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As Gearis de Servas

Jun 02, 2018

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Beatriz Silva
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    Este livro foi publicado com recursos da Pr-Reitoria de Planejamento da UFMG e doMinistrio da Educao (MEC), por intermdio do Programa de Extenso Universi-tria da Secretaria de Educao Superior (Proext MEC/SESu).

    D

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    As Geraes de Servas : Circuito Cultural Vieira Servas / Organizadoras :Edite da Penha Cunha, Patrcia Thom Junqueira Schettino. Belo Hori-zonte :UFMG/PR-REITORIA DE EXTENSO - PROEX, 2014.289 p. : il. ; 21 cm.

    ISBN 978-85-88221-46-8

    1. Circuito Cultural Vieira Servas. 2. Patrimnio cultural Proteo

    Microrregio do Mdio Rio Piracicaba. 3. Extenso Universitria Microrregio do Mdio Rio Piracicaba. 4. Cultura. 5. Projetos culturais.I. Cunha, Edite da Penha. II. Schettino, Patrcia Thom Junqueira.III. Universidade Federal de Minas Gerais, Pr-Reitoria de Extenso.

    CDD 306.098151

    C

    Produo editorial |R R AAssistente de produo |G S N A | P C OC | C S QProjeto grco e editorao eletrnica |B L | C DAProduo executiva |G C [ ]Reviso |C R

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    Edite da Penha CunhaPatrcia Tom Junqueira Schettino.

    Circuito Cultural Vieira Servas

    Belo Horizonte | 2014

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    Reitor Cllio Campolina Diniz

    Vice-ReitoraRocksane de Carvalho Norton

    Pr-Reitora de ExtensoEgnia Ferreira e Ferreira

    Pr-Reitora Adjunta de Extenso

    Maria das Dores Pimentel Nogueira

    Pr-Reitor de PlanejamentoJoo Antnio de Paula

    Pr-Reitor adjunto de planejamentoMaurcio Jos Laguardia Campomori

    Coordenao Acadmica ExecutivaEdite da Penha CunhaAndr Guilherme Dornelles Dangelo

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    I C G ( )

    Adriano Reis Ramos |Grupo Ocina de Restauro Ltda.Alysson Amaral | Ministrio da Cultura (MINC)

    Andr Guilherme Dornelles Dangelo |Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) eFundao Rodrigo Mello Franco de Andrade (FRMFA)Angela Gutierrez |Instituto Cultural Flvio Gutierrez (ICFG)ngela Maria Zamin |Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)Aparecida dos Reis | Ministrio da Cultura (MINC)Claira Poliane Ferreira Moreira |Prefeitura de Joo MonlevadeDbora Aparecida Ianusz de Souza |Fundao Comunitria de Ensino Superior de Itabira (FUNCESI)Eder Siqueira |Prefeitura de Catas AltasEdite da Penha Cunha |Pr-Reitoria de Extenso da UFMGEduardo Quaresma | Associao de Municpios da Microrregio do Mdio Rio Piracicaba (AMEPI)Elvcio Eustquio da Silva |Prefeitura de Nova EraFernanda Machado Amarante | Advogada e colaboradoraFlamnio Guerra Guimares |Prefeitura de Nova EraGabriela Silva Nogueira de Araujo |Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)Genival Magela do Carmo |Prefeitura de Bela Vista de MinasGiovani Alex de Souza |Prefeitura de Santa Maria de ItabiraHigor Augusto Vieira |Prefeitura de Catas AltasJanina Ferreira Castro |Prefeitura de DionsioJssica Martins Queiroz |Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)Joo Victor Dias |Prefeitura de So Gonalo do Rio AbaixoLucas Cosendey |Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)Mara Pires | Advogada e colaboradoraMrcia Soares |Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)Marconi Drummond Lage |Prefeitura de ItabiraMaria Amlia Gomes de Castro Giovanetti |Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)Marlia de Cssia Oliveira |Prefeitura de Baro de CocaisMarlia Machado |Instituto Estadual do Patrimnio Histrico e Artstico de Minas Gerais (IEPHA)Mariluce Pereira Martins |Prefeitura de So Domingos do PrataMartinelly Martins |Universidade Federal de Itajub (UNIFEI)Melquades Almeida Lima | Diretor e produtor audiovisual e colaborador Michele Arroyo |Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN)Milton Zamboni |Universidade Federal de Itajub (UNIFEI)Miriam Cristina Pontello Barbosa Lima |Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)Patrcia Tom Junqueira Schettino |Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)Sandra Maura Coelho |Prefeitura de Nova Era

    Zara de Castro | Artista plstica e colaboradora

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    I

    Associao de Municpios da Microrregio do Mdio Rio Piracicaba (AMEPI)Fundao Comunitria de Ensino Superior de Itabira (FUNCESI)Fundao Rodrigo Mello Franco de Andrade (FRMFA)Instituto Cultural Flvio Gutierrez (ICFG)Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional (IPHAN)Instituto Estadual do Patrimnio Histrico e Artstico de Minas Gerais (IEPHA)Prefeitura de AlvinpolisPrefeitura de Baro de CocaisPrefeitura de Bela Vista de MinasPrefeitura de Bom Jesus do Amparo

    Prefeitura de Catas AltasPrefeitura de DionsioPrefeitura de Dom SilvrioPrefeitura de ItabiraPrefeitura de Joo MonlevadePrefeitura de Nova EraPrefeitura de Rio PiracicabaPrefeitura de Santa Brbara

    Prefeitura de Santa Maria de ItabiraPrefeitura de So Domingos do PrataPrefeitura de So Gonalo do Rio AbaixoPrefeitura de So Jos do GoiabalPrefeitura de Sem PeixeRepresentao Regional de Minas Gerais do Ministrio da CulturaUniversidade Federal de Itajub (UNIFEI)

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    SUMRIO

    A | Egnia Ferreira e Ferreira

    I | Edite da Penha Cunha

    I |

    C D M G | Joo Antnio de Paula

    A B : P |

    Andr Guilherme Dornelles DangeloPatrcia Tom Junqueira Schettino

    1 Breve histrico da concepo de patrimnio no Brasil e da criao do rgo depreservao nacional | 37

    2 Os desaos contemporneos da preservao do patrimnio cultural namicrorregio do Mdio Rio Piracicaba | 51

    3 Consideraes nais | 54 Referncias | 56

    P II | I F V S

    F V S , M M G | Eduardo Pires de Oliveira

    Referncias | 90 ANEXO Genealogia de Francisco Vieira Servas | 91

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    A F V S M G | Adriano Reis Ramos

    Referncias | 127

    F V S M R P : C C V S | Zara de Castro

    1 Ponto de origem | 1292 Primeiros estudos | 1313 A criao do programa Circuito Cultural Vieira Servas | 156 Referncias | 162 ANEXO 1 Documentao referente a Francisco Vieira Servas | 163

    ANEXO 2 Carta de Sesmaria de Francisco Vieira Servas | 167

    P III | P -M

    G : C C VS | Edite da Penha Cunha Maria Amlia Giovanetti

    1 Buscando o dilogo: a extenso universitria e seus atores | 1752 Gesto colegiada | 1792.1 Princpios norteadores da gesto colegiada | 1802.2 Experincias | 1832.3 Atitudes | 1843 A constituio de parcerias e o trabalho em redes | 1864 Consideraes nais | 188 Referncias | 190

    M M R P | Patrcia Tom Junqueira Schettino Andr Guilherme Dornelles DangeloLucas Andrade Cosendey

    1 Introduo | 1932 Metodologia | 1953 Primeiros resultados | 1994 Consideraes nais | 211

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    R V S | Miriam Cristina Pontello Barbosa Lima

    1 Introduo ao estudo de redes | 215

    2 A Rede Informacional do programa Circuito Cultural Vieira Servas | 2243 Consideraes nais | 228 Referncias | 230

    E P | Zara de Castro Maria Amlia GiovanettiPatrcia Urias

    1 Parte Conceituao | 236 Concepo de educao | 236 Patrimnio, patrimnio cultural, patrimnio material e patrimnio imaterial | 239 Educao Patrimonial | 242 2 Parte A metodologia do projeto Educao Patrimonial do CCVS | 245 Subsdios tericos da proposta metodolgica | 246 Eixos da Educao Patrimonial do CCVS: oficina pedaggica e exposio

    itinerante | 248 Ocina pedaggica | 248 Exposio itinerante: A trajetria de Vieira Servas e suas marcas na regio do

    Mdio Piracicaba | 254Consideraes nais | 257

    Referncias | 259

    P , M R P |

    Mrcia Miranda Soares

    1 Introduo | 2632 O ciclo das polticas pblicas: planejar, executar, monitorar/avaliar e reformular | 2653 Metodologia para o planejamento, monitoramento e avaliao da poltica cultural

    da regio do Mdio Rio Piracicaba | 2724 Resultados esperados pelo projeto | 2775 Consideraes nais | 278 Referncias | 280

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    Monlevade, Nova Era, Rio Piracicaba, Santa Brbara, SantaMaria de Itabira, So Domingos do Prata, So Gonalo do RioAbaixo, So Jos do Goiabal e Sem Peixe.

    A presente obra nos conduz s primeiras iniciativas eresultados do programa por meio de um rico dilogo entre oscoordenadores de projetos, colaboradores, docentes, alunos,instituies da sociedade civil, lideranas comunitrias,associao de municpios, instituies de ensino superior,grupos culturais e comunitrios locais, associaes vinculadasao setor cultural, administraes municipais, entre outros.

    Nessa perspectiva, o livro discute e apresenta a estruturaodo Circuito Cultural Vieira Servas, recuperando a suatrajetria e organizao marcada pela interao daUniversidade com outras referncias e espaos da sociedade

    em um dilogo permanente, voltado para o apoio formulao e implementao de polticas locais de proteo epreservao do patrimnio cultural.

    Egnia Ferreira e Ferreira

    Pr-Reitora de Extenso da UFMG

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    INTRODUO

    Este livro representa o trabalho iniciado em 2011, por ocasiode diversos contatos e articulaes realizadas junto a instituiespblicas locais, conselhos de cultura e patrimnio, entidadesda sociedade civil, grupos culturais e colaboradores. aisatividades culminaram, em julho de 2012, na realizao doSeminrio Circuito Vieira Servas, em So Domingos do Prata,que teve como objetivo constituir-se em um encontro entre

    Universidade e comunidades do Mdio Piracicaba, visandoreetir sobre as possibilidades de estruturao de um circuito voltado para o desenvolvimento cultural da regio do Mdio RioPiracicaba. Desde ento, constituiu-se um amplo movimentoque objetiva manter e fortalecer as iniciativas e manifestaesculturais da regio Mdio Piracicaba enquanto instrumentode enriquecimento e promoo do (re)conhecimento e dadivulgao do patrimnio cultural da regio.

