliviar a dor ou remover a sua causa.”
Empatia e Compaixão são ferramentas para a
qualidade do trabalho em saúde.
Ser exposto constantemente ao estresse de
presenciar o sofrimento do outro é insalubre até
para um animal.
Para o ser humano é mais dramático pq sofre na
presença e na ausência destes estímulos (guarda
estas experiências), pois se auto-estimula de
modo a reviver a tensão da situação.
Além do contágio com o estado emocional da
vítima ocorre: imaginar a reação dos parentes:
pensar como evitar que o mesmo ocorra
conosco; refletir sobre a periculosidade das nossas
cidades ou sobre como o mundo é violento ou
injusto. Porém, lembrar que o outro é Outro (pode
sentir e pensar de modo diferente do seu).
Uma infinidade de pensamentos que também se
relacionam ao medo da morte.
Não poder prestar um serviço de qualidade ou
atender às necessidades dos pacientes
Sociologia das emoções
Trabalho emocional: expressão das emoções a serviço do trabalho – gestão ou controle da expressão das emoções. Envolve a compreensão, avaliação e gestão de suas próprias emoções, bem como das emoções de outras pessoas.(Hochschild, 1993)
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Tensão empática
Maior chance de estar constantemente
estressado
Desenvolve sintomas semelhantes:
traumatização por observação ou por
tomada de conhecimento sobre o trauma
de outro – toma o lugar de outro em seu
trauma e passa a vivenciá-lo também.
Quando o sujeito compadecido percebe-
se enquanto responsável pela remissão da
dor alheia;
É capaz de proporcionar um dos maiores
prazeres que o ser humano pode
encontrar no desempenho de uma
atividade profissional.
A importância do “como se faz”: estudo
do René Spitz com bebês.
“O CUIDADO PROPORCIONADO SEM
ALEGRIA NÃO AJUDA A QUEM O DÁ NEM A
QUEM O RECEBE. MAS TODOS OS PRAZERES
E RIQUEZAS EMPALIDECEM E SE PERDEM NO
NADA DIANTE DE UM SERVIÇO PRESTADO
COM ALEGRIA.”
Segunda metade do séc. XX – Capitalismo
flexível ligado do neoliberalismo como
política econômica; tecnologia e
desemprego estrutural; trabalhos precários
Perda de direitos, rebaixamento e
flexibilização salarial, ampliação e
flexibilização da jornada, fim da fronteira
entre tempo de trabalho e tempo livre,
trabalho temporário, terceirizado, informal
(pessoa jurídica, uberização);
“É o sentimento de não ter a quem recorrer [...] É o sentimento de isolamento e abandono [...] de não estar jamais protegido de uma perda súbita do emprego” (Linhart, 2014)
Aumento das queixas de assédio, hiperatividade, mal estar, transtornos mentais, suicídios.
Lógica dos serviços privados adentrando os serviços públicos. Estabilidade ameaçada para funcionalismo público.
I-Transtornos mentais orgânicos
II-Transtornos mentais relacionados à
lógica neoliberal
III- Transtornos mentais secundários:
seqüelas de acidentes de trabalho e de
doenças ocupacionais
I -TRABALHO COMO CAUSA NECESSÁRIA
(intoxicação por chumbo,
silicose,TEPT,doenças prof. Legalmente
reconhecidas).
II -TRABALHO COMO FATOR CONTRIBUTIVO
MAS NÃO NECESSÁRIO mas não necessário
(doença coronariana, câncer, varizes).
III- TRABALHO COMO PROVOCADOR DE UM
DISTURBIO LATENTE OU AGRAVADOR DE
DOENÇA JÁ ESTABELECIDA (bronquite
crônica, asma, dermatite de contato,
alcoolismo, transtornos mentais, etc.)
CLASSIFICAÇÃO DE SCHILLING (Brasil, 2001)
Toda ação voluntária de um indivíduo ou grupo contra
outro indivíduo ou grupo que venha a causar danos
físicos ou psicológicos, ocorrida no ambiente de
trabalho, ou que envolva relações estabelecidas no
trabalho ou atividades concernentes ao trabalho.
Inclui também:
› Toda forma de privação e infração de princípios
fundamentais e direitos trabalhistas e previdenciários;
› Negligência em relação às condições de trabalho;
› Omissão de cuidados, socorro e solidariedade diante de
algum infortúnio, caracterizados pela naturalização da
morte e do adoecimento relacionados ao trabalho
Violência física
Violência psicológica
•Ameaças
•Intimidação
•Agressões verbais
•Insultos
•Assédio
•Agressões sobre o corpo
ImpactoPsíquico:
Medoe
ameaçaconstante
Violênciapsicológica
Manifestações físicas
Manifestações psíquicas
Reações psicossomáticas e/ouagrava doenças preexistentes
Compromete projetos e aconstrução de identidade profissional
Perda da auto-estima e do sentido do trabalho
Isolamento, alterações de humor
Desconta na família/culpa
Transtornos mentais
Entre 2006 e 2009, 60 empregados se mataram, depois do
anúncio de um plano de reestruturação.
- Demissões de 22 mil empregados.
- Outros 14 mil deveriam mudar de cargo.
Simone Alves dos Santos – Diretora Técnica de Saúde DVST-CEREST Estadual/CVS
SUICÍDIOS NA FRANCE TÉLÉCOM:
AS CONSEQUÊNCIAS NEFASTAS DE UM
MODELO DE GESTÃO SOBRE A
SAÚDE MENTAL DOS TRABALHADORES
“Suicido-me devido ao meu trabalho na FranceTélécom. É a única causa.” O autor desta cartadesesperada, um assalariado de 51 anos, pôstermo aos seus dias em seu domicílio, em 14 dejulho em Marselha. Na carta deixada à suafamília, cujo conteúdo foi comunicado, deacordo com a sua vontade, aos seus colegas eaos delegados do pessoal (representantessindicais na empresa), evoca nomeadamente“a urgência permanente”, “a sobrecarga detrabalho”, “a ausência de formação”, “adesorganização total da empresa” e “a gestãoterror”.
“Aquilo desorganizou-me totalmente eperturbou-me, escreveu, também,o assalariadoda France Télécom. Tornei-me um barconaufragado, é melhor terminar.” (Merlo, Dossiê Suicídios
na France Telecom, 2009)
• Dejours e Bègue, (2010) , solidão, por alta competitividade entre os trabalhadores, desconfiança mútua, vigilantismo, por processos individualizados de avaliação de desempenho e, busca incessante de padrões de qualidade, mesmo que ao custo do sacrifício da ética e da satisfação de necessidades pessoais, privilégio da identificação dos erros em detrimento do reconhecimento dos acertos e da qualidade do trabalho, a degradação da convivência coletiva, o sentimento de abandono e desamparo experimentados por trabalhadores neste cenário hostil seriam determinantes dos casos de suicídio no trabalho.
Estados Unidos - 1 a 3% dos suicídios ocorrem no trabalho, o que significa uma taxa de 2,3 a 2,5 suicídios por milhão de trabalhadores. 90% dos suicidas são homens. (Silveira, A.M., 2013)
O mundo contemporâneo do trabalho:
Novas tecnologias
Desemprego
Precarização das relações de trabalho: terceirização, uberização, pejotização(deforma trabalhista)
Alta rotatividade nos empregos
Empresas: ágeis, enxutas e flexíveis
Exigências: ser competitivo, flexível, polivalente, excelente
Maximização da produtividade e intensificação do trabalho
Tensões emocionais
Metas abusivas
Jornada prolongada
Trabalho noturno
Trabalho em turno
Pressão da chefia
Assédio moral/sexual
Controle excessivo
Falta de autonomia
Ritmo intenso
Monotonia
Repetitividade
Responsabilidade excessiva
Riscos/viagens
Salário/insegurança
Conflitos relacionais, éticos,família
Trabalho rígido e imposto = adoecer
O adoecimento ocorre quando, por exemplo:
A dignidade é ferida;
Há desrespeito pelos valores e limites físicos/emocionais;
Há ameaça e instabilidade constante;
Não é possível realizar a tarefa com a dedicação, atenção e
cuidados que são necessário para fazer um bom trabalho
(condições de trabalho, restrições, não poder agir);
O ambiente de trabalho se torna hostil, desprazeroso, humilhante,
injusto;
Não há reconhecimento, valorização, cooperação ou laços
afetivos;
Conteúdo do trabalho gera desgaste mental; conflitos éticos
Segundo a OMS, um ambiente hostil é responsável pelo aumento de 5 a 10% da morbimortalidade cardiovascular entre os/as trabalhadores/as, assim como pelo aumento do estresse e da depressão. (conviver c/injustiças)
São riscos contidos na organização do trabalho, com íntima relação com as políticas de gestão e com a cultura organizacional.
Risco invisível, porém concreto: altera a identidade, fere a dignidade, desencadeia ou agrava doenças preexistentes.
Ritmo intenso; cansaço
Falta de recursos humanos e materiais
Pressão exercida pelos gestores
Baixos salários
Duplas ou triplas jornadas de trabalho
Desgaste do trabalho em turnos
Natureza do trabalho: enfermos/mortes
Acidentes com material biológico
Trabalham com dor (DORT) e medicados com psicotrópicos
Sobrecarga física e mental
Conflito trabalho X família(Santana at all, 2016; Silveira, Camara e Amazarray, 2014; Silva at all, 2015)
Desilusão frente ao trabalho
Transtornos mentais relacionados ao
trabalho
Distúrbios osteomusculares rel. ao
trabalho – DORT
Absenteísmo/presenteísmo
Alta rotatividade
Afastamentos previdenciários
Mutilações (acidentes)
Limitações (acidentes e doenças):› Perda da capacidade produtiva/devir (risco
p/suicídio)
› Perda da autonomia
› Perda da saúde/dores crônicas (risco p/suicídio)
› Repercussões familiares
› Perda da identidade
› Absenteísmo ou presenteísmo
Nestas situações: transtorno mental secundário
Quadros depressivos/ansiosos
TEPT/Fadiga por Compaixão – TEPTS
Síndrome do Esgotamento Profissional ou
burnout; dependência química;
25% dos afastamentos dos profissionais de
saúde na prefeitura de SP são por
transtornos mentais
Risco: algo passível de controle;
característica ou circunstância
relacionada com o aumento da
probabilidade de ocorrência de um
evento
Riscos epidemiológicos de cunho
psicossocial (org. do trab; ambiente
externo ao trabalho - tomados
separadamente)
Os fatores psicossociais do trabalho são
as percepções subjetivas que o
trabalhador tem dos de organização do
trabalho, como por exemplo,
considerações relativas à carreira, à
carga e ritmo de trabalho e ao
ambiente social e técnico do trabalho.
”conjunto de reações que um organismo
desenvolve ao ser submetido a uma
situação que exige esforço de
adaptação” (França e Rodrigues apud Baruki, 2018)
Estresse é empregado como sinônimo de
riscos psicossociais ou como conseqüência
dos riscos psicossociais (Baruki, 2018)
SMRT integra:› Os “fatores” ambientais e psicossociais
› O mundo subjetivo e a identidade permanentemente envolvidos nas transformações de micro e macro contextos
› Diferentes esferas da vida social e suas relações de poder
› Saúde é a harmonização da variabilidade própria dos processos psico-orgânicos humanos imersos no transcurso existencial e na vida social (Seligmann-Silva, 2011)
› Como o desgaste foi tecido???
GESTÃO ORGANIZACIONAL
CONTEXTO DE TRABALHO
APOIO SOCIAL NO TRABALHO
CONTEÚDO DO TRABALHO
CARGA FÍSICA
CONDIÇÕES DO AMBIENTE DE TRABALHO
INTERFACE PESSOA/TAREFA
MICRO E MACRO CONTEXTO
Estilo de comando; hierarquia rígida ou flexível; gestão participativa/autoritária; autonomia X controle sobre os trabalhadores
formas de contratação; modalidades de pagamento; remuneração compatível
mecanismos de avaliação de desempenho; premiações; ranqueamento; justiça (no tratamento/direitos/remuneração/distribuição de tarefas); reconhecimento; valorização; treinamento, cursos, atualizações;
Cultura organizacional: regras, missão, código de ética/conduta, etc.
Violência Organizacional
Tecnologias (contra ou a favor)
Metas de produtividade: possíveis ou impossíveis?
Tempo suficiente para execução das tarefas; ritmo
de trabalho
Sobrecarga de trabalho
Imposição de tarefas secundárias
Banco de horas/horas extras: tira as horas?
Diretrizes/Plano de trabalho/Orientações: existe?
Qualidade dos relacionamentos
horizontais/verticais
Cooperação X competição
Assédio moral, sexual, qualquer tipo de
discriminação
Apoio técnico/supervisão/preceptoria
Ouvidoria/canal de denúncia
Programa de reabilitação
Tipo de atividade realizada e seus aspectos
positivos e negativos
Exposição a conflitos/princípios e mobilização de
que tipos de sentimentos
Trabalho degradante (atividades desqualificadas,
manipulação ou contato com
elementos/aspectos que mobilizam reações
aversivas)
Desgastes advindo do contato com
usuários/acompanhantes/clientes
Desgaste físico da tarefa:
› Movimentos repetitivos, força que
imprime
› Peso/carga
› Ritmo
› Posturas forçadas
› Pausas/descanso
› Turnos alternados/trabalho noturno
Temperatura, iluminação, ventilação,
conforto, espaço disponível para
execução das tarefas; ruído; higiene
Produtos químicos; material biológico
Cuidados ergonômicos
Cuidados com a saúde e
segurança/exposição a acidentes e
violências (assaltos/ataque físico, etc)
Nível de identificação com a tarefa
Conhecimentos e habilidades frente à
demanda
Conflitos éticos
Nível de satisfação com o tipo e qualidade
da tarefa realizada
Micro: considerar questões ligadas ao ramo
produtivo e a situação do tipo de
empreendimento no mercado; posição da
empresa na comunidade local; expansão
ou crise;
Macro: situação econômica do país, índice
de desemprego, políticas públicas;
BOLETIM QUADRIMESTRAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL - 2017