VII Seminário Internacional – As Redes Educativas e as Tecnologias: transformações e subversões na atualidade • 2013 AS REDES SOCIAIS NA INTERNET E AS VISÕES POLARIZADAS DE PAIS DE ALUNOS: Um estudo exploratório e qualitativo Luiz Alexandre da Silva Rosado Tatiane Marques de Oliveira Martins O QUE SÃO REDES SOCIAIS? Os softwares voltados à explicitação das redes de vínculos se tornaram o centro das atenções nos últimos anos. Além de evidenciar vínculos/conexões (laços sociais), eles permitem a continuidade e ampliação de nossas relações com pessoas, objetos e instituições, além das restrições de espaço (proximidade) e tempo (simultaneidade). No Brasil a emergência do fenômeno veio com o software de rede social Orkut, surgido em 2004. Enquanto o Orkut em julho de 2011 tinha 45% de participação e o Facebook 18%, a relação se inverteu para 12% (Orkut) e 55% (Facebook) em julho de 2012 (Goes, 2012). Uma mudança que traduz a velocidade de tendências na adoção e no descarte de softwares de redes sociais, assim como outros softwares/websites da web 2.0, tal a facilidade de filiação (criação de perfil) que não demanda custos financeiros dos seus participantes. As novas redes sociais online fazem parte do cotidiano e das relações desenvolvidas, em especial, entre os jovens brasileiros dos grandes centros urbanos e das classes A, B e parte da C (CGI-BR, 2012b, p. 27). Por esse motivo os softwares de redes sociais online, entram hoje na pauta dos assuntos prioritários entre pais, educadores e instituições de ensino, que se perguntam: como entrar em espaços tão ricamente habitados pelos jovens-alunos, emergidos em poucos anos de maneira superacelerada, e tão facilmente acessíveis através de inúmeros artefatos-suportes digitais? O desnível experiencial entre as gerações se torna um obstáculo e novos códigos são rapidamente formados pelos mais jovens em redes que muitos pais e professores desconhecem. Podemos dizer que o conceito de rede, e em especial de rede social, não é novo, tendo origem nas pesquisas técnicas de comunicação e ciência da informação (topologias) e nos estudos da sociologia (comunidades, grupos, capital e laços sociais). A unidade básica de uma rede é o nó, o ponto de encontro no qual uma relação (vínculo/conexão) entre os elementos (nós) que a constituem pode ser estabelecido. Uma rede é, sobretudo, uma estrutura aberta na qual novas relações e nós podem se formar desde que os integrantes tenham um código de comunicação em comum para que a relação se desenvolva, podendo ser em mão única ou em mão dupla.
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As redes sociais na internet e as visões polarizadas de pais de alunos: um estudo exploratório e qualitativo
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VII Seminário Internacional – As Redes Educativas e as Tecnologias: transformações e subversões na atualidade • 2013
AS REDES SOCIAIS NA INTERNET E AS VISÕES
POLARIZADAS DE PAIS DE ALUNOS:
Um estudo exploratório e qualitativo
Luiz Alexandre da Silva Rosado
Tatiane Marques de Oliveira Martins
O QUE SÃO REDES SOCIAIS?
Os softwares voltados à explicitação das redes de vínculos se tornaram o centro das atenções
nos últimos anos. Além de evidenciar vínculos/conexões (laços sociais), eles permitem a
continuidade e ampliação de nossas relações com pessoas, objetos e instituições, além das restrições
de espaço (proximidade) e tempo (simultaneidade).
No Brasil a emergência do fenômeno veio com o software de rede social Orkut, surgido em
2004. Enquanto o Orkut em julho de 2011 tinha 45% de participação e o Facebook 18%, a relação
se inverteu para 12% (Orkut) e 55% (Facebook) em julho de 2012 (Goes, 2012). Uma mudança que
traduz a velocidade de tendências na adoção e no descarte de softwares de redes sociais, assim
como outros softwares/websites da web 2.0, tal a facilidade de filiação (criação de perfil) que não
demanda custos financeiros dos seus participantes.
