C M Y K C M Y K Tecnologia E Ed di it to or ra a: : Ana Paula Macedo [email protected] 3214-1195 • 3214-1172 / fax: 3214-1155 14 • CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, segunda-feira, 1º de agosto de 2011 As escolhas de cada um Mulheres no Facebook » Tendem a colocar mais fotos em grupo » Atualizam a página com mais frequência » Preferem fotos sorrindo » Atualizam as fotos com mais freqüência » Têm duas vezes mais visualizações, marcações e uploads no Facebook » Preferem olhar fotos de mulheres que não conhecem Homens no Facebook » Usam a rede para paquerar » Preferem colocar fotos quando acompanhados de mulheres » Preferem olhar fotos de mulheres que não conhecem do que de mulheres já conhecidas » 8,9% dos entrevistados preferem fotos de objetos a fotos reais » 6,6% dos entrevistados dizem preferir fotos em que se sentem “únicos”, contra 2,4% das mulheres » 12,6% dos rapazes disseram nunca ter mudado a foto de perfil, contra 6,5% das moças MICHELE STRANO, PROFESSORA ASSISTENTE DE ESTUDOS DE COMUNICAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE BRIDGWATER, NOS ESTADOS UNIDOS Os resultados da sua pesquisa podem ser aplicados aos usuários brasileiros? Ainda não vi nenhuma compara- ção sistemática sobre usuários do Facebook em culturas diferentes, então é difícil ter certeza de até que ponto a cultura influencia o comportamento no site. Meu palpite é que a tendência geral de apresentar uma versão idealizada do eu seria a mesma para os usuá- rios brasileiros. Na sua opinião, a vida on-line é diferente da off-line? Enquanto há internautas que criam propositalmente outras personalidades on-line, a maioria dos usuários do Facebook cria uma identidade que reflete a pes- soa que espera ser. Na vida off-li- ne, claro, frequentemente agimos de forma inconsistente com a pessoa que desejamos ser. Am- bientes on-line nos permitem ter mais “controle de edição” do que o dia a dia, porque temos mais controle das imagens que passa- mos para os outros. No entanto, há limites para isso. Primeiro, porque outros usuários colocam imagens e mensagens que nos definem e, segundo, porque os usuários do Facebook interagem com muitos de seus amigos da re- de na vida off-line. Então, eles ainda estão ligados a normas so- ciais que desencorajam a mentira explícita. A vida on-line cria uma identidade fragmentada? Eu não sei se chamaria de frag- mentada. Os usuários que eu es- tudei parecem criar uma identida- de coerente no Facebook, apesar de ela não ser uma representação completa de quem eles realmente são. Claro, podem existir pessoas que se empolgam com o grande número de escolhas, especial- mente se elas cresceram antes da explosão da informação digital, mas a maioria dos usuários parece criar narrativas razões de ela mes- ma na rede. Nem todo mundo en- tende a característica multidi- mensional do Facebook. Três perguntas para As nuances da imagem on-line Pesquisa norte-americana mostra o que cerca a escolha das fotos para o perfil de uma rede social. Especialistas analisam as inúmeras — e enormes — diferenças entre homens e mulheres na internet E scolher a foto com melhor iluminação. Definir aquela com ângulo mais favorável, em que se está mais magro ou mais forte ou mais bonito. Por último, especular se as pessoas vão gostar da seleção. Essas não são as etapas da escolha da foto de uma campanha publicitária e tampouco fazem parte da esco- lha das fotos do book de uma su- permodelo. São, na realidade, os passos de uma das mais frequen- tes atividades para muitas pes- soas: a escolha da foto dos perfis nas redes sociais. Embora pareça uma atividade que não exige mui- tos esforços, Michele Strano, pro- fessora assistente de estudos de comunicação da Universidade de Bridgwater, nos Estados Uni- dos, garante que essa não é uma tarefa tão simples quanto parece. Michele realizou uma pesquisa com 427 usuários adultos do Fa- cebook e descobriu que os adep- tos da rede têm entendimentos mais complexos de sua apresen- tação na rede, que vão além do narcisismo. Os resultados revelam que as mulheres mudam a foto de perfil com mais frequência e enfa- tizam as amizades ou as relações amorosas em suas escolhas. Mi- chele também concluiu que usuá- rios mais velhos mudam menos de foto e preferem aquelas em que aparecem sozinhos. A pesquisadora explica que a foto do perfil “representa o corpo do usuário no ambiente on-line” e é a forma mais concreta de au- torrepresentação. As imagens dos perfis podem ser percebidas como uma forma de “identidade implícita”, na qual os usuários lançam mão de traços da personalidade. É claro que, nesses ca- sos, os lados positi- vos geralmente se sobressaem aos ne- gativos, omitidos pelo dono do perfil. No caso de sites de namoro, ela avalia que “os usuários tendem a enfatizar o