    Nesse sentido, este trabalho tem a inteno de traduziros esforos do caminhar e dos princpios que guiam essatarefa complexa, desaadora e pretensiosa, por acreditarnuma construo coletiva, como expressado nos captulos

    que compem o marco terico conceitual, histrico emetodolgico dessa obra.

    O livro tem por objetivo apresentar ao leitor interessadono campo do patrimnio cultural um conjunto de textosque traduzem a existncia de reexes que vm sendoelaboradas ao longo de vrios anos de estudos acadmicos.

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    O eixo articulador das ideias abordadas nesta publicao oCircuito Cultural Vieira Servas (CCVS), cujo objeto consistena mobilizao e capacitao da sociedade civil e de gestores

    pblicos para a valorizao, recuperao, preservao edifuso do patrimnio histrico e cultural da regio do MdioPiracicaba, a partir do legado de Francisco Vieira Servas.

    Os textos esto estruturados em trs partes que se articulam.A primeira parte, composta por dois captulos, explicita oreferencial terico-conceitual, fonte de fundamentao dasaes propostas pelo CCVS. Nessa parte, nos deparamoscom o debate acadmico em torno de conceitos-chaves comocultura e desenvolvimento em Minas Geraise patrimniocultural no Brasil .

    A segunda parte, composta por trs captulos, situa a fonte

    inspiradora do Circuito, o escultor e entalhador do barrocomineiro, Francisco Vieira Servas, seu patrono, o qual recebeuseu nome. Apesar da riqueza histrica e cultural de suaobra, reconhecida internacionalmente, no Brasil ela poucoconhecida. Na terceira e ltima parte, intitulada Princpioserico-Metodolgicos, um texto inicial apresenta as linhasgerais do programa CCVS bem como uma reexo em tornoda gesto colegiada, a qual imprime a participao de diversosatores em todo o processo vivenciado no CCVS, desde oplanejamento das aes at a sua implementao e avaliao.Na sequncia, em quatro captulos, so apresentadas aspropostas referentes a cada projeto que compe o CCVS. Sopropostas que tm como norte a preservao e valorizao da

    identidade cultural da regio.

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    Enquanto as duas primeiras partes do livro caminham nadireo de um debate terico-conceitual, a terceira acrescentauma reexo de carter metodolgico que sinaliza diferentes

    frentes de ao para a regio. Existe, entretanto, um eixocomum que permeia toda a obra: a busca do conhecimento dolegado deixado por Francisco Vieira Servas e do patrimniocultural da microrregio do Mdio Rio Piracicaba, bem comoa valorizao das expresses culturais existentes na regio.

    Abrindo a primeira parte do presente livro, contamos comas reexes do professor Joo Antnio de Paula Culturae Desenvolvimento em Minas Gerais que, por meio deuma linguagem clara e objetiva, esclarece os termos culturae desenvolvimento, alm de nos alertar sobre o desaode pensarmos Minas Gerais a partir de sua pluralidade ediversidade.

    Ao conceituar o termo cultura, o autor destaca que esta olugar da diferena, da alteridade. Chama tambm a atenodo leitor para a amplitude do fenmeno da cultura, que, noconsistindo apenas objeto da antropologia, estabelece relaescom a poltica, com a economia e o desenvolvimento, temacentral de seu texto. E, nalmente, passando abordagem doterceiro elemento que compe o ttulo de seu texto, MinasGerais, o autor destaca a importncia da pluralidade e dadiversidade presentes na histria da regio e do estado, desdeo sculo XVII, armando o potencial do CCVS para promoverum desenvolvimento plenamente emancipatrio da regio, deMinas e do Brasil.

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    Andr Guilherme Dornelles Dangelo e Patrcia TomJunqueira Schettino, no captulo A rajetria do PatrimnioCultural no Brasil: do Monumento Participao Popular,

    analisam o percurso da preservao no Brasil, desde o sculoXVIII at os nossos dias. O texto est estruturado em duaspartes: a primeira se constitui em breve histrico sobre aformao da instituio do patrimnio no Brasil, a qual podeser subdividida em trs fases fase heroica (1937 a 1967);fase moderna (1967 a 1979); fase contempornea (1980 a

    2000). A segunda parte aborda os desaos contemporneos dapreservao do patrimnio cultural na microrregio do MdioPiracicaba.

    Na primeira parte do texto, os autores pontuam diferentesiniciativas de proteo e preservao do patrimnio histricoe artstico por parte do governo federal. Os autores destacam

    que a busca por uma identidade nacional norteou o conjuntodas medidas tomadas. Ainda no campo da trajetria histrica,os autores esclarecem termos-chaves tais como patrimnio, patrimnio cultural e bem cultural . odos eles carregando amarca de ampliao dos conceitos ao longo do tempo. Notocante preservao do patrimnio histrico e artstico, otexto enfatiza o importante papel do municpio. Este passaa ocupar o lugar de principal agente do poder pblico aintervir na proteo do patrimnio cultural. Assim sendo,a comunidade chamada a participar da proteo de seupatrimnio local.

    Aps essa breve reconstituio histrica, so destacados

    alguns desaos contemporneos para a preservao do

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    patrimnio cultural na microrregio do Mdio Piracicaba.Entre eles, os autores rearmam a importncia do projeto derecuperao da identidade cultural da regio, elaborado pelo

    CCVS. E mais: destacam a relevncia da elaborao de umplano sustentvel por meio do qual uma rede de municpiosatuar fundada em razes e valores culturais comuns.

    Nas consideraes nais, os autores apresentam umaperspectiva otimista no tocante preservao cultural no

    Brasil, medida que pode ser constatado um processode transformao. Processo pautado por programas depreservao e conservao e por iniciativas de educaopatrimonial. Os autores nalizam seu texto apontando oCCVS como promotor de cidadania na regio do MdioPiracicaba medida que, pela via das parcerias entreuniversidades e comunidades, possibilitar o resgate e apreservao da cultura regional.

    Abre o conjunto de captulos da segunda parte, intituladaInspirao Francisco Vieira Servas, o texto de autoria dopesquisador portugus da Universidade de Lisboa, EduardoPires de Oliveira, Francisco Vieira Servas, um Entalhador

    entre o Minho e Minas Gerais. O autor nos oferece elementosque contribuem para a compreenso do contexto do sculoXVIII, vivido pelo escultor e entalhador Vieira Servas.Nascido em 1720, o referido artista traz para Minas Gerais abagagem cultural da regio do Minho. Data de 1753 obras dearte de sua autoria na regio do Mdio Piracicaba.

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    Eduardo Pires chama a ateno do leitor para o esprito vigente na poca de Servas, ou seja, a saga de avanarpara o desconhecido. E, da regio do Minho, traz consigo

    novas formas, novas ideias. O rococ, que simboliza o novoestilo da poca, acompanhar Servas e acabar por ser suaassinatura, arma Eduardo Pires. O texto informa que Servasatuou na regio como empreendedor no campo da produoartstica. Coordenava equipes de pedreiros e entalhadores quedominavam as diversas artes da madeira, podendo, assim,

    responder s encomendas de grande porte.Ao nalizar seu texto, o autor nos apresenta duas concluses:a primeira rearma a enorme similitude existente entre oMinho e Minas Gerais, chegando a indicar uma transposiodas novas tendncias, simbolizada pela presena do rococ.E a segunda concluso aponta Francisco Vieira Servas como

    um dos melhores exemplos da arte dos dois mundos, que,apesar da distncia geogrca, arma Eduardo Pires, tm maispontos de unio que de separao.

    Dando prosseguimento, Adriano Ramos, pesquisador eestudioso da obra de Francisco Vieira Servas, nos brinda comdados histricos que conrmam a inuncia da regio nortede Portugal em Minas Gerais, no decorrer do sculo XVIII, oque criou uma atmosfera de criao artstica. O referido autordestaca ainda que, no ambiente de intensa movimentaoartstica, marcado por transformaes estilsticas, fatoresde ordem poltica possibilitaram certa independncia dospadres adotados em outras capitanias. Isso resultou na

    criao de uma arte com caractersticas prprias e com alto

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    grau de originalidade. o conhecido barroco mineiro,destaca o autor. Vieira Servas compe o grupo de artistas comsignicativa experincia prossional no novo estilo, o rococ.

    Adriano Ramos, amparado documentalmente, arma queVieira Servas notabilizou-se pela riqueza de suas obras,marcadas pelo seu trao original. E mais, alm de ter sidoum escultor reconhecido em sua poca, rmou sua trajetriaprossional com a criao de um ateli no Vale do RioPiracicaba, de onde saram retbulos e imagens para diversaslocalidades da capitania. Ainda chama a ateno do leitorpara o fato de que, possivelmente, existam na regiodiversas obras de Vieira Servas em monumentos religiosose em fazendas que ainda no foram identificadas emestudos mais aprofundados.

    Finalizando seu texto, o autor aponta vrias frentesde pesquisa a serem efetivadas. Alm disso, destaca aimportncia do CCVS enquanto referncia agregadora deequipes de estudiosos para aprofundarem as pesquisas edisponibilizar ao pblico interessado informaes preciosasreferentes obra de Francisco Vieira Servas, presentes naregio do Mdio Piracicaba.

    Completando o conjunto de textos da segunda parte do livro,Zara de Castro, artista plstica que cultiva seu vnculo comSo Domingos do Prata, regio do Mdio Piracicaba, sua terranatal, situa o leitor em relao presena de Francisco VieiraServas na regio do Mdio Piracicaba e origem do CCVS.Inicia seu texto abordando a histria da regio desde o sculo

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    XVIII, poca da chegada de Vieira Servas. Amparada porpesquisa documental, a autora rearma a presena do escultore entalhador portugus na regio e nos apresenta fotos de

    bens que registram as suas marcas, alm de um mapeamentodos locais onde o escultor e seus seguidores teriam deixadosuas contribuies artsticas. Segue-se uma apresentao doprocesso de construo das primeiras ideias de estruturaodo Circuito que amplia o seu olhar para a regio, desvendandoo que esta revela.

    Ao apontar possibilidades que a regio oferece em relaoao que resistiu ao tempo fazendas com a arquitetura dosculo XIX, igrejinhas espalhadas pelos povoados, populaestradicionais, poetas, msicos, artistas plsticos, congado,reinado de Nossa Senhora do Rosrio, tapetes de serragemnas festas religiosas, coroaes de Nossa Senhora, pastorinhas,

    tropeiros, contadores de casos e histrias, quitandeiras,curandeiros, entre outros a autora, de forma criativa eoriginal, naliza o texto nos apresentando uma propostade roteiro para o Circuito e destaca as primeiras atividadesrealizadas pelo programa na regio.

    A terceira e ltima parte do livro, intitulada Princpioserico-Metodolgicos, conforme mencionado no inciodesta Introduo, dedica-se apresentao do conjuntode textos que abordam os atuais projetos que compem oCCVS. So propostas que tm como norte a formulao eimplementao de aes de preservao e valorizao daidentidade cultural da regio do Mdio Piracicaba.

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    O texto de autoria de Edite da Penha Cunha e MariaAmlia Giovanetti, intitulado Gesto Colegiada:Participao no Circuito Cultural Vieira Servas, identifica

    e caracteriza o CCVS como uma iniciativa de extenso queexpressa o princpio de interao dialgica da universidadecom a sociedade ao promover e difundir valores decidadania nas relaes de preservao do patrimniocultural no Mdio Piracicaba.

    Resgatam o processo de constituio do colegiado e oarma como um espao de trocas que abre as portaspara o compartilhamento de ideias, responsabilidadese compromissos, visando manter a mobilizao dosmunicpios, parceiros e colaboradores, bem comoo aprofundamento da reexo sobre as estratgiasde integrao de diversas reas do conhecimento no

    desenvolvimento das atividades do programa.

    As autoras discutem o desao de imprimir a participaoefetiva marcada pela partilha e corresponsabilidade entreuniversidade e sociedade, assim como a sustentabilidadedos diversos projetos que integram o Circuito, remetendo necessidade de gerar processos de empoderamento delideranas locais e regionais, orientados pelo referencial daeducao popular, o qual exige a abertura e a disponibilidadepara a mudana, o respeito, a esperana e a solidariedade.Especial destaque dado ao potencial do Circuito emproporcionar a vivncia de experincias de pertencimento,autonomia e a conrmao de competncias, fundamentais

    no processo de valorizao da identidade cultural da regio.

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    As autoras argumentam, por m, que a gesto colegiada doCircuito orienta-se pelas atitudes fundamentais de escuta eobservao, que, aliadas, proporcionam aos seus integrantes

    o cultivo de suas capacidades de silenciar-se, aproximare superar a fragmentao e o isolamento em prol daconstituio de parcerias e o trabalho em redes.

    As reexes trazidas nesse captulo nos alertam para aimportncia do processo educativo desencadeado pelocolegiado de gesto, o qual agrega valores e endossa opotencial existente em cada ator para contribuir com a valorizao e a preservao da cultura local e regional e com arealizao de direitos culturais.

    Na sequncia temos o texto Mapeamento e Levantamentodo Patrimnio Cultural da Regio do Mdio Rio Piracicaba,

    de Andr Guilherme Dornelles Dangelo, Patrcia TomJunqueira Schettino e Lucas Andrade Cosendey, queapresenta reexes em torno dos primeiros resultados de umdos projetos do CCVS. O texto est estruturado em quatropartes: Introduo; Metodologia; Primeiros resultados eConsideraes nais. Na Introduo, os autores ressaltama importncia da realizao do referido projeto, uma vezque pretende resgatar a memria e a obra de Vieira Servas,esta ltima relativamente desconhecida no Brasil, conformearmam os autores. Alm disso, o projeto objetiva promover aidenticao, a valorizao e a preservao dos bens materiaise imateriais da regio do Mdio Piracicaba, reforando aidentidade cultural regional.

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    No item intitulado Metodologia, o texto apresenta ocaminho percorrido; ou seja, o levantamento dos inventriosrealizados na regio pelas trs esferas de governo. Este

    levantamento culminar na elaborao de um catlogoimpresso e de outro digital, o qual compor um banco dedados. Ambos propiciaro uma viso regional da questopatrimonial, revelando como os municpios percebem seuprprio patrimnio e como promovem sua conservao epreservao. Alm disso, esse material subsidiar as aes

    previstas pelos projetos de educao patrimonial e de polticaspblicas pertencentes ao programa CCVS.

    Dentre os primeiros resultados apresentados, os autoresdestacam a elaborao de uma tabela com todos osbens inventariados, as diculdades relacionadas aoacondicionamento dos documentos e os primeiros

    cruzamentos dos dados levantados, os quais foramapresentados por meio de nove grcos. Nas Consideraesnais, o texto destaca a importncia da participao dasmunicipalidades no que diz respeito ao registro do patrimniocultural. Alm disso, refora a importncia do envolvimentoda populao e das administraes municipais nas aesrelativas valorizao e preservao do patrimnio cultural.Os autores nalizam o texto apontando o signicado daproduo de catlogos, os quais indicam para novos estudos,novas intervenes coletivas e estimulam a criao de novasdemandas no campo do patrimnio cultural.

    Miriam Cristina Pontello Barbosa Lima inicia seu texto

    Rede Informacional Viera Servas apresentando reexes

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    de carter terico e na segunda parte foca a temtica nocontexto do CCVS. Seu objetivo claro: discutir o papel dasredes sociais na perspectiva da difuso de informaes a m

    de contribuir com a disseminao da informao relacionada cultura da regio do Mdio Piracicaba. A autora instigao leitor com indagaes que o levam a reetir a respeito da viabilizao de um trabalho a partir da construo de umarede informacional. Alm disso, situa o contexto atual Sociedade da Informao apoiando-se nas contribuies de

    tericos especialistas da rea. Conceitua rede, situa o perododa emergncia dos estudos sobre a mesma e apresenta quatrotipos de redes, representados em quatro guras (em formade estrela; descentralizada; distribuda em forma de malha eredes sociais contendo laos fortes e fracos).

    Na segunda parte, Miriam justica a criao de uma Rede

    Informacional do programa CCVS, medida que darsuporte eciente aos uxos de informao. Esse suportegarantir a qualidade necessria para a disseminao dainformao cultural da regio, arma a autora. Entre os vriostipos de rede, a autora destaca que a Rede Informacional doCCVS objetiva se constituir como rede do tipo distribuda,onde, nos dizeres da mesma, os atores podem estabelecerrelaes capazes de fomentar aspectos culturais da regio.Nas Consideraes nais, o texto concludo com arearmao da importncia estratgica de uma RedeInformacional no sentido de propiciar um apoio ao CircuitoCultural disseminando informao e gerando conhecimentosrelacionados preservao e valorizao da cultura e da

    identidade do Mdio Piracicaba.

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    Articulado ao processo de investigao e mobilizao dosmunicpios, soma-se um trabalho de educao patrimonial, visando possibilitar que as comunidades envolvidas

    tornem-se cada vez mais protagonistas no processo deidenticao e preservao do patrimnio local.

    O texto de Zara de Castro, Maria Amlia Giovanetti e PatrciaUrias aborda a proposta de Educao Patrimonial do CCVSem duas partes. Na primeira parte, as autoras esclarecemalguns conceitos centrais, como a concepo de educao quefundamenta a proposta, os conceitos de patrimnio, patrimniocultural, patrimnio material e imaterial, bem como o conceitode educao patrimonial. A segunda parte apresenta a propostametodolgica, a qual gira em torno de dois eixos pedaggicos:a Ocina de Educao Patrimonial e a Exposio Itinerante.Nas Consideraes nais, as autoras rearmam a importncia

    das aes de carter educativo junto s comunidades para que,gradativamente, a preservao deixe de ser algo distante e passea fazer parte do comportamento das pessoas no cotidiano. Essa viso expressa uma aposta na criao de uma relao de afetoe de uma responsabilidade individual e coletiva com o espaopblico e o patrimnio cultural.

    O texto Planejamento, Monitoramento e Avaliao daPoltica Cultural na Regio do Mdio Piracicaba, de MrciaMiranda Soares, nos convida a olhar para o futuro da culturada regio do Mdio Piracicaba e, em uma linguagem clara,apresenta os conceitos relacionados s fases das polticaspblicas e metodologia proposta para o planejamento,

    monitoramento e avaliao da poltica cultural do Mdio

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    Piracicaba. A mobilizao e a participao das instituiespblicas e privadas que atuam na rea de cultura na regio sodestacadas como estratgias fundamentais para a elaborao

    do plano regional de cultura da regio e o desenvolvimentodo Sistema de Monitoramento e Avaliao (SM&A) paraacompanhar a execuo do referido plano. Ao sinalizar osresultados esperados nesse processo, a autora nos alerta paraos desaos de construir uma dinmica de planejamento,monitoramento e avaliao para a poltica cultural da regio

    articulada s diretrizes do Sistema Nacional de Cultura.Por m, numa perspectiva propositiva, a autora argumentapela constituio de novos arranjos institucionais que recriema formulao e a execuo de polticas culturais em regime decooperao intermunicipal, aliceradas em parcerias entre osmunicpios e entre estes e os governos estadual e federal. Ao

    apresentar a necessidade de complementaridade e de articulara perspectiva regional com a municipal no planejamento,monitoramento e avaliao da cultura, instiga-nos a reetiro que do campo estritamente local e o que deve sercompartilhado e coordenado regionalmente.

    Edite da Penha CunhaMaria Amlia Giovanetti

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    P I

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    CULTURA E DESENVOLVIMENTO EM MINAS GERAIS

    Joo Antnio de Paula

    No ttulo deste artigo, seus trs termos exigem esclarecimentosprvios. ambm no bvia, ou unvoca, a articulao

    entre os seus trs elementos. Que haja inter-relao entreos fenmenos da cultura e do desenvolvimento fato bemestabelecido. Mas o que, exatamente, se quer dizer quando somobilizadas palavras como cultura e desenvolvimento jno , de nenhum modo, trivialidade, que tanto um quantooutro termo so plurais em seus signicados. Mesmo oterceiro elemento do ttulo, Minas Gerais, est longe de teruma nica acepo, que, como disse Joo Guimares Rosa,Minas so muitas, so pelo menos vrias.

    Fenmeno complexo, com mltiplas determinaes, a cultura realidade que desaa reducionismos ou esquematismos,demandando, para a sua justa apreenso, perspectiva

    abrangente, inter ou transdisciplinar, que remete tanto amodos e prticas cotidianas de reproduo da vida, individuale coletiva, quanto ao inesgotvel das formas de representaosimblica, das artes, das cincias, da losoa. Da que tantoa culinria, quanto a lngua e a fala, os modos de construoe de circulao, as formas de sociabilidade e de intercmbio,material e simblico, estejam no campo da cultura.

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    Entre seus mltiplos signicados, sublinhe-se, aqui, umsentido bsico para a palavra cultura, o que a v comoprocesso de constituio de identidades coletivas, como

    conjunto de caractersticas que singulariza os agrupamentoshumanos tanto em suas relaes intersubjetivas, quanto emsua interao com o meio externo.

    De fato, a cultura o lugar dadiferena, daalteridade, queresulta das escolhas e apostas, das prticas e costumesdesenvolvidos pelas comunidades, diante das mesmas

    necessidades humanas bsicas, das formas como se apropriamdo seu espao natural, de sua paisagem, fazendo com que,nascidas numa mesma poca, tendo acesso aos mesmoselementos naturais, cada comunidade assuma tanto umasionomia psicossocial nica, quanto estabelea uma tambmsingular maneira de se relacionar com os objetos, de construirseus espaos de vida e convivncia.

    O fenmeno da cultura tem sido, costumeiramente, objetoprivilegiado da antropologia, ainda que no s desse campodo conhecimento, como se v nos signicativos exemplosdas fortes interaes que se estabelecem entre cultura epoltica, cultura e desenvolvimento, cultura e economia,entre outras. Desde, pelo menos, Herder e Fichte, pensadores

    alemes do nal do sculo XVIII e incio do XIX, que foramexplicitadas as fortes conexes entre as dimenses culturaise a construo das naes. NosDiscursos Nao Alem, deFichte, pronunciados entre 1807 e 1808, numa Alemanhaocupada pelos exrcitos napolenicos, a mensagem bsica que a Alemanha seria capaz de se emancipar medidaque valorizasse sua cultura, sua lngua. exatamente esta

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    como produo de valores de troca, como economia, comoinstrumento de produo, riqueza, renda e emprego.

    de Celso Furtado uma das mais lcidas reexes sobre asrelaes entre cultura e desenvolvimento. ambm decisiva a contribuio do marxista italiano Antonio Gramsci aofalar da cultura nacional-popular como veculo decisivo daconstruo da plena emancipao humana, como liberdadee igualdade, na medida em que o nacional-popular afuso do erudito e do popular, do local e do internacional,

    a transformao da cultura em instrumento decisivo paraa superao da alienao e da manipulao, a cultura comolibertao.

    A outra palavra que aparece no ttulo desse artigo,desenvolvimento, tambm merece anlise detida. Quasesempre associado, hoje, palavra econmico, o conceito dedesenvolvimento parece circunscrito economia, quando, na verdade, so mltiplos os sentidos e os campos semnticosfrequentados pela palavra desenvolvimento. Contudo, hum sentido bsico, que se repete em vrios contextos emque a palavra usada, que decisivo. rata-se da ideiade desenvolvimento, que exemplarmente est na palavracastelhana para desenvolvimento, que desarrollar ; isto ,desarrolhar, retirar a rolha, permitir que algo que est contidose liberte. ambm em francs a palavra desenvolvimento temum sentido expressivo desenvelopar, retirar do envelope,revelar o que estava oculto. Em alemo, na tradio loscaalem, em Hegel, desenvolvimento remete s ideias deexplicitao e de extrinsecao. a partir desses sentidos

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    bsicos que preciso pensar o conceito de desenvolvimento,que deve nos interessar. O desenvolvimento para serlegtimo, para ser consistente, tem que se fazer a partir das

    caractersticas, das peculiaridades naturais, sociais, polticas eculturais do local que se quer emancipar, libertar, aperfeioar,humanizar, enm.

    Foi Celso Furtado quem mostrou que no so idnticos osprocessos de crescimento e desenvolvimento econmico;que, por si s, o crescimento econmico no leva ao

    desenvolvimento, na medida em que este ltimo, odesenvolvimento, pressupe mudanas estruturais no sentidoda distribuio da renda, da riqueza e da informao. Nessesentido, os pases que so considerados, efetivamente,desenvolvidos, so aqueles que, de algum modo, a partirde variadas formas, realizaram reformas/revoluesque democratizaram o acesso terra; promoveram auniversalizao, com qualidade, da educao, habitao,dos servios de sade; que permitiram o acesso de todos aoconjunto do patrimnio cultural da humanidade.

    Passe-se, ento, para o terceiro elemento do ttulo: MinasGerais. A pluralidade est em Minas desde o seu nome.

    Sabe-se que o nome da capitania foi, em algum momento,Minas dos Matos Gerais, que Gerais aqui so tanto os matosquanto as minas.

    De pluralidade, de diversidade se deve falar quando se pensaem Minas Gerais. Uma economia diversicada, que nuncafoi apenas ouro, diamante, ferro, j que foram importantes,

    desde o incio, a agropecuria, as atividades manufatureiras,

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    e, sobretudo, as atividades urbanas. , de fato, expressivaa realidade urbana de Minas Gerais, desde o incio dosculo XVIII. Ainda que s tenha havido, formalmente,

    no perodo colonial, apenas um nico ncleo urbano emMinas Gerais com o ttulo de cidade, Mariana, a capitania deMinas Gerais contou com o que se pode chamar de rede dencleos urbanos com densidade e complexidade sem paralelona Amrica Portuguesa. Minas Gerais teve tanto a maiorpopulao escrava, quanto a maior populao livre do Brasil,do sculo XVIII at as primeiras dcadas do sculo XX. Aocontrrio de outras regies da colnia, em que predominou a plantationescravista, em Minas Gerais prevaleceu a estruturada propriedade, de escravos e de terras, relativamente maisdesconcentrada, alm de diversicao da estrutura produtiva,que permitiram maior circulao de renda e riqueza, maiordensidade da vida poltica, social e cultural.

    Sobre a vida cultural mineira diga-se, a partir de AntonioCandido, que se constituiu em Minas Gerais, ainda noperodo colonial, um sistema cultural, isto , um sistemacomposto por produtores de bens simblicos, consumidoresdesses bens e veculos que faziam circular aqueles benssimblicos. a existncia desse sistema que explica o

    surgimento e expanso em Minas Gerais de manifestaesartsticas e culturais to signicativas como as que estoassociadas aos nomes de Cludio Manoel da Costa, omsAntnio Gonzaga, Alvarenga Peixoto, Joaquim EmricoLobo de Mesquita, Manoel da Costa Atade, do grandeAntnio Francisco Lisboa e do tambm notvel FranciscoVieira Servas.

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    Com efeito, no coincidncia a concomitncia desse sistemacultural com o movimento da Incondncia Mineira. AIncondncia Mineira a contraparte, no plano poltico,

    da densidade e complexidade da vida social e cultural dacapitania de Minas Gerais, o fato decisivo da existnciade interesses locais, regionais, que se chocaram com oestatuto colonial. De fato, a emergncia de um sentido de pertencimento a uma realidade poltica, econmica e socialespecca, que se deu em Minas Gerais no sculo XVIII, a base poltica e ideolgica da Incondncia Mineira,

    que, nesse sentido, antecipou o movimento que vai levar Independncia em 1822. Nesse sentido, preciso ver acultura mineira do sculo XVIII como um instrumentofundamental da constituio da identidade coletiva queest na base do projeto da Incondncia, no projeto deemancipao poltica da colnia.

    com base nessa decisiva experincia constitutiva de partedo melhor do que Minas Gerais tem sido capaz que preciso ver a iniciativa da criao do Circuito Vieira Servas, que aorememorar a obra do grande artista, ao relembrar a regioonde ele atuou e onde se encontram ainda suas obras, atualizapara ns todos a riqueza da cultura do Mdio Rio Piracicabae cria as condies para fazer desse patrimnio culturalum instrumento efetivo do desenvolvimento plenamenteemancipatrio da regio, de Minas Gerais e do Brasil.

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    A TRAJETRIA DO PATRIMNIO CULTURAL NO BRASIL: DO MONUMENTO PARTICIPAO POPULAR

    Andr Guilherme Dornelles DangeloPatrcia Tom Junqueira Schettino

    1 Breve histrico da concepo de patrimnio no Brasil e dacriao do rgo de preservao nacional

    A historiograa da proteo dos monumentos histricos noBrasil se iniciou no sculo XVIII com a carta de Dom Andrde Melo e Castro, Conde de Galveias, Vice-Rei do Brasil de1735 a 1749, ao Governador de Pernambuco, Luiz PereiraFreire de Andrade, alertando-o do valor histrico existentenas construes holandesas e salientando a vantagemnanceira e histrica de sua preservao. Cem anos maistarde, j na segunda metade do sculo XIX, um novo esforo visando proteo da memria e da histria nacionalpartiu do Ministro do Imprio, Conselheiro Luiz Pedreirado Couto Ferraz, o qual enviou ordens aos Presidentes das

    Provncias, no sentido de obter colees epigrcas paraa Biblioteca Nacional, e ao Diretor das Obras Pblicas daCorte, aconselhando cuidado na reparao dos monumentosa m de no destruir as inscries ali encontradas. rintaanos depois desse ocorrido, Alfredo do Vane Cabral, Chefeda Seo de Manuscritos da Biblioteca Nacional, percorreu

    as provncias de Alagoas, Bahia, Pernambuco e Paraba

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    recolhendo epigraa dos monumentos da regio. Entretanto,durante a monarquia, jamais o Estado brasileiro encampoua proteo dos monumentos, embora Dom Pedro II fosse

    considerado erudito, e escritores, como Arajo Porto Alegre,se mostrassem sensveis ao problema.

    O movimento preservacionista no Brasil surge entre osintelectuais progressistas em busca de uma identidadenacional na dcada de 1920, quando a temtica dapreservao do patrimnio se torna politicamente relevanteno pas. No momento em que ocorre a comemorao docentenrio da independncia nacional, em 1922, j seencontram em funcionamento os grandes museus federais,porm a imprensa denuncia o abandono das cidadeshistricas e a destruio de obras importantes (CAS RIO A,2009). Dentro desse contexto, o Professor Bruno Lobo,

    ento Presidente da Sociedade Brasileira de Belas Artes ediretor do Museu Nacional, encarregou o Professor AlbertoChilde, conservador de antiguidades clssicas do MuseuNacional, de preparar um anteprojeto de lei em defesa dopatrimnio histrico e artstico nacional. O texto elaboradoprivilegiava a proteo dos bens arqueolgicos em detrimentodos histricos e foi considerado invivel por vincular apreservao desapropriao. Em 1923, o deputado LuizCedro, representante do estado de Pernambuco, props oprimeiro projeto de lei de defesa dos monumentos histricosna Cmara dos Deputados. Esse projeto, muito primrio,no fazia meno aos monumentos arqueolgicos, sendo noano seguinte complementado, por Augusto de Lima, com um

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    dispositivo que proibia a sada de obras de arte tradicionais dopas. Entretanto, a proposta foi considerada inconstitucional.