As novas redes sociais online fazem parte do cotidiano e das relações desenvolvidas, em
especial, entre os jovens brasileiros dos grandes centros urbanos e das classes A, B e parte da C
(CGI-BR, 2012b, p. 27). Por esse motivo os softwares de redes sociais online, entram hoje na pauta
dos assuntos prioritários entre pais, educadores e instituições de ensino, que se perguntam: como
entrar em espaços tão ricamente habitados pelos jovens-alunos, emergidos em poucos anos de
maneira superacelerada, e tão facilmente acessíveis através de inúmeros artefatos-suportes
digitais? O desnível experiencial entre as gerações se torna um obstáculo e novos códigos são
rapidamente formados pelos mais jovens em redes que muitos pais e professores desconhecem.
Podemos dizer que o conceito de rede, e em especial de rede social, não é novo, tendo
origem nas pesquisas técnicas de comunicação e ciência da informação (topologias) e nos estudos
da sociologia (comunidades, grupos, capital e laços sociais). A unidade básica de uma rede é o nó, o
ponto de encontro no qual uma relação (vínculo/conexão) entre os elementos (nós) que a constituem
pode ser estabelecido. Uma rede é, sobretudo, uma estrutura aberta na qual novas relações e nós
podem se formar desde que os integrantes tenham um código de comunicação em comum para que
a relação se desenvolva, podendo ser em mão única ou em mão dupla.
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Foi Paul Baran que no ano de 1964 propôs, no campo da comunicação e estudo da topologia
de redes, os conceitos de rede centralizada, descentralizada e distribuída, evidenciando dois
extremos na formação das redes: aquelas em que existe a liberdade plena de acesso a todos os
pontos que a constituem e aquelas em que a centralidade em somente um ponto o torna único
intermediário na passagem de um a outro nó-integrante.
É basicamente essa a classificação que Lévy (1999) distingue quando cita o modelo um-
todos (formato de estrela), para a comunicação clássica de mídia de massa, e o modelo todos-todos,
para a comunicação emergente nas redes digitais, em que se torna possível, porém não obrigatória,
a comunicação direta entre pessoas-nós componentes da rede. No caso do nosso objeto de estudo
neste artigo, as redes sociais seriam de característica descentralizada, porém não atingindo o modelo
ideal todos-todos, justamente pelo poder que os nós-integrantes possuem em seus perfis de criar e
manter sub-redes e pontes (conexões) com outros nós-integrantes. O poder de vincular-se a outro
nó da rede está na pessoa que participa e não em quem a criou.
A abertura e a porosidade, além dos elementos conexões e relações, são características
fundamentais na definição das redes (digitais ou não), sendo que no modelo um-todos, o ápice
radical da centralização, a lógica aberta de funcionamento e a dinâmica fluida entre os nós deixam
de existir. Nas redes de caráter descentralizado ou distribuído elas possibilitam a emergência de
relacionamentos horizontais e não hierárquicos entre os participantes, embora possam existir
também pontos de alta concentração de poder e centralização.
As redes sociais na internet, voltadas à explicitação dos relacionamentos do amplo espectro
de pessoas que a habitam, formam uma subcategoria do amplo universo de redes sociais existentes.
Como estamos falando de redes de pessoas quando nos referimos a softwares de redes sociais na
internet, devemos ter em mente que um sistema representativo não é a realidade que representa.
Portanto, as conexões mantidas são, muitas vezes, múltiplas, culturalmente situadas e dinâmicas a
partir de acordos e normas reforçadas nas ações cotidianas dentro ou fora da rede online, podendo
passar despercebidas e, portanto, não deixar rastros no ambiente online.
O TEMOR FRENTE AOS “NATIVOS”
Os suportes digitais são caracterizados atualmente pela conexão permanente em redes fixas
(ponto situado no espaço geográfico) e móveis, com deslocamentos livres dos suportes conectados
através daqueles que os portam, que oferecem a sensação de ubiquidade. Tanto em uma como em
outra modalidade, oferecem também a capacidade de criação facilitada de conteúdos por aqueles
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que os acessam na forma de autoria independente ou através de comunidades virtuais,
caracterizando a dinâmica da web 2.0 e dando forma ao conceito de inteligência coletiva
vislumbrado nos anos 1990 (Costa, 2005, p. 244-246).
