As transformações na Praça do Santíssimo Salvador em Campos dos Goytacazes RJ * Cyntia dos Santos Jorge ** Resumo O presente artigo propõe realizar um recorte sobre as transformações ocorridas na Praça do Santíssimo Salvador, que se situa no centro da cidade de Campos dos Goytacazes, norte do estado do Rio de Janeiro. Para esta compreensão, apresento a história da formação deste espaço, bem como as transformações físicas sofridas por ele ao longo dos tempos, apoiando a discussão nos estudos publicados de Barbosa e Linhares (2007), Motta e Souza (2010), Freitas (2006), Faria (2006), Rodrigues (2014) e Risso (2006), correlacionando às análises feitas por Robba e Macedo (2010) e Paglioto (2015) para observar os conceitos de lugar e praça. E, por fim, com o objetivo de entender a nova utilização do espaço, apresento como a sociedade vê a praça hoje: lugar de passagem e de permanência. Palavras-chave: praça do Santíssimo Salvador; intervenções; história; transformações. Introdução A cidade de Campos dos Goytacazes, norte do Estado do Rio de Janeiro, possui uma praça principal chamada Praça do Santíssimo Salvador, à margem direita do Rio Paraíba do Sul. Esse espaço sofreu algumas transformações ao longo de sua história. O presente artigo apresenta as mudanças ocorridas na praça, e destaca a última delas, ocorrida entre 2004 e 2005, que gerou a configuração atual. Para isso será apresentado como surgiu esse espaço, a interação que ele produz, as reconstruções sofridas e os resultados das mudanças, através da análise de dissertações, monografias, artigos relacionados e fotografias. Foram realizadas visitas à praça, em dias e horários diferentes, e entrevistados seus passantes. A relação de identidade das pessoas com a praça tem mudado devido às alterações feitas, e esse é o questionamento central: como a população campista vê a praça hoje? * O presente artigo constitui-se de Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-graduação Lato Sensu em Literatura, Memória Cultural e Sociedade do Instituto Federal Fluminense, campus Centro, nos anos de 2014 e 2015, desenvolvido sob a orientação do Professor Ms. Rodrigo Rosselini Julio Rodrigues. ** Graduada em Direito (Universidade Cândido Mendes) e em Ciências Sociais (UENF). E-mail: [email protected].
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As transformações na Praça do Santíssimo Salvador em
Campos dos Goytacazes RJ*
Cyntia dos Santos Jorge**
Resumo
O presente artigo propõe realizar um recorte sobre as transformações ocorridas na Praça do
Santíssimo Salvador, que se situa no centro da cidade de Campos dos Goytacazes, norte do
estado do Rio de Janeiro. Para esta compreensão, apresento a história da formação deste
espaço, bem como as transformações físicas sofridas por ele ao longo dos tempos, apoiando a
discussão nos estudos publicados de Barbosa e Linhares (2007), Motta e Souza (2010),
Freitas (2006), Faria (2006), Rodrigues (2014) e Risso (2006), correlacionando às análises
feitas por Robba e Macedo (2010) e Paglioto (2015) para observar os conceitos de lugar e
praça. E, por fim, com o objetivo de entender a nova utilização do espaço, apresento como a
sociedade vê a praça hoje: lugar de passagem e de permanência.
Palavras-chave: praça do Santíssimo Salvador; intervenções; história; transformações.
Introdução
A cidade de Campos dos Goytacazes, norte do Estado do Rio de Janeiro, possui uma
praça principal chamada Praça do Santíssimo Salvador, à margem direita do Rio Paraíba do
Sul. Esse espaço sofreu algumas transformações ao longo de sua história. O presente artigo
apresenta as mudanças ocorridas na praça, e destaca a última delas, ocorrida entre 2004 e
2005, que gerou a configuração atual.
Para isso será apresentado como surgiu esse espaço, a interação que ele produz, as
reconstruções sofridas e os resultados das mudanças, através da análise de dissertações,
monografias, artigos relacionados e fotografias. Foram realizadas visitas à praça, em dias e
horários diferentes, e entrevistados seus passantes. A relação de identidade das pessoas com a
praça tem mudado devido às alterações feitas, e esse é o questionamento central: como a
população campista vê a praça hoje?