    Nos anos seguintes, a iniciativa da proteo dos monumentoshistricos passou esfera estadual. Nesse sentido, encontram-se vrios projetos propostos por Mello Viana, em Minas Gerais,Francisco M. G. Calmon, na Bahia, e Estcio Coimbra,em Pernambuco. Esses estados, detentores de signicativoacervo histrico e artstico, foram os primeiros a responder demanda de forma institucional, com a criao dasInspetorias Estaduais de Monumentos Histricos em MinasGerais, em 1936, na Bahia, em 1927, e em Pernambuco, em1928. Contudo, essas medidas no foram sucientes paraassegurar a proteo aos monumentos histricos e artsticos,nem mesmo dentro de seus respectivos estados, uma vezque a atuao do direito de propriedade se achava denida

    na Constituio Federal e no Cdigo Civil e s poderiam seralterados ou inovados por iniciativa federal.

    A primeira carta internacional que trata da proteo aopatrimnio histrico e artstico data de 1931, a chamadaCarta de Atenas, sendo, portanto, posterior s iniciativasbrasileiras. Desse modo, preciso louvar o pioneirismodesses homens que, sem bagagem jurdica e tcnica noassunto, se comprometeram com a causa da preservaoprocurando justicativa para tanto, at mesmo nas BulasPapais, como fez Mello Viana, em seu anteprojeto de julhode 1925, onde citaCum Alman Urbem, expedida pelo PapaPio II, em 28 de abril de 1462, a respeito da conservao dos

    monumentos histricos.

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    Em 29 de agosto de 1930, o deputado baiano Jos Wanderleyde Arajo Pinho apresentou nova proposta de lei aoCongresso Nacional, tratando da proteo dos monumentos

    histricos e artsticos nacionais. Porm, com a Revoluo de30, o Congresso foi fechado e o projeto cou sem efeito. Onovo governo declarou a cidade de Ouro Preto monumentonacional, em 1933, pelo Decreto 22.928, e, no ano seguinte,atravs do Decreto 24.735, iniciou a organizao de umservio de proteo aos monumentos histricos e s obras

    de arte tradicionais do pas. Com a promulgao da novaConstituio, a proteo ao patrimnio ganhou destaque,inserida no Captulo II, dedicado educao e cultura.O artigo 148 dispe: Cabe Unio, aos Estados e aosMunicpios favorecer e animar o desenvolvimento dascincias, das artes, das letras e da cultura em geral. Protegeros objetos de interesse histrico e o patrimnio artstico dopas, bem como prestar assistncia ao trabalhador intelectual.Desse modo, a preservao do patrimnio histrico e artsticose encontrava inserida como princpio constitucional, faltandoapenas ser regulamentada.

    O Congresso Nacional foi novamente fechado em outro golpede estado, desferido em 1937 por Getlio Vargas, iniciandoo perodo conhecido como Estado Novo, que perdurouat 1945. Apesar disso, a regulamentao do patrimnioartstico nacional, que previa a criao do SPHAN (Serviode Patrimnio Histrico e Artstico Nacional) dentro dareorganizao do Ministrio da Educao e Cultura, sob ocomando do Ministro Gustavo Capanema, no foi afetada. A

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    instalao de um novo governo, com uma nova ordem polticae econmica, casava com o iderio do patrimnio dentro doprojeto de construo de uma nao. Essa questo, inclusive,

    recebeu destaque com a nova Constituio de 1937, artigo134, o qual dene os monumentos histricos, artsticos enaturais como patrimnio nacional. Nesse mesmo ano, em30 de novembro, foi promulgado o Decreto-Lei 25, ainda em vigor, baseado no anteprojeto desenvolvido por Mrio deAndrade no ano anterior, a pedido do Ministro Capanema,

    e de autoria, basicamente, de Rodrigo Mello Franco deAndrade, primeiro diretor do SPHAN. O decreto organizaa proteo do patrimnio histrico e artstico nacional egarante ao rgo meios legais para sua atuao, sendo o maisimportante deles o instrumento do tombamento, que setornou quase a nica forma de proteo utilizada no pas atrecentemente. A criao do SPHAN, atual IPHAN (Institutodo Patrimnio Histrico e Artstico), atravs da Lei 378, de1937, garantiu ao Brasil a posio de primeiro pas da AmricaLatina a possuir uma entidade voltada para a preservao debens nacionais. O SPHAN foi estruturado, inicialmente, emduas divises tcnicas, a Diviso de Estudos e ombamentos(DE ) e a Diviso de Conservao e Restaurao (DCR). A

    instituio foi descentralizada em representaes regionais etinha sob sua responsabilidade os museus regionais, criados apartir de 1938.

    O caso brasileiro bastante peculiar com relao constituio das polticas de preservao do patrimnio,pois os responsveis por sua implementao no foram os

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    intelectuais conservadores, como ocorreu em outros pases,mas os modernistas. O modernismo no Brasil desenvolveuuma forte crtica ao academicismo e procurou encontrar

    as razes da identidade nacional, ideal que ia de encontro proteo do patrimnio nacional. A busca por essa identidadelevou os modernistas a Minas Gerais, redescobrindosua arquitetura, especialmente a cidade de Ouro Preto, eidenticando-a como produo verdadeiramente brasileira.Lia Motta (2002, p. 128) arma que, para esses intelectuais,

    a arquitetura colonial representava a primeira expressoautenticamente brasileira, o abrasileiramento dasconstrues portuguesas. O barroco passa a ser visto comouma sntese cultural, criado por uma sociedade isoladano interior do pas ao retrabalhar, sua maneira, vriasinuncias culturais (CAS RIO A, 2009). Dentro dessequadro, a preservao do acervo das cidades coloniais setorna imprescindvel para o processo de construo daidentidade nacional.

    As cidades mineiras foram usadas pelo IPHAN, em suasprimeiras dcadas, como base para construir uma imagemque representasse o Brasil enquanto nao moderna. Aoconsagrar essas cidades como as nicas que possuam valorde patrimnio, promoveram, alm de uma representao dopas, uma imagem do patrimnio histrico e cultural urbano.Para a valorizao do patrimnio urbano foram estabelecidoscritrios de carter exclusivamente estticos/estilsticos,privilegiando assim, o valor artstico e no o valor histricodo conjunto. A cidade, ento, abordada segundo critrios

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    puramente estilsticos, desconsiderando sua caractersticadocumental, vinculando o valor patrimonial uniformidadeestilstica dos conjuntos coloniais e/ou excepcionalidade

    dos monumentos. A identicao das cidades mineiras comorepresentao da nao brasileira e do patrimnio culturalurbano gerou um processo de apagamento do sculo XIX,considerado pelos modernistas como uma fase de produode cpias das tendncias europeias.

    O conceito de patrimnio vem se modicando desde aSegunda Guerra Mundial. A ideia tradicional vinculada concepo de monumento histrico nico vem sendoampliada, e, com isso, os tipos e estilos de edifciosconsiderados dignos de preservao se expandem,com a incluso da arquitetura rural e de estilos antesdesconsiderados como o Art Nouveaue o Ecletismo. Aos

    critrios estilsticos e histricos se juntam outros, como apreocupao com o entorno, a ambincia e o signicado.Com a contribuio da Antropologia, a noo de patrimniocultural se amplia e o conceito de cultura deixa de se restringir chamada cultura erudita, englobando as manifestaespopulares e a moderna cultura de massa. Assim, ao lado dosbens mveis e imveis e do acervo artstico, considera-se,atualmente, patrimnio cultural de um povo os utensliosprovenientes do fazer popular dentro da dinmica docotidiano (CAS RIO A, 2009).

    A preservao no Brasil, at a dcada de 1980, estava,basicamente, relacionada a monumentos arquitetnicos

    ou objetos artsticos de valor histrico, identicados com a

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    cultura elitista predominante na sociedade. A partir de ento,comeou-se a entender o objeto de preservao atravs deum conceito mais amplo e abrangente, privilegiando toda a

    forma do fazer cultural, incluindo-se a as de origens populare ligadas a outras etnias formadoras da cultura e da sociedadebrasileira, como a africana e a indgena, independentementede estar ou no impregnada de valor histrico. Esse conceitoforjou o termo bem cultural, que passou a orientar as novasestratgias de preservao, ligadas mais ao fazer cultural e

    identidade social do que questo histrica.Analisando a trajetria da preservao no Brasil, podemosdistinguir, nas suas diversas fases, o amadurecimento desseprocesso e dessa mudana conceitual. A criao do SPHAN,em 1937, inaugurou efetivamente a proteo aos monumentoshistricos e artsticos nacionais e sua trajetria a prpria

    histria da preservao no Brasil podendo ser caracterizadaem trs fases distintas. A primeira, de 1937 a 1967, conhecidacomo a fase heroica, tendo como diretor Rodrigo MelloFranco de Andrade; entre 1967 e 1979, a fase moderna, sob ocomando de Renato Soeiro, e a fase contempornea, a partirda dcada de 1980 (FONSECA, 1997).

    A fase heroica (1937 a 1967)

    O incio da preservao dos monumentos do patrimniohistrico nacional foi uma poca de luta, aprendizado epersistncia obstinada, que teve, na gura do primeirodiretor do SPHAN, Rodrigo Mello Franco de Andrade, seuprincipal alicerce para enfrentar as adversidades nanceiras

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    e tcnicas na preservao de um patrimnio de mais detrezentos anos que nunca havia sido conservado. SegundoLuiz Saia (SPHAN, 1980, p. 28), Quando o Governo criou o

    SPHAN, em 1937, a experincia brasileira nessa matria era,no mnimo, de validade discutvel, continha, certo, muitoamor, mas era tambm de pouco respeito. Muito amor porromantismo, pouco respeito por desconhecimento. Coma inteno de superar essas limitaes, foram contratadasas pessoas mais preparadas nos diversos campos do

    conhecimento para dar sustentao tcnica e cientca saes do SPHAN. Dessa maneira, frequentaram a diretoria dorgo, alm de Mrio de Andrade, prossionais como LcioCosta, principal autoridade tcnica e chefe da Diviso deEstudos e ombamentos at 1972, Prudente de Morais Neto eAfonso Arinos de Melo Franco, consultores jurdicos, CarlosDrummond de Andrade, organizador do arquivo e Chefeda Seo de Histria, entre outros intelectuais importantes,com a nalidade de implantar as linhas de trabalho dorgo. Embora zesse parte de sua ideologia outras formasde preservao, como o tombamento paisagstico, o controlede comrcio de artes, a revalorizao dos monumentos,o tombamento de conjuntos urbanos, etc., essas prticas

    foram deixadas em segundo plano, para quando o conceitode preservao e a prpria experincia do rgo estivessemais amadurecida. Nesse primeiro momento, o trabalho seorientou dentro do instituto do tombamento, como nicomeio de preservao, sendo a atuao da Unio isolada dianteda inoperncia dos estados e municpios.

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    A maior parte dos tombamentos realizados nessa primeirafase era de stios e imveis localizados em Minas Gerais, sendosete cidades histricas tombadas no estado em 1938, Ouro

    Preto, Mariana, So Joo del-Rei, Diamantina, iradentes,Sabar e Serro. Os tombamentos realizados no Rio de Janeiroe em outras cidades contemplaram apenas imveis por seu valor individual, desconsiderando os conjuntos urbanos,no considerados como patrimnio por terem perdido suaintegridade colonial.

    O critrio esttico/estilstico era reforado pelas obras derestaurao empreendidas pelo SPHAN, nas quais retiravam-seacrscimos realizados em perodos posteriores ao colonialcomo frontes e ornamentaes. Alm disso, havia regras paraas novas construes nos centros histricos, que deveriamseguir o estilo das edicaes existentes, dando origem ao

    chamado estilo patrimnio. A grande preocupao doSPHAN nesse momento estava no controle das fachadas doscasarios, mantendo o cenrio colonial como valor patrimonialpor suas caractersticas estilsticas (MO A, 2002).

    Fase moderna (1967-1979)

    A segunda fase da preservao no Brasil cou sob aresponsabilidade do arquiteto Renato Soeiro, que substituiuRodrigo Mello Franco de Andrade na direo do SPHAN,mas que, entretanto, no possua o mesmo prestgio einuncia junto a autoridades e intelectuais. Essa fase foimarcada pela restrio das atividades de pesquisa e pelapresso da especulao imobiliria sobre o patrimnio

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    nacional. Durante essa gesto, o rgo foi transformado emInstituto do Patrimnio Histrico e Artstico (IPHAN) eperdeu a autonomia para tombar e destombar sem consulta ao

    Ministro da Educao e Cultura. A mudana mais importantedessa fase foi com relao estratgia de preservao, vistoque o desenvolvimento regional do pas fez com que oaquecimento econmico de vrias regies e cidades atravs daindustrializao trouxesse acentuado desenvolvimento urbanoe virio, gerando, assim, uma valorizao imobiliria que semostrou contrria aos princpios preservacionistas. Esses fatoszeram com que fossem criadas com urgncia medidas queconciliassem preservao e desenvolvimento econmico.

    A preservao de conjuntos e a utilizao do planejamentourbano como melhor meio de resolver os conitos geradospela contradio entre preservao e especulao marcaramessa fase. Diversos planos foram propostos com esse m,principalmente para as cidades de Olinda, Ouro Preto, Paratie Petrpolis, inclusive utilizando consultoria internacionalda UNESCO, uma vez que o Brasil no possua experincianesse campo. Nessa poca, houve o engajamento dos estadose municpios na preservao do patrimnio regional,principalmente pela iniciativa de compromissos como as

    Cartas de Braslia (1970) e Salvador (1971). A partir dadcada de 1970, houve uma incorporao dos conjuntoseclticos nos tombamentos de reas urbanas e de imveis decarter excepcional. Entretanto, mantiveram-se os critriosbaseados em referenciais esttico-estilsticos determinadospela historiograa clssica da arquitetura, de uniformidade doconjunto ou de excepcionalidade.

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    A grande vitria dessa fase foi, segundo Saia (SPHAN,1980, p. 33), a resoluo n 94/70, do ribunal deContas da Unio, que permite a Municpios e Estados

    o uso de 5% da sua cota-parte do Fundo de Participaodos Estados e Municpios de convnio com o IPHANpara gerir a preservao do patrimnio histrico. Almdisso, tambm contribuiu para a realizao dessas aes, acriao pela Secretaria de Planejamento da Presidncia daRepblica do Programa das Cidades Histricas, que visava o

    desenvolvimento das regies por meio do turismo.Fase contempornea (1980-2000)

    Na histria da preservao no Brasil, a dcada de 1980 temcomo importante acontecimento o reconhecimento da cidadede Ouro Preto e do conjunto de Congonhas do Campo pela

    UNESCO como Monumentos da Humanidade. A partirdos anos 1980, a preservao das manifestaes culturaisrepresentativas de diferentes contextos sociais assume umimportante papel dentro da gesto de Alosio Magalhesno IPHAN, quando foi introduzida a prtica de consulta populao residente nos centros histricos com a intenode ampliar a participao da sociedade no processo depreservao dos stios urbanos.

    Nessa fase, tambm se deu prosseguimento conceituaode que o municpio deveria ser o principal agente do poderpblico a intervir na conservao de bens culturais. Ourbanismo cresceu em importncia como principal meio deancorar a poltica de preservao, como caracterizou Benedito

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    Lima de oledo (1984, p. 29), O ordenamento urbano tem,pois como pressuposto, o respeito qualidade do meioambiente e aos valores histrico-culturais e estticos que do

    comunidade a sua individualidade. Nesta conceituao,os monumentos ditos excepcionais esto ligados a um todoindissocivel a que chamamos patrimnio cultural urbano.

    A denio mais ampla chamada patrimnio cultural sesolidica, caracterizando tudo que diz respeito cultura deuma nao, e esse todo tem o direito e deve ser preservado.Esse conceito, garantido na Constituio de 1988, umagrande evoluo em relao viso da dcada de 1930,quando s se enxergava valor de preservao em monumentosarquitetnicos ou obras de arte. Segundo o antroplogoJoaquim Falco (1984), o grande desao da preservao estem como conseguir que esta seja culturalmente abrangente

    e representativa, o autor completa, Preservar no atounilateral. ato de convivncia: entre a burocracia estatal e aspopulaes. De convivncia democrtica (FALCO, 1984, p.46). Falco louva como prticas democrticas de preservaoo tombamento do terreiro Casa Branca, na Bahia, e das runasde Canudos, em Pernambuco, pertencentes a culturas tnicasantes marginalizadas no processo cultural.

    Do princpio dos anos 1990 at as primeiras dcadas dosculo XXI, ocorreu o sucateamento do rgo federal depreservao que, de IPHAN passou a Instituto Brasileirodo Patrimnio Cultural (IBPC), posteriormente voltandoa se chamar a IPHAN, porm, sem a representatividade e

    prestgio do passado. Felizmente, como se previra na dcada

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    de 1980, aps a Constituio de 1988, legislao responsvelpelo fortalecimento do municpio enquanto agente deconservao do patrimnio e pela ampliao do conceito

    de preservao, a atuao dos municpios tem demonstradobons resultados no servio de defesa ao patrimnio cultural.Das boas experincias municipais que se tem conhecimento,destacam-se o Corredor Cultural na Cidade do Rio deJaneiro, os projetos que resultaram no Seminrio Direito Memria, patrocinado pela Secretaria de Cultura da

    Prefeitura Municipal de So Paulo, e o tombamento de quasemil imveis, no ano de 1994, pela Prefeitura Municipal deBelo Horizonte.

    Os novos conceitos aplicados aos mtodos de preservaoadquiridos pela experincia no tratamento dessas questesno Brasil, juntamente com o auxlio de cartas internacionais,como as de Atenas (1933), Veneza (1964) e Quito (1967),incentivaram a elaborao de compromissos nacionaisexpressos nas cartas de Braslia e Salvador, as quaisfundamentam a instncia municipal como principal agenteestatal a atuar na proteo dos bens culturais.

    Dentro desses novos parmetros, o Decreto-Lei 25/37permanece como um agente indispensvel e ecaz napreservao dos bens culturais e principal instrumento jurdico do tombamento. No entanto, como foi proposto naCarta de Quito, no planejamento urbano que se encontra omelhor meio de conciliar o conito entre passado e presente.A indicao, nessa carta, dos inventrios como mtodos

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    fundamentais para a proteo dos bens culturais amplia aspossibilidades e a viso sobre os mesmos.

    A conservao no Brasil, entretanto, ainda no conseguiuencontrar a legitimidade popular que deve caracterizar asua atuao. Lembrando as palavras de Falco (1984, p. 47),O grande desao da preservao como conseguir serabrangente e representativo. A nica maneira vivel seria aparticipao da comunidade na proteo do seu patrimnio

    local. Esse processo se daria a partir do momento em que aquesto da preservao zesse parte do dia-a-dia.

    2 Os desaos contemporneos da preservao do patrimniocultural na microrregio do Mdio Rio Piracicaba

    Frente aos desaos lanados no nal do sculo XX, pode-sedizer que, nos ltimos quinze anos, vrias propostas demunicipalizao compartilhada da gesto, como tambma valorizao do patrimnio imaterial das comunidades,avanaram signicativamente. Nesse sentido, elaborar umprojeto de valorizao da identidade cultural de uma regiocomo a do Mdio Rio Piracicaba, objetivo principal doprograma Circuito Cultural Vieira Servas, a prova mais

    concreta da consolidao desses avanos.

    Essa antiga regio de Minas Gerais foi, em grande parte,desconsiderada nos primeiros tempos da fundao da polticade preservao, muito embora composta de municpiosimportantes e com uma riqueza cultural enorme ligada a ummundo menos urbanizado, caracterstico dos sculos XVIII

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    e XIX, que, com raras excees como os municpios de Barode Cocais, Bom Jesus do Amparo, Catas Altas, Itabira, NovaEra e Santa Brbara, atraram o IPHAN. A regio possui

    no total treze bens tombados pelo patrimnio nacional,entre eles importantes exemplares da arquitetura religiosaremanescente do sculo XVIII e o conjunto paisagstico earquitetnico da Serra do Caraa. Esse quadro se justica pelaregio caracterizar-se como local marcado pela origem rural,onde se encontram diversas fazendas centenrias e onde mais

    capelas e menos igrejas de grande porte foram erguidas noperodo da minerao do ouro. Como a poltica modernistade preservao se concentrou, dentro da realidade e dosconceitos em vigor na poca, em preservar apenas as cidades eregies do estado detentoras de um patrimnio monumental,a microrregio do Mdio Rio Piracicaba sofreu certoabandono na sua trajetria e pouco se fez durante muitos anospela valorizao e preservao de seu patrimnio cultural.

    Com a implantao da minerao e da siderurgia, ao longodo sculo XX, essa lacuna foi ampliada, como um sotaque demodernidade e progresso que se deu regio, xando-a comorota de desenvolvimento do estado. Essa situao contribuiupara a imposio de uma ideologia de pouca valorizaoda herana cultural frente s benesses proporcionadas pelaindustrializao. Entretanto, a par de todo o progresso quedemoliu fazendas e capelas em nome da modernidade,o esprito ancestral da cultura regional, seu genius lociou esprito do lugar, como diria o crtico de arquiteturaNorberg-Schulz (1979), no foi abalado e, se o seu patrimnio

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    fsico foi menos resistente a esses tempos de mudana, opatrimnio imaterial da regio permaneceu forte, como sepode vericar no engajamento dos municpios durante os

    diversos encontros realizados desde 2012 para a estruturaodo Circuito Cultural Vieira Servas.

    Nesse sentido, possvel perceber no s uma comunidade,mas toda uma regio, mais consciente da importncia dapreservao de sua histria e de sua identidade cultural. Aparceria estabelecida entre a UFMG, a Fundao RodrigoMello Franco de Andrade e outras instituies tem ainteno de trocar conhecimento e experincias diversas ecomplementares, alm de construir um elo mais forte, quepossa, atravs de um plano sustentvel, estabelecer uma redede municpios com razes e valores culturais comuns. Essaproposta pretende, ao lado das novas lideranas polticas e

    comunitrias, trazer o entendimento de que desenvolvimentono contraditrio preservao, sendo impossvel construirprojetos de identidade e cidadania para o futuro sem a valorizao da presena da histria e da memria do lugar.Assim, o programa Circuito Cultural Vieira Servas buscaatuar como linha que procura, depois de tantos percalose desencontros histricos, costurar esse tecido culturaldesestruturado pela conjuntura da sua prpria trajetriahistrica. O programa pretende valorizar uma face da histriada regio que esteve abandonada por muito tempo.

    nesse sentido que a gura do grande escultor portugusFrancisco Vieira Servas, patrono desse programa, morador

    da regio por mais de 30 anos e ali enterrado, se torna mais

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    importante e representativa, visto ele ser tambm um artistaesquecido pelos modernistas e que ressurgiu apenas nos anosde 1990, atravs do trabalho do pesquisador e restaurador

    Adriano Ramos. Servas, embora ignorado nos primeirostempos da preservao do patrimnio nacional, assim comoregional, estabeleceu um dos mais importantes atelis decarpintaria, marcenaria e escultura do sculo XVIII em MinasGerais, sendo responsvel no s por suprir a demanda deornamentao das capelas da regio, mas tambm de grande

    parte das igrejas que ainda se encontram nos circuitos maistradicionais de Minas Gerais, incluindo cidades como OuroPreto, Mariana e Sabar.

    Atualmente, mais do que nunca, possvel ser otimista comrelao preservao do patrimnio regional, graas snovas posturas das administraes municipais, preocupadas

    com a preservao da memria e da identidade regional,assim como s polticas culturais na rea da memria e dopatrimnio cultural, as quais se tornam capazes de criar umesprito de renascimento e otimismo e de se refundar valoresfundamentais para a vida em comunidade.

    3 Consideraes nais

    Para concluir esse texto, pode-se dizer que verdade quea ideia de preservao cultural no Brasil ainda elitizada,ou seja, sem valor algum para a maioria da populao.Entretanto, esse um valor em transformao nas ltimasduas dcadas. O crtico Italiano Carlo Ceschi (1970, p. 29)armava que: O patrimnio um legado recebido, que

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    FRANCISCO VIEIRA SERVAS, UM ENTALHADOR ENTRE O MINHO E MINAS GERAIS

    Eduardo Pires de Oliveira

    Ao contrrio do que parece ser apangio dos minhotos, um

    apangio j velho de sculos, Francisco Vieira Servas (Foto1) no parece ter estado no seu local de acolhimento, MinasGerais, com a mente presente na sua terrinha de origem,o Minho. anto quanto se sabe, adaptou-se muito bem aoterritrio que na sua mocidade lhe surgira como um eldorado,um territrio que lhe pareceu to atraente que no tevedvidas em se abalanar a uma terrvel aventura, a de partirpara um pas que, embora ento ainda fosse o seu, era, semqualquer margem de dvidas, muito, muitssimo diferentedaquele onde vira a luz, em 22 de janeiro do longnquo anode 1720. Curiosamente, nesse mesmo ano nasceria tambmo maior vulto de sempre das artes minhotas, Andr Soares,o genial criador do rococ. S que este na capital regional e

    sede do arcebispado, a cidade de Braga, e Francisco num lugarperdido, serrano mesmo, de uma freguesia eminentementerural. er-se-o, acaso, cruzado algum dia em Braga?

    udo depende da data exata em que partiu para o Brasil, paraa Minas sonhada. Diz-nos o pesquisador Adriano Ramos queFrancisco Vieira Servas trabalhou em Catas Altas de Mato

    F : ,A - F

    V S .F EP O .

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    Dentro, na Igreja da Irmandade do Santssimo Sacramento,em 1753, juntamente com outros ociais da sua prosso.1 Isso permite-nos saber que naquela data j estava entrosado

    na vida da colnia e j era conhecido e aceito pelo seu ofcio,o de entalhador.

    Mas h outra informao que o mesmo investigador nos de que ganha foros da maior importncia, quando nos diz queestariainstalado em Minas provavelmente a partir de 1751.2

    Esta informao , para ns, de uma importncia fulcral noque diz respeito aprendizagem de Francisco Vieira Servas.No aprendizagem ocinal, porque essa ele j a teria hmuito tempo. Mas sim aprendizagem visual, aquela que elepoderia ter apreendido nas obras que apreciou nos locais poronde passou, sobretudo em Braga ou Guimares. Explico-me.

    Para sair da sua terra para o Brasil, Francisco deveria ter feito opercurso seguinte: primeiro, na aldeia de Servas, despediu-se dafamlia e amigos de nascimento. Depois deve ter ido igrejamatriz de Eira Vedra (Foto 2), onde poder ter assistido ltima missa rezada pelo seu padre e na sua freguesia, padreesse que o poder ter recebido na residncia paroquial, onde,anos antes, o seu antecessor lavrara o assento de batismoe onde ento se guardava o livro em que se escrevera esseassento. A seguir, passou de certeza por Braga, a grandecidade minhota, capital do arcebispado, onde, acredito, j

    1RAMOS, Adriano. Francisco Vieira Servas e o ofcio da escultura na Capitania das Minas do Ouro. Belo Horizonte: Instituto Cultural Flvio Gutierrez, 2002, p. 61.

    2 RAMOS, Adriano. Francisco Vieira Servas e o ofcio da escultura na Capitania

    das Minas do Ouro , p. 93.

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    viera em ocasies anteriores, porque nenhuma obra poderiaser feita nos templos sem a autorizao dos serviospelo arcebispado. At que, nalmente, chegou vila de

    Matosinhos, onde, antes de entrar para o barco que o trariapara Minas, dever ter ouvido nova missa, na Igreja do BomJesus, um templo onde se expunha uma imagem que seacreditava ser sagrada e que se dizia que fora deposta pelomar nas areias de uma praia ali mesmo ao lado; se Deussalvara aquela imagem sacra da imensido sem m que era

    o mar, tambm o protegeria a ele na sua saga de avanarpara o desconhecido. que este Bom Jesus de Matosinhosera mesmo milagreiro: no foi ele que protegeu FelicianoMendes depois de ele ter aquela doena grave? No foi ele

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    F EP O .

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    que deu origem quela que hoje a mais conhecida obra dearte do Brasil colonial, o Santurio de Congonhas?

    Analisemos, agora, uma das suas paragens: neste percurso hum ponto importante. Por muita pressa que Francisco tivesse,acredito bem que no fez uma passagem meterica por Braga,acredito que ali se demorou um, dois ou trs dias, quer a cum-primentar e despedir-se de outros amigos e conhecidos quer,tambm, a visitar as obras do cadinho em efervescncia queera a cidade naquela data, cidade que, recorde-se, se ufanavade ser a segunda corte do pas, pois o arcebispo, D. Jos deBragana, era irmo do rei D. Joo V.

    Braga era ento um poo inndo de experincias, um localonde se ensaiavam novas formas, novas ideias trazidas peloarcebispo, que chegara a Braga no ano de 1741.

    Nos primeiros anos do seu governo, D. Jos de Bragana nocuidara de fazer ou orientar novas obras, antes quisera resol- ver outros problemas que tinha com o irrequieto Cabido dasua S, problemas to graves que o levaram a mandar para acadeia a maior parte dos cnegos!

    Mas a verdade que j trouxera de Lisboa ideias artsticasbem denidas, ideias que estavam associadas sua noo derealeza. que, segundo um memorialista bracarense seu con-temporneo, D. Jos comportou-se mais como um prncipe doque como arcebispo.

    A verdade que tambm desde muito cedo tratou de man-

    dar construir um novo palcio para sua habitao. Embora o

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    dos seus antecessores fosse de grandes dimenses e nobreza,considerava que no seria o local ideal para ele viver, dada aqualidade do seu sangue, dos seus familiares. Apesar de o

    novo palcio estar acoplado ao outro, dava para uma praaento vazia, praa que seria assim mais uma marca da suaarmao pessoal na cidade de que era Senhor.

    o importante quanto estas decises foi a de denir o estiloem que deveria ser construdo o seu palcio. Desde 1730 queem Braga era rei e senhor o estilo joanino. Mas desde 1737que na Alemanha, e mais concretamente em Amalienburg,um dos pavilhes do palcio real de Munique, um francs,Franois Cuvilis, o Novo, zera armar um novo estilo quetrouxera de Frana, o rococ.

    D. Jos de Bragana estudara na Universidade de vora com

    professores excelentes, os Jesutas, congregao em geral mui-to bem informada e que em Braga no s eram responsveispelo Colgio de S. Paulo, onde eram ministrados estudos denvel superior, mas tambm exerciam uma enorme inunciano que dizia respeito s artes. Alm disso, D. Jos era, repe-timos, irmo de D. Joo V, um homem que, devido ao seucargo, estava impedido de fazer uma coisa que muito desejava, viajar pela Europa. Na impossibilidade de realizar essa von-tade, D. Jos juntou a maior coleo de gravuras da Europado seu tempo, gravuras que, acreditamos, podero ter sidoadmiradas pelo seu irmo e onde este pde compreender quehavia uma nova forma de sentir a arte e de a desenhar, ondepde ver em profuso algo que ele j conhecia de raspo pelo

    conhecimento direto que deveria ter de alguns dos coches

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    do seu irmo. Nessas gravuras dever ter visto uma grandeprofuso de imagens cujos motivos tanto poderiam ser apenasornatos assimtricos (Foto 3), como fontes (Foto 4), relgios

    e um sem-m de outros motivos, estruturas ou arquiteturasonde a velha simetria barroca deixara de ser moda.

    E trouxe esse conhecimento para Braga. E aqui o imps, noque marcava a diferena com o que era corrente na regio,estabelecendo, assim, mais pontos na sua armao. que deimediato e dado que se estava num tempo em que a emulaopelos poderosos e ricos quanto mais de um homem de san-gue real! era uma atitude que deveria ser seguida, a regiocomeou imediatamente a imit-lo.

    F :G

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    H , .

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    Em 1747 surgiu o primeiro desenho conhecido, uma cartelapara decorar a pgina de rosto dosEstatutos (Foto 5) de umairmandade, a de Santa Ana e Santos Passos, num desenhoriscado por Andr Soares. No ano seguinte veremos outrodesenho com funes similares, num dos livros de contas de

    F :G :B : D

    O , F EP O .

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    um dos mosteiros de freiras da cidade, o dos Remdios. Ouseja: j aqui havia sinais de que um gosto novo estava a surgir,que haveria gravuras que estavam a correr de mo em mo ou

    a ser admiradas nas livrarias de conventos. Se conhecermosessas gravuras, logo veremos que, por exemplo, o desenho deAndr Soares poder ter sido inuenciado por uma gravuraconcebida pelo pintor e decorador alemo Franois XaverHaberman, onde tambm se admira uma grande uidez deramarias que se expandem para o ar3 (Foto 6), gravura hojeguardada na biblioteca da Faculdade de Belas Artes da Uni- versidade do Porto e proveniente da livraria de um conventonortenho, qui de Braga.

    Naquela mesma data tambm estava em construo umaobra fulcral, o palcio do arcebispo, um edifcio em quese manifesta, de uma forma muito ntida, que se est numperodo de charneira, pois se as portadas das varandas doperodo superior so de um desenho ainda bem joanino,h, porm, na varanda e na porta principal uma srie depormenores em que o rococ j domina.

    Uma pergunta se nos coloca: o que que Francisco VieiraServas ter visto exatamente naquela Braga? Obras executa-

    das com o novo gosto? Gravuras das bibliotecas conventuais?Embora nenhum documento nos permita ter certezas, poisem nenhum papel encontramos vestgios do seu rasto nacidade, no temos qualquer dvida em acreditar que por l

    3 Srie 11, n 3. Gravada por Hertel. Pode ver-se, por exemplo, em KRULL, Ebba.Franz Xaver Habermann, 1721-1796: ein Augsburger Ornamentist des Rokoko ,abb. 4, 5, 6 e 7; e em OLIVEIRA, Eduardo Pires. Andr Soares e o rococ do

    Minho , p. 234, g. 413.

    F :A S

    E BJ S A ,.

    F EP O .

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    dever ter passado e at mais do que uma vez, pois muitosartistas exerciam a sua prosso de uma forma ambulante.Veja-se o caso de seu padrinho, Francisco Vieira orre, tam-

    bm entalhador, morador na freguesia vizinha de Canteles,de quem se conhece pelo menos uma obra contratada em 10de maio de 1729: dois retbulos colaterais, arco da capela-more retbulo lateral da parte do Evangelho da matriz de or-gueda, concelho de Vila Real, local bem distante da sua terranatal.4 Alm disso, os entalhadores e os pedreiros eram gentebastante cuidadosa na sua formao, mesmo visual.

    comum dizer-se que muitas das obras que estes homensexecutaram tiveram origem em desenhos ou propostas dasua autoria. Veja-se o caso, por exemplo, acontecido emPonte de Lima, em que no concurso para a talha da novaigreja da Ordem erceira de S. Francisco, em 1754, foramos concorrentes que alertaram para o fato de que o desenhoque estava a ser proposto era de gosto velho, no conforme snovas tendncias. E este fato muito signicativo porque osdirigentes daquela Ordem pertenciam melhor sociedade da vila. Eram nobres, na sua maioria! Outro fato de certa formasimilar aconteceu em 1717: no contrato que foi lavrado para aconstruo do retbulo-mor do convento beneditino feminino

    do Salvador, em Braga, o entalhador responsvel, GabrielRodrigues, cou com a permisso de introduzir alteraes aorisco que lhe foi apresentado.5

    4 ALVES, Natlia Marinho Ferreira. Elementos para o estudo da talha setecentistatransmontana, p. 135-140; 151-152, 1983.

    5 OLIVEIRA, Eduardo Pires. Riscar em Braga no sc. XVIII e outros ensaios , p.

    40-41.

    F :G H ,

    , .F EP O .

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    E a pergunta que agora naturalmente surge a seguinte: atque ponto Francisco Vieira Servas aproveitou esta sua apren-dizagem na obra que viria a realizar em Minas Gerais. Essa

    questo extremamente interessante, tanto mais que forammuitos os artistas oriundos do Minho que vieram trabalharem Minas Gerais no sculo XVIII. Mas esse tema car paraAdriano Ramos, em outro captulo, que abordar o que foi a vida e obra deste homem nas terras das novas minas.

    Outra questo muito interessante a de que Servas viria atrabalhar em Minas numa trplice qualidade: de entalhador,de escultor e de autor de projetos de talha. Seja-nos, po-rm, permitido avanar com mais uma hiptese: e porqueno tambm com projetos de arquitetura? Um homem quecomea em Minas por executar talha, que depois avanapara a escultura e, por m, e ao que parece, tambm prope

    e executa retbulos com um desenho to prprio que acabapor parecer uma sua assinatura, no se deveria ter restringi-do apenas a obra em madeira.

    No seu Minho de origem, este fato no foi de todo invulgar.Mas tambm verdade que os exemplos conhecidos sosempre de artistas do mais alto gabarito. Nomeemos aqui trs:Miguel Coelho, Marceliano de Arajo e, sobretudo, o benedi-tino Frei Jos Vilaa.

    Miguel Coelho um homem oriundo da pequena cidade deBarcelos, lho de um carpinteiro, que ir trabalhar nos gran-des centros urbanos que foram o Porto e Braga e que depoisaceitar ser o homem de mo do arcebispo Moura eles e ir

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    executar obras capituladas em visitao e uma srie de ou-tras na regio do vale do Rio Lima, onde deixar uma obramuito importante.

    Embora ainda no tenha sido feita a merecida monograa dasua obra, sabemos que apesar de a maior parte dos contratosque lavrou se referirem a retbulos, ele tambm foi convida-do a fazer esculturas, sejam de grande dimenso, como osanjos tocheiros de alguns dos que lhe foram entregues, sejambaixos-relevos, como os dos frontais do altar do SantssimoSacramento da S de Braga curiosamente riscado por JooPereira dos Santos, um homem que viria a ter obra importanteem Minas ou o da Igreja da Santa Casa da Misericrdia dePonte de Lima, obras de uma qualidade maravilhosa.

    Da mesma forma como iria depois acontecer com Francisco

    Vieira Servas, no se lhe conhece documentao que nos digainelutavelmente que ele riscou talha; mas o fato de sua obraestar ligada a um tipo de retbulo que tem o tico bastantesimilar em vrios exemplares, permite-nos colocar a hiptesede que o desenho desses retbulos (Foto 7) poder ser da suaautoria, embora se deva dizer que essa arte dever ter origemnuma gravura de Dietterlin,6 autor que desde o sculo XVIIera muito seguido na arte de Entre-Douro-e-Minho, sobretu-do na arquitetura e talha.

    Marceliano de Arajo foi um dos melhores escultores por-tugus do segundo tero do sculo XVIII. Como Servas,

    6 DIETTERLIN, Wendel. Architectvra: von Ausstheilung, Symmetria vnd der

    Proportion der Funff Seulen, p. 35, 114, 150.

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    tambm dominou as diversas artes da madeira. Foi sobre-tudo conhecido como imaginrio, embora tenha tambm, enaturalmente, aceito fazer obra de retbulo: que o mercado,

    embora bastante ativo e relativamente rico, no permitia umaespecializao to grande. em como obras mais conhecidaso triplo retbulo da Igreja da Misericrdia de Braga e a caixados rgos da S de Braga. Dele se sabe ter enviado paraMinas, para a colnia bracarense ento existente em ira-dentes, em 1737, uma srie de imagens, que em 1744 ainda

    no lhe tinham sido pagas.7

    No se lhe conhece, porm,qualquer atividade no que respeita concepo de riscos,embora Robert Smith lhe tenha atribudo alguns, com o queno concordamos.

    Frei Jos Vilaa o terceiro dos artistas minhotos que aquichamamos para estabelecer paralelo com Servas. Mas h uma

    grande diferena: no me admirava nada que o artista mi-nhoto/mineiro tivesse conhecido obras realizadas pelos doisartistas anteriores que, repito, se contam entre as mais interes-santes de Braga. Mas do frade beneditino, de certeza que nada viu, porque foram contemporneos.

    Vilaa, cuja biograa j mereceu um longussimo estudo daautoria de Robert Smith, tambm era lho de um carpintei-ro. Em 1756 contratou, de parceria com outro entalhador, arenovao da talha da igreja do convento beneditino de ibes(Foto 8), casa me da sua congregao para Portugal e Brasil.

    7 OLIVEIRA, Eduardo Pires de. Brasileiros e bracarenses na construo da arte do

    sculo XVIII bracarense e brasileira, p. 217-244.

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    Do que dele conhecemos, parece-nos que preferia acima detud