que eles esperam ser e maqueiam a verdade para pare- cer mais atraentes”. Nesses sites, as regras de etiqueta são menos exigen- tes do que em pági- nas de relaciona- mento, como o Fa- cebook. A pesquisa revela que, em redes de namoro, 65% das mulhe- res preferem fotos sorrindo — contra 24% de homens sorriden- tes. Ali, elas preferem fotos em po- ses sensuais, com roupas que en- fatizam as curvas e que mostram o rosto e, no máximo, os ombros. Isso, no entanto, não ocorre no Facebook, porque os relaciona- mentos da rede são “frequente- mente baseados em relações off- line” e os usuários devem ter perfis atraentes para os dois gêneros, com mais ênfase na amizade do que em romance. Esse, aliás, é o traço marcante da rede social. Nascido dentro de universidades, o Facebook reúne amigos e conhe- cidos da “vida real”. Leonardo Araujo, psicólogo e psicoterapeu- ta, autor do blog Um psicólogo em Curitiba, acredita que o ser huma- no sente-se “mais seguro” quando está inserido em um grupo e que, ao fazer parte de um determinado coletivo, pode-se acabar “desen- volvendo ainda mais a identidade pessoal”, pois há uma troca de ex- periências e vivências com os se- melhantes. Apesar do lado bom, quem visi- ta um perfil pode ter impressão equivocada de que aquela pessoa é mais popular, atraente e auto- confiante do que ela talvez seja realmente no dia a dia. Até mesmo o número de amigos de um usuá- rio influi em sua apresentação para o resto do mundo, o que indi- ca que pertencer a um grupo gran- de pode servir como uma ferra- menta para impressionar e, de cer- ta forma, se autopromover. É preciso, no entanto, entender as diferenças de identidade e ima- gem. Araujo explica que “a identi- dade é aquilo que sabemos que somos e a imagem é o que trans- mitimos para os outros”. Ou seja, ao escolher uma imagem para o perfil do Facebook, tenta-se pas- sar aos outros uma ideia do que se quer ser. “Dentro disso, entram adjetivos infinitos, como antena- do, culto, amoroso ou sério”, com- pleta o psicólogo. A professora Strano concorda com Araujo e acredita que a vida on-line é para a maioria dos usuários “uma ver- são exagerada da identidade do dia a dia” . “A maioria dos usuários do Facebook cria uma identidade que reflete a pessoa que espera ser”, explica o psicoterapeuta. Gêneros Não há como negar que ho- mens e mulheres não são iguais. As diferenças entre os gêneros nas redes, porém, extrapolam o real e moldam de formas diferen- tes o comportamento de homens e mulheres na web. Araujo explica que, nesse cenário, cria-se uma cópia incompleta dos usuários, preenchida a cada dia “com as- pectos da vida digital”. As diversas ferramentas de edição de ima- gens e a possibilidade de tirar mi- lhares de fotos digitais até a ob- tenção de uma imagem idealiza- da pode, muitas vezes, tornar a identidade real bem diferente da identidade virtual. A estudante Heloísa Agosti- nho, 23 anos, explica que es- colheu sua foto porque “queria uma mais re- cente”. “Gosto de fotos em que eu estou bonita, mas que não sejam ‘propaganda enganosa’”, diz. A preocu- pação de Lola — como é co- nhecida pelos amigos — faz todo sentido. No Facebook, especificamente, os usuários devem revelar suas identidades off-line, porque os amigos na rede são relações da vida real e o foco não é a paquera. Pelo menos, nenhuma mulher confessou usar o site para isso, mas 16,3% dos homens entrevis- tados admitiram que flertar é a intenção principal. Na pesquisa, Michele encon- trou principalmente mulheres que definem sua identidade na internet a partir de um relaciona- mento amoroso. Elas escolhem a imagem de perfil em que apare- cem ao lado do namorado ou marido e se autodefinem a partir de um compromisso romântico sério. Já os homens que colocam fotos de perfil ao lado de suas amadas não se autodefinem pelo relacionamento que têm, mas es- colhem as imagens para reafir- mar o compromisso perante o grupo em que estão inseridos. Thiago Moura, 22 anos, é a pro- va viva disso. Em sua imagem de perfil no Facebook, Thiago apare- ce abraçado com a namorada, Luiza. “Nós saímos bem na foto e eu gostei da posição e do cenário”, justifica. Thiago diz que a imagem que deseja passar para os amigos é de uma pessoa “feliz, que namo- ra alguém especial”. Apaixonado, ele completa: “Se depender de mim, o mundo todo ficaria saben- do o quanto nós somos felizes”. Os usuários tendem a enfatizar o que eles esperam ser e maqueiam a verdade para parecer mais atraentes” Michele Strano, professora da Universidade de Bridgewater, nos EUA Heloísa escolhe com atenção as fotos do perfil: cuida apenas para que elas não sejam “propaganda enganosa” No perfil de Thiago Moura, ele aparece em uma foto ao lado da namorada, Luiza: minoria entre os homens Iano Andrade/CB/D.A Press Carlos Silva/CB/D.A Press