Dessa forma, os suportes digitais conectados levam serviços variados a quem os acessa,
dentre os quais estão os softwares de redes sociais, que aos poucos vão agregando serviços de
compartilhamento de sites, vídeos, imagens e mensagens textuais, tendo como unidade básica (nó)
de sua estrutura o perfil do participante da rede. Os suportes digitais estão cada vez mais presentes
gerando opiniões distintas de pais, professores e instituições educativas sobre como devem ser
apropriados no cotidiano pessoal e escolar.
Como era de se esperar quando uma nova camada de tecnologia entra no dia a dia das
pessoas, os softwares de redes sociais conectados via internet trazem diversos temores entre os
adultos. As gerações dos anos 1990 e 2000, dependendo da economia e cultura local, já nasceram
inseridas nesse novo contexto, mergulhadas nas variadas mídias, tanto as de configuração analógica
quanto as digitais. Nas regiões mais avançadas econômica e tecnologicamente (EUA e países da
União Europeia), cogitava-se já em 2001 a existência de uma geração “nativa digital”.
Comparada aos “imigrantes digitais”, essa geração tem uma forma de existir integrada e
dependente em seu cotidiano dos suportes digitais, sem dificuldades de aprendizado e adaptação às
mudanças constantes de aparelhos e serviços online (Prensky, 2001). Segundo Prensky (2001), o
mais preocupante nesse caso é que esses jovens estão recebendo uma educação criada a partir da
cultura formada com os suportes analógicos, impressos ou eletrônicos de transmissão massiva,
voltada à memorização, ao uso de testes e ensino passo a passo.
Santaella (2010) alerta que o modo de aprendizagem surgido com os suportes digitais
móveis é ubíquo, mais caótico (ou menos sequencial) e atende à necessidade informacional assim
que ela surge, pois a rede está acessível a qualquer hora e lugar. Atividades simultâneas
(multitarefa), leitura rápida e randômica de assuntos diversificados, jogos de computador e celulares
permanentemente conectados à internet caracterizam os jovens dessa geração. Santaella (2004)
constatou novos perfis de leitura e uma outra forma de lidar com a cognição, contrastada com o
modo contemplativo do leitor de suportes impressos (livros, revistas e jornais) concentrado por
longas horas dentro de uma biblioteca silenciosa.
De acordo com o que vivenciamos hoje, o movimento de adesão aos softwares de redes
sociais vem crescendo em progressão geométrica. Cresce a preocupação com serviços voltados aos
jovens e ao seu contexto escolar formal, uma tentativa de aproximar dois espaços ainda tão distintos
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e pouco integrados. Por essa realidade, entendemos que há uma necessidade de parceria com os
alunos, pois cabe aos professores assumir e praticar o exercício da alfabetização digital e da
alfabetização crítica na escola, em mão dupla e reconhecendo as limitações geracionais de cada um
dos polos da díade jovem-adulto (ou nativo-imigrante).
Por outro lado, cabe aos pais orientar seus filhos de modo a perceber que o mundo “virtual”,
no sentido de algo intangível e imaterial, também está entrelaçado com o social “real” e é, portanto,
cada vez mais presente e com consequências concretas na vida “presencial”. Não é porque um
jovem é “nativo” de ambientes digitais que suas atitudes serão restritas e terão consequências
exclusivas nesse novo meio. As relações serão, pelo contrário, entrelaçadas com a totalidade do
ambiente social e cada vez mais naturalizadas no cotidiano das gerações conectadas continuamente
a esses espaços. Para Sherry Turkle (Casalegno, 1999, p. 118-120), as fronteiras estão cada vez
mais traspassáveis.
Se a Internet parece uma “terra sem lei”, gerando medo naqueles que não a conhecem ao
menos um pouco, as duas instituições, escola e família, não podem negligenciar a necessidade de
educar, em mão dupla, as novas gerações no uso cotidiano da rede, mesmo que a percepção sobre
os hábitos e modos de agir e entender o mundo desse “nativo digital” seja ainda difusa.