* O presente artigo constitui-se de Trabalho de Conclusão de Curso de Pós-graduação Lato Sensu em Literatura,
Memória Cultural e Sociedade do Instituto Federal Fluminense, campus Centro, nos anos de 2014 e 2015,
desenvolvido sob a orientação do Professor Ms. Rodrigo Rosselini Julio Rodrigues. **
Graduada em Direito (Universidade Cândido Mendes) e em Ciências Sociais (UENF). E-mail:
Ao contrário do que muitos estudiosos afirmam, não existe uma falta de planejamento
nas cidades brasileiras. As preocupações urbanísticas, sociais, econômicas e políticas sempre
existiram, conforme nos declara Shürmann (1999). Diferente do desenho das cidades da
América Espanhola, com um traçado geométrico em xadrez, as cidades da América
Portuguesa se caracterizavam pela falta de ordem, o que parecia resultar numa ausência de
projeto. Tradicionalmente sempre se viu a cidade colonial portuguesa como desordem, e as
palavras de Sérgio Buarque são esclarecedoras nesse sentido:
A cidade que os portugueses construíram na América não é um produto
mental, não chega a contradizer o quadro da natureza, e sua silhueta se
enlaça na linha da paisagem. Nenhum rigor, nenhum método, nenhuma
previdência, sempre este significativo abandono que exprime a palavra
desleixo. (HOLANDA, 1995, p.110).
No caso da colonização portuguesa, Oliveira (2010) citando autores como Paulo
Santos e Murillo Marx, afirma que o planejamento arquitetônico se deu com a implantação de
edifícios de administração, de uma igreja e da elite em torno de uma praça central. Existia um
urbanismo colonial português que, apesar de não possuir uma legislação específica, adotava
as Cartas Régias, que tratavam das ordenações das vilas e cidades, passando de uma cidade
para outra, tornando-se quase que uma regra.
Essas preocupações estavam muito explícitas nas Cartas Régias quando
apresentavam as determinações de arruamento e as reservas de locais para
praças(onde se erguia o pelourinho), igrejas, edifícios públicos, franquias
municipais e logradouros ou passeios para a população.
Toda cidade colonial para ser caracterizada como tal deveria possuir uma
Casa de Câmara e Cadeia, uma praça com pelourinho e uma igreja Matriz.
Tanto a praça como as ruas eram definidas pela testada das casas nos lotes.
As casas deveriam ser todas muito bem alinhadas e as ruas possuírem a
mesma largura para garantir a formosura nas vilas. (OLIVEIRA, 2010,
p.178)
Ou ainda, nas palavras de Shürmann:
Foram aplicadas regras de alinhamento e foi previsto um traçado urbano
ordenado para vilas e cidades no qual a praça era demarcada em primeiro
lugar, com previsão da localização da igreja, do pelourinho, da casa da
câmara e cadeia e de outras edificações públicas. (SHÜRMANN, 1999, p.
168).
A diferença entre o urbanismo espanhol e português está na legislação, porque os
espanhóis tinham um código administrativo, e os portugueses se limitavam às Ordenações do
Reino, que tinham como objetivo tratar mais da arquitetura que das cidades.
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Afirmam Robba e Macedo (2010), citando Murillo Marx, que as cidades coloniais
brasileiras foram fundadas a partir de uma área de sesmaria, com a construção de uma capela
e instituição de uma paróquia. O responsável pela paróquia, um padre ou sacerdote, era
encarregado por repartir essa área doada, concedendo pedaços de terra para quem solicitasse,
começando, assim, assentamentos urbanos. Em volta da capela, paulatinamente, foram
construídas edificações que aconchegavam uma freguesia, arraial ou vila. O espaço livre, adro
da igreja, deixado em frente aos templos é justamente onde era formada a praça. E mediante o
crescimento da povoação, o adro da igreja se consolidava unindo a comunidade e a paróquia;
reunindo ao seu redor ricas residências e importantes prédios públicos, além do melhor
comércio.
O autor lista exemplos dos mais variados de praças que apresentam em seu entorno
edifícios significativos, tanto os administrativos, como o elemento dominante, a igreja: A
Praça XV de Novembro no Rio de Janeiro, a Praça Marechal Deodoro, em Porto Alegre, o
Pátio do Colégio, em São Paulo (Ibidem.).
Ainda, segundo esses autores, a formação das cidades coloniais brasileiras, se deu
mais em proximidade com as cidades medievais europeias, porque os núcleos destas estavam
em composições religiosas ou a partir de estruturas comerciais. Porém, no Brasil, as vilas só
poderiam ser fundadas ou elevadas da condição de povoado, com anuência da coroa
portuguesa, através das cartas régias. A estrutura morfológica, as ruas, largos e praças, se
configuravam a partir do casario, o que resultava em ruas estreitas e tortuosas, que
convergiam para a edificação central.