DESCREVENDO A PESQUISA E SUAS ETAPAS.
Para entender a díade alunos-pais no contexto da sociedade
contemporânea mergulhada no uso de suportes digitais, e também de
acordo com o interesse do grupo de pesquisa Jovens em Rede,
aplicamos, em agosto de 2011, durante reunião bimensal de
professores e responsáveis em um colégio tradicional na cidade do
Rio de Janeiro, uma pesquisa sobre as redes sociais na internet. Os
responsáveis presentes receberam uma ficha contendo duas
perguntas:
Solicitamos que respondam às duas questões abaixo:
1. O que vem imediatamente à sua “cabeça” quando você
pensa em redes sociais (Orkut, Facebook, Twitter etc.)?
2.Você faz parte de alguma dessas redes sociais? ( ) Não.
( ) Sim. Qual? ________.
48
34
7143
24
1
0
20
40
60
80
100
120
140
Redes Sociais
Sem Resposta
Nenhuma
e-mail/blog/site
MSN
LinkedIn
Twitter
Facebook
Orkut
Gráfico 1 Participação e não
participação em redes sociais.
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A partir dos dados obtidos com a ficha, pretendemos expor neste trabalho algumas
aproximações a respeito das representações (ideias, concepções mentais) expressas pelos pais sobre
as redes sociais na internet. Levando em consideração que a pergunta de número 2 é objetiva, a
primeira análise se valerá apenas da participação ou não desses responsáveis em alguma rede social
na internet.
Conforme o gráfico ao lado, dos 90 respondentes, 65 (72,2%) disseram participar de alguma
rede social na internet. De modo geral nota-se, entre esses pais, um amplo conhecimento sobre o
que são os softwares de redes sociais a partir de suas respostas detalhadas, mesmo quando estes
declaram não pertencer a rede alguma. Com isso, percebemos que as redes sociais não são algo que
faz parte somente do universo cotidiano dos filhos, embora não tenhamos perguntado a intensidade
da participação dos pais nesses ambientes.
A análise das respostas da pergunta número 1 permitiu-nos criar, a partir do implícito nos
discursos dos pais pela análise do explícito na seleção lexical, das pistas aparentes (Koch, 2005a,
2005b, 2006), as categorias a respeito da visão dos responsáveis sobre as redes sociais na internet.
Ao mesmo tempo, quando cruzada com as respostas da pergunta número 2, permitiu-nos saber se o
discurso de determinado respondente fazia parte do cotidiano de alguém que utilizava ou não
utilizava redes sociais na internet.
Ao final do trabalho de categorização, percebemos a existência de ideias positivas a respeito
do uso dos softwares de redes sociais, tais como “RELACIONAMENTO”, “INFORMAÇÃO” e
“ENTRETENIMENTO”. Por outro lado vimos que as ideias negativas se manifestaram em outras
três grandes categorias, denominadas “VIGILÂNCIA”, “MEDO” e “DISTRAÇÃO”. Além dessas
seis categorias básicas, verificamos também a existência de respostas vagas ou que nomeavam os
softwares de redes sociais, o que impossibilitou-nos a apreensão exata da posição desses
respondentes, sendo simplesmente atribuída a categoria “NOMEAÇÃO” (ver Anexo).
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Gráfico 2 Categorias encontradas nos discursos e hierarquizadas a partir de seis eixos principais
(lado esquerdo as de mais negativas e no lado direito as mais positivas).
Portanto, a partir dessas categorias, que não são estanques nem limitadas em si mesmas,
notamos a existência de visões que classificamos de acordo com o grau das qualidades expostas
sobre as redes sociais e o viés de aproximação/simpatia ou de repulsão/afastamento expressado
pelos respondentes. Chegamos, dessa forma, a visões “positivas”, “positivas condicionais”,
“negativas”, “neutras”, “positivas negativas” e “negativas positivas negativas”. Esses
valores foram estipulados de acordo com a seleção vocabular empregada e pela interpretação do
sentido através do contexto expressado na resposta.
CAMADAS DE CLASSIFICAÇÃO APLICADAS A CADA RESPOSTA
Qual visão? Utiliza rede social na internet? Categorias