Neste espaço livre em frente ao assentamento religioso, onde se formava a praça, era
um espaço de interação entre os elementos da sociedade:
Era ali que a população da cidade colonial manifestava sua territorialidade,
os fieis demonstravam sua fé, os poderosos, seu poder, e os pobres, sua
pobreza. Era um espaço polivalente, palco de muitas manifestações dos
costumes e hábitos da população, lugar de articulação entre os diversos
estratos da sociedade colonial. (Ibidem, p. 22)
Não fugindo a esta forma de ordenamento espacial, ou seja, comprovando a repetição
de um modelo do país de origem, adaptada às condições locais, Freitas (2006) nos informa:
Uma forma constante na constituição de povoações no período colonial era
com a valorização de determinados pontos com praças que abrigavam
igrejas, Câmara ou conventos, um local próprio para aglomerações, um local
de reuniões (religiosas, cívicas, recreativas e atividades de comércio como
feiras e mercados). (FREITAS, 2006, p.51)
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A cidade de Campos dos Goytacazes, local onde se situa o objeto de estudo deste
artigo, mais precisamente a Praça do Santíssimo Salvador, foi o ponto de partida da
estruturação do entorno da cidade, abrigando, desde o século XVII, edifícios públicos
importantes, como: a igreja (hoje a Catedral), a cadeia e a Casa da Câmara, e, posteriormente,
a Santa Casa de Misericórdia; além das casas, com estrutura arquitetônica da época, que
sobrevivem em forma de comércios ou serviços, se misturando às estruturas mais modernas.
Uma breve história da cidade
Tendo esclarecido a respeito do modo como se deu a colonização portuguesa, no caso
específico de Campos dos Goytacazes, Faria (2006) nos elucida que os municípios do norte
do estado do Rio de Janeiro se originaram da Capitania de São Tomé, em 1536. Mais tarde,
em 1627 o governo do Rio de Janeiro dividiu a capitania em sesmarias, doadas a sete capitães.
Tratando-se particularmente sobre o local onde se situa a cidade de Campos dos Goytacazes,
Tereza Faria anota:
Sem dúvida, a principal área de interesse de toda capitania foi o local onde
se localiza o município de Campos, especialmente a sua sede, a antiga vila
de São Salvador de Campos, atual cidade de Campos dos Goytacazes, sendo,
inclusive, a primeira vila a ser criada nesta região. Sua criação foi marcada
por lutas de representações e inúmeros conflitos de interesses políticos e
econômicos concernentes às propriedades e ao controle da Câmara
Municipal. (FARIA, 2006, p.73)
Em 1677 se deu a criação da Vila de São Salvador em consequência da construção de
uma capela do Santíssimo Salvador, erguida desde 1652. A formação da Vila teve, conforme
Motta e Souza (2010) e Freitas (2006), dois momentos de crescimento no processo de
colonização: a partir do início do século XVII com a produção agrícola e criação de gado, e,
em meados do século XVIII, com a cana de açúcar; e o outro, a partir da “praça principal”
(atual Praça do Santíssimo Salvador), por ser o local mais alto, fugindo de possíveis
alagamentos, e por já existir uma igreja levantada.
Em 1835, precisamente em 28 de março, a vila de São Salvador, foi elevada à
categoria de cidade de São Salvador de Campos dos Goytacazes, em função da prosperidade
econômica. Nessa época “a cidade possuía uma Praça (a Principal), quatro Largos (Rosário,
Pelourinho ou Capim, Rocio e das Verduras), dezenove Ruas e seis Travessas, quase todas
sem pavimentação, crivadas de atoleiros” (FREITAS, 2006, p.53)
Na segunda metade do século XIX a cidade viveu um período de desenvolvimento.
Em 1864 o Barão da Lagoa Dourada inaugurou o solar mais luxuoso da época, onde se
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encontra hoje o Liceu de Humanidades de Campos. Outros empreendimentos foram surgindo
para atender às necessidades da atividade açucareira, como: a fábrica de tecidos, que tinha
como finalidade também fabricar sacos para embalar açúcar. O trem de ferro chegou para
integrar a zona rural com a urbana, e a expansão ferroviária aconteceu até 1906, integrando
Campos ao Espírito Santo. Em 1875 o canal Campos-Macaé foi inaugurado com a finalidade
de escoar a produção agrícola para o Rio de janeiro, que era o principal mercado consumidor
na ocasião. Também neste ano é inaugurada a primeira ponte sobre o rio Paraíba (BARBOSA
e LINHARES, 2007 e FREITAS, 2006).
O final do século XIX e início do século XX foram marcados pelo discurso higienista,
por conta das frequentes epidemias nas cidades (FARIA, 2006). Os principais problemas
causadores das doenças que assolavam as cidades do país eram originados da ineficiente ou
inexistente coleta de lixo, dejetos que eram lançados nas ruas, falta de saneamento com
acúmulo de águas das chuvas, enchentes de rios, infestação de insetos, roedores, falta de
abastecimento de água e práticas de higiene pessoal muito precárias. A cidade do Rio de
Janeiro, capital do país na época, sofria com diversas enfermidades causadas pelas péssimas
condições sanitárias.
Nos anos 1900 a cidade foi palco de muitas doenças, desde varíola, febre amarela,
malária, sofreu um surto da peste bubônica após uma enchente. Rodrigues (2014) nos informa
que no ano de 1901
(...) assumia a presidência da Câmara Municipal o médico Benedito Pereira
Nunes, que entre os seus primeiros atos, contratou o engenheiro sanitarista
Saturnino Rodrigues de Brito, nascido na cidade de Campos e formado na
Escola Politécnica do Rio de Janeiro, afim de promover o saneamento da
cidade. (RODRIGUES, 2014, p.235).
Muitas ações higienistas colocadas em prática neste período estavam sendo
influenciadas pelas mudanças ocorridas em países europeus, especialmente França, sendo o
poder público o agente que interferia realizando mudanças para solução de todos os aspectos
referentes à saúde da população. A cidade de Campos não fugiu a esta situação.
O chamado “Plano Saneamento de Campos”, seguindo modelos empregados nas
capitais, como alargamento de ruas, sistema de esgoto, aterramento de lagoas, ajardinamento
de praças, demolição de edificações consideradas insalubres, dentre outras, implicou ainda na
construção de um novo matadouro e mercado municipal (RISSO, 2006 e RODRIGUES,
2014).
O plano tinha o objetivo de melhorar as condições de higiene e saúde, além
do embelezamento do espaço urbano. Coube ao engenheiro Saturnino de
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Brito, nomeado pela Câmara Municipal em 1902, executar o Plano
Urbanístico de Campos. Brito partiu do plano anterior de Planon, procurando
dotar a cidade de melhor circulação de ar e iluminação, através da abertura
de ruas e demolição de casas. (RISSO, 2006, p.91)
A partir desse período muitas outras mudanças passaram a ocorrer, com a finalidade
de trazer à cidade um ar de modernidade. Transformações essas que serão tratadas a seguir,
com foco nas ocorridas na Praça do Santíssimo Salvador e seu entorno.
A praça São (do Santíssimo)1 Salvador
A fundação de Campos a partir da praça do Santíssimo Salvador, e às margens do Rio
Paraíba do Sul, com uma igreja, a cadeia, a casa da Câmara e a Santa Casa de Misericórdia,
denuncia a forma de constituição de povoados do período colonial, conforme narrado por
Freitas (2006).
Figura 1 – Localização da Praça do Santíssimo Salvador na região de Campos dos Goytacazes
Fonte: Google Maps, em 08 de fevereiro de 2016.
1 A expressão “São” se tratava como os portugueses assim chamavam em abreviação à expressão “Santíssimo”.
Além disso, existe hoje, uma iniciativa da Igreja Católica, de incentivar aos fiéis a chamarem a praça com seu
nome correto, uma vez que existe um erro na denominação e entendimento, pensando haver um Santo Salvador,
no lugar do privilégio de termos o Santíssimo Salvador como padroeiro.
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Figura 2 - Praça do Santíssimo Salvador – Séc. XIX
Acervo: Museu Histórico de Campos
A figura 2, segundo informação obtida no Museu Histórico de Campos, é a mais
antiga da praça. A vista parte da Igreja matriz em direção ao rio Paraíba do Sul. À esquerda
podemos ver a Igreja Mãe dos Homens, tendo ao seu lado esquerdo a Santa Casa de
Misericórdia de Campos. Ao lado direito da foto, ocupando o que hoje temos como Praça das
Quatro Jornadas, está a Casa de Câmara e Cadeia.
Quando em 1835 a Carta de Lei elevou a Vila de São Salvador para a categoria de
cidade, passando a ter a denominação de Campos dos Goytacazes, a cidade tinha poucas ruas
e estreitas, quase todas sem pavimentação, e pouca iluminação pública, a não ser a que era
feita com lampiões de azeite de peixe. A parte central da cidade era somente na única praça,
que era chamada de Praça da Constituição ou Praça Principal. Em 1867 a praça principal
passou a ser mencionada como Praça do Santíssimo Salvador. Existiam no entorno dela
edifícios como a Igreja da Matriz, a Igreja de Nossa Senhora Mãe dos Homens, a Santa Casa
de Misericórdia de Campos, a cadeia, e alguns solares espalhados pelo centro, pertencentes
aos mais abastados (BARBOSA e LINHARES, 2007).
Até 1851, as ruas ao redor da praça eram grandes. Lama e mato faziam parte da
paisagem (BARBOSA & LINHARES, op. cit). Não havia qualquer preocupação estética no
lugar, apesar de já existirem edifícios de nobre beleza, como a Igreja Mãe dos homens, a
Santa Casa de Misericórdia e a Igreja Matriz. Faria (2006) afirma que Campos se configurava
como principal centro urbano, não por acaso, demandando reformas para atender ao progresso
econômico, o que, consequentemente resultava numa vida social da população mais
intensificada.
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Tudo acontecia na praça. As comemorações, as festas, os discursos políticos
e até as desavenças. Seus jardins assombreados foram palco de momentos
marcantes para toda cidade. (BARBOSA e LINHARES, 2007, p.24).
Figura 3 - Praça do Santíssimo Salvador – Igreja Matriz – Séc. XIX
Acervo: Museu Histórico de Campos
A imagem acima, ainda em complemento à anteriormente apresentada, mostra a vista
para a Igreja Matriz, bem como para o cemitério ao lado da mesma.
Em 1893 a praça foi ajardinada e fechada por gradis. Nesta época a vida da sociedade
Campista se desenvolvia a partir da Praça do Santíssimo Salvador, sendo um dos principais
pontos de encontro da elite campista (MOTTA e SOUZA, 2010).
Muitos eventos sociais ocorreram nesta praça ao longo da história. Quando estourou a
Guerra do Paraguai, em 1870, Campos foi a primeira cidade a organizar um batalhão, que se
concentrou na Praça do Santíssimo Salvador para as solenidades (MOTTA e SOUZA, op. cit).
Não muito mais tarde, em 1883, Faria (2006) narra que a energia elétrica chegou a Campos,
dando à cidade destaque nacional, sendo a primeira cidade da América do Sul a receber este
benefício. Por consequência, muitos visitantes ilustres foram recebidos nos jardins da Praça
do Santíssimo Salvador, dentre eles D. Pedro II. Já nesta época, a praça estava iluminada
pelos postes com energia elétrica.
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Figura 4 - Praça do Santíssimo Salvador – final séc. XIX
Acervo: Museu Histórico de Campos
Podemos verificar nesta fotografia a praça arborizada cercada por gradis, lembrando o
Campo de Santana no Rio de Janeiro. No entorno da praça verificamos os trilhos para
passagem de bondes, e as charretes.
Em 1904 foi doado pela firma Campos Syndicate, que explorava os serviços de água e
esgoto da cidade, um chafariz de louça belga, em formato de noiva, ao primeiro prefeito de
Campos2, Manoel Rodrigues Peixoto, com a finalidade de ser colocado em uma chácara
pertencente a ele. O prefeito doou para a sociedade Campista, ordenando que fosse colocado
na Praça Quatro Jornadas3, praça ao lado da do Santíssimo Salvador, ocupando o mesmo
2 RODRIGUES (2014) informa que em setembro de 1903 foi aprovada uma reforma na constituição fluminense,
que direcionava a centralização de poder nas mãos do executivo estadual. Até este momento, o poder executivo
nos municípios fluminenses, era exercido pelo presidente da Câmara. A partir da reforma constitucional este
poder seria entregue a prefeitos escolhidos pelo presidente do Estado. 3 Segundo informações do site Campos Turismo, a Praça do Santíssimo Salvador foi separada da Praça das
Quarto Jornadas, porque neste espaço, que hoje encontramos o Chafariz, se desenrolaram quatro grandes fatos
históricos do Município. Foram eles: “15 de maio de 1739 - oposição dos oficiais da Câmara Municipal à posse
de Martim Correia de Sá, procurador e filho do Visconde de Assecas, General Salvador Correia de Sá e
Benevides, ocasionando diversas prisões; 1º de outubro de 1747 - prisão de oficiais da Câmara que não
reconheceram a autoridade do Visconde e se opuseram ao Sargento-mor Pedro Velho Barreto, no Rio de Janeiro;
30 de outubro de 1747 - prisão de camaristas responsáveis pelo sequestro das Capitanias dos Assecas,
incorporando-a à Coroa; 21 de maios de 1748 - grande combate nas ruas da cidade, liderados pela fazendeira
Benta Pereira, libertando o poco campista do domínio dos Assecas